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Trabalho Final - Teoria da Geografia

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Geociências
Departamento de Geografia
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Teoria da Geografia
A TEORIA DA GEOGRAFIA NO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE PESQUISA: A SUPRESSÃO DE ÁREAS VERDES NO CONTEXTO URBANO DAS ÁREAS DE PLANEJAMENTO 4 E 5 DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Camilla Bandeira da Silva
Matrícula: 120008590
Rio de Janeiro 
2020
Resumo 
Este trabalho tem como objetivo trazer alguns pontos pertinentes à Geografia e como ela se constitui e como esses conceitos, temas, métodos podem ser atribuídos ao projeto de desenvolvimento da pesquisa de um geógrafo, por exemplo, ou das áreas da ciência em geral. Aqui em específico, se tratará sobre a importância da observação empírica, a importância do trabalho de campo na pesquisa, e a importância da descrição geográfica. Como base para essa conexão entre o projeto de pesquisa e os temas abordados, serão utilizadas as aulas ministradas pela disciplina Teoria da Geografia, e a bibliografia correspondente. 
Palavras-chaves: descrição geográfica; observação empírica; geotecnologias; áreas verdes; áreas de planejamento.
1. Introdução
	A Geografia é a ciência que tem objeto principal de estudo o espaço e todas as relações existentes nele, sejam naturais ou sociais. Essa ciência, tão importante antigamente e nos dias atuais, era vista no início apenas como a ciência responsável pela descrição da Terra, tendo se tornado uma ciência bem mais complexa ao decorrer dos séculos, responsável por tentar explicar essas relações que ocorrem sobre o espaço. 
	Este trabalho tem como objetivo trazer alguns pontos pertinentes à Geografia e como ela se constitui e como tais conceitos, temas, pontos e métodos abordados nesta ciência podem ser atribuídos ao projeto de desenvolvimento da pesquisa de um geógrafo, por exemplo, ou das áreas da ciência em geral. Aqui em específico, se tratará sobre a importância da observação empírica, a importância do trabalho de campo na pesquisa, e a importância da descrição geográfica. Como base para essa conexão entre o projeto de pesquisa e os temas abordados, serão utilizadas as aulas ministradas pela disciplina Teoria da Geografia, e a bibliografia correspondente. Este trabalho está estruturado em três partes: antes de ser apresentado o tema e sua relação com a observação empírica, o trabalho de campo e a descrição geográfica, há uma breve descrição do que significa o conceito de Geografia, e um breve resumo de como se deu origem a essa ciência. 
	O projeto de pesquisa ao qual se buscará essa relação/conexão com alguns pontos da ciência geográfica tem como tema a influência das Áreas Verdes no contexto urbano das Áreas de Planejamento 4 e 5 do município do Rio de Janeiro (num total de 41 bairros: Anil, Barra da Tijuca, Camorim, Cidade de Deus, Curicica, Freguesia de Jacarepaguá, Gardênia Azul, Grumari, Itanhangá, Jacarepaguá, Joá, Pechincha, Praça Seca, Recreio, Tanque, Taquara, Vargem Grande, Vargem Pequena e Vila Valqueire.; Bangu, Barra de Guaratiba, Campo dos Afonsos, Campo Grande, Cosmos, Deodoro, Gericinó, Guaratiba, Inhoaíba, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Paciência, Padre Miguel, Pedra de Guaratiba, Realengo, Santa Cruz, Santíssimo, Senador Camará, Senador Vasconcelos, Sepetiba, Vila Kennedy e Vila Militar), por ser uma área de constante e desordenada expansão urbana. As Áreas de Planejamento (AP’s) são uma divisão feita pela Prefeitura do Rio de Janeiro para atender administrativamente os bairros, que por sua vez são divididos em Regiões Administrativas de acordo com a proximidade e as suas particularidades urbanas, assim tentando atender as necessidades da cidade de uma forma geral. A cidade do Rio de Janeiro é dividida em 5 Áreas de Planejamento, sendo de objeto deste estudo apenas as AP’s 4 e 5. 
	
2. A Geografia
A Geografia é a ciência que possui como principal objeto de estudo o espaço, que está intimamente relacionado às realizações humanas. Dessa forma, busca-se o conhecimento desse espaço geográfico e de todas as dinâmicas existentes referentes à ele. A forma mais genérica de definir o que é a Geografia está exatamente em seu nome, que significa geo = Terra e grafia = descrição, ou seja, a descrição da Terra. As primeiras descrições consideradas como geográficas foram oriundas de registros de viajantes e comerciantes. 
A Geografia como ciência surgiu apenas com o nascimento da civilização grega, onde existiam pensadores como Aristóteles e Pitágoras. No ínicio, a Geografia buscava estudar apenas os elementos naturais, tendo mais tarde unido esses elementos aos elementos sociais e como se comportavam essas interações no espaço natural, dando-se início aos estudos sistemáticos da sociedade. 
Com o passar do tempo, a Geografia passou por inúmeras transformações epistemológicas. Mas o que é epistemologia? Nada menos que a discussão da maneira de como se produzir determinado conhecimento. Com essas transformações houve modificações no modo de se compreender a relação sócio-espacial. Alguns geógrafos já desde a época de Ptolomeu e Estrabão buscavam integrar a abordagem histórico-descritiva com a abordagem matemático-cartográfica, procurando reunir ao mesmo tempo os princípios gerais cosmográficos e as descrições regionais corográficas, inclusive essa sendo talvez a origem que remete aos manuais tradicionais da geografia moderna. Muitos geógrafos modernos veem essas duas abordagens como uma dicotomia, sendo divididas em geografia geral e geografia regional, outros como uma abordagem física ou abordagem humana, sendo a abordagem física mais próxima das ciências naturais, por ser um método objetivo e de generalização, e a humana referente à cultura, sendo subjetiva e particular. 
A tese de Livingstone (1992) aponta que Geografia pode ser entendida como uma tradição, contestada e pluralista, embasadas por argumentos, apesar de apresentarem diversos conflitos. A Geografia varia conforme a sociedade muda, com discursos predominantes, seguindo uma linha cronológica. A Geografia por anos é vista como uma ciência exploratória, com as viagens de reconhecimento dos novos territórios nos séculos XV e XVI, com Humboldt, por exemplo, atentando para soluções para problemas tecnológicos e científicos de navegação, com o desenvolvimento da cartografia: reduzir os novos mundos ao papel era função do geógrafo. 
Mesmo que o determinismo ambiental de uma forma ou de outra estivesse se espalhando rapidamente entre os geógrafos havia aqueles cuja conversa se concentrava na capacidade da cultura humana de transformar seu meio natural, reconhecendo como estratégia a região natural para entender a diversidade global, muito associado ao possibilista Vidal de la Blache. Ainda há aqueles, porém, que tentam retomar o valor ambiental, entendendo esta ciência como uma combinação igual entre fatores físicos e humanos, como uma disciplina integradora. Se alguns identificam que a essência da Geografia está na integração regional, outros apontam que sua ênfase está na particularidade dos lugares atrelada a uma metodologia rigorosa.
A geografia na época da Revolução Científica do século XVIII, coloca sob sua responsabilidade a interpretação da dinâmica da natureza e de suas relações possíveis com a marcha histórica. Para a maioria dos historiadores da geografia, Humboldt é o primeiro a estabelecer as novas regras do pensamento geográfico moderno. O autor retomou a perspectiva da observação direta e descrição detalhada do século XVIII e juntou com ela a preocupação de sempre fazer comparações e raciocínios gerais e evolutivos. Humboldt não só observava os elementos do meio físico, mas também a sociedade local, e sua interação recíproca. Ele demonstra que a ciência moderna não necessita mais da intuição para ter sucesso em suas pesquisas, e todo o seu trabalho era dirigido para um esforço de síntese. O fato de que seu papel na geografia seja considerado como fundamental vem do sucesso do trabalho de síntese metodologicamente fundado. Então, a Geografia moderna temem Humboldt seu precursor, que se baseava no empirismo. 
Um dos pontos chaves no trabalho do geógrafo é a observação empírica. O termo empírico se refere à fatos que se baseiam somente em experiências que foram vividas, ou seja, a observação empírica é a observação de coisas baseadas em experiências subjetivas próprias, e não em métodos científicos ou teorias científicas. O conhecimento que se dá através da observação empírica é adquirido todos os dias durante toda a vida, e não há comprovação científica. 
Wulf (2016) retrata a viagem de Humboldt à América do Sul. O autor destaca a dificuldade em encontrar um método racional para estudar o ambiente, com base na coleta dos dados. Um dos mecanismos importantes para tal é a observação e escrita de cartas como um meio de registro e, ao mesmo tempo, de comunicação, com intenção de publicá-las em jornais. A importância que Humboldt dava ao trabalho de campo é traduzida também à medida que, mesmo diante a dificuldades, o naturalista continuava e usava isso como dado do campo, como foi o caso dos terremotos. A sua apreensão da natureza parte não só de suas observações científicas, mas também dos sentimentos, que compõem a experiência do homem. Ele utilizava o método dedutivo para a análise e, nessa perspectiva, já alertava que a ação da humanidade poderia afetar as gerações futuras e, por isso, é considerado o pai do movimento ambientalista.
Assim como Humboldt, Ritter foi buscar nos textos antigos as raízes do saber geográfico. Ritter insistia também no fato de que a geografia deve ser capaz de estabelecer associações entre os diversos tipos de ambientes e os níveis de cultura respectivos. Para ele, cada organismo possui suas próprias leis de desenvolvimento, sua funcionalidade interna, e a única generalização possível é dada pela harmonia do todo orgânico. Ritter recomendava para a geografia a adoção de uma conduta moderna visando à generalização e ao estabelecimento de leis. Recomendava também a utilização pelos geógrafos de um procedimento objetivo e uniforme para definir os conceitos. O que se considera como moderno nas obras dele é exatamente essa dualidade fundadora da modernidade. Além de Humboldt e Ritter tiveram outros responsáveis pelo o que conhecemos como Geografia nos dias de hoje, como Ratzel, Vidal de La Blache, Carl Sauer, Hartshorne, etc. 
Geralmente, a Teoria da Geografia é uma disciplina que propõe articular os principais conceitos da Geografia e suas características às correntes do pensamento geográfico. Ela vê e mostra a Geografia como uma ciência do espaço, da região, do território, do lugar e da paisagem. Nos faz questionar, qual a validade do conhecimento geográfico para compreender a realidade? A relação sujeito-objeto, ou melhor sujeito-espaço, é o ponto central do estudo dessa teoria do pensamento geográfico, junto com seus métodos e como está conectado às escolas geográficas. 
3. O Tema: A Supressão de Áreas Verdes no Contexto Urbano
A detecção de mudanças, uma das formas de se monitorar o ambiente a partir do Sensoriamento Remoto, considera diferentes métodos e técnicas para qualificação e quantificação de alterações nas características da cobertura ao longo do tempo (SINGH, 1989; SANTOS, et al, 2005). Sendo a detecção de mudanças uma forma consagrada e importante para identificar, mapear e monitorar transformações no espaço, muito usada no monitoramento de ecossistemas, espera-se alcançar a identificação da conservação, regeneração e supressão de áreas verdes nas Áreas de Planejamento (AP’s) 4 e 5 da cidade do Rio de Janeiro. Cada vez mais as geotecnologias se fortalecem no monitoramento e caracterização de áreas, o que acabam se tornando uma importante ferramenta para o planejamento e a gestão ambiental, pois auxiliam nas análises qualitativas e quantitativas do meio ambiente.
Nas últimas décadas é crescente o nível de supressão de áreas verdes, e crescem os estudos que visam entender essa dinâmica nos espaços. Com isso o Sensoriamento Remoto se torna um grande aliado para identificação dessas áreas, com o avanço de técnicas, maior facilidade em disponibilidade e aquisição de imagens, aumento nas referências conceituais, o que acaba facilitando a interpretação na dinâmica temporal. 
De acordo com o relatório Rio+20 (2012) há uma tendência de urbanização intensa que provoca grandes consequências nos crescentes esforços para se preservar o meio ambiente e recursos naturais, o que evidencia a supressão da vegetação graças ao avanço da pastagem seguida da agricultura, e também a expansão urbana. A intensidade dos problemas socioambientais em algumas áreas do Município do Rio de Janeiro é marcante, transitando entre problemas sociais e ambientais variados sobre o espaço da cidade (TORRES et al. 2003).
O consumo desordenado de recursos naturais pela população humana, como a retirada de vegetação do meio ambiente, é uma preocupação característica da expansão populacional, fazendo-se necessário um planejamento para essas áreas. Uma das finalidades do planejamento e da gestão territoriais é elaborar métodos eficazes que ajudem no desenvolvimento do território. Planejamento e gestão possuem referenciais temporais distintos e se referem a diferentes tipos de atividades. Planejar remete ao futuro e gerir remete ao presente. Planejar é tentar prever a evolução de um fenômeno, tentar se precaver contra possíveis problemas. Gestão é administrar uma situação utilizando os recursos disponíveis no momento, visando as necessidades imediatas. 
A cidade do Rio de Janeiro foi escolhida para essa pesquisa exatamente por representar grande importância não só na escala regional, como na escala nacional. Além da grande relevância ambiental, pois o estado contém os principais remanescentes da Mata Atlântica e está totalmente inserido neste bioma, possuindo também importantes áreas de endemismo. É importante analisar em quais áreas ocorreram e estão ocorrendo as grandes mudanças e como elas estão se comportando espacialmente. Nas últimas décadas a Zona Oeste do Rio de Janeiro é o local que mais vem sofrendo alterações na cidade, seja pela expansão urbana desenfreada, seja por outros tipos de eventos como Jogos Panamericanos (2007), a Jornada Mundial da Juventude (2013), Olimpíadas e Paralimpíadas (2016), e com isso optou-se por se trabalhar em cima das Áreas de Planejamento que abrigassem esses bairros. 
A Área de Planejamento 4 é formada pelo conjunto de 19 bairros, e corresponde a 24% da área da cidade, equivalente a 293,79 km², e 11,6% da população carioca, por volta de 682.051 habitantes, segundo o Censo 2000. Possui uma extensa área de baixada, limitada pelo Maciço da Tijuca e Maciço da Pedra Branca e pelo Oceano Atlântico. Foi mantida durante muito tempo preservada, sem inserção na malha urbana, graças às próprias características geográficas que dificultavam o acesso.
	A Área de Planejamento 5 é composta por 22 bairros, e corresponde a 48,4% do território do Rio de Janeiro, o que equivale à 592,45km², e abriga cerca de 26,6% da população carioca, aproximadamente 1.556.505 habitantes, segundo o Censo 2000. A Zona Oeste, como é mais conhecida essa AP, foi tratada como a última fronteira da urbanização do Rio de Janeiro. Nela, foram mantidos, durante muito tempo, os usos agrícolas e as extensas propriedades, que foram desaparecendo com a pressão da urbanização, a partir da década de 1960. Mesmo com a presença da ferrovia, que chegava a Santa Cruz, fatores como a distância, a ausência de serviços e áreas militares, bloquearam a continuidade da expansão urbana, inicialmente concentrada no entorno das estações ferroviárias. Aos poucos, a ocupação foi sendo expandida, o que é confirmado pelo crescimento populacional da área, de 124,3% no período de 30 anos (1970-2000).
Com a influência direta do homem no meio ambiente podem ocorrer variadas transformações no ecossistema. Tais transformações acarretam diversos problemas na estrutura e forma das paisagens naturais, o que prejudica não só a biodiversidade e a função ecológica da área em si, mas tambémo equilíbrio ecológico de todo planeta, culminando na crise ambiental que vivemos (KRÜGER, 2001). A partir disso é visto a necessidade de gerir essas áreas transformadas e planejar outras áreas para que não sejam afetadas negativamente ou diminuir o impacto negativo sobre elas. 
As paisagens não são estáticas, elas estão em constante processo de modificação, graças a fatores naturais e antrópicos. No caso das mudanças antrópicas, geralmente estão associadas às necessidades humanas. As mudanças que ocorrem na paisagem são ligadas a variáveis complexas que por fim mudam a estrutura da paisagem para atender os condicionantes tanto ambientais, tanto humanos. (ANTROP, 1998).
De acordo com a perspectiva de Vidal de La Blache, a tradição vidaliana (RIBEIRO, 2007) associa a ideia de paisagem aos modos de vida tradicionais e a relação homem-natureza, sendo compreendida enquanto um resultado da relação da sociedade com seu meio, ao construir uma cultura que pode ser lida através da paisagem. 
Como já citado anteriormente, a detecção de mudanças é responsável pela qualificação e quantificação de alterações nas características da cobertura do solo ao longo do tempo. Essas mudanças podem ocorrer através de processos naturais ou antrópicos. Os processos naturais estão ligados às características e condições do ambiente em que se encontram, já os processos antrópicos estão ligados às atividades humanas e suas necessidades. Essas mudanças podem ser complexas com a combinação desses dois tipos de processos ao longo do tempo.
4. A Relação entre a Teoria da Geografia e o Desenvolvimento do Projeto de Pesquisa
	Resumidamente, o projeto de pesquisa visa entender a supressão de áreas verdes nas áreas de Planejamento 4 e 5 na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, e sua influência nas áreas urbanas. Alguns temas debatidos no decorrer do período foram bastante interessantes e agregadores para o tema, como a observação empírica, a importância do trabalho de campo, o quanto a descrição é essencial na ciência geográfica e muitos geógrafos não o fazem, a arte de mapear e classificar os elementos, entre outras coisas. A seguir será falado sobre alguns desses tópicos e de que forma foram ou serão agregados a esta pesquisa. 
A pesquisa de campo se dá de forma empírica, diferente da pesquisa teórica, e produz e analisa dados reais a partir de fatos. Como já citado no decorrer deste trabalho, o termo empírico se refere à fatos que se baseiam somente em experiências que foram vividas, ou seja, baseado em experiências subjetivas próprias, e não em métodos científicos ou teorias científicas. O conhecimento que se dá através da observação empírica é adquirido todos os dias durante toda a vida, e não há comprovação científica. A observação empírica que se dá através do conhecimento empírico é uma forma de conhecer e se colocar no mundo, se dá através do senso comum de forma espontânea. A origem dos nossos conhecimentos está inteiramente ligada à importância das nossas experiências, ou seja, na observação empírica falta objetividade e sobra subjetividade. 
 A pesquisa de campo/trabalho de campo serve para comprovar através da experiência aquilo que já foi mencionado conceitualmente, ou até oferecer dados que sistematizam a teoria, como apresentado no texto do Bruno Latour (2001). Uma das principais finalidades da pesquisa empírica/de campo é testar diferentes hipóteses que tratam das relações de causa e efeito dos fenômenos. 
No caso da pesquisa abordada neste trabalho que se dará em partes na Zona Oeste do Rio de Janeiro, meu local de vivência há 21 anos, o local e sua história são abordados de maneira subjetiva, pois as experiências pessoais estão totalmente enraizadas no subconsciente e influencia diretamente em como se vê e compreende o local. Então essa observação empírica não afeta só o trabalho de campo, como o modo de descrever o local e de compreendê-lo. 
Bruno Latour (2001) também aborda além da importância do trabalho de campo, a importância da observação empírica, mesmo que algumas vezes não explicitamente, como quando ele diz que o mesmo fenômeno pode ter diversas interpretações, pois sua referência é circulante, tornando assim o fenômeno estudado inteiramente diverso. Do mesmo jeito que uma pessoa que vive na Zona Oeste do Rio de Janeiro e vivencia aquilo diariamente pode compreender o fenômeno e descrevê-lo de uma forma, uma pessoa que observa de fora pode entendê-lo de uma maneira completamente diferente. Ou seja, a referência relacionada a determinado fenômeno nunca é igual de pessoa para pessoa. 
A instrumentalização é outro ponto importante na vida dos geógrafos, pois é através dos instrumentos como ferramenta que conseguimos transformar o mundo/ fenômeno tridimensional em uma forma bidimensional, superposta e combinada. É através do olhar empirista somado com a instrumentalização que conseguimos esse feito da transformação tridimensional em bidimensional. O geógrafo ao passar o fenômeno do mundo real para o bidimensional representa-o de forma como se estivesse sendo observado de cima, mesmo que seja uma posição inalcançável por nós seres humanos, vide, por exemplo, os mapas. E para se identificar os fenômenos e onde eles ocorrem a instrumentalização é extremamente necessária, por exemplo nesta pesquisa em específico, a instrumentalização é útil no caso de obtenção de coordenadas geográficas para espacialização dos fenômenos e construção de mapas de localização. 
A partir dos textos de Francis Ruellan (1956), Bruno Latour (2001), Andrea Wulf (2016) e Pedro Geiger (2014) é possível ter diferentes percepções sobre como funciona um trabalho de campo. A partir de Francis Ruellan (1956), vemos que o trabalho de campo não se trata apenas de ajustar alguns complementos interessantes ao conhecimento de um fenômeno da geografia geral, física, humana ou econômica, mas também de controlar cuidadosamente as interpretações e observações feitas anteriormente, para confirmá-las, completá-las, ou mostrar o que tem de inexato com o intuito de se chegar num trabalho final original. O objetivo do trabalho de campo é chegar à descoberta de novas relações entre os fatos e as novas interpretações da geografia regional de onde se poderá tirar elementos para comparações indispensáveis à geografia geral. Também encontramos em seu manual funções que devem ser exercidas em um trabalho de campo. Pires do Rio (2011) também retorna a Ruellan (1956) para destacar a importância de um trabalho de campo prévio para estabelecer um roteiro de observação sobre a estruturação da paisagem em determinada área de estudo. É fundamental ainda um olhar multidisciplinar nesse caso. Ela trata que o campo na Geografia é cada vez mais de reconhecimento da área, com objetivos e justificativas claros para sua realização, mas sem ser apresentado como parte do conhecimento para a compreensão da pesquisa. Por conta disso, pouco se questiona sobre a produção de dados, a observação ou as hipóteses. Pode-se concluir que a verdadeira tarefa do geógrafo é a partir do trabalho de campo formular problemas que ele estudará no próximo, e a geografia de gabinete é só um complemento da investigação no campo, que é a fonte viva de toda a observação e interpretação nova.
Na Expedição ao Jalapão de Pedro Geiger (2014), podemos observar o uso constante da observação empírica e sua importância através das descrições de todos os elementos naturais vistos durante o trabalho de campo, e não só esses elementos, como os elementos sociais também super detalhados, desde o tipo de casas encontradas ao trabalho exercido pelas populações locais. Além da descrição através da escrita, vemos que o que era visto no mundo tridimensional passava para o bidimensional através de figuras e croquis para melhor entendimento de quem fosse ler posteriormente. Essa descrição detalhada tanto da geografia física quanto da geografia humana foram importantes para melhor entendimento do conjunto. É possível observar que durante o decorrer da excursão o autor foi criando um sentimento de apego aos lugares, oque também influencia no que chamamos de referencial. 
No texto de Andrea Wulf (2016) que retrata a expedição de Humboldt ao Chimborazo também observamos que sempre é retratado a descrição da paisagem o mais detalhado possível. Humboldt afirmou, quando conseguiu analisar com o “olhar de cima”, que tudo estava conectado, e a partir daí o modo de se ver a natureza, a ideia de se compreender a natureza mudou. Podemos ver, então, que esse meio de observar os fenômenos tendo uma visão de cima, está presente na vida dos geógrafos desde sempre. Ele não estava preocupado em encontrar fatos isolados, mas em conectá-los. Fenômenos individuais eram importantes somente em “sua relação com o todo”, ele via a natureza como uma rede, tinha o objetivo de entender a natureza globalmente, como uma rede de forças e inter-relacionamentos.
Pode-se concluir que o papel da observação empírica no conhecimento geográfico é fundamental, pois é através dela no trabalho de campo que temos potencial para aumentar/melhorar investigações acerca dos fenômenos. A pesquisa empírica é fundamental para a comprovação da teoria e a sua validação, porém ela não é auto suficiente, sendo necessária sua associação com a teoria para fundamentalização do conhecimento. Com isso, a observação empírica serve para dar fundamento aos experimentos realizados e dados observados ou colhidos em campo. Não é possível discutir a geografia apenas no meio teórico, a pesquisa empírica e o trabalho de campo garantem diferentes abordagens interpretativas da realidade, o que amplia a reflexão do geógrafo acerca de diferentes conceitos, diferentes fenômenos, etc.
A partir do exposto acima e dos pontos levantados nos textos e nas aulas, e que pode ser aplicado às pesquisas, ainda mais nos momentos atuais de pandemia, é que é possível estabelecer um laço com o local, mesmo que não o conheçamos, a partir de modelos bidimensionais como mapas, figuras, croquis, etc, e também através da descrição do local, que é o tópico a ser debatido a seguir. 
Uma das maiores preocupações da geografia é a descrição da Terra. A geografia descritiva é vista como uma geografia antiga. Já em 1909, Mackinder já dizia que um dos principais fins da geografia é a descrição. A descrição é um procedimento que deriva de outro procedimento básico, a observação, que também é requisito básico da pesquisa de campo. Descrever é registrar uma informação que foi observada. 
Zusman (2014) propõe uma discussão sobre as causas que levaram ao abandono da descrição como método e forma discursiva na Geografia. A autora entende que a Geografia deve ser definida por um conjunto de questões, conceitos e problemas que foram discutidos historicamente dentro da disciplina, que configuram a tradição geográfica de Livingstone, considerando mudanças metodológicas. Embora na conjuntura de institucionalização do Geografia, a descrição foi definida como o método deste conhecimento que o diferenciava dos outros, é mais comum que geógrafos se reconheçam como construtores de histórias ou narrativas que descrições. Para o final da década de 1980, ao mesmo tempo que a descrição abriu o espaço para a incorporação da análise etnográfica na Geografia, ela tem a maleabilidade para incorporar elementos subjetivos, estéticos ou de conta do significado material e simbólico das ações para os diferentes atores sociais. 
A descrição é baseada em contemplação e trabalho de campo, que pode levar à explicação, separando descrição pictórica, associada a seu interesse em capturar e transmitir o caráter da paisagem, focada por Darby (1962), e descrição narrativa, que expressaria sua pretensão de entender as interações entre os elementos visíveis ou de paisagem, com maior estudo de La Blache. 
Aliado à geografia descritiva, é importante considerar também a imaginação geográfica. Gomes (2013) aponta que vivemos em uma era de imagens, presentes em todos os campos da vida, que disputam nossa atenção. A imagem não precisa ser real, mas pode ser o produto de imagens. Dentro de um universo de múltiplas e contínuas possibilidades colocadas ao olhar, as imagens que conseguem prender nosso interesse estabelecem para elas um campo de visibilidade privilegiado. Como geógrafos, queremos saber como a organização do espaço participa das estratégias que oferecem ou ampliam a visibilidade de coisas, fenômenos ou pessoas, atentando-nos, inclusive para a produção imagética de imagens, com as possibilidades de descobrir novas questões a partir de um “outro olhar”.
Há uma dificuldade de transmitir através de palavras uma imagem visual, logo há uma dificuldade do geógrafo em transmitir ao leitor uma verdadeira semelhança com a realidade, o que facilita a ocorrência de que uma tentativa de descrição se transforme na forma de inventário, em que um fato relacionado sucede a outro de forma monótona.
Através do conceito de cenário de Gomes (2013), busca-se mostrar que o lugar físico e o enredo dentro dos quais um objeto é exibido são elementos estruturantes para sua compreensão. Há uma geografia que participa diretamente na produção de significações que nos veiculam as imagens. Assim, a visibilidade é desigual, já que a atenção é capturada por algo que desperta o interesse. Nesse caso, a posição é fundamental para que uma coisa se torne visível, posição essa que não é absoluta. Portanto, a visibilidade depende da morfologia do sítio onde ocorre, da existência de um público e da produção de uma narrativa, dentro da qual aquela coisa, pessoa, fenômeno encontra sentido e merece destaque.
Outro problema acerca da descrição geográfica é que as imagens criadas através da descrição não refletem necessariamente os mesmos fatos para pessoas diferentes. Já começa que os critérios para a descrição fazem parte do observador, então cada um enxerga, representa e descreve o fenômeno de certa maneira, o que acontecerá igualmente com o leitor, que representará a descrição do dado fenômeno subjetivamente. Como mencionado anteriormente, quando ocorre uma pesquisa de campo a referência nunca é a mesma, a referência é circulante, ou seja, não há como a descrição geográfica ocorrer de maneira igual, ser transmitida de maneira igual para o leitor, pois já desde a observação em campo do geógrafo ou do pesquisador em geral, já ocorre de maneira diferente. 
Não há como descrever uma cena exatamente como a vemos, pois cada um tem uma percepção, e a percepção é condicionada pela atitude e o “conjunto mental” (experiências anteriores, opiniões, treinamento anterior, os preconceitos) do observador. Como Darby (1962) menciona em seu texto, cada um de nós escolhe e reage ao meio de uma maneira diferente, escolhendo ver certos aspectos do mundo e evitar outros. E isso não se aplica apenas a indivíduos, mas também a diferentes grupos. 
Tendo como base as palavras de Darby (1962), a geografia é ciência e arte. É uma arte em que qualquer apresentação e percepção de fatos deve ser seletiva e, portanto, envolve escolha, gosto e julgamento. Do mesmo jeito que a História, a Geografia é necessariamente subjetiva e individual, condicionada sempre à visão, ao interesse do geógrafo e ao clima de opinião em que ele vive e está inserido. Ou seja, podemos concluir de uma forma bem sucinta através de tudo que foi explicitado anteriormente, que o objetivo principal da descrição é pintar uma paisagem no imaginário humano através das palavras escritas, e que nem sempre a forma como se vê o objeto de pesquisa vai ser transmitida ao leitor da maneira que imagina-se e que espera-se que ele compreenda. 
5. Conclusão
	
	Pode-se ver que a parte teórica da Geografia é completamente agregadora a um projeto de pesquisa na área, é importante ter esse pensamento geográfico para compreender onde está a geograficidade da pesquisa. E que nem sempre o que será importante em uma pesquisa será necessária na outra, como o trabalho de campo, enquanto outros pontos, como a observação empírica está presente na maioria dos casos, por ser uma compreensão subjetiva e particular do pesquisador sobre determinado assunto. 
	Vale-seressaltar que não foram abordados neste trabalho todos os tópicos estudados no decorrer do período, mas que são de suma importância, assim como os que foram utilizados de exemplo para mostrar a relação entre a Teoria da Geografia e o desenvolvimento do projeto de pesquisa, como a questão da região, a classificação, o ato de mapear e o de imaginar, por exemplo. 
6. Referências Bibliográficas
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[17] WULF, Andrea. A Invenção da Natureza: a vida e as descobertas de Alexander von Humboldt, São Paulo: Planeta, 2016. Cap. 7: O Chimborazo. 
[18] ZUSMAN, Perla. La descripción en geografía. Un método, una trama. Boletín de Estudios Geográficos, v. 102, pp. 135-149, 2014.

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