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Filosofia da Ciência e da Mente

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Indaial – 2020
FilosoFia da CiênCia 
e da Mente
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
L685f
Leyser, Kevin Daniel dos Santos
Filosofia da ciência e da mente. / Kevin Daniel dos Santos Leyser. – 
Indaial: UNIASSELVI, 2020.
263 p.; il.
ISBN 978-65-5663-169-1
ISBN Digital 978-65-5663-170-7
1. Ciência - Filosofia. - Brasil. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 121
apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Filosofia da 
Ciência e da Mente, ao ler a Unidade1 você será introduzido às noções 
básicas da filosofia da ciência e ao raciocínio científico. Você irá estudar 
sobre as questões centrais da explicação na ciência e saberá identificar os 
processos de mudanças científicas e os principais problemas filosóficos 
desta área, como compreender o realismo científico e as críticas à ciência. 
No primeiro tópico desta Unidade, Ciência, Filosofia da Ciência e o Raciocínio 
Científico, responderemos à pergunta “o que é ciência?” e neste caminho 
apresentaremos as origens da ciência moderna. Posteriormente, respondemos 
à pergunta “o que é filosofia da ciência?” e neste caminho introduziremos 
vários temas centrais à Filosofia da Ciência, como as discussões entre a ciência 
e pseudociência, o raciocínio científico, a dedução e indução, o problema de 
Hume, a inferência à melhor explicação e as questões de probabilidade e 
indução. No segundo tópico, Explicação, Realismo e Antirrealismo na Ciência, 
você poderá estudar sobre o modelo da lei de cobertura da explicação de 
Hempel e a partir deste modelo compreender o problema da simetria, da 
irrelevância e da explicação e causalidade na ciência. Além disso, poderá 
entender a diferença das posições do realismo e do antirrealismo na ciência. 
No terceiro tópico, Mudança científica e problemas filosóficos, vamos aprofundar 
as discussões sobre o legado de Thomas Kuhn na filosofia da ciência. 
Temas como a estrutura das revoluções científicas, a incomensurabilidade 
e a carga teórica dos dados e a racionalidade da ciência serão centrais para 
entendermos a Filosofia da Ciência. Além disso, neste tópico você poderá 
compreender questões da filosofia da ciência especializada ou específica, 
como problemas filosóficos na física e na biologia.
Na Unidade 2, Filosofia da Mente I, você poderá ler sobre as noções 
básicas de filosofia da mente e seus problemas filosóficos, compreender 
os argumentos e contra-argumentos dos dualismos de substância e 
de propriedade e identificar as principais características do idealismo, 
behaviorismo e o problema de outras mentes na filosofia da mente. No 
primeiro tópico dessa Unidade, vamos introduzir brevemente aspectos da 
mente, como o pensamento e a experiência, a consciência, os qualia, a emoção, 
entre outros temas que serão explorados no decorrer deste Livro Didático. 
No segundo tópico o tema central será explorar com mais profundidade o 
dualismo de substância e o dualismo de propriedade na filosofia da mente. 
No terceiro tópico você vai ler sobre o idealismo na filosofia da mente. Serão 
introduzidas as perspectivas do pampsiquismo e do solipsismo. Para cada 
um desses posicionamentos você verá os argumentos a favor e os contra-
argumentos. Além disso, você vai conhecer a abordagem behaviorista na 
filosofia da mente e o problema filosófico das “outras mentes”.
A Unidade 3, Filosofia da Mente II, introduzirá noções básicas do 
funcionalismo e da causação mental, apresentará os argumentos e contra-
argumentos do materialismo eliminativo e questões dos estados perceptivos, 
das imagens mentais e estados emocionais e permitirá que você identifique 
as principais características do livre-arbítrio e dos estados mentais, das 
teorias da intencionalidade e da representação mental. No primeiro tópico 
dessa Unidade, exploraremos o funcionalismo na filosofia da mente, que é a 
doutrina de que o que torna algo um estado mental de um tipo particular não 
depende de sua constituição interna, mas sim da maneira como funciona, 
ou do papel que desempenha, no sistema do qual é uma parte. Após 
estudarmos sobre o funcionalismo, vamos ver questões sobre a existência e a 
natureza da causalidade mental, pois estas são proeminentes nas discussões 
contemporâneas sobre a mente e a ação humana. No segundo tópico, o centro 
da discussão será o materialismo eliminativo, que é uma forma extrema de 
monismo fisicalista que nega a existência de qualquer coisa mental ou, mais 
tipicamente, de alguma gama limitada de fenômenos mentais. Além disso, 
vamos estudar sobre estados mentais como a percepção, a imagem mental e 
a emoção. Finalmente, no terceiro tópico dessa Unidade e último tópico deste 
Livro, vamos investigar as questões sobre o livre-arbítrio, a intencionalidade 
e a representação mental.
Desejo uma boa jornada a todos, rumo à edificação da educação e 
sucesso frente aos desafios intelectuais, éticos e pessoais proporcionados 
pelo estudo da Filosofia da Ciência e da Mente.
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser.
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
suMário
UNIDADE 1 — A FILOSOFIA DA CIÊNCIA ................................................................................... 1
TÓPICO 1 — CIÊNCIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E RACIOCÍNIO CIENTÍFICO ............... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 O QUE É CIÊNCIA? ............................................................................................................................ 3
2.1 AS ORIGENS DA CIÊNCIA MODERNA ................................................................................... 4
3 O QUE É FILOSOFIA DA CIÊNCIA? ............................................................................................10
3.1 CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCIA .................................................................................................. 12
4 RACIOCÍNIO CIENTÍFICO ............................................................................................................ 15
4.1 DEDUÇÃO E INDUÇÃO ............................................................................................................ 15
4.2 O PROBLEMA DE HUME ........................................................................................................... 18
4.3 INFERÊNCIA À MELHOR EXPLICAÇÃO .............................................................................. 21
4.4 PROBABILIDADE E INDUÇÃO ................................................................................................ 24
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 29
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 31
TÓPICO 2 — EXPLICAÇÃO, REALISMO E ANTIRREALISMO NA CIÊNCIA .................... 33
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 33
2 MODELO DA LEI DE COBERTURA DA EXPLICAÇÃO DE HEMPEL ................................ 34
2.1 O PROBLEMA DA SIMETRIA ................................................................................................... 37
2.2 O PROBLEMA DA IRRELEVÂNCIA ........................................................................................ 39
2.3 EXPLICAÇÃO E CAUSALIDADE ............................................................................................. 39
3 A CIÊNCIA PODE EXPLICAR TUDO? ......................................................................................... 42
3.1 EXPLICAÇÃO E REDUÇÃO ...................................................................................................... 44
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 47
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 59
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 61
TÓPICO 3 — MUDANÇA CIENTÍFICA E PROBLEMAS FILOSÓFICOS .............................. 63
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 63
2 FILOSOFIA DA CIÊNCIA LÓGICO-POSITIVISTA ................................................................. 63
3 A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS ............................................................... 66
3.1 INCOMENSURABILIDADE E A CARGA TEÓRICA DOS DADOS .................................... 69
3.2 KUHN E A RACIONALIDADE DA CIÊNCIA ........................................................................ 73
3.3 O LEGADO DE KUHN ................................................................................................................ 75
4 PROBLEMAS FILOSÓFICOS EM FÍSICA E BIOLOGIA ......................................................... 77
4.1 LEIBNIZ VERSUS NEWTON SOBRE O ESPAÇO ABSOLUTO ............................................ 77
4.2 O PROBLEMA DA CLASSIFICAÇÃO BIOLÓGICA .............................................................. 83
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 88
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 90
UNIDADE 2 — FILOSOFIA DA MENTE I ..................................................................................... 91
TÓPICO 1 — ASPECTOS DA MENTE E PROBLEMAS FILOSÓFICOS .................................. 93
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 93
2 ASPECTOS DA MENTE ................................................................................................................... 93
2.1 PENSAMENTO E EXPERIÊNCIA ............................................................................................. 94
2.2 CONSCIENTE E INCONSCIENTE ............................................................................................ 94
2.3 QUALIA .......................................................................................................................................... 95
2.4 PERCEPÇÃO SENSORIAL ........................................................................................................ 95
2.5 EMOÇÃO ....................................................................................................................................... 96
2.6 IMAGENS ...................................................................................................................................... 96
2.7 VONTADE E AÇÃO ..................................................................................................................... 97
2.8 SELF ................................................................................................................................................ 97
2.9 ATITUDES PROPOSICIONAIS .................................................................................................. 97
3 PROBLEMAS FILOSÓFICOS ......................................................................................................... 99
3.1 PROBLEMA MENTE-CORPO .................................................................................................... 99
3.2 OUTROS PROBLEMAS ............................................................................................................. 102
3.2.1 O problema da percepção ................................................................................................. 102
3.2.2 O problema de outras mentes .......................................................................................... 103
3.2.3 O problema da inteligência artificial ............................................................................... 104
3.2.4 O problema da consciência............................................................................................... 105
3.2.5 O problema da intencionalidade ..................................................................................... 105
3.2.6 O problema do livre-arbítrio ............................................................................................ 106
3.2.7 O problema da identidade pessoal ................................................................................. 106
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 108
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 109
TÓPICO 2 — DUALISMO DE SUBSTÂNCIA E DE PROPRIEDADE .................................... 111
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 111
2 ARGUMENTOS PARA O DUALISMO DE SUBSTÂNCIAS ................................................. 112
2.1 ARGUMENTOS DA LEI DE LEIBNIZ .................................................................................... 112
2.1.1 Crítica aos argumentos da lei de Leibniz: falácia intencional ..................................... 115
2.2 ARGUMENTOS DO HIATO EXPLICATIVO ......................................................................... 117
2.2.1 Críticas aos argumentos do hiato explicativo ............................................................... 119
2.3 ARGUMENTOS MODAIS .........................................................................................................120
2.3.1 Crítica aos argumentos modais ....................................................................................... 121
3 INTERAÇÃO MENTE-CORPO COMO UM PROBLEMA PARA O DUALISMO 
DE SUBSTÂNCIAS ......................................................................................................................... 122
3.1 OBJEÇÃO DA PRINCESA ELISABETH ................................................................................. 123
3.2 AS ALTERNATIVAS DUALISTAS AO INTERACIONISMO CARTESIANO ................... 124
4 DUALISMO DE PROPRIEDADE ................................................................................................ 126
4.1 O ESPECTRO INVERTIDO ....................................................................................................... 127
4.2 ATAQUE DOS ZUMBIS ............................................................................................................. 129
4.3 O ARGUMENTO DO CONHECIMENTO .............................................................................. 131
4.4 O ARGUMENTO DO HIATO EXPLICATIVO APLICADO AO DUALISMO 
DE PROPRIEDADE .................................................................................................................... 133
5 O DUALISMO DE PROPRIEDADE LEVA AO EPIFENOMENALISMO? .......................... 135
6 COMO VOCÊ SABE QUE NÃO É UM ZUMBI? ....................................................................... 137
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 139
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 140
TÓPICO 3 — IDEALISMO, BEHAVIORISMO E OUTRAS MENTES .................................... 141
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 141
2 IDEALISMO, SOLIPSISMO E PAMPSIQUISMO ................................................................... 141
2.1 SOLIPSISMO: SOU APENAS EU? ........................................................................................... 142
2.2 IDEALISMO: ESTÁ TUDO NA MENTE ................................................................................. 146
2.2.1 O argumento de Berkeley da dor .................................................................................... 147
2.2.2 O argumento de Berkeley a partir da relatividade perceptiva: o balde de Berkeley .......... 148
2.2.3 O argumento central de Berkeley .................................................................................... 148
2.2.4 Por que Berkeley não é um solipsista ............................................................................. 149
2.2.5 Argumentando contra o idealismo ................................................................................. 149
2.3 PAMPSIQUISMO: A MENTE ESTÁ EM TODA PARTE....................................................... 150
2.3.1 O argumento da analogia ................................................................................................. 151
2.3.2 O argumento nada do nada ............................................................................................. 152
2.3.3 O argumento evolutivo ..................................................................................................... 153
2.3.4 Argumentando contra o pampsiquismo: o problema da combinação ...................... 153
3 BEHAVIORISMO E OUTRAS MENTES .................................................................................... 154
3.1 A HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO ........................................................................................ 156
3.1.1 Ludwig Wittgenstein e o argumento da linguagem privada ...................................... 157
3.1.2 Gilbert Ryle contra o fantasma na máquina .................................................................. 159
3.2 OBJEÇÕES AO BEHAVIORISMO ............................................................................................ 160
3.2.1 A objeção dos qualia ........................................................................................................... 160
3.2.2 Objeção de Sellars .............................................................................................................. 161
3.2.3 A objeção de Geach-Chisholm ......................................................................................... 162
4 O PROBLEMA FILOSÓFICO DAS OUTRAS MENTES ......................................................... 163
4.1 A ASCENSÃO E QUEDA DO ARGUMENTO DA ANALOGIA ........................................ 164
4.2 NEGAÇÃO DA ASSIMETRIA ENTRE O AUTOCONHECIMENTO E O 
CONHECIMENTO DE OUTRAS MENTES ............................................................................ 166
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 167
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 172
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 173
UNIDADE 3 — FILOSOFIA DA MENTE II .................................................................................. 175
TÓPICO 1 — FUNCIONALISMO E CAUSAÇÃO MENTAL .................................................... 177
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 177
2 UMA BREVE HISTÓRIA DO FUNCIONALISMO .................................................................. 178
3 ARGUMENTOS A FAVOR DO FUNCIONALISMO ............................................................... 181
3.1 O ARGUMENTO CAUSAL ....................................................................................................... 181
3.2 O ARGUMENTO DA MÚLTIPLA REALIZABILIDADE ..................................................... 182
4 AS VARIEDADES DO FUNCIONALISMO............................................................................... 185
4.1 O FUNCIONALISMO DA MÁQUINA DE TURING ........................................................... 186
4.2 FUNCIONALISMO ANALÍTICO VERSUS FUNCIONALISMO EMPÍRICO ................... 187
5 ARGUMENTOS CONTRA O FUNCIONALISMO .................................................................. 188
5.1 ADAPTAÇÃO DO ARGUMENTO DOS ZUMBIS CONTRA O FUNCIONALISMO...... 188
5.2 ADAPTAÇÃO DO ARGUMENTO DO QUARTO CHINÊS CONTRA O 
FUNCIONALISMO .................................................................................................................... 189
6 A CAUSAÇÃO MENTAL ............................................................................................................... 191
6.1 O FECHAMENTO CAUSAL DO MUNDO FÍSICO .............................................................. 192
6.2 VISÕES BÁSICAS DA INTERAÇÃO ....................................................................................... 193
6.2.1 Interacionismo .................................................................................................................... 194
6.2.2 Paralelismo.......................................................................................................................... 194
6.2.3 Epifenomenalismo ............................................................................................................. 195
6.2.4 Reducionismo ..................................................................................................................... 196
6.3 QUALIA E EPIFENOMENALISMO ........................................................................................ 196
6.3.1 O Zimbo de Dennett .......................................................................................................... 198
6.4 MONISMO ANÔMALO ............................................................................................................199
6.5 O ARGUMENTO DA EXCLUSÃO CAUSAL-EXPLANATÓRIA ....................................... 202
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 204
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 205
TÓPICO 2 — MATERIALISMO ELIMINATIVO, PERCEPÇÃO, IMAGEM MENTAL 
E EMOÇÃO ................................................................................................................. 207
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 207
2 O MATERIALISMO ELIMINATIVO CONTEMPORÂNEO .................................................. 208
2.1 A PSICOLOGIA POPULAR COMO UMA TEORIA ............................................................. 209
2.2 O CONTRASTE ENTRE REDUÇÃO E ELIMINAÇÃO ........................................................ 210
2.3 MATERIALISMO ELIMINATIVO DO QUALIA ................................................................... 216
3 PERCEPÇÃO, IMAGEM MENTAL E EMOÇÃO ...................................................................... 220
3.1 PERCEPÇÃO ............................................................................................................................... 220
3.1.1 Realismo direto e o argumento da ilusão ....................................................................... 220
3.1.2 Teorias filosóficas da percepção ....................................................................................... 222
3.2 IMAGENS MENTAIS ................................................................................................................. 225
3.2.1 Quão semelhantes são as imagens mentais com outros estados mentais?................ 226
3.2.2 As imagens mentais são a base para estados mentais como os pensamentos? ........ 227
3.2.3 Até que ponto, se houver, as imagens mentais são genuinamente imaginárias 
ou semelhantes a fotografias? .......................................................................................... 228
3.3 EMOÇÃO ..................................................................................................................................... 230
3.3.1 O que distingue emoções de outros estados mentais? ................................................. 230
3.3.2 O que distingue emoções diferentes umas das outras? ............................................... 231
3.3.3 As dificuldades em dar uma explicação unificada das emoções ................................ 231
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 233
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 234
TÓPICO 3 — DETERMINISMO E LIVRE-ARBÍTRIO ............................................................... 235
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 235
2 FONTES DO DETERMINISMO................................................................................................... 236
2.1 DETERMINISMO FÍSICO ......................................................................................................... 238
2.2 DETERMINISMO TEOLÓGICO .............................................................................................. 238
2.3 DETERMINISMO LÓGICO....................................................................................................... 239
2.4 DETERMINISMO ÉTICO .......................................................................................................... 239
2.5 DETERMINISMO PSICOLÓGICO ........................................................................................... 240
3 COMPATIBILISMO ........................................................................................................................ 240
4 INCOMPATIBILISMO ................................................................................................................... 241
4.1 O ARGUMENTO DA ORIGEM OU DA CADEIA CAUSAL ............................................... 242
4.2 O ARGUMENTO DA CONSEQUÊNCIA ............................................................................... 243
5 O LIVRE-ARBÍTRIO ....................................................................................................................... 244
5.1 O QUE É O ARBÍTRIO? ............................................................................................................. 244
5.2 EM QUE CONSISTE O “LIVRE” DO ARBÍTRIO? ................................................................. 246
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 249
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 256
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 258
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 259
1
UNIDADE 1 — 
A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 introduzir	as	noções	básicas	de	filosofia	da	ciência	e	raciocínio	científico;
•	 apresentar	as	questões	centrais	da	explicação	na	ciência;
•	 identificar	 os	 processos	 de	 mudanças	 científicas	 e	 os	 principais	
problemas	filosóficos;
•	 compreender	o	realismo	científico	e	as	críticas	à	ciência.
Esta	unidade	está	dividida	em	três	tópicos	e,	no	fim	de	cada	um	deles,	você	
encontrará	autoatividades	que	reforçarão	o	seu	aprendizado.	
TÓPICO	1	–	CIÊNCIA,	FILOSOFIA	DA	CIÊNCIA	E	 
RACIOCÍNIO	CIENTÍFICO
TÓPICO	2	–	EXPLICAÇÃO,	REALISMO	E	 
ANTIRREALISMO	NA	CIÊNCIA
TÓPICO	3	–	MUDANÇA	CIENTÍFICA	E	 
PROBLEMAS	FILOSÓFICOS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
CIÊNCIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E 
RACIOCÍNIO CIENTÍFICO
1 INTRODUÇÃO
Caro	acadêmico,	neste	primeiro	tópico,	é	preciso	se	concentrar	na	proposta	
de	uma	introdução	à	investigação	filosófica	da	ciência.	Para	isso,	primeiramente,	
elucidaremos	o	próprio	objeto	dessa	investigação:	o	que	é	a	ciência?
A	 seguir,	 levantaremos	 a	 reflexão	 sobre	 os	problemas	ou	questões	 que	
perfazem	o	trabalho	de	filosofar	sobre	a	ciência,	apresentando,	assim,	os	temas	
que	serão	explorados	no	decorrer	desta	primeira	unidade.	
Finalmente,	 apresentaremos	 as	 principais	 formulações	 da	 questão	 do	
raciocínio	científico,	além	da	centralidade	desse	tema	para	a	filosofia	da	ciência.
Muito	bem,	você	está	pronto?	Então,	vamos	lá!
2 O QUE É CIÊNCIA?
O	 que	 é	 ciência?	 Essa	 pergunta	 pode	 parecer	 fácil	 de	 responder:	 todo	
mundo	 sabe	 que	 assuntos	 como	 física,	 química	 e	 biologia	 constituem	 ciência,	
enquanto	assuntos	como	arte,	música	e	teologia	não.	Como	filósofos,	perguntamos	
o	que	é	ciência,	mas	esse	não	é	o	tipo	de	resposta	que	queremos.	Não	estamos	
pedindo	 uma	 mera	 lista	 das	 atividades	 que,	 geralmente,	 são	 chamadas	 de	
"ciência".	Estamos	perguntando	qual	característica	comum	todas	as	coisas,	nessa	
lista,	compartilham,	ou	seja,	o	que	é	que	faz	de	algo	uma	ciência?	Assim,	nossa	
questão	não	é	tão	trivial.
Você	 ainda	 pode	 pensar	 que	 a	 questão	 é	 relativamente	 simples.	
Certamente,	a	ciência	é	apenas	a	tentativa	de	entender,	explicar	e	prever	o	mundo	
em	que	vivemos.	É,	certamente,	uma	resposta	razoável,	mas	será	que	é	apenas	
isso?	Afinal,	várias	religiões	também	tentam	entender	e	explicaro	mundo,	mas	
a	religião	não	é,	geralmente,	considerada	um	ramo	da	ciência.	Da	mesma	forma,	
astrologia	 e	 adivinhação	 são	 tentativas	de	prever	 o	 futuro,	mas	 a	maioria	das	
pessoas	não	descreveria	essas	atividades	como	ciência.	
Os	historiadores	tentam	entender	e	explicar	o	que	aconteceu	no	passado,	
mas	a	história	não	é,	geralmente,	 classificada	como	ciência.	Tal	 como	acontece	
com	muitas	questões	filosóficas,	a	questão	"o	que	é	ciência?"	acaba	por	ser	mais	
complicada	do	que	parece	à	primeira	vista	(FRENCH,	2009).
UNIDADE 1 — A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
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Muitas	 pessoas	 acreditam	 que	 as	 características	 distintivas	 da	 ciência	
estão	nos	métodos	específicos	que	os	cientistas	usam	para	investigar	o	mundo.	
Essa	sugestão	é	plausível.	Muitas	ciências	empregam	métodos	distintos	de	uma	
investigação	que	não	são	encontrados	em	disciplinas	não	científicas.	Um	exemplo	
óbvio	é	o	uso	de	experimentos,	que,	historicamente,	marcam	um	ponto	de	virada	
no	desenvolvimento	da	ciência	moderna.	
Nem	todas	as	ciências	são	experimentais	–	os	astrônomos,	obviamente,	não	
podem	fazer	experimentos	nos	céus,	mas	têm	que	se	contentar	com	a	observação	
cuidadosa.	O	mesmo	acontece	com	muitas	ciências	sociais.	Outra	característica	
importante	 da	 ciência	 é	 a	 construção	 de	 teorias.	 Os	 cientistas	 não	 registram,	
simplesmente,	os	resultados	da	experiência	e	da	observação	em	um	diário	de	bordo	
–	 eles,	geralmente,	querem	explicar	 esses	 resultados	 em	 termos	de	uma	 teoria	
geral.	Isso	nem	sempre	é	fácil	de	fazer,	mas	existiram	alguns	sucessos	notáveis.	
Um	dos	principais	problemas	da	filosofia	da	ciência	é	entender	as	técnicas	como	
experimentação,	observação	e	construção	de	teorias	que	permitiram,	ao	cientista,	
desvendar	muitos	dos	segredos	da	natureza	(CHALMERS,	1993).
2.1 AS ORIGENS DA CIÊNCIA MODERNA
Nas	 escolas	 e	 universidades	 de	 hoje,	 a	 ciência	 é	 ensinada	 de	 uma	
maneira	 basicamente	 a-histórica.	 Os	 livros	 didáticos,	 apresentam	 as	 ideias-
chave	 de	 uma	 disciplina	 científica	 da	 forma	mais	 conveniente	 possível,	 com	
pouca	menção	ao	longo	e	muitas	vezes	tortuoso	processo	histórico	que	levou	
à	 sua	descoberta.	Como	estratégia	pedagógica,	 isso	 faz	 sentido.	Mas	 alguma	
apreciação	da	história	das	ideias	científicas	é	útil	para	entender	as	questões	que	
interessam	aos	filósofos	da	ciência.	De	fato,	como	veremos	mais	adiante	neste	
livro,	 argumenta-se	 que	 a	 atenção	 à	 história	 da	 ciência	 é	 indispensável	 para	
fazer	uma	boa	filosofia	da	ciência.
As	 origens	 da	 ciência	 moderna	 estão	 em	 um	 período	 de	 rápido	
desenvolvimento	científico	que	ocorreu	na	Europa	entre	os	anos	de	1500	e	1750.	
Agora,	 referimo-nos	 como	 a	 revolução	 científica	 (ROSA,	 2012b).	 É	 claro	 que	
as	 investigações	 científicas	 foram	 realizadas	 nos	 tempos	 antigos	 e	 medievais,	
também,	a	Revolução	Científica	não	veio	do	nada.	
Nesses	 períodos	 anteriores,	 a	 visão	 de	 mundo	 dominante	 era	 o	
aristotelismo,	em	homenagem	ao	antigo	filósofo	grego	Aristóteles,	que	apresentou	
teorias	detalhadas	em	física,	biologia,	astronomia	e	cosmologia	(ROSA,	2012a).	
Todavia,	as	ideias	de	Aristóteles	pareceriam	muito	estranhas	para	um	cientista	
moderno,	assim	como	seus	métodos	de	 investigação.	Para	escolher	apenas	um	
exemplo,	ele	acreditava	que	todos	os	corpos	terrestres	são	compostos	de	apenas	
quatro	elementos:	 terra,	 fogo,	ar	e	água	(ARISTÓTELES,	2009).	Essa	visão	está	
obviamente	em	desacordo	com	o	que	a	química	moderna	nos	diz.
TÓPICO 1 — CIÊNCIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E RACIOCÍNIO CIENTÍFICO
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O	primeiro	passo	crucial	no	desenvolvimento	da	visão	científica	moderna	
do	mundo	foi	a	revolução	copernicana.	Em	1542,	o	astrônomo	polonês	Nicolaus	
Copernicus	 (1473-1543)	 publicou	 um	 livro	 atacando	 o	modelo	 geocêntrico	 do	
universo,	que	colocou	a	terra	estacionária	no	centro	do	universo	com	os	planetas	
e	o	sol	em	órbita	ao	redor.	A	astronomia	geocêntrica,	também	conhecida	como	
astronomia	ptolomaica,	em	homenagem	ao	antigo	astrônomo	grego	Ptolomeu,	
estava	 no	 coração	 da	 visão	 de	 mundo	 aristotélica,	 e	 passou	 praticamente	
inquestionável	por	1.800	anos	(ROSA,	2012a).	Contudo,	Copernicus	sugeriu	uma	
alternativa:	o	sol	era	o	centro	fixo	do	universo,	e	os	planetas,	incluindo	a	Terra,	
estavam	em	órbita	ao	redor	do	sol.	
FIGURA 1 – PLANISPHAERIUM COPERNICANUM, ANDREAS CELLARIUS - 1660 
(SISTEMA PLANETÁRIO HELIOCÊNTRICO DE COPERNICUS)
FONTE: <https://images.app.goo.gl/vMK59fjZq1BdX2NP8>. Acesso em: 27 jul. 2020.
Nesse	 modelo	 heliocêntrico,	 a	 Terra	 é	 considerada	 apenas	 um	 outro	
planeta	e,	portanto,	perde	o	status	único	que	a	tradição	lhe	concedeu.	A	teoria	
de	Copernicus	encontrou,	inicialmente,	muita	resistência.	A	Igreja	Católica,	por	
exemplo,	a	considerou	como	contrária	às	Escrituras.	Em	1616,	proibiram	livros	
que	defendiam	o	movimento	da	Terra,	mas,	dentro	de	100	anos,	o	copernicanismo	
se	tornou	ortodoxia	científica	estabelecida.
A	inovação	de	Copernicus	não	levou,	apenas,	a	uma	melhor	astronomia.	
Indiretamente,	levou	ao	desenvolvimento	da	física	moderna,	através	do	trabalho	
de	 Johannes	Kepler	 (1571-1630)	e	Galileu	Galilei	 (1564-1642).	Kepler	descobriu	
que	 os	 planetas	 não	 se	 movem	 em	 órbitas	 circulares	 ao	 redor	 do	 sol,	 como	
Copernicus	pensava,	mas	sim,	em	elipses.	Essa	foi	sua	"primeira	lei"	crucial	do	
movimento	planetário;	sua	segunda	e	terceira	lei	especificam	as	velocidades	nas	
quais	os	planetas	orbitam	o	sol	(ROSA,	2012b).
UNIDADE 1 — A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
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Tomadas	em	conjunto,	as	leis	de	Kepler	forneceram	uma	teoria	planetária	
muito	 superior	à	que	 já	havia	 sido	avançada	antes,	 resolvendo	problemas	que	
haviam	 confundido	 os	 astrônomos	 por	 séculos.	 Galileu	 era	 um	 defensor	 do	
copernicanismo	 por	 toda	 a	 vida,	 um	 dos	 primeiros	 pioneiros	 do	 telescópio.	
Quando	ele	apontou	seu	telescópio	para	o	céu,	fez	uma	riqueza	de	descobertas	
surpreendentes,	 incluindo	 montanhas	 na	 lua,	 uma	 vasta	 gama	 de	 estrelas,	
manchas	solares	e	as	 luas	de	Júpiter	 (GEYMONAT,	1997).	Tudo	isso	conflitava	
profundamente	com	a	cosmologia	aristotélica,	e	desempenhou	um	papel	crucial	
na	conversão	da	comunidade	científica	ao	copernicanismo.
A	 contribuição	mais	 duradoura	 de	 Galileu,	 no	 entanto,	 não	 estava	 na	
astronomia,	 mas	 na	 mecânica.	 Ele	 refutou	 a	 teoria	 aristotélica	 de	 que	 corpos	
mais	 pesados	 		caem	mais	 rápido	 do	 que	 os	mais	 leves.	No	 lugar	 dessa	 teoria,	
Galileu	 fez	 a	 sugestão	 contraintuitiva	 de	 que	 todos	 os	 corpos	 em	 queda	 livre	
cairiam	em	direção	à	Terra	no	mesmo	tempo	de	queda,	com	aceleração	constante,	
independentemente	do	seu	peso.	Claro	que,	na	prática,	se	você	soltar	uma	pena	e	
uma	bala	de	canhão	da	mesma	altura,	a	bala	de	canhão	aterrissará	primeiro,	mas	
Galileu	argumentou	que	isso	se	deve,	simplesmente,	à	resistência	do	ar,	pois,	no	
vácuo,	aterrissariam	juntos.	
Além	 disso,	 ele	 argumentou	 que	 os	 corpos	 que	 caem	 livremente	
aceleram	uniformemente,	ou	seja,	ganham	incrementos	iguais	de	velocidade	
em	 tempos	 iguais;	 isso	 é	 conhecido	 como	 Lei	 da	 Queda	 dos	 Corpos	 de	
Galileu	(MARICONDA;	VASCONCELOS,	2006).	Galileu	forneceu	evidências	
persuasivas,	embora	não	totalmente	conclusivas	para	essa	lei,	que	formava	a	
peça	central	da	sua	teoria	da	mecânica.
FIGURA 2 – O EXPERIMENTO DE GALILEU NA TORRE INCLINADA DE PISA
 SOBRE A VELOCIDADE DE QUEDA DOS OBJETOS
FONTE: http://4.bp.blogspot.com/-MhuUlTqcSgU/UpziERepkLI/AAAAAAAAExE/s-KzZHEfaHk/
s400/galileo+falling+objects.gif . Acesso em: 27 jul. 2020.
TÓPICO 1 — CIÊNCIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E RACIOCÍNIO CIENTÍFICO
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Galileu	 é,	 geralmente,	 considerado	 o	 primeiro	 físico	 verdadeiramente	
moderno.	Ele	foi	o	primeiro	a	mostrar	que	a	linguagem	da	matemática	poderia	
ser	usada	para	descrever	o	comportamento	de	objetos	reais	no	mundo	material,	
como	corpos	em	queda,	projéteis	etc.	Para	nós,	isso	parece	óbvio,	pois	as	teorias	
científicas	atuais	são	rotineiramente	formuladas	em	linguagemmatemática,	não	
só	 na	 ciência	 física,	 mas	 também	 na	 biologia	 e	 na	 economia	 (MARICONDA;	
VASCONCELOS,	2006).	Todavia,	nos	 tempos	de	Galileu,	 isso	não	era	óbvio:	a	
matemática	 era	 amplamente	 considerada	para	 lidar	 com	entidades	puramente	
abstratas	 e,	 portanto,	 inaplicável	 à	 realidade	 física.	 Outro	 aspecto	 inovador	
do	 trabalho	 de	 Galileu	 foi	 sua	 ênfase	 na	 importância	 de	 testar	 hipóteses	
experimentalmente	(ROSA,	2012b).	
Para	 o	 cientista	moderno,	 isso	 pode	 parecer	 novamente	 óbvio,	mas,	
na	 época	 em	 que	 Galileu	 estava	 trabalhando,	 a	 experimentação	 não	 era,	
geralmente,	considerada	um	meio	confiável	de	obter	conhecimento.	A	ênfase	
de	Galileu	nos	testes	experimentais	marca	o	início	de	uma	abordagem	empírica	
para	o	estudo	da	natureza.
O	 período	 após	 a	 morte	 de	 Galileu	 viu	 a	 revolução	 científica	 ganhar	
rapidamente	impulso.	O	filósofo,	matemático	e	cientista	francês	René	Descartes	
(1596-1650)	 desenvolveu	 uma	 nova	 "filosofia	 mecânica"	 radical,	 segundo	 a	
qual	 o	 mundo	 físico	 consiste,	 simplesmente,	 de	 partículas	 inertes	 de	 matéria	
interagindo	e	colidindo	umas	com	as	outras.	As	leis	que	governam	o	movimento	
dessas	partículas	ou	"corpúsculos"	detinham	a	chave	para	entender	a	estrutura	do	
universo	copernicano,	acreditava	Descartes	(BROUGHTON;	CARRIERO,	2011).	
A	filosofia	mecânica	prometia	explicar	 todos	os	 fenômenos	observáveis			
em	termos	do	movimento	desses	corpúsculos	inertes	e	insensíveis	e,	rapidamente,	
tornou-se	a	visão	científica	dominante	da	segunda	metade	do	século	XVII;	até	
certo	ponto,	ainda	está	conosco	hoje.	Versões	da	filosofia	mecânica	foram	adotadas	
por	pessoas	como	Christiaan	Huygens,	Pierre	Gassendi,	Robert	Hooke,	Robert	
Boyle	e	outras	(ROSA,	2012a;	2012b).	Sua	ampla	aceitação	marcou	a	queda	final	
da	visão	de	mundo	aristotélica.
A	revolução	científica	culminou	no	trabalho	de	Isaac	Newton	(1643-1727),	
cujas	realizações	permanecem	sem	paralelo	na	história	da	ciência.	A	obra-prima	
de	 Newton	 foi	 seus	 Princípios Matemáticos da Filosofia Natural,	 publicada	 em	
1687.	Newton	 concordou	com	os	filósofos	mecânicos,	que	o	universo	 consiste,	
simplesmente,	de	partículas	em	movimento,	mas	procurou	melhorar	as	 leis	de	
movimento	de	Descartes	e	as	 regras	de	colisão	 (NEWTON,	2004).	O	resultado	
foi	uma	teoria	dinâmica	e	mecânica	de	grande	potência,	baseada	nas	três	leis	do	
movimento	de	Newton	e	seu	famoso	princípio	da	gravitação	universal.	De	acordo	
com	esse	princípio,	todo	corpo	no	universo	exerce	uma	atração	gravitacional	sobre	
todos	os	outros	corpos;	a	força	da	atração	entre	dois	corpos	depende	do	produto	
de	 suas	massas	 e	 da	distância	 entre	 eles	 ao	 quadrado.	As	 leis	 do	movimento,	
então,	especificam	como	essa	força	gravitacional	afeta	os	movimentos	dos	corpos.	
UNIDADE 1 — A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
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Newton	elaborou	sua	teoria	com	grande	precisão	matemática	e	rigor,	inventando	
a	 técnica	 matemática	 que	 hoje	 chamamos	 de	 "cálculo".	 Surpreendentemente,	
Newton	foi	capaz	de	mostrar	que	as	leis	do	movimento	planetário	de	Kepler	e	as	
leis	da	queda	dos	corpos	de	Galileu	(ambas	com	algumas	pequenas	modificações)	
eram	consequências	 lógicas	de	 suas	 leis	de	movimento	e	gravitação	 (GLEICK,	
2004).	Em	outras	palavras,	as	mesmas	leis	explicariam	os	movimentos	de	corpos	
nos	domínios	terrestre	e	celestial,	e	foram	formuladas	por	Newton	em	uma	forma	
quantitativa	precisa.
A	física	newtoniana	forneceu	a	estrutura	da	ciência	para	os	próximos	200	
anos,	substituindo,	rapidamente,	a	física	cartesiana.	A	confiança	científica	cresceu	
rapidamente	 nesse	 período,	 em	 grande	 parte,	 devido	 ao	 sucesso	 da	 teoria	 de	
Newton.	Acreditava-se,	amplamente,	ter	revelado	o	verdadeiro	funcionamento	da	
natureza	e	ser	capaz	de	explicar	tudo,	pelo	menos	em	princípio	(ROSA,	2012b;	2012c).	
Tentativas	detalhadas	foram	feitas,	para	estender	o	modo	de	explicação	newtoniano	
a	 mais	 e	 mais	 fenômenos.	 Nos	 séculos	 XVIII	 e	 XIX	 vieram	 avanços	 científicos	
notáveis,	particularmente,	no	estudo	da	química,	óptica,	energia,	termodinâmica	
e	 eletromagnetismo.	 Contudo,	 na	 maior	 parte,	 esses	 desenvolvimentos	 foram	
considerados	dentro	de	uma	concepção	amplamente	newtoniana	do	universo.	Os	
cientistas	aceitaram	a	concepção	de	Newton	como	essencialmente	correta;	tudo	o	
que	restava	para	ser	feito	era	preencher	os	detalhes.
A	 confiança	 no	 quadro	 newtoniano	 foi	 abalada	 nos	 primeiros	 anos	 do	
século	XX,	graças	a	dois	novos	e	revolucionários	desenvolvimentos	da	física:	a	
teoria	da	relatividade	e	a	mecânica	quântica.	A	teoria	da	relatividade,	descoberta	
por	Einstein,	mostrou	que	a	mecânica	newtoniana	não	dá	os	resultados	corretos,	
quando	aplicada	a	objetos	muito	massivos,	ou	objetos	que	se	movem	a	velocidades	
muito	altas.	A	mecânica	quântica,	inversamente,	mostra	que	a	teoria	newtoniana	
não	funciona	quando	aplicada	em	escala	muito	pequena,	a	partículas	subatômicas	
(ROSA,	2012d).	
Tanto	a	teoria	da	relatividade,	quanto	a	mecânica	quântica,	especialmente	
a	 última,	 são	 teorias	 muito	 estranhas	 e	 radicais,	 fazendo	 afirmações	 sobre	 a	
natureza	da	realidade	que	muitas	pessoas	acham	difícil	aceitar	ou,	até	mesmo,	
entender.	 Seu	 surgimento	 causou	 uma	 considerável	 reviravolta	 conceitual	 na	
física,	que	continua	até	hoje.
Até	agora,	nosso	breve	relato	da	história	da	ciência	enfocou,	principalmente,	
a	física.	Isso	não	é	um	acidente,	 já	que	a	física	é	historicamente	muito	importante	
e,	em	certo	sentido,	a	mais	fundamental	de	todas	as	disciplinas	científicas,	pois	os	
objetos	 que	 outras	 ciências	 estudam	 são,	 eles	 próprios,	 compostos	 de	 entidades	
físicas.	Considere	botânica,	por	exemplo.	Os	botânicos	estudam	as	plantas,	que	são	
compostas,	basicamente,	de	moléculas	e	átomos,	que	são	partículas	físicas.	Portanto,	
a	 botânica	 é,	 obviamente,	 menos	 fundamental	 do	 que	 a	 física,	 embora	 isso	 não	
signifique	que	seja	menos	importante.	Esse	é	um	ponto	ao	qual	retornaremos	mais	
adiante.	Contudo,	mesmo	uma	breve	descrição	das	origens	da	ciência	moderna	seria	
incompleta	se	omitisse	toda	menção	às	ciências	não	físicas.
TÓPICO 1 — CIÊNCIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E RACIOCÍNIO CIENTÍFICO
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Em	biologia,	o	evento	que	se	destaca	é	a	descoberta	da	teoria	da	evolução	
por	seleção	natural	de	Charles	Darwin	(2004),	publicada	na	obra	A Origem das 
Espécies, de	1859.	Até	então,	acreditava-se,	amplamente,	que	as	diferentes	espécies	
haviam	sido	 criadas	 separadamente	por	Deus,	 como	o	Livro de Gênesis	 ensina.	
Contudo,	 Darwin	 argumentou	 que	 as	 espécies	 contemporâneas	 realmente	
evoluíram	dos	ancestrais,	através	de	um	processo	conhecido	como	seleção	natural.	
A	seleção	natural	ocorre	quando	alguns	organismos	deixam	mais	descendentes	
do	que	outros,	dependendo	das	suas	características	físicas;	se	essas	características	
forem	herdadas	por	seus	descendentes,	ao	longo	do	tempo,	a	população	se	tornará	
cada	vez	mais	adaptada	ao	seu	meio	ambiente.	
Por	mais	 simples	 que	 seja	 esse	processo,	 ao	 longo	de	muitas	 gerações,	
pode	 fazer	 com	 que	 uma	 espécie	 evolua	 para	 uma	 espécie	 totalmente	 nova,	
argumentou	Darwin.	 Tão	 persuasiva	 foi	 a	 evidência	 que	Darwin	 alegou	 para	
sua	teoria	que,	no	início	do	século	XX,	ela	era	aceita	como	ortodoxia	científica,	
apesar	da	considerável	oposição	teológica.	O	trabalho	subsequente	forneceu	uma	
confirmação	impressionante	da	teoria	de	Darwin,	que	constitui	a	peça	central	da	
visão	biológica	moderna	do	mundo	(ROSA,	2012d).
O	 século	 XX	 testemunhou	 outra	 revolução	 na	 biologia,	 que	 ainda	 não	
está	 completa:	 o	 surgimento	 da	 biologia	 molecular,	 em	 particular,	 a	 genética	
molecular.	Em	1953,	Watson	e	Crick	descobriram	a	estrutura	do	DNA,	o	material	
hereditário	que	forma	os	genes	nas	células	das	criaturas	vivas	(FERREIRA,	2003).	
A	 descoberta	 de	Watson	 e	 Crick	 explicou	 como	 a	 informação	 genética	
pode	 ser	 copiada	 de	 uma	 célula	 para	 outra	 e,	 portanto,	 transmitida	 dos	 paispara	os	descendentes,	explicando,	assim,	por	que	os	descendentes	tendem	a	se	
assemelhar	aos	pais.	Sua	descoberta	abriu	uma	excitante	nova	área	de	pesquisa	
biológica.	Nos	50	anos	desde	o	trabalho	de	Watson	e	Crick,	a	biologia	molecular	
cresceu	rapidamente,	transformando	nossa	compreensão	da	herança	e	de	como	os	
genes	constroem	organismos.	A	recente	tentativa	de	fornecer	uma	descrição	em	
nível	molecular	do	conjunto	completo	de	genes	em	um	ser	humano,	conhecido	
como	Projeto	Genoma	Humano,	é	uma	indicação	de	até	onde	a	biologia	molecular	
chegou.	O	século	XXI	vai	ver	mais	desenvolvimentos	interessantes	nesse	campo.
UNIDADE 1 — A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
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FIGURA 3 – JAMES WATSON E FRANCIS CRICK COM A FAMOSA “DUPLA HÉLICE” - 
SEU MODELO MOLECULAR DA ESTRUTURA DO DNA, DESCOBERTO EM 1953
FONTE: https://f.i.uol.com.br/folha/ilustrissima/images/14024474.jpeg . Acesso em: 27 jul. 2020.
Mais	recursos	foram	dedicados	à	pesquisa	científica	nos	últimos	100	anos	
do	que	os	séculos	anteriores	somados	juntos.	Um	resultado	foi	uma	explosão	de	
novas	disciplinas	científicas,	como	ciência	da	computação,	inteligência	artificial,	
linguística	e	neurociência.	Possivelmente,	o	evento	mais	significativo	dos	últimos	
30	anos	é	o	surgimento	da	ciência	cognitiva,	que	estuda	vários	aspectos	da	cognição	
humana,	como	percepção,	memória,	aprendizagem	e	raciocínio,	e	transformou	a	
psicologia	tradicional.	Grande	parte	do	ímpeto	para	a	ciência	cognitiva	vem	da	
ideia	de	que	a	mente	humana	é,	em	alguns	aspectos,	semelhante	a	um	computador	
e,	 portanto,	 que	 os	 processos	 mentais	 humanos	 podem	 ser	 compreendidos,	
comparando-os	às	operações	que	os	computadores	realizam.	A	ciência	cognitiva	
ainda	está	em	sua	infância,	mas	promete	revelar	muito	sobre	o	funcionamento	
da	mente.	As	ciências	sociais,	especialmente,	a	economia	e	a	sociologia,	também	
floresceram	no	século	XX,	embora	muitas	pessoas	acreditem	que	ainda	estão	atrás	
das	 ciências	 naturais	 em	 termos	 de	 sofisticação	 e	 rigor	 (ECHEVERRÍA,	 2003).	
Essa	é	uma	questão	à	qual	retornaremos	mais	adiante	neste	livro.
3 O QUE É FILOSOFIA DA CIÊNCIA?
A	principal	tarefa	da	filosofia	da	ciência	é	analisar	os	métodos	de	pesquisa	
usados			em	várias	ciências.	Você	pode	se	perguntar:	por	que	essa	tarefa	deveria	
recair	sobre	os	filósofos,	e	não	para	os	próprios	cientistas?	Essa	é	uma	boa	pergunta.	
Parte	da	resposta	é	que	olhar	para	a	ciência	a	partir	de	uma	perspectiva	filosófica	
permite	 investigar,	mais	 profundamente,	 para	 descobrir	 suposições	 que	 estão	
implícitas	na	prática	científica,	mas	que	os	cientistas	não	discutem	explicitamente	
(FRENCH,	2009).	
TÓPICO 1 — CIÊNCIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E RACIOCÍNIO CIENTÍFICO
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Para	 ilustrar,	 considere	 a	 experimentação	 científica.	 Suponha	 que	 um	
cientista	 faça	uma	experiência	 e	obtenha	um	resultado	específico.	Ele	 repete	o	
experimento	 algumas	 vezes	 e	 continua	 recebendo	 o	mesmo	 resultado.	Depois	
disso,	 ele,	 provavelmente,	 parará,	 confiante	 de	 que,	 se	 continuar	 repetindo	 o	
experimento,	sob	as	mesmas	condições,	continuaria	obtendo	o	mesmo	resultado.	
Essa	suposição	pode	parecer	óbvia,	mas,	como	filósofos,	queremos	questioná-la.	
Por	que	 supor	que	as	 futuras	 repetições	do	experimento	produzirão	o	mesmo	
resultado?	Como	sabemos	que	isso	é	verdade?	É	improvável	que	o	cientista	passe	
muito	tempo	intrigado	com	essas	questões	um	tanto	curiosas:	ele,	provavelmente,	
tem	coisas	melhores	para	fazer.	São	questões	essencialmente	filosóficas,	às	quais	
retornamos	adiante.
Assim,	parte	do	trabalho	da	filosofia	da	ciência	é	questionar	suposições	que	
os	 cientistas	 tomam	 como	 certas.	 Contudo,	 seria	 errado	 sugerir	 que	 os	 cientistas	
nunca	discutem	questões	filosóficas.	De	fato,	historicamente,	muitos	cientistas	têm	
desempenhado	um	papel	 importante	 no	 desenvolvimento	 da	 filosofia	 da	 ciência	
(WEINERT,	2005).	Descartes,	Newton	e	Einstein	são	exemplos	proeminentes.	Cada	
um	deles	estava	profundamente	interessado	em	questões	filosóficas,	sobre	como	a	
ciência	deveria	proceder,	quais	os	métodos	de	investigação	deveriam	usar,	quanta	
confiança	deveríamos	depositar	nesses	métodos,	se	há	limites	para	o	conhecimento	
científico,	e	assim	por	diante.	Como	veremos,	essas	questões	ainda	estão	no	centro	da	
filosofia	da	ciência	contemporânea.	
Assim,	 as	 questões	 que	 interessam	 aos	 filósofos	 da	 ciência	 não	 são	
"meramente	filosóficas";	pelo	contrário,	atraíram	a	atenção	de	alguns	dos	maiores	
cientistas	 de	 todos.	Dito	 isso,	 deve-se	 admitir	 que	muitos	 cientistas,	 hoje,	 têm	
pouco	 interesse	em	filosofia	da	ciência	e	sabem	pouco	sobre	 isso.	Embora	 isso	
seja	 lamentável,	não	é	uma	 indicação	de	que	questões	filosóficas	não	são	mais	
relevantes.	 Pelo	 contrário,	 é	 uma	 consequência	 da	 natureza	 cada	 vez	 mais	
especializada	 da	 ciência	 e	 da	 polarização	 entre	 as	 ciências	 e	 as	 humanidades,	
caracterizando	o	sistema	educacional	moderno.
Você	ainda	pode	estar	se	perguntando,	exatamente,	o	que	é	filosofia	da	
ciência?	Dizer	que	"estuda	os	métodos	da	ciência",	como	fizemos,	não	é,	realmente,	
dizer	muito.	Em	vez	de	tentar	fornecer	uma	definição	mais	informativa,	é	preciso	
prosseguir	em	frente	para	considerar	um	problema	típico	da	filosofia	da	ciência.
Um excelente livro introdutório sobre a Filosofia da Ciência é Ciência: conceito-
chave em filosofia, de Steven French (2009). Essa obra faz parte da coleção conceitos-
chave em filosofia, uma série de introduções concisas, acessíveis e interessantes às ideias 
centrais e aos temas encontrados no estudo da filosofia.
DICAS
UNIDADE 1 — A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
12
3.1 CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCIA
Lembre-se	 da	 questão	 com	 a	 qual	 começamos:	 o	 que	 é	 ciência?	 Karl	
Popper	(1902-1994),	um	filósofo	da	ciência	influente	do	século	XX,	achava	que	a	
característica	fundamental	de	uma	teoria	científica	é	que	ela	deveria	ser	falsificável	
(POPPER,	2001).	
Chamar	 uma	 teoria	 de	 falsificável	 não	 quer	 dizer	 que	 seja	 falsa.	 Pelo	
contrário,	 isso	 significa	 que	 a	 teoria	 faz	 algumas	 previsões	 definidas	 que	 são	
capazes	de	serem	testadas	contra	a	experiência.	Se	essas	previsões	se	revelarem	
erradas,	então,	a	teoria	foi	falsificada	ou	refutada.	Assim,	uma	teoria	falsificável	
é	uma	que	podemos	descobrir	ser	falsa,	não	é	compatível	com	todos	os	possíveis	
cursos	de	experiência.	Popper	(2008)	achava	que	algumas	teorias	supostamente	
científicas	não	satisfaziam	essa	condição,	portanto,	não	mereciam	ser	chamadas	
de	ciência,	ao	contrário,	elas	eram,	meramente,	pseudociência.
A	 teoria	 psicanalítica	 de	 Freud	 foi	 um	 dos	 exemplos	 favoritos	 de	
pseudociência	 de	 Popper.	 De	 acordo	 com	 Popper	 (1987),	 a	 teoria	 de	 Freud	
poderia	 ser	 reconciliada	 com	 quaisquer	 descobertas	 empíricas.	 Qualquer	 que	
seja	o	comportamento	de	um	paciente,	os	 freudianos	poderiam	encontrar	uma	
explicação	em	termos	de	sua	teoria;	eles	nunca	admitiriam	que	sua	teoria	estava	
errada.	 Popper	 ilustrou	 seu	 argumento	 com	 o	 seguinte	 exemplo:	 imagine	 um	
homem	que	empurra	uma	criança	para	um	rio	com	a	intenção	de	assassiná-la,	e	
outro	homem	que	sacrifica	sua	vida	para	salvar	a	criança.	Os	freudianos	podem	
explicar	o	comportamento	de	ambos	os	homens	com	igual	facilidade:	o	primeiro	
foi	 reprimido	 e,	 o	 segundo,	 alcançou	 a	 sublimação.	 Popper	 argumentou	 que,	
através	do	uso	de	conceitos	como	repressão,	sublimação	e	desejos	inconscientes,	
a	teoria	de	Freud	poderia	ser	tornada	compatível	com	quaisquer	dados	clínicos;	
era,	portanto,	infalsificável.
O	mesmo	aconteceu	com	a	teoria	da	história	de	Marx,	sustentou	Popper	
(1974).	Marx	 afirmou	 que,	 nas	 sociedades	 industrializadas	 em	 todo	 o	mundo,	
o	capitalismo	daria	 lugar	ao	socialismo	e,	finalmente,	ao	comunismo.	Todavia,	
quando	isso	não	aconteceu,	em	vez	de	admitir	que	a	teoria	de	Marx	estava	errada,	
os	 marxistas	 inventariam	 uma	 explicação	 ad hoc,	 para	 explicar	 que	 o	 motivo	
sobre	o	que	aconteceu	era,	na	verdade,	perfeitamenteconsistente	com	sua	teoria.	
Por	 exemplo,	 eles	 podem	dizer	 que	 o	 inevitável	 progresso	 no	 comunismo	 foi	
temporariamente	 retardado	 pela	 ascensão	 do	 estado	 de	 bem-estar	 social,	 que	
"amoleceu"	o	proletariado	e	enfraqueceu	seu	zelo	revolucionário.	Nesse	tipo	de	
caminho,	a	teoria	de	Marx	poderia	ser	compatível	com	qualquer	curso	possível	
de	eventos,	assim	como	o	de	Freud.	Portanto,	nenhuma	dessas	teorias	se	qualifica	
como	genuinamente	científica,	segundo	o	critério	de	Popper.
Popper	contrastou	as	teorias	de	Freud	e	Marx	com	a	teoria	da	gravitação	
de	 Einstein,	 também	 conhecida	 como	 relatividade	 geral.	 Diferentemente	 das	
teorias	de	Freud	e	Marx,	a	teoria	de	Einstein	fez	uma	previsão	bem	definida:	que	
raios	de	luz	de	estrelas	distantes	seriam	desviados	pelo	campo	gravitacional	do	
TÓPICO 1 — CIÊNCIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E RACIOCÍNIO CIENTÍFICO
13
sol.	Normalmente,	esse	efeito	seria	 impossível	de	observar,	exceto	durante	um	
eclipse	solar.	Em	1919,	o	astrofísico	inglês	Sir	Arthur	Eddington	organizou	duas	
expedições	para	observar	o	eclipse	solar	daquele	ano,	uma	para	o	Brasil	e	outra	
para	a	ilha	do	Príncipe,	ao	largo	da	costa	atlântica	da	África,	com	o	objetivo	de	
testar	a	previsão	de	Einstein.	A	expedição	confirmou	que	aquela	luz	das	estrelas	
foi,	 de	 fato,	 defletida	 pelo	 sol,	 quase,	 exatamente,	 a	 quantidade	 que	 Einstein	
tinha	previsto.	Popper	ficou	muito	impressionado	com	isso	(OLIVEIRA,	2012).	A	
teoria	de	Einstein	fez	uma	previsão	precisa	e	definida,	que	foi	confirmada	pelas	
observações.	Se	aqueles	raios	de	luz	de	estrelas	não	tivessem	sido	desviados	pelo	
sol,	 isso	 teria	mostrado	que	Einstein	estava	errado.	Então,	a	 teoria	de	Einstein	
satisfaz	o	critério	da	falseabilidade.
A	 tentativa	 de	 Popper	 de	 demarcar	 a	 ciência	 da	 pseudociência	 é,	
intuitivamente,	 plausível.	Há,	 certamente,	 algo	 suspeito	 sobre	 uma	 teoria	 que	
pode	 ser	 feita	 para	 se	 ajustar	 a	 qualquer	 dado	 empírico,	mas	 alguns	 filósofos	
consideram	 o	 critério	 de	 Popper	 excessivamente	 simplista	 (BUNGE,	 2007;	
HAACK,	 2014).	 Popper	 criticou	 os	 freudianos	 e	 marxistas	 por	 esclarecerem	
quaisquer	 dados	 que	 parecessem	 entrar	 em	 conflito	 com	 suas	 teorias,	 em	vez	
de	 aceitar	 que	 as	 teorias	 haviam	 sido	 refutadas.	 Isso,	 certamente,	 parece	 um	
procedimento	suspeito.	No	entanto,	há	algumas	evidências	de	que	esse	mesmo	
procedimento	é	rotineiramente	usado	por	cientistas	"respeitáveis"	–	que	Popper	
não	gostaria	de	acusar	de	se	engajar	em	pseudociência	–	e	levou	a	importantes	
descobertas	científicas.
Outro	 exemplo	 astronômico	 pode	 ilustrar	 isso.	A	 teoria	 gravitacional	
de	Newton,	que	mencionamos	anteriormente,	fez	previsões	sobre	os	caminhos	
que	os	planetas	deveriam	seguir	enquanto	orbitam	o	sol.	Na	maior	parte,	essas	
previsões	foram	confirmadas	pela	observação.	No	entanto,	a	órbita	observada	
de	 Urano	 consistentemente	 diferiu	 do	 que	 a	 teoria	 de	 Newton	 previu.	 Esse	
enigma	 foi	 resolvido	 em	 1846,	 por	 dois	 cientistas,	 Adams,	 na	 Inglaterra,	 e	
Leverrier,	 na	 França,	 trabalhando	 de	 forma	 independente	 (FRIANÇA	 et al.,	
2008).	Eles	sugeriram	que	havia	outro	planeta,	ainda	não	descoberto,	exercendo	
uma	 força	 gravitacional	 adicional	 sobre	 Urano.	 Adams	 e	 Leverrier	 foram	
capazes	de	calcular	a	massa	e	posição	que	esse	planeta	teria	que	ter	se	a	atração	
gravitacional	 fosse,	 de	 fato,	 responsável	 pelo	 estranho	 comportamento	 de	
Urano.	Pouco	depois,	o	planeta	Netuno	foi	descoberto,	quase	exatamente	onde	
Adams	e	Leverrier	haviam	previsto.
Agora,	 claramente,	não	devemos	 criticar	o	 comportamento	de	Adams	
e	Leverrier	como	"não	científico",	afinal,	 isso	 levou	à	descoberta	de	um	novo	
planeta,	mas	eles	fizeram	exatamente	o	que	Popper	criticou	os	marxistas	por	
fazerem.	Eles	começaram	com	uma	teoria,	a	 teoria	da	gravitação	de	Newton,	
com	 uma	 previsão	 incorreta	 sobre	 a	 órbita	 de	 Urano.	 Em	 vez	 de	 concluir	
que	a	 teoria	de	Newton	deveria	 estar	 errada,	 insistiram	na	 teoria	 e	 tentaram	
explicar	as	observações	 conflitantes	postulando	um	novo	planeta.	Da	mesma	
forma,	quando	o	capitalismo	não	mostrou	sinais	de	dar	lugar	ao	comunismo,	
UNIDADE 1 — A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
14
os	marxistas	não	 concluíram	que	 a	 teoria	de	Marx	deveria	 estar	 errada,	mas	
se	ativeram	à	teoria	e	tentaram	explicar	as	observações	conflitantes	de	outras	
maneiras.	Então,	certamente,	seria	injusto	acusar	os	marxistas	de	se	engajarem	
em	pseudociência	se	permitir	que	a	ação	de	Adams	e	Leverrier	contasse	como	
ciência	boa	e	exemplar.
Isso	 sugere	 que	 a	 tentativa	 de	 Popper	 de	 demarcar	 a	 ciência	 da	
pseudociência	não	pode	estar	certa,	apesar	da	sua	plausibilidade	inicial,	pois	o	
exemplo	de	Adams	 e	Leverrier	 não	 é,	 de	 forma	 alguma,	 atípico.	 Em	geral,	 os	
cientistas,	 simplesmente,	 não	 abandonam	 suas	 teorias	 sempre	 que	 entram	 em	
conflito	com	os	dados	observacionais.	Geralmente,	 eles	procuram	maneiras	de	
eliminar	o	conflito	sem	ter	que	desistir	da	sua	teoria	(WEINERT,	2005).	
Esse	é	um	ponto	para	o	qual	 retornaremos	em	outro	 tópico,	mas	vale	
a	 pena	 lembrar	 que,	 praticamente,	 toda	 teoria	 da	 ciência	 entra	 em	 conflito	
com	algumas	observações:	encontrar	uma	teoria	que	se	encaixe	perfeitamente	
em	 todos	 os	 dados	 é	 extremamente	 difícil.	 Obviamente,	 se	 uma	 teoria	
persistentemente	conflitar	com	mais	e	mais	dados,	e	nenhuma	maneira	plausível	
de	 explicar	 o	 conflito	 for	 encontrada,	 eventualmente,	 terá	 que	 ser	 rejeitada,	
mas	pouco	progresso	seria	feito	se	os	cientistas	abandonassem	suas	teorias	ao	
primeiro	sinal	de	problema.
O	 fracasso	 do	 critério	 de	 demarcação	 de	 Popper	 levanta	 uma	 questão	
importante:	 É	 possível	 encontrar	 alguma	 característica	 comum	 compartilhada	
por	todas	as	coisas	que	chamamos	de	"ciência"	e	não	compartilhada	por	qualquer	
outra	coisa?	Popper	assumiu	que	a	resposta	a	essa	pergunta	era	sim.	Ele	achava	
que	 as	 teorias	 de	 Freud	 e	Marx	 eram,	 claramente,	 não	 científicas,	 então,	 deve	
haver	 alguma	 característica	 que	 falta	 e	 que	 as	 teorias	 científicas	 genuínas	
possuam.	Contudo,	se	aceitamos	ou	não	a	avaliação	negativa	de	Freud	e	Marx	
feita	por	Popper,	sua	suposição	de	que	a	ciência	 tem	uma	"natureza	essencial"	
é	questionável.	Afinal,	a	ciência	é	uma	atividade	heterogênea,	abrangendo	uma	
ampla	gama	de	diferentes	disciplinas	e	teorias.	Pode	ser	que	elas	compartilhem	
alguns	padrões	definidos	que	definem	o	que	é	uma	ciência,	mas	pode	ser	que	isso	
não	seja	o	caso.	
O	 filósofo	 Ludwig	Wittgenstein	 (1979)	 argumentou	 que	 não	 há	 um	
conjunto	fixo	de	 características	que	definam	o	que	 é	 ser	um	 "jogo".	Em	vez	
disso,	 há	 um	 conjunto	 de	 recursos	 que	 a	 maioria	 é	 possuído	 pelos	 jogos.	
Contudo,	 qualquer	 jogo,	 em	particular,	 pode	 não	 ter	 nenhum	dos	 recursos	
do	aglomerado	e,	ainda,	ser	um	 jogo.	Ele	pode	ser	uma	verdade	da	ciência.	
Se	assim	for,	um	critério	simples	para	demarcar	a	ciência	da	pseudociência	é	
improvável	de	ser	encontrado.
TÓPICO 1 — CIÊNCIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E RACIOCÍNIO CIENTÍFICO
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4 RACIOCÍNIO CIENTÍFICO
Os	cientistas,	frequentemente,	dizem	coisas	sobre	o	mundo	que,	de	outra	
forma,	 não	 teríamos	 acreditado.	 Por	 exemplo,	 os	 biólogos	 dizem	 que	 somos	
parentes	próximos	dos	chimpanzés,	os	geólogos	dizem	que	a	África	e	a	América	
do	Sul	eram	um	único	continente,	e	os	cosmólogos	dizem	que	o	universo	está	se	
expandindo,	mas,	como	os	cientistas	chegaram	a	essas	conclusões	improváveis?	
Afinal,	ninguém	nunca	viu	uma	espécie	evoluir	de	outra,	ou	um	único	continente	
dividido	 em	 dois,	 ou	 o	 universo	 ficando	maior.	A	 resposta,	 é	 claro,	 é	 que	 os	
cientistas	chegaram	a	essas	crenças	por	um	processo	de	raciocínio	ou	inferência	
(HACKING,	2009).	
Seria	bom	saber	mais	sobre	esse	processo.	Qual	é,	exatamente,	a	natureza	
do	raciocínio	científico?	Quanta	confiança	devemos	colocar	nas	inferências	que	os	
cientistas	fazem?	Esses	são	ostemas	para	este	tópico.
4.1 DEDUÇÃO E INDUÇÃO
Os	lógicos	fazem	uma	importante	distinção	entre	os	padrões	de	raciocínio	
dedutivo	e	indutivo	(MURCHO,	2003).	Um	exemplo	de	um	raciocínio	dedutivo,	
ou	inferência	dedutiva,	é	o	seguinte:
“todos	os	franceses	gostam	de	vinho	tinto”;
Pierre	é	um	francês;
→ Portanto, Pierre gosta de vinho tinto.
As	duas	primeiras	afirmações	são	chamadas	de	premissas	da	inferência,	
enquanto	 a	 terceira	 é	 chamada	 de	 conclusão.	 Ela	 é	 uma	 inferência	 dedutiva,	
porque	 tem	a	 seguinte	propriedade:	 se	 as	 premissas	 são	 verdadeiras,	 então,	 a	
conclusão	 também	deve	 ser	verdadeira.	Em	outras	palavras,	 se	 é	verdade	que	
todo	francês	gosta	de	vinho	tinto,	e	se	é	verdade	que	Pierre	é	francês,	conclui-se	
que	Pierre,	realmente,	gosta	de	vinho	tinto.	
Isso,	às	vezes,	é	expresso	dizendo	que	as	premissas	da	inferência	implicam	
a	 conclusão.	 É	 claro	 que	 as	 premissas	dessa	 inferência	 quase,	 certamente,	 não	
são	verdadeiras,	pois	é	provável	que	existam	franceses	que	não	gostem	de	vinho	
tinto,	mas	essa	não	é	a	questão.	O	que	torna	a	inferência	dedutiva	é	a	existência	
de	uma	relação	apropriada	entre	premissas	e	conclusão,	ou	seja,	se	as	premissas	
são	verdadeiras,	a	conclusão	também	deve	ser	verdadeira.	Se	as	premissas	são,	
realmente,	 verdadeiras,	 é	 um	 assunto	 diferente,	 o	 que	 não	 afeta	 o	 status	 da	
inferência	como	dedutiva.
Nem	todas	as	inferências	são	dedutivas.	Considere	o	exemplo	a	seguir:
os	primeiros	cinco	ovos	na	caixa	estavam	podres;
todos	os	ovos	têm	a	mesma	data	de	validade	estampada;
→ Portanto, o sexto ovo também estará podre.
UNIDADE 1 — A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
16
Isso	 parece	 um	 raciocínio	 perfeitamente	 sensato,	 no	 entanto,	 não	
é	 dedutivo,	 pois	 as	 premissas	 não	 implicam	 a	 conclusão.	 Mesmo	 que	 os	
primeiros	 cinco	 ovos	 estivessem	 estragados,	 e	 mesmo	 se	 todos	 os	 ovos	
tivessem	a	mesma	data	de	validade	estampada,	isso	não	garante	que	o	sexto	
ovo	também	esteja	podre.	
É	perfeitamente	concebível	que	o	sexto	ovo	esteja	perfeitamente	bom.	Em	
outras	palavras,	é	logicamente	possível	que	as	premissas	dessa	inferência	sejam	
verdadeiras	e,	ainda	assim,	a	conclusão	é	falsa,	de	modo	que	a	inferência	não	é	
dedutiva.	Em	vez	disso,	há	uma	inferência	indutiva.	Na	inferência	indutiva,	ou	no	
raciocínio	indutivo,	passamos	de	premissas	sobre	objetos	que	examinamos	para	
conclusões	sobre	objetos	que	não	examinamos,	no	exemplo,	os	ovos.
O	 raciocínio	 dedutivo	 é	 uma	 atividade	 muito	 mais	 segura	 do	 que	 o	
raciocínio	 indutivo	 (MURCHO,	 2003).	 Quando	 raciocinamos	 dedutivamente,	
podemos	 ter	 a	 certeza	 de	 que,	 se	 começarmos	 com	 premissas	 verdadeiras,	
acabaremos	com	uma	conclusão	verdadeira,	mas	isso	não	vale	para	o	raciocínio	
indutivo.	Pelo	contrário,	o	raciocínio	indutivo	é	capaz	de	nos	levar	das	premissas	
verdadeiras	a	uma	conclusão	falsa.	Apesar	desse	defeito,	parecemos	confiar	no	
raciocínio	indutivo	ao	longo	das	nossas	vidas,	muitas	vezes,	sem,	sequer,	pensar	
nisso.	 Por	 exemplo,	 quando	 você	 liga	 o	 computador	 pela	manhã,	 tem	 certeza	
de	que	ele	não	vai	explodir	na	sua	cara.	Sabe	o	porquê?	Porque	você	liga	o	seu	
computador	todas	as	manhãs	e	ele	nunca	explodiu	na	sua	cara	até	o	momento.	
Contudo,	a	inferência	de	“até	o	momento,	meu	computador	não	explodiu	quando	
eu	 liguei”	 para	 “meu	 computador	 não	 vai	 explodir	 quando	 eu	 o	 ligar	 nesse	
momento”	é	indutiva,	não	dedutiva.	A	premissa	dessa	inferência	não	implica	tal	
conclusão.	É	 logicamente	possível	que	o	 seu	 computador	explodirá	dessa	vez,	
mesmo	que	nunca	tenha	feito	isso	anteriormente.
Outros	 exemplos	 de	 raciocínio	 indutivo	 na	 vida	 cotidiana	 podem	 ser	
facilmente	encontrados.	Quando	você	gira	o	volante	do	seu	carro	no	sentido	anti-
horário,	você	assume	que	o	carro	vai	para	a	esquerda,	e	não	para	a	direita.	Sempre	
que	você	dirige	no	trânsito,	você,	efetivamente,	aposta	sua	vida	nessa	suposição,	
mas	o	que	te	faz	tão	certo	de	que	é	verdade?	Se	alguém	lhe	pedisse	para	justificar	
o	seu	juízo,	o	que	você	diria?	A	menos	que	você	seja	mecânico,	provavelmente,	
responderia:	“toda	vez	que	virei	o	volante	no	sentido	anti-horário	no	passado,	o	
carro	foi	para	a	esquerda.	Portanto,	o	mesmo	acontecerá	quando	eu	girar	o	volante	
no	sentido	anti-horário	dessa	vez”.	Novamente,	essa	é	uma	inferência	indutiva,	
não	dedutiva.	Raciocinar	indutivamente	parece	ser	uma	parte	indispensável	da	
vida	cotidiana.
Os	 cientistas	 também	 usam	 o	 raciocínio	 indutivo?	A	 resposta	 parece	
ser	 “sim”.	Considere	 a	 doença	 genética	 conhecida	 como	 Síndrome	de	Down	
(SD).	 Os	 geneticistas	 dizem	 que	 as	 pessoas	 com	 SD	 têm	 um	 cromossomo	
adicional	–	eles	têm	47	em	vez	dos	46	normais	(PASTERNAK,	2002).	Como	eles	
sabem	disso?	A	resposta,	claro,	é	que	eles	examinaram	um	número	elevado	de	
pacientes	com	SD	e	descobriram	que	cada	um	tinha	um	cromossomo	adicional.	
TÓPICO 1 — CIÊNCIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E RACIOCÍNIO CIENTÍFICO
17
Eles,	 então,	 raciocinaram	 indutivamente	 para	 a	 conclusão	 de	 que	 todos	 os	
portadores	de	SD,	 incluindo	aqueles	que	não	haviam	examinado,	 tinham	um	
cromossomo	adicional.	É	fácil	observar	que	essa	inferência	é	indutiva.	O	fato	de	
que	as	pessoas	com	SD	na	amostra	estudada	tinham	47	cromossomos	não	prova	
que	todas	as	pessoas	com	SD	o	tenham.	É	possível,	embora	improvável,	que	a	
amostra	não	seja	representativa.
Esse	exemplo	não	é,	de	forma	alguma,	isolado.	Com	efeito,	os	cientistas	
usam	o	raciocínio	indutivo	sempre	que	passam	de	dados	limitados	para	conclusão	
mais	geral,	o	que	eles	fazem	o	tempo	todo.	
Considere,	por	exemplo,	o	princípio	da	gravitação	universal	de	Newton	
(ROSA,	2012d),	relatado	anteriormente,	que	diz	que	cada	corpo	no	universo	exerce	
uma	 atração	 gravitacional	 sobre	 todos	 os	 outros	 corpos.	 Agora,	 obviamente,	
Newton	não	chegou	a	esse	princípio	examinando	cada	corpo	em	todo	o	universo,	
não	poderia	ter	feito	isso.	Em	vez	disso,	ele	viu	que	o	princípio	era	verdadeiro	
para	 os	 planetas	 e	 o	 sol,	 e	 para	 objetos	 de	 vários	 tipos	 se	movendo	 perto	 da	
superfície	da	Terra.	A	partir	desses	dados,	ele	inferiu	que	o	princípio	se	aplica	a	
todos	os	corpos.	Novamente,	essa	inferência	era,	obviamente,	indutiva:	o	fato	de	
que	o	princípio	de	Newton	vale	para	alguns	corpos	não	garante	seu	valor	para	
todos	os	corpos.
O	 papel	 central	 da	 indução	 na	 ciência,	 às	 vezes,	 é	 obscurecido	 pela	
maneira	como	falamos.	Por	exemplo,	você	pode	 ler	uma	reportagem	de	 jornal	
que	 diz	 que	 os	 cientistas	 encontraram	 provas	 experimentais	 de	 que	 o	 milho	
geneticamente	modificado	é	seguro	para	os	seres	humanos.	O	que	isso	significa?	
É	que	os	cientistas	testaram	o	milho	em	um	número	elevado	de	seres	humanos,	e,	
nenhum	deles,	sofreu	qualquer	dano.	
Estritamente	falando,	isso	não	prova	que	o	milho	é	seguro.	A	reportagem	
do	 jornal	deveria,	 realmente,	 ter	dito	que	os	cientistas	encontraram	evidências	
extremamente	boas	de	que	o	milho	é	seguro	para	os	seres	humanos.	A	palavra	
"prova"	 deve	 ser	 usada	 apenas	 quando	 estamos	 lidando	 com	 inferências	
dedutivas.	Nesse	sentido	estrito	da	palavra,	hipóteses	científicas	raramente,	ou	
nunca,	podem	ser	comprovadas	pelos	dados	(MURCHO,	2003).
A	maioria	dos	filósofos	considera	“óbvio”	que	a	ciência	depende	muito	do	
raciocínio	indutivo,	de	fato	tão	óbvio	que,	dificilmente,	precisa	ser	argumentado.	
Contudo,	notavelmente,	isso	foi	negado	pelo	filósofo	Karl	Popper.	Popper	(2001)	
afirmou	que	os	cientistas	só	precisam	usar	inferências	dedutivas.	Isso	seria	bom	
se	 fosse	verdade,	pois	 inferências	dedutivas	são	muito	mais	seguras	do	que	as	
indutivas,	como	vimos.
O	argumento	básico	de	Popper	(2001)	foi	esse.	Embora	não	seja	possível	
provar	que	uma	teoria	científica	é	verdadeira	a	partir	de	uma	amostra	de	dados	
limitada,	é	possível	provar	que	uma	teoria	é	falsa.	
UNIDADE 1 — A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
18
Suponha	que	uma	cientista	esteja	considerando	a	teoria	de	que	todos	os	
pedaços	de	metal	 conduzem	eletricidade.Mesmo	que	cada	peça	de	metal	que	
examina	conduza	eletricidade,	isso	não	prova	que	a	teoria	será	verdadeira,	por	
razões	que	já	vimos.	Contudo,	se	ela	encontrar,	até	mesmo,	um	pedaço	de	metal	
que	não	conduz	eletricidade,	isso	prova	que	a	teoria	é	falsa.	A	inferência	de	"esse	
pedaço	de	metal	não	conduz	eletricidade"	à	conclusão	de	que	"é	falso	que	todos	
os	pedaços	de	metal	conduzem	eletricidade"	é	dedutiva	–	a	premissa	implica	a	
conclusão.	Então,	se	uma	cientista	está	 interessada	apenas	em	demonstrar	que	
uma	dada	teoria	é	falsa,	ela	pode	ser	capaz	de	realizar	seu	objetivo	sem	o	uso	de	
inferências	indutivas.
A	 fraqueza	 do	 argumento	 de	 Popper	 é	 óbvia,	 pois	 os	 cientistas	 não	
estão	apenas	interessados			em	mostrar	que	certas	teorias	são	falsas.	Quando	um	
cientista	 coleta	 dados	 experimentais,	 seu	 objetivo	 pode	 ser	 mostrar	 que	 uma	
teoria	em	particular	–	talvez	a	teoria	do	seu	arquirrival	–	é	falsa.	Contudo,	muito	
mais	provável,	ele	ou	ela	está	tentando	convencer	as	pessoas	de	que	sua	teoria	
é	verdadeira.	Para	fazer	isso,	terá	que	recorrer	ao	raciocínio	indutivo	de	algum	
tipo.	Portanto,	a	tentativa	de	Popper	de	mostrar	que	a	ciência	pode	passar	sem	
indução	não	é	bem-sucedida.
4.2 O PROBLEMA DE HUME
Embora	o	 raciocínio	 indutivo	não	 seja	 logicamente	 impermeável,	 parece	
ser	uma	maneira	perfeitamente	sensata	de	formar	crenças	sobre	o	mundo.	O	fato	
de	que	o	sol	tenha	surgido	todos	os	dias	até	agora	pode	não	provar	que	isso	vai	
ocorrer	amanhã,	mas,	certamente,	nos	dá	uma	razão	muito	boa	para	pensar	que	isso	
acontecerá.	Se	você	se	deparar	com	alguém	que	professa	ser	totalmente	agnóstico	
sobre	se	o	sol	nascerá	ou	não,	você	o	consideraria	muito	estranho,	irracional.
Contudo,	 o	 que	 justifica	 essa	 fé	 que	 colocamos	 na	 indução?	 Como	
deveríamos	persuadir	alguém	que	se	recusa	a	raciocinar	indutivamente	que	está	
errado?	O	filósofo	escocês	do	século	XVIII,	David	Hume	(1711-1776),	deu	uma	
resposta	 simples,	mas	 radical,	 a	 essa	 questão	 (HUME,	 1984).	 Ele	 argumentou	
que	o	uso	da	indução	não	pode	ser	racionalmente	justificado.	Hume	admitiu	que	
usamos	 indução	o	 tempo	todo,	na	vida	cotidiana	e	na	ciência,	mas	ele	 insistiu	
que	isso	era	apenas	uma	questão	de	hábito	animal	bruto.	Se	formos	desafiados	a	
fornecer	uma	boa	razão	para	usar	a	indução,	ele	pensou,	não	podemos	dar	uma	
resposta	satisfatória.
Como	Hume	chegou	a	essa	conclusão	surpreendente?	Começou	observando	
que	sempre	que	fazemos	inferências	indutivas,	parece	que	pressupomos	o	que	ele	
chamou	de	"Uniformidade	da	Natureza"	(UN)	(HUME,	1984).	Para	ver	o	que	Hume	
quer	 dizer	 com	 isso,	 lembre-se	 de	 algumas	 das	 inferências	 indutivas	 da	 última	
seção.	Tivemos	a	 inferência	de	"meu	computador	não	explodiu	até	agora"	e	"meu	
computador	não	explodirá	hoje";	de	"todas	as	pessoas	com	SD	examinadas	têm	um	
TÓPICO 1 — CIÊNCIA, FILOSOFIA DA CIÊNCIA E RACIOCÍNIO CIENTÍFICO
19
cromossomo	extra"	para	"todas	as	pessoas	com	SD	têm	um	cromossomo	extra";	de	
"todos	os	 corpos	observados	até	agora	obedecem	à	 lei	da	gravitação	de	Newton"	
a	"todos	os	corpos	obedecem	à	 lei	da	gravitação	de	Newton";	e	assim	por	diante.	
Em	cada	um	desses	casos,	nosso	raciocínio	parece	depender	da	suposição	de	que	os	
objetos	que	não	examinamos	serão	semelhantes,	nos	aspectos	relevantes,	a	objetos	
do	mesmo	tipo	que	examinamos.	Essa	suposição	é	o	que	Hume	quer	dizer	com	a	
uniformidade	da	natureza	(UN).
Todavia,	 Hume	 perguntou:	 como	 sabemos	 que	 a	 suposição	 da	 UN	 é,	
realmente,	verdadeira?	Podemos,	talvez,	provar	a	sua	verdade	de	alguma	forma	
(no	sentido	estrito	de	prova)?	Não,	diz	Hume,	não	podemos,	pois	é	fácil	imaginar	
um	universo	onde	a	natureza	não	é	uniforme,	mas	muda	seu	curso	aleatoriamente	
de	dia	para	dia.	 Em	 tal	 universo,	 os	 computadores,	 às	 vezes,	 podem	explodir	
sem	nenhum	motivo;	a	água,	às	vezes,	pode	nos	intoxicar	sem	aviso	prévio;	as	
bolas	de	bilhar,	às	vezes,	podem	parar	de	colidir;	e	assim	por	diante.	Uma	vez	
que	tal	universo	"não	uniforme"	é	concebível,	segue-se	que	não	podemos	provar,	
estritamente,	a	verdade	da	UN.	Se	pudéssemos	provar	que	a	UN	é	verdadeira,	
então,	o	universo	não	uniforme	seria	uma	impossibilidade	lógica	(HUME,	1984).
Dado	 que	 não	 podemos	 provar	 a	 UN,	 podemos,	 no	 entanto,	 esperar	
encontrar	 boas	 evidências	 empíricas	 para	 a	 sua	 verdade.	Afinal,	 desde	 que	 a	
UN	sempre	se	manteve	fiel	até	o	momento,	certamente,	isso	dá	boas	razões	para	
pensar	 que	 é	 verdade.	 Todavia,	 esse	 argumento	 é	 circular,	 diz	 Hume	 (1984),	
pois	 é,	 em	 si,	 um	 argumento	 indutivo,	 e,	 assim,	 depende	 das	 suposições	 da	
UN.	Um	argumento	que	pressupõe	a	UN	desde	o	início,	claramente,	não	pode	
ser	usado	para	mostrar	que	a	UN	é	verdadeira.	Para	colocar	o	ponto	de	outra	
maneira,	 é,	 certamente,	um	fato	estabelecido,	que	a	natureza	se	comportou	de	
maneira	uniforme	até	agora.	Contudo,	não	podemos	apelar	para	esse	fato	para	
argumentar	que	a	natureza	continuará	sendo	uniforme,	porque	isso	pressupõe	o	
que	aconteceu	no	passado,	é	um	guia	confiável	para	o	que	acontecerá	no	futuro,	
a	pressuposição	da	uniformidade	da	natureza.	Se	tentarmos	argumentar	pela	UN	
com	bases	empíricas,	acabamos	raciocinando	em	círculo.
A	força	do	argumento	de	Hume	(1984)	pode	ser	apreciada,	imaginando	
como	 você	 poderia	 convencer	 alguém	 que	 não	 confia	 no	 raciocínio	 indutivo.	
Você,	provavelmente,	diria:	“olhe,	o	raciocínio	indutivo	funcionou	muito	bem	até	
agora”.	Usando	a	indução,	cientistas	dividiram	o	átomo,	colocaram	homens	na	
Lua,	inventaram	computadores,	e	assim	por	diante.
 
Considere,	 também,	que	as	pessoas	que	não	usaram	 indução	 tenderam	
a	 ter	 mortes	 desagradáveis.	 Elas	 comeram	 arsênico	 acreditando	 que	 isso	 as	
alimentaria,	 saltaram	 de	 prédios	 altos,	 acreditando	 que	 voariam,	 e	 assim	 por	
diante.	 Portanto,	 é	 claro	 que	 você	 vai	 ganhar	 por	 raciocinar	 “indutivamente”,	
mas	é	claro	que	isso	não	convenceria	o	duvidoso,	pois	argumentar	que	a	indução	
é	confiável	porque	funcionou	bem	até	agora	é	raciocinar	de	forma	indutiva.	Tal	
argumento	não	teria	peso	qualquer	com	alguém	que	ainda	não	confia	na	indução.	
Esse	é	o	ponto	fundamental	de	Hume.
UNIDADE 1 — A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
20
Então,	a	posição	é	essa.	Hume	ressalta	que	nossas	 inferências	 indutivas	
repousam	sobre	a	suposição	da	UN.	Contudo,	não	podemos	provar	que	a	UN	é	
verdadeira,	e	não	podemos	produzir	evidência	empírica	para	a	sua	verdade	sem	
argumentos	circulares.	Portanto,	nossas	inferências	indutivas	se	baseiam	em	uma	
suposição	sobre	o	mundo,	para	a	qual	não	temos	bons	fundamentos.	Hume	(1984)	
conclui	que	nossa	confiança	na	indução	é	apenas	fé	cega,	não	admite	qualquer	
justificativa	racional.
Esse	 intrigante	argumento	exerceu	poderosa	 influência	sobre	a	filosofia	
da	ciência	e	continua	a	fazê-lo	hoje.	A	tentativa	fracassada	de	Popper	(2001),	de	
mostrar	que	os	 cientistas	 só	precisam	usar	 inferências	dedutivas,	 foi	motivada	
por	sua	crença	de	que	Hume	havia	mostrado	a	irracionalidade	total	do	raciocínio	
indutivo.	A	 influência	do	argumento	de	Hume	não	é	difícil	de	entender,	pois,	
normalmente,	pensamos	em	ciência	como	o	próprio	paradigma	da	investigação	
racional.	Colocamos	grande	 fé	no	que	os	cientistas	nos	dizem	sobre	o	mundo.	
Toda	vez	que	viajamos	de	avião,	colocamos	nossas	vidas	nas	mãos	dos	cientistas	
que	projetaram	o	avião,	mas	a	ciência	depende	da	 indução,	e	o	argumento	de	
Hume	parece	mostrar	que	a	indução	não	pode	ser	racionalmente	justificada.	Se	
Hume	estiver	certo,	as	bases	sobre	as	quais	a	ciência	é	construída	não	parecem	tão	
sólidas	quanto	esperávamos.	Esse	estado	de	coisas	intrigante	é	conhecido	como	o 
problema da indução de	Hume.
Os	filósofos	responderam	ao	problema	de	Hume,	literalmente,	utilizando	
dezenas	de	maneiras	diferentes.	Ainda,	é	uma	área	ativa	de	pesquisa	(COSTA,	
2013).	Algumas	pessoas	acreditam	que	a	chave	está	no	conceito	de	probabilidade,	
como	 podemos	 ver	 no	 trabalho	 de	Howson	 (2000).	 Essa	 sugestão	 é	 plausível,

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