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Indaial – 2022 da GeoGrafia Prof. Carlos Odilon da Costa 1a Edição didática e MetodoloGia do ensino Elaboração: Prof. Carlos Odilon da Costa Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C837d Costa, Carlos Odilon da Didática e metodologia do ensino da Geografia. / Carlos Odilon da Costa – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 238 p.; il. ISBN 978-85-515-0466-6 1. Ensino da Geografia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 Acadêmico, bem-vindo ao estudo da Disciplina Didática e Metodologia do Ensino da Geografia. Por meio deste livro didático você aprenderá o ofício de professor e refletirá sobre ele, em particular na Geografia. Esta disciplina, em certo sentido, tem como foco o processo de aprendizagem e das inter-relações na sua globalidade, isto é, tudo o que nos ensinam ou o que ensinamos está ligado a uma didática específica, seja na escola, em casa, no trabalho ou simplesmente no nosso cotidiano. Dessa forma, está inteiramente ligada às teorias da educação e as metodologias de ensino e aprendizagens. A disciplina possui o caráter pedagógico, voltada para o ensino, de grande importância na formação de professores. Também é importante para todo e qualquer profissional que se preocupe com a transformação da vida das pessoas, tanto no aspecto quantitativo quanto qualitativo. Na Unidade 1, abordaremos os Recursos Didáticos e Procedimentos Metodológicos para o Ensino de Geografia, para que você compreenda que o processo do ensinar e aprender, torna-se um elemento imprescindível fornecendo suporte para os professores (e futuros professores) desenvolverem a sua prática educativa, à medida que amplia a forma pela qual pensam as ações, refletindo sobre o sentido social e político de sua prática no âmbito da sala de aula e onde mais acontecer o processo educativo. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos o Ensino de Geografia: Planejamento, Avaliação e Construção de Conhecimentos, enfocando que o planejamento e avaliação estão presentes em quase todas as nossas ações, pois norteiam a realização das atividades. Portanto, são essenciais em diferentes setores da vida social, tornando- se imprescindível também na atividade docente. As ausências desses dois elementos podem ter como consequência, aulas monótonas e desorganizadas, desencadeando o desinteresse dos alunos pelo conteúdo e tornando as aulas desestimulantes. Por fim, na Unidade 3, aprenderemos sobre o Ensino de Geografia e a BNCC, você perceberá que a Geografia é incorporada desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, uma mudança estrutural importante da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na nova abordagem proposta pelo documento, a ênfase recai sobre o pensamento espacial e o raciocínio geográfico. Para se aproximar dos objetivos de aprendizagem, o professor também precisa se apropriar de conteúdos procedimentais. Bons estudos! Prof. Carlos Odilon da Costa APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e o porquê você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é uma dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - RECURSOS DIDÁTICOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................................... 1 TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA ESCOLAR .............................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 GEOGRAFIA ESCOLAR: BREVE HISTÓRIA ........................................................................3 3 GEOGRAFIA ESCOLAR: TEMAS E CONCEITOS .................................................................. 7 3.1 ESPAÇO GEOGRÁFICO .........................................................................................................................8 3.2 NATUREZA .............................................................................................................................................12 3.3 PAISAGEM ............................................................................................................................................ 13 3.4 LUGAR ...................................................................................................................................................22 3.5 TERRITÓRIO ..........................................................................................................................................253.6 REGIÃO .................................................................................................................................................. 27 3.7 REDES .....................................................................................................................................................31 4 GEOGRAFIA ESCOLAR E A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO............... 34 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 42 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 44 TÓPICO 2 - A DIDÁTICA NA GEOGRAFIA ESCOLAR ...........................................................47 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................47 2 INTRODUÇÃO À DIDÁTICA ................................................................................................47 2.1 ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DE ENSINO .................................................................................. 48 2.2 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS ........................................................................................54 2.2.1 Tendência liberal tradicional ...................................................................................................54 2.2.2 Tendência liberal renovada progressivista .........................................................................54 2.2.3 Tendência liberal renovada não diretivo .............................................................................55 2.2.4 Tendência liberal tecnicista ...................................................................................................55 2.3 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS .........................................................................55 2.3.1 Tendência progressista libertadora .......................................................................................55 2.3.2 Tendência progressista libertária .........................................................................................56 2.3.3 Tendência progressista crítico-social dos conteúdos ....................................................56 3 DIDÁTICA, DISCIPLINARIDADE, INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE ...........................................................................................57 3.1 DISCIPLINARIDADE .............................................................................................................................58 3.2 INTERDISCIPLINARIDADE.................................................................................................................59 3.3 TRANSDISCIPLINARIDADE ...............................................................................................................60 4 INTRODUÇÃO À DIDÁTICA NA GEOGRAFIA ESCOLAR ................................................... 61 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 63 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 64 TÓPICO 3 - AS METODOLOGIAS NA GEOGRAFIA ESCOLAR .............................................67 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................67 2 INTRODUÇÃO ÀS METODOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: TEORIAS DE APRENDIZAGENS E DE ENSINO ......................................................................................................................67 3 ENSINAR E APRENDER GEOGRAFIA POR MEIO DE PROJETOS ..................................... 71 4 PRINCIPAIS ABORDAGENS METODOLÓGICAS NO ENSINO DA GEOGRAFIA ................73 4.1 GEOGRAFIA TRADICIONAL ................................................................................................................ 74 4.2 GEOGRAFIA CRÍTICA ......................................................................................................................... 75 4.3 GEOGRAFIA PÓS-CRÍTICA ................................................................................................................ 77 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 80 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 84 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 85 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................87 UNIDADE 2 — ENSINO GEOGRAFIA: PLANEJAMENTO, AVALIAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS ................................................................................... 91 TÓPICO 1 — O PLANEJAR NA GEOGRAFIA ESCOLAR ....................................................... 93 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 93 2 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO NO ENSINO DA GEOGRAFIA ................................. 93 3 PLANEJAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL NA GEOGRAFIA E BNCC .......................99 4 PLANEJAMENTO NO ENSINO MÉDIO NA GEOGRAFIA E BNCC ....................................105 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 113 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 114 TÓPICO 2 - O AVALIAR NA GEOGRAFIA ESCOLAR ...........................................................117 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................117 2 INTRODUÇÃO AO AVALIAR NO ENSINO DA GEOGRAFIA ...............................................117 3 AVALIAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL NA GEOGRAFIA E BNCC ..............................120 4 AVALIAÇÃO NO ENSINO MÉDIO NA GEOGRAFIA E BNCC .............................................123 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................126 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 127 TÓPICO 3 - GEOGRAFIA E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NO SÉCULO XXI ..............................................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................129 2 GEOGRAFIA AMBIENTAL EM SALA DE AULA ................................................................129 3 GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE AULA ..................................................................133 4 CARTOGRAFIA E GEOTECNOLOGIAS EM SALA DE AULA ............................................134 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................143 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................146 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................148 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................150 UNIDADE 3 — ENSINO DE GEOGRAFIA E A BNCC ............................................................ 151 TÓPICO 1 — BNCC E A EDUCAÇÃO BÁSICA ......................................................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................153 2INTRODUÇÃO À BNCC ....................................................................................................153 3 BNCC: EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL ............................................. 157 3.1 EDUCACÃO INFANTIL ....................................................................................................................... 157 3.2 ENSINO FUNDAMENTAL ................................................................................................................. 159 4 BNCC: ENSINO MÉDIO ....................................................................................................162 4.1 ITINERÁRIOS FORMATIVOS .............................................................................................................168 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 176 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................178 TÓPICO 2 - BNCC E GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL ........................................ 181 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 181 2 ENSINO DA GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...................................................... 181 2.1 O EU, O OUTRO E O NÓS ..................................................................................................................182 2.2 CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS ................................................................................................183 2.3 TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS ..............................................................................................185 2.4 ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO .........................................................................186 2.5 ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES ...........................188 3 ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL: ANOS INICIAIS........................190 4 ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL: ANOS FINAIS ......................... 200 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................215 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 217 TÓPICO 3 - BNCC E GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO .......................................................219 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................219 2 ENSINO DE GEOGRAFIA E ENSINO MÉDIO ....................................................................219 3 ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO: COMPETÊNCIAS E HABILIDADES ........221 4 ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO: BNCC E A SALA DE AULA ..................... 229 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 232 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 235 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 236 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 238 1 UNIDADE 1 - RECURSOS DIDÁTICOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • verificar a importância do ensino da Geografia na sala de aula; • compreender a trajetória do ensino de Geografia na Educação Básica; • conhecer metodologias e recursos para o ensino de Geografia na atualidade; • conhecer as atuais tendências no ensino de Geografia e as categorias de análise geográfica do espaço; • identificar as principais orientações metodológicas nos documentos oficiais; • analisar metodologias e recursos quanto à adequação às atribuições atuais do ensino da Geografia e da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA ESCOLAR TÓPICO 2 – A DIDÁTICA NA GEOGRAFIA ESCOLAR TÓPICO 3 – AS METODOLOGIAS NA GEOGRAFIA ESCOLAR Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA ESCOLAR 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 1, você estudará a Geografia escolar que cumpre importante papel na formação do indivíduo em sua integralidade; podendo auxiliar a ampliar suas concepções de mundo, a compreender as transformações e processos que ocorrem através da interação dinâmica entre os elementos da natureza, possibilitando ainda uma melhor apreensão das relações que se estabelecem entre sociedade e natureza. E, por último no Tópico 3 apresentaremos como o desenvolvimento da competência do raciocínio geográfico pensado a partir das estratégias pedagógicas e das espacialidades por meio do aporte teórico-metodológico das categorias de análise da Geografia são disponibilizados em sala de aula por parte dos professores de Geografia. Na Geografia Escolar breve história, entraremos nesta reflexão a partir do período moderno, tempo histórico de consolidação da Geografia enquanto Ciência e apresentaremos essa Ciência no Brasil. Por sua vez, em Geografia Escolar temas e conceitos, serão apresentados os temas e conceitos importantes da Geografia que possui conceitos e especialidades distintas e são importantes instrumentos de análise do espaço geográfico, constituído a partir das relações humanas com a natureza. E a Geografia Escolar e a construção do pensamento geográfico, compreende um conjunto de temas que perpassam a construção do pensamento geográfico em distintas dimensões e perpassa as tramas que envolvem a docência, configurando elementos considerados essenciais ao ensino de Geografia. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 2 GEOGRAFIA ESCOLAR: BREVE HISTÓRIA Acadêmico, como você percebeu no título deste tópico, vamos apresentar de forma mais breve o caminho percorrido pela Geografia enquanto ensino escolar. No contexto mais global entraremos de maneira rápida, pois em diversas disciplinas do seu curso, você encontrará um vasto material comentando sobre a Geografia Escolar no contexto mundial. Focaremos com mais profundidade a Geografia Escolar no Brasil. 4 A Geografia, a partir do momento de ser tratada como ciência, apresentou algumas concepções ou correntes de pensamento que nortearam o trabalho daqueles que se dedicaram a estudá-la. Duas grandes escolas fundamentaram o pensamento geográfico no mundo do final do século XIX e início do século XX: a alemã, considerada “determinista” e a francesa, denominada “possibilista”. Essas duas escolas constituíram- se em referências clássicas da Geografia. A partir delas é que surgiram outras correntes de pensamento nesta área do conhecimento humano. De acordo com Heinsfeld (2012, p. 27): No século XIX, a Geografia adquiriu o status de ciência. Um dos primeiros passos para esta concretização foi transformá-la em uma matéria universitária. Foi na Prússia, um dos reinos alemães, que surge a Geografia universitária, método de transmissão de conhecimento de grande importância para a formação das escolas geográficas nacionais. Um dos mais importantes antecedentes da criação de uma Geografia universitária foi proporcionado pelo filósofo Immanuel Kant, que representa o iniciador dessa tradição científica, fazendo uma rigorosa reflexão filosófica sobre os conceitos de espaço, posição e região. Na universidade de Königsberg, no semestre de verão, Kant sempre ministravaum curso de conhecimento do mundo físico. É a partir dele que o caráter descritivo da Geografia pode ser compreendido. Para ele, o conhecimento advém da percepção pelos sentidos, havendo um sentido interno que revela o homem e um “sentido externo”, que revela a natureza (Geografia física). A percepção orienta a experiência que para isto precisa ser sistematizada. À Geografia cabe esta sistematização, no plano do espaço, cabendo à história sistematizá-la no plano do tempo (HEINSFELD, 2012, p. 27-28). Na concepção Kantiana, a Geografia física comportava vários ramos: uma Geografia moral, uma Geografia política, uma Geografia matemática, uma Geografia comercial, uma Geografia teológica, uma Geografia literária. Tanto a história como a Geografia alargam, pois, o campo de conhecimentos do ponto de vista do tempo e do espaço. A história é uma narrativa enquanto a Geografia é uma descrição. Por conseguinte, pode-se ter uma descrição da natureza, mas não uma história da natureza. A Geografia e a história preenchem a totalidade do campo de conhecimentos: a Geografia o do espaço, e a história o do tempo. 5 NOTA Os cientistas prussianos Alexander von Humboldt e Karl Ritter dividem a condição de fundadores da Geografia moderna, dando à Geografia um caráter sistematizado. Os dois pertencem à geração que vivenciou a Revolução Francesa e, juntos, fundam a Sociedade Geográfica de Berlim. Ambos vão dar à Geografia um caráter científico, contribuindo para o desenvolvimento dessa ciência FONTE: HEINSFELD, A. História do pensamento geográfico ocidental. Passo Fundo: PPGH/UPF, 2012, p. 28. As concepções acerca da Geografia como ciência influenciaram o que e de que forma ela foi ensinada nas escolas. Em momentos marcados por uma concepção positivista, essa ciência traduzia-se numa disciplina que se pautava pela descrição acrítica e determinista da paisagem. No contexto brasileiro, a disciplina teve início no século XIX, inicialmente no Colégio Pedro II, na cidade do Rio de Janeiro, depois foi sendo incorporada ao currículo oficial das demais escolas do país. A introdução da disciplina no século XIX no país teve como objetivo a formação de cidadãos a partir da difusão da ideologia do nacionalismo patriótico. A Geografia foi caracterizada como uma disciplina voltada para a transmissão de dados e informações gerais sobre os territórios do mundo em geral e dos países em particular (CAVALCANTI, 1998, p. 18). Nas palavras de Moreira (1998), a Geografia consolidou-se, assim, como uma ciência a favor do Estado e da manutenção da ordem vigente ao ficar atrelada à descrição e explicação superficial e aparente da realidade, a Geografia pouco contribuiu para a compreensão do espaço geográfico como resultado da materialidade do trabalho. Nas escolas, essa Geografia de base empirista e descritiva ficou conhecida como tradicional, perdurando por muitos anos não só na estrutura curricular, mas também nas práticas pedagógicas apresentadas pelos professores. Traduzia-se pela tentativa de explicação quantitativa e objetiva da realidade, pela ideia predominante de neutralidade da ciência e pela abordagem da relação ser humano/natureza sem privilegiar as relações sociais, abstraindo o ser humano das explicações espaciais. A essa forma de conduzir a aula, Paulo Freire usa em seus escritos o termo Educação Bancária. Na visão bancária da educação, o saber é uma das doações que se julgam os sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual se encontra no outro (FREIRE, 1987, p. 67). 6 DICA Paulo Freire (1987), em sua conhecida obra intitulada Pedagogia do Oprimido, conceitua a Educação Bancária como imposição do conhecimento realizada pelo professor sobre o aluno na medida em que o professor já os havia adquirido e os dispõe, sendo, assim, possível sua ação de depósito desse conhecimento nos alunos. Representa todo e qualquer tipo de educação tradicional, onde o professor, considerado como ser dotado de conhecimento, irá transmiti-lo aos alunos. Mais que isso, o professor deposita nos alunos os conteúdos, com o intuito de sacá-los no dia da avaliação, uma educação desprovida de sentido. Nas últimas décadas do século XX é que a concepção tradicional de Geografia e suas repercussões no currículo escolar começaram a perder força no cenário educacional brasileiro. Podemos citar os livros didáticos de Melhem Adas, os encontros organizados pela Associação de Geógrafos do Brasil (AGB) também contribuíram para o movimento de renovação do ensino de Geografia, o que se ampliou a partir da década de 1980 com a redemocratização do país. Cavalcanti (1998) afirma que as reformulações da ciência geográfica enquanto conjunto de reflexões mais gerais sobre os fundamentos epistemológicos, ideológicos e políticos, levaram a alterações significativas no campo de ensino da Geografia, agregando a essa discussão elementos importantes da análise marxista e de suas categorias. A partir das discussões iniciais sobre o caráter ideológico da Geografia, passaram a ser incorporados elementos importantes para a análise dos arranjos espaciais, passando a serem interpretados em sua totalidade e de forma dialética. A nova Geografia proposta, comprometida com o papel transformador do professor e da sociedade, passou a ser denominada Geografia Crítica. Embora tenha levado muitos anos a chegar às escolas, essa nova perspectiva de ensino ganhou força nos espaços universitários e de discussão acadêmica, principalmente pelos anos de 1990. Em certo sentido, a Geografia apresentou avanços, pois passou a priorizar as relações sociais, o trabalho, a produção e a transformação do espaço geográfico, analisando a apropriação da natureza em função dos interesses sociais, portanto, numa sociedade capitalista, sempre desigual e contraditória. A Geografia, além de explicar o mundo, passou a ser compreendida como ciência que contribui para transformá-lo. Nos ventos dessas mudanças, podemos ainda citar a LDB (BRASIL, 1996), que estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional de forma democrática. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), referenciais para a renovação e reelaboração da proposta curricular, reforçavam a importância de cada escola formular seu projeto educacional, compartilhado por toda a equipe, para que a melhoria da qualidade da 7 educação resulte da corresponsabilidade entre todos os educadores. E na atualidade a BNCC é o documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. A partir da década de 2000, no Ensino da Geografia, foram incorporadas as abordagens e tendências pós críticas, pós-modernas, com temas e conceitos voltados às questões de gênero, sustentabilidade, gerações e temporalidades, virtualidade, entre outros assuntos atuais. Portanto, vivemos uma diversidade de métodos, de abordagens e concepções de ensinar e aprender. Uma aula interessante que você, acadêmico, poderá elaborar a partir destes conhecimentos, trabalhados neste tópico, com seus alunos, seria a partir do Tema: A importância da Geografia na vida humana. Você pode preparar de forma expositiva, ou com recursos tecnológicos, por exemplo uso de computadores, retroprojetores (Datashow), ou cartolinas. Pode envolver os alunos com um projeto de trabalho, partindo desta pergunta: quais benefícios o estudo da Geografia traz para a vida em sociedade? Deixe os alunos refletirem, pesquisarem e se envolverem nas aulas. Até o próximo assunto! DICA A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que reúne geógrafas e geógrafos, professoras e professores, estudantes de Geografia, e pessoas de outras áreas que se alinham aos princípios daentidade, preocupados com a promoção do conhecimento científico, filosófico, ético, político e profissional da Geografia para que se possa oferecer à crítica da sociedade uma abordagem geograficamente consistente dos seus/nossos problemas. Acesse o site e fique por dentro desta associação: https://www.agb.org.br/. 3 GEOGRAFIA ESCOLAR: TEMAS E CONCEITOS Acadêmico, vamos estudar, neste momento, uma série de conceitos que são considerados fundamentais para o Ensino da Geografia, denominados por alguns autores como categorias da Geografia. Portanto, os principais conceitos são: espaço geográfico, lugar, paisagem, região, território, natureza e redes. Para se entender o espaço geográfico é preciso também compreender outros conceitos denominados categorias de análise na Geografia. 8 De acordo com a BNCC (BRASIL, 2020, p. 361), Ao utilizar corretamente os conceitos geográficos, mobilizando o pensamento espacial e aplicando procedimentos de pesquisa e análise das informações geográficas, os alunos podem reconhecer: a desigualdade dos usos dos recursos naturais pela população mundial; o impacto da distribuição territorial em disputas geopolíticas; e a desigualdade socioeconômica da população mundial em diferentes contextos urbanos e rurais. Desse modo, a aprendizagem da Geografia favorece o reconhecimento da diversidade étnico-racial e das diferenças dos grupos sociais, com base em princípios éticos (respeito à diversidade e combate ao preconceito e à violência de qualquer natureza). Ela também estimula a capacidade de empregar o raciocínio geográfico para pensar e resolver problemas gerados na vida cotidiana, condição fundamental para o desenvolvimento das competências gerais previstas na BNCC. Nessa direção, a BNCC está organizada com base nos principais conceitos da Geografia contemporânea, diferenciados por níveis de complexidade. Embora o espaço seja o conceito mais amplo e complexo da Geografia, é necessário que os alunos dominem outros conceitos mais operacionais e que expressem aspectos diferentes do espaço geográfico: território, lugar, região, natureza e paisagem. 3.1 ESPAÇO GEOGRÁFICO A BNCC cita que o espaço geográfico é o conceito mais amplo e complexo da Geografia, por isso vamos iniciar por ele. O que é o espaço geográfico? Espaço Geográfico é o espaço habitado, transformado e utilizado pelo ser humano. É a porção da superfície terrestre que abriga as sociedades, envolvendo também os pontos utilizados para a exploração e extração de recursos naturais. Não se trata apenas de um “palco” ou um “produto”, pois ele é resultado e, também, resultante das ações humanas. Além do próprio ser humano, compõem o espaço geográfico todas as suas obras e os meios naturais que interferem em suas atividades, como as cidades, as plantações e o meio rural, as indústrias, os objetos, os rios, os climas etc. A produção do espaço geográfico, ou seja, o processo pelo qual o ser humano transforma e habita o meio em que vive depende da natureza. A partir da exploração e extração dos recursos naturais, o ser humano desenvolve as suas atividades para a sua reprodução e sobrevivência. 9 Essa transformação aconteceu desde o surgimento do ser humano. Sociedades antigas ou agrupamentos tribais utilizaram-se dos recursos naturais para o desenvolvimento de sua vida em sociedade, transformando o espaço natural em geográfico. Assim, surgiram as primeiras civilizações. Até mesmo os povos nômades utilizavam e transformavam a natureza, produzindo o espaço geográfico. Com o passar do tempo, o processo de transformação e produção do espaço foi se intensificando graças ao aprimoramento das técnicas, que permitiram que o homem melhorasse sua capacidade de desenvolvimento. Isso acontece desde os tempos pré-históricos, quando o ser humano aprendeu a produzir ferramentas e estratégias de cultivo que auxiliassem na produção e extração de alimentos. FONTE: Adaptado de: <https://www.preparaenem.com/Geografia/o-que-espaco-geografico.htm>. Acesso em: 21 ago. 2021. INTERESSANTE O espaço geográfico é um dos principais conceitos da Geografia, uma vez que se trata do objeto de estudo dessa ciência. Assim como em outros campos do conhecimento, não existe uma única forma de definir o espaço geográfico. Desde a corrente da Geografia tradicional, passando pela quantitativa, pela crítica e chegando até a humanista e a cultural, muitos autores contribuíram para a construção do entendimento acerca do que seja o espaço geográfico. MAPA MENTAL ESPAÇO GEOGRÁFICO FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/Geografia/espaco-geografico.htm>. Acesso em: 11 nov. 2021. 10 Vamos colocar em prática o que você já aprendeu sobre o espaço geográfico. QUADRO 1 – PLANO DE AULA Série/Ano: 6º e 7º Disciplina: Geografia. Conteúdo: O planeta Terra: mudanças no espaço geográfico. Objetivo da aula: • entender o papel do homem na transformação do espaço geográfico. • Visualizar as mudanças geográficas cometidas pelo homem e pela natureza. • Obter informações sobre diferentes países e cidades. Recursos didáticos: • Google Earth (https://www.google.com.br/earth/) • Sistema Operacional: Windows (XP, Vista, 7, 8 ou 10); Mac OS X 10.6.0 ou superior; Linux LSB 4.0. • Memória de Sistema (RAM), mínimo de 512 MB. • Disco Rígido 500MB de espaço livre. • Placa Gráfica DirectX 9 e 3D, com 64 MB de VRAM. • Datashow para apresentação e demonstração do software. • Laboratório de informática para utilização do software pelos alunos. Habilidades desenvolvidas com o uso do software: • analisar imagens geográficas; • extrair informações em mapas geográficos; • utilizar uma ferramenta básica de geoprocessamento. Duração da atividade: duas aulas. Procedimentos metodológicos/didáticos: No primeiro encontro/aula desta proposta de ensino, utilizando o Datashow, o professor deverá demonstrar o software e algumas de suas funcionalidades. É necessário que os alunos aprendam como (1) navegar pelo globo, (2) efetuar uma pesquisa, (3) selecionar as informações que desejam visualizar e (4) utilizar a linha do tempo. Nesta demonstração pode-se utilizar um exemplo de mudança geográfica em nosso país, como a cidade de Brasília ao passar dos anos. Também é interessante demonstrar imagens sobre o desmatamento ao longo dos anos. Já no segundo encontro/aula, em um laboratório, os alunos terão acesso ao software e irão utilizá-lo para realizar atividades. Pode-se dividir os alunos em pequenos grupos. Nesta aula, o papel do professor é de orientador, estimulando e guiando os alunos na exploração das informações que estão disponíveis no Google Earth. Atividade Proposta para a Aula em Laboratório: para aula em laboratório, o professor deverá elaborar um formulário a ser preenchido pelos alunos durante a realização da atividade com o software. Neste formulário devem conter informações gerais como: os locais pesquisados, o que mudou ao longo do tempo e qual a conclusão da equipe após ver essas mudanças. É interessante selecionar áreas distintas para cada grupo, como um país para cada equipe. A partir disto, os alunos deverão buscar uma área onde ocorreram mudanças geográficas realizadas pelo homem e outra pela 11 natureza. A princípio, o professor deve listar cidades-base, como as capitais, para auxiliar os alunos no início. Através do recurso da linha do tempo, os alunos devem verificar e diferenciar as mudanças ocorridas pelo homem e pela natureza, além de colher os dados disponíveis pelo painel de camadas e guardar as informações encontradas. Ao final da atividade, os alunos deverão retornar ao professor o formulário com todas as informações encontradas e a conclusão. Opcionalmente, cada equipe pode fazer uma breve apresentação expondo seus resultados. Avaliação: Os alunos serão avaliados com base no formulário entregue ao professor ou pela apresentação realizada. Deve-se focar na conclusão em que os alunos chegaram ao término da atividade, expondo sua visão sobre o assunto abordado.FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3F4bFFW>. Acesso em: 20 ago. 2021. DICA Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da Geografia Milton Santos concebeu este livro em colaboração com Denise Elias, visando debater algumas realidades do presente e os conceitos delas resultantes. Para isso, procurou situar a Geografia no contexto do mundo atual, buscando, ademais, rediscutir categorias tradicionais e sugerir algumas linhas de reflexão metodológica, tomando como ponto de partida as metamorfoses do espaço habitado. Para o autor, não é suficiente falar do espaço, é preciso também definir categorias de análise à luz da história concreta, diferenciando-o, assim, da paisagem e da configuração territorial, ainda que essas compareçam como categorias fundamentais para seu entendimento. Nessa discussão, tem papel fundamental, o reconhecimento da imbricação crescente entre o natural e o artificial, tema que permite retomar a discussão sobre a dicotomia entre Geografia física e Geografia humana. FONTE. <https://www.amazon.com.br/>. Acesso em: 17 nov. 2021. 12 3.2 NATUREZA Inserida em um contexto de rápidas e constantes transformações, a sociedade humana encontra-se submersa em uma complicada e complexa rede de eventos sociais e ambientais. Particularmente, na Geografia, essas transformações verificam- se com muita intensidade, já que, o seu objeto de estudo é composto tanto pelo social como pelo natural. Na Geografia, a natureza é interpretada como natural; artificial; ou até mesmo social; ela está sempre presente na base do espaço e da sociedade presente neste espaço. Assim, a natureza se encontra subjacente à maioria dos estudos em Geografia. Diante desse fato, algumas reflexões podem ser realizadas: o que o geógrafo entende por natureza? As concepções de natureza divergem nas várias abordagens geográficas? Ou, ainda, qual é a relação sociedade/natureza que as concepções de natureza utilizadas nas pesquisas legitimam? Qual é o papel consolidado pela Geografia dentro das pesquisas acerca da natureza? E, mais especificamente o que é natureza? Quais são as origens dessas concepções? Qual é a relação entre essas concepções, suas justificativas e os objetivos das pesquisas geográficas? (POLON, 2020). Veja, acadêmico, são perguntas para você refletir acerca da importância de se aprofundar no conceito de natureza e a relação com ensino da Geografia. Na Geografia, as opiniões não são homogêneas, mas prevalecem as reflexões que denotam a um estado de primeira natureza, sendo o ambiente terrestre não alterado pela ação antrópica, portanto, transformado apenas pela própria ação do meio. E uma segunda natureza, assim denominada devido às alterações sofridas pela presença do ser humano, despossuindo o lugar de originalidade. As contradições existentes na Geografia em referência aos conceitos são próprias de uma ciência que tem em seu fundamento conflitos ainda ativos, como aquele das perspectivas da Geografia Humana e da Geografia Física. DICA Significado de antrópico Resultante da ação do homem, especialmente em relação às modificações no ambiente, na natureza, causadas por essa ação. Relacionado com o homem (raça humana) e com o seu tempo de existência no planeta Terra. FONTE: <https://www.dicio.com.br/antropico/>. Acesso em: 11 nov. 2021. 13 Caro acadêmico, partindo-se dessas considerações, restam perguntas: como o professor trabalha com o meio ambiente sem saber ao certo qual natureza está defendendo? Será que ele poderá contribuir para a resolução dos problemas ambientais em sala de aula, sem antes refletir que natureza é essa? Como afirma Leff (2001, p. 217), Os problemas ambientais são, fundamentalmente, problemas do conhecimento. Daí podem ser derivadas fortes implicações para toda e qualquer política ambiental – que deve passar por uma política do conhecimento e, também, para a educação. Apreender a complexidade ambiental não constitui um problema de aprendizagens do meio, e sim de compreensão do conhecimento sobre o meio. Você, enquanto professor em sala de aula, junto com os alunos, vai interpretar a realidade social e natural por um conceito amplo na Geografia, para muitos é objeto de estudo desta ciência: “Espaço Geográfico”. Com apoio de outros importantes conceitos, conhecidos como categorias de análise, um deles é o de natureza. Esse conceito é muito presente principalmente na Geografia Ambiental (área dos estudos geográficos que se preocupa em compreender a ação do ser humano sobre a natureza, produzindo o seu meio de vida e a sua transformação). O professor poderá propor em suas aulas, diversas atividades fundamentadas nas questões ambientais, de sustentabilidade (capacidade de cumprir com as necessidades do presente sem comprometê-las das gerações futuras), de meio ambiente entre outras temáticas que surgirão a partir do conceito natureza. DICA A Geografia do século XXI, as condições da natureza e as relações sociais Conferência proferida na 30ª Semana Acadêmica de Licenciatura em Geografia, na Universidade Federal do Mato Grosso, em Rondonópolis, em 2019. Realizada pela professora doutora Maria Adélia Aparecida de Souza. Acesse: https://www. youtube.com/watch?v=CQB16-z1fB4. 3.3 PAISAGEM A discussão em torno do conceito de paisagem é um tema antigo. Desde a sistematização da Geografia como ciência no século XIX, vem sendo discutido para a efetiva compreensão das relações sociais e naturais de um determinado espaço. Em diferentes regiões do planeta, o conceito paisagem vem sendo utilizado, divergindo dentro de múltiplas abordagens. 14 O conceito de paisagem está relacionado a tudo que os sentidos humanos podem perceber e apreender da realidade de determinado espaço geográfico ou parte dele, e está diretamente relacionado à sensibilidade humana. Embora, a visão seja o principal sentido com o qual se observa a realidade, outros sentidos também podem participar da identificação da paisagem, introduzindo-se informações como sons e odores na descrição da paisagem, método através da qual ela pode ser bem explorada. Na atualidade, a noção de paisagem tem sido para os geógrafos e cientistas de outras áreas (biólogos, agrônomos, ecólogos, arquitetos, entre outros), o ponto de partida para o entendimento das complexas relações entre o homem e a natureza, buscando através dela uma compreensão global da natureza, bem como possibilita projeções de uso, gestão de espaço e planejamento territorial. Paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza. Ou ainda, a paisagem se dá como conjunto de objetos concretos (SANTOS,1997 apud SUERTEGARAY, 2001, p. 5). Nesse sentido, pode-se conceber que a paisagem se constitui como resultado do estabelecimento de uma inter-relação entre a esfera natural e a humana, na medida em que a natureza é percebida e apropriada pelo homem que, historicamente, constitui o reflexo dessa organização. Por ser uma ciência social, o debate em relação à paisagem, suscita na Geografia uma diversidade conceitual. Maximiano (2004, p. 88), enfatiza que “a paisagem não seria a simples junção de elementos geográficos, mas a combinação dinâmica, estável dos elementos físicos, biológicos e antrópicos, porque a paisagem não é apenas natural, mas é total, com todas as implicações da participação humana”. Também o geógrafo Arturo García Romero destaca que a interação entre os elementos naturais e antrópicos é essencial no entendimento da paisagem. “A dinâmica da paisagem se define por sua complexidade, pela integração de todas as partes numa unidade que existe e age em conjunto” (ROMERO, 2002, p. 23). Assim, Claval (1999) atribui ao ser humano à responsabilidade de transformar a paisagem, bem como, de imprimir nela transformações diferenciadas, criando uma preocupação maior com os sistemas culturais do que os elementos naturais da paisagem. A paisagem é humanizadanão só pela ação humana, mas pelo modo de pensar. Dessa forma, a paisagem é concebida como uma representação cultural. Nessa analogia, o autor não privilegia uma definição conceitual onde recaia a conotação natural ou cultural. Demonstra entender a paisagem de forma sistêmica, percebendo nela uma unidade que na sua acepção é indissociável. 15 FIGURA 1 – DIFERENÇAS ENTRE ESPAÇO E PAISAGEM FONTE: <https://bit.ly/3wEnxva>. Acesso em: 14 set. 2021. Assistimos, no advento do século XXI, à emergência das questões ambientais que se avolumam. Esse fenômeno está intimamente ligado à perda da qualidade de vida dos seres humanos, devido ao caráter predatório e degradador do meio ambiente relacionado a uma apropriação desregrada da natureza, culminando na alteração constante das paisagens. Nesse sentido, é nítida a necessidade de se focar a paisagem como elemento transformado e condicionador, que compõe aspectos culturais relevantes da sociedade, que exprime valores, posturas e a própria existência humana como ser explorador e ao mesmo tempo contemplador. As paisagens, em suas dinâmicas e inter-relações, alertam os grupos humanos no sentido de refletir e verificar que as intervenções antrópicas podem ser danosas ao desconfigurarem a caracterização delas. O ser humano procura adequar a natureza as suas necessidades e, com isso, promove transformações drásticas no meio em que vive, sendo que algumas delas podem ser negativas e irrecuperáveis. Nesse sentido, essa categoria de análise do espaço assume importância considerável no âmbito da Geografia, na medida em que se torna um instrumento importante para a implantação de propostas ambientais, que colaborem com a preservação dos recursos naturais. A paisagem também se constitui como uma realidade atual construída através do acúmulo de acontecimentos ou eventos passados, uma vez que, o que é observado em uma paisagem da atualidade passou por um processo de constantes mudanças. Esse aspecto pode ser percebido através da observação de fotografias de uma mesma paisagem referente a períodos diferentes, nas quais se pode perceber o que permanece e o que foi alterado, para formar a paisagem atual. Caro acadêmico, sugerimos um projeto de pesquisa junto aos alunos sobre a temática Paisagens. 16 Aula – Os lugares e suas diferentes paisagens Autor: Suely Aparecida Gomes Moreira Coautor(es): Cláudia Regina M. G. Fernandes Ensino Médio. Geografia Tema: O ser humano criador de paisagem e modificador de paisagem Dados da aula O que o aluno poderá aprender com esta aula: - compreender o conceito de paisagem; - identificar os elementos naturais e sociais presentes nas diferentes paisagens; - entender como uma paisagem pode revelar um pouco sobre a dinâmica da natureza e dos seres humanos que nela vivem. Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno: Conceitos de lugar, território e espaço geográfico. Estratégias e recursos da aula: Sugerimos que estas atividades sejam desenvolvidas em sala de aula, no caso de projetos como "Um Computador por Aluno" (UCA), ou em um laboratório de informática. A partir dos conhecimentos dos alunos sobre as paisagens que eles visualizam em seu espaço de vivência, ou durante uma viagem, ou ainda por imagens veiculadas pela TV ou internet, instigue seus alunos a refletirem sobre as diferenças existentes entre cada uma delas, auxiliando-os a organizar um projeto de pesquisa para refletirem sobre esta temática. Antes de apresentar a proposta de pesquisa, sugerimos que seja realizado um debate interdisciplinar com os professores de diversas áreas, como a Geografia, a Biologia, a Sociologia, a Filosofia, a Língua Portuguesa, a Artes, dentre outras, com o intuito de instigar a curiosidade dos alunos sobre as diferenças culturais e o trabalho do homem na construção das paisagens urbanas e rurais. Atividade 1 Os diferentes lugares e suas paisagens Passo a passo - Inicie a conversa apresentando aos alunos imagens de paisagens, posteriormente, algumas questões motivadoras: • Que elementos naturais e culturais podem ser identificados numa paisagem? • Quais as características da paisagem mais lhe despertaram a atenção? 17 • Como podemos definir uma paisagem? Permita que os alunos expressem suas opiniões e, em seguida, explique que a melhor forma de compreender essas e outras questões, com profundidade, é elaborando e desenvolvendo um projeto de pesquisa, que se constitui basicamente das seguintes etapas: • tema (o que pesquisar?); • problema (qual pergunta eu quero responder com a pesquisa); • justificativa (por que pesquisar?); • objetivos (para que pesquisar – onde se quer chegar?); • metodologia (como chegar? Qual melhor caminho?); • resultados (quais as respostas/descobertas?). - Oriente os alunos para formarem grupos de trabalho, para o desenvolvimento das atividades a seguir. Elaboração do projeto de pesquisa Passo a passo - Definição do tema: auxilie os alunos a reconhecerem o assunto a ser pesquisado. Explique que o tema desta aula é: Os diferentes lugares e suas paisagens. - É importante explicar aos alunos que para desenvolvermos uma pesquisa, a definição do tema é somente o ponto de partida. Além disso, precisamos ter clareza por que é importante pesquisar esse tema (justificativa), o que desejamos descobrir sobre ele (situação-problema), o que pretendemos alcançar com a pesquisa (objetivos) e como vamos conseguir realizar a pesquisa (metodologia e fontes). - Delimitação da situação-problema: auxilie os discentes a definirem qual o questionamento/interesse central que motivou a pesquisa sobre o tema, partir do debate sugerido no início da aula. - Nessa aula a situação-problema é: Como os elementos que compõem uma paisagem podem nos contar um pouco sobre a dinâmica da natureza e dos seres humanos que ali vivem? - Justificativa da pesquisa e seus objetivos: refletir com os alunos sobre o porquê da importância de identificar os elementos naturais e culturais que compõem uma paisagem, além de compreender que é a combinação deles que constituem as paisagens terrestres. Esta reflexão pode se basear na ideia de que, além de observar os elementos naturais e culturais visíveis em uma paisagem, com suas variadas cores, formas e tamanhos, é importante apreendê-la por meio de outros sentidos, como o tato, o olfato e a audição. Dessa maneira, a paisagem deve ser compreendida como sendo tudo aquilo que está presente em uma determinada extensão do espaço terrestre e que pode ser abrangido pelos nossos sentidos, envolvendo, portanto, tanto os elementos visíveis como os não visíveis presentes nesse lugar. É por meio da observação de uma paisagem – natural ou cultural – 18 que identificamos a maneira como no decorrer do tempo as pessoas, organizadas em sociedade, transformam o espaço geográfico. - Problemática/questões da pesquisa: auxiliar os alunos a definirem questões que complementam e orientam a investigação da situação-problema. - Na pesquisa aqui proposta, estas questões podem ser: Como identificar os elementos naturais e culturais numa paisagem?; Quais são os instrumentos e técnicas utilizados na transformação da paisagem natural em paisagem cultural?; De que maneira as paisagens podem revelar como os grupos sociais se relacionam entre si e com a natureza do lugar onde vivem? - Metodologia da pesquisa: discutir com os alunos os procedimentos e métodos de pesquisa mais adequados para: levantar e coletar as fontes (pesquisa em sites de busca na Internet, privilegiando endereços de pesquisas escolares; documentários e produções discentes e docentes postadas no Youtube, em blogs e outros sites; boxes de livros didáticos que trazem indicações de estudo da paisagem; entrevistas com professore etc.), as fontes possíveis de serem encontradas são múltiplas e variam conforme os procedimentos utilizados para levantá-las, o contexto social onde os discentes envolvidos na pesquisa estão inseridos; explorar as fontes e refletirsobre a situação-problema e questões da pesquisa (atividades de leitura, discussão em grupo; comparação entre as fontes para observar como explicam os conceitos abordados na pesquisa; registrar e socializar as descobertas feitas (produção de relatório individual e/ou coletivo, construção de blog na Internet; criação de slides/pôsteres para apresentar em seminários; encenações e outros). Para organizar essas atividades, é importante definir um cronograma e quem serão os responsáveis por cada etapa/atividade da pesquisa. - Nesta pesquisa propomos utilizar mostra de dois vídeos (Rio de Janeiro e Bonito) e a letra da música "Paisagem da Janela", de Milton Nascimento, para facilitar a compreensão da problemática proposta para esta pesquisa. O professor deve solicitar aos grupos que pesquisem sobre alguns pontos referentes ao assunto e ao nosso objeto específico. Eles devem encontrar as seguintes modalidades de fontes: • artigos científicos; • artigos em revistas de grande circulação; • sites institucionais e voltados a escolas, que abordem o tema com propriedade. Resultados: no momento da elaboração do projeto de pesquisa oriente os alunos em relação aos registros, elaboração dos relatórios e socialização dos resultados da pesquisa. - Sugerimos que o registro das descobertas realizadas com esta pesquisa seja feito por meio da produção de relatório coletivo, incentivando a cooperação e a colaboração de todos os membros do grupo, e a socialização dos conhecimentos adquiridos seja feita através da elaboração de slides para serem apresentados em seminários. 19 Pesquisa - Após elaborar e registrar o projeto de pesquisa, conforme descrito nas atividades anteriores inicia-se o desenvolvimento de cada etapa da pesquisa, a partir da situação-problema: Como os elementos que compõem uma paisagem podem nos contar um pouco sobre a dinâmica da natureza e dos seres humanos que ali vivem? - Pergunte aos alunos: • Que elementos naturais e culturais podem ser identificados nas paisagens "? • Que características prevalecem numa paisagem urbana e numa paisagem rural? - Permita que os grupos discutam as questões anteriores, façam registros em arquivos Kword e expressem verbalmente suas observações. O objetivo, neste momento, é identificar o conhecimento prévio dos grupos sobre um dos pontos fundamentais para este trabalho: auxiliá-los a compreenderem que os elementos que compõem uma paisagem podem nos contar um pouco sobre a dinâmica da natureza e dos seres humanos que ali vivem. Assim, oriente-os para que consultem as fontes de pesquisa, buscando compreender que os elementos naturais são aqueles que se originam de processos e fenômenos da natureza, por exemplo, a vegetação, a fauna, a flora, as formas de relevo, os tipos de clima e de solos, os cursos d’água, dentre outros. Já os elementos culturais ou sociais são aqueles criados pelos seres humanos, utilizando diferentes técnicas, como as edificações nos centros urbanos (casas prédios, viadutos, avenidas etc.) ou, ainda, as lavouras, as pontes, as hidrelétricas etc. Auxilie-os, também, a entenderem que cada lugar, seja em nosso país ou em qualquer parte do mundo, possui especificidades decorrentes da combinação de uma série de elementos, sejam eles naturais ou concebidos pela ação humana. A percepção do observador sobre a paisagem Passo a passo - Agora, sugerimos que o professor utilize como metodologia a letra da música "Paisagem da janela", de autoria do compositor e intérprete Milton Nascimento, disponíveis no endereço http://letras.terra.com.br/milton-nascimento/47443/. Paisagem da Janela Milton Nascimento Da janela lateral do quarto de dormir Vejo uma igreja, um sinal de glória Vejo um muro branco e um voo pássaro Vejo uma grade, um velho sinal Mensageiro natural de coisas naturais Quando eu falava dessas cores mórbidas Quando eu falava desses homens sórdidos 20 Quando eu falava desse temporal Você não escutou Você não quis acreditar Mas isso é tão normal Você não quis acreditar E eu apenas era Cavaleiro marginal lavado em ribeirão Cavaleiro negro que viveu mistérios Cavaleiro e senhor de casa e árvores Sem querer descanso nem dominical Cavaleiro marginal banhado em ribeirão Conheci as torres e os cemitérios Conheci os homens e os seus velórios Quando olhava da janela lateral Do quarto de dormir Você não quis acreditar Mas isso tão normal Você não quis acreditar Mas isso tão normal Um cavaleiro marginal Banhado em ribeirão Você não quis acreditar .... - Após ouvir a música e ler a letra com os alunos, questione: • Que elementos predominam nessa paisagem (naturais e culturais)? • É possível identificar elementos invisíveis existentes nesse lugar? Quais? • Como essa paisagem foi descrita? - Permita que os grupos discutam as questões anteriores, façam registros em arquivos Kword e expressem verbalmente suas observações. O objetivo, neste momento, é identificar o conhecimento prévio dos grupos e auxiliá-los a compreenderem que, em princípio, é muito comum a definição de paisagem terrestre como sendo a constituição de todos os elementos naturais e sociais, combinados entre si. No entanto, esclareça aos alunos que a ideia de paisagem compreende tudo que está presente em uma determinada extensão do espaço terrestre e que pode ser abarcado por todos os nossos sentidos, o que compreende os elementos visíveis e não visíveis presentes nesse lugar, ou seja, além dos elementos concretos que compõem a paisagem, com suas diversas cores, formas e tamanhos, ela compreende também a percepção do observador por meio de outros órgãos de sentido, como o tato, o olfato, e a audição. - Esclareça, também, que existem elementos na paisagem que revelam fluxo (trânsito de pessoas e automóveis, circulação de mercadorias por trem, avião ou navio, transmissão de informações (torres de TV, rádio, telefones etc.). 21 Socialização dos resultados das pesquisas e considerações finais Passo a passo - Agora, oriente os grupos para que apresentem uma sistematização dos conhecimentos adquiridos ao longo da pesquisa. Ressaltamos que esta atividade pode ser realizada ao longo de todo o desenvolvimento da investigação e, ao final, os registros sejam revistos e reconstruídos com o intuito de produzir um texto mais bem elaborado, com base nos dados coletados no decorrer do processo de pesquisa, propiciando uma reflexão da situação-problema. - Oriente os alunos sobre o significado das considerações finais de uma pesquisa. Explique que nesta etapa os grupos devem expressar o que concluíram desse processo e apontar para outras possibilidades de continuação desse estudo, por eles ou por outros pesquisadores interessados no tema. - Como sugerido no início desta aula, cada grupo deve fazer uma exposição, de forma resumida, utilizando slides. - Explique que o slide se caracteriza por apresentar, por meio de ilustrações, textos reduzidos e cores, uma mensagem clara e direta do tema escolhido. As ilustrações assemelham-se ao slogan, que exprimem numa frase a ideia central do que se quer transmitir. Um slide deve ser motivador, instrutivo e divulgador, podendo ser confeccionados usando figuras geométricas (quadrado, triângulo e circunferência) ou desenhos de traços (figuras de palito). A apresentação deve ser clara e objetiva, ou seja, eliminar tudo o que é supérfluo e que possa dispersar a atenção do observador. - Incentive, também, a construção de um blog na internet para a divulgação dos resultados, troca de experiências e de reflexões, sugestões, dentre outras possibilidades. Observação: para saber como criar blogs, os grupos devem, com o auxílio do laptop, acessar o site: https://support.google.com/blogger/answer/1623800?hl=pt e seguir as instruções dadas. - A partir dos resultados apresentados pelos grupos, reforce a ideia de que uma observação atenta das paisagens pode revelar o modo como a sociedade desenvolve suas atividades, o que as pessoas estão fazendo em um determinado momento e como se relacionamentre si e com a natureza do lugar onde vivem. - Os diferentes grupos sociais utilizam diferentes instrumentos e técnicas de trabalho na transformação da paisagem natural em paisagem cultural. - A percepção de uma paisagem depende da intenção do observador, portanto, a exposição dos resultados de cada grupo de pesquisa varia de acordo com o seu objetivo e sua relação com o lugar observado. Avaliação Entendemos que a avaliação deve acontecer durante todo o processo, considerando a participação, o desempenho e a colaboração dos alunos em cada atividade proposta. No entanto, considera-se relevante, após o desenvolvimento das atividades: 22 1. Pesquisa: verificar a capacidade dos alunos para realizarem pesquisa: - Valorizar a busca de informações sobre o tema em sites de pesquisa, em cada uma das atividades propostas. 2. Exposições: constatar se houve a compreensão dos conceitos estudados. - Discutir com os alunos sobre o que mudou em seus pontos de vista em relação aos conceitos abordados após a realização de cada atividade. 3. Comportamento individual e coletivo: observar as atitudes individuais e em grupo e constatar se houve mudanças significativas concernentes ao respeito a si mesmo e aos outros colegas. 4. Trabalho em grupo: avaliar a capacidade dos discentes para desenvolver ambientes de aprendizagem colaborativa. - Observar a disponibilidade, iniciativa e colaboração do aluno ao trabalhar em grupo. FONTE: Adaptado de <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=40107>. Acesso em: 19 set. 2021. DICA Paisagem: é o resultado de todos os elementos presentes em um local, A paisagem não é o espaço, pois se tirarmos a paisagem de um determinado lugar, o espaço não deixará de existir. A paisagem é mutável, isto é, ela se transforma ao longo do tempo, em função das diversas formas de produção do espaço pelas atividades humanas e naturais. Paisagem natural: é tudo que vem de origem da natureza sem sofrer alteração pela ação humana como montanhas, rios, florestas etc. Paisagem humanizada: é aquela que sofreu transformações pela ação humana, como construções de casas e estradas, indústria, pontes e muito mais. FONTE: <https://bit.ly/3F4PwY8>. Acesso em: 12 set. 2021. Nosso próximo assunto é sobre o conceito de lugar na Geografia. 3.4 LUGAR No cotidiano, utilizamos a expressão lugar para indicarmos uma localidade para onde se vai ou se foi. A expressão é usada como um tipo de referência necessária em ocasiões diversas, sem que se pense muito a respeito de suas implicações. A humanidade busca a construção de sua Geografia, desde a Antiguidade, na identificação de seus lugares: lugar onde a caça é boa, em que se conseguem bons frutos, proteção e sobrevivência. De acordo com Moreira (1998), nas experiências socioespaciais, por meio das vivências de cada lugar, as construções geográficas 23 vão se configurando como memória que se constrói coletivamente, dando expressão aos lugares. Historicamente, a necessidade de marcar os lugares e deixar sinais que permitissem ao ser humano voltar, bem como estabelecer relação entre o lugar e a experiência vivida ali e traçar caminhos para diferentes lugares dá origem à necessidade de elaborar mapas e outras representações cartográficas. O lugar, portanto, relaciona-se à própria configuração histórica da Geografia como prática social, como necessidade humana. “O aprendizado relacionado ao reconhecimento dos lugares e de seus significados em nossas vidas se inicia muito antes de entrarmos na escola e depende diretamente das relações sociais nas quais estamos inseridos” (MOREIRA, 1998, p. 5). Os lugares estão relacionados às ideias de identidade e pertencimento, ainda que em graus diferentes. Por exemplo, nossa casa é um lugar carregado de significados de pertencimento singular, ao passo que o planeta Terra é um lugar com sentido de pertencimento, porém ampliado não só em sentido escalar, como também nas experiências vividas. Portanto, o lugar não é somente um ponto definido por coordenadas geográficas, um ponto no espaço, uma localização física ou uma representação cartográfica; ele é a articulação da espacialidade com as relações sociais estabelecidas entre seres humanos e os elementos que compõem esse espaço. O conceito lugar é discutido na ciência geográfica, especialmente pelas perspectivas crítica e humanística. Para Santos (1997, p. 46), os lugares não são meras localizações escalares e pontuais, mas reflexos das complexidades sociais que se fazem no tempo histórico e se mostram no espaço: “[a] cada lugar geográfico concreto corresponde, em cada momento, um conjunto de técnicas e de instrumentos de trabalho, resultado de uma combinação específica que também é historicamente determinada”. Outra análise fundamental do autor é sua referência geográfica ao contexto da globalização. Para Santos (1997), uma análise geográfica na perspectiva totalidade- mundo só é possível em relação aos lugares, em uma correlação universal – particular – particular – universal. Em sua análise, Santos (1997) apresenta dois níveis relevantes geograficamente: o do mundo e o do lugar. Os eventos, os acontecimentos, especialmente agora, com a globalização, concretizam nos lugares as possibilidades de ação que retiram do mundo, integrando o que é universal e o que é do indivíduo. “O nível global e local do acontecer é conjuntamente essencial ao entendimento do mundo e do lugar” (SANTOS, 1997, p. 131). O lugar é um subespaço, reflexo das contradições da sociedade capitalista, com suas diferenças no espaço que podem ser fontes de rentabilidade e investimentos ou o oposto, denominado como produtividade geográfica. Santos (1997) relaciona a diversidade de aspectos componentes da espacialidade geográfica aos lugares. Um desses aspectos fundantes da sociedade é o trabalho. O autor considera que, atualmente, a informação se tornou o motor da divisão do trabalho, divisão que se materializa nos lugares. 24 Na obra intitulada Da totalidade ao lugar, Santos (2005) alerta para o risco de ideias pós-modernistas que sugerem a não existência do lugar. Segundo o autor, essas ideias banalizam, homogeneízam e esvaziam o lugar, utilizando metáforas que não servem para a análise da realidade. Santos (1997), na análise do lugar em relação à globalização, que ele denomina como perversa, alerta para o que ele chama de a força dos lugares. Esse aspecto leva em conta as resistências que os lugares apresentam em seus cotidianos. Há movimentos da sociedade civil que podem ser ampliados em busca de outra globalização. O lugar, nesse sentido, não é passivo, mas ativo em propor uma globalização que valorize o ser humano e é na atualidade a principal base de divisão do trabalho, o cotidiano, como conceito que caminha subjacente ao lugar, ganha novas dimensões, inclusive espaciais. Ana Fani Alessandri Carlos (1996), em análise geográfica específica do lugar também na perspectiva crítica, afirma que nele se manifesta o que é global de forma contraditória, sendo esse um ponto de articulação entre o local e o mundial. É, portanto, a realidade carregada de significado, uma parte da totalidade. Esse “próximo” (pensando a globalização na relação tempo-espaço) não é mais algo isolado do todo, mas uma representação, uma “amostra” desse todo do mundo, da sociedade e de sua essência. É no lugar que se concretizam as questões do mundo, de maneira contraditória e nada harmoniosa, próximas e distantes, onde os fenômenos se desmistificam. Em síntese, o lugar permite a compreensão desse espaço, pois revela, em seu cotidiano, os movimentos dessa produção social. Esse posicionamento nos leva a crer que, por suas especificidades, o lugar permite compreender as problemáticas do mundo por meio de sua espacialidade. O mundo se descortina através do lugar e revela, na espacialidade do cotidiano, do vivido, as relações sociais constituídas historicamente. A ideia de particular, identidade, reconhecimento e pertencimento,são representativas de uma realidade global, inclusive no que concerne às desigualdades. A produção social que se dá em cada lugar não é autônoma e não se faz de forma alheia à determinação da divisão social do trabalho, atrelada à própria configuração do espaço geográfico. O que se revela no lugar não é apenas a história de um povo, mas o peso da história humana. Portanto, os aspectos do lugar que são captados pelo corpo, pelos sentidos, pelo uso do espaço, o espaço da vida, aspectos mais considerados na perspectiva humanística de Geografia. A apropriação do espaço por meio de sua vivência, seja pelo trabalho, pelo lazer ou por outro motivo, o torna lugar e esses significados do lugar lhe conferem características de humano. 25 DICA Para incrementar suas aulas referente ao tema Lugar, na Geografia, sugerimos o uso do Google Earth. O Google Earth é um aplicativo de mapas em três dimensões mantido pelo gigante das buscas. Ele permite passear virtualmente por qualquer lugar do planeta, graças às imagens capturadas por satélite. Explore o mundo após fazer o download de Google Earth, programa grátis, em português e disponível para Windows, Mac, Linux, Android e iOS. FONTE: <https://www.techtudo.com.br/tudo-sobre/google-earth.html>. Acesso em: 15 set. 2021. 3.5 TERRITÓRIO No tema anterior, o conceito de lugar foi relacionado a pertencimento, identidade por sua vez o território é concebido como uma ferramenta útil para compreender as diferentes formas de apropriação do espaço, seu uso e ocupação. Auxilia na compreensão das relações de poder existentes na sociedade e que justificaram sua delimitação em certos momentos históricos, assim como sua alteração e acréscimos ao longo do tempo. O conceito de território é alicerçado em dois pressupostos básicos: O primeiro pressuposto é: território é diferente de espaço. Não só diferente, como lhe é posterior; origina-se do espaço. Mesmo a mera imagem do território que esteja contida em uma representação (cartográfica) indica que o espaço preexiste ao território. O segundo pressuposto é: a simples imagem do território equivale a uma apropriação simbólica do espaço como forma primária do território. Ela também abre a possibilidade de se pensar a territorialidade, que surge quando pessoas e grupos realizam uma ocupação do espaço, ainda que momentânea, esporádica e mais ou menos perceptível em seu movimento, conforme a escala em que for visualizada. Podemos, ainda, ensaiar as características comuns ao território: possuir área, recursos, povo, poder, limites e fronteiras. É assim que vemos o território ao pensarmos nos conflitos agrários, lutas por demarcação de terras, bem como no zoneamento urbano, na criação de corredores ecológicos ou estabelecimento de áreas verdes nos grandes centros, e assim por diante. No início da ciência geográfica moderna, o território foi entendido como o solo, chão, e o povo, a população. Era o substrato sobre o qual se organizava a sociedade, mas de um modo a constituir um Estado Moderno. Para Ratzel (1990, p. 73), “não é pos- 26 sível conceber um Estado sem território e sem fronteiras [...] assim, também a sociedade mais simples só pode ser concebida junto com o território que lhe pertence. O fato de esses dois organismos estarem ligados ao seu solo é a consequência natural da ligação evidente que une a criatura humana à Terra”. Na perspectiva de olhar o território a partir da temática conflitos, sem a compreensão desse termo, leva ao engano de que os territórios seriam frutos de (des) apropriações consensuais, invasões sem força opositora ou guerras sem mortos e feridos (consciência ingênua/mítica). Entretanto, o que é possível compreender, é que não pode haver território sem divergências, antagonismos, embates, ofensivas, resistências e reações (consciência crítica). Conceito de território Embora seja um termo polissêmico, podemos entender que o território se apresenta em diferentes escalas no espaço e no tempo. As escalas espaciais referem-se ao fato de que um território pode apresentar-se desde níveis mais amplos, como os territórios nacionais ou áreas de domínio de um determinado governo, até pontos locais, como os territórios de controle de narcotraficantes em bairros e ruas específicos de uma cidade. Já as escalas temporais referem-se àqueles territórios que se modificam em um determinado período, em que em um momento sua ocorrência representa um dado domínio, enquanto, em outro, já não é mais daquela forma. Quando um determinado grupo ou instituição estabelece sobre uma dada realidade a sua expressão territorial, falamos em territorialidade. Em alguns casos, ela expressa-se em locais não contínuos, interligados entre si, caracterizando os territórios-rede. De toda forma, a expressão dos territórios é a da relevância das práticas socioespaciais, que atuam, direta e indiretamente, no processo de transformação do espaço geográfico em suas paisagens, regiões e lugares. FONTE: Adaptado de <https://www.preparaenem.com/Geografia/conceito-territorio.htm>. Acesso em: 20 set. 2021. NOTA Santos (1993) reconhece que o território não é apenas fundamento do Estado- nação, mas, como território usado, designa o conjunto de objetos e ações, sinônimo de espaço humano e habitado, além de acolher novos recortes, podendo ser formado no período contemporâneo por lugares contíguos e lugares em rede. Em textos, já dos anos 2000, é que Santos (2000a, 2002) concebe o território como chave explicativa para o período contemporâneo, mais marcado pela globalização do dinheiro e transnacionalização dos intercâmbios sob o paradigma do meio técnico-científico informacional. O território usado, para o autor, aparece como uma categoria de análise se comportando como o “fundamento do trabalho, lugar de residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida (SANTOS apud FUINI 2015, p. 254-255). 27 3.6 REGIÃO O termo região é geralmente usado no cotidiano, sendo empregado em referência a uma área do espaço mais ou menos delimitada. Na Geografia, o conceito de região refere-se a uma porção superficial designada a partir de uma característica que lhe é marcante ou que é escolhida por aquele que concebe a região em questão. Portanto, existem regiões naturais, regiões econômicas, regiões políticas, entre muitos outros tipos. É um dos conceitos mais difundidos e tradicionais da Geografia. Sua concepção remonta às origens do próprio pensamento geográfico. De acordo com Haesbaert (2019, p. 118), Como todo conceito funda e/ou responde a uma questão, devemos nos indagar sobre qual seria a principal problemática mobilizada pelo conceito de região e que, justificando a permanência do termo, de alguma forma se mantém ao longo da história do pensamento geográfico. Pode-se afirmar que, como base para a grande distinção – e relação – entre Geografia Geral ou Sistemática e Geografia Regional, o todo e as partes, região diz respeito em primeiro lugar às questões elementares que envolvem a diferenciação do espaço geográfico, permitindo identificar suas partes ou singularidades através de diferenças de natureza ou tipo e diferenças de grau (como as desigualdades). Em certo sentido, a região não existe diretamente, mas é uma construção intelectual humana, essa noção está vinculada ao conceito de regionalismo, que expressa o conjunto de costumes, expressões linguísticas e outros valores que apresentam variação entre uma região e outra, dando uma identidade coletiva para os diferentes lugares. Para alguns pesquisadores, a dinâmica econômica é um elemento diferenciador/ identificador de regiões, segundo Haesbaert (2019, p. 119): O principal elemento diferenciador/identificador de regiões refere- se à dinâmica econômica, nascem, assim, regiões como a região polarizada ou funcional urbana, comandada pelas diferentes funções econômicas de cada centro urbano e a hierarquia estabelecida entre eles, especialmente através do seu papel comercial e de prestação
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