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Análise pela perspectiva constitucionalista do movimento “O Sul é o Meu País” Rafaella Seewald e Rebecca Donatti Em meados de 1992, deu-se início ao movimento denominado ”O Sul é o Meu País”, promovido pelos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, a organização visa impulsionar um debate para a possibilidade de ruptura desses três estados com a federação brasileira, se desmembrando e assim compondo um novo país. Em 2016 e 2017 foram promovidas votações que não possuíam valores legais, onde os participantes respondiam a seguinte pergunta: "Você quer que o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul formem um país independente?". Nas votações de 2017 foram computados 341.566 votos no total, sendo eles 96.13% (328.346) votos a favor da separação e 3,87% (13.220) contra. Conforme a exposição da notícia selecionada, percebe-se que o principal ponto abordado é o movimento separatista fomentado pelos estados que compõe a região Sul do país, este assunto vai de encontro com as concepções estudadas de forma federativa do Estado e autonomia dos entes federativos, além de abordar outros conceitos de forma secundária como, por exemplo: o plebiscito e sua competência, constitucionalidade, entre outros, que serão aprofundados adiante. A partir do que foi elucidado acima, faremos a explicação dos princípios citados. Ressalta-se, portanto, que o Estado Federal aponta uma forma de Estado, nele há uma descentralização do poder e há a existência de unidades federativas com a chamada autonomia. De acordo com (PÁDUA, 2020), o Estado Federal é o modelo com o maior nível de descentralização do poder, visto que comparado com o Estado Regional, por exemplo, existe uma organização atrelada à criação do governo central e locais. Relacionando com a matéria escolhida, fica nítida então que os estados, no caso Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, são unidades federativas, com poder, mas que esse é limitado pela própria Lei Maior. Evidencia-se ainda que a forma federativa é prevista pela Constituição Federal de 1988: Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos (...) Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. Mas se os estados são titulares de autonomia, porque não poderiam se desanexar do país? Há algumas razões. A autonomia é um poder restrito que se manifesta através de suas competências que são repartidas e citadas pela própria Constituição, portanto a autonomia é a capacidade de auto-organização (no âmbito administrativo), autogoverno (no âmbito político), exemplificando, enquanto a competência é a capacidade jurídica estabelecida constitucionalmente que dá as unidades federativas poder para legislar sobre determinados aspectos. Para melhor compreensão citaremos alguns artigos, o artigo 18, §3º revela que os Estados podem subdividir-se, incorporar-se, desmembrar-se para se anexarem a outros ou formarem novos, logo o que o movimento “O Sul é o Meu País” almeja que é se separar da federação para a criação de um novo país é inviável, pois pela lei é previsto somente o rearranjo e não a separação de forma federativa. Ademais, o artigo 25 indica as competências remanescentes dos Estados, dito isto é explícito que os estados federados não têm autonomia e nem competência para romper com a forma da Federação, afinal nem mesmo a própria União que é o governo central tem esse direito. Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1.º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. § 2.º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. § 3.º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. A outra razão é pelo fato de a forma federativa ser uma cláusula pétrea, mas o que este termo significa? Trata-se da determinação de quais questões não podem ser alteradas por meio de emenda constitucional, por conta de sua importância a forma federativa de Estado está entre o rol delas, no artigo 60, §4º, I. Sendo assim, não há possibilidade de qualquer região brasileira obter sua independência. Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; O panorama dos fatos, também revela que o movimento convocou um plebiscito, que brevemente é a consulta feita aos cidadãos a respeito de alguma questão importante para o país e isso deve acontecer antes da existência da lei/ ato administrativo, porém quanto trata-se de uma questão de magnitude nacional; que é o caso, é de competência do o Congresso Nacional propor o plebiscito. Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: XV - autorizar referendo e convocar plebiscito; Dito isto, se o movimento tomasse atitudes mais drásticas, como por exemplo, decretar a independência dos estados, a União poderia interferir através da intervenção federal, que é quando a União intervém momentaneamente na autonomia de um Estado - membro, neste caso o tipo de intervenção seria espontânea, visto que a situação enquadra-se no artigo 34, I. Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: I - manter a integridade nacional; Conclui-se que o movimento ”O Sul é Meu País” é um movimento de caráter inconstitucional, ou seja, fora dos parâmetros do Estado Federal brasileiro, pois, conforme citado acima, ele fere a cláusula pétrea presente em nossa constituição brasileira. Afinal o artigo 60 determina as questões que não podem ser alteradas por meio de emendas, é uma cláusula pétrea, ou seja, para que o movimento ”O Sul é Meu País” fosse aprovado teria que ser elaborada uma nova constituição que tivesse a separação legal dos Estados-Membros. Também em seu primeiro artigo fala que a República Federativa é “formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal”. Como diz o professor Paulo Schie “A Constituição coloca a forma federativa de estado como cláusula pétrea. Essas cláusulas não podem ser superadas nem mesmo através de consulta popular”. Mesmo com as votações populares feitas em 2016 e 2017 e com uma grande parte da população votando a favor da separação dos três estados do país, o plebiscito como está sendo chamado pelo movimento é invalido, porque o plebiscito é válido somente se convocado pelo congresso nacional, conforme consta em nossa constituição federal. Referências Bibliográficas Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 5 de outubro de 1988.Disponível em<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.p df>. Acesso em: setembro de 2021. FELDENS, Guilherme Signorini. Ondas separatistas no Brasil. Mato Grosso do Sul, 2016. Disponível em <https://gfeldens.jusbrasil.com.br/artigos/358844124/ondas-separatistas-no-brasil>. Acesso em: setembro de 2021. G1, RS. Movimento separatista realiza novo plebiscito sobre independência do RS, SC e PR. Rio Grande do Sul, 7 de outubro de 2017. Disponível em <https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/movimento-separatista-realiza-novo-plebis cito-sobre-independencia-do-rs-sc-e-pr.ghtml>. Acesso em: setembro de 2021. G1, RS. Consulta sobre separação do Sul do resto do país tem 95% de 'sim'. Rio Grande do Sul, 5 de outubro de 2016. Disponível em <http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2016/10/consulta-sobre-separacao-do-sul-do-resto-do-pais-tem-95-de-sim.html>. Acesso em: setembro de 2021. G1, RS. Consulta sobre separação do RS, SC e PR do país tem maioria dos votos favoráveis. Rio Grande do Sul, 9 de outubro de 2017. Disponível em <https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/consulta-sobre-separacao-do-rssc-e-pr-do- pais-tem-9613-dos-votos-favoraveis-mas-adesao-cai.ghtml>. Acesso em: setembro de 2021. https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf https://gfeldens.jusbrasil.com.br/artigos/358844124/ondas-separatistas-no-brasil https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/movimento-separatista-realiza-novo-plebiscito-sobre-independencia-do-rs-sc-e-pr.ghtml https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/movimento-separatista-realiza-novo-plebiscito-sobre-independencia-do-rs-sc-e-pr.ghtml http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2016/10/consulta-sobre-separacao-do-sul-do-resto-do-pais-tem-95-de-sim.html http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2016/10/consulta-sobre-separacao-do-sul-do-resto-do-pais-tem-95-de-sim.html https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/consulta-sobre-separacao-do-rssc-e-pr-do-pais-tem-9613-dos-votos-favoraveis-mas-adesao-cai.ghtml https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/consulta-sobre-separacao-do-rssc-e-pr-do-pais-tem-9613-dos-votos-favoraveis-mas-adesao-cai.ghtml PÁDUA, Felipe Bizinoto Soares. O Estado Federal (Parte I): onde está, de onde veio e o que é. Jornal Estado de Direito, 4 de maio de 2020. Disponível em <http://estadodedireito.com.br/o-estado-federal-parte-i-onde-esta-de-onde-veio-e-o-que-e/>. Acesso em: setembro de 2021. REIS, Manuelito. O Separatismo e a Constituição Federal. Rio de Janeiro, 2017. Disponível em <https://msreisjr.jusbrasil.com.br/artigos/508888324/o-separatismo-e-a-constituicao-federal>. Acesso em: setembro de 2021. Revista Consultor Jurídico.Justiça Eleitoral proíbe plebiscito separatista na região Sul do país. 26 de julho de 2016. Disponível em <https://www.conjur.com.br/2016-jul-26/justica-eleitoral-proibe-plebiscito-separatista-regiao- sul-pais>. Acesso em: setembro de 2021. SIMAS, Carlos. Movimento Separatista “O Sul é meu País” é Constitucional ou Inconstitucional? Entenda! 19 de outubro de 2016. Disponível em <https://www.megajuridico.com/movimento-separatista-o-sul-e-meu-pais-e-constitucional-ou -inconstitucional-entenda/>. Acesso em: setembro de 2021. http://estadodedireito.com.br/o-estado-federal-parte-i-onde-esta-de-onde-veio-e-o-que-e/ https://msreisjr.jusbrasil.com.br/artigos/508888324/o-separatismo-e-a-constituicao-federal https://www.conjur.com.br/2016-jul-26/justica-eleitoral-proibe-plebiscito-separatista-regiao-sul-pais https://www.conjur.com.br/2016-jul-26/justica-eleitoral-proibe-plebiscito-separatista-regiao-sul-pais https://www.megajuridico.com/movimento-separatista-o-sul-e-meu-pais-e-constitucional-ou-inconstitucional-entenda/ https://www.megajuridico.com/movimento-separatista-o-sul-e-meu-pais-e-constitucional-ou-inconstitucional-entenda/
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