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Temas e Teorias da Filosofia (1)

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TEMAS E TEORIAS 
DA FILOSOFIA
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Prof. Daniel Nery da Cruz
Indaial - 2019
2ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2019
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
C957t
 Cruz, Daniel Nery da
 Temas e teorias da filosofia. / Daniel Nery da Cruz. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2019.
 144 p.; il.
 ISBN 978-85-7141-420-4
 ISBN Digital 978-85-7141-421-1
1.Filosofia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 100
Impresso por:
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................7
CAPÍTULO 1
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLO-
GIA, LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL ..........................9
CAPÍTULO 2
O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE ..........................55
CAPÍTULO 3
A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA ............................................99
APRESENTAÇÃO
Há mais de 2.500 anos a filosofia emerge como não aceitação da explicação 
supersticiosa da realidade. A característica fundamental do saber filosófico já é 
expressiva pela própria etimologia da palavra filosofia, que significa relação, um 
vínculo com o saber, amor e desejo em conhecer. Se a filosofia é uma relação, 
é possível ensiná-la ou aprendê-la? Podemos dizer que quem ensina deve 
manifestar esse relacionamento com o conhecimento, não superficialmente, mas 
por uma vivência ou como forma de vida, maneira que os filósofos da Grécia 
Clássica se envolviam com a racionalidade filosófica. 
A aspiração pelo conhecimento como relação não significa meramente uma 
transmissão de conteúdos, mas uma atividade ou um exercício espiritual para 
a alma alcançar o verdadeiro conhecimento racional do cosmos e do próprio 
homem. Para isso, é preciso estar em uma posição filosófica de aprendizado e 
ensinamento, assim como o exemplo de Sócrates que adotava a postura não 
de transmissor, mas de provocador de novas ideias em seus discípulos pela 
maiêutica. Provocar no outro a vontade de esclarecer, de conhecer a realidade de 
forma racional e comprometido com a verdade é tarefa do filósofo curativa, uma 
vez que a doença da alma é a ignorância e a postura acrítica sobre a realidade. 
Sob a consciência do conhecimento filosófico, como postura relacional, 
apresentamos esta obra intitulada de Temas e Teorias da Filosofia, não como 
uma receita pronta em que o leitor encontrará uma fórmula mágica que o 
tornará conhecedor pleno sobre os assuntos aqui explorados, mas é um guia de 
navegação e debate sobre algumas importantes correntes filosóficas da História 
da Filosofia. O itinerário pelas teorias filosóficas tem seu ponto de partida na 
Grécia Antiga, berço da filosofia, por isso, nossa investigação inicia explorando a 
forma originalmente grega de conhecimento, a episteme theoretiké, desenvolvida 
a partir do século VI a.C. Continuando pelas páginas do primeiro capítulo desse 
exemplar, o leitor irá apreciar uma reflexão sobre: política e filosofia em Platão; a 
educação como caminho à verdade; o desenvolvimento da ética e da moral no 
pensamento de Sócrates e Aristóteles; o aristotelismo e sua influência na teoria 
tomista; Aristóteles e a sistematização da lógica. 
Já o segundo capítulo propõe o olhar voltado para a crise da antiga ciência 
(baseada em Aristóteles e seguida pela Era Medieval) e o surgimento do 
Racionalismo, ao propor a origem do conhecimento no sujeito do conhecimento, 
ou seja, na razão, antes da experiência. Também veremos a corrente oposta ao 
Racionalismo, a Empirista, que julga ser a gênese do conhecimento somente 
a experiência. Outro ponto a ser explorado no segundo capítulo é a superação 
da dicotomia entre Racionalismo e Empirismo proposta por Immanuel Kant, no 
século XVIII, ao afirmar que o conhecimento só é possível pela conjunção entre 
sensibilidade e entendimento. Ainda no segundo capítulo serão apresentadas as 
interpretações kantianas sobre as ideias iluministas, como a saída do homem da 
sua menoridade para a maioridade racional e a discussão sobre o positivismo e a 
lei dos três estágios do entendimento humano, finalizando com a teoria marxista e 
sua crítica ao idealismo no século XIX. 
O terceiro e último capítulo trata sobre a crise da Filosofia Moderna. Nesse 
contexto, a sociedade hierárquica parece perder força, há um declínio da 
sociedade orgânica (hierárquica) por outros laços. As que antes tinham grande 
prestígio e confiabilidade perdem seu prestígio, o sujeito perde o interesse em 
se regular por princípios absolutos, não se afirma mais nenhum conteúdo, nem 
Igreja, partido, exército, o trabalho etc. Já não funcionam mais como princípios 
absolutos. “Todos os grandes valores que organizam as épocas anteriores 
são aos poucos esvaziados de sua substância” (LIPOVETSKY, 2005, p. 18). O 
homem parece não se sentir mais como pertencendo a quaisquer categorias, o 
sentimento de pertencimento enfraquece, o que prevalece é o não se sentir de 
lugar nenhum. 
Com esse panorama, desenvolvemos, caro leitor, uma reflexão sobre 
o século XIX e alguns dos principais críticos da modernidade, que detectam e 
denunciam o desmoronamento do edifício da razão, tão caro para os racionalistas. 
Exploramos, portanto, na última seção as ideias dos filósofos: Kierkegaard, 
Schopenhauer, Nietzsche, Husserl, Horkheimer, Adorno, Lipovetsky, Bauman, 
Gadamer, Heidegger, Freud e Foucault. 
Desejamos a todos uma ótima e proveitosa leitura!
Prof. Daniel Nery da Cruz
CAPÍTULO 1
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS 
CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, 
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E 
MORAL
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo, você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Identificar e entender conceitos filosóficos básicos relacionados as questões 
epistemológicas, educacionais, políticas e morais na Grécia Antiga.
� Entender a importância do desenvolvimento da filosofia na Grécia Antiga 
para a formação do pensamento ocidental e suas bases cientificas e lógicas, 
educacionais e políticas.
� Compreender como os gregos forjaram e sistematizaram a ética como 
fundamento para o bem-viver entre os homens. 
8
 Temas e teorias da Filosofia
9
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, 
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
As bases do pensamento filosófico-científico no ocidente estão alicerçadas na 
Grécia Antiga, por isso nossa investigação inicia explorando a forma originalmente 
grega de conhecimento, a episteme theoretiké, desenvolvida a partir do século 
VI a.C. Desde então, o conhecimento racional segue sua trajetória e abrange as 
várias áreas da compreensão humana, como a política, a educação, a ética, a 
lógica e demais campos do saber. Filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles e 
os que vieram posteriormente elaboram teorias e reflexões que transformaram o 
modo como o mundo era concebido. 
Podemos notar que com a reflexão filosófica, a problematização do mundo 
e da realidade passa a ser fundamental não somente para uma análise sobre o 
fluxo das coisas, mas também para abordar o homem e as suas criações, como 
a política, a educação, a lógica, a própria ciência e filosofia, a ética e tudo que 
possa englobar uma teorização humana. Neste capítulo, serão abordadasas 
seguintes temáticas determinantes para a história da filosofia: O conhecimento 
filosófico como episteme theoretiké na Grécia Antiga; Política e filosofia em 
Platão: A educação como caminho à verdade; O desenvolvimento da ética 
e da moral no pensamento de Sócrates e Aristóteles; O aristotelismo e sua 
influência na teoria tomista; Aristóteles e a sistematização da lógica. Os assuntos 
explorados são envolvidos por um aspecto (não exclusivo) do conhecimento e sua 
fundamentação, passando pelas ideias de Sócrates, Platão, Aristóteles, Tomás de 
Aquino e alguns logicistas contemporâneos.
2 O CONHECIMENTO FILOSÓFICO 
COMO EPISTEME THEORETIKÉ NA 
GRÉCIA ANTIGA
Desde sua origem na Grécia Antiga a filosofia tem o propósito de alcançar 
o real pelo caminho do conhecimento verdadeiro. O conhecer para os gregos 
estava ligado a um ato específico de enxergar a realidade: a teoria. Tanto a 
filosofia quanto a ciência nascem dessa maneira de saber, aliás, é impossível 
falar de ciência sem recorrer ao problema originário da filosofia forjado no século 
VI a.C na Grécia Antiga. É consenso entre os estudiosos que a filosofia foi criação 
grega, não sendo derivada de outras civilizações, como as orientais. É justamente 
essa forma de conhecer a realidade pela teoria que colocam os gregos em uma 
situação de originalidade. pois mesmo que alguns conhecimentos científicos, 
10
 Temas e teorias da Filosofia
astronômicos, matemáticos, geométricos, dentre outros, vieram do Oriente, foram 
os gregos que sistematizaram racionalmente de forma teórica o que esses outros 
povos fundamentavam na prática. Assim, não teria sido possível o saber filosófico 
e científico se não fosse preservada e transmitida aos homens do Renascimento 
tanto o theoreo como a atividade grega que era chamada de techne. Foi a junção 
tardia dessas duas concepções que deu à ciência moderna seu caráter ativo de 
agente transformador da realidade. Ciência é, portanto, uma atividade humana. 
Não é um saber qualquer, é um saber eminentemente teórico. Saber, teoria e 
atividade não são antagônicos.
Embora se possa dizer que o saber é um impulso próprio do homem e 
exista desde que a consciência humana apareceu, o mesmo não se pode dizer 
da teoria. Ela é uma construção do espírito relativamente recente. Theoreo, em 
grego, quer dizer, ver. Teoria, portanto, originalmente é um ver. Um ver com os 
olhos do espírito que só enxergam nas coisas o essencial. Seria, assim, uma 
contemplação e, como tal aparta-se de toda atividade, mas desde o Renascimento 
a ciência vem sendo também uma atividade de domínio da natureza. Vem sendo 
um saber poder (frase renascentista). A princípio esse caráter de atividade foi de 
natureza mágica, não durou muito, porque a magia foi substituída pela técnica 
como atuação sobre o mundo.
Por sua vez, a teoria consistia tanto para a filosofia grega como para 
a matemática, no pensar as coisas, não na totalidade dos seus atributos e 
aparências, porém na abstração de tudo o que não fosse essencial para a 
compreensão do que era pensado, isto é, no conceber as coisas e os fatos a 
serem conhecidos, procurando encontrar neles certos dados considerados 
essenciais para a sua descrição, explicação e compreensão.
A gênese do que são os dados essenciais abstraídos das coisas nos remete 
ao espírito aventureiro dos gregos. Com as navegações entre suas diversas ilhas 
interligadas, os gregos viajavam e descobriam “coisas novas”. Daí o interesse 
grego pela consistência das coisas novas que encontravam nas viagens. Foi 
natural que ocorresse a pergunta: em que consiste isso que se encontra pelo 
mundo? Essa seria a gênese inicial da filosofia, qual em grego tem um sabor 
especial: ti to on? O que é o ente? Daí os filósofos naturalistas, também chamados 
de pré-socráticos, investigam a origem de todas as coisas (naturais) no princípio 
(arché).
O que é o ente? ou o ti to on? É chamada hoje a pergunta ontológica e 
deu origem ao tipo essencial do saber que chamamos teoria. Entretanto, não 
existia antes daquela época o que chamamos ciência ou filosofia. Os filósofos 
que insistiam na pergunta “o que é o ente?”, ou seja, qual é o ser do ente? O que 
é aquilo que faz com que o tenha ser, seja? É uma pergunta sobre tudo aquilo 
11
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, 
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
que se encontra no mundo. É uma pergunta fundamental que exige uma resposta 
essencial. Será uma resposta ao que se chama em filosofia quididade. Os gregos 
tinham para explicar isso a palavra ousia, no português, essência ou substância, 
como também “entidade”. Está na procura da ousia a origem da teoria.
Note-se que nas suas origens gregas, em vez de ciência, como entendemos 
hoje, há um tipo de saber que, por assim dizer, desapareceu: a episteme 
theoretike, traduz-se por uma “competência em ver as coisas teoricamente e não 
por uma “ciência teórica””. Se perguntarmos por filosofia em Aristóteles vamos 
encontrar como resposta: episteme teórica dos primeiros princípios e das causas 
(metafisica). Daí epistemologia, ou seja, o estudo relativo à ciência pela teoria ou 
logos.
Para Heidegger (1997), a filosofia é um dialogar entre os filósofos, em 
que eles se dispõem ao saber a partir do ser dos entes. Diz Heidegger (1997), 
que a pergunta filosófica é pela quididade, entretanto, a quiditas se determina 
diversamente em diversas épocas da filosofia. Nesta linha de pensamento a 
filosofia mantém uma reflexão sobre o ser, isto é, a quididade, essência ou 
consistência, o caráter original da filosofia: o espanto e a curiosidade.
O ponto de partida do conhecimento, segundo Platão e Aristóteles, é a 
admiração; e admirar para os gregos tinha o sentido de espanto. Podemos dizer 
que ao espantarmos com algo que nos inquieta despertamos uma postura ou 
atitude de buscar conhecer ou descobrir o que se encontra por trás do véu que 
encobre aquela realidade. Em sua obra Teeteto, Platão relata um diálogo entre 
Sócrates e o matemático Teeteto que refletem sobre a natureza do conhecimento.
Platão considera a distinção filosófica do falso e verdadeiro como primordial 
para iniciar qualquer tentativa de compreender o conhecimento. Interessante notar 
que Sócrates compara o processo do conhecer com a profissão das parteiras. 
Assim como elas, o filósofo é aquele que tem como função o parto das ideias ou o 
auxílio da difícil tarefa de despertar a reflexão crítica, determinação dos princípios 
e distinção do que é verdadeiro (ou seja, o conhecimento) e o falso. 
Sócrates – A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às 
parteiras, com a diferença de eu não partejar mulher, porém 
homens, e de acompanhar as almas, não os corpos, em seu 
trabalho de parto. Porém a grande superioridade da minha arte 
consiste na faculdade de conhecer de pronto se o que a alma 
dos jovens está na iminência de conceber é alguma quimera e 
falsidade ou fruto legítimo e verdadeiro. Neste particular, sou 
igualzinho as parteiras: estéril em matéria de sabedoria, tendo 
grande fundo de verdade a censura que muitos me as assacam, 
de só interrogar o outros, sem nunca apresentar opinião 
pessoal sobre nenhum assunto, por carecer, justamente, de 
12
 Temas e teorias da Filosofia
sabedoria (PLATÃO, 2001, 150 c-e).
Chisholm (1966), recorrendo às análises platônicas do Teeteto, elenca 
as dificuldades encontradas no diálogo quanto à possibilidade de distinção do 
conhecimento verdadeiro e da doxa (opinião). A primeira dificuldade está no 
estabelecimento de verdades fundamentadas nas sensações. O indivíduo pode 
se enganar devido à singularidade de cada sensação, isto é, o que se sente é 
particular, não há como mensurar os sentidos dos outros para estabelecer uma 
certeza absoluta sobre as opiniões de cada pessoa como verdadeiras. Sempre 
há a tendência de dependência do estado mental e sensível dequem vivencia 
a realidade. O perigo eminente é o relativismo. Platão coloca em equivalência a 
aparência (que não conduz ao verdadeiro) e a sensação. Desse modo, identificar 
conhecimento com sensação pode levar à redução de uma perspectiva individual, 
com isso a limitação da possibilidade do conhecimento.
A distinção entre conhecimento e opinião verdadeira é outro problema que 
surge no teeteto, assim, podemos considerar que existe diferença entre uma 
pessoa que possua conhecimento e outra apenas com uma opinião verdadeira? 
Responder esta questão proposta por Platão não é algo simples, mas identificamos 
que o filósofo considera que a primeira pessoa tem mais vantagens em relação à 
segunda, pois esta tem opinião certa, mas não sabe, não conhece, aquela tem o 
conhecimento e também opinião verdadeira. 
Dessa constatação podemos inferir que o que faz com que uma pessoa 
tenha conhecimento sobre determinada situação e se distingue da mera opinião é 
o que chamamos de justificação racional, ou seja, uma justificativa apoiada em 
evidências lógicas.
A partir da justificativa racional é possível encontrar pressupostos 
sistemáticos para explicação, por exemplo, da verdade científica estruturada na 
modernidade pelo método cartesiano pautado no modelo racionalista e mecânico 
de explicação das leis naturais. Isso não significa que os sistemas bem-sucedidos 
que explicam racionalmente e justificam por meio de hipóteses que fundamentam 
o conhecimento não possam entrar em crise e serem superados por outras 
teorias mais avançadas. Um bom exemplo é a explicação aristotélica sobre o 
Universo, em que as leis do mundo lunar (perfeitas e imutáveis) são diferentes 
das leis do mundo sublunar (imperfeito). As investigações e experimentos de 
Isaac Newton mostraram, por meio de sua teoria da física, que Aristóteles estava 
equivocado, pois as leis do universo são as mesmas tanto no mundo lunar como 
no sublunar. Nesse sentido, as crenças aristotélicas foram postas à prova pelos 
modelos empiristas e racionalistas. É perceptível que os sistemas que explicam 
racionalmente e justificam suas crenças distinguiriam o conhecimento da opinião. 
13
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, 
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
Essa concepção sistêmica (explicada acima) reforça que o problema do 
teeteto é vigente mesmo em tempos contemporâneos, pois não há como saber 
se um sistema poderá vir a explicar fatos novos ou se precisará de novas bases 
explicativas para tal. A história da ciência mostra muito bem como vários sistemas 
perduraram por vários séculos, apesar de serem considerados posteriormente 
como não corretos. Nisso, percebemos que o problema do teeteto é permanente, 
pois distinguir conhecimento de opinião parece simplificar demais a querela, 
uma vez que Platão chega a uma situação complexa em que o conhecimento 
não pode ser nem sensação, nem opinião verdadeira, nem a explicação racional 
acrescentada a essa opinião.
Ora, será o cúmulo da simplicidade, estando nós à procura do 
conhecimento vir alguém dizer-nos que é a opinião certa aliada 
ao conhecimento, seja da diferença ou do que for. Desse modo, 
Teeteto, conhecimento não pode ser nem sensação, nem 
opinião verdadeira, nem a explicação racional acrescentada a 
essa opinião (PLATÃO, 2001, p. 76).
1 Comente o interesse dos gregos antigos pela consistência das 
coisas novas encontradas em suas viagens e a ligação desse fato 
com o desenvolvimento da ontologia, gênese inicial da filosofia.
2 Como você analisa a consideração grega de encarar o saber 
como um impulso próprio do homem existente desde que a 
consciência humana apareceu e a teoria como uma construção 
do espírito relativamente recente?
3 POLÍTICA E FILOSOFIA EM 
PLATÃO: A EDUCAÇÃO COMO 
CAMINHO À VERDADE 
A filosofia e a política sempre estiveram em estreita relação, tanto que 
em Sócrates a virtude é identificada com o viver bem ou a felicidade dentro da 
cidade, ou seja, no âmbito político. Platão, como maior discípulo de Sócrates, 
seguiu a herança do pensamento ético de seu mestre ao ponto de em sua teoria 
política forjar o ideal de homem justo e virtuoso também relacionado ao problema 
14
 Temas e teorias da Filosofia
epistemológico e educacional com a sua teoria das ideias. Vejamos como Platão 
argumenta e correlaciona essas áreas do conhecimento.
Em sua obra A república, Platão precisa exatamente a coincidência da 
verdadeira filosofia com a verdadeira política. A cidade autêntica ou o Estado que 
tem como fundamento a virtude, a justiça e o bem só se mantêm nesse nível 
saudável se o filósofo for o político ou o político ser o filósofo. Para chegar a tal 
constatação, Platão (1956), argumenta que a construção de uma cidade deve ter 
como base uma estrutura que leve em conta o conhecimento de vários assuntos, 
principalmente o conhecer humano, e essa destreza tem o filósofo. O estado é o 
reflexo de nossa alma, por isso o eixo central da discussão platônica na República 
versa sobre a justiça e suas várias conexões com os diversos temas. 
Uma cidade nasce pelo fato de não existir nenhuma pessoa autárquica, isso 
quer dizer que não existe ninguém que se basta a si mesmo e necessita de outros 
e de seus serviços, por exemplo, de homens que cuidam da alimentação, que 
realizem o trabalho de habitação, da defesa e segurança, também de alguns que 
governem. 
Para tais atividades a cidade deve ser dividida em três classes: a primeira 
é a dos lavradores, comerciantes e artesãos. Nesta classe prevalece em seus 
homens o aspecto da alma da concupiscência. Para que a classe possa se tornar 
boa é preciso que haja o exercício da virtude da temperança, ou seja, o domínio 
e a disciplina em relação aos prazeres e instintos. A segunda é a dos guardiães. 
Nesta classe deve prevalecer a força ou o lado irascível da alma e que conciliem 
mansidão e ousadia, tais como os cães de guarda com o intuito de proteger 
a Polis. Sua virtude deve ser a coragem. A terceira é classe dos governantes. 
Nela seus integrantes devem cumprir com zelo a missão de administrar e amar 
a cidade. A contemplação do bem e seu aprendizado capacitam os governantes 
e devem prevalecer a virtude da sabedoria como aspecto fundamental de suas 
almas. Portanto, temos que na cidade ideal prevalecem a temperança na primeira 
classe; a fortaleza ou coragem na segunda; e a sabedoria na terceira, porém em 
todas elas a justiça é a virtude que estabelece um nexo entre as três tornando 
a cidade uma perfeita harmonia entre suas partes e como consequência a 
sociedade como um todo reflete o bem que é distribuído. Cada cidadão dentro de 
sua classe deve desempenhar bem sua função e obedecer ao que sua natureza 
ordena. Dessa forma, na cidade prevalecerá a justiça. 
Para que cada cidadão esteja em plena sintonia com sua função, Platão 
elabora seu programa educacional da seguinte forma: uma cidade em harmonia, 
com seus cidadãos, deve ter uma educação perfeita. Porém, a primeira classe 
dos artesãos, lavradores e comerciantes apreendem seus ofícios facilmente na 
prática e não necessitam de uma educação especial. Para os guardiões, Platão 
15
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, 
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
propõe o ensino da ginástica e da música com o intuito de que a parte da alma 
em que se encontra a coragem seja abastecida de exercícios desse nível, 
fortalecendo mais os encarregados da segurança da Polis. Nessa classe tudo 
deve ser compartilhado, ou seja, todos os seus bens são comuns, inclusive os 
afetivos e familiares: homens, mulheres e filhos. Nessa espécie de comunidade 
a propriedade de bens materiais é proibida. O sustento material da classe dos 
guardiões deriva da classe inferior dos artesãos, comerciantes eagricultores.
Os filhos dos soldados são retirados imediatamente dos pais e alimentados 
e cuidados em lugar reservado, sem a presença dos seus progenitores. O 
objetivo de Platão era formatar uma grande família em que todos nutririam uns 
pelos outros um sentimento de pais, mães e filhos. Numa situação de guerra, por 
exemplo, todos redobrariam sua vontade de lutar e proteger uns aos outros, pois 
a relação de sangue gera e desperta ainda mais o instinto de proteção. Também 
era eliminado tudo aquilo que poderia gerar o egoísmo na forma de posse ou 
postura privada. Tudo é de todos e tudo deve ser pensado na forma de bem 
comum.
Já a classe dos governantes era destinada ao ensino da filosofia. Durava até 
os 35 anos quando o indivíduo alcançava a maturidade intelectual. Entre os 30 e 
os 35 anos ocorria o que era chamado de tirocínio mais complexo, era o período 
do aprendizado da dialética. No espaço dos 35 aos 40 anos era o momento 
de retorno ao contato com a realidade empírica e suas finalidades. Essas são 
as fases para a formação do político-filósofo que deveria ter como finalidade a 
contemplação do Bem ou da Verdade. Alcançar esse Bem é o objetivo máximo e 
todo agir político deve estar fundamentado segundo as leis da justiça que brota 
desse Bem. 
A filósofa e teórica política Hannah Arendt em sua obra A Vida do Espírito 
(2000) se opõe à teoria política platônica baseada no princípio de contemplação 
ou do pensamento. Para ela a vida ativa e não a contemplativa é onde os homens 
podem manifestar a pluralidade, participar da vida pública. A tradição filosófica 
delimitou a política no caminho da contemplação e, como tal, forjou um sistema 
que é passível de não participação das pessoas nas decisões públicas, pois 
contemplar supõe estar sozinho, refletir com seu eu, tal como a proposta do 
rei filósofo em Platão. Isso não promove a participação popular, e as decisões 
são tomadas por uma pessoa ou um grupo unilateral, portanto não promove a 
democracia. Arendt (2000) considera que pensar e conhecer são atividades 
diferentes da política; porém o pensar filosófico é menos político, por estar 
mais distante das aparências. Mesmo assim, ela não nega que a atividade do 
pensar tenha uma importância para a política, pois incapacidade de pensar afeta 
diretamente a política, por induzir as pessoas a normas de conduta prescritas 
para uma sociedade em determinado tempo. O pensar pode auxiliar a política, a 
16
 Temas e teorias da Filosofia
atividade do filósofo contribui realizando sua crítica desde fora.
Na modernidade há, para Arendt (2000), uma lamentável perda do sentido 
original da ação política, isso pelo fato de ter acontecido a substituição do agir 
pelo fazer. Arendt alerta ainda que, já em Platão, com a política fundamentada 
no rei filósofo, governante da cidade, é criado um padrão que torna a política 
semelhante à fabricação, pois os que estão no poder criam um objeto - o Estado 
- assim como o artesão constrói sua arte. “Arendt pensa que Platão buscava fugir 
à aleatoriedade e à imprevisibilidade da democracia, fundamentando a política 
em ideias universais e verdadeiras; no entanto, ao agir assim, ele extingue a 
pluralidade das pessoas” (FRY, 2010, p. 73).
A ação tem como característica seus aspectos inesperados e irreversíveis e, 
segundo Arendt (2000), seguindo o modelo platônico da teoria universal, a política 
é interpretada como uma forma de fabricação previsível, a isso ela denomina 
“substituição do agir pelo fazer”. Isso significa um modelo político que trata as 
pessoas como um objeto fabricado, como coisas. “A visão política de Arendt é 
diferente porque mantém a importância da diversidade dentro da política e rejeita 
a ideia de que a política possa ser fabricada pelos poucos que estão no comando” 
(FRY, 2010, p. 74).
Alegoria da caverna
SÓCRATES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em 
relação à ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo 
a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e 
cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde 
a infância, têm os homens, o pescoço e as pernas presos de modo 
que permanecem imóveis e só veem os objetos que lhes estão 
diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto. Atrás deles, 
a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo 
e os cativos imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um 
pequeno muro parecido com os tabiques que os pelotiqueiros põem 
entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas dos bonecos 
maravilhosos que lhes exibem.
GLAUCO - Imagino tudo isso.
SÓCRATES - Supõe ainda homens que passam ao longo deste 
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LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
muro, com figuras e objetos que se elevam acima dele, figuras de 
homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira. 
Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em conversa, 
outros guardam em silêncio.
GLAUCO - Similar quadro e não menos singulares cativos!
SÓCRATES - Pois são nossa imagem perfeita, mas, dize-me: assim 
colocados, poderão ver de si mesmos e de seus companheiros algo 
mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que 
lhes fica fronteira?
GLAUCO - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça 
durante toda a vida.
SÓCRATES - E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver 
outra coisa que não as sombras?
GLAUCO - Não.
SÓCRATES - Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te 
parece que, ao falar das sombras que veem, lhes dariam os nomes 
que elas representam?
GLAUCO - Sem dúvida.
SÓRATES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as 
palavras dos que passam, não julgariam certo que os sons fossem 
articulados pelas sombras dos objetos?
GLAUCO - Claro que sim.
SÓCRATES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e 
verdadeiro fora das
figuras que desfilaram.
GLAUCO - Necessariamente.
SÓCRATES - Vejamos agora o que aconteceria, caso se livrassem 
18
 Temas e teorias da Filosofia
a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imaginemos 
um desses cativos desatados, obrigado a levantar-se de repente, a 
volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia 
fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o 
deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra 
antes via.
Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse 
que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais 
perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais 
perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras 
que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. 
Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de 
que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora 
contemplados?
GLAUCO - Sem dúvida nenhuma.
SÓCRATES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos 
para as sombras
que poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais 
visíveis que os objetos ora mostrados?
GLAUCO - Certamente.
SÓCRATES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo 
caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá 
fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e 
brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo 
esplendor ambiente, ser-lhe-ia possível discernir os objetos que o 
comum dos homens tem por serem reais?
GLAUCO - A princípio nada veria.
SÓCRATES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade 
da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, 
depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; 
finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria 
mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia.
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LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
GLAUCO - Não há dúvida.
SÓCRATES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de 
ver o próprio sol, primeiro refletido na água e nos outros objetos, 
depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é.
GLAUCO - Fora de dúvida.
SÓCRATES - Refletindo depois sobre a natureza deste astro, 
compreenderia que é o que produz as estações e o ano, o que tudo 
governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que 
ele e seus companheiros viam na caverna.
GLAUCO - É claro que gradualmente chegaria a todas essas 
conclusões.
SÓCRATES - Recordando-se então de sua primeira morada, de 
seus companheiros de
escravidão e da ideia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os 
parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a 
sorte dos que lá ficaram?
GLAUCO - Evidentemente.
SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e 
recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguisse a 
sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que 
precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o 
mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que 
falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos 
e honrados? Não preferiria mil vezes, como o herói de Homero, 
levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às 
primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia?
GLAUCO - Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de 
sofrimentos de preferência a viver da maneira antiga.
SÓCRATES - Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso 
homem volte ainda para a caverna e vá assentar-se em seu primitivo 
20
 Temas e teorias da Filosofia
lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe 
ficariam os olhos como submersos em trevas?
GLAUCO - Certamente.
SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa - porque bastante 
tempo se passaria antes que os olhos se afizessem de novo à 
obscuridade - tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este 
respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos 
em cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter 
subido à região superior, cegara, que não valera a pena o esforço, e 
que assim, se alguém quisesse fazer com eles o mesmo e dar-lhes a 
liberdade, mereceria ser agarrado e morto?
GLAUCO - Por certo que o fariam.
SÓCRATES - Pois agora, meu caro GLAUCO, é só aplicar com toda 
a exatidão esta imagem da caverna a tudo o que antes havíamos 
dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é 
a luz do sol. O cativo que sobe a região superior e a contempla é a 
alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres 
saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe 
se é verdadeiro. Quanto a mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nos 
extremos limites do mundo inteligível está a ideia do bem, a qual 
só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se 
impõe à razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, 
criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da 
verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre 
ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares 
e públicos.
FONTE: Extraído de A República de Platão (1956, p. 287-291).
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 Capítulo 1 
Assista ao filme Matrix relacionando-o à teoria das ideias de Platão 
na alegoria da caverna. 
Matrix
Ficha Técnica e Premiações
Título original: The Matrix
Lançamento: 1999 (EUA)
Elenco: Laurence Fishburne (Morpheus); Carrie-Anne Moss (Trinity); 
Hugo Weaving (Agente Smith); Keanu Reeves (Thomas A. Anderson 
/ Neo); Joe Pantoliano (Cypher); Marcus Chong (Tank); Julian 
Arahanga (Apoc); Matt Doran (Mouse); Belinda McClory (Switch); 
Gloria Foster (Oráculo); Ray Anthony Parker (Dozer).
Duração: 136 min
Gênero: Ficção Científica
Direção e roteiro: Andy e Larry Wachowski
Produção: Joel Silver
Música: Don Davis
Fotografia: Bill Pope
Direção de arte: Hugh Bateup e Michelle McGahey
Figurino: Kym Barrett
Edição: Zach Staenberg
Efeitos especiais: Mass. Illusions, LLC / Manex Visual Effects / 
Amalgameted Pixels 
Estúdio: Village Roadshow Productions
Distribuidora: Warner Bros.
1 Considerando o texto sobre a alegoria da caverna, comente 
e analise qual a importância da formação do filósofo para a 
governança da cidade.
2 Como você interpreta a visão platônica de que somente o filósofo 
tem capacidade de governar a cidade? Quais impactos dessa 
ideia para a formação política Ocidental? 
22
 Temas e teorias da Filosofia
4 O DESENVOLVIMENTO DA ÉTICA 
E DA MORAL NO PENSAMENTO DE 
SÓCRATES E ARISTÓTELES
Nascido em Atenas em 470/469 a.C., Sócrates é considerado o filósofo 
mais influente de sua época e tem sua contribuição reconhecida em todas as 
épocas posteriores, inclusive a nossa. Ele não escreveu nenhuma obra, o que 
foi ensinado era transmitido pela palavra viva por meio de diálogos, da oralidade 
dialética. O pensamento socrático foi escrito por seus discípulos, dentre eles, o 
que mais escreveu foi Platão, inclusive muitas vezes tornando Sócrates porta-
voz de suas doutrinas. Por esse motivo, em muitos casos torna-se difícil saber o 
que realmente é uma ideia apenas socrática ou se houve uma remodelação dos 
pensamentos platônicos. 
A importância do pensamento socrático foi tamanha que a história da filosofia 
passou a ser dividida em antes e depois de Sócrates. Esse critério, além de outros, 
tem um fundamento na mudança de perspectiva de investigação socrática, que 
abandonou a especulação em torno da origem da arqué (princípio) na natureza 
para estudar o homem como objeto de conhecimento. Tal mudança representa 
um marco na história da filosofia, inaugurando o chamado período antropológico. 
Seu interesse na problemática do homem desenvolveu uma série de 
conclusões e contribuições para o campo da ética e da moral no Ocidente. A 
descoberta da essência do homem como psyché, ou seja, como alma, distingue 
esse ser de todos os outros seres, pois a alma é a razão relativa à nossa 
capacidade de pensar e operar eticamente. A alma é, nesse sentido, a consciência 
e a personalidade intelectual e moral. 
Sócrates, consequentemente à descoberta do homem como ser intelectual 
e moral, traz para o debate a relação do homem consigo mesmo pelo cuidado 
de si. Cuidar da alma é a atividade mais nobre e ensinar isso aos homens é uma 
tarefa fundamental do educador. Se a alma é o homem, o corpo é instrumento da 
psyché, pois a alma ordena ao conhecimento. Daí é preciso conhecer o interior 
da alma humana, que, diferentemente do corpo é imaterial, imortal e conduz à 
verdade. Sócrates, desse modo, traz como base de sua doutrina o “conhece a ti 
mesmo” e dessa decisão há o vínculo do modo e atividade de aperfeiçoamento 
do ser enquanto areté, que os gregos denominavam como aquilo que faz com 
que uma coisa se torne boa ao que ela foi destinada a ser. Por exemplo, uma 
árvore é enquanto areté quando ela se realiza perfeitamente enquanto árvore, se 
desenvolvendo a ponto de crescer, florescer, dar bons frutos... Areté seria o que 
denominamos hoje como virtude. A virtude para os gregos, então, estava em tudo, 
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LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
inclusive nas coisas inanimadas, mas qual é a virtude do homem? A virtude do 
homem está no que a alma deve ser, ou seja, boa e perfeita. Sócrates identifica 
dessa forma a virtude como ciência, pois ela é a ciência, o contrário dela é a 
ignorância ou vício.Os valores verdadeiros para Sócrates estão ligados à alma e não às coisas 
externas como riqueza, honra, poder etc. Sócrates opera nesse sentido uma 
grande mudança no quadro tradicional de valores e o conhecimento científico 
está relacionado a própria alma do homem.
Para Sócrates ninguém pratica o mal voluntariamente, pois o homem 
por natureza procura sempre o bem. Quando uma pessoa pratica o mal é por 
ausência de conhecimento do bem que ela age dessa forma, nesse sentido, o 
mal seria involuntário e o homem que o faz engana-se ao esperar que da sua 
ação possa extrair um bem. Quem conhece o bem não poderá cometer o mal. 
O bem é a condição necessária para evitar o mal. Essa postura de Sócrates é 
muito criticada, mas também há o entendimento que ele chega a esse excesso 
de racionalismo devido aos filósofos gregos não desenvolverem uma reflexão 
aprofundada sobre a vontade, isso vai ocorrer com a ética dos cristãos e o 
desenvolvimento da ideia de livre-arbítrio. Faltaria em Sócrates o entendimento 
de que “para fazer o bern também é necessário o concurso da ‘vontade’” (REALE; 
ANTISSERI, 2007, p. 97).
Um outro conceito norteador da doutrina da ética socrática é a enkráteia ou 
o domínio de si mesmo pela razão. As paixões e os impulsos são como os tiranos 
da alma e o autodomínio, sendo que base da virtude equilibra o homem em suas 
ações, sendo senhor de si, controlando sua animalidade. Dominar o corpo e seus 
instintos é dar ao homem sua verdadeira liberdade, essa libertação não conhece 
aquele que é escravo do corpo, pois ser livre é dominar seus próprios instintos 
pela sabedoria da alma.
Também, o conceito de felicidade tem relação com a determinação da alma. 
Sócrates recorre e sistematiza o conceito grego de eudaimonia, ou seja, aquilo 
que faz com que haja ordem e fruição da alma e promova uma vida agradável. 
Essa ordem ou harmonia interior identifica-se com a felicidade. O homem virtuoso 
tendo essa harmonia interior não será perturbado pelas intempéries provocadas 
por fatos naturais e até mesmo a própria morte. Tendo vivido com integridade e 
voltado para o bem e exercício da virtude, o homem não deve viver angustiado 
com a vinda da morte, pois se existir um além-mundo ele será premiado, não 
havendo, também terá tranquilidade ao perceber que viveu uma vida harmoniosa. 
Uma vida virtuosa vale a pena independente de qualquer coisa, pois na virtude 
já se encontra um prêmio em si mesma. Ser feliz é possível nesta vida seguindo 
o caminho da virtude. Discutimos até aqui a formação ética em Sócrates, iremos 
agora explorar o pensamento sistemático em Aristóteles sobre o agir humano.
24
 Temas e teorias da Filosofia
4.1 ÉTICA E POLÍTICA EM 
ARISTÓTELES
Para Aristóteles, a ética é teleológica, ou seja, tem uma finalidade que é a 
busca do Bem ou da felicidade do homem. A ética se articula com a política, pois 
é na vida social que o indivíduo deve exercer sua virtude procurando a felicidade 
na relação com os outros. Para entendermos a teoria moral aristotélica vejamos 
antes em que campo científico ele inclui a política e a ética.
As ciências para Aristóteles estão divididas em três ramificações, vejamos 
quais:
• Ciências produtivas: relacionadas à produção de algum objeto, por 
exemplo, a confecção de uma mesa, uma cadeira etc.
• Ciências Teoréticas: relacionadas ao estudo teórico, por exemplo, fazem 
parte dessa classe a matemática, a física, a psicologia, a filosofia.
• Ciências práticas: campo do saber em que se encontram a ética e 
a política. É esse o nosso interesse maior aqui, pois nele Aristóteles 
esclarece as normas e as boas formas de agir, o que é correto fazer. 
Com relação à ética, temos três obras atribuídas a Aristóteles: A Ética a 
Nicômaco, a Ética a Eudemo e o tratado conhecido como Magna Moralia.
Depois das "ciências teóricas”, na sistematização do saber, vêm as "ciências 
práticas", que dizem respeito à conduta dos homens e ao fim que eles querem 
atingir, tanto considerados como indivíduos, quanto como parte de uma sociedade 
política.
O estudo da conduta ou do fim do homem como indivíduo é a "ética"; o estudo 
da conduta e do fim do homem como parte de uma sociedade é a "política". O 
conjunto das ações humanas e o conjunto dos fins particulares para os quais elas 
tendem subordinam-se a um "fim último", que é o "bem supremo", que todos os 
homens concordam em chamar de "felicidade".
4.2 O QUE É A FELICIDADE?
 
Como vimos, a ética aristotélica é teleológica, busca o fim em si mesmo ou 
o bem, a felicidade dos homens. “[...] a felicidade, acima de tudo o mais, parece 
ser absolutamente completa nesse sentido uma vez que sempre optamos por 
ela mesma e jamais como um meio para algo mais [...]” (ARISTÓTELES, 2002, 
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LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
p. 49). Quando nos referimos ao “em si mesmo” significa que para Aristóteles 
a felicidade deve ser compreendida como a busca por ela mesma, ela é em si 
mesma o maior bem a se alcançar, se queremos viver uma vida de acordo com o 
bem não devemos procurar exteriormente, mas na própria felicidade.
Uma coisa buscada como uma finalidade em si mesma é mais 
completa do que uma buscada como um meio para alguma 
coisa mais e que uma coisa jamais como um meio para 
alguma coisa mais e que uma coisa jamais eleita como um 
meio para qualquer coisa mais é mais completa do que coisas 
eleitas tanto como finalidades em si mesmas quanto meios 
para aquela coisa; em conformidade com isso, chamamos de 
absolutamente completa uma coisa sempre eleita como uma 
finalidade e nunca como um meio (ARISTÓTELES, 2002, p. 
48-49).
Constata-se que pela argumentação, que é a felicidade “a mais desejável de 
todas as boas coisas” (ARISTÓTELES, 2002, p. 49). Podemos aristotelicamente 
considerar que:
a) Para a maioria das pessoas a felicidade é o prazer e o gozo, mas uma vida 
gasta com o prazer, segundo Aristóteles, é uma vida que torna "semelhantes aos 
escravos", e "digna dos animais".
b) Para alguns, a felicidade é a honra, mas a honra é extrínseca, ou seja, não 
é em si mesma, necessita de algo externo para existir, portanto é dependente e 
condicionada a que as pessoas te honrem. 
c) Para outros, a felicidade está em juntar riquezas. Para Aristóteles, esta é a 
mais absurda das vidas, chegando mesmo a ser vida "contra a natureza", porque 
a riqueza é apenas meio para outras coisas, não podendo, portanto, valer como 
fim.
As pessoas ordinárias identificam como algum bem óbvio e 
visível, tais como o prazer, ou a riqueza ou a honra, umas 
dizendo uma coisa e outras algo diferente; na verdade, com 
muita frequência o mesmo indivíduo diz coisas diferentes em 
ocasiões diferentes: quando fica doente, pensa ser a saúde 
a felicidade; quando é pobre, julga ser a riqueza a felicidade 
(ARISTÓTELES, 2002, p. 42).
O bem supremo realizável pelo homem (e, portanto, a felicidade) consiste 
em aperfeiçoar- se enquanto homem, ou seja, naquela atividade que diferencia 
o homem de todas as outras coisas. Assim, não pode consistir no simples viver 
como tal, porque até os seres vegetativos vivem; nem mesmo viver na vida 
sensitiva, que é comum também aos animais. Só resta, portanto, a atividade da 
razão. O homem que deseja viver bem deve viver, sempre, segundo a razão.
26
 Temas e teorias da Filosofia
Aristóteles identifica que cada um de nós é alma, mas também ressalta 
que é a alma a parte mais elevada do homem. A alma sendo parte dominante 
deixa, assim, claro que cada um é sobretudo intelecto. Os valores da alma são 
considerados, então, supremos, mesmo assim Aristóteles não menospreza os 
bens materiais, ele reconhece que necessitamos deles, mesmo que não sejam 
condição necessária para a felicidade, podem, com sua ausência, comprometer 
nossa tranquilidade.
4.3 AS VIRTUDES ÉTICAS E AS 
VIRTUDES DIANOÉTICAS
O homem sendoprioritariamente razão deve saber que não é apenas razão. 
Na alma humana existe algo oposto a ela, mas que ao mesmo tempo participa 
dela. Para explicar melhor podemos dizer que a parte vegetativa da alma não 
tem participação no aspecto racional, porém temos a faculdade do desejo, do 
apetite, que participa da racionalidade ao escutar e obedecer a razão. Aristóteles 
chama o domínio dessa parte da alma de virtude do comportamento prático ou 
virtude ética. Pela repetição ou hábito esse tipo de virtude é adquirido. As virtudes 
éticas são muitas e cada uma corresponde ao controle de impulsos e paixões ou 
sentimentos que possam se manifestar por excesso ou falta.
A razão deve ser, portanto, a moderadora dos excessos e das faltas, 
intervindo, impõe a justa medida ou o meio termo entre os extremos. A 
coragem, por exemplo, é o meio termo entre a covardia e a audácia. O meio 
termo é vitória da razão sobre os instintos. A Justiça é destaque dentre todas 
as virtudes éticas porque é pela "justa medida" que se distribuem os bens, as 
vantagens, os ganhos e seus contrários.
A perfeição da alma racional como tal é chamada por Aristóteles de virtude 
"dianoética". As virtudes dianoéticas são a "sabedoria" (phronesis) e a "sapiência" 
(sophia). Elas são divididas em duas porque a alma racional tem dois aspectos: 
um que é voltado para as coisas mutáveis, da vida do homem; e outro aspecto 
voltado para as coisas imutáveis, das realidades necessárias. A sabedoria tem 
como função dirigir a vida do homem para o bem, deliberando corretamente sobre 
o que é bom ou ruim para ele. A sapiência, por sua vez, consiste no conhecimento 
das realidades supremas, as que estão acima do homem, é o que Aristóteles diz 
ser a ciência theorétika. 
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 Capítulo 1 
4.4 OS PROCESSOS PSÍQUICOS E O 
ATO MORAL 
Aristóteles teve ainda o mérito de haver tentado superar o intelectualismo 
socrático. Percebeu que uma coisa é "conhecer o bem" e outra é "fazer e realizar 
o bem". Procurou determinar os processos psíquicos pressupostos pelo ato moral.
A escolha, para Aristóteles, é vinculada ao ato de deliberação. Para alcançar 
certos fins podemos estabelecer, conforme a deliberação, quais são os meios 
para tal execução. Há fins mais longínquos e outros mais próximos. A escolha 
tem seu modo operante nestes últimos. Desse modo, a escolha condiz aos meios 
para alcançar os fins. A escolha, então, nos torna responsáveis, mas isso não 
quer dizer que ela necessariamente nos torna bons ou ruins. Ser bom ou ruim 
depende dos fins e não são objetos de escolha, mas da vontade.
A vontade parece querer sempre o que é o bem, ou seja, aquilo que parece 
revestido de bem. Por isso, para ser bom, é necessário um querer o bem, e isso 
somente o homem virtuoso reconhece como o bem verdadeiro. 
4.5 A POLÍTICA 
Aristóteles definiu o homem como animal político, isso quer dizer que não 
simplesmente o classificou como animal social, mas que vive em sociedade 
politicamente organizada. Para os gregos, a natureza do bem do indivíduo é a 
mesma do bem da cidade, pois o interesse público é o mais belo de todos os 
interesses. Desse modo, a cidade está para o indivíduo e o indivíduo está para a 
cidade.
Sabemos que na Grécia Antiga nem todos eram cidadãos, pois para alcançar 
esse nível a pessoa precisava participar da administração pública, fazendo parte 
das assembleias e do governo da cidade. Era preciso ter o tempo livre para se 
dedicar aos assuntos da coisa pública, por isso nem operários nem escravos 
poderiam ser cidadãos. O escravo, por exemplo, era considerado um instrumento 
que servia para produção de artefatos e objetos para o uso. O escravo é daquela 
forma por natureza. Os antigos pensavam que era necessário ter escravos 
porque a própria vida exige isso da natureza. Por isso laborar significava ser 
escravizado pela necessidade, escravidão está inerente às condições da vida 
humana. Pelo fato de serem sujeitos às necessidades da vida, os homens só 
podiam conquistar a liberdade subjugando outros que eles, à força, submetiam à 
necessidade. A degradação do escravo era um rude golpe do destino, um fardo 
28
 Temas e teorias da Filosofia
pior que a morte, por implicar a transformação do homem em algo semelhante a 
um animal doméstico. Assim, qualquer alteração na condição do escravo, “como 
alforria, ou qualquer mudança de circunstâncias políticas gerais que elevasse 
certas ocupações a um nível de relevância pública, significava uma mudança na 
natureza do escravo” (ARENDT, 2007, p. 94-95).
4.6 O ESTADO 
Na cidade ainda prevalecia a constituição, ou seja, a estrutura ordenadora da 
cidade, e dela emana todo o funcionamento de todos os cargos, principalmente 
da autoridade soberana. Aristóteles destaca que o poder soberano pode ser 
exercido:
1. por um só homem;
2. por poucos homens;
3. pela maior parte.
E quem governa pode governar:
a) segundo o bem comum;
b) no seu interesse privado.
Então, são possíveis três formas de governo correto e três de governo 
corrupto:
Formas corretas de governo Formas corruptas de governo
Monarquia Tirania
Aristocracia Oligarquia
Politia Democracia
FONTE: O autor
Aristóteles entende por "democracia" um governo que, desleixando o bem 
comum, visa a favorecer de maneira indébita os interesses dos mais pobres e, 
portanto, entende "democracia" no sentido de "demagogia". Para ele o erro na 
forma de governo demagógico está em considerar que, como todas as pessoas 
são iguais em sentido de direito de liberdade, logo, todos podem também ser 
iguais também em tudo.
Aristóteles afirma que, em abstrato, são melhores a monarquia e a 
aristocracia, mas, na realidade, considera que, no concreto, sabendo como os 
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 Capítulo 1 
homens são, a melhor forma de governo é a politia, que é um meio termo entre a 
monarquia e a aristocracia. 
4.7 O ESTADO IDEAL 
O fim do Estado moral é o incremento dos bens da alma, ou a virtude como 
sustentáculo, a alma deve ter uma correspondência entre o estado e o cidadão. 
Aristotelicamente falando, a cidade perfeita deve ser na medida certa, nem muito 
populosa e nem muito pequena. Seu território também deve obedecer a essa 
regra, grande o bastante para suprir as necessidades, sem excessos. 
Os cidadãos, que governam a cidade, serão os protetores quando jovens, 
passando por conselheiros e posteriormente sacerdotes. Assim, há uma conexão 
que se adequa na medida correta aos moldes de Aristóteles, ou seja, a polis é 
dirigida pela força que há nos jovens e a sabedoria e bom senso dos mais velhos. 
A cidade alcançará sua felicidade de acordo com a felicidade de seus 
cidadãos, por isso, quanto mais virtuoso se possa formar o cidadão mais justo e 
feliz será o Estado.
ÉTICA DAS VIRTUDES: UMA ALTERNATIVA PARA PENSAR O 
PROBLEMA DA PUNIÇÃO
A PROPOSTA DA ÉTICA DAS VIRTUDES
Até há pouco tempo existia um consenso entre os estudiosos da 
punição de que o consequencialismo, a deontologia ou uma teoria 
mista dessas duas vertentes eram as únicas teorias normativas que 
podiam justificar a punição de um cidadão pelo Estado. Consciente 
dessa realidade, Matthew Schaeffer, em um texto intitulado 
virtue ethics and the justification of punishment, descreve que os 
filósofos dessas teorias, em debate, tentaram melhorar e definir 
justificativas consequencialistas para a punição, outros defendem 
uma postura deontológica e ainda há aqueles que tentaram evitar 
fraquezas percebidas em ambas (deontologia e consequencialismo), 
construindo teorias mistas de justificação. 
Schaeffer esclarece que nos primeiros sessenta anos do século XX 
30
 Temas e teoriasda Filosofia
todas as tentativas de justificar a punição estavam niveladas em 
consequências, deveres ou em ambas. “Virtue ethics re-emerged in 
the late 1950s, with Elizabeth Anscombe’s important article ‘Modern 
Moral Philosophy’, and has established itself as a major approach 
in normative ethics” (AMAYA, LAI, 2012, p. 1). Em 1958, Elizabeth 
Anscombe defende que deontologia e consequencialismo são 
incoerentes em uma concepção de lei ética. Como alternativa a essas 
teorias, Anscombe propõe o retorno da ética das virtudes aristotélica. 
A partir dessa investigação, muitos filósofos seguiram nessa esteira 
e a ética das virtudes entra em cena como uma concorrente para 
o consequencialismo e a deontologia. Essa iniciativa levou alguns 
filósofos a declararem a ética das virtudes como tendo um completo 
status de uma teoria. 
[....] O procedimento investigativo de Schaeffer leva em conta, em 
primeiro lugar, que a ética das virtudes diz que o Estado deveria 
punir X se, e somente se, a pessoa totalmente virtuosa puniria X. Em 
segundo lugar, constatado isso, realiza o discernimento da natureza 
da virtude e o conjunto de virtudes que possui a pessoa totalmente 
virtuosa. Nesses dois passos é possível discernir o que a pessoa 
totalmente virtuosa faria se estivesse em suas mãos a decisão de 
punir ou absolver o indivíduo infrator.
Essas são informações básicas que já nos mostram o fundamento da 
ética das virtudes, a saber: a pessoa virtuosa, ou seja, diferentemente 
das outras teorias normativas (deontologia e consequencialismo, 
mista), a pessoa virtuosa é a medida da decisão, uma vez que ela 
está imbuída das virtudes. Schaeffer realça que a natureza da virtude 
é constituída de caráter eudaimonista. O vício, por sua vez, é a 
antítese da eudaimonia. 
Ainda seguindo na esteira aristotélica, ele apresenta os dois tipos 
de virtude. A virtude moral que é um traço de caráter “multitrack” 
composta de emoções, escolhas, reações emocionais, valores, 
desejos, atitudes, interesses, expectativas e sensibilidades. O outro 
tipo de virtude é a intelectual, tendo como característica nos permitir 
ou ajudar a adquirir conhecimento. Um exemplo é a sabedoria prática, 
virtude intelectiva que permite conhecer o fim definitivo da ação e até 
mesmo os meios para o efeito. 
Então, quais virtudes a pessoa virtuosa possui? Schaeffer elenca 
quatro: sabedoria prática; justiça; benevolência e misericórdia. O 
31
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, 
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
critério para a escolha foi a relevância delas para a questão da pena. 
[...].
A primeira, a sabedoria prática, tem uma relevância especial, pois 
ela perpassa o interior de cada uma das virtudes. A justiça e a 
benevolência são por excelência importantes para a questão da 
pena, já a misericórdia é a única como firma Schaeffer que prima 
facie parece silenciar exigências da justiça. 
Schaeffer (2010, p. 40) adota algumas estratégias para discernir o 
que uma pessoa que possui essas quatro virtudes faria em relação à 
punição, ou seja, que possua o controle de jure do Estado: 
 
[...] A sabedoria prática determina o fim da ação. Para isso ela vai 
primeiramente assumir que a atividade racional constitui eudaimonia, 
pois somos seres racionais; em segundo plano, ela se move sobre 
o juízo de quais “modos de ser” são racionais; terceiro, a sabedoria 
prática etiqueta esses “modos de ser” como virtudes e todos os 
outros como vícios. A sabedoria prática, por exemplo, julga que a 
média (coragem) entre o excesso de imprudência e a deficiência da 
covardia é racional. Assim, o excesso de imprudência e a deficiência 
da covardia são vícios, ou seja, os extremos irracionais. 
A sabedoria prática mostra que a coragem é um modo de ser racional 
e, portanto, uma virtude. A sabedoria prática então é um julgamento 
legítimo sobre determinadas ações. Além de ser a sabedoria prática 
a virtude controladora da pessoa totalmente virtuosa, ela ainda é o 
elemento constituído de todas as virtudes, pois todas elas devem se 
manifestar em ações. 
Aristóteles (2001, p. 93), diz que “na justiça se resume toda a 
excelência”. Pensando na virtude da justiça como excelência ela se 
divide em duas espécies: distributiva e comutativa. A primeira é a 
distribuição justa e equitativa dos produtos comuns, como o dinheiro, 
a liberdade, honra etc. A segunda é a igualdade de troca de bens 
entre os cidadãos. 
A pessoa justa possui o traço da justiça, uma combinação de vida 
interior relevante e sabedora prática. A pessoa justa, assim, pode fixar 
ou determinar ações particulares tanto em matéria de distribuição 
quanto comutativa. Schaeffer supõe que a pessoa justa no controle 
de jure do Estado fará sempre justiça, uma vez que é de sua índole 
essa ação. Ele dá um exemplo de uma pessoa que frauda idosos, 
32
 Temas e teorias da Filosofia
a pessoa justa irá punir apenas com algum tipo de multa, serviço 
comunitário ou encarceramento? Importante lembrar que a pessoa 
justa é preocupada com os fatos que são relevantes à justiça. No 
caso de Ane, que fraudou cidadãos idosos, houve um prejuízo 
financeiro e psicológico, e ela agiu de forma moralmente responsável. 
Na perspectiva da pessoa justa a justiça distributiva esgrime que o 
Estado restrinja a liberdade civil de Ane (o Estado deve distribuir de 
acordo com o mérito ou demérito e Ane já não merece a liberdade). 
Já pela ótica da justiça comutativa há a exigência da restituição 
financeira e moral. É difícil definir um princípio sobre quando a 
pessoa justa vai punir um cidadão, isso vai depender do caso e de 
suas particularidades. O que fica evidente é que a pessoa justa está 
sempre disposta a ofuscar a injustiça e louvar a justiça. Com essa 
premissa, Schaeffer (2010, p. 43) conclui em três pontos as ações e 
razões para se acreditar no julgamento da pessoa justa: (I) a pessoa 
justa sabe que a justiça deve ser feita e a injustiça deve ser evitada; 
(II) a pessoa justa deveria sempre, não importa as circunstâncias, 
julgar que a punição de um cidadão inocente é injusto, uma vez que 
uma pessoa inocente não pode merecer punição para o que ela não 
fez; (III), portanto, a pessoa justa, necessariamente, jamais deve 
punir um cidadão inocente. 
Quanto à virtude da benevolência, é um tipo de vida interior conjugada 
com a sabedoria prática direcionada para o bem-estar dos outros. A 
pessoa benevolente se contenta quando os outros fazem o bem. A 
pessoa benevolente tem como fim corrigir ou determinar quais ações 
são benevolentes. 
Mantendo o mesmo procedimento que adotou na análise das outras 
virtudes, Schaeffer propõe que supondo a pessoa benevolente tendo 
controle de jure do Estado como ela agiria em relação à punição? 
Ela irá realmente punir? Uma pessoa benevolente desprezaria 
punir um cidadão inocente, pois punir um inocente é injusto. Uma 
questão paradoxal parece destoar na reflexão: pode o amante dos 
outros infligir danos ou privações sobre aqueles que ama? Essa 
problemática poderia colocar em risco o plano de justificar a punição 
sob a ética das virtudes, porém o castigo pode afetar positivamente 
o bem-estar tanto dos que sofreram os danos quanto dos que 
provocaram os danos, os infratores. Como o Estado que é direcionado 
para fazer o bem dos cidadãos utiliza da punição para com seus 
súditos? Schaeffer (2010) propõe quatro maneiras para se pensar a 
justificativa da punição e com isso pode afetar agressores e o público 
33
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, 
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
em geral. (i) A dissuasão: punição, por vezes, impede o agressor e o 
público em geral de cometer crimes semelhantes no futuro e, assim, 
promover o bem-estar público geral. (ii) Incapacidade: punição,sob 
a forma de encarceramento, pode impedir os delinquentes de repetir 
seus crimes, assim, promover o bem-estar do público em geral. (iii) 
Comunicação Moral: a punição comunica que certas ações são a 
antítese de um bem-estar da pessoa, promovendo o bem-estar dos 
infratores e do público em geral. (iv) Reforma: a punição, quando 
conduzida de forma adequada, pode obrigar os infratores a desprezar 
a imoralidade de suas ações havendo envolvimento na autoreforma 
e assim promover o bem-estar dos infratores e do público em geral 
(uma vez que haverá menos crime). Desse modo, é mister considerar 
que a pessoa benevolente punirá sim o agressor, sem deixar de 
pensar no seu bem-estar e, ao mesmo tempo, com isso promover 
o bem do público em geral. É então a benevolência uma virtude que 
justifique a punição.
O exposto até aqui foi uma incursão na visão de M. Schaeffer sobre 
a justificativa da punição pela ética das virtudes. Vimos algumas 
das virtudes que ele apontou como fundamentais para essa defesa. 
Continuando explorando sua análise, agora com uma diferença, 
tentarei propor uma implementação e problematização a partir da 
virtude da misericórdia. Gostaria de esclarecer que considero a 
mais problemática das virtudes para a defesa de uma justificativa 
da punição pela ética das virtudes. Schaeffer não aprofundou muito 
algumas questões referentes à misericórdia. Após essa minha 
incursão irei corroborar o que Schaeffer defende, ou seja, que 
é possível justificar a punição via ética das virtudes. O que farei é 
contribuir implementando a virtude da misericórdia. 
Historicamente a clemência ou misericórdia aparece na república de 
509 a.C. a 27 a.C. e era uma atitude própria dos romanos em relação 
aos povos dominados pelo império. Em 100 a.C. – 44 a.C., o conceito 
ganha aspecto político com o governo de Júlio Cesar. Ele chegou 
até mesmo a oferecer cargos de honra, indicando que esqueceu 
as ofensas. Importante destacar também a importância de Sêneca 
que propôs um modelo de tratado sobre a clemência. O objetivo 
dessa obra era orientar o imperador Nero em suas ações pessoais 
como também do seu governo. A clemência poderia ter um papel 
de entendimento e admiração. Importante destacar que a clemência 
não poderia servir de brecha para que o criminoso fugisse da pena. 
Sêneca destaca que o homem deve ser responsável por seus atos, 
pois ele teve a oportunidade de viver segundo a virtude e escolheu 
34
 Temas e teorias da Filosofia
viver contrariamente.
 
A clemência do governante deveria ser produto de uma deliberação 
racional, não podia, portanto, ser confundida com piedade: “a 
compaixão não observa a causa do castigo, mas o infortúnio do 
criminoso. A clemência se aproxima da razão” (SÊNECA, 1990, p. 
46). 
Tanto em Aristóteles como em Tomás de Aquino e também em 
Sêneca, a misericórdia deve ser uma atitude de reflexão racional. 
Também Sêneca está ciente de que a clemência deve estar a favor 
da justiça e revela equilíbrio em sua aplicação. Nessa breve avaliação 
histórica percebemos que a misericórdia tem importância na política. 
Fica claro também que os respeitados autores escreveram sobre 
a misericórdia e têm a consciência de que o homem clemente não 
deixaria de punir o culpado, as circunstâncias são levadas em conta 
para não haver injustiça. 
Nesta reflexão, assumimos que a misericórdia é um traço de caráter, 
uma combinação de vida interior e sabedoria prática que tem como 
fim limitar ou apagar a punição por compaixão para com os infratores. 
Claro que isso deve ser exercitado sem desrespeitar as exigências da 
justiça, ou seja, deve não anular ações da justiça, mas também não 
provocar uma deliberação irresponsável destoando a harmonia entre 
as virtudes em geral. Todas as virtudes na pessoa totalmente virtuosa 
se respeitam mutuamente, representando uma harmonia interior para 
a decisão, a ação do agente. Desse modo, a pessoa misericordiosa 
mantém uma relação saudável com a justiça, a benevolência e a 
sabedoria prática com o intuito de promover o bem-estar dos infratores 
e do público em geral. A misericórdia está entre a hiper-misericórdia e 
a impiedade, ela é a justa medida entre esses extremos.
Então, novamente seguindo o procedimento adotado por Schaeffer, 
pergunta-se o que deveria uma pessoa totalmente misericordiosa 
fazer em relação à punição? Respostas: (i) A pessoa misericordiosa 
deveria constantemente limitar apenas a apagar punições; (ii) A 
pessoa misericordiosa nunca iria apenas limitar ou apagar punições; 
(iii) A pessoa misericordiosa faria, na ocasião, apenas limitar ou 
apagar punições. Essa última resposta (iii) é a indicada por Schaeffer 
como a correta. Sua justificativa baseia-se em que a pessoa 
misericordiosa julga que uma limitação ou supressão, uma punição 
justa é misericordiosa se, e somente se, o infrator em questão 
sinceramente exibe remorso e pretende abster-se de novas infrações. 
35
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, 
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
O problema que surge está na realização dessa bicondicional 
que raramente é satisfeita uma vez que muitos infratores não se 
arrependem. Essas limitações ou apagamentos das punições podem 
afetar infratores e cidadãos, mas a pessoa misericordiosa, por agir na 
justa medida, não iria esvaziar as prisões nem irresponsavelmente 
colocar em risco a sociedade. Essas falhas pertencem ao vício da 
hipermisericórdia. O remorso sincero do criminoso pode apagar a 
punição. 
Quando a pessoa misericordiosa age sobre isso, age 
misericordiosamente, mas a questão que se esgrime é como saber 
se realmente o delinquente não está mentindo? Será que realmente 
ele está arrependido? Será que não irá mais cometer o erro? Como 
saber a resposta para essas questões se não podemos penetrar nos 
estados mentais da pessoa? Essa é a problemática que pretendo 
agora discutir e que Schaeffer percebe, mas limita-se a discutir. 
Acredito que explorar isso possa reforçar e complementar a tese da 
justificativa da punição pela ótica da ética das virtudes, pois creio 
que a misericórdia é a mais frágil para que a teoria passe à prova. 
No entanto, ela pode ser reforçada e ganhar robustez a ponto de ser 
considerada forte tanto quando as outras. 
Primeiro, é preciso dirimir a dúvida mais comum quando se fala 
da misericórdia, a saber, se ela realmente pode ser considerada 
uma virtude. Podemos recorrer a Tomás de Aquino, que seguindo 
na esteira de Aristóteles, discute essa questão. Na suma teológica 
explica que a misericórdia implica dor com a miséria alheia e esta 
pode ser considerada de algum modo um movimento de apetite 
sensitivo. Com essa interpretação a misericórdia é paixão e não 
virtude. Como relatamos anteriormente, o auxílio da sabedoria prática 
pode considerar a paixão como apetite intelectivo enquanto ela não 
nos direciona a não sermos confortáveis com o mal feito ao outro, ou 
seja, não nos agrada saber que o mal feito ao outro é efetivado. 
FONTE: CRUZ, D. N. da. Ética das virtudes: uma alternativa para 
pensar o problema da punição. In: Filosofia, ensino, diálogos e 
perspectivas de investigação. Rio de Janeiro: Multifoco, 2018. P. 
163-179.
36
 Temas e teorias da Filosofia
1 No texto acima, percebemos como a ética das virtudes aristotélica 
ainda é importante ao debate filosófico e político, mas também 
há um interesse por outras áreas, como o direito, por exemplo. 
Discorra como a ética das virtudes pode auxiliar na questão da 
punição de um indivíduo pelo Estado.
2 Interprete e esclareça a afirmação de Aristóteles de que o “homem 
é um animal político”.
3 Analise como Sócrates relaciona o conceito de areté ao problema 
antropológico contido no “conhece a ti mesmo”.
4 Explique por que a ética aristotélica é denominada teleológica?
5 O ARISTOTELISMO E SUA 
INFLUÊNCIA NA TEORIA TOMISTA 
Não é pretensão nossa realizaruma investigação de todas as correntes 
em todas as épocas do desenvolvimento da filosofia, mas realizar o estudo de 
algumas temáticas inerentes ao saber filosófico em vários períodos. A seguir 
temos uma cronologia resumida desses períodos:
QUADRO 1 – PERÍODOS DA FILOSOFIA
Antigo Medieval Moderna Contemporânea 
Pré-socráticos (VII – VI 
ao V a.C.)
Patrística (I ao VIII 
d.C.)
Renascimento (XIV ao 
XVI d.C.)
Idealismo (XIX d.C.)
Socráticos (V ao IV 
a.C.)
Escolástica (IX ao XIV 
d.C.)
Racionalismo e Empir-
ismo (XVI ao XVIII d.C.)
Positivismo (XIX – XX 
d.C.)
Helenismo (IV a.C. ao 
I d.C.)
Existencialismo (XX 
d.C.)
FONTE: O autor
Conscientes da cronologia apresentada, podemos agora explorar as 
ideias desenvolvidas pela filosofia cristã, na Idade Média, influenciada pelo 
aristotelismo. Focaremos apenas nas ideias de Tomás de Aquino, por ser o 
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A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, 
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
principal representante da escolástica. O século XIII da era cristã caracteriza-se 
filosoficamente pelo pensamento escolástico. Não por acaso foi nesse período 
também que tivemos o surgimento das primeiras universidades e a criação das 
ordens religiosas como os dominicanos e franciscanos. O frade Tomás de Aquino 
(1224-74) pertencia aos dominicanos e também atuou em algumas universidades 
da época. Mesmo a partir da metade do século XII já haviam surgido a 
Universidade de Salerno (1050), de Bolonha (1088), posteriormente a de Paris 
(1214), na Inglaterra surge a de Oxford, e assim, muitas foram surgindo. O fato 
é que nessas instituições eram ensinados diversos saberes, inclusive o direito 
à medicina. Foi despertado o interesse pelas obras aristotélicas, principalmente 
pelos estudiosos árabes que estavam desenvolvendo a ciência natural ainda 
pouco explorada. As universidades atraiam mestres e estudantes de diversas 
localidades do mundo que se reuniam em determinada cidade para seus estudos. 
Daí o termo universitas ser utilizado para representar esse conjunto de pessoas 
de diferentes regiões. 
As obras de Aristóteles chegaram a ser proibidas de serem ensinadas já 
em 1215 e continuariam com muitas proibições. Porém, a Igreja percebeu que 
as Universidades poderiam desenvolver sistematicamente um saber que pudesse 
combater à heresia e com isso preservar a doutrina cristã. O pensador de maior 
influência nesse período foi Tomás de Aquino.
Tomás de Aquino tem sua originalidade reconhecida por desenvolver uma 
filosofia própria e atingir questões de suma abrangência em todas as reflexões da 
filosofia. Podemos dizer que ele forjou um grande sistema filosófico e teológico 
tendo Aristóteles como base. Isso trouxe uma grande mudança, pois até então o 
que prevalecia era a teoria platônico-agostiniana. Tomás de Aquino traz à luz que 
a filosofia de Aristóteles tem compatibilidade para desenvolver a filosofia cristã. 
Várias são as obras de Aquino, dentre elas temos: De ente et essentia (sobre 
a essência, 1242-43); Suma contra os gentiles (suma contra os gentios, 1258-60); 
De veritate (sobre a verdade, 1256-59) e sua principal obra Summa Theologica 
(1265-73).
Admirador de Aristóteles, a quem chamava na suma teológica de o filósofo, 
elabora um sistema que concilia o pensamento cristão com o aristotelismo. Sendo 
sua obra muito extensa e complexa analisaremos aqui não seu sistema em 
detalhes, mas focaremos no argumento das cinco vias da prova da existência de 
Deus que Tomás de Aquino trata na suma teológica e que mostra a cristianização 
do pensamento aristotélico para, a partir da luz natural da razão, chegar ao 
conhecimento da existência divina. Neste argumento, como veremos, se articulam 
a razão e a fé, tema central de discussão da filosofia medieval.
38
 Temas e teorias da Filosofia
O primeiro argumento é o do movimento (baseado na Física, VIII, de 
Aristóteles). A caracterização fundamental do movimento é a passagem do ato 
para potência. Tudo que está em movimento ou se move é movido por algo 
imóvel. Se assim não fosse haveria uma regressão ao infinito, o que não se pode 
admitir. Deus então é a causa primeira de todo o movimento, ou seja, ele é o motor 
imóvel que move tudo no universo, mas não é movido, ele é o Primeiro Motor. 
A segunda via denominada de causa eficiente tem base também na metafísica 
(II) de Aristóteles. Esse argumento diz que nada pode ser causa eficiente de si 
mesmo, caso contrário seria causa anterior a si mesmo. E se não é possível a 
admissão de uma regressão infinita de causas, Deus é a Causa Primeira de tudo. 
O argumento cosmológico é a terceira via, recorrendo às noções aristotélicas 
de necessidade e contingência direciona-se para a necessidade da existência 
do cosmos. A natureza tem sua constatação contingencial, porém deve haver 
algo incontingente, pois caso contrário não existiria nada. O que não existe só 
pode começar a existir a partir de algo já existente anteriormente. Portanto, é 
necessário que algo exista antes. Deus é esse primeiro ser existente, necessário 
para a existência de tudo. Ainda com base na Metafísica de Aristóteles, Tomás de 
Aquino chega à quarta via denominada de graus da perfeição. Todas as coisas 
são predicáveis, têm qualidades em maior ou menor grau. Se temos esse grau 
comparativo de maior ou menor, o parâmetro é o máximo. Deus, portanto, é 
esse Ser Perfeito que tem o máximo de perfeição. A quinta e última via é a do 
argumento teleológico. Deve haver um fim ou finalidade na natureza ou causa 
final. A causa final da natureza é Deus, pois tende para sua finalidade inteligente.
Como vimos, é incontestável a influência do pensamento metafísico 
aristotélico na filosofia tomista. Claro que na Idade Moderna essa teoria foi muito 
contestada, mas é inegável a contribuição de Tomás de Aquino para a revelação 
de Deus pela luz natural da razão, passando pela esfera dos sentidos. Essa 
valorização naturalista é herança aristotélica e cabe ressaltar sua importância 
para a mudança de perspectiva que vai se apresentando, pois se podemos 
provar Deus naturalmente é despertado o interesse pela investigação do mundo 
natural. Também, a difusão do pensamento de Aristóteles via Tomás ascende a 
curiosidade de descobertas das investigações científicas, seja contestando seus 
argumentos (como fez Galileu ao demonstrar que Aristóteles estava equivocado 
ao dizer que dois objetos de diferentes pesos lançados de uma mesma altura 
o mais pesado cai primeiro) seja complementando. Nos séculos subsequentes 
a Tomás, na modernidade, por exemplo, ocorre uma grande metamorfose no 
Ocidente, sem dúvida o pensamento tomista contribuiu para sua formação.
39
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA, 
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORALLÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
 Capítulo 1 
1 Disserte sobre as cinco vias da prova da existência de Deus pela 
luz natural da razão e associe os argumentos aos defendidos por 
Aristóteles em sua metafísica.
6 ARISTÓTELES E A 
SISTEMATIZAÇÃO DA LÓGICA 
Veremos agora como Aristóteles sistematiza a lógica. Gostaríamos de 
ressaltar que não estamos explorando aqui os assuntos com uma sequência 
cronológica, mas por uma abordagem temática sobre temas filosóficos. 
No sistema epistemológico aristotélico a lógica não faz parte da divisão 
das ciências, ela é um organon, ou seja, um instrumento de auxílio para todas 
as áreas do conhecimento e não entra no esquema geral porque constitui uma 
propedêutica para todas as ciências. A lógica é a base do pensamento e identifica 
qual a estrutura do raciocínio e de suas demonstrações e quais seus tipos.
O conjunto de escritos de Aristóteles denominados de organon caracteriza 
a lógica com o termo de analítica. A analítica vem do grego análysis e significa 
solução. Dada uma conclusão, é investigada

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