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Construção de esferas públicas e movimentos sociais

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ENSAIO SOBRE CONSTRUÇÃO DE ESFERAS PÚBLICAS E MOVIMENTOS 
SOCIAIS 
 
Andressa Vieira Silva 
 
INTRODUÇÃO 
Este ensaio se baseia nos artigos “Movimentos sociais, democratização e a 
construção de esferas públicas locais”, de Sérgio Costa, “Movimentos sociais na 
contemporaneidade” e “Sociedade Civil no Brasil: movimentos sociais e ONGs”, ambos 
de Maria da Glória Gohn, para demonstrar o conceito de movimento social, mostrar sua 
importância e como eles são fundamentais para a democracia e no Brasil. Além disso, é 
analisada a construção das esferas públicas locais mediante o estudo de Sérgio Costa. 
 
CONSTRUÇÃO DE ESFERAS PÚBLICAS LOCAIS 
As teorias da transição democrática constituem uma das partes mais importantes 
da teoria social das últimas décadas, entretanto, para Costa (1997), elas não analisam os 
processos de democratização em todos os seus níveis sociais, centrando-se apenas nas 
instituições democráticas e desprezando os movimentos históricos como importantes 
atores nas transformações observadas nesses processos. Para esclarecer os processos 
sociais que ocorrem nos movimentos de democratização, conforme Costa (1997), os 
estudos devem considerar o relacionamento entre o Estado e a sociedade civil, os 
movimentos sociais, as Organizações Não-Governamentais (ONGs) e as relações 
sociais e da cultura política. Para o autor (1997), os movimentos sociais, no nível das 
esferas sociais, aliados às instituições são os maiores estímulos para a democracia. 
Nesse sentido, o autor realiza um estudo sobre as esferas públicas locais e, para 
isso, analisa os municípios de Uberlândia, Juiz de Fora e Governador Valadares, que 
nos anos 80 passaram por uma experiência de administração participativa. Nessas 
experiências foi usada, como instrumento, a melhora na relação entre as prefeituras e as 
Associações de Moradores (AMs), as quais levavam ao governo municipal as 
reinvindicações do bairro o qual representavam. No entanto, essa relação também foi 
prejudicada, pois os prefeitos passaram a priorizar as AMs que os apoiavam 
efetivamente. 
Ainda conforme Costa (1997), em 1989 foram eleitos nesses municípios 
estudados novos prefeitos que acabaram com a tentativa de administração participativa, 
sendo assim, os vereadores voltaram a ser os mediadores da relação governo local e 
cidadãos e, dessa forma, a maioria das AMs se desfizeram, sobreviveram, apenas, os 
movimentos sociais que não dependiam do governo como os movimentos das mulheres, 
dos “sem casa”, dos ambientalistas e dos negros. 
Ao longo da democratização, Costa observou transformações político-
institucionais e nos perfis associativos das cidades estudadas o que ocasionou 
mudanças, também, nas esferas públicas locais desses municípios. Por isso, o autor 
(1997, p. 4) fez uma análise de quatro campos constitutivos da esfera pública local: 
“espaço vinculado à mídia, a esfera pública parlamentar e estatal, a esfera pública 
associada aos grupos organizados e os espaços públicos primários”. 
De acordo com Costa (1997), a estrutura dos meios de comunicação locais é 
composta por rádio, TV e jornais e essas mídias são propriedade de elites políticas que 
as utilizam para promover seus interesses políticos. Apesar disso, esses veículos de 
comunicação acompanharam a reestruturação da mídia local e criaram espaços para 
divulgação e comunicação de atores coletivos buscando a legitimação perante “novos 
atores políticos” - através da demonstração de princípios democráticos como a 
imparcialidade e a pluralidade. 
No espaço público parlamentar, Costa (1997) analisa que o legislativo tornou-se 
um espaço de luta política dos movimentos sociais e a câmara legislativa território 
constitutivo das esferas públicas locais. 
Por outro lado, a esfera pública ligada aos grupos organizados foi a que sofreu 
mais modificações. Essa esfera se apresenta por ações de relações públicas desses 
grupos, pela promoção de eventos e pelo uso de outros instrumentos de divulgação. 
Através de seu estudo, Costa (1997, p. 11) evidencia o aumento da participação desses 
atores no núcleo visível da esfera pública mediante aparições mais frequentes nas 
mídias e “nas arenas políticas institucionalizadas”. 
Diante disso, o autor expõe suas observações com relação à administração 
participativa experimentada pelos municípios mineiros estudados. Para Costa (1997), 
mesmo as AMs representando a sociedade civil na arena institucional de discussão das 
políticas públicas, elas se mostravam desvinculadas dos interesses manifestados na 
periferia desses núcleos e vulneráveis a mecanismos de cooptação e a 
institucionalização paralisadora. Essas associações eram vistas pelos cidadãos como 
uma continuação do governo local que não se comunicava com o povo para dar voz à 
sua vontade e às suas opiniões. Isso ocorreu porque essas instituições não tinham a 
legitimidade da sociedade civil, já que a sua participação na esfera pública foi induzida 
pelo governo local. Conforme Costa (1997, p. 12), as formas de convivência 
democrática devem “ser gestadas no âmbito dos processos comunicativos presentes nos 
diferentes níveis da vida social”, o poder administrativo não se presta a isso como foi 
comprovado pelo autor em seu estudo. 
 
MOVIMENTOS SOCIAIS E ONGs 
Na concepção de Gohn (2011 apud Gohn, 2008), movimentos sociais são “ações 
sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas de a 
população se organizar e expressar suas demandas”. Tais grupos são importantes, pois, 
de acordo com Gohn (2013), viabilizam maneiras de manifestação da sociedade sobre 
questões subjetivas de cada um que outras entidades ou instituições não abordam, uma 
vez que, geralmente, os movimentos sociais possuem alto grau de tolerância. 
Na atualidade, esses movimentos adotam estratégias que podem se apresentar 
como passeatas, mobilizações, negociações, e até mesmo através de redes sociais. 
Conforme Gohn (2011), esses grupos exercitam o agir comunicativo de Habermas para 
tornarem públicas suas questões e reinvindicações. Para a autora (2011), os movimentos 
sociais fazem ressurgir os ideais clássicos de liberdade, igualdade e fraternidade. Além 
disso, Gohn (2011, p. 337) ressalta a importância desses grupos, tendo em vista que 
“tematizam e redefinem a esfera pública, realizam parcerias com outras entidades da 
sociedade civil e política, têm grande poder de controle social e constroem modelos de 
inovações sociais”. 
Outro tipo de organização tão importante quanto os movimentos sociais são as 
Organizações Não-Governamentais (ONGs) que, de acordo com Gohn (2011), 
tornaram-se mais importantes do que esses movimentos nos anos 1990 quando 
passaram a fazer parte do terceiro setor e, através de parcerias entre o poder público e a 
sociedade, começaram a executar políticas em áreas onde a prestação do serviço público 
era precária ou inexistente, principalmente nas áreas sociais como a educação e a saúde. 
Em uma análise sobre a relação entre educação e os movimentos sociais, Gohn 
(2011, p. 333) expõe que a participação nesses movimentos e em ações coletivas gera 
aprendizagens e saberes e, por isso, são considerados espaços educativos. 
 
CONCLUSÃO 
Diante disso, depreende-se que uma sociedade civil ativa não pode ser preparada 
artificialmente ou ter sua participação induzida como foi tentado nos governos locais 
das três cidades mineiras no estudo de Costa (1997). Para o autor (1997), os processos 
democráticos e a construção da esfera pública ocorrem mediante processos 
comunicativos dos diferentes níveis sociais, pois é preciso dar voz às periferias da esfera 
pública e não apenas ao que ocorre em seu núcleo. 
Conforme exposto, os movimentos sociais e as ONGs conseguem levar as 
reinvindicações da sociedade civil ao núcleo da esfera pública, geram aprendizado e 
cultura e ainda, no caso das ONGs, prestam serviços em áreas não atendidas pelo poderpúblico. 
Esses movimentos já conquistaram grandes feitos na história do nosso país 
como, por exemplo, o impeachment do Presidente da República Fernando Collor, as 
Diretas Já e, recentemente, as prisões de políticos e de outras pessoas poderosas devido 
a manifestações contra a corrupção. Por isso, os movimentos sociais e as ONGs são tão 
importantes, pois eles são a manifestação da democracia e eles que viabilizam a luta 
pelo respeito aos direitos dos cidadãos, pelo aumento da participação democrática e para 
que os representantes eleitos pelo povo os representem de fato, priorizando o interesse 
público e não o seu interesse e o da sua família apenas. 
 
REFERÊNCIAS 
COSTA, Sergio. Movimentos sociais, democratização e a construção de esferas 
públicas locais. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 12, n. 35, out. 
1997. 
 
GOHN, Maria da Gloria. Sociedade Civil no Brasil: movimentos sociais e ONGs. 
Revista Meta: Avaliação, [S.l.], v. 5, n. 14, p. 238-253, set. 2013. 
 
GOHN, Maria da Gloria. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista 
Brasileira de Educação, v. 16, n. 47, maio-ago. 2011.

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