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Indaial – 2022 da GeoGrafia Prof. Carlos Odilon da Costa 1a Edição didática e MetodoloGia do ensino Elaboração: Prof. Carlos Odilon da Costa Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C837d Costa, Carlos Odilon da Didática e metodologia do ensino da Geografia. / Carlos Odilon da Costa – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 238 p.; il. ISBN 978-85-515-0466-6 1. Ensino da Geografia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 Acadêmico, bem-vindo ao estudo da Disciplina Didática e Metodologia do Ensino da Geografia. Por meio deste livro didático você aprenderá o ofício de professor e refletirá sobre ele, em particular na Geografia. Esta disciplina, em certo sentido, tem como foco o processo de aprendizagem e das inter-relações na sua globalidade, isto é, tudo o que nos ensinam ou o que ensinamos está ligado a uma didática específica, seja na escola, em casa, no trabalho ou simplesmente no nosso cotidiano. Dessa forma, está inteiramente ligada às teorias da educação e as metodologias de ensino e aprendizagens. A disciplina possui o caráter pedagógico, voltada para o ensino, de grande importância na formação de professores. Também é importante para todo e qualquer profissional que se preocupe com a transformação da vida das pessoas, tanto no aspecto quantitativo quanto qualitativo. Na Unidade 1, abordaremos os Recursos Didáticos e Procedimentos Metodológicos para o Ensino de Geografia, para que você compreenda que o processo do ensinar e aprender, torna-se um elemento imprescindível fornecendo suporte para os professores (e futuros professores) desenvolverem a sua prática educativa, à medida que amplia a forma pela qual pensam as ações, refletindo sobre o sentido social e político de sua prática no âmbito da sala de aula e onde mais acontecer o processo educativo. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos o Ensino de Geografia: Planejamento, Avaliação e Construção de Conhecimentos, enfocando que o planejamento e avaliação estão presentes em quase todas as nossas ações, pois norteiam a realização das atividades. Portanto, são essenciais em diferentes setores da vida social, tornando- se imprescindível também na atividade docente. As ausências desses dois elementos podem ter como consequência, aulas monótonas e desorganizadas, desencadeando o desinteresse dos alunos pelo conteúdo e tornando as aulas desestimulantes. Por fim, na Unidade 3, aprenderemos sobre o Ensino de Geografia e a BNCC, você perceberá que a Geografia é incorporada desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, uma mudança estrutural importante da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na nova abordagem proposta pelo documento, a ênfase recai sobre o pensamento espacial e o raciocínio geográfico. Para se aproximar dos objetivos de aprendizagem, o professor também precisa se apropriar de conteúdos procedimentais. Bons estudos! Prof. Carlos Odilon da Costa APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e o porquê você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é uma dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - RECURSOS DIDÁTICOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................................... 1 TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA ESCOLAR .............................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 GEOGRAFIA ESCOLAR: BREVE HISTÓRIA ........................................................................3 3 GEOGRAFIA ESCOLAR: TEMAS E CONCEITOS .................................................................. 7 3.1 ESPAÇO GEOGRÁFICO .........................................................................................................................8 3.2 NATUREZA .............................................................................................................................................12 3.3 PAISAGEM ............................................................................................................................................ 13 3.4 LUGAR ...................................................................................................................................................22 3.5 TERRITÓRIO ..........................................................................................................................................253.6 REGIÃO .................................................................................................................................................. 27 3.7 REDES .....................................................................................................................................................31 4 GEOGRAFIA ESCOLAR E A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO............... 34 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 42 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 44 TÓPICO 2 - A DIDÁTICA NA GEOGRAFIA ESCOLAR ...........................................................47 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................47 2 INTRODUÇÃO À DIDÁTICA ................................................................................................47 2.1 ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DE ENSINO .................................................................................. 48 2.2 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS ........................................................................................54 2.2.1 Tendência liberal tradicional ...................................................................................................54 2.2.2 Tendência liberal renovada progressivista .........................................................................54 2.2.3 Tendência liberal renovada não diretivo .............................................................................55 2.2.4 Tendência liberal tecnicista ...................................................................................................55 2.3 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS .........................................................................55 2.3.1 Tendência progressista libertadora .......................................................................................55 2.3.2 Tendência progressista libertária .........................................................................................56 2.3.3 Tendência progressista crítico-social dos conteúdos ....................................................56 3 DIDÁTICA, DISCIPLINARIDADE, INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE ...........................................................................................57 3.1 DISCIPLINARIDADE .............................................................................................................................58 3.2 INTERDISCIPLINARIDADE.................................................................................................................59 3.3 TRANSDISCIPLINARIDADE ...............................................................................................................60 4 INTRODUÇÃO À DIDÁTICA NA GEOGRAFIA ESCOLAR ................................................... 61 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 63 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 64 TÓPICO 3 - AS METODOLOGIAS NA GEOGRAFIA ESCOLAR .............................................67 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................67 2 INTRODUÇÃO ÀS METODOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: TEORIAS DE APRENDIZAGENS E DE ENSINO ......................................................................................................................67 3 ENSINAR E APRENDER GEOGRAFIA POR MEIO DE PROJETOS ..................................... 71 4 PRINCIPAIS ABORDAGENS METODOLÓGICAS NO ENSINO DA GEOGRAFIA ................73 4.1 GEOGRAFIA TRADICIONAL ................................................................................................................ 74 4.2 GEOGRAFIA CRÍTICA ......................................................................................................................... 75 4.3 GEOGRAFIA PÓS-CRÍTICA ................................................................................................................ 77 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 80 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 84 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 85 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................87 UNIDADE 2 — ENSINO GEOGRAFIA: PLANEJAMENTO, AVALIAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS ................................................................................... 91 TÓPICO 1 — O PLANEJAR NA GEOGRAFIA ESCOLAR ....................................................... 93 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 93 2 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO NO ENSINO DA GEOGRAFIA ................................. 93 3 PLANEJAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL NA GEOGRAFIA E BNCC .......................99 4 PLANEJAMENTO NO ENSINO MÉDIO NA GEOGRAFIA E BNCC ....................................105 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 113 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 114 TÓPICO 2 - O AVALIAR NA GEOGRAFIA ESCOLAR ...........................................................117 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................117 2 INTRODUÇÃO AO AVALIAR NO ENSINO DA GEOGRAFIA ...............................................117 3 AVALIAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL NA GEOGRAFIA E BNCC ..............................120 4 AVALIAÇÃO NO ENSINO MÉDIO NA GEOGRAFIA E BNCC .............................................123 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................126 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 127 TÓPICO 3 - GEOGRAFIA E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NO SÉCULO XXI ..............................................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................129 2 GEOGRAFIA AMBIENTAL EM SALA DE AULA ................................................................129 3 GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE AULA ..................................................................133 4 CARTOGRAFIA E GEOTECNOLOGIAS EM SALA DE AULA ............................................134 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................143 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................146 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................148 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................150 UNIDADE 3 — ENSINO DE GEOGRAFIA E A BNCC ............................................................ 151 TÓPICO 1 — BNCC E A EDUCAÇÃO BÁSICA ......................................................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................153 2INTRODUÇÃO À BNCC ....................................................................................................153 3 BNCC: EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL ............................................. 157 3.1 EDUCACÃO INFANTIL ....................................................................................................................... 157 3.2 ENSINO FUNDAMENTAL ................................................................................................................. 159 4 BNCC: ENSINO MÉDIO ....................................................................................................162 4.1 ITINERÁRIOS FORMATIVOS .............................................................................................................168 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 176 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................178 TÓPICO 2 - BNCC E GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL ........................................ 181 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 181 2 ENSINO DA GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...................................................... 181 2.1 O EU, O OUTRO E O NÓS ..................................................................................................................182 2.2 CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS ................................................................................................183 2.3 TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS ..............................................................................................185 2.4 ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO .........................................................................186 2.5 ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES ...........................188 3 ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL: ANOS INICIAIS........................190 4 ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL: ANOS FINAIS ......................... 200 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................215 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 217 TÓPICO 3 - BNCC E GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO .......................................................219 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................219 2 ENSINO DE GEOGRAFIA E ENSINO MÉDIO ....................................................................219 3 ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO: COMPETÊNCIAS E HABILIDADES ........221 4 ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO: BNCC E A SALA DE AULA ..................... 229 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 232 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 235 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 236 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 238 1 UNIDADE 1 - RECURSOS DIDÁTICOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • verificar a importância do ensino da Geografia na sala de aula; • compreender a trajetória do ensino de Geografia na Educação Básica; • conhecer metodologias e recursos para o ensino de Geografia na atualidade; • conhecer as atuais tendências no ensino de Geografia e as categorias de análise geográfica do espaço; • identificar as principais orientações metodológicas nos documentos oficiais; • analisar metodologias e recursos quanto à adequação às atribuições atuais do ensino da Geografia e da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA ESCOLAR TÓPICO 2 – A DIDÁTICA NA GEOGRAFIA ESCOLAR TÓPICO 3 – AS METODOLOGIAS NA GEOGRAFIA ESCOLAR Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 INTRODUÇÃO À GEOGRAFIA ESCOLAR 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 1, você estudará a Geografia escolar que cumpre importante papel na formação do indivíduo em sua integralidade; podendo auxiliar a ampliar suas concepções de mundo, a compreender as transformações e processos que ocorrem através da interação dinâmica entre os elementos da natureza, possibilitando ainda uma melhor apreensão das relações que se estabelecem entre sociedade e natureza. E, por último no Tópico 3 apresentaremos como o desenvolvimento da competência do raciocínio geográfico pensado a partir das estratégias pedagógicas e das espacialidades por meio do aporte teórico-metodológico das categorias de análise da Geografia são disponibilizados em sala de aula por parte dos professores de Geografia. Na Geografia Escolar breve história, entraremos nesta reflexão a partir do período moderno, tempo histórico de consolidação da Geografia enquanto Ciência e apresentaremos essa Ciência no Brasil. Por sua vez, em Geografia Escolar temas e conceitos, serão apresentados os temas e conceitos importantes da Geografia que possui conceitos e especialidades distintas e são importantes instrumentos de análise do espaço geográfico, constituído a partir das relações humanas com a natureza. E a Geografia Escolar e a construção do pensamento geográfico, compreende um conjunto de temas que perpassam a construção do pensamento geográfico em distintas dimensões e perpassa as tramas que envolvem a docência, configurando elementos considerados essenciais ao ensino de Geografia. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 2 GEOGRAFIA ESCOLAR: BREVE HISTÓRIA Acadêmico, como você percebeu no título deste tópico, vamos apresentar de forma mais breve o caminho percorrido pela Geografia enquanto ensino escolar. No contexto mais global entraremos de maneira rápida, pois em diversas disciplinas do seu curso, você encontrará um vasto material comentando sobre a Geografia Escolar no contexto mundial. Focaremos com mais profundidade a Geografia Escolar no Brasil. 4 A Geografia, a partir do momento de ser tratada como ciência, apresentou algumas concepções ou correntes de pensamento que nortearam o trabalho daqueles que se dedicaram a estudá-la. Duas grandes escolas fundamentaram o pensamento geográfico no mundo do final do século XIX e início do século XX: a alemã, considerada “determinista” e a francesa, denominada “possibilista”. Essas duas escolas constituíram- se em referências clássicas da Geografia. A partir delas é que surgiram outras correntes de pensamento nesta área do conhecimento humano. De acordo com Heinsfeld (2012, p. 27): No século XIX, a Geografia adquiriu o status de ciência. Um dos primeiros passos para esta concretização foi transformá-la em uma matéria universitária. Foi na Prússia, um dos reinos alemães, que surge a Geografia universitária, método de transmissão de conhecimento de grande importância para a formação das escolas geográficas nacionais. Um dos mais importantes antecedentes da criação de uma Geografia universitária foi proporcionado pelo filósofo Immanuel Kant, que representa o iniciador dessa tradição científica, fazendo uma rigorosa reflexão filosófica sobre os conceitos de espaço, posição e região. Na universidade de Königsberg, no semestre de verão, Kant sempre ministravaum curso de conhecimento do mundo físico. É a partir dele que o caráter descritivo da Geografia pode ser compreendido. Para ele, o conhecimento advém da percepção pelos sentidos, havendo um sentido interno que revela o homem e um “sentido externo”, que revela a natureza (Geografia física). A percepção orienta a experiência que para isto precisa ser sistematizada. À Geografia cabe esta sistematização, no plano do espaço, cabendo à história sistematizá-la no plano do tempo (HEINSFELD, 2012, p. 27-28). Na concepção Kantiana, a Geografia física comportava vários ramos: uma Geografia moral, uma Geografia política, uma Geografia matemática, uma Geografia comercial, uma Geografia teológica, uma Geografia literária. Tanto a história como a Geografia alargam, pois, o campo de conhecimentos do ponto de vista do tempo e do espaço. A história é uma narrativa enquanto a Geografia é uma descrição. Por conseguinte, pode-se ter uma descrição da natureza, mas não uma história da natureza. A Geografia e a história preenchem a totalidade do campo de conhecimentos: a Geografia o do espaço, e a história o do tempo. 5 NOTA Os cientistas prussianos Alexander von Humboldt e Karl Ritter dividem a condição de fundadores da Geografia moderna, dando à Geografia um caráter sistematizado. Os dois pertencem à geração que vivenciou a Revolução Francesa e, juntos, fundam a Sociedade Geográfica de Berlim. Ambos vão dar à Geografia um caráter científico, contribuindo para o desenvolvimento dessa ciência FONTE: HEINSFELD, A. História do pensamento geográfico ocidental. Passo Fundo: PPGH/UPF, 2012, p. 28. As concepções acerca da Geografia como ciência influenciaram o que e de que forma ela foi ensinada nas escolas. Em momentos marcados por uma concepção positivista, essa ciência traduzia-se numa disciplina que se pautava pela descrição acrítica e determinista da paisagem. No contexto brasileiro, a disciplina teve início no século XIX, inicialmente no Colégio Pedro II, na cidade do Rio de Janeiro, depois foi sendo incorporada ao currículo oficial das demais escolas do país. A introdução da disciplina no século XIX no país teve como objetivo a formação de cidadãos a partir da difusão da ideologia do nacionalismo patriótico. A Geografia foi caracterizada como uma disciplina voltada para a transmissão de dados e informações gerais sobre os territórios do mundo em geral e dos países em particular (CAVALCANTI, 1998, p. 18). Nas palavras de Moreira (1998), a Geografia consolidou-se, assim, como uma ciência a favor do Estado e da manutenção da ordem vigente ao ficar atrelada à descrição e explicação superficial e aparente da realidade, a Geografia pouco contribuiu para a compreensão do espaço geográfico como resultado da materialidade do trabalho. Nas escolas, essa Geografia de base empirista e descritiva ficou conhecida como tradicional, perdurando por muitos anos não só na estrutura curricular, mas também nas práticas pedagógicas apresentadas pelos professores. Traduzia-se pela tentativa de explicação quantitativa e objetiva da realidade, pela ideia predominante de neutralidade da ciência e pela abordagem da relação ser humano/natureza sem privilegiar as relações sociais, abstraindo o ser humano das explicações espaciais. A essa forma de conduzir a aula, Paulo Freire usa em seus escritos o termo Educação Bancária. Na visão bancária da educação, o saber é uma das doações que se julgam os sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual se encontra no outro (FREIRE, 1987, p. 67). 6 DICA Paulo Freire (1987), em sua conhecida obra intitulada Pedagogia do Oprimido, conceitua a Educação Bancária como imposição do conhecimento realizada pelo professor sobre o aluno na medida em que o professor já os havia adquirido e os dispõe, sendo, assim, possível sua ação de depósito desse conhecimento nos alunos. Representa todo e qualquer tipo de educação tradicional, onde o professor, considerado como ser dotado de conhecimento, irá transmiti-lo aos alunos. Mais que isso, o professor deposita nos alunos os conteúdos, com o intuito de sacá-los no dia da avaliação, uma educação desprovida de sentido. Nas últimas décadas do século XX é que a concepção tradicional de Geografia e suas repercussões no currículo escolar começaram a perder força no cenário educacional brasileiro. Podemos citar os livros didáticos de Melhem Adas, os encontros organizados pela Associação de Geógrafos do Brasil (AGB) também contribuíram para o movimento de renovação do ensino de Geografia, o que se ampliou a partir da década de 1980 com a redemocratização do país. Cavalcanti (1998) afirma que as reformulações da ciência geográfica enquanto conjunto de reflexões mais gerais sobre os fundamentos epistemológicos, ideológicos e políticos, levaram a alterações significativas no campo de ensino da Geografia, agregando a essa discussão elementos importantes da análise marxista e de suas categorias. A partir das discussões iniciais sobre o caráter ideológico da Geografia, passaram a ser incorporados elementos importantes para a análise dos arranjos espaciais, passando a serem interpretados em sua totalidade e de forma dialética. A nova Geografia proposta, comprometida com o papel transformador do professor e da sociedade, passou a ser denominada Geografia Crítica. Embora tenha levado muitos anos a chegar às escolas, essa nova perspectiva de ensino ganhou força nos espaços universitários e de discussão acadêmica, principalmente pelos anos de 1990. Em certo sentido, a Geografia apresentou avanços, pois passou a priorizar as relações sociais, o trabalho, a produção e a transformação do espaço geográfico, analisando a apropriação da natureza em função dos interesses sociais, portanto, numa sociedade capitalista, sempre desigual e contraditória. A Geografia, além de explicar o mundo, passou a ser compreendida como ciência que contribui para transformá-lo. Nos ventos dessas mudanças, podemos ainda citar a LDB (BRASIL, 1996), que estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional de forma democrática. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), referenciais para a renovação e reelaboração da proposta curricular, reforçavam a importância de cada escola formular seu projeto educacional, compartilhado por toda a equipe, para que a melhoria da qualidade da 7 educação resulte da corresponsabilidade entre todos os educadores. E na atualidade a BNCC é o documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. A partir da década de 2000, no Ensino da Geografia, foram incorporadas as abordagens e tendências pós críticas, pós-modernas, com temas e conceitos voltados às questões de gênero, sustentabilidade, gerações e temporalidades, virtualidade, entre outros assuntos atuais. Portanto, vivemos uma diversidade de métodos, de abordagens e concepções de ensinar e aprender. Uma aula interessante que você, acadêmico, poderá elaborar a partir destes conhecimentos, trabalhados neste tópico, com seus alunos, seria a partir do Tema: A importância da Geografia na vida humana. Você pode preparar de forma expositiva, ou com recursos tecnológicos, por exemplo uso de computadores, retroprojetores (Datashow), ou cartolinas. Pode envolver os alunos com um projeto de trabalho, partindo desta pergunta: quais benefícios o estudo da Geografia traz para a vida em sociedade? Deixe os alunos refletirem, pesquisarem e se envolverem nas aulas. Até o próximo assunto! DICA A Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que reúne geógrafas e geógrafos, professoras e professores, estudantes de Geografia, e pessoas de outras áreas que se alinham aos princípios daentidade, preocupados com a promoção do conhecimento científico, filosófico, ético, político e profissional da Geografia para que se possa oferecer à crítica da sociedade uma abordagem geograficamente consistente dos seus/nossos problemas. Acesse o site e fique por dentro desta associação: https://www.agb.org.br/. 3 GEOGRAFIA ESCOLAR: TEMAS E CONCEITOS Acadêmico, vamos estudar, neste momento, uma série de conceitos que são considerados fundamentais para o Ensino da Geografia, denominados por alguns autores como categorias da Geografia. Portanto, os principais conceitos são: espaço geográfico, lugar, paisagem, região, território, natureza e redes. Para se entender o espaço geográfico é preciso também compreender outros conceitos denominados categorias de análise na Geografia. 8 De acordo com a BNCC (BRASIL, 2020, p. 361), Ao utilizar corretamente os conceitos geográficos, mobilizando o pensamento espacial e aplicando procedimentos de pesquisa e análise das informações geográficas, os alunos podem reconhecer: a desigualdade dos usos dos recursos naturais pela população mundial; o impacto da distribuição territorial em disputas geopolíticas; e a desigualdade socioeconômica da população mundial em diferentes contextos urbanos e rurais. Desse modo, a aprendizagem da Geografia favorece o reconhecimento da diversidade étnico-racial e das diferenças dos grupos sociais, com base em princípios éticos (respeito à diversidade e combate ao preconceito e à violência de qualquer natureza). Ela também estimula a capacidade de empregar o raciocínio geográfico para pensar e resolver problemas gerados na vida cotidiana, condição fundamental para o desenvolvimento das competências gerais previstas na BNCC. Nessa direção, a BNCC está organizada com base nos principais conceitos da Geografia contemporânea, diferenciados por níveis de complexidade. Embora o espaço seja o conceito mais amplo e complexo da Geografia, é necessário que os alunos dominem outros conceitos mais operacionais e que expressem aspectos diferentes do espaço geográfico: território, lugar, região, natureza e paisagem. 3.1 ESPAÇO GEOGRÁFICO A BNCC cita que o espaço geográfico é o conceito mais amplo e complexo da Geografia, por isso vamos iniciar por ele. O que é o espaço geográfico? Espaço Geográfico é o espaço habitado, transformado e utilizado pelo ser humano. É a porção da superfície terrestre que abriga as sociedades, envolvendo também os pontos utilizados para a exploração e extração de recursos naturais. Não se trata apenas de um “palco” ou um “produto”, pois ele é resultado e, também, resultante das ações humanas. Além do próprio ser humano, compõem o espaço geográfico todas as suas obras e os meios naturais que interferem em suas atividades, como as cidades, as plantações e o meio rural, as indústrias, os objetos, os rios, os climas etc. A produção do espaço geográfico, ou seja, o processo pelo qual o ser humano transforma e habita o meio em que vive depende da natureza. A partir da exploração e extração dos recursos naturais, o ser humano desenvolve as suas atividades para a sua reprodução e sobrevivência. 9 Essa transformação aconteceu desde o surgimento do ser humano. Sociedades antigas ou agrupamentos tribais utilizaram-se dos recursos naturais para o desenvolvimento de sua vida em sociedade, transformando o espaço natural em geográfico. Assim, surgiram as primeiras civilizações. Até mesmo os povos nômades utilizavam e transformavam a natureza, produzindo o espaço geográfico. Com o passar do tempo, o processo de transformação e produção do espaço foi se intensificando graças ao aprimoramento das técnicas, que permitiram que o homem melhorasse sua capacidade de desenvolvimento. Isso acontece desde os tempos pré-históricos, quando o ser humano aprendeu a produzir ferramentas e estratégias de cultivo que auxiliassem na produção e extração de alimentos. FONTE: Adaptado de: <https://www.preparaenem.com/Geografia/o-que-espaco-geografico.htm>. Acesso em: 21 ago. 2021. INTERESSANTE O espaço geográfico é um dos principais conceitos da Geografia, uma vez que se trata do objeto de estudo dessa ciência. Assim como em outros campos do conhecimento, não existe uma única forma de definir o espaço geográfico. Desde a corrente da Geografia tradicional, passando pela quantitativa, pela crítica e chegando até a humanista e a cultural, muitos autores contribuíram para a construção do entendimento acerca do que seja o espaço geográfico. MAPA MENTAL ESPAÇO GEOGRÁFICO FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/Geografia/espaco-geografico.htm>. Acesso em: 11 nov. 2021. 10 Vamos colocar em prática o que você já aprendeu sobre o espaço geográfico. QUADRO 1 – PLANO DE AULA Série/Ano: 6º e 7º Disciplina: Geografia. Conteúdo: O planeta Terra: mudanças no espaço geográfico. Objetivo da aula: • entender o papel do homem na transformação do espaço geográfico. • Visualizar as mudanças geográficas cometidas pelo homem e pela natureza. • Obter informações sobre diferentes países e cidades. Recursos didáticos: • Google Earth (https://www.google.com.br/earth/) • Sistema Operacional: Windows (XP, Vista, 7, 8 ou 10); Mac OS X 10.6.0 ou superior; Linux LSB 4.0. • Memória de Sistema (RAM), mínimo de 512 MB. • Disco Rígido 500MB de espaço livre. • Placa Gráfica DirectX 9 e 3D, com 64 MB de VRAM. • Datashow para apresentação e demonstração do software. • Laboratório de informática para utilização do software pelos alunos. Habilidades desenvolvidas com o uso do software: • analisar imagens geográficas; • extrair informações em mapas geográficos; • utilizar uma ferramenta básica de geoprocessamento. Duração da atividade: duas aulas. Procedimentos metodológicos/didáticos: No primeiro encontro/aula desta proposta de ensino, utilizando o Datashow, o professor deverá demonstrar o software e algumas de suas funcionalidades. É necessário que os alunos aprendam como (1) navegar pelo globo, (2) efetuar uma pesquisa, (3) selecionar as informações que desejam visualizar e (4) utilizar a linha do tempo. Nesta demonstração pode-se utilizar um exemplo de mudança geográfica em nosso país, como a cidade de Brasília ao passar dos anos. Também é interessante demonstrar imagens sobre o desmatamento ao longo dos anos. Já no segundo encontro/aula, em um laboratório, os alunos terão acesso ao software e irão utilizá-lo para realizar atividades. Pode-se dividir os alunos em pequenos grupos. Nesta aula, o papel do professor é de orientador, estimulando e guiando os alunos na exploração das informações que estão disponíveis no Google Earth. Atividade Proposta para a Aula em Laboratório: para aula em laboratório, o professor deverá elaborar um formulário a ser preenchido pelos alunos durante a realização da atividade com o software. Neste formulário devem conter informações gerais como: os locais pesquisados, o que mudou ao longo do tempo e qual a conclusão da equipe após ver essas mudanças. É interessante selecionar áreas distintas para cada grupo, como um país para cada equipe. A partir disto, os alunos deverão buscar uma área onde ocorreram mudanças geográficas realizadas pelo homem e outra pela 11 natureza. A princípio, o professor deve listar cidades-base, como as capitais, para auxiliar os alunos no início. Através do recurso da linha do tempo, os alunos devem verificar e diferenciar as mudanças ocorridas pelo homem e pela natureza, além de colher os dados disponíveis pelo painel de camadas e guardar as informações encontradas. Ao final da atividade, os alunos deverão retornar ao professor o formulário com todas as informações encontradas e a conclusão. Opcionalmente, cada equipe pode fazer uma breve apresentação expondo seus resultados. Avaliação: Os alunos serão avaliados com base no formulário entregue ao professor ou pela apresentação realizada. Deve-se focar na conclusão em que os alunos chegaram ao término da atividade, expondo sua visão sobre o assunto abordado.FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3F4bFFW>. Acesso em: 20 ago. 2021. DICA Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da Geografia Milton Santos concebeu este livro em colaboração com Denise Elias, visando debater algumas realidades do presente e os conceitos delas resultantes. Para isso, procurou situar a Geografia no contexto do mundo atual, buscando, ademais, rediscutir categorias tradicionais e sugerir algumas linhas de reflexão metodológica, tomando como ponto de partida as metamorfoses do espaço habitado. Para o autor, não é suficiente falar do espaço, é preciso também definir categorias de análise à luz da história concreta, diferenciando-o, assim, da paisagem e da configuração territorial, ainda que essas compareçam como categorias fundamentais para seu entendimento. Nessa discussão, tem papel fundamental, o reconhecimento da imbricação crescente entre o natural e o artificial, tema que permite retomar a discussão sobre a dicotomia entre Geografia física e Geografia humana. FONTE. <https://www.amazon.com.br/>. Acesso em: 17 nov. 2021. 12 3.2 NATUREZA Inserida em um contexto de rápidas e constantes transformações, a sociedade humana encontra-se submersa em uma complicada e complexa rede de eventos sociais e ambientais. Particularmente, na Geografia, essas transformações verificam- se com muita intensidade, já que, o seu objeto de estudo é composto tanto pelo social como pelo natural. Na Geografia, a natureza é interpretada como natural; artificial; ou até mesmo social; ela está sempre presente na base do espaço e da sociedade presente neste espaço. Assim, a natureza se encontra subjacente à maioria dos estudos em Geografia. Diante desse fato, algumas reflexões podem ser realizadas: o que o geógrafo entende por natureza? As concepções de natureza divergem nas várias abordagens geográficas? Ou, ainda, qual é a relação sociedade/natureza que as concepções de natureza utilizadas nas pesquisas legitimam? Qual é o papel consolidado pela Geografia dentro das pesquisas acerca da natureza? E, mais especificamente o que é natureza? Quais são as origens dessas concepções? Qual é a relação entre essas concepções, suas justificativas e os objetivos das pesquisas geográficas? (POLON, 2020). Veja, acadêmico, são perguntas para você refletir acerca da importância de se aprofundar no conceito de natureza e a relação com ensino da Geografia. Na Geografia, as opiniões não são homogêneas, mas prevalecem as reflexões que denotam a um estado de primeira natureza, sendo o ambiente terrestre não alterado pela ação antrópica, portanto, transformado apenas pela própria ação do meio. E uma segunda natureza, assim denominada devido às alterações sofridas pela presença do ser humano, despossuindo o lugar de originalidade. As contradições existentes na Geografia em referência aos conceitos são próprias de uma ciência que tem em seu fundamento conflitos ainda ativos, como aquele das perspectivas da Geografia Humana e da Geografia Física. DICA Significado de antrópico Resultante da ação do homem, especialmente em relação às modificações no ambiente, na natureza, causadas por essa ação. Relacionado com o homem (raça humana) e com o seu tempo de existência no planeta Terra. FONTE: <https://www.dicio.com.br/antropico/>. Acesso em: 11 nov. 2021. 13 Caro acadêmico, partindo-se dessas considerações, restam perguntas: como o professor trabalha com o meio ambiente sem saber ao certo qual natureza está defendendo? Será que ele poderá contribuir para a resolução dos problemas ambientais em sala de aula, sem antes refletir que natureza é essa? Como afirma Leff (2001, p. 217), Os problemas ambientais são, fundamentalmente, problemas do conhecimento. Daí podem ser derivadas fortes implicações para toda e qualquer política ambiental – que deve passar por uma política do conhecimento e, também, para a educação. Apreender a complexidade ambiental não constitui um problema de aprendizagens do meio, e sim de compreensão do conhecimento sobre o meio. Você, enquanto professor em sala de aula, junto com os alunos, vai interpretar a realidade social e natural por um conceito amplo na Geografia, para muitos é objeto de estudo desta ciência: “Espaço Geográfico”. Com apoio de outros importantes conceitos, conhecidos como categorias de análise, um deles é o de natureza. Esse conceito é muito presente principalmente na Geografia Ambiental (área dos estudos geográficos que se preocupa em compreender a ação do ser humano sobre a natureza, produzindo o seu meio de vida e a sua transformação). O professor poderá propor em suas aulas, diversas atividades fundamentadas nas questões ambientais, de sustentabilidade (capacidade de cumprir com as necessidades do presente sem comprometê-las das gerações futuras), de meio ambiente entre outras temáticas que surgirão a partir do conceito natureza. DICA A Geografia do século XXI, as condições da natureza e as relações sociais Conferência proferida na 30ª Semana Acadêmica de Licenciatura em Geografia, na Universidade Federal do Mato Grosso, em Rondonópolis, em 2019. Realizada pela professora doutora Maria Adélia Aparecida de Souza. Acesse: https://www. youtube.com/watch?v=CQB16-z1fB4. 3.3 PAISAGEM A discussão em torno do conceito de paisagem é um tema antigo. Desde a sistematização da Geografia como ciência no século XIX, vem sendo discutido para a efetiva compreensão das relações sociais e naturais de um determinado espaço. Em diferentes regiões do planeta, o conceito paisagem vem sendo utilizado, divergindo dentro de múltiplas abordagens. 14 O conceito de paisagem está relacionado a tudo que os sentidos humanos podem perceber e apreender da realidade de determinado espaço geográfico ou parte dele, e está diretamente relacionado à sensibilidade humana. Embora, a visão seja o principal sentido com o qual se observa a realidade, outros sentidos também podem participar da identificação da paisagem, introduzindo-se informações como sons e odores na descrição da paisagem, método através da qual ela pode ser bem explorada. Na atualidade, a noção de paisagem tem sido para os geógrafos e cientistas de outras áreas (biólogos, agrônomos, ecólogos, arquitetos, entre outros), o ponto de partida para o entendimento das complexas relações entre o homem e a natureza, buscando através dela uma compreensão global da natureza, bem como possibilita projeções de uso, gestão de espaço e planejamento territorial. Paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza. Ou ainda, a paisagem se dá como conjunto de objetos concretos (SANTOS,1997 apud SUERTEGARAY, 2001, p. 5). Nesse sentido, pode-se conceber que a paisagem se constitui como resultado do estabelecimento de uma inter-relação entre a esfera natural e a humana, na medida em que a natureza é percebida e apropriada pelo homem que, historicamente, constitui o reflexo dessa organização. Por ser uma ciência social, o debate em relação à paisagem, suscita na Geografia uma diversidade conceitual. Maximiano (2004, p. 88), enfatiza que “a paisagem não seria a simples junção de elementos geográficos, mas a combinação dinâmica, estável dos elementos físicos, biológicos e antrópicos, porque a paisagem não é apenas natural, mas é total, com todas as implicações da participação humana”. Também o geógrafo Arturo García Romero destaca que a interação entre os elementos naturais e antrópicos é essencial no entendimento da paisagem. “A dinâmica da paisagem se define por sua complexidade, pela integração de todas as partes numa unidade que existe e age em conjunto” (ROMERO, 2002, p. 23). Assim, Claval (1999) atribui ao ser humano à responsabilidade de transformar a paisagem, bem como, de imprimir nela transformações diferenciadas, criando uma preocupação maior com os sistemas culturais do que os elementos naturais da paisagem. A paisagem é humanizadanão só pela ação humana, mas pelo modo de pensar. Dessa forma, a paisagem é concebida como uma representação cultural. Nessa analogia, o autor não privilegia uma definição conceitual onde recaia a conotação natural ou cultural. Demonstra entender a paisagem de forma sistêmica, percebendo nela uma unidade que na sua acepção é indissociável. 15 FIGURA 1 – DIFERENÇAS ENTRE ESPAÇO E PAISAGEM FONTE: <https://bit.ly/3wEnxva>. Acesso em: 14 set. 2021. Assistimos, no advento do século XXI, à emergência das questões ambientais que se avolumam. Esse fenômeno está intimamente ligado à perda da qualidade de vida dos seres humanos, devido ao caráter predatório e degradador do meio ambiente relacionado a uma apropriação desregrada da natureza, culminando na alteração constante das paisagens. Nesse sentido, é nítida a necessidade de se focar a paisagem como elemento transformado e condicionador, que compõe aspectos culturais relevantes da sociedade, que exprime valores, posturas e a própria existência humana como ser explorador e ao mesmo tempo contemplador. As paisagens, em suas dinâmicas e inter-relações, alertam os grupos humanos no sentido de refletir e verificar que as intervenções antrópicas podem ser danosas ao desconfigurarem a caracterização delas. O ser humano procura adequar a natureza as suas necessidades e, com isso, promove transformações drásticas no meio em que vive, sendo que algumas delas podem ser negativas e irrecuperáveis. Nesse sentido, essa categoria de análise do espaço assume importância considerável no âmbito da Geografia, na medida em que se torna um instrumento importante para a implantação de propostas ambientais, que colaborem com a preservação dos recursos naturais. A paisagem também se constitui como uma realidade atual construída através do acúmulo de acontecimentos ou eventos passados, uma vez que, o que é observado em uma paisagem da atualidade passou por um processo de constantes mudanças. Esse aspecto pode ser percebido através da observação de fotografias de uma mesma paisagem referente a períodos diferentes, nas quais se pode perceber o que permanece e o que foi alterado, para formar a paisagem atual. Caro acadêmico, sugerimos um projeto de pesquisa junto aos alunos sobre a temática Paisagens. 16 Aula – Os lugares e suas diferentes paisagens Autor: Suely Aparecida Gomes Moreira Coautor(es): Cláudia Regina M. G. Fernandes Ensino Médio. Geografia Tema: O ser humano criador de paisagem e modificador de paisagem Dados da aula O que o aluno poderá aprender com esta aula: - compreender o conceito de paisagem; - identificar os elementos naturais e sociais presentes nas diferentes paisagens; - entender como uma paisagem pode revelar um pouco sobre a dinâmica da natureza e dos seres humanos que nela vivem. Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno: Conceitos de lugar, território e espaço geográfico. Estratégias e recursos da aula: Sugerimos que estas atividades sejam desenvolvidas em sala de aula, no caso de projetos como "Um Computador por Aluno" (UCA), ou em um laboratório de informática. A partir dos conhecimentos dos alunos sobre as paisagens que eles visualizam em seu espaço de vivência, ou durante uma viagem, ou ainda por imagens veiculadas pela TV ou internet, instigue seus alunos a refletirem sobre as diferenças existentes entre cada uma delas, auxiliando-os a organizar um projeto de pesquisa para refletirem sobre esta temática. Antes de apresentar a proposta de pesquisa, sugerimos que seja realizado um debate interdisciplinar com os professores de diversas áreas, como a Geografia, a Biologia, a Sociologia, a Filosofia, a Língua Portuguesa, a Artes, dentre outras, com o intuito de instigar a curiosidade dos alunos sobre as diferenças culturais e o trabalho do homem na construção das paisagens urbanas e rurais. Atividade 1 Os diferentes lugares e suas paisagens Passo a passo - Inicie a conversa apresentando aos alunos imagens de paisagens, posteriormente, algumas questões motivadoras: • Que elementos naturais e culturais podem ser identificados numa paisagem? • Quais as características da paisagem mais lhe despertaram a atenção? 17 • Como podemos definir uma paisagem? Permita que os alunos expressem suas opiniões e, em seguida, explique que a melhor forma de compreender essas e outras questões, com profundidade, é elaborando e desenvolvendo um projeto de pesquisa, que se constitui basicamente das seguintes etapas: • tema (o que pesquisar?); • problema (qual pergunta eu quero responder com a pesquisa); • justificativa (por que pesquisar?); • objetivos (para que pesquisar – onde se quer chegar?); • metodologia (como chegar? Qual melhor caminho?); • resultados (quais as respostas/descobertas?). - Oriente os alunos para formarem grupos de trabalho, para o desenvolvimento das atividades a seguir. Elaboração do projeto de pesquisa Passo a passo - Definição do tema: auxilie os alunos a reconhecerem o assunto a ser pesquisado. Explique que o tema desta aula é: Os diferentes lugares e suas paisagens. - É importante explicar aos alunos que para desenvolvermos uma pesquisa, a definição do tema é somente o ponto de partida. Além disso, precisamos ter clareza por que é importante pesquisar esse tema (justificativa), o que desejamos descobrir sobre ele (situação-problema), o que pretendemos alcançar com a pesquisa (objetivos) e como vamos conseguir realizar a pesquisa (metodologia e fontes). - Delimitação da situação-problema: auxilie os discentes a definirem qual o questionamento/interesse central que motivou a pesquisa sobre o tema, partir do debate sugerido no início da aula. - Nessa aula a situação-problema é: Como os elementos que compõem uma paisagem podem nos contar um pouco sobre a dinâmica da natureza e dos seres humanos que ali vivem? - Justificativa da pesquisa e seus objetivos: refletir com os alunos sobre o porquê da importância de identificar os elementos naturais e culturais que compõem uma paisagem, além de compreender que é a combinação deles que constituem as paisagens terrestres. Esta reflexão pode se basear na ideia de que, além de observar os elementos naturais e culturais visíveis em uma paisagem, com suas variadas cores, formas e tamanhos, é importante apreendê-la por meio de outros sentidos, como o tato, o olfato e a audição. Dessa maneira, a paisagem deve ser compreendida como sendo tudo aquilo que está presente em uma determinada extensão do espaço terrestre e que pode ser abrangido pelos nossos sentidos, envolvendo, portanto, tanto os elementos visíveis como os não visíveis presentes nesse lugar. É por meio da observação de uma paisagem – natural ou cultural – 18 que identificamos a maneira como no decorrer do tempo as pessoas, organizadas em sociedade, transformam o espaço geográfico. - Problemática/questões da pesquisa: auxiliar os alunos a definirem questões que complementam e orientam a investigação da situação-problema. - Na pesquisa aqui proposta, estas questões podem ser: Como identificar os elementos naturais e culturais numa paisagem?; Quais são os instrumentos e técnicas utilizados na transformação da paisagem natural em paisagem cultural?; De que maneira as paisagens podem revelar como os grupos sociais se relacionam entre si e com a natureza do lugar onde vivem? - Metodologia da pesquisa: discutir com os alunos os procedimentos e métodos de pesquisa mais adequados para: levantar e coletar as fontes (pesquisa em sites de busca na Internet, privilegiando endereços de pesquisas escolares; documentários e produções discentes e docentes postadas no Youtube, em blogs e outros sites; boxes de livros didáticos que trazem indicações de estudo da paisagem; entrevistas com professore etc.), as fontes possíveis de serem encontradas são múltiplas e variam conforme os procedimentos utilizados para levantá-las, o contexto social onde os discentes envolvidos na pesquisa estão inseridos; explorar as fontes e refletirsobre a situação-problema e questões da pesquisa (atividades de leitura, discussão em grupo; comparação entre as fontes para observar como explicam os conceitos abordados na pesquisa; registrar e socializar as descobertas feitas (produção de relatório individual e/ou coletivo, construção de blog na Internet; criação de slides/pôsteres para apresentar em seminários; encenações e outros). Para organizar essas atividades, é importante definir um cronograma e quem serão os responsáveis por cada etapa/atividade da pesquisa. - Nesta pesquisa propomos utilizar mostra de dois vídeos (Rio de Janeiro e Bonito) e a letra da música "Paisagem da Janela", de Milton Nascimento, para facilitar a compreensão da problemática proposta para esta pesquisa. O professor deve solicitar aos grupos que pesquisem sobre alguns pontos referentes ao assunto e ao nosso objeto específico. Eles devem encontrar as seguintes modalidades de fontes: • artigos científicos; • artigos em revistas de grande circulação; • sites institucionais e voltados a escolas, que abordem o tema com propriedade. Resultados: no momento da elaboração do projeto de pesquisa oriente os alunos em relação aos registros, elaboração dos relatórios e socialização dos resultados da pesquisa. - Sugerimos que o registro das descobertas realizadas com esta pesquisa seja feito por meio da produção de relatório coletivo, incentivando a cooperação e a colaboração de todos os membros do grupo, e a socialização dos conhecimentos adquiridos seja feita através da elaboração de slides para serem apresentados em seminários. 19 Pesquisa - Após elaborar e registrar o projeto de pesquisa, conforme descrito nas atividades anteriores inicia-se o desenvolvimento de cada etapa da pesquisa, a partir da situação-problema: Como os elementos que compõem uma paisagem podem nos contar um pouco sobre a dinâmica da natureza e dos seres humanos que ali vivem? - Pergunte aos alunos: • Que elementos naturais e culturais podem ser identificados nas paisagens "? • Que características prevalecem numa paisagem urbana e numa paisagem rural? - Permita que os grupos discutam as questões anteriores, façam registros em arquivos Kword e expressem verbalmente suas observações. O objetivo, neste momento, é identificar o conhecimento prévio dos grupos sobre um dos pontos fundamentais para este trabalho: auxiliá-los a compreenderem que os elementos que compõem uma paisagem podem nos contar um pouco sobre a dinâmica da natureza e dos seres humanos que ali vivem. Assim, oriente-os para que consultem as fontes de pesquisa, buscando compreender que os elementos naturais são aqueles que se originam de processos e fenômenos da natureza, por exemplo, a vegetação, a fauna, a flora, as formas de relevo, os tipos de clima e de solos, os cursos d’água, dentre outros. Já os elementos culturais ou sociais são aqueles criados pelos seres humanos, utilizando diferentes técnicas, como as edificações nos centros urbanos (casas prédios, viadutos, avenidas etc.) ou, ainda, as lavouras, as pontes, as hidrelétricas etc. Auxilie-os, também, a entenderem que cada lugar, seja em nosso país ou em qualquer parte do mundo, possui especificidades decorrentes da combinação de uma série de elementos, sejam eles naturais ou concebidos pela ação humana. A percepção do observador sobre a paisagem Passo a passo - Agora, sugerimos que o professor utilize como metodologia a letra da música "Paisagem da janela", de autoria do compositor e intérprete Milton Nascimento, disponíveis no endereço http://letras.terra.com.br/milton-nascimento/47443/. Paisagem da Janela Milton Nascimento Da janela lateral do quarto de dormir Vejo uma igreja, um sinal de glória Vejo um muro branco e um voo pássaro Vejo uma grade, um velho sinal Mensageiro natural de coisas naturais Quando eu falava dessas cores mórbidas Quando eu falava desses homens sórdidos 20 Quando eu falava desse temporal Você não escutou Você não quis acreditar Mas isso é tão normal Você não quis acreditar E eu apenas era Cavaleiro marginal lavado em ribeirão Cavaleiro negro que viveu mistérios Cavaleiro e senhor de casa e árvores Sem querer descanso nem dominical Cavaleiro marginal banhado em ribeirão Conheci as torres e os cemitérios Conheci os homens e os seus velórios Quando olhava da janela lateral Do quarto de dormir Você não quis acreditar Mas isso tão normal Você não quis acreditar Mas isso tão normal Um cavaleiro marginal Banhado em ribeirão Você não quis acreditar .... - Após ouvir a música e ler a letra com os alunos, questione: • Que elementos predominam nessa paisagem (naturais e culturais)? • É possível identificar elementos invisíveis existentes nesse lugar? Quais? • Como essa paisagem foi descrita? - Permita que os grupos discutam as questões anteriores, façam registros em arquivos Kword e expressem verbalmente suas observações. O objetivo, neste momento, é identificar o conhecimento prévio dos grupos e auxiliá-los a compreenderem que, em princípio, é muito comum a definição de paisagem terrestre como sendo a constituição de todos os elementos naturais e sociais, combinados entre si. No entanto, esclareça aos alunos que a ideia de paisagem compreende tudo que está presente em uma determinada extensão do espaço terrestre e que pode ser abarcado por todos os nossos sentidos, o que compreende os elementos visíveis e não visíveis presentes nesse lugar, ou seja, além dos elementos concretos que compõem a paisagem, com suas diversas cores, formas e tamanhos, ela compreende também a percepção do observador por meio de outros órgãos de sentido, como o tato, o olfato, e a audição. - Esclareça, também, que existem elementos na paisagem que revelam fluxo (trânsito de pessoas e automóveis, circulação de mercadorias por trem, avião ou navio, transmissão de informações (torres de TV, rádio, telefones etc.). 21 Socialização dos resultados das pesquisas e considerações finais Passo a passo - Agora, oriente os grupos para que apresentem uma sistematização dos conhecimentos adquiridos ao longo da pesquisa. Ressaltamos que esta atividade pode ser realizada ao longo de todo o desenvolvimento da investigação e, ao final, os registros sejam revistos e reconstruídos com o intuito de produzir um texto mais bem elaborado, com base nos dados coletados no decorrer do processo de pesquisa, propiciando uma reflexão da situação-problema. - Oriente os alunos sobre o significado das considerações finais de uma pesquisa. Explique que nesta etapa os grupos devem expressar o que concluíram desse processo e apontar para outras possibilidades de continuação desse estudo, por eles ou por outros pesquisadores interessados no tema. - Como sugerido no início desta aula, cada grupo deve fazer uma exposição, de forma resumida, utilizando slides. - Explique que o slide se caracteriza por apresentar, por meio de ilustrações, textos reduzidos e cores, uma mensagem clara e direta do tema escolhido. As ilustrações assemelham-se ao slogan, que exprimem numa frase a ideia central do que se quer transmitir. Um slide deve ser motivador, instrutivo e divulgador, podendo ser confeccionados usando figuras geométricas (quadrado, triângulo e circunferência) ou desenhos de traços (figuras de palito). A apresentação deve ser clara e objetiva, ou seja, eliminar tudo o que é supérfluo e que possa dispersar a atenção do observador. - Incentive, também, a construção de um blog na internet para a divulgação dos resultados, troca de experiências e de reflexões, sugestões, dentre outras possibilidades. Observação: para saber como criar blogs, os grupos devem, com o auxílio do laptop, acessar o site: https://support.google.com/blogger/answer/1623800?hl=pt e seguir as instruções dadas. - A partir dos resultados apresentados pelos grupos, reforce a ideia de que uma observação atenta das paisagens pode revelar o modo como a sociedade desenvolve suas atividades, o que as pessoas estão fazendo em um determinado momento e como se relacionamentre si e com a natureza do lugar onde vivem. - Os diferentes grupos sociais utilizam diferentes instrumentos e técnicas de trabalho na transformação da paisagem natural em paisagem cultural. - A percepção de uma paisagem depende da intenção do observador, portanto, a exposição dos resultados de cada grupo de pesquisa varia de acordo com o seu objetivo e sua relação com o lugar observado. Avaliação Entendemos que a avaliação deve acontecer durante todo o processo, considerando a participação, o desempenho e a colaboração dos alunos em cada atividade proposta. No entanto, considera-se relevante, após o desenvolvimento das atividades: 22 1. Pesquisa: verificar a capacidade dos alunos para realizarem pesquisa: - Valorizar a busca de informações sobre o tema em sites de pesquisa, em cada uma das atividades propostas. 2. Exposições: constatar se houve a compreensão dos conceitos estudados. - Discutir com os alunos sobre o que mudou em seus pontos de vista em relação aos conceitos abordados após a realização de cada atividade. 3. Comportamento individual e coletivo: observar as atitudes individuais e em grupo e constatar se houve mudanças significativas concernentes ao respeito a si mesmo e aos outros colegas. 4. Trabalho em grupo: avaliar a capacidade dos discentes para desenvolver ambientes de aprendizagem colaborativa. - Observar a disponibilidade, iniciativa e colaboração do aluno ao trabalhar em grupo. FONTE: Adaptado de <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=40107>. Acesso em: 19 set. 2021. DICA Paisagem: é o resultado de todos os elementos presentes em um local, A paisagem não é o espaço, pois se tirarmos a paisagem de um determinado lugar, o espaço não deixará de existir. A paisagem é mutável, isto é, ela se transforma ao longo do tempo, em função das diversas formas de produção do espaço pelas atividades humanas e naturais. Paisagem natural: é tudo que vem de origem da natureza sem sofrer alteração pela ação humana como montanhas, rios, florestas etc. Paisagem humanizada: é aquela que sofreu transformações pela ação humana, como construções de casas e estradas, indústria, pontes e muito mais. FONTE: <https://bit.ly/3F4PwY8>. Acesso em: 12 set. 2021. Nosso próximo assunto é sobre o conceito de lugar na Geografia. 3.4 LUGAR No cotidiano, utilizamos a expressão lugar para indicarmos uma localidade para onde se vai ou se foi. A expressão é usada como um tipo de referência necessária em ocasiões diversas, sem que se pense muito a respeito de suas implicações. A humanidade busca a construção de sua Geografia, desde a Antiguidade, na identificação de seus lugares: lugar onde a caça é boa, em que se conseguem bons frutos, proteção e sobrevivência. De acordo com Moreira (1998), nas experiências socioespaciais, por meio das vivências de cada lugar, as construções geográficas 23 vão se configurando como memória que se constrói coletivamente, dando expressão aos lugares. Historicamente, a necessidade de marcar os lugares e deixar sinais que permitissem ao ser humano voltar, bem como estabelecer relação entre o lugar e a experiência vivida ali e traçar caminhos para diferentes lugares dá origem à necessidade de elaborar mapas e outras representações cartográficas. O lugar, portanto, relaciona-se à própria configuração histórica da Geografia como prática social, como necessidade humana. “O aprendizado relacionado ao reconhecimento dos lugares e de seus significados em nossas vidas se inicia muito antes de entrarmos na escola e depende diretamente das relações sociais nas quais estamos inseridos” (MOREIRA, 1998, p. 5). Os lugares estão relacionados às ideias de identidade e pertencimento, ainda que em graus diferentes. Por exemplo, nossa casa é um lugar carregado de significados de pertencimento singular, ao passo que o planeta Terra é um lugar com sentido de pertencimento, porém ampliado não só em sentido escalar, como também nas experiências vividas. Portanto, o lugar não é somente um ponto definido por coordenadas geográficas, um ponto no espaço, uma localização física ou uma representação cartográfica; ele é a articulação da espacialidade com as relações sociais estabelecidas entre seres humanos e os elementos que compõem esse espaço. O conceito lugar é discutido na ciência geográfica, especialmente pelas perspectivas crítica e humanística. Para Santos (1997, p. 46), os lugares não são meras localizações escalares e pontuais, mas reflexos das complexidades sociais que se fazem no tempo histórico e se mostram no espaço: “[a] cada lugar geográfico concreto corresponde, em cada momento, um conjunto de técnicas e de instrumentos de trabalho, resultado de uma combinação específica que também é historicamente determinada”. Outra análise fundamental do autor é sua referência geográfica ao contexto da globalização. Para Santos (1997), uma análise geográfica na perspectiva totalidade- mundo só é possível em relação aos lugares, em uma correlação universal – particular – particular – universal. Em sua análise, Santos (1997) apresenta dois níveis relevantes geograficamente: o do mundo e o do lugar. Os eventos, os acontecimentos, especialmente agora, com a globalização, concretizam nos lugares as possibilidades de ação que retiram do mundo, integrando o que é universal e o que é do indivíduo. “O nível global e local do acontecer é conjuntamente essencial ao entendimento do mundo e do lugar” (SANTOS, 1997, p. 131). O lugar é um subespaço, reflexo das contradições da sociedade capitalista, com suas diferenças no espaço que podem ser fontes de rentabilidade e investimentos ou o oposto, denominado como produtividade geográfica. Santos (1997) relaciona a diversidade de aspectos componentes da espacialidade geográfica aos lugares. Um desses aspectos fundantes da sociedade é o trabalho. O autor considera que, atualmente, a informação se tornou o motor da divisão do trabalho, divisão que se materializa nos lugares. 24 Na obra intitulada Da totalidade ao lugar, Santos (2005) alerta para o risco de ideias pós-modernistas que sugerem a não existência do lugar. Segundo o autor, essas ideias banalizam, homogeneízam e esvaziam o lugar, utilizando metáforas que não servem para a análise da realidade. Santos (1997), na análise do lugar em relação à globalização, que ele denomina como perversa, alerta para o que ele chama de a força dos lugares. Esse aspecto leva em conta as resistências que os lugares apresentam em seus cotidianos. Há movimentos da sociedade civil que podem ser ampliados em busca de outra globalização. O lugar, nesse sentido, não é passivo, mas ativo em propor uma globalização que valorize o ser humano e é na atualidade a principal base de divisão do trabalho, o cotidiano, como conceito que caminha subjacente ao lugar, ganha novas dimensões, inclusive espaciais. Ana Fani Alessandri Carlos (1996), em análise geográfica específica do lugar também na perspectiva crítica, afirma que nele se manifesta o que é global de forma contraditória, sendo esse um ponto de articulação entre o local e o mundial. É, portanto, a realidade carregada de significado, uma parte da totalidade. Esse “próximo” (pensando a globalização na relação tempo-espaço) não é mais algo isolado do todo, mas uma representação, uma “amostra” desse todo do mundo, da sociedade e de sua essência. É no lugar que se concretizam as questões do mundo, de maneira contraditória e nada harmoniosa, próximas e distantes, onde os fenômenos se desmistificam. Em síntese, o lugar permite a compreensão desse espaço, pois revela, em seu cotidiano, os movimentos dessa produção social. Esse posicionamento nos leva a crer que, por suas especificidades, o lugar permite compreender as problemáticas do mundo por meio de sua espacialidade. O mundo se descortina através do lugar e revela, na espacialidade do cotidiano, do vivido, as relações sociais constituídas historicamente. A ideia de particular, identidade, reconhecimento e pertencimento,são representativas de uma realidade global, inclusive no que concerne às desigualdades. A produção social que se dá em cada lugar não é autônoma e não se faz de forma alheia à determinação da divisão social do trabalho, atrelada à própria configuração do espaço geográfico. O que se revela no lugar não é apenas a história de um povo, mas o peso da história humana. Portanto, os aspectos do lugar que são captados pelo corpo, pelos sentidos, pelo uso do espaço, o espaço da vida, aspectos mais considerados na perspectiva humanística de Geografia. A apropriação do espaço por meio de sua vivência, seja pelo trabalho, pelo lazer ou por outro motivo, o torna lugar e esses significados do lugar lhe conferem características de humano. 25 DICA Para incrementar suas aulas referente ao tema Lugar, na Geografia, sugerimos o uso do Google Earth. O Google Earth é um aplicativo de mapas em três dimensões mantido pelo gigante das buscas. Ele permite passear virtualmente por qualquer lugar do planeta, graças às imagens capturadas por satélite. Explore o mundo após fazer o download de Google Earth, programa grátis, em português e disponível para Windows, Mac, Linux, Android e iOS. FONTE: <https://www.techtudo.com.br/tudo-sobre/google-earth.html>. Acesso em: 15 set. 2021. 3.5 TERRITÓRIO No tema anterior, o conceito de lugar foi relacionado a pertencimento, identidade por sua vez o território é concebido como uma ferramenta útil para compreender as diferentes formas de apropriação do espaço, seu uso e ocupação. Auxilia na compreensão das relações de poder existentes na sociedade e que justificaram sua delimitação em certos momentos históricos, assim como sua alteração e acréscimos ao longo do tempo. O conceito de território é alicerçado em dois pressupostos básicos: O primeiro pressuposto é: território é diferente de espaço. Não só diferente, como lhe é posterior; origina-se do espaço. Mesmo a mera imagem do território que esteja contida em uma representação (cartográfica) indica que o espaço preexiste ao território. O segundo pressuposto é: a simples imagem do território equivale a uma apropriação simbólica do espaço como forma primária do território. Ela também abre a possibilidade de se pensar a territorialidade, que surge quando pessoas e grupos realizam uma ocupação do espaço, ainda que momentânea, esporádica e mais ou menos perceptível em seu movimento, conforme a escala em que for visualizada. Podemos, ainda, ensaiar as características comuns ao território: possuir área, recursos, povo, poder, limites e fronteiras. É assim que vemos o território ao pensarmos nos conflitos agrários, lutas por demarcação de terras, bem como no zoneamento urbano, na criação de corredores ecológicos ou estabelecimento de áreas verdes nos grandes centros, e assim por diante. No início da ciência geográfica moderna, o território foi entendido como o solo, chão, e o povo, a população. Era o substrato sobre o qual se organizava a sociedade, mas de um modo a constituir um Estado Moderno. Para Ratzel (1990, p. 73), “não é pos- 26 sível conceber um Estado sem território e sem fronteiras [...] assim, também a sociedade mais simples só pode ser concebida junto com o território que lhe pertence. O fato de esses dois organismos estarem ligados ao seu solo é a consequência natural da ligação evidente que une a criatura humana à Terra”. Na perspectiva de olhar o território a partir da temática conflitos, sem a compreensão desse termo, leva ao engano de que os territórios seriam frutos de (des) apropriações consensuais, invasões sem força opositora ou guerras sem mortos e feridos (consciência ingênua/mítica). Entretanto, o que é possível compreender, é que não pode haver território sem divergências, antagonismos, embates, ofensivas, resistências e reações (consciência crítica). Conceito de território Embora seja um termo polissêmico, podemos entender que o território se apresenta em diferentes escalas no espaço e no tempo. As escalas espaciais referem-se ao fato de que um território pode apresentar-se desde níveis mais amplos, como os territórios nacionais ou áreas de domínio de um determinado governo, até pontos locais, como os territórios de controle de narcotraficantes em bairros e ruas específicos de uma cidade. Já as escalas temporais referem-se àqueles territórios que se modificam em um determinado período, em que em um momento sua ocorrência representa um dado domínio, enquanto, em outro, já não é mais daquela forma. Quando um determinado grupo ou instituição estabelece sobre uma dada realidade a sua expressão territorial, falamos em territorialidade. Em alguns casos, ela expressa-se em locais não contínuos, interligados entre si, caracterizando os territórios-rede. De toda forma, a expressão dos territórios é a da relevância das práticas socioespaciais, que atuam, direta e indiretamente, no processo de transformação do espaço geográfico em suas paisagens, regiões e lugares. FONTE: Adaptado de <https://www.preparaenem.com/Geografia/conceito-territorio.htm>. Acesso em: 20 set. 2021. NOTA Santos (1993) reconhece que o território não é apenas fundamento do Estado- nação, mas, como território usado, designa o conjunto de objetos e ações, sinônimo de espaço humano e habitado, além de acolher novos recortes, podendo ser formado no período contemporâneo por lugares contíguos e lugares em rede. Em textos, já dos anos 2000, é que Santos (2000a, 2002) concebe o território como chave explicativa para o período contemporâneo, mais marcado pela globalização do dinheiro e transnacionalização dos intercâmbios sob o paradigma do meio técnico-científico informacional. O território usado, para o autor, aparece como uma categoria de análise se comportando como o “fundamento do trabalho, lugar de residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida (SANTOS apud FUINI 2015, p. 254-255). 27 3.6 REGIÃO O termo região é geralmente usado no cotidiano, sendo empregado em referência a uma área do espaço mais ou menos delimitada. Na Geografia, o conceito de região refere-se a uma porção superficial designada a partir de uma característica que lhe é marcante ou que é escolhida por aquele que concebe a região em questão. Portanto, existem regiões naturais, regiões econômicas, regiões políticas, entre muitos outros tipos. É um dos conceitos mais difundidos e tradicionais da Geografia. Sua concepção remonta às origens do próprio pensamento geográfico. De acordo com Haesbaert (2019, p. 118), Como todo conceito funda e/ou responde a uma questão, devemos nos indagar sobre qual seria a principal problemática mobilizada pelo conceito de região e que, justificando a permanência do termo, de alguma forma se mantém ao longo da história do pensamento geográfico. Pode-se afirmar que, como base para a grande distinção – e relação – entre Geografia Geral ou Sistemática e Geografia Regional, o todo e as partes, região diz respeito em primeiro lugar às questões elementares que envolvem a diferenciação do espaço geográfico, permitindo identificar suas partes ou singularidades através de diferenças de natureza ou tipo e diferenças de grau (como as desigualdades). Em certo sentido, a região não existe diretamente, mas é uma construção intelectual humana, essa noção está vinculada ao conceito de regionalismo, que expressa o conjunto de costumes, expressões linguísticas e outros valores que apresentam variação entre uma região e outra, dando uma identidade coletiva para os diferentes lugares. Para alguns pesquisadores, a dinâmica econômica é um elemento diferenciador/ identificador de regiões, segundo Haesbaert (2019, p. 119): O principal elemento diferenciador/identificador de regiões refere- se à dinâmica econômica, nascem, assim, regiões como a região polarizada ou funcional urbana, comandada pelas diferentes funções econômicas de cada centro urbano e a hierarquia estabelecida entre eles, especialmente através do seu papel comercial e de prestaçãode serviços. Essa abordagem funcionalista da região teve origem na região nodal de geógrafos como Halford Mackinder e o próprio La Blache. Ela foi sofisticada nos anos 1930 por teorias como a do lugar central de Walter Christaller. Encontramos a região como produto do Capital, em outras bases filosóficas, como a materialista dialética, nas palavras de Haesbaert (2019, p. 120), encontramos a região como produto da divisão espacial capitalista do trabalho ou das relações desiguais e combinadas entre centros e (semi)periferias. A força dessas concepções faz com que a disciplina que até hoje mais dialogou com a Geografia através do 28 conceito de região seja a Economia. Daí o fato de que muitas das abordagens mais difundidas de região estejam focadas sobretudo na reprodução econômica, enfatizando a articulação espacializada das práticas econômico funcionais. Entre concepções mais recentes de região, poucas são aquelas que não dão destaque aos processos econômicos. O conceito de cidade-região, por exemplo, leva em conta o papel crescente das dinâmicas de urbanização e de metropolização na conformação não apenas hierárquica, mas também mais horizontalizada das relações econômicas. O aumento da urbanização praticamente equivale, em muitos casos, a falar do próprio urbano como região. Outra concepção é a da “região com buracos”, de um grupo de geógrafos britânicos, entre os quais Doreen Massey, que considera a dinâmica do capitalismo pós-fordista ou de acumulação flexível e sua articulação espacialmente desigual, criando “buracos”, diversas áreas excluídas das redes articuladoras dessa nova dinâmica. Portanto, não é possível ignorar outras abordagens que estudam, pesquisam o conceito de região. Por mais que as questões da ordem das práticas espaciais vinculadas à produção capitalista do espaço sejam predominantes na definição de região, não podemos, entretanto, ignorar outras abordagens, como aquelas vinculadas a uma matriz cultural fenomenológica, onde aparece a região como espaço vivido, associada às identidades regionais (HAESBAERT, 2019, p. 120). Além disso, continua, Não é raro encontrar uma leitura que, também a partir de processos efetivamente construídos, propõe enfatizar a base política da região, ao relacioná-la com os regionalismos, movimentos políticos de base territorial na busca por autonomia frente ao Estado nação. Por mais que o conceito de regionalismo tenha extrapolado hoje a escala nacional (com economistas utilizando o termo para a formação de blocos econômicos internacionais, por exemplo), processos regionalistas infranacionais continuam firmes (HAESBAERT, 2019, p. 120). É importante destacar a natureza política da região presente em sua própria origem etimológica, O termo provém do latim “regere” – dirigir, comandar, e tem a ver com “regio”, relativo ao rei e seus recortes políticos, mas também à raiz “reg”, indicativa de um movimento em linha reta. Ao mesmo tempo que designava uma porção de terra sob algum comando ou jurisdição (neste sentido aproximando-se muito da concepção de território), significava também uma linha, um limite, uma direção. Daí é possível inferir que, desde a origem, regionalizar, recortar o espaço, delimitá-lo, é também uma forma de estabelecer limites e indicar direções. Com isso, uma das grandes questões que até hoje se coloca nos processos de regionalização é o impasse metodológico envolvendo a questão dos limites e da configuração espacial das regiões (HAESBAERT, 2019, p. 120). 29 Ainda sobre as configurações espaciais, Haesbaert (2019, p. 120), comenta que, Em termos de configuração geográfica há um debate entre os defensores de regiões zonais, espaços relativamente homogêneos dotados de continuidade (interna) e contiguidade (com outras regiões), mais tradicionais, e aqueles que defendem regiões basicamente reticulares, onde mais importante do que estabelecer linhas limítrofes é definir centros e redes articuladoras. Apesar do domínio cada vez mais evidente das articulações e desarticulações em rede, o simples fato de que até hoje o planejamento regional de algum modo continua tomando como referência unidades político-administrativas zonais (fundamento geográfico do Estado), esse debate não está superado. É assim que a região, longe de desaparecer, tem se tornado cada vez mais complexa: móvel, instável, de limites fluidos, ao mesmo tempo verticalmente hierarquizada (com papel dominante e/ou subordinado) e horizontalmente complementar. Seu desenho varia, portanto, conforme os sujeitos, as escalas de alcance da ação e os interesses em jogo. Sem dúvida, entretanto, antigas questões regionais vêm sendo relidas, como a do caráter integrador dos espaços regionais, incluindo aquele entre natureza e sociedade. O fato da sociedade, especialmente sob a economia capitalista globalizada, ter se descolado das bases naturais diferenciadoras do espaço geográfico, não quer dizer, em hipótese alguma, que essa relação possa ser menosprezada. Ao contrário, as reconfigurações regionais terão cada vez mais que responder a uma nova relação sociedade-natureza que minimamente resgate sua indissociabilidade. O que fica evidente a partir dessa reflexão, é a relevância do caráter integrador na leitura do espaço geográfico que caracterizava os chamados estudos de área, outra vez em pauta. Como essa “integração” é muito variável, desde espaços economicamente mais articulados e intensamente urbanizados até espaços mais fragmentados ou de amplo domínio dos processos naturais, também devem ser flexíveis as concepções de região que é utilizada. Uma questão que igualmente permanece, neste caso de ordem mais metodológica, é aquela entre a região como um dado ou fato e a região como artifício. Sobre os recortes regionais, de acordo com Haesbaert (2019, p. 121): Enquanto para alguns os recortes regionais não passam de uma abstração, um artifício ou instrumento analítico do pesquisador, outros encaram a região como um “dado”, entidade física configurada claramente no terreno onde nos cabe simplesmente reconhecer sua manifestação. O geógrafo Camille Vallaux, no início do século XX, já reconhecia que, dada a dificuldade de encontrarmos uma correspondência clara entre os fatos da Geografia humana e os da Geografia física, a região não passaria de um artifício analítico e um método pedagógico. O debate, entretanto, continua, e podemos falar de uma região como arte-fato (com hífen), no meio de um continuum que se estende desde o recorte analítico, instrumento metodológico proposto pelo investigador para efeito de sua pesquisa, até o espaço de ações concretas de sujeitos sociais que efetivamente constroem articulações regionais, sejam eles hegemônicos (como as empresas e o Estado), sejam subalternos (como os povos tradicionais). 30 Nas palavras de Haesbaert (2019), há pelo menos uma região (e, consequente- mente, também, uma regionalização) feita pelos e/ou para “os de cima” e uma região/ regionalização feita pelos e/ou para os “de baixo”. Regionalizar, seja como processo con- creto de construção de regiões (pela divisão do trabalho, pelo regionalismo e/ou pelas identidades regionais), seja como recorte analítico variável segundo os critérios propos- tos, é sempre uma forma, mais explícita ou mais sutil, de exercício do poder. Importante é que no exercício político é fundamental que se reconheçam as partes, divisões, sem, contudo, menosprezar os processos conjuntos de desarticulação. Em síntese, não existe um conceito único e acabado do que seria região, mas diferentes compreensões ao longo da história. Entender o conceito de região na Geografia No início, os estudos do autor Vidal de La Blache consideravam a região como uma área pautada por uma característica que a diferenciava de seu entorno. Outros autores clássicos consideravam a região como uma área natural marcada por um conjunto específico de elementos climáticos, geológicos, hidrográficos e biosféricos.Nessas concepções, é dever do Geógrafo, pois, observar, compreender e descrever minuciosamente os aspectos regionais em todas as suas especificidades. Para La Blache, inclusive, seriam os estudos regionais detalhados que dariam uma melhor perspectiva sobre a compreensão do todo a partir da soma das partes. Para outro autor da Geografia, Richard Hartshorne, a região não seria algo natural e já existente, mas uma criação intelectual adotada pela compreensão humana, ou seja, em uma linha kantiana de raciocínio, a região não existiria de fato, sendo apenas uma apreensão humana sobre o espaço geográfico com base em um critério específico. Por exemplo: desenvolver uma regionalização do Brasil a partir das diferentes manifestações culturais existentes, criando as regiões culturais brasileiras. No caso, elas não existem de fato, sendo apenas uma divisão elaborada com base em um critério previamente escolhido. Essa definição de região influenciou posteriormente a chamada “Nova Geografia”, corrente de pensamento geográfico pautada no Neopositivismo filosófico e calcada no racionalismo e na utilização de métodos quantitativos em suas análises. Nesse sentido, a região passou a ter um caráter de classificação das áreas, um agrupamento tecnicamente elaborado para fins específicos. Posteriormente, avolumaram-se as críticas a esse modelo, sobretudo pela ausência de uma crítica social e pelo estabelecimento do contexto histórico no processo formador das diferentes áreas do espaço e consequentemente das regiões. A chamada Geografia Crítica, de cunho marxista, passou a considerar a região a partir de um cunho crítico das desigualdades e contradições promovidas pelo capitalismo, o que geraria regiões desiguais e, em algumas análises, regiões que explorariam regiões. 31 Novamente, uma crítica ao conceito anterior estabeleceu-se, e os geógrafos humanistas, críticos da razão extrema e da ausência da compreensão humana nas análises geográficas, reelaboraram o conceito de região. Nesse sentido, ele ficou entendido como uma área calcada na compreensão e na vivência, sendo assim, a região seria um espaço percebido, vivenciado e compreendido culturalmente pelas relações sociais e humanas. Não se poderia compreender a região, portanto, se o indivíduo não a vivenciasse. Portanto, existem diferentes conceitos de região, sendo difícil encontrar um esboço consensual de definição. Independentemente de seus debates, o conceito de região e de regionalização continua sendo muito importante para os estudos referentes ao espaço geográfico e suas características. Fonte: Adaptado de <https://www.preparaenem.com/Geografia/o-conceito-regiao.htm>. Acesso em: 12 set. 2021. Quiz é o nome de um jogo de questionários que tem como objetivo fazer uma avaliação dos conhecimentos sobre determinado assunto. Neste tipo de jogo podem participar tanto grupo de muitas pessoas, como participantes individuais, que devem acertar a maior quantidade de respostas para ganhar. Veja um modelo: Regiões do Brasil Quiz sobre características sociais e econômicas das regiões brasileiras. Acesse: https://rachacuca.com.br/quiz/90464/regioes-do-brasil/. INTERESSANTE 3.7 REDES As redes configuram e reconfiguram o espaço geográfico, elas envolvem o conjunto de fixos e fluxos que se comportam como instrumentos do processo de Globalização. Portanto, podemos entender as redes geográficas como um conjunto de locais da superfície terrestre conectados ou interligados entre si. O espaço é produzido por conjunto de agentes sociais concretos com práticas e ações, além de poder de atuação e objetivos, ora comuns, ora diferentes, variáveis no tempo e no espaço. Além disso, o espaço é também articulado através de diversas redes geográficas, que consistem em um importante elo entre as diferentes partes do espaço que integram o sistema mundial em tempos de globalização. 32 Nos últimos anos ocorreu uma maior valorização desse conceito devido ao momento histórico atual marcado pela globalização dos valores e difusão do consumo, assim como a mundialização do capital e internacionalização das grandes empresas que torna as relações e interações espaciais entre as cidades cada vez mais complexas. Em outras palavras, o conceito de rede ganhou importância nos últimos anos através de uma demanda da própria realidade devido ao aumento dos fluxos de informações, mercadorias, ideias, capitais e pessoas. A importância, complexidade e hierarquização das redes geográficas foi objeto de estudo de diversos autores devido ao seu papel fundamental na organização do espaço, através da integração entre fixos e fluxos. NOTA Caro acadêmico, imagine quantos objetos existem no mundo. Aqueles que estão fixados no solo, com prédios e demais construções humanas. E os que lhes dão vida, que disparam, passam os movimentos. Os fluxos, de energia, de transportes, de informações, de comunicações etc. Então: FIXOS: são estruturas fixas e imóveis, como, prédios, casas etc. FLUXOS: são os caminhos de produtos, serviços ou informações entre os fixos, como, estradas, rotas marinhas, rotas aéreas, internet etc., portanto, na organização do espaço, as redes são constituídas por fixos e fluxos, uma vez que os fixos foram construídos pelas ações humanas e os fluxos ocorrem a partir das relações econômicas e sociais. O conceito de rede não é recente, tampouco a preocupação em compreender seus efeitos sobre o espaço geográfico. Dada a sua polissemia, esse termo, muitas vezes, só consegue dar significado ao que se pretende quando vem adjetivado e, por isso, há uma grande diversidade nas abordagens (VIDEIRA, 2018). A estruturação e evolução das redes geográficas podem ser associadas à evolução da tecnologia e das telecomunicações, tendo em vista, que a mudança que o meio técnico-científico informacional tem incorporado no espaço geográfico quebra as barreiras do tempo, relativizando as distâncias (SANTOS, 1997). Torna-se acessível às pessoas que vivem nas pequenas localidades deslocarem-se para outros centros de tamanhos variados, na busca de bens e serviços, ocorrendo, pois, uma flexibilização e uma complementariedade entre centros de mesmo tamanho com outros maiores. A técnica relativiza o tempo e as distâncias, e a circulação da informação favorece e ao mesmo tempo condiciona a existência das verticalidades que permitem uma aceleração no desenvolvimento da produção e de novas formas de consumo. 33 Na atualidade, o mundo é conectado e interligado por meio das redes. Desse modo, Roberto Lobato Corrêa em seu livro Trajetórias Geográficas (2011) analisa as redes geográficas. Há inúmeros tipos de redes geográficas, que, por sua vez, possuem um papel ativo na configuração do espaço como, por exemplo, redes viárias, redes bancárias, redes digitais, redes sociais, redes comerciais, redes de grandes corporações etc., entretanto, a mais significativa das redes geográficas é a rede urbana. Essa é definida por Corrêa (2006) como sendo um conjunto de centros urbanos funcionalmente articulados entre si e que se constitui como reflexo da condição social para a divisão territorial do trabalho. Além disso, a rede urbana pode ser considerada como uma síntese, de muitas redes geográficas cujos nós e fluxos específicos iniciam-se, passam ou finalizam-se nas cidades. DICA A rede urbana brasileira é constituída por centros que polarizam a economia, o fluxo de pessoas e a oferta de bens e serviços. Acesse o Mapa Rede Urbana Brasil em: https://bit.ly/3okJax8. Por rede geográfica entendemos um conjunto de localizações geográficas interconectadas entre si por um certo número de ligações. Esse conjunto pode ser constituído tanto por uma sede de cooperativa de produtores rurais e as fazendas a ela associadas, como pelas ligações materiais e imateriais que conectam a sede de uma grande empresa, seu centro de pesquisa e desenvolvimento, suas fábricas, depósitos e filiais de venda. Pode ser constituído pelas agências de um banco e os fluxosde informações que circulam entre elas, pela sede da Igreja Católica, as dioceses e paróquias, ou ainda pela rede ferroviária de uma dada região. Há, na realidade, inúmeras e variadas redes que recobrem, de modo visível ou não, a superfície terrestre (CORRÊA, 2011). NOTA Em uma definição mais abrangente, podemos entender as redes geográficas como um conjunto de locais da superfície terrestre conectados ou interligados entre si. Essas conexões podem ser materiais, digitais e culturais, além de envolver o fluxo de informações, mercadorias, conhecimentos, valores culturais e morais, entre outros. A primeira propriedade das redes é a conexidade, qualidade de conexo, que tem ou em que há conexão, ligação. Nesse sentido, as redes conectam pontos fixos no espaço que pressupõem que existam fluxos entre eles. 34 Caro acadêmico, resumindo os conceitos que trabalhamos neste subtópico; qualquer área transformada pela ação do ser humano, denominamos de Espaço geográfico, por sua vez, a Paisagem é conhecida como o fragmento do espaço geográfico que pode ser visto ou sentido. A porção do espaço com o qual tem-se uma relação de afetividade e pertencimento é o Lugar. O Território é o local sobre o qual alguém ou algum grupo exerce poder. A parte do espaço que apresenta características próprias e particulares que a diferenciam das demais é a Região e por último, Rede é conjunto de locais da superfície terrestre conectados ou interligados entre si. 4 GEOGRAFIA ESCOLAR E A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO O pensamento geográfico, encontra-se cotidianamente questionado e debatido, com o intuito constante da apreensão dos novos e velhos paradigmas sociais. A construção do saber é uma construção social e não está aquém da trama societária presente, ainda mais, a sociedade e o saber, especificamente o geográfico, estão internalizados e imbricados um no outro. Portanto, o pensamento geográfico apenas torna-se inteligível dentro da realidade social na qual historicamente está inserida. Fazendo-se necessário, então, uma releitura histórica da Geografia e da própria sociedade para compreendermos o que fazíamos e o que fazemos, pois só assim poderemos construir um saber geográfico contribuidor de relações e ações pautadas na ética e justiça social. Este processo de releitura você terá durante seu curso e nesta disciplina, especificamente neste tópico, queremos refletir sobre a construção do pensamento e da lógica do raciocínio geográfico em sala de aula. Partiremos da seguinte pergunta, para a condução de nossa escrita nesse assunto abordado: Como alguns elementos indicadores encontrados no espaço geográfico, produzidos a partir dos princípios do raciocínio geográfico, produzem o pensamento geográfico em sociedade e na educação? A resposta levará você à produção de melhores aulas. O saber geográfico nasce da forma do olhar que os seres humanos constroem sobre seu meio, das questões que eles se colocam sobre o sentido de sua presença nesse meio, sobre as influências que eles sofrem do meio e sobre os efeitos de suas intervenções. Portanto, observe cinco elementos importantes para a compreensão do desenvolvimento do saber geográfico, se familiarize com eles, pois serão importantes para sua formação como professor de Geografia. Esses elementos variam no tempo, mas são sempre importantes para a análise geográfica: • posições e contornos; • identificação e inventário dos lugares; • localização e distribuição; • a relação ser humano-natureza; • o saber geográfico como totalizador da superfície terrestre. 35 O primeiro elemento para a compreensão do desenvolvimento do saber geográfico: Posições e contornos Os seres humanos desenvolveram esforços consideráveis para poder se situar e ter uma ideia da forma, dos contornos e da articulação entre os continentes. De diversas maneiras, o ser humano enfrentou as difíceis etapas do reconhecimento da Terra; os navegadores foram os principais descobridores dos limites das terras e dos litorais. Sobre seus barcos, guiados pelo fio condutor das costas, impulsionados pelos ventos e pelas correntes, esses homens empreenderam viagens e expedições em direção a terras míticas, imaginárias ou reais. Eles desenharam os contornos das costas; depois, com seus barcos mediram as distâncias, a duração das navegações, identificaram as posições topográficas. Deram às terras descobertas milhares de nomes. Foi subindo e descendo rios ou acreditando descobrir suas desembocaduras ou mares interiores que os homens adentraram os continentes. As viagens de exploração por via terrestre, mais difíceis, foram raras e tardias. Veja que a identificação da configuração dos continentes e oceanos necessitava da resolução de três séries de problemas: 1) o conhecimento da forma da Terra; 2) o conhecimento de suas dimensões; 3) a definição das coordenadas de um lugar. A esfericidade da Terra foi admitida e suas dimensões foram medidas desde a Antiguidade. Entretanto, enquanto a latitude e a longitude não foram definidas com precisão, os homens não puderam “dominar” efetivamente o seu Planeta. A partir disso, fica claro que a atitude de se orientar constitui uma das bases de todo saber geográfico. FONTE: DANTAS, A. MEDEIROS, T. H. de L. O saber geográfico. Natal: Editora UFRN, 2008, p. 6. NOTA O que é latitude e longitude? A nossa posição sobre a Terra é referenciada em relação à linha do equador e ao meridiano de Greenwich e é expressa em dois valores: a latitude e a longitude. Assim para saber a nossa posição sobre a Terra basta saber a latitude e a longitude. A latitude é a distância ao Equador medida ao longo do meridiano de Greenwich. Essa distância mede-se em graus, podendo variar entre 0º e 90º para Norte(N) ou para Sul(S). A longitude é a distância ao meridiano de Greenwich medida ao longo do Equador. Essa distância mede-se em graus, podendo variar entre 0º e 180º para Leste(E) ou para Oeste(W). FONTE: <https://bit.ly/30nnND9>. Acesso em: 20 set. 2021. 36 O segundo elemento para a compreensão do desenvolvimento do saber geográfico: Identificação e inventário dos lugares O conhecimento dos contornos e das posições geográficas depende de outro conhecimento, aquele do conteúdo de cada lugar da superfície terrestre. A curiosidade dos seres humanos apenas se satisfaz quando ele preenche os vazios das cartas e substitui os lugares míticos e imaginários por lugares “reais”. Diversas finalidades deram sustentação a essa empreitada: terras a conquistar, impérios a dominar, riquezas para se apropriar, populações para descobrir, rios e fontes, montanhas e lagos para inventariar. Assim, o desejo de conhecer foi sempre orientado e seletivo em relação às intenções dos homens e das sociedades. Ele varia com a escala que se deseja atingir, ou seja, varia em função da distância e do afastamento dos lugares que se quer conhecer. Conhecer significa criar itinerários que são “memorizados” graças à observação dos traços da topografia próxima e longínqua, à memorização das cores da vegetação, das nuances do relevo etc. Para melhor inventariar e identificar, primeiramente, fixa-se os fenômenos mais remarcáveis ou que fornecem os melhores marcos e sinais: o traçado dos rios, os obstáculos montanhosos, os desfiladeiros, os vulcões, os lagos, os animais e as cidades. Em segundo lugar, elenca-se os fenômenos menos visíveis, relações de troca, tipos de organização social, religiosidade etc. Um bom inventário leva em consideração, também, e não é menos importante, os lugares habitados, rotas, construções religiosas, riachos, paradas etc. As cidades, os portos, as redes de rotas representam nós e linhas de funcionamento das sociedades humanas e são reveladoras de dados essenciais. O inventário dos lugares comporta um outro aspecto essencial: aquele de sua denominação. A toponímia é uma etapa indispensável do conhecimento da superfície da Terra. A Terra torna-se Terra dos homens quando deixa de ser anônima eé nomeada por eles. Todo lugar nomeado pelo homem torna-se significativo no sentido forte do termo. Batizar o terreno e cobri-lo de uma camada de nomes transforma o conhecimento dos lugares em saber coletivo. Desde o instante em que os lugares têm um nome, eles são integrados a uma grade social de localização. Seu conhecimento geográfico deixa de ser fechado no círculo estreito das pequenas comunidades e se socializa para além do local. A gente ouve falar de vilarejos, de cidades, de montanhas, de reinos que jamais vimos e que não veremos nunca. A existência, além do que é pessoalmente conhecido, de uma esfera muito mais ampla e que existe apenas como um universo de palavras tem efeitos múltiplos: ela suscita, para alguns, uma fascinação por 37 aqueles lugares dos quais ouviram falar; ela alimenta sua imaginação; ela faz nascer uma necessidade de evasão. A camada de nomes que constitui a toponímia alarga a esfera dos deslocamentos e das trocas para além do que foi percorrido pelo indivíduo. FONTE: DANTAS, A. MEDEIROS, T. H. de L. O saber geográfico. Natal: Editora UFRN, 2008, p. 7. NOTA Significado de toponímia Estudo linguístico e histórico da origem dos nomes de lugar. Designação dos lugares pelos seus nomes. FONTE: < https://www.dicio.com.br/toponimia/ >. Acesso em: 20 set. 2021. O terceiro elemento para a compreensão do desenvolvimento do saber geográfico Localização e distribuição O saber geográfico se particulariza por sua primazia com os dados de localização. É importante salientar que, além de coletados através de critérios rigorosos, é necessário que eles sejam cartografados. O que o geógrafo procura ver na paisagem não é a simples localização deste ou daquele objeto geográfico particular (fazenda, cidade, capela e outros), mas a distribuição de todos os objetos de uma mesma espécie (as casas, as cidades, as vilas, a vegetação, as florestas) e as diversas fisionomias de conjunto que revelam o meio. FONTE: DANTAS, A. MEDEIROS, T. H. de L. O saber geográfico. Natal: Editora UFRN, 2008, p. 5. O quarto elemento para a compreensão do desenvolvimento do saber geográfico: A relação ser humano-natureza Os seres humanos se colocam, desde sempre, questões relativas às relações entre as sociedades e o seu meio, mesmo antes de ter um saber geográfico sistematizado. Hipócrates, em seu tratado Sobre os Ares, as Águas e os Lugares, já opunha os povos das regiões elevadas e úmidas a povos de regiões sem água e de variações climáticas bruscas. Veja que foi e ainda é normal que, inseridos 38 em meios naturais diversos, os seres humanos tenham de retirar desses meios o seu sustento, os materiais para construir suas casas, as matérias-primas para sua produção, dentre outras coisas. Bem como que se interroguem sobre as influências desse meio no seu comportamento. FONTE: DANTAS, A. MEDEIROS, T. H. de L. O saber geográfico. Natal: Editora UFRN, 2008, p. 8. O quinto elemento para a compreensão do desenvolvimento do saber geográfico: O saber geográfico como totalizador da superfície terrestre No século XIX, o nível de descrição da superfície da Terra já permitia uma visualização de sua totalidade. Além das descrições de lugares particulares, de inventários sobre as diversas partes da Terra, o saber geográfico segue na direção de compreender os conjuntos de elementos naturais e humanos e a solidariedade entre seus componentes, numa dimensão totalizante. FONTE: DANTAS, A. MEDEIROS, T. H. de L. O saber geográfico. Natal: Editora UFRN, 2008, p. 5. NOTA É importante distinguirmos Geografia (enquanto ciência) de conhecimento ou saber geográfico. O saber geográfico é algo mais do que a Geografia enquanto ciência que se institucionaliza no século XIX. Essa institucionalização significou a sistematização científica do saber geográfico desenvolvido no processo civilizatório. Nesse sentido, não podemos confundir ciência geográfica com saber geográfico, uma vez que esse último não se resume às formas instituídas pela academia. O saber geográfico enquanto conhecimento acerca do mundo está presente em todos os tempos e em todas as civilizações. Assim, quando falamos de Geografia, antes da sua sistematização, estamos, na verdade, falando de saber geográfico. FONTE: DANTAS, A. MEDEIROS, T. H. de L. O saber geográfico. Natal: Editora UFRN, 2008, p. 2. Caro acadêmico, estudar Geografia é uma oportunidade para compreender o mundo em que se vive, na medida em que esse componente curricular aborda as ações humanas construídas nas distintas sociedades existentes nas diversas regiões do planeta. De acordo com a BNCC (BRASIL, 2020, p. 359), Ao mesmo tempo, a educação geográfica contribui para a formação do conceito de identidade, expresso de diferentes formas: na compreensão perceptiva da paisagem, que ganha significado à medida que, ao observá-la, nota-se a vivência dos indivíduos e da coletividade; nas relações com os lugares vividos; nos costumes 39 que resgatam a nossa memória social; na identidade cultural; e na consciência de que somos sujeitos da história, distintos uns dos outros e, por isso, convictos das nossas diferenças. Para fazer a leitura do mundo em que vivem, com base nas aprendizagens em Geografia, os alunos precisam ser estimulados a pensar espacialmente, desenvolvendo o raciocínio geográfico. O pensamento espacial está associado ao desenvolvimento intelectual que integra conhecimentos não somente da Geografia, mas também de outras áreas (como Matemática, Ciência, Arte e Literatura). Portanto, a interação visa à resolução de problemas que envolvem mudanças de escala, orientação e direção de objetos localizados na superfície terrestre, efeitos de distância, relações hierárquicas, tendências à centralização e à dispersão, efeitos da proximidade e vizinhança etc. O raciocínio geográfico, uma maneira de exercitar o pensamento espacial, aplica determinados princípios para compreender aspectos fundamentais da realidade: a localização e a distribuição dos fatos e fenômenos na superfície terrestre, o ordenamento territorial, as conexões existentes entre componentes físico-naturais e as ações antrópicas. Caro acadêmico, conheça sete recursos para ajudar os estudantes a questionar e entender a organização dos espaços no mundo e no cotidiano. Veja o quadro a seguir: QUADRO 2 – DESCRIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO FONTE: Brasil (2020, p. 360). 40 A principal mudança trazida pela BNCC no Ensino Fundamental é a ênfase na aplicação do raciocínio geográfico. Mas, o que é esse conceito? Raciocínio geográfico significa entender o mundo, a vida e o cotidiano. Para isso, a BNCC detalha e articula os princípios pelos quais os estudantes podem ser conduzidos para pensar dessa forma. Por exemplo: ao observar fenômenos, seja um abalo sísmico, ou um desmoronamento de terras causado pelo desmatamento, todos devem ser incentivados a ter a curiosidade de entender por que aquilo acontece. Os alunos devem pensar na questão da causalidade, da localização e das condições geográficas. FONTE: <https://bit.ly/30iS0mo>. Acesso em: 19 set. 2021. DICA Portanto, acadêmico, para desenvolver essa forma de pensar o espaço, a BNCC (BRASIL, 2020) apresenta alguns recursos que podem ser utilizados em sala de aula. Vamos aprofundar: Aprofundando o assunto 1. Analogia Os acontecimentos e os fenômenos nunca ocorrem da mesma maneira em dois ou mais lugares. Há, sim, características comuns, por exemplo, que definem o que é um terremoto em qualquer lugar do mundo. Contudo, as consequências em cada lugar são diferentes devido às características de cada local. A disposição da construção de prédios, número de pessoas, mecanismos de proteção diversos e condições geológicas próprias influenciam o que acontecerá. Comparar um terremoto ocorrido em lugares diferentes usando o princípio da analogia, por exemplo, ajuda a entender as peculiaridades de cada local e, ao mesmo tempo, as potencialidades de ocorrência de um terremoto, que podeacontecer em cada lugar. 2. Diferenciação É um princípio ligado à analogia. Ajuda a entender, principalmente, as peculiaridades de cada região. É o raciocínio que leva a questionamentos como: por que o clima em uma região é de um jeito e em outra, de diferente? Nesse caso, são características locais que atuam. As regiões se diferenciam no conjunto de características locais. 3. Conexão O espaço geográfico é uma totalidade, composto por temporalidades e espacialidades. Em aspectos naturais e humanos, os fatos estão interligados. Há várias escalas geográficas para se trabalhar o conceito: local, regional, nacional, internacional e global. Na escala local, podemos citar aspectos naturais que estão conectados: 41 o desmatamento de uma área, por exemplo, pode afetar o assoreamento de rios, interferir no microclima regional e até provocar mudanças na fauna. “Uma mudança na política industrial de um país, por outro lado, pode afetar sua posição na Divisão Internacional do Trabalho (DIT), com consequências para a economia local. 4. Distribuição Distribuição está relacionada às características naturais e de ocupação do espaço, um princípio de raciocínio que o estudante deve apropriar-se, para ler e entender o mundo de forma mais ampliada. Traz questões como: o que existe em cada lugar? Onde estão as cidades? Onde se localizam as infraestruturas, como as torres de internet? Por onde passam as estradas? Onde há serras, rios e solos férteis? Essas e outras perguntas ligadas a esse princípio são importantes para ajudar a definir o espaço. 5. Extensão O princípio deve levar o estudante a pensar sobre o espaço, sob uma outra perspectiva. Nessa análise, cabem questionamentos como: um fenômeno ocorre de onde até onde? Onde começa e onde termina? Qual é o tamanho de um município? Qual é a extensão territorial de uma enchente? Até onde chega uma floresta? Quantos hectares tem um latifúndio e quantos hectares tem uma pequena propriedade camponesa? 6. Localização Como o próprio nome indica, está relacionado à noção de identificação no espaço de cada objeto territorial. Nesse aspecto, vale diferenciar com os estudantes o lugar de local. O local é o referenciamento frio, feito pelas coordenadas geográficas, ao qual esse princípio se refere. Já o lugar se estabelece pelas relações sociais que ali se firmam. É determinado pela identidade, pela afetividade e pelo sentimento de pertencimento. 7. Ordem Trata-se de um olhar sobre o ordenamento territorial, que se relaciona com os usos do território. Para que os estudantes coloquem em prática esse princípio, é preciso conduzi-los a uma análise sobre decisões política e de planejamento territorial, que implicam na passagem de uma determinada estrada por uma localidade específica e não por outra. O princípio também está relacionado aos fins políticos que influenciam obras e construções e que estimulam migrações. FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3c34wZU>. Acesso em: 20 set. 2021. 42 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A Geografia, a partir do momento que tratada como ciência, apresentou algumas concepções ou correntes de pensamento que nortearam o trabalho daqueles que se dedicaram a estudá-la. Duas grandes escolas fundamentaram o pensamento geográfico no mundo do final do século XIX e início do século XX: a alemã, considerada “determinista” e a Francesa, denominada “possibilista”. • As concepções acerca da Geografia como ciência influenciaram, o que e de que forma ela foi ensinada nas escolas. Em momentos marcados por uma concepção positivista, esta ciência traduzia-se numa disciplina que se pautava pela descrição acrítica e determinista da paisagem. • Nas últimas décadas do século XX, é que a concepção tradicional de Geografia e suas repercussões no currículo escolar começaram a perder força no cenário educacional brasileiro. • A nova Geografia proposta, comprometida com o papel transformador do professor e da sociedade, passou a ser denominada Geografia Crítica. • A partir da década de 2000, no Ensino da Geografia, foram incorporadas as abordagens e tendências pós-críticas, pós-modernas, com temas e conceitos voltados às questões de gênero, sustentabilidade, gerações e temporalidades, virtualidade, entre outros assuntos atuais. • A BNCC cita que o Espaço Geográfico é o conceito mais amplo e complexo da Geografia. • Os principais conceitos são: espaço geográfico, lugar, paisagem, região, território, natureza e redes. • Para se entender o Espaço Geográfico é preciso também compreender outros conceitos, denominados categorias de análise na Geografia. • Cinco elementos importantes para a compreensão do desenvolvimento do saber geográfico, esses elementos variam no tempo, mas são sempre importantes para a análise geográfica: posições e contornos; identificação e inventário dos lugares; localização e distribuição; a relação ser humano-natureza; o saber geográfico como totalizador da superfície terrestre. RESUMO DO TÓPICO 1 43 • O raciocínio geográfico, uma maneira de exercitar o pensamento espacial, aplica determinados princípios para compreender aspectos fundamentais da realidade: a localização e a distribuição dos fatos e fenômenos na superfície terrestre, o ordenamento territorial, as conexões existentes entre componentes físico-naturais e as ações antrópicas. 44 1 A Geografia, a partir do momento que tratada como ciência, apresentou algumas concepções ou correntes de pensamento que nortearam o trabalho daqueles que se dedicaram a estudá-la. Duas grandes escolas fundamentaram o pensamento geográfico no mundo do final do século XIX e início do século XX. Sobre essas duas grandes escolas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A Alemã, considerada “determinista” e a Francesa, denominada “possibilista”. b) ( ) As escolas Alemã e Francesa constituíram-se em referências clássicas da Geografia Transcendental. c) ( ) A partir das escolas Alemã e Francesa é que surgiram outras correntes de pensamento judaico cristão. d) ( ) Um dos mais importantes antecedentes da criação de uma Geografia universitária foi proporcionado pelo alquimista Immanuel Kant. 2 Os principais conceitos, são: espaço geográfico, lugar, paisagem, região, território, natureza e redes. Para se entender o espaço geográfico é preciso também compreender outros conceitos, denominados categorias de análise na Geografia. Sobre o espaço geográfico, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Interpretada como natural; artificial; ou até mesmo social; ela está sempre na base do espaço e da sociedade presente neste espaço. b) ( ) É o espaço habitado, transformado e utilizado pelo ser humano. É a porção da superfície terrestre que abriga as sociedades, envolvendo também os pontos utilizados para a exploração e extração de recursos naturais. c) ( ) Está relacionado a tudo que os sentidos humanos podem perceber e apreender da realidade de determinado espaço geográfico ou parte dele e está diretamente relacionado à sensibilidade humana. d) ( ) Também se constitui como uma realidade atual construída através do acúmulo de acontecimentos ou eventos passados. 3 Os cinco elementos importantes para a compreensão do desenvolvimento do saber geográfico, esses elementos variam no tempo, mas são sempre importantes para a análise geográfica: posições e contornos; identificação e inventário dos lugares; localização e distribuição; a relação ser humano-natureza; o saber geográfico como totalizador da superfície terrestre. Sobre posições e contornos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) No século XIX, o nível de descrição da superfície da Terra já permitia uma visualização de sua totalidade. AUTOATIVIDADE 45 b) ( ) Para melhor inventariar e identificar, primeiramente, fixam-se os fenômenos mais remarcáveis ou que fornecem os melhores marcos e sinais: o traçado dos rios, os obstáculos montanhosos, os desfiladeiros, os vulcões, os lagos, os animais e as cidades. c) () O saber geográfico se particulariza por sua primazia com os dados de localização. d) ( ) Eles desenharam os contornos das costas; depois, com seus barcos mediram as distâncias, a duração das navegações, identificaram as posições topográficas. 4 O estudo da Geografia possibilita uma melhor percepção das diferenças que existem no interior da sociedade humana, os interesses econômicos, o poder predominante, a inter-relação humana e como elas ocorrem no espaço. Estudar Geografia possibilita ao ser humano conhecer o espaço ocupado, produzido e organizado pelo próprio homem, agente de transformação. Diante do exposto, disserte sobre a importância de se construir o conhecimento geográfico em tempos atuais. 5 O estudo da Geografia possibilita aos alunos a compreensão da inserção e sua posição no espaço geográfico, no conjunto das relações sociedade e natureza, nos valores humanos e culturais, na dinâmica física e natural do nosso planeta, bem como nas questões sociais, econômicas, políticas e ambientais, muito discutidas na atualidade em jornais, revistas, internet, entre outros. Esses assuntos podem ser abordados a fim de promover um estudo mais amplo e variado dos assuntos significativos e vivenciados na mídia pelo aluno. Nesse sentido, disserte sobre as questões mundiais que podem ser desenvolvidas como temas nas aulas de Geografia com os alunos, sejam eles do Ensino Fundamental ou Ensino Médio. 46 47 A DIDÁTICA NA GEOGRAFIA ESCOLAR 1 INTRODUÇÃO Introdução à Didática, baseia-se nas teorias pedagógicas para analisar os métodos mais adequados às situações em que são proporcionadas as aprendizagens. Não há técnica pedagógica sem uma concepção de ser humano e de sociedade, como não há concepção de ser humano e sociedade sem uma competência técnica para realizá-la educacionalmente. Didática, disciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. A divisão das disciplinas em si não é algo negativo. Talvez seja até necessário. É uma maneira de organizar, de delimitar conhecimentos que são ordenados para facilitar a sua aprendizagem. Ao dividir o conhecimento em áreas, é preciso não perder de vista como esses diferentes conhecimentos podem dialogar entre si e como fazem parte de um todo ordenado. Introdução à Didática na Geografia Escolar nos faz perceber que as aulas de Geografia devem incentivar não só a observação do espaço, mas também a interpretação de fatos e a relação entre eles. A Geografia estuda a organização da sociedade e da natureza, a produção do espaço e a interação entre esses elementos. Por meio da disciplina é possível compreender transformações e movimentos em diferentes âmbitos, das mudanças nos arredores de uma avenida que passa a ser centro financeiro aos conflitos entre a necessidade de preservação da natureza e do uso de seus recursos. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 2 INTRODUÇÃO À DIDÁTICA A didática é um ramo da ciência pedagógica que tem como finalidade ensinar métodos e técnicas que possibilitam a construção da aprendizagem por parte do professor. A didática baseia-se nas teorias pedagógicas para analisar os métodos mais adequados às situações em que são proporcionadas as aprendizagens. Nessa direção, podemos compreendê-la, a partir de Libâneo (1990), como uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar as condições e as maneira de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa. Portanto, acadêmico, ela ajuda o professor na direção e orientação das tarefas do ensino e da aprendizagem, fornecendo-lhe segurança profissional. Essa segurança ou competência profissional é muito importante, mas é insuficiente. 48 De acordo com Libâneo (1990), além dos objetivos da disciplina, dos conteúdos, dos métodos e das formas de organização do ensino, é preciso que o professor tenha clareza das finalidades que tem em mente na educação das crianças. A atividade docente tem a ver diretamente com o para que educar, pois a educação se realiza em uma sociedade formada por grupos sociais que têm uma visão distinta de finalidades educativas. A didática, portanto, trata dos objetivos, das condições e dos meios de realização do processo de ensino, ligando meios pedagógico-didáticos a objetivos sociopolíticos. Não há técnica pedagógica sem uma concepção de ser humano e de sociedade, como não há concepção de ser humano e sociedade sem uma competência técnica para realizá-la educacionalmente. Segundo Libâneo (1990), podemos identificar três fases na história da didática. Primeira fase: considerada por todos como a didática geral, a qual podia ser aplicada a todas as matérias, sem considerar as especificidades individuais de cada conteúdo, ou seja, sem respeitar as particularidades epistemológicas de cada conteúdo. Segunda fase: aparece como contrária à primeira no que se refere às particularidades epistemológicas. Nessa segunda fase histórica da didática, consolidaram-se as metodologias específicas para cada ciência ensinada. Terceira fase: traz um pouco das duas anteriores. Caracteriza-se por buscar uma integração da didática geral e das demais metodologias específicas, unificando o que é comum a todas. 2.1 ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DE ENSINO Ao longo da história da educação, várias abordagens de ensino foram disseminadas. Cada abordagem sofreu influências de diferentes teóricos, realizando assim, os seus posicionamentos didáticos. Apresentamos a você, acadêmico, cinco abordagens. ABORDAGEM TRADICIONAL Considera-se aqui uma abordagem do processo ensino-aprendizagem que não se fundamenta implícita ou explicitamente em teorias empiricamente validadas, mas numa prática educativa e na sua transmissão através dos anos. Esse tipo de abordagem inclui tendências e manifestações diversas. A escola, fundada nas concepções dessa abordagem, é o lugar por excelência onde se realiza a educação, a qual se restringe, em sua maior parte, a um processo de transmissão de informações em sala de aula e funciona como uma agência sistematizadora de uma cultura complexa. O tipo de relação social estabelecido nesta concepção de escola é vertical do professor (autoridade intelectual e moral) para o aluno. As possibilidades de cooperação entre os pares são reduzidas, já que a natureza da grande parte das tarefas destinadas aos alunos exige participação individual de cada um deles. A ênfase é dada às situações de sala de aula, onde os 49 alunos são “instruídos” e “ensinados” pelo professor. Comumente, pois, a instrução subordina-se à educação, considerando a aprendizagem do aluno como um fim em si mesmo: os conteúdos e as informações têm que ser adquiridos, os modelos imitados. Caracterizado o ensino pela transmissão do patrimônio cultural, pela confrontação com modelos e raciocínios elaborados, a correspondente metodologia se baseia mais frequentemente na aula expositiva e nas demonstrações do professor à classe, tomada quase como auditório. A avaliação é realizada predominantemente visando a exatidão da reprodução do conteúdo comunicado em sala de aula. Mede-se, portanto, pela quantidade e exatidão de informações que se consegue reproduzir. Daí a consideração de provas, exames, chamadas orais, exercícios etc., que evidenciam a exatidão da reprodução da informação. O exame passa a ter um fim em si mesmo e o ritual é mentido. As notas obtidas funcionam, na sociedade, como níveis de aquisição do patrimônio cultural. [...] ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA Os comportamentalistas ou behavioristas, assim, como os denominadores instrumentalistas e os positivistas lógicos, consideram a experiência ou a experimentação planejada como a base do conhecimento. Evidencia-se, pois, sua origem empirista, ou seja, a consideração de que o conhecimento é o resultado direto da experiência. Qualquer estratégia institucional com base nesta abordagem deve considerar a preocupação científica que a caracteriza,aplicando-os quer no planejamento, quer na condução, implementação e avaliação do processo de aprendizagem. A escola é considerada e aceita como uma agência educacional que deverá adotar forma peculiar de controle, de acordo com os comportamentos que pretende instalar e manter. Cabe a ela, portanto, manter, conservar e em parte modificar os padrões de comportamento aceitos como úteis e desejáveis para uma sociedade, considerando-se um determinado contexto cultural. A escola atende, portanto, aos objetivos daqueles que lhe conferem o poder. Ensinar consiste, assim, num arranjo e planejamento de contingência de reforço sob as quais os estudantes aprendem e é responsabilidade do professor assegurar a aquisição do comportamento. Por outro lado, consiste na aplicação do método científico tanto à investigação quanto à elaboração de técnicas e intervenções, as quais, por sua vez, objetivam mudanças comportamentais úteis e adequadas, de acordo com algum centro decisório. A individualização do ensino surge, na abordagem comportamentalista, como decorrente de uma coerência teórico-metodológica. Tal individualização implica: especificação de objetivos; envolvimento do aluno; controle de contingência; feedback constante que forneça elementos que especifiquem o 50 domínio de uma determinada habilidade; apresentação do material em pequenos passos e respeito individual de cada aluno. A avaliação está diretamente ligada aos objetivos estabelecidos. Na maioria das vezes, inicia o próprio projeto de aprendizagem, uma vez que se procura, através de uma pré-testagem, conhecer os comportamentos prévios, a partir dos quais serão planejadas e executadas as etapas seguintes do processo de ensino e aprendizagem. A avaliação é igualmente realizada no decorrer do processo, já que são definidos objetivos finais (terminais) e intermediários. Também ocorre no final do processo, com a finalidade de se conhecer se os comportamentos finais desejados foram adquiridos pelos alunos. [...] ABORDAGEM HUMANISTA Nessa abordagem, consideram-se as tendências ou enfoques encontrados predominantemente no sujeito. Essa abordagem dá ênfase a relações interpessoais e ao crescimento que delas resulta, centrado no desenvolvimento da personalidade do indivíduo, em seus processos de construção e organização pessoal da realidade, e em sua capacidade de atuar como uma pessoa integrada. O professor em si não transmite conteúdo, dá assistência, sendo um facilitador da aprendizagem. O conteúdo advém das próprias experiências dos alunos. A atividade é considerada um processo natural que se realiza através da interação com o meio. O conteúdo da educação consiste em experiências que o aluno reconstrói. O professor não ensina, apenas cria condições para que os alunos aprendam. A escola decorrente de tal posicionamento será uma escola que respeite a criança tal qual é, e ofereça condições para que ela possa desenvolver-se em seu processo de vir-a-ser. É uma escola que oferece condições que possibilitam a autonomia do aluno. Ensino centrado na pessoa implica técnicas de dirigir sem dirigir, ou seja, dirigir a pessoa à sua própria experiência para que dessa forma, ela possa estruturar-se e agir. Esta é a finalidade do método não diretivo. A não diretividade, portanto, consiste num conjunto de técnicas que implementa a atitude básica de confiança e respeito pelo aluno. As estratégias instrucionais, nessa proposta, assumem importância secundária. Não se enfatiza técnica ou método para se facilitar a aprendizagem. A característica básica dessa abordagem, no que se refere ao que ocorre em sala de aula, é a ênfase atribuída à relação pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento das pessoas, ao desenvolvimento de um clima que possibilite liberdade para aprender. Isso é decorrência de uma atitude de respeito incondicional pela pessoa do outro, considerada capaz de se autodirigir. [...] 51 ABORDAGEM COGNITIVISTA O termo “cognitivista” se refere a psicólogos que investigam os denominados “processos centrais” do indivíduo, dificilmente observáveis, tais como: organização do conhecimento, processamento de informações, estilos de pensamento ou estilos cognitivos, comportamentos relativos à tomada de decisões etc. Uma abordagem cognitivista implica, dentre outros aspectos, estudar cientificamente a aprendizagem como sendo mais que um produto do ambiente, das pessoas ou fatores que são externos ao aluno. A escola, dessa forma, deveria dar a qualquer aluno a possibilidade de aprender por si próprio, oportunidades de investigação individual, possibilitando-lhe todas as tentativas, todos os tateios, ensaios que uma atividade real pressupõe. Isso implica diretamente que a motivação não venha de fora, mas lhe seja intrínseca, ou seja, da própria capacidade de aprender, para que se torne possível à construção de estruturas do ponto de vista endógeno. A escola deve possibilitar ao aluno o desenvolvimento de suas possibilidades de ação motora, verbal e mental, de forma que possa, posteriormente, intervir no processo sociocultural e inovar a sociedade. Deve ser algo que possibilite ao aluno ter um interesse intrínseco à sua própria ação. Não seria possível existir na escola uma verdadeira atividade intelectual baseada em ações, investigações e pesquisas espontâneas, sem que houvesse uma livre cooperação dos alunos entre si e não apenas entre professor e alunos. O trabalho em grupo, ou melhor, o trabalho em comum – forma de cooperação e desenvolvimento – pressupõe, e tem como condição indispensável, que os indivíduos se agrupem espontaneamente, e que o tema estudado/pesquisado/ investigado constitua um verdadeiro problema para o grupo (motivação intrínseca). Um tipo de escola coerente com essa abordagem deverá oferecer às crianças liberdade de ação, e ao mesmo tempo, propor trabalho com conceitos, em níveis operatórios consoante ao estágio de desenvolvimento do aluno, num processo de equilíbrio-desequilíbrio. Não se concebe, no entanto, que a atividade do aluno e o “como” trabalhar os conceitos, sejam dirigidos. A forma de solução deverá ser peculiar a cada aluno. Um ensino que procura desenvolver a inteligência deverá priorizar as atividades do sujeito, considerando-o inserido numa situação social. Cabe ao professor evitar rotina, fixação de respostas, hábitos. Deve simplesmente propor problemas aos alunos, sem ensinar-lhes as soluções. Sua função consiste em provocar desequilíbrios, fazer desafios. Deve orientar o aluno e conceder-lhe ampla margem de autocontrole e autonomia. Deve assumir o papel de investigador, pesquisador, orientador e coordenador, levando o 52 aluno a trabalhar o mais independente possível. O professor deve conviver com os alunos, observando seus comportamentos, conversando com eles, perguntando, sendo interrogado por eles, e realizar também com eles, suas experiências, para que possa auxiliar sua aprendizagem e desenvolvimento. A avaliação terá de ser realizada a partir de parâmetros extraídos da própria teoria e implicará verificar se o aluno já adquiriu noções, conservações, realizou operações, relações etc. O rendimento poderá ser avaliado de acordo com a sua aproximação a uma norma qualitativa pretendida. Uma das formas de se verificar o rendimento é através de reproduções livres, com expressões próprias, relacionamentos, reprodução sob diferentes formas e ângulos, explicações práticas, explicações casuais etc. [...] ABORDAGEM SOCIOCULTURAL Uma das obras referentes a esse tipo de abordagem, que enfatiza aspectos sociopolítico-culturais, mais significativas no contexto brasileiro, e igualmente uma das mais difundidas, é a de Paulo Freire, com sua preocupação com a cultura popular. O fenômeno da preocupação com a cultura popular surge após a II Guerra Mundial e se liga à problemática da democratização da cultura. Em países industrializados, o movimento de cultura popular volta-se para os valores que caracterizamo povo em geral. Já em países do terceiro mundo, esse movimento tem se voltado frequentemente, por exemplo, para as camadas socioeconômicas inferiores, e uma das tarefas tem sido a alfabetização de adultos. Parte sempre do que é inerente ao povo, sobretudo do que as pessoas assimilaram como sujeitos, não lhes fornecendo, portanto, coisas prontas, mas procurando trazer valores que são inerentes a essas camadas da população e criar condições para que os indivíduos os assumam e não somente os consumam. Na obra de Paulo Freire, a educação assume caráter amplo, não restrita à escola em si e nem a um processo de educação formal. Caso a escola seja considerada, deve ser ela um local onde seja possível o crescimento mútuo, do professor e dos alunos, no processo de conscientização, o que implica uma escola diferente da que se tem atualmente, com seus currículos e prioridades. A escola, pois, para é uma instituição que existe num contexto histórico de uma determinada sociedade. Para que seja compreendida é necessário que se entenda como o poder se constitui na sociedade e a serviço de quem está atuando. Uma situação de ensino-aprendizagem, entendida em seu sentido global, deverá procurar a superação da relação opressor-oprimido. A superação deste tipo de relação exige condições tais como: reconhecer-se, criticamente, como oprimido engajando-se na práxis libertadora, onde o diálogo exerce papel fundamental na 53 percepção da realidade opressora; solidarizar-se com o oprimido, o que implica assumir a situação e lutar para transformar radicalmente a situação objetiva, entendida como a transformação da situação concreta que gera a opressão (tarefa histórica dos homens). O educador é sempre um sujeito cognoscente, quer quando se prepara, quer quando se encontra dialogicamente com os educandos. A educação problematizadora implica um constante ato de desvelamento da realidade, e é um esforço permanente, através do qual os homens vão percebendo criticamente como estão sendo no mundo. Esta educação supera, pois o autoritarismo do educador bancário assim como o intelectualismo alienante e a falsa consciência do mundo. A relação professor-aluno é horizontal e não imposta. Para que o processo educacional seja real é necessário que o educador se torne educando e o educando, por sua vez, educador. Quando esta relação não se efetiva, não há educação. O homem assumirá a posição de sujeito de sua própria educação e, para que isto ocorra, deverá estar conscientizado do processo. É, portanto, muito difícil pretender participar de um processo educativo que, por sua vez, é processo de conscientização, a menos que seja consciente de si e de tal processo. A verdadeira avaliação do processo consiste na autoavaliação e/ou avaliação mútua e permanente da prática educativa por professor e alunos. Qualquer processo formal de notas, exames etc. deixa de ter sentido em tal abordagem. No processo de avaliação proposto, tanto os alunos como os professores saberão quais suas dificuldades, quais seus progressos. [...] FONTE: Adaptado de <https://pedagogiaaopedaletra.com/abordagens-pedagogicas-de-ensino-tradi- cional-comportamentalista-humanista-cognitivista-sociocultural/>. Acesso em: 22 nov. 2021. Portanto, acadêmico, a prática escolar está sujeita a condicionantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e da aprendizagem. Alguns autores trabalham com o conceito de tendências pedagógicas, embora se reconheçam as dificuldades do estabelecimento de uma síntese dessas diferentes tendências pedagógicas, cujas influências se refletem no ecletismo do ensino atual, emprega-se, a teoria de Libâneo, que as classifica em dois grupos: “liberais” e “progressistas”. No primeiro grupo, estão incluídas a tendência “tradicional”, a “renovada progressivista”, a “renovada não diretiva” e a “tecnicista”. No segundo, a tendência “libertadora”, a “libertária” e a “crítico-social dos conteúdos”. 54 2.2 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS Segundo Libâneo (1990), a pedagogia liberal sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigentes na sociedade de classe, através do desenvolvimento da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto cultural, as diferenças entre as classes sociais não são consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições. 2.2.1 Tendência liberal tradicional Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tradicional se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral. De acordo com essa escola tradicional, o aluno é educado para atingir sua plena realização através de seu próprio esforço. Assim, as diferenças de classe social não são consideradas e toda a prática escolar não tem relação com o cotidiano do aluno. Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da criança é acompanhada de outra: a de que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto, sem levar em conta as características próprias de cada idade. A criança é vista, assim, como um adulto em miniatura, apenas menos desenvolvida (SILVA, 2001). 2.2.2 Tendência liberal renovada progressivista Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a tendência liberal renovada (ou pragmatista) acentua o sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais. A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para assumir seu papel na sociedade, adaptando as necessidades do educando ao meio social, por isso ela deve imitar a vida. Se, na tendência liberal tradicional, a atividade pedagógica estava centrada no professor, na escola renovada progressivista, defende-se a ideia de “aprender fazendo”, portanto centrada no aluno, valorizando as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social etc., levando em conta os interesses do aluno. Como pressupostos de aprendizagem, aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador. Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno, através da descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em novas situações (SILVA, 2001a). 55 2.2.3 Tendência liberal renovada não diretivo Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na formação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preocupada com os problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais. Todo o esforço deve visar a uma mudança dentro do indivíduo, ou seja, a uma adequação pessoal às solicitações do ambiente. Aprender é modificar suas próprias percepções. Apenas se aprende o que estiver significativamente relacionado com essas percepções. A retenção se dá pela relevância do aprendido em relação ao “eu”, o que torna a avaliação escolar sem sentido, privilegiando-se a autoavaliação. Trata-se de um ensino centrado no aluno, sendo o professor apenas um facilitador (SILVA, 2001a). 2.2.4 Tendência liberal tecnicista A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse principal é, portanto, produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, não se preocupando com as mudanças sociais (SILVA, 2001a). 2.3 TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS Segundo Libâneo (1990), a pedagogia progressista designa as tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação.2.3.1 Tendência progressista libertadora As tendências progressistas libertadora e libertária têm, em comum, a defesa da autogestão pedagógica e o antiautoritarismo. A escola libertadora, também conhecida como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a educação à luta e organização de classe do oprimido. Não considera o papel informativo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas insiste que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto dele, não se elabora uma nova teoria do conhecimento e se os oprimidos não podem adquirir uma nova estrutura do conhecimento que lhes permita reelaborar e reordenar seus próprios conhecimentos e apropriar-se de outros. No contexto da luta de classes, o saber mais importante para o oprimido é a descoberta da sua situação de oprimido, a condição para se libertar da exploração política e econômica, através da elaboração da consciência crítica passo a passo com sua organização de classe. Por isso, a pedagogia libertadora ultrapassa os limites da pedagogia, situando-se também no campo da economia, da política e das ciências sociais. Aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade. Portanto o conhecimento que o educando transfere representa uma resposta à situação de opressão a que se chega pelo processo de compreensão, reflexão e crítica (SILVA, 2001a). 56 Além do método, Paulo Freire elaborou uma Teoria do conhecimento conhecida como a Teoria da Ação Dialógica. Por meio do diálogo, professores e alunos constroem saberes, conhecimentos. Nesse ensino-aprendizagem não há conhecimentos superiores ou inferiores, os conhecimentos são diferentes e cada aluno tem seu tempo e ritmo próprio para conhecer. Para entender a Teoria de Conhecimento elaborada por Paulo Freire sugerimos pelo menos a leitura das seguintes obras: Pedagogia do Oprimido; Pedagogia da Esperança; Pedagogia da Autonomia. DICA 2.3.2 Tendência progressista libertária A escola progressista libertária parte do pressuposto de que somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em situações novas, por isso o saber sistemati- zado só terá relevância se for possível seu uso prático. A ênfase na aprendizagem infor- mal, via grupo, e a negação de toda forma de repressão, visam favorecer o desenvolvi- mento de pessoas mais livres. No ensino da língua, procura valorizar o texto produzido pelo aluno, além da negociação de sentidos na leitura (SILVA, 2001a). 2.3.3 Tendência progressista crítico-social dos conteúdos Conforme Libâneo (1990), a tendência progressista crítico-social dos conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. A atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o princípio da aprendizagem significativa, partindo do que o aluno já sabe. A transferência da aprendizagem só se realiza no momento da síntese, isto é, quando o aluno supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão mais clara e unificadora (SILVA,2001a). INTERESSANTE QUADRO SÍNTESE TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 57 FONTE: <https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=2783719>. Acesso em: 20 set. 2021. 3 DIDÁTICA, DISCIPLINARIDADE, INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE A nova realidade de um mundo globalizado sugere e, de certa forma, pressiona mudanças no modelo de ensino de nossas escolas. Diante disso, a utilização de uma abordagem tradicional dos conteúdos em sala de aula nem sempre é a mais adequada. A divisão das disciplinas em si não é algo negativo. Talvez seja até necessário. É uma maneira de organizar, de delimitar conhecimentos que são ordenados para facilitar a sua aprendizagem. Ao dividir o conhecimento em áreas, é preciso não perder de vista como esses diferentes conhecimentos podem dialogar entre si e como fazem parte de um todo ordenado. Em certo sentido, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade não implicam a eliminação das disciplinas, mas um modo de fazer com que elas dialoguem entre si, estabelecendo ligações de convergência, complementaridade, interconexões entre os saberes. A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade são as formas encontradas para anular essa forma fragmentada de perceber a realidade e o conhecimento. O professor é o profissional da reconstrução do conhecimento tendo como prática educativa a pesquisa. O professor já não é mais o indivíduo habilitado apenas em dar aulas, pois ministrar aulas não representa mais tática fundamental de aprendizagem. A tarefa fundamental é, portanto, socializar conhecimento, disseminando informações e culturas, não só transmitindo, mas reconstruindo. A aprendizagem é sempre acontecimento de reconstrução social e política, e não é só reprodutivista, pois temos o compromisso de fazer o aluno aprender através do conhecimento/prática. 58 3.1 DISCIPLINARIDADE Na abordagem disciplinar, ela é fundamentada na visão cartesiana, ou seja, pen- samento reducionista, materialista, racionalista, positivista e tecnicista e isso provoca o afastamento do ser humano de si mesmo e das suas relações interpessoais e ambientais. Embora o sistema de disciplinas científicas tenha surgido no século XVIII (LENOIR, 1998), a disciplinaridade teve sua origem no século XVI, com Galileu Galilei. Ele, ao criar a ciência ocidental, propôs substituir o estudo da realidade em toda a sua complexidade pela adoção de perspectivas definidas que permitissem a construção de modelos, com base na percepção racional dos aspectos materiais observados nos fenômenos. Desse modo, em vez de levar em conta uma quantidade enorme de variáveis de diversas naturezas, esse recorte da realidade permitiria concentrar a atenção em aspectos mais específicos. A ideia de decompor a realidade em partes menores, que poderiam posterior- mente ser reunidas, surgiu baseada numa visão mecanicista, que considerava o mundo como uma grande máquina, que poderia ser desmontada em partes menores, de modo a serem estudadas isoladamente, mais facilmente. Essa visão levou à criação de muitas disciplinas, superespecializadas, que enfatizavam a fragmentação da realidade como estratégia para melhorar sua compreensão. Assim, mais do que um conjunto de con- teúdo, leis e teorias que podem ser transmitidos, uma disciplina envolve a escolha de uma perspectiva de abordagem dos fenômenos que orienta o olhar, gerando uma forma altamente racional e abstrata de estudar a realidade. Podemos caracterizar como disciplina um modo de organizar e delinear uma área de trabalho, de concentrar as pesquisas e os experimentos dentro de um determinado ângulo de visão. Uma disciplina se define pelo seu objeto de estudo específico, a partir da delimitação de marcos conceituais, do desenvolvimento de seus métodos e procedimentos próprios. A disciplinaridade no campo do conhecimento pode ser compreendida como reflexo do modo de produção capitalista. A divisão do conhecimento em disciplinas no currículo está diretamente associada à especialização e à divisão do trabalho favorecida pelo processo de industrialização. A fragmentação do conhecimento em disciplinas teve como objetivo atender às exigências da sociedade em determinado contexto. Dessa forma, para atender às exigências da sociedade contemporânea, o conhecimento necessita se reconfigurar. Tal reconfiguração do conhecimento está relacionada a um enfoque interdisciplinar. No entanto, o conhecimento disciplinar não deve ser abandonado em função do mundo contemporâneo (MACEDO, 2000). 59 Significado de Disciplinaridade Qualidade de disciplinar, do que diz respeito a uma disciplina, a uma área do conhecimento, a umamatéria ensinada em uma instituição de ensino. FONTE: <https://www.dicio.com.br/disciplinaridade/>. Acesso em: 20 set. 2021. INTERESSANTE 3.2 INTERDISCIPLINARIDADE Interdisciplinaridade é um conceito que se refere ao processo de ligação existente entre duas ou mais disciplinas, a partir de algo que é comum entre elas. Por isso a interdisciplinaridade propõe a capacidade de dialogar entre as diversas ciências, fazendo entender o saber como um todo, e não como partes fragmentadas. A interdisciplinaridade considera o diálogo entre as disciplinas, porém, continua estruturada nas esferas da disciplinaridade. Um dos precursores da interdisciplinaridade foi o filósofo e epistemólogo Georges Gusdorf (FAZENDA, 1999). As discussões sobre a interdisciplinaridade chegaram ao Brasil no final da década de 1960 (FAZENDA, 1991). De acordo com Fazenda (1999), uma das primeiras produções sobre essa temática no Brasil foi de Hilton Japiassu. Os trabalhos de Japiassu e Gusdorf nos dão indicações detalhadas e atuais sobre os cuidados a serem tomados na constituição de uma equipe interdisciplinar. As atenções devem se voltar para os seguintes aspectos: necessidade de estabelecimento de conceitos-chave para facilitar a comunicação entre os membros da equipe; exigências para a delimitação do objeto a ser pesquisado e repartição de tarefas e parcerias. O termo interdisciplinaridade não possui ainda um sentido único e estável. Embora não haja uma definição estanque acerca do conceito de interdisciplinaridade, ela precisa ser compreendida. Na construção do conhecimento a integração das ciências não garante a sua execução. Além disso, o trabalho interdisciplinar não se efetiva se não formos capazes de transcender a fragmentação do conhecimento e cairmos no reducionismo (FRIGOTTO, 1995). “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa” (JAPIASSU, 1976, p. 74). Fazenda (2015, p. 12) ressalta como o conceito de interdisciplinaridade não anula a ideia de disciplinas: “O conceito de interdisciplinaridade como ensaiamos em todos nossos escritos desde 1979 e agora aprofundamos, encontra- se diretamente ligado ao conceito de disciplina, onde a interpenetração ocorre sem a destruição básica às ciências conferidas”. E vai mais além ao afirmar que uma pesquisa interdisciplinar só é possível “onde várias disciplinas se reúnem a partir de um mesmo objeto” (FAZENDA, 2015, p. 13). 60 Contudo, está claro que a interdisciplinaridade é muito mais do que uma junção de disciplinas: “trata-se de uma nova visão sobre as possibilidades de relação entre elas e entre as questões fundamentais da contemporaneidade” (FERNANDES, 2015, p. 51-52). A interdisciplinaridade mostra-se como uma possibilidade de ultrapassar os elementos do conhecimento. No entanto, essa prática educativa é marcada por um constante movimento de criação e reinvenção do conhecimento. Esse processo de criação e reinvenção faz parte do processo de superação das visões dicotômicas entre a objetividade e subjetividade. DICA Significado de interdisciplinaridade Qualidade do que é interdisciplinar, comum a duas ou várias disciplinas, ou áreas do conhecimento, com o intuito de melhorar o processo de aprendizagem, estreitando a relação entre professor e aluno. FONTE: <https://www.dicio.com.br/interdisciplinaridade/>. Acesso em: 20 set. 2021. 3.3 TRANSDISCIPLINARIDADE Na transdisciplinaridade há uma intercomunicação entre as disciplinas de tal modo que não existem fronteiras entre elas. Ao mesmo tempo em que procura uma interação máxima entre as disciplinas, respeita suas singularidades, onde cada uma colabora para um saber comum, o mais completo possível, sem transformá-las em uma única disciplina. Segundo Nicolescu (1999, p. 22), “A transdisciplinaridade, como o prefixo trans, indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento”. Os imperativos, anunciados por Nicolescu de compreender e agir considerando a coletividade, anunciam a posição ética da proposta transdisciplinar, sendo a ética uma exigência que pensa a convivência entre os diferentes. A proposta é ultrapassar o modelo estabelecido de ciência e teorização para acolher um modelo que valorize e integre as diversas formas de produção de conhecimento. A transdisciplinaridade não significa apenas que as disciplinas colaboram entre si, mas significa, também, que existe um pensamento organizador que ultrapassa as próprias disciplinas. Para haver essa dita transdisciplinaridade, é preciso haver um pensamento organizador, chamado pensamento complexo. O verdadeiro problema não é fazer uma adição de conhecimento, é organizar todo o conhecimento. A transdisciplinaridade é uma abordagem que visa à unidade do conhecimento, articulando elementos que passam entre, além e através das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade do mundo real. 61 NOTA A transdisciplinaridade Possibilita um diálogo entre campos do saber que, para além da disciplina em si, busca a construção do conhecimento que influencia diretamente o comportamento e a cognição do sujeito e a relação com a sociedade em suas várias dimensões (Ética, Política, Econômica, Ambiental, Educacional, Cultural, Religiosa). Trans – Elemento que significa além de, para além, ou seja, transdisciplinar significa para além das disciplinas e/ou para além dos muros das escolas, das instituições de ensino, é a relação do mundo educacional com a sociedade envolvente. Em resumo, acadêmico, as abordagens interdisciplinar e transdisciplinar nos remetem à ideia de pensar o conhecimento em forma de rede e ou teia. Pensar o conhecimento em forma de rede e ou teia significa pensar o conhecimento em um contexto integrado, sistêmico, diante de uma realidade complexa, em que tudo está conectado com tudo, com implicações significativas para a ideia de sociedade, em que a sociedade também deve ser pensada em forma de rede, ou seja, pensar a sociedade enquanto uma imagem complexa, na qual diferentemente do individualismo, a sociedade não aparece apenas como um agregado de indivíduos independentes, mas como um contexto integrado, sistêmico, que se constitui de muitos elementos (nós) e relações entre esses nós. 4 INTRODUÇÃO À DIDÁTICA NA GEOGRAFIA ESCOLAR Caro acadêmico, a escola atual, apesar dos consideráveis avanços, ainda é reprodutora dos elementos que compõem o sistema político e econômico vigente em nossa sociedade, tornando-se contraditória e excludente. A primazia da educação deve ser a transformação do educando em um ser crítico, capaz de fazer suas escolhas e se posicionar nas diversas questões sociais, ao mesmo tempo em que desenvolve suas habilidades e os seus interesses. O ensinar Geografia deve ser compreendido em uma perspectiva de construção dos sujeitos por meio de uma prática docente que permita a troca de saberes e o compartilhamento de informações objetivas e contextualizadas. Portanto as aulas de Geografia devem incentivar não só a observação do espaço, mas também a interpretação de fatos e a relação entre eles. A Geografia estuda a organização da sociedade e da natureza, a produção do espaço e a interação entre esses elementos. Por meio da disciplina é possível compreender transformações e movimentos em diferentes âmbitos, das mudanças nos arredores de uma avenida que passa a ser centro financeiro aos conflitos entre a necessidade de preservação da natureza e do uso de seus recursos. Como você estudou anteriormente, há conceitos básicos que ajudam nesse entendimento, como os de paisagem, lugar e território, entre outros temas e conceitos da Geografia. 62 Toda prática na Geografia deve ser pensada com objetivos, propósitos e uma intençãocada vez mais articulada a uma educação real, situada no contexto da escola e no dos que nela se relacionam na busca pela realidade moral, pessoal e intelectual. Nesse sentido, a didática na Geografia é responsável por mostrar o caminho por meio dos métodos e das técnicas que levem a aprendizagem e a natureza do conhecimento. A didática tem por objetivo o como fazer a prática pedagógica, mas este só tem sentido quando articulado ao para que fazer e ao por que fazer. Na Geografia a didática de abordagem crítica leva o professor a instigar os alunos a refletirem sobre seus conhecimentos prévios, relacionando-os com os conteúdos explorados em sala, podendo, assim, complementar, construir conceitos e visões de determinado assunto. É fundamental que haja a interação professor/aluno, e a didática proporciona esse elo, tornando o ato de ensinar e aprender uma ação crítica e prazerosa. As práticas pedagógicas da didática propõem um novo sentido para se abordar os temas em Geografia, conforme Sacramento (2010, p. 5), “o papel atual da Geografia escolar é fazer com que o aluno compreenda os fenômenos geográficos espacializados em seu cotidiano, permitindo-lhe localizar-se e perceber tais transformações”. Esse modo de pensar dialeticamente possibilita compreender as questões de forma dinâmica e totalizante, onde os fatos têm um contexto social, econômico e político, portanto, ligados à realidade do aluno que se torna capaz de entender os significados e as contradições que há nos diversos elementos e ações sociais. Uma prática pedagógica inovadora leva o aluno ao reconhecimento da sua realidade local, ao mesmo tempo em que relaciona o seu lugar com o contexto global social. Apresentar os recursos como mapas, legendas e símbolos é uma ferramenta importante no ensino de Geografia. Nessas aulas de cooperação entre professores e alunos no século XXI, não podemos esquecer que as tecnologias estão à frente dos livros didáticos, uma vez que a educação está num processo constante de mudanças, as quais tentam acompanhar o ritmo do novo milênio. NOTA Caro acadêmico, as aulas de Geografia no século XXI precisam ser elaboradas a partir de temas e conceitos cada vez mais presentes na sociedade humana: ética; novas tecnologias; diversidade cultural e religiosa; identidades e pertencimento; gênero; trabalho e temporalidades, entre outros. 63 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A didática é um ramo da ciência pedagógica que tem como finalidade ensinar métodos e técnicas que possibilitam a construção da aprendizagem por parte do professor. • A didática baseia-se nas teorias pedagógicas para analisar os métodos mais adequados às situações em que são proporcionadas as aprendizagens. • Podemos identificar três fases na história da didática: ◦ Primeira fase: considerada por todos como a didática geral, a qual podia ser aplicada a todas as matérias, sem considerar as especificidades individuais de cada conteúdo, ou seja, sem respeitar as particularidades epistemológicas de cada conteúdo. ◦ Segunda fase: aparece como contrária à primeira no que se refere às particularidades epistemológicas. Nessa segunda fase histórica da didática, consolidaram-se as metodologias específicas para cada ciência ensinada. ◦ Terceira fase: traz um pouco das duas anteriores. Caracteriza-se por buscar uma integração da didática geral e das demais metodologias específicas, unificando o que é comum a todas. • Ao longo da história da educação, várias abordagens/tendências de ensino foram disseminadas. Cada abordagem/tendência sofreu influências de diferentes teóricos, realizando assim, os seus posicionamentos didáticos. • A nova realidade de um mundo globalizado sugere e, de certa forma, pressiona mudanças no modelo de ensino de nossas escolas. Diante disso, a utilização de uma abordagem tradicional dos conteúdos em sala de aula nem sempre é a mais adequada. • Toda prática na Geografia deve ser pensada com objetivos, propósitos e uma intenção cada vez mais articulada a uma educação real, situada no contexto da escola e no dos que nela habita na busca pela realidade moral, pessoal e intelectual. Nesse sentido, a didática na Geografia é responsável por mostrar o caminho por meio dos métodos e das técnicas que levem a aprendizagem e a natureza do conhecimento. 64 1 O potencial de contribuição da Geografia à educação escolar decorre da sua própria natureza, como ciência que trata dos elementos naturais e humanos em sua configuração espacial, em vista de uma explicitação relacional-interativa da construção do mundo pelo ser humano. Cm relação ao que apresenta a importância do conhecimento geográfico para a sociedade, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O conhecimento geográfico promove a compreensão dos aspectos da natureza física e das relações socioculturais e políticas da humanidade por parte de uma elite global. b) ( ) Manutenção e acumulação de bens e produção para a minoria. c) ( ) Em determinados contextos a construção e a assimilação dos conhecimentos geográficos possibilita, como instrumento, meios para a produção de uma vida de oportunidades para as pessoas. d) ( ) Cabe, então, à disciplina de Geografia ser um espaço privilegiado de resgate teológico das identidades e pertencimento de grupos étnicos, socialmente vulneráveis. 2 O ensino em Geografia refere-se principalmente às atividades de educação em Geografia, voltadas para o desenvolvimento de capacidades individuais e coletivas, quase sempre visando à melhoria da qualidade de ensino e aprendizado. Para que isso ocorra, o ensino da Geografia acompanha todas as tendências pedagógicas da Educação. A tendência que prioriza a formação de um grupo elitizado, buscando promover e garantir seus privilégios sociais, é denominada de: a) ( ) Tendência liberal conservadora democrática. b) ( ) Tendência liberal tradicional. c) ( ) Tendência renovada liberal. d) ( ) Tendência progressista. 3 As disciplinas escolares são resultados de aprendizagens interligadas em todas as áreas de conhecimentos, bem como se relaciona aos aspectos afetivos, cognitivos, sociais e motores. Uma disciplina é considerada uma ciência quando há um método próprio de investigação e um objeto específico a ser investigado e analisado. Acerca da disciplina de Geografia como ciência, analise as sentenças a seguir: I- Na ciência geográfica, existem discussões acerca do objeto de seu estudo, pois há divergência de ideias entre os pesquisadores da área. II- Na ciência geográfica, a disciplina é considerada ciência quando há um envolvimento com a vertente teológica. AUTOATIVIDADE 65 III- Na ciência geográfica, o estudo da paisagem é visto a partir da associação de um único sujeito. IV- Na ciência geográfica, o estudo da paisagem está voltado para múltiplos fenômenos da natureza, bem como aspectos físicos e visíveis ao ser humano. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas. c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças II e III estão corretas. 4 Para os professores que estão iniciando sua carreira, é sempre importante discutir o processo didático-pedagógico. Fazer uma autorreflexão sobre a maneira de agir em salas de aula é sempre frutífero, pois a análise crítica de si mesmo reflete as contradições, os erros, os acertos e as condições necessárias de conduzir uma aula. Por sua vez, sempre é essencial refletir sobre o processo didático, especialmente no ensino da Geografia, e como esta disciplina pode contribuir para o entendimento de mundo dos alunos. Diante do exposto, disserte sobre o ensino de Geografia e o método de exposição de conteúdo. 5 Durante muito tempo a Geografia ficou à mercê de outras ciências, não sendo encarada como uma ciência autônoma justamente por apresentar um campo vasto de estudo, estar atrelada a várias ciências, sejam elas naturais ou humanas,e por não apresentar um objeto de estudo definido. No entanto, apesar das críticas, a Geografia se tornou uma ciência respeitada e com grandes contribuições em termos de leitura e compreensão de sociedade e, também, de produção de conhecimento ligado aos avanços tecnológicos. Percebe-se que o conhecimento geográfico possibilita dominar aspectos da natureza física e das relações socioculturais e políticas da humanidade. Disserte sobre os domínios e contribuições dos conhecimentos geográficos. 66 67 TÓPICO 3 - AS METODOLOGIAS NA GEOGRAFIA ESCOLAR 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, neste tópico abordaremos a Introdução às Metodologias na Educação: teorias de aprendizagens e de ensino, as metodologias de ensino-aprendizagem têm um papel fundamental no processo de incremento da autonomia do aluno na aprendizagem. Também vamos ensinar e aprender Geografia por meio de projetos: as experiências pedagógicas na Pedagogia de Projeto revelam muita autenticidade, criatividade, criticidade e transparência, tudo o que é projeto tem novo significado, um novo olhar, um novo enfoque na aprendizagem. Daremos, outrossim, atenção às principais Abordagens Metodológicas no Ensino da Geografia: o método na Geografia não é compreendido enquanto uma articulação estrita de abordagens ou concepções, mas como totalidade aberta e tensionada por visões de mundo, inclusive, contraditórios. As abordagens ou concepções geográficas são examinadas no seu movimento de constituição, na potência interpretativa e nos limites, objetivando projetar o campo da Geografia à novas possibilidades e diálogos. UNIDADE 1 2 INTRODUÇÃO ÀS METODOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: TEORIAS DE APRENDIZAGENS E DE ENSINO As metodologias de ensino-aprendizagem têm um papel fundamental no proces- so de autonomia do aluno na aprendizagem. Elas integram estratégias, técnicas e ativida- des voltadas a diferentes situações didáticas vividas em sala de aula, tendo como objetivo propiciar condições para que o aluno possa se apropriar dos conhecimentos propostos. Caro acadêmico, veja a seguir alguns métodos que podemos usar na escola, para que a aprendizagem ocorra. O que devemos ter em mente é que esses métodos relacionados com a Teoria do Conhecimento da Geografia, favorecem o processo de ensino-aprendizagem junto aos alunos. 68 Métodos de ensino O método de ensino tradicional: a metodologia de ensino tradicional é a mais disseminada no país e no mundo. Consiste, basicamente, no ensino centrado na figura do professor, em uma relação de exposição de conhecimento, e a cobrança é completamente vertical. Além das aulas expositivas, existe uma pressão por resultados mensuráveis, e há reprovação dos alunos que não obtêm desempenho suficiente a partir dessa diretriz. O método de ensino construtivista: ao contrário da metodologia de ensino tradicional, o método de ensino construtivista coloca o aluno no centro do processo de aprendizagem, fazendo com que ele desempenhe um papel ativo na busca por conhecimento, na medida em que o senso crítico é estimulado por meio de questionamentos. Dessa forma, cada aluno tem a oportunidade de ser protagonista do seu próprio processo de aprendizagem e de se desenvolver no seu tempo. Além disso, os estudantes participam da estruturação do currículo que é flexibilizado de acordo com seus respectivos perfis. O método de ensino montessoriano: este método de ensino busca garantir a autonomia máxima do aluno sobre o processo de aprendizagem. Nesse contexto, os pais e professores se tornam apenas facilitadores do conhecimento, disponibilizando meios para que os alunos escolham os temas de interesse para que possam ser pesquisados e estudados. Com relação à faixa etária, as classes são mistas, ou seja, alunos de diferentes idades podem ter interesses de aprendizagem semelhantes. Os principais objetivos dessa metodologia de ensino é estimular a criatividade e a independência dos alunos. O método de ensino waldorfiano: a metodologia de Waldorf incentiva a imaginação e a criatividade, direciona os alunos ao pensamento autônomo e entende que o desenvolvimento e a compreensão dos seres humanos, relacionados aos mais diferentes âmbitos, precisa levar em conta a individualidade de cada aluno. Essa metodologia de ensino prioriza as atividades que incentivam o pensar, o agir e o sentir – e considera fundamental o equilíbrio entre a atividade intelectual e a prática, entre o esforço e o descanso. O método de ensino sociointeracionista: esta metodologia de ensino considera que é por meio da interação entre o sujeito e a sociedade, que o processo de aprendizagem se dá. Assim, o método de ensino sociointeracionista entende que o ser humano pode modificar o ambiente, e que o ambiente é capaz de modificar o ser humano. No contexto escolar, o educador assume o papel de mediador para incentivar os progressos que teriam dificuldade ou não seriam capazes de ocorrer espontaneamente. FONTE: Adaptado de <https://grupobalaovermelho.com.br/blog/metodologias- -de-ensino/. Acesso em: 3 jun. 2021. 69 Para ampliar seus conhecimentos, sugerimos outros métodos somente focados na aprendizagem: MÉTODOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM Método de aprendizagem por experimentação: com esse método, os alunos aprendem por meio de testes, prototipagens e descobertas. Um bom exemplo da aplicabilidade da experimentação, se dá nas aulas de Ciências. Ao realizar experimentos sobre o funcionamento dos geradores de energia, os materiais que conduzem ou isolam a passagem de corrente elétrica, por exemplo, o aluno consegue estabelecer a relação entre a teoria e a prática. Comparando esse método com o tradicional, percebe-se que ele apresenta mais que a teoria. Afinal, o aluno que não consegue aplicar esses conhecimentos em situações do seu cotidiano, não conseguiu desenvolver corretamente todas as habilidades e competências necessárias. A experimentação é um fator importante para permitir a real compreensão, e a capacidade de tomar decisões baseadas no conhecimento. Método de aprendizagem por desafios: esse é um dos métodos de ensino-aprendizagem mais eficaz para engajar e incentivar os alunos em sala de aula. O estudante se esforça para encontrar soluções dentro de um contexto – usando tanto a tecnologia, que é inerente aos métodos de ensino atuais, como outros meios. É muito diferente de decorar e reproduzir. Com esse método, os estudantes precisam buscar conhecimentos por si mesmos, desenvolvendo pensamento crítico e habilidade de resolver problemas. Contudo, os educadores precisam fornecer feedbacks para mostrar quais foram os erros e acertos. Método de aprendizagem baseada em jogos: os jogos são uma paixão de muitas pessoas – não importa a idade. Por isso, é muito interessante usar esse modelo para promover informações e novos conhecimentos. Desenvolver jogos com os alunos, sejam eletrônicos, sejam analógicos, para facilitar a compreensão do funcionamento da lógica e da tecnologia, ou jogos de cartas e tabuleiros, para o ensino da matemática, é muito benéfico. Os modelos tradicionais de ensino já não são suficientes para as crianças da geração alpha (nascidas a partir de 2010), que são curiosas e lidam com tecnologia e jogos com muita naturalidade. O jogo em si é um objeto do saber. Jogos educativos proporcionam um ambiente crítico, fazendo com que os alunos se sensibilizem para a construção de novos conhecimentos, além de desenvolverem suas cognições de maneira mais prazerosa. FONTE: Adaptado de <https://www.aeducacaonosmove.com.br/blog/metodos-ensino-aprendizagem>. Acesso em: 3 jun. 2021. 70 O avanço da informática, virtualidade, novas tecnologias da informação e comunicação provocou diversas mudanças na maneira como interagimos com a sociedade, alterando aspectos como relações políticas, econômicas e sociais. Como parte essencial para o funcionamento da sociedade, a educação também apresentou mudanças, principalmente com a utilização das metodologias ativas de aprendizagem. Referentea essa metodologia, acompanhe a tabela a seguir Metodologias ativas O modelo mais conhecido e praticado nas instituições de ensino é aquele em que o aluno acompanha a matéria lecionada pelo professor por meio de aulas expositivas, com aplicação de avaliações e trabalhos. Esse método é conhecido como passivo, pois o docente é o protagonista da educação. Na metodologia ativa, o aluno é personagem principal e o maior responsável pelo processo de aprendizado. O objetivo desse modelo de ensino é incentivar que a comunidade acadêmica desenvolva a capacidade de absorção de conteúdos de maneira autônoma e participativa. As metodologias ativas são uma nova maneira de pensar o ensino. Isso porque um dos princípios da BNCC (Base Nacional Comum Curricular que deve guiar o currículo de toda a Educação Básica brasileira) é a promoção do aluno como protagonista de seu processo de ensino-aprendizagem. Portanto, as metodologias ativas surgem como uma alternativa para proporcionar aos estudantes meios para que eles consigam guiar o seu desenvolvimento educacional, fugindo do modelo de ensino em que o professor detinha todo o conhecimento dentro da sala de aula. As metodologias ativas vêm sendo pensadas e trabalhadas já há algum tempo e um de seus grandes precursores foi William Glasser e sua pirâmide de aprendizagem. Segue quatro exemplos de metodologia ativas: 1 – Sala de aula invertida: a sala de aula invertida é uma metodologia ativa, atual e moderna, que procura fazer do aluno ator principal de seu caminho rumo ao conhecimento. Para isso, o educador deve passar qual será o conteúdo brevemente, mas indicar aos alunos que pesquisem sobre o assunto em casa pelos meios necessários. Em um terceiro momento, os alunos deverão levar o conteúdo aprendido à sala de aula apenas para sanar suas dúvidas. Contudo, o que se nota na sala de aula invertida é que os estudantes estão por si só, de maneira autônoma, sendo completamente ativos. Seria interessante, inclusive, que você sugerisse como tarefa individual ou em grupo, que os alunos ensinassem aos demais o assunto estudado em casa. 2 – Ensino híbrido: o ensino híbrido é também uma metodologia ativa. Isso porque esse ensino inovador busca unir de maneira equilibrada o ensino a distância e o ensino presencial. Com essa união, os alunos deverão ser muito mais ativos em seu processo de ensino-aprendizagem, já que precisarão de disciplina e muita concentração para aprenderem via EAD. E, além disso, o uso da tecnologia como meio de aprendizagem vai fazer com que os alunos produzam conhecimento de 71 maneira mais autônoma. Um exemplo de técnica de ensino híbrido é a rotação por estações (tanto os momentos on-line quanto os off-line ocorrem dentro da escola. O espaço, normalmente a sala de aula, é dividido em estações, e ao menos uma delas, obrigatoriamente, é on-line). 3 – Promoção de seminários e discussões: outra metodologia ativa superinteressante é a promoção de seminários e discussões. Mudar a disposição das carteiras e colocar alunos e professor em um mesmo patamar é bem interessante e faz os estudantes se sentirem importantes. Além disso, eles aprendem muito mais quando apresentam e discutem algum tipo de assunto, se posicionando sobre ele. Inclusive, por meio de discussões e seminários, os estudantes também desenvolvem sua argumentação, o que é fundamental para realizar textos dissertativo- argumentativos e se posicionar frente a determinado assunto durante sua vida. 4 – Gamificação: a gamificação é outra metodologia ativa. Ela busca trazer jogos para a sala de aula, e assim fazer dos celulares aliados na aprendizagem dos conteúdos das aulas. Seria interessante que você sugerisse jogos interativos que tenham a ver com o assunto das aulas. Essa é uma estratégia bem legal para unir alunos e professores no desenvolvimento do conhecimento em um mundo cheio de distrações tecnológicas. A gamificação é interessante também para que os alunos desenvolvam um espírito de competitividade saudável. Vale lembrar também que os jogos não precisam ser apenas tecnológicos, eles podem ser de qualquer espécie. Então, use sua imaginação junto com seus alunos e criem games legais para que a aula fique divertida e interativa. FONTE: Adaptado de https://educacao.imaginie.com.br/metodologias-ativas/. Acesso em: 20 set. 2021. Lembre-se acadêmico, de que temos muitos outros métodos disponíveis na educação para a construção do ensino-aprendizagem em Geografia e demais disciplinas, e o importante é ter em mente qual método trará o melhor resultado para suas aulas, ou seja, que os alunos aprendam o conteúdo e consigam fazer a leitura de mundo. 3 ENSINAR E APRENDER GEOGRAFIA POR MEIO DE PROJETOS As experiências pedagógicas na Pedagogia de Projeto revelam muita autenticidade, criatividade, criticidade e transparência, tudo o que é projeto tem novo significado, um novo olhar, um novo enfoque na aprendizagem. Os conteúdos trabalhados ganham vida, significado, porque não são vistos isoladamente, mas integrados a um conjunto, conectado, interligado a outras disciplinas, na construção 72 do conhecimento. Portanto, a escola ao trabalhar com Pedagogia de Projetos, deverá inovar, criar, experimentar, agir, esses são os desafios importantes para projetarmos uma nova maneira de ensino-aprendizagem. Qual a origem da Pedagogia de Projetos? De acordo com Leite (1996, p. 5), A discussão sobre Pedagogia de Projetos não é nova. Ela surge no início do século, com John Dewey e outros pensadores da chamada “Pedagogia Ativa”. Já nessa época, a discussão estava embasada numa concepção de que “educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura e a escola deve representar a vida presente – tão real e vital para o aluno como o que ele vive em casa, no bairro ou no pátio. A autora acrescenta que, Ao participar de um projeto, o aluno está envolvido em uma experiência educativa em que o processo de construção de conhecimento está integrado às práticas vividas. Esse aluno deixa de ser, nessa perspectiva, apenas um aprendiz do conteúdo de uma área de conhecimento qualquer. É um ser humano que está desenvolvendo uma atividade complexa e que nesse processo está se apropriando, ao mesmo tempo, de um determinado objeto do conhecimento cultural e se formando como sujeito cultural (LEITE, 996, p. 6). De acordo com Jacoboski (2010), ao se pensar no desenvolvimento de um Projeto, três momentos devem ser considerados: problematização, desenvolvimento e síntese. • Problematização: momento inicial do projeto, quando o professor detecta o que os alunos sabem ou não sobre o tema em estudo. É, portanto, o ponto de partida para a sua organização. • Desenvolvimento: implementação de ações traçadas para buscar respostas às questões e hipóteses levantadas na problematização. Criação de situações nas quais os alunos possam comparar pontos de vista, rever hipóteses, colocar novas questões, deparar com outros elementos postos pela Ciência, estratégias fundamentais para se alcançar êxito. Assim, é necessário que se criem propostas de trabalho que exijam atividades extraescolar que envolvam uso de bibliotecas municipais e/ou estaduais, participação de pessoas da comunidade para proferirem palestras, realização de seminários, debates etc. Nesse processo, os alunos, ao confrontarem seus conceitos, suas experiências com o novo conhecimento, reformulam as hipóteses iniciais, num processo de desequilíbrio e acomodação, no qual as convicções primárias vão sendo superadas e outras mais complexas vão sendo construídas. • Síntese: momento no qual a experiência vivida e a produção cultural sistematizada se entrelaçam, dando significado às aprendizagens construídas, que serão utilizadas em outras situações. 73 NOTA O educador espanhol Fernando Hernández e Montserrat Ventura baseiam-se nas ideias de John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano, que defendia a relação da vida com a sociedade, dos meios com os finse da teoria com a prática. A principal proposta dos educadores Fernando Hernández e Montserrat Ventura é reorganizar o currículo por projetos. O professor deve deixar o papel de “transmissor de conteúdos” para se transformar em um pesquisador, e o aluno, por sua vez, passa a ser o sujeito do processo ensino-aprendizagem. Em um projeto “todas as coisas podem ser ensinadas por meio de projetos, basta que se tenha uma dúvida inicial e que se comece a pesquisar e buscar evidências sobre o assunto”, diz o educador espanhol Fernando Hernández. Em um projeto de trabalho, os próprios educandos começam a participar do processo de criação, procurando respostas e buscando soluções. Nesse processo, a etapa mais importante é o levantamento de dúvidas e a definição dos objetivos da aprendizagem. Na organização do currículo por projetos de trabalho há a busca de respostas adequadas e soluções acertadas, facilitando, assim, a tomada de decisões que ocorre no delineamento do processo. FONTE: <https://educador.brasilescola.uol.com.br/gestao-educacional/fernando- -hernandez.htm>. Acesso em: 3 jun. 2021. 4 PRINCIPAIS ABORDAGENS METODOLÓGICAS NO ENSINO DA GEOGRAFIA A complexidade do acervo conceitual do pensamento geográfico, significa a abertura às diferentes tendências teórico-metodológicas, reconhecendo os embates no plano da ciência postos por cada época. Assim, o método na Geografia não é compreendido enquanto uma articulação estrita de abordagens ou concepções, mas como totalidade aberta e tensionada por visões de mundo, inclusive, contraditórios. As abordagens ou concepções geográficas são examinadas no seu movimento de constituição, na potência interpretativa e nos limites, objetivando projetar o campo da Geografia a novas possibilidades e diálogos. Podemos trabalhar o conhecimento produzido pela humanidade de três maneiras; conservando o conhecimento para geração futura, renovando o conhecimento já produzido ou criando conhecimento, para que isso ocorra o processo de ensino é baseado em três formas: tradicional, critica e pós-crítica. Como você poderá aplicar os conhecimentos que estamos estudando em sala de aula, tendo como parâmetro três teorias curriculares para a Geografia? O que os alunos devem saber? Qual conhecimento ou saber é considerado importante, ou válido, ou essencial, para merecer ser considerado parte do teu planejamento? Portanto, a Epistemologia (Teoria do Conhecimento) usada em sala ou nas pesquisas, indica o tipo de método que o professor ou o pesquisador usará em seu cotidiano. O método é resultado da Teoria do Conhecimento que você usa. Exemplificando: se você usa nas aulas de Geografia, uma abordagem ou concepção mais crítica, usará um método de ensino-aprendizagem mais crítico. 74 4.1 GEOGRAFIA TRADICIONAL O ensino da Geografia tradicional é marcado por verdades impostas. Os conteúdos repassados são, basicamente, os valores sociais acumulados com o passar dos tempos, no intuito de prepará-los para a vida, e esses conteúdos são determinados pela sociedade e ordenados na legislação independente da experiência do aluno e das realidades sociais. O ensino não depende do aluno, pois ele não tem o poder de contestar e nem de dar a sua opinião, neste caso, cabe ao aluno a função da aprendizagem crua e decorativa, e ao professor a função do ensino direto. Paulo Freire comenta em diversos de seus escritos que essa ação é conhecida como Educação Bancária, em que os alunos precisam decorar todo o conteúdo. O método dos professores, o conteúdo e a avaliação são todos de poder decisório deles, a explanação oral é a base do compartilhamento de conhecimento, as aulas são todas preparadas de forma minuciosa, sendo que a explanação e a sua análise são realizadas pelo professor, direcionando o aluno para onde se queria. Dentre as características do ensino tradicional, a aplicação de conteúdo repetitivo, de forma que o aluno decore. Assim, a falta de dinamismo faz com que certos alunos aprendem e outros não, já que a capacidade de aprendizagem varia entre as pessoas, cada um tem sua forma de aprender. FIGURA 2 – ESTADOS DO BRASIL https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2020/08/mapa-capitais-brasil.jpg 75 FIGURA 3 – TEORIAS CURRICULARES TRADICIONAIS FONTE: Silva (2001, p. 17) Uma aula Tradicional na Geografia pode ser a partir, por exemplo, dos Estados brasileiros e suas capitais. Uma forma tradicional seria fazer uma cópia do mapa dos Estados Brasileiros e suas capitais, entregar aos alunos após a explicação do assunto estudado, solicitando que pintem os estados com cores diferentes por região. Solicitar que eles gravem, memorizem os nomes de todos os estados e capitais, por fim, que tenha na prova uma questão solicitando os nomes dos estados e capitais, para que os alunos os citem. FIGURA 4 – ENSINO TRADICIONAL FONTE: <https://bit.ly/3n8PGYg>. Acesso em: 3 jun. 2021. 4.2 GEOGRAFIA CRÍTICA Para o ensino da Geografia de forma crítica, os alunos devem atingir uma consciência crítica em sua fase educacional. Dessa maneira, os alunos adquirem os conhecimentos teóricos e superam certos exames, sendo que, precisam fomentar sua formação como indivíduo consciente da realidade em que vivem e em relação ao meio 76 global. A finalidade do processo de aprendizagem na Geografia, assim como nas outras disciplinas escolares, seria em transformar a realidade social. Nesse ensino, faz-se necessária a formação da autoconsciência do aluno e o processo de ensino, que deverá focar a autossuperação do aluno em seu contexto social e cultural. O planejamento das aulas deve refletir sobre as diferenças sociais existentes, e adotar uma postura comprometida com os valores de justiça e equidade. O pensador brasileiro Paulo Freire, em diversos de seus escritos, entendia que a educação é um instrumento para mudar o mundo, baseado na participação dos alunos, na sua formação humanística, na transformação da sociedade e na contextualização do ensino- aprendizagem. Inclusive, deve procurar combater os aspectos políticos, culturais e econômicos que degradam o sistema educativo, direcionado a uma ação cultural combativa que questione a cultura do domínio. Imagine como você poderia elaborar os planos de aulas fundamentados em uma abordagem crítica. A abordagem crítica também é conhecida como radical ou marxista. Não esqueça que o ensino da Geografia crítica propõe romper com a ideia de neutralidade científica, para fazer da Geografia uma ciência apta a elaborar uma crítica radical à sociedade capitalista, pelo estudo do espaço e das formas de apropriação da natureza. FIGURA 5 – MUNDO INSUSTENTÁVEL FONTE: <https://bit.ly/3n8QufK>. Acesso em: 19 set. 2020. FIGURA 6 – TEORIAS CURRICULARES CRÍTICAS FONTE: Silva (2001, p. 17) 77 O plano de aula dentro de uma perspectiva crítica se fundamenta nas questões sociais, portanto, esse é o foco de suas aulas. Podemos citar alguns temas ou conceitos que poderão ser úteis no planejamento, fundamentado em uma abordagem crítica. Por exemplo: Fome, miséria, desemprego, mundo do trabalho. Você, ao ter definido o assunto, os objetivos e as habilidades, continuará elaborando os outros itens do seu plano de aula de forma crítica. Indico consultar os pressupostos destacados pela BNCC (habilidades e competências) para o planejamento de suas aulas. Na perspectiva crítica e pós-crítica, você parte da Base Nacional Comum Curricular BNCC e acrescenta outras habilidades e competências no planejar de cada aula. DICA Acesse o link a seguir e confira o conteúdo da BNCC: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. 4.3 GEOGRAFIA PÓS-CRÍTICA A perspectiva de ensino na Geografia pós-crítica eleva o planejamento de aulas para além da questão das classes sociais, indo direto ao foco principal: o sujeito. Desse modo, mais do que a realidade social dos indivíduos, consiste em compreender os estigmas étnicos e culturais, tais como a racialidade, o gênero, a orientação sexual e todos os elementospróprios das diferenças entre as pessoas. Nesse sentido, estabelece o combate à opressão de grupos semanticamente marginalizados e luta por sua inclusão no meio social. Os termos “luta e combate”, assumem uma perspectiva crítica, com o significado de reflexão e apropriação dos conhecimentos críticos para fundamentar a opinião, as ideias, as leis e as normas sociais. Lembrando o quadro Teorias Curriculares e focando nas Teorias pós-críticas. FIGURA 7 – TEORIA CURRICULAR PÓS-CRÍTICA FONTE: Silva (2001, p.17) Um tema sugerido dentro desta abordagem seria: gênero e sexualidade. Você pode buscar fundamentação para suas aulas de Geografia. 78 FIGURA 8 – GEOGRAFIAS FEMINISTAS FONTE: <https://bit.ly/3c51e8D>. Acesso em: 20 mar. 2021. DICA Confira e utilize a ferramenta de busca do Google acadêmico, acesse em: https://scholar.google.com.br/. No contexto pós-crítico, a questão da expressão artística ligada à Geografia é muito presente. Sugerimos, por exemplo, uma aula sobre os territórios musicais. Veja o exemplo de aula a seguir. FIGURA 9 – GEOGRAFIA DO SOM FONTE: <https://bit.ly/3C54Xh6>. Acesso em: 3 jun. 2021. Você pode buscar por meio do Google Acadêmico, artigos, livros sobre essa questão. Basta digitar entre aspas o assunto ou tema que deseja pesquisar. Exemplo: “Geografia Feminista” ou temas referentes a Gênero. Aula sugerida sobre Mulheres (Gênero), veja as dicas a seguir. 79 Outra sugestão de aula é a “Geografia e Som”. De acordo com Costa (2019), você pode desenvolver essa aula por meio de um projeto de trabalho local e territórios das músicas. Solicite aos alunos que entrevistem pessoas com mais de 50 anos, perguntando para elas: Quais são os sons relacionados ao passado, por exemplo, uma música, um som de alguma ave ou de algum programa de rádio, entre outros sons, que elas não escutam atualmente. Na socialização, aproveite para refletir com os alunos sobre alguns conceitos ou temas da Geografia que você quer explorar na aula. Exemplo: músicas sertanejas raiz, que lembram o interior. Você pode comparar com as músicas sertanejas universitárias que são escutadas na área urbana, rural/campo e cidade/ urbano. Outra opção é elaborar e aplicar uma pesquisa referente às cidades conhecidas como as capitais dos sons. Exemplo: A Capital do Rock. Capital da Música Sertaneja. O tema será de lugar, localidade relacionada à memória, saudade, entre outros. DICA Caro acadêmico, sugerimos três sites que disponibilizam planos de aulas, conteúdos, reportagens, materiais didáticos: Conheça uma nova Nova Escola! Conteúdo para se informar, para se capacitar e para aplicar em aula. Acesse: https://novaescola.org.br/. Este portal é um espaço para você professor acessar sugestões de planos de aula, baixar mídias de apoio, ter notícias sobre educação e iniciativas do MEC ou até mesmo compartilhar um plano de aula, participar de uma discussão ou fazer um curso. Venha fazer parte desta comunidade! Acesse: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html. Encontre no UOL Educação material para pesquisa escolar, dicas para alunos, pais e professores, informações sobre vestibular e instituições e muito mais. Acesse em: https:// educacao.uol.com.br/. 80 O RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO NA BNCC A PARTIR DE METODOLOGIAS ATIVAS Jéssica da Silva Rodrigues Cecim Viviane Lousada Cracel Metodologias ativas: contribuições para o desenvolvimento de competências A BNCC estabelece dez competências gerais que norteiam o trabalho dos professores e das escolas, unificando, no âmbito pedagógico, aprendizagem e desenvolvimento. Segundo o documento, competência é definida como: A mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2017, p. 8). Em outras palavras, assinala para a necessidade dos alunos se apropriarem e serem capazes de utilizar os saberes adquiridos em suas relações diárias e na resolução de problemas cotidianos. Salienta, ainda, a preocupação com desenvolvimento do estudante em todas as suas dimensões: intelectual, social, emocional, física e cultural, estando apto a lidar com desafios individuais e coletivos. Tal aspecto a diferencia das habilidades, que estão focalizadas no desenvolvimento cognitivo. Importante destacar também que as competências não são sinônimos de conteúdo, embora mobilize alguns. E quais são essas competências? Conhecimento, pensamento científico, crítico e criativo, repertório cultural, comunicação, cultura digital, trabalho e projeto de vida, argumentação, autoconhecimento e autocuidado, empatia e cooperação, responsabilidade e cidadania. Essas competências devem ser trabalhadas de forma integrada, uma vez que se entrelaçam de diferentes maneiras, e articuladas com as habilidades dos componentes curriculares. Devem, ainda, perpassar todas as áreas de conhecimento e serem desenvolvidas durante toda a educação básica, por meio de aprendizado contínuo e gradual. No caso específico da Geografia, o próprio documento destaca que a grande contribuição desta disciplina aos alunos da educação básica é “desenvolver o pensamento espacial, estimulando o raciocínio geográfico para representar e interpretar o mundo em permanente transformação e relacionando componentes da sociedade e da natureza" (BRASIL, 2017, p. 358). Neste sentido, destacamos três das sete competências específicas deste componente curricular para o ensino fundamental intimamente relacionadas ao que foi exposto acima: utilizar os conhecimentos geográficos para LEITURA COMPLEMENTAR 81 entender a interação sociedade/natureza; desenvolver autonomia e senso crítico para o entendimento e emprego do raciocínio geográfico; e desenvolver o pensamento espacial por meio do uso de diferentes linguagens e geotecnologias. Entendemos que as demais competências estão relacionadas a ações e posturas que estimulam os alunos a pensarem espacialmente e desenvolverem o raciocínio geográfico. Se entendemos que ser competente é ter a capacidade de agir, mobilizando conhecimentos e habilidades com vistas à tomada de decisão e resolução de problemas diante de uma realidade complexa, precisamos de ferramentas pedagógicas que oportunizem ao estudante a experiência de agir a partir do conhecimento estudado e, para tal, a prática pedagógica deve deslocar o foco do ensino de conteúdos para focar o desenvolvimento das competências (BRAGA, 2018, p. 10). Assim, um dos grandes desafios da educação, inclusive da educação geográfica, é o desenvolvimento de umas práxis pedagógicas que seja capaz de formar um sujeito crítico, reflexivo, que sabe trabalhar em grupo e de forma colaborativa e eficaz na resolução de problemas. Neste contexto, as metodologias ativas representam propostas para centrar o processo de ensino-aprendizagem na participação ativa dos alunos e na realidade em que estão inseridos. Além disso, sua concepção está relacionada (ou proporciona) o desenvolvimento das competências (gerais e específicas) presentes na BNCC como empatia, argumentação, responsabilidade, comunicação entre outros. Talvez essa seja uma das novidades da BNCC: um novo olhar para as metodologias e práticas de ensino. Apesar da sua contemporaneidade como prática pedagógica, suas raízes conceituais remontam ao início do século XX, quando diferentes autores escreveram acerca da necessidade de se inovar nas práticas pedagógicas. Dentre eles, podemos citar John Dewey, que nos anos 1930 já ressaltava a importância de estreitar a relação entre teoria e prática ao defender que o aprendizado ocorre no contexto diário do aluno. Para Moran (2018), as metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos alunos na construção do processo de aprendizagem, em que deixam de ser agentes passivos e assumem uma postura mais participativa,tornando- se protagonistas desse processo. São pensadas, portanto, visando à participação ativa e interativa do estudante em seu processo de aprendizado. O docente assume o papel de mediador neste processo, atuando como um problematizador ou facilitador e não mais como transmissor de conhecimento. Contrastam, portanto, com a abordagem tradicional de ensino centrada no professor. O caráter ativo está associado à realização de práticas pedagógicas que envolvam e promovam o engajamento dos alunos, criando situações de aprendizagem nas quais possam fazer coisas, pensar e conceituar sobre, construir conhecimentos a partir dos conteúdos envolvidos na atividade, assim como desenvolver a capacidade crítica e reflexiva, interagindo com outros alunos e professor e explorando atitudes e valores (VALENTE, 2018). 82 Uma dessas estratégias é a Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL, do inglês problem-based learning, ou ABP aqui no Brasil). Surge inicialmente em escolas de medicina na década de 1960 no Canadá e Holanda, mas atualmente tem sido aplicada em diferentes áreas do conhecimento e níveis de ensino. Utiliza, para a construção de novos conhecimentos, um problema, que pode ser apresentado em forma de estudos de casos, histórias reais ou problemas simulados, que possibilita aos alunos experimentarem o desafio de enfrentar problemas, formularem questões e proposições buscando sua solução recorrendo, para tanto, à conceitos já trabalhados e às trocas colaborativas com os demais colegas. Não se centra, portanto, em aspectos disciplinares, mas em um todo interdisciplinar objetivando, também, o desenvolvimento de competências. Essa estratégia envolve a criação de situações/contextos problemáticos que situam o aluno motivando-o, instigando-o e introduzindo-o ao que será estudado. Os alunos desenvolvem a atividade em grupo (normalmente de cinco a sete alunos) onde discutirão, formularão hipóteses e soluções possíveis ao problema apresentado. Esse cenário poderá ser apresentado da forma como o professor julgar mais interessante: com imagens, texto ou com apenas uma pergunta. Ao final, os alunos apresentam para a sala seus pontos de vista, confrontando/complementando com os demais e sistematizando os aprendizados. Em Geografia, pode ser uma estratégia para nós ao desenvolvermos o pen- samento espacial e raciocínio geográfico a partir de questões, contextos e problemas presentes no cotidiano que, colaborativa mente, levem o aluno a representar e inter- pretar o espaço geográfico. A seguir apresentamos um exemplo de situação-problema que poderia ser desenvolvida com os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental visando contemplar a habilidade (EF08GE05) "Aplicar os conceitos de Estado, nação, território, governo e país para o entendimento de conflitos e tensões na contemporaneidade, com destaque para as situações geopolíticas na América e na África e suas múltiplas regio- nalizações a partir do pós-guerra. "A família da Alexandra é uma dentre milhares que sofrem com a crise na Venezuela. Faltam produtos nos supermercados e farmácias, sobretudo itens que fazem parte da cesta básica, sem contar as filas enormes nas portas desses estabelecimentos por todo o país. Cada vez mais dependente de importações e sem dinheiro para isso, a questão do desabastecimento no país se agravou. Soma-se a isso a hiperinflação, que faz com que os salários já não sejam mais suficientes para sobreviver, além de toda a tensão política entre governo e oposição. Para fugir da crise e tentar melhorar de vida, Alexandra pensa que a saída é migrar com o marido e os dois filhos para outro país, mas tem medo, pois não sabe como será recebida e se conseguirá um lugar para ficar e trabalhar. Além disso, migrar para onde? Segundo as Nações Unidas, entre janeiro de 2014 e junho de 2018 cerca de 2,3 milhões de venezuelanos abandonaram o país em direção a países vizinhos como a Colômbia e o Brasil ou próximos, embora não fronteiriços, como Equador e Peru. Esse é um lado da migração, mas é o outro? Como a crise na Venezuela e o aumento da migração impacta os países vizinhos e suas 83 relações? A partir dessa situação-problema apresentada aos alunos, o professor pode mediar em sala o desenvolvimento do raciocínio geográfico por meio dos princípios descritos. Nesse exemplo, cuja lógica vale para outros, é possível comparar esse fluxo migratório a outros ocorridos em diferentes lugares usando o princípio da analogia, assim como compreender as peculiaridades de cada contexto (diferenciação). É possível, ainda, estabelecer conexões desse fenômeno com outros, como econômicos e geopolíticos, mostrando que o espaço geográfico é uma totalidade, e que vários fatores estão interligados e nos ajudam a explicar dado contexto. Podemos, ainda, discutir sua localização, distribuição e extensão em diferentes escalas. Por exemplo, analisando os impactos nos países vizinhos ou, então, fluxos migratórios globais e suas tendências. Por fim, o professor pode mediar as discussões conduzindo-os a uma análise a respeito de políticas e planejamentos necessários para a resolução desse problema migratório, seja no âmbito interno quanto externo. FONTE: Adaptada de <https://ocs.ige.unicamp.br/ojs/anais14enpeg/article/view/2994/2858>. Acesso em: 22 set. 2021. 84 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • As metodologias de ensino-aprendizagem têm um papel fundamental no processo de incremento da autonomia do aluno na aprendizagem. Elas integram estratégias, técnicas e atividades voltadas a diferentes situações didáticas vividas em sala de aula, tendo como objetivo propiciar condições para que o aluno possa se apropriar dos conhecimentos propostos. • As experiências pedagógicas na Pedagogia de Projeto revelam muita autenticidade, criatividade, criticidade e transparência, tudo o que é projeto tem novo significado, um novo olhar, um novo enfoque na aprendizagem. Os conteúdos trabalhados ganham vida, significado, porque não são vistos isoladamente, mas integrados a um conjunto, conectado, interligado a outras disciplinas, na construção do conhecimento. • A complexidade do acervo conceitual do pensamento geográfico, significa a abertura à diferentes tendências teórico-metodológicas, reconhecendo os embates no plano da ciência postos por cada época. Assim, o método na Geografia não é compreendido enquanto uma articulação estrita de abordagens ou concepções, mas como totalidade aberta e tensionada por visões de mundo, inclusive, contraditórios. • A Epistemologia (Teoria do Conhecimento) usada em sala ou nas pesquisas, indica o tipo de método que o professor ou o pesquisador usará em seu cotidiano. O método é resultado da Teoria do Conhecimento que você usa. Exemplificando: se você usa nas aulas de Geografia, uma abordagem ou concepção mais crítica, usará um método de ensino e de aprendizagem mais crítico. 85 1 As metodologias de ensino-aprendizagem têm um papel fundamental no processo de autonomia do aluno na aprendizagem. Elas integram estratégias, técnicas e atividades voltadas a diferentes situações didáticas vividas em sala de aula, tendo como objetivo propiciar condições para que o aluno possa se apropriar dos conhecimentos propostos. Sobre as Metodologias Ativas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A metodologia ativa é a mais disseminada no país e no mundo. Consiste, basicamente, no ensino centrado na figura do professor. b) ( ) Além das aulas expositivas, existe uma pressão por resultados mensuráveis, e há reprovação dos alunos que não obtêm desempenho suficiente a partir dessa diretriz. c) ( ) Outra metodologia ativa superinteressante é a promoção de seminários e conflitos. Mudar a disposição das carteiras e colocar alunos e professor em diferente patamar. d) ( ) A sala de aula invertida é uma metodologia ativa, atual e moderna, que procura fazer do aluno ator principal de seu caminho rumo ao conhecimento. 2 As experiênciaspedagógicas na Pedagogia de Projeto revelam muita autenticidade, criatividade, criticidade e transparência, tudo o que é projeto tem novo significado, um novo olhar, um novo enfoque na aprendizagem. Referente à pedagogia de Projetos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Problematização, momento final do Projeto, quando o professor detecta o que os alunos sabem ou não sobre o tema em estudo. b) ( ) Desenvolvimento, implementação de ações impostas pelo professor para buscar respostas às questões e hipóteses levantadas na problematização. c) ( ) Os conteúdos trabalhados ganham vida, significado, porque não são vistos isoladamente, mas integrados a um conjunto, conectado, interligado a outras disciplinas, na construção do conhecimento. d) ( ) Síntese, momento no qual a experiência vivida e a produção cultural sistematizada se afastam. AUTOATIVIDADE 86 3 O método é resultado da Teoria do Conhecimento que você usa. Exemplificando: se você usa nas aulas de Geografia, uma abordagem ou concepção mais crítica, usará um método de ensino-aprendizagem mais crítico. Referente à Geografia Tradicional, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Para o ensino da Geografia, os alunos devem atingir uma consciência crítica em sua fase educacional. b) ( ) O ensino não depende do aluno, pois ele não tem o poder de contestar e nem de dar a sua opinião, nesse caso, cabe ao aluno a função da aprendizagem crua e decorativa, e ao professor a função do ensino direto. c) ( ) O planejamento das aulas deve refletir sobre as diferenças sociais existentes, e adotar uma postura comprometida com os valores de justiça e equidade. d) ( ) A perspectiva de ensino na Geografia eleva o planejamento de aulas para além da questão das classes sociais, indo direto ao foco principal: o sujeito. Desse modo, mais do que a realidade social dos indivíduos, consiste em compreender os estigmas étnicos e culturais. 4 Na pedagogia tradicional, o educador é o centro do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, é o responsável pela interpretação e exposição dos conteúdos em sala de aula. A didática tradicional foi o primeiro modelo adotado pelas escolas e ainda continua vivo, sendo, talvez, o mais utilizado atualmente. Nesse sentido, disserte sobre o papel do professor na pedagogia tradicional. 5 A presença constante das temáticas da inclusão e exclusão social, da emancipação, do pertencimento, da cidadania, da identidade, da diversidade e da diferença nas aulas de Geografia possibilita diferentes ângulos de compreensão da sociedade atual. Um conceito muito relevante para se entender as relações que se estabelecem nas ditas sociedades contemporâneas é o de identidade cultural, noção e o sentimento de pertença a determinados grupos, e que o indivíduo enquadra outras pessoas e a si próprio nas mais variadas categorias de classificação. Nesse sentido, disserte sobre o ensino da Geografia e a identidade cultural: 87 REFERÊNCIAS ABORDAGENS pedagógicas de ensino: tradicional, comportamentalista, humanista, cognitivista, sociocultural. Pedagogia ao Pé da Letra, 2013. 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No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – O PLANEJAR NA GEOGRAFIA ESCOLAR TÓPICO 2 – O AVALIAR NA GEOGRAFIA ESCOLAR TÓPICO 3 – GEOGRAFIA E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NO SÉCULO XXI Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 92 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 93 TÓPICO 1 — O PLANEJAR NA GEOGRAFIA ESCOLAR UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, neste Tópico 1 abordaremos a introdução ao planejamento no ensino da Geografia, em que você aprenderá a definir as atividades futuras da escola e de suas atividades. Além das questões que podem parecer meramente burocráticas como distribuição dos conteúdos pela grade de horários, definição das turmas, elaboração do calendário escolar o planejar é fundamental para entender como a escola pode cumprir sua missão diante de suas demandas e obstáculos particulares e como os professores podem melhorar seus planejamentos. Apresentaremos o Planejamento no ensino fundamental na Geografia e BNCC, e veremos como o planejamento escolar pode ser um projeto a curto, médio ou longo prazo. Um exemplo de planejamento a curto prazo seria o planejamento de aula, a médio prazo poderíamos sugerir um planejamento semestral e a longo prazo um planejamento anual. Para elaborar um planejamento pedagógico, seja de curto, médio ou longo prazo, você terá que seguir os objetivos determinados pela Base Nacional Comum Curricular. Antes de selecionar os objetivos e aprendizagens disponibilizados pela BNCC, você deve conhecer e entender a missão e o perfil de sua escola e quais são os valores que ela quer passar para seus alunos. Na sequência, veremos o Planejamento no ensino médio na Geografia e BNCC, respeitando alguns pressupostos, e em articulação com as competências gerais da Educação Básica e com as da área de Ciências Humanas do Ensino Fundamental, no Ensino Médio. A área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas deve garantir aos estudantes o desenvolvimento de competências específicas. Relacionadas a cada uma delas, são indicadas, posteriormente, habilidades a serem alcançadas nessa etapa. 2 INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO NO ENSINO DA GEOGRAFIA Em certo sentido, planejamento é uma palavra que significa o ato ou efeito de planejar, criar um plano para otimizar a alcance de um determinado objetivo. Esta palavra pode abranger muitas áreas diferentes. No caso da Educação, o professor que utiliza o planejamento como uma ferramenta no seu trabalho demonstra um interesse em prever e organizar ações e processos que vão acontecer no futuro, aumentando a sua racionalidade e eficácia. Na educação planejar é, segundo Gandin (1994, p. 19-20): 94 a) Planejar é transformar a realidade numa direção escolhida. b) Planejar é organizar a própria ação (de grupo, sobretudo). c) Planejar é implantar “um processo de intervenção na realidade”. d) Planejar é agir racionalmente. e) Planejar é dar certeza e precisão à própria ação (de grupo, sobretudo). f) Planejar é explicitar os fundamentos da ação do grupo. g) Planejar é pôr em ação um conjunto de técnicas para racionalizar a ação. h) Planejar é realizar um conjunto orgânico de ações, proposto para aproximar uma realidade a um ideal. i) Planejar é realizar o que é importante (essencial) e, além disso, sobreviver, se isso for essencial (importante). De acordo com Libâneo (2001), o planejamento é o recurso organizacional que proporciona a integração de todos os atores envolvidos na instituição educacional, visando a resultados positivos no processo ensino-aprendizagem. Fazer a cartografia dos rumos, caminhos e possibilidades que a instituição deseja seguir, tem o objetivo de evitar situações e/ou decisões improvisadas. É importante ressaltar que um bom planejamento com a participação e compromisso de todos os atores envolvidos no processo ensino-aprendizagem, interfere, sobremaneira, nos resultados e na qualidade da educação que será oferecida pela instituição. No planejamento participativo a ação de planejar, portanto, não se reduz ao simples preenchimento de formulários para controle administrativo, é, antes, a atividade consciente da previsão das ações político- pedagógicas, e tendo como referência permanente às situações didáticas concretas (isto é, a problemática social, econômica, política e cultural) que envolve a escola, os professores, os alunos, os pais, a comunidade, que integram o processo de ensino. Caro acadêmico, existem diversos tipos e níveis de planejamento na Educação, apresentaremos os principais: • Planejamento Educacional – também denominado Planejamento do Sistema de Educação, “[...] é o de maior abrangência, correspondendo ao planejamento que é feito em nível nacional, estadual ou municipal. Incorpora e reflete as grandes políticas educacionais” (VASCONCELLOS, 2000, p. 95). DICA O PNE – Plano Nacional de Educação é o resultado do Planejamento Educacional da União. O Plano Nacional de Educação para o decênio 2014/2024, instituído pela Lei nº 13.005/2014 definiu 10 diretrizes que devem guiar a educação brasileira neste período e estabeleceu 20 metas a serem cumpridas na vigência. Essa mesma lei reitera o princípio de cooperação federativa da política educacional, já presente na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ao estabelecer que “a União, os Estados, o Distrito 95 Federal e os Municípios atuarão em regime de colaboração, visando ao alcance das metas e à implementação das estratégias objeto deste Plano” e que “caberá aos gestores federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal a adoção das medidas governamentais necessárias ao alcance das metas previstas neste PNE.”. Para saber mais acesse: https://pne.mec.gov.br/. • Planejamento Escolar ou Planejamento da Escola – atividade que envolve o processo de reflexão, de decisões sobre a organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da instituição. "É um processo de racionalização, organizaçãoe coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social" (LIBÂNEO, 2001, p. 221). • Planejamento Curricular – é o "[...] processo de tomada de decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É previsão sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno. Portanto, essa modalidade de planejar constitui um instrumento que orienta a ação educativa na escola, pois a preocupação é com a proposta geral das experiências de aprendizagem que a escola deve oferecer ao estudante, através dos diversos componentes curriculares" (VASCONCELLOS, 1995, p. 56). O Planejamento Curricular orienta o trabalho do professor na prática pedagógica da sala de aula. Segundo Coll et al. (2004), definir o currículo a ser desenvolvido em um ano letivo é uma das tarefas mais complexas da prática educativa e de todo o corpo pedagógico das instituições. De acordo com Sacristán (2000), planejar o currículo para seu desenvolvimento em práticas pedagógicas concretas não só exige ordenar seus componentes para serem aprendidos pelos alunos, mas também prever as próprias condições do ensino no contexto escolar ou fora dele. A função mais imediata que os professores devem realizar é a de planejar ou prever a prática do ensino. Um dos guias deste planejamento curricular nas escolas se traduz em muito mais do que apenas definir quais conteúdos devem ser abordados em cada período, os professores e profissionais da gestão pedagógica carregam desafios como desenvolver habilidades sociais, emocionais, valores e atitudes adequadas para o exercício pleno da cidadania de cada estudante. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento norteador para essa gestão no Brasil, um guia com o objetivo de balizar a educação básica e estabelecer patamares de aprendizagem e conhecimentos essenciais que precisam ser garantidos a todos os brasileiros. Resultado de muitos debates e diversas outras regulamentações que culminaram na sua criação, a Base estabelece o abandono da lógica curricular vertical de “distribuição” de conteúdos prontos. Naturalmente, sua implementação ainda prevê muitos desafios, desde a adequação dos currículos de Estados e Municípios a ela até a implementação de meios para desconstruir discursos hegemônicos e combater as desigualdades raciais, de gênero, orientação sexual e a exclusão das pessoas com deficiência. Portanto, a escola não deve simplesmente executar o que é determinado pela BNCC, mas sim, interpretar e operacionalizar essas determinações, adaptando-as de acordo com os objetivos que quer alcançar, coerentes com o público-alvo e de forma que a aprendizagem seja favorecida. 96 • Planejamento de Ensino – é o "[...] processo de decisão sobre a atuação concreta dos professores no cotidiano de seu trabalho pedagógico, envolvendo as ações e situações em constante interações entre professor e alunos e entre os próprios alunos" (PADILHA, 2001, p. 33). É importante esclarecer que do planejamento resultará o plano. Ficou confuso? Vamos esclarecer! Plano é um documento utilizado para o registro de decisões do tipo: o que se pensa fazer, como fazer, quando fazer, com que fazer, com quem fazer. Para existir plano é necessária a discussão (planejamento) sobre fins e objetivos, culminando com a definição dos mesmos, pois somente desse modo é que se pode responder as questões indicadas acima. Segundo Padilha (2001), o plano é a "apresentação sistematizada e justificada das decisões tomadas relativas à ação a realizar." Plano tem a conotação de produto do planejamento. Ele é na verdade um guia com a função de orientar a prática, é a formalização do processo de planejar. Dentro da categoria plano, devemos, ainda, dar uma atenção especial ao plano global da instituição: o PPP – Projeto Político-Pedagógico que é também um produto do planejamento. A sua construção deve envolver e articular todos os que participam da realidade escolar: corpo docente, discente e comunidade. Segundo Vasconcellos (1995, p.143), "[...] é um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa. É uma metodologia de trabalho que possibilita ressignificar a ação de todos os agentes da instituição". Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, toda escola precisa ter um Projeto Político-Pedagógico, o PPP. Esse documento deve explicitar as características que gestores, professores, funcionários, pais e alunos pretendem construir na unidade e qual é a formação querem para quem ali estuda. Elaborar um plano pode ajudar a equipe escolar e a comunidade a enxergar como transformar sua realidade cotidiana em algo melhor. Se for bem elaborado, o documento pode gerar mudanças no modo de agir de todos os atores envolvidos no processo educacional e na comunidade. Quando todos enxergam de forma clara qual é o foco de trabalho da instituição e participam do processo de construção do PPP, o resultado é uma verdadeira parceria que contribuirá, positivamente, em todo o processo ensino-aprendizagem. DICA O PPP define a identidade da escola e indica caminhos para ensinar com qualidade. Saiba como elaborar esse documento acessando: https://gestaoescolar.org.br/ conteudo/560/o-que-e-o-projeto-politico-pedagogico-ppp. 97 O Planejamento de Ensino é a especificação do planejamento curricular. É desenvolvido, basicamente, a partir da ação do professor e compete a ele definir os objetivos a serem alcançados, desde seu programa de trabalho até eventuais e necessárias mudanças de rumo. Cabe ao professor, também, definir os objetivos a serem alcançados, o conteúdo da matéria/unidade curricular/componente curricular/ área de conhecimento, as estratégias de ensino e de avaliação e agir de forma a obter um retorno de seus alunos no sentido de redirecionar sua matéria/unidade curricular/ componente curricular/área de conhecimento. O Planejamento de Ensino não pode ser visto como uma atividade estanque. QUADRO 1 – PLANEJAMENTO DE ENSINO O Planejamento de Ensino deve prever: 1. objetivos específicos estabelecidos a partir dos objetivos educacionais; 2. conhecimentos a serem aprendidos pelos alunos no sentido determinado pelos objetivos; 3. procedimentos e recursos de ensino que estimulam, orientam e promovem as atividades de aprendizagem; 4. procedimentos de avaliação que possibilitem a verificação, a qualificação e a apreciação qualitativa dos objetivos propostos, cumprindo pelo menos a função pedagógico-didática, de diagnóstico e de controle no processo educacional. O resultado desse planejamento é o plano de ensino, um roteiro organizado das unidades didáticas para um ano, um semestre ou um bimestre. Esse plano deve conter: ementa da disciplina, justificativa da disciplina em relação aos objetivos gerais da escola e do curso, objetivos gerais, objetivos específicos, conteúdo (com a divisão temática de cada unidade), tempo provável (número de aulas do período de abrangência do plano), desenvolvimento metodológico (métodos e técnicas pedagógicas específicas da disciplina), recursos tecnológicos, formas de avaliação e referencial teórico (livros, documentos, sites etc.). Do plano de ensino resultará, ainda, o plano de aula, onde o professor vai especificar as realizações diárias para a concretização dos planos anteriores. FONTE: Adaptado de <https://planejamentoeducacional.webnode.com.br/planejamento-de-ensino/>. Acesso em: 12 out. 2021. O plano de aula é um documento elaborado pelo professor e é a modalidade de planejamento que mais dialoga com o currículo real da sala de aula. Segue dicas de elaboração do documento: • reflita sobre o público-alvo; • escolha o tema da aula; • defina o objetivo a ser alcançado, habilidades e competências; • defina o conteúdo a ser abordado; • decida a duração da aula; 98 QUADRO 2 – PONTOS ESSENCIAIS PARA ELABORARUM BOM PLANO DE AULA • Use as informações e reflexões sobre sua turma. Tenha um olhar sensível para a maneira como as crianças estão se apropriando das propostas didáticas, observe os avanços e o que é mais desafiador para elas. Para ser funcional e significativo, o plano precisa fazer sentido não só para o educador mas atender às necessidades reais da classe. • Articule o planejamento. O plano de aula não é uma ilha, por isso é esperado que o professor contextualize essa produção em um planejamento maior. Ele pode estar ligado a sequências ou projetos didáticos ou outras atividades previstas para o bimestre. • Estruture o plano. Independente do modelo que o professor adote, o documento deve conter as atividades propostas, os objetivos de aprendizagem, as estratégias didáticas, as possíveis intervenções e uma análise com os indicadores de aprendizagem. • Tenha objetivos claros. Plano de aula não é lugar para objetivos gerais e mais complexos. Defina com clareza quais são os objetivos de aprendizagem daquela atividade e estabeleça indicadores de avaliação que possam ajudá-lo a acompanhar o desenvolvimento desses itens. Para isso, uma boa opção é fazer registros que indiquem como os alunos estão participando das atividades e se eles estão conseguindo produzir o esperado. • Seja flexível. Não é porque você planejou o passo a passo de uma atividade que ela precisa e vai acontecer exatamente como você previu. Considere o fluxo em andamento a cada etapa prevista. Ajuste as estratégias didáticas e a gestão do tempo aos ritmos e estilos da classe, mesmo que isso altere o que foi pensado anteriormente. • Ao reutilizar o plano, faça uma revisão profunda. Cada planejamento é pensado para uma classe. Cada classe é única e, por isso, é preciso reconsiderar objetivamente os conhecimentos prévios sobre os conteúdos para definir os objetivos e as intervenções didáticas. Planejar é um ato criativo e profissional que não deve se submeter a modelos estereotipados nem tampouco à ideia de que, no final das contas, o plano de aula é uma receita de bolo. • selecione os recursos didáticos; • defina a metodologia a ser utilizada; • escolha como avaliar o aprendizado dos alunos. FONTE: Adaptado de <https://novaescola.org.br/conteudo/439/6-pontos-essenciais-para-elaborar-um-pla- no-de-aula>. Acesso em: 12 out. 2021. 99 DICA Acesse no link a seguir: planejamentos de aula construídos por professores para professores! https://planosdeaula.novaescola.org.br/geografia. 3 PLANEJAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL NA GEOGRAFIA E BNCC A BNCC (BRASIL, 2020 preconiza que os alunos que estejam em curso na Educação Básica cumpram 10 competências gerais, a fim de que se tornem cidadãos que buscam construir uma sociedade mais igualitária, justa, democrática e inclusiva. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital; Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências; Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais; Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital , bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica; Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares); Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida; Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global; Conhecer- se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional; Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação; Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação. O Ensino Fundamental, de acordo com a BNCC, está organizado em cinco áreas do conhecimento. Essas áreas favorecem a comunicação e englobam os componentes curriculares. Portanto, um planejamento anual de acordo com a BNCC para o ensino fundamental deve passar pelas seguintes grandes áreas: • Linguagens – Língua Portuguesa, Arte, Educação Física, Língua Inglesa. • Matemática. • Ciências da Natureza. • Ciências Humanas – Geografia, História. • Ensino Religioso. 100 Cada uma dessas áreas definem as habilidades e aprendizagens que devem estar contidas nos currículos escolares. Seguindo todas essas normas e diretrizes, o planejamento anual deverá ser elaborado levando em consideração o período para o qual ele será feito. É interessante que você conheça bem o perfil da escola para que, assim, possa desenvolver um planejamento que engloba os objetivos e aprendizagens estipulados pela BNCC. Na BNCC (BRASIL, 2020, p. 357), a Geografia no ensino fundamental está inserida na área de Ciências Humanas, que contribui, para que os alunos desenvolvam a cognição in situ, ou seja, sem prescindir da contextualização marcada pelas noções de tempo e espaço, conceitos fundamentais da área. Cognição e contexto são, assim, categorias elaboradas conjuntamente, em meio a circunstâncias históricas específicas, nas quais a diversidade humana deve ganhar especial destaque, com vistas ao acolhimento da diferença. O raciocínio espaço-temporal baseia-se na ideia de que o ser humano produz o espaço em que vive, apropriando-se dele em determinada circunstância histórica. A capacidade de identificação dessa circunstância impõe-se como condição para que o ser humano compreenda, interprete e avalie os significados das ações realizadas no passado ou no presente, o que o torna responsável tanto pelo saber produzido quanto pelo controle dos fenômenos naturais e históricos dos quais é agente. A área de Ciências Humanas deve propiciar aos alunos a capacidade de interpretar o mundo, de compreender processos e fenômenos sociais, políticos e culturais e de atuar de forma ética, responsável e autônoma diante de fenômenos sociais e naturais. Considerando esses pressupostos, e em articulação com as competências gerais da Educação Básica, a área de Ciências Humanas deve garantir aos alunos o desenvolvimento de algumas competências específicas. QUADRO 3 – COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE CIÊNCIAS HUMANAS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL 1. Compreender a si e ao outro como identidades diferentes, de forma a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural e promover os direitos humanos. 2. Analisar o mundo social, cultural e digital e o meio técnico-científico-informacional com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, considerando suas variações de significado no tempo e no espaço, para intervir em situações do cotidiano e se posicionar diante de problemas do mundo contemporâneo. 3. Identificar, comparar e explicar a intervenção do ser humano na natureza e na sociedade, exercitando a curiosidade e propondo ideias e ações que contribuam para a transformação espacial, social e cultural, de modo a participar efetivamente das dinâmicas da vida social. 4. Interpretar e expressar sentimentos, crenças e dúvidas com relação a si mesmo, aos outros e às diferentes culturas, com base nos instrumentos de investigação das Ciências Humanas, promovendo o acolhimento e a valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 101 5. Comparar eventos ocorridos simultaneamente no mesmo espaço e em espaços variados, e eventos ocorridos em tempos diferentes no mesmo espaço e em espaços variados.6. Construir argumentos, com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, para negociar e defender ideias e opiniões que respeitem e promovam os direitos humanos e a consciência socioambiental, exercitando a responsabilidade e o protagonismo voltados para o bem comum e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 7. Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica e diferentes gêneros textuais e tecnologias digitais de informação e comunicação no desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal relacionado à localização, distância, direção, duração, simultaneidade, sucessão, ritmo e conexão. FONTE: Adaptado de BNCC (BRASIL, 2020, p. 357) No ensino fundamental a sequência configuradora da proposta do documento da BNCC para a Geografia e planejamento é: UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES. Veja o exemplo: QUADRO 4 – GEOGRAFIA 6º ANO UNIDADES TEMÁTICAS OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES O sujeito e seu lugar no mundo Identidade sociocultural. (EF06GE01) Comparar modificações das paisagens nos lugares de vivência e os usos desses lugares em diferentes tempos. (EF06GE02) Analisar modificações de paisagens por diferentes tipos de sociedade, com destaque para os povos originários. 102 Conexões e escalas Relações entre os componentes físico-naturais. (EF06GE03) Descrever os movimentos do planeta e sua relação com a circulação geral da atmosfera, o tempo atmosférico e os padrões climáticos. (EF06GE04) Descrever o ciclo da água, comparando o escoamento superficial no ambiente urbano e rural, reconhecendo os principais componentes da morfologia das bacias e das redes hidrográficas e a sua localização no modelado da superfície terrestre e da cobertura vegetal. (EF06GE05) Relacionar padrões climáticos, tipos de solo, relevo e formações vegetais. Mundo do trabalho Transformação das paisagens naturais e antrópicas. (EF06GE06) Identificar as características das paisagens transformadas pelo trabalho humano a partir do desenvolvimento da agropecuária e do processo de industrialização. (EF06GE07) Explicar as mudanças na interação humana com a natureza a partir do surgimento das cidades. Formas de representação e pensamento espacial Fenômenos naturais e sociais representados de diferentes maneiras. (EF06GE08) Medir distâncias na superfície pelas escalas gráficas e numéricas dos mapas. (EF06GE09) Elaborar modelos tridimensionais, blocos-diagramas e perfis topográficos e de vegetação, visando à representação de elementos e estruturas da superfície terrestre. 103 Natureza, ambientes e qualidade de vida Biodiversidade e ciclo hidrológico. (EF06GE10) Explicar as diferentes formas de uso do solo (rotação de terras, terraceamento, aterros etc.) e de apropriação dos recursos hídricos (sistema de irrigação, tratamento e redes de distribuição), bem como suas vantagens e desvantagens em diferentes épocas e lugares. (EF06GE11) Analisar distintas interações das sociedades com a natureza, com base na distribuição dos componentes físico- naturais, incluindo as transformações da biodiversidade local e do mundo. (EF06GE12) Identificar o consumo dos recursos hídricos e o uso das principais bacias hidrográficas no Brasil e no mundo, enfatizando as transformações nos ambientes urbanos. Natureza, ambientes e qualidade de vida Atividades humanas e dinâmica climática. (EF06GE13) Analisar consequências, vantagens e desvantagens das práticas humanas na dinâmica climática (ilha de calor etc.). FONTE: Adaptado de BNCC (BRASIL, 2020, p. 381) O componente Geografia da BNCC foi dividido em cinco unidades temáticas comuns ao longo do Ensino Fundamental, em uma progressão das habilidades: • o sujeito e seu lugar no mundo; • conexões e escalas; • mundo do trabalho; • formas de representação e pensamento espacial; • natureza, ambientes e qualidade de vida. Em todas essas unidades, destacam-se aspectos relacionados ao exercício da cidadania e à aplicação de conhecimentos da Geografia diante de situações e problemas da vida cotidiana. Cumpre destacar que os critérios de organização das habilidades na BNCC (com a explicitação dos objetos de conhecimento aos quais se relacionam e do agrupamento desses objetos em unidades temáticas) expressam um arranjo possível (dentre outros). Portanto, os agrupamentos propostos não devem ser tomados como modelo obrigatório para o desenho dos currículos. Considerando esses pressupostos, e em articulação com as competências gerais da Educação Básica e com as competências específicas da área de Ciências Humanas, o componente curricular de Geografia também deve garantir aos alunos o desenvolvimento de competências específicas. 104 QUADRO 5 – COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE GEOGRAFIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL 1. Utilizar os conhecimentos geográficos para entender a interação sociedade/natureza e exercitar o interesse e o espírito de investigação e de resolução de problemas. 2. Estabelecer conexões entre diferentes temas do conhecimento geográfico, reconhecendo a importância dos objetos técnicos para a compreensão das formas como os seres humanos fazem uso dos recursos da natureza ao longo da história. 3. Desenvolver autonomia e senso crítico para compreensão e aplicação do raciocínio geográfico na análise da ocupação humana e produção do espaço, envolvendo os princípios de analogia, conexão, diferenciação, distribuição, extensão, localização e ordem. 4. Desenvolver o pensamento espacial, fazendo uso das linguagens cartográficas e iconográficas, de diferentes gêneros textuais e das geotecnologias para a resolução de problemas que envolvam informações geográficas. 5. Desenvolver e utilizar processos, práticas e procedimentos de investigação para compreender o mundo natural, social, econômico, político e o meio técnico-científico e informacional, avaliar ações e propor perguntas e soluções (inclusive tecnológicas) para questões que requerem conhecimentos científicos da Geografia. 6. Construir argumentos com base em informações geográficas, debater e defender ideias e pontos de vista que respeitem e promovam a consciência socioambiental e o respeito à biodiversidade e ao outro, sem preconceitos de qualquer natureza. 7. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, propondo ações sobre as questões socioambientais, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários. FONTE: Adaptado de BNCC (BRASIL, 2021, p. 366) NOTA Não esqueça que o planejamento escolar pode ser um projeto a curto, médio ou longo prazo. Um exemplo de planejamento a curto prazo seria o planejamento de aula, a médio prazo poderíamos sugerir um planejamento semestral e a longo prazo um planejamento anual. Para elaborar um planejamento pedagógico, seja de curto, médio ou longo prazo, você terá que seguir os objetivos determinados pela Base Nacional Comum Curricular. Antes de selecionar os objetivos e aprendizagens disponibilizados pela BNCC, você deve conhecer e entender a missão e o perfil de sua escola e quais são os valores ela quer passar para seus alunos. Você também deverá conhecer a faixa etária com a qual irá trabalhar, uma vez que a BNCC divide de maneira bastante específica os objetivos e aprendizagens para cada faixa etária diferente. Após essas primeiras etapas, você deverá selecionar e elaborar quais serão os conteúdos e as atividades que irá trabalhar com os alunos. Nesta etapa, você irá desenvolver suas estratégias e seu plano de ação e ensino em conformidade com objetivos e aprendizagens exigidos pela BNCC. 105 4 PLANEJAMENTO NO ENSINO MÉDIO NA GEOGRAFIA E BNCC A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserçãono mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida. A BNCC do Ensino Médio se organiza em continuidade ao proposto para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, centrada no desenvolvimento de competências e orientada pelo princípio da educação integral. Portanto, as competências gerais da Educação Básica orientam igualmente as aprendizagens dessa etapa, como ilustrado no esquema a seguir, sejam as aprendizagens essenciais definidas nesta BNCC, sejam aquelas relativas aos diferentes itinerários formativos. O Ensino Médio para a BNCC (BRASIL, 2020) está dividido em quatro áreas do conhecimento: • Linguagens e suas Tecnologias. • Matemática e suas Tecnologias. • Ciências da Natureza e suas Tecnologias. • Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Assim, como o Ensino Fundamental, cada uma dessas áreas estipulam as habilidades que devem ser incluídas no currículo nacional. Portanto, as aprendizagens essenciais definidas na BNCC do Ensino Médio estão organizadas por áreas do conhecimento e têm por finalidade integrar dois ou mais componentes do currículo, para melhor compreender a complexa realidade e atuar nela. Na BNCC, para cada área do conhecimento, são definidas competências específicas, articuladas às respectivas competências das áreas do Ensino Fundamental, com as adequações necessárias ao atendimento das especificidades de formação dos estudantes do Ensino Médio. Essas competências específicas de área do Ensino Médio também devem orientar a proposição e o detalhamento dos itinerários formativos relativos a essas áreas. Relacionadas a cada uma dessas competências, são descritas habilidades a serem desenvolvidas ao longo da etapa, além de habilidades específicas de Língua Portuguesa – componente obrigatório durante os três anos do Ensino Médio, da mesma maneira que Matemática. As competências e habilidades da BNCC constituem a formação geral básica. Os currículos do Ensino Médio são compostos pela formação geral básica, articulada aos itinerários formativos como um todo indissociável. 106 A BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas integrada por Filosofia, Geografia, História e Sociologia propõe a ampliação e o aprofundamento das aprendizagens essenciais desenvolvidas no Ensino Fundamental, sempre orientada para uma formação ética. Tal compromisso educativo tem como base as ideias de justiça, solidariedade, autonomia, liberdade de pensamento e de escolha, ou seja, a compreensão e o reconhecimento das diferenças, o respeito aos direitos humanos e à interculturalidade, e o combate aos preconceitos de qualquer natureza. Considerando as aprendizagens a serem garantidas aos jovens no Ensino Médio, a BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas está organizada de modo a tematizar e problematizar algumas categorias da área, fundamentais à formação dos estudantes: • Tempo e Espaço. • Territórios e Fronteiras. • Indivíduo. • Natureza. • Sociedade, • Cultura e Ética. • Política e Trabalho. Cada uma delas pode ser desdobrada em outras ou ainda analisada à luz das especificidades de cada região brasileira, de seu território, da sua história e da sua cultura. Respeitando esses pressupostos, e em articulação com as competências gerais da Educação Básica e com as da área de Ciências Humanas do Ensino Fundamental, no Ensino Médio, a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas deve garantir aos estudantes o desenvolvimento de competências específicas. Relacionadas a cada uma delas, são indicadas, posteriormente, habilidades a serem alcançadas nessa etapa (BRASIL, 2020). Conforme BNCC (2020, p. 570) as competências específicas seriam: COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS PARA O ENSINO MÉDIO 1- Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica. 2- Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a compreensão das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel geopolítico dos Estados- nações. 3- Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes grupos, povos e sociedades com a natureza (produção, distribuição e consumo) e seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à proposição de alternativas que respeitem e promovam a consciência, a ética socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional, nacional e global. 4- Analisar as relações de 107 produção, capital e trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas, discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação e transformação das sociedades. 5- Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos. 6- Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. Veja a competência e habilidades do Grupo 1, que devem ser desenvolvidas ao longo do Ensino Médio. QUADRO 6 – COMPETÊNCIA 1 E SUAS HABILIDADES Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica. (EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. (EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais, ambientais e culturais de matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, evolução, modernidade, cooperativismo/desenvolvimento etc.), avaliando criticamente seu significado histórico e comparando-as a narrativas que contemplem outros agentes e discursos. (EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros). (EM13CHS104) Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identificar conhecimentos, valores, crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço. (EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar tipologias evolutivas (populações nômades e sedentárias, entre outras) e oposições dicotômicas (cidade/campo, cultura/ natureza, civilizados/bárbaros, razão/emoção, material/virtual etc.), explicitando suas ambiguidades. (EM13CHS106) Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica, diferentes gêneros textuais e tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais, incluindo as escolares, para se comunicar, acessar e difundir informações, produzir conhecimentos,resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. FONTE: Adaptado de BNCC (BRASIL, 2020, p. 570) 108 Veja a competência e habilidades do Grupo 2, que devem ser desenvolvidas ao longo do Ensino Médio. QUADRO 7 – COMPETÊNCIA 2 E SUAS HABILIDADES Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a compreensão das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel geopolítico dos Estados-nações. (EM13CHS201) Analisar e caracterizar as dinâmicas das populações, das mercadorias e do capital nos diversos continentes, com destaque para a mobilidade e a fixação de pessoas, grupos humanos e povos, em função de eventos naturais, políticos, econômicos, sociais, religiosos e culturais, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a esses processos e às possíveis relações entre eles. (EM13CHS202) Analisar e avaliar os impactos das tecnologias na estruturação e nas dinâmicas de grupos, povos e sociedades contemporâneos (fluxos populacionais, financeiros, de mercadorias, de informações, de valores éticos e culturais etc.), bem como suas interferências nas decisões políticas, sociais, ambientais, econômicas e culturais. (EM13CHS203) Comparar os significados de território, fronteiras e vazio (espacial, temporal e cultural) em diferentes sociedades, contextualizando e relativizando visões dualistas (civilização/barbárie, nomadismo/sedentarismo, esclarecimento/ obscurantismo, cidade/campo, entre outras). (EM13CHS204) Comparar e avaliar os processos de ocupação do espaço e a formação de territórios, territorialidades e fronteiras, identificando o papel de diferentes agentes (como grupos sociais e culturais, impérios, Estados Nacionais e organismos internacionais) e considerando os conflitos populacionais (internos e externos), a diversidade étnico- cultural e as características socioeconômicas, políticas e tecnológicas. (EM13CHS205) Analisar a produção de diferentes territorialidades em suas dimensões culturais, econômicas, ambientais, políticas e sociais, no Brasil e no mundo contemporâneo, com destaque para as culturas juvenis. (EM13CHS206) Analisar a ocupação humana e a produção do espaço em diferentes tempos, aplicando os princípios de localização, distribuição, ordem, extensão, conexão, arranjos, casualidade, entre outros que contribuem para o raciocínio geográfico. FONTE: Adaptado de BNCC (BRASIL, 2020, p. 570) Veja a competência e habilidades do Grupo 3, que devem ser desenvolvidas ao longo do Ensino Médio. 109 QUADRO 8 – COMPETÊNCIA 3 E SUAS HABILIDADES Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes grupos, povos e sociedades com a natureza (produção, distribuição e consumo) e seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à proposição de alternativas que respeitem e promovam a consciência, a ética socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional, nacional e global. (EM13CHS301) Problematizar hábitos e práticas individuais e coletivos de produção, reaproveitamento e descarte de resíduos em metrópoles, áreas urbanas e rurais, e comunidades com diferentes características socioeconômicas, e elaborar e/ou selecionar propostas de ação que promovam a sustentabilidade socioambiental, o combate à poluição sistêmica e o consumo responsável. (EM13CHS302) Analisar e avaliar criticamente os impactos econômicos e socioambientais de cadeias produtivas ligadas à exploração de recursos naturais e às atividades agropecuárias em diferentes ambientes e escalas de análise, considerando o modo de vida das populações locais – entre elas as indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais –, suas práticas agroextrativistas e o compromisso com a sustentabilidade. (EM13CHS303) Debater e avaliar o papel da indústria cultural e das culturas de massa no estímulo ao consumismo, seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à percepção crítica das necessidades criadas pelo consumo e à adoção de hábitos sustentáveis. (EM13CHS304) Analisar os impactos socioambientais decorrentes de práticas de instituições governamentais, de empresas e de indivíduos, discutindo as origens dessas práticas, selecionando, incorporando e promovendo aquelas que favoreçam a consciência e a ética socioambiental e o consumo responsável. (EM13CHS305) Analisar e discutir o papel e as competências legais dos organismos nacionais e internacionais de regulação, controle e fiscalização ambiental e dos acordos internacionais para a promoção e a garantia de práticas ambientais sustentáveis. (EM13CHS306) Contextualizar, comparar e avaliar os impactos de diferentes modelos socioeconômicos no uso dos recursos naturais e na promoção da sustentabilidade econômica e socioambiental do planeta (como a adoção dos sistemas da agrobiodi- versidade e agroflorestal por diferentes comunidades, entre outros). FONTE: Adaptado de BNCC (BRASIL, 2020, p. 570) Veja a competência e habilidades do Grupo 4, que devem ser desenvolvidas ao longo do Ensino Médio. 110 Analisar as relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas, discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação e transformação das sociedades. (EM13CHS401) Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de trabalho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos. (EM13CHS402) Analisar e comparar indicadores de emprego, trabalho e renda em diferentes espaços, escalas e tempos, associando-os a processos de estratificação e desigualdade socioeconômica. (EM13CHS403) Caracterizar e analisar os impactos das transformações tecnológicas nas relações sociais e de trabalho próprias da contemporaneidade, promovendo ações voltadas à superação das desigualdades sociais, da opressão e da violação dos Direitos Humanos. (EM13CHS404) Identificar e discutir os múltiplos aspectos do trabalho em diferentes circunstâncias e contextos históricos e/ou geográficos e seus efeitos sobre as gerações, em especial, os jovens, levando em consideração, na atualidade, as transformações técnicas, tecnológicas e informacionais. QUADRO 9 – COMPETÊNCIA 4 E SUAS HABILIDADES FONTE: Adaptado de BNCC (BRASIL, 2020, p. 570) Veja a competência e habilidades do Grupo 5, que devem ser desenvolvidas ao longo do Ensino Médio. QUADRO 10 – COMPETÊNCIA 5 E SUAS HABILIDADES Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos. (EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identificando processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade. (EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais. (EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais, discutindo e avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos. (EM13CHS504) Analisar e avaliar os impasses ético-políticos decorrentes das transformações culturais, sociais, históricas, científicas e tecnológicas no mundo contemporâneo e seus desdobramentos nas atitudes e nos valores de indivíduos, grupos sociais, sociedades e culturas FONTE: Adaptado de BNCC (BRASIL, 2020, p. 570) Veja a competência e habilidades doGrupo 6, que devem ser desenvolvidas ao longo do Ensino Médio. 111 QUADRO 11 – COMPETÊNCIA 6 E SUAS HABILIDADES Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. (EM13CHS601) Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos indígenas e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem social e econômica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país. (EM13CHS602) Identificar e caracterizar a presença do paternalismo, do autoritarismo e do populismo na política, na sociedade e nas culturas brasileira e latino-americana, em períodos ditatoriais e democráticos, relacionando-os com as formas de organização e de articulação das sociedades em defesa da autonomia, da liberdade, do diálogo e da promoção da democracia, da cidadania e dos direitos humanos na sociedade atual. (EM13CHS603) Analisar a formação de diferentes países, povos e nações e de suas experiências políticas e de exercício da cidadania, aplicando conceitos políticos básicos (Estado, poder, formas, sistemas e regimes de governo, soberania etc.). (EM13CHS604) Discutir o papel dos organismos internacionais no contexto mundial, com vistas à elaboração de uma visão crítica sobre seus limites e suas formas de atuação nos países, considerando os aspectos positivos e negativos dessa atuação para as populações locais. (EM13CHS605) Analisar os princípios da declaração dos Direitos Humanos, recorrendo às noções de justiça, igualdade e fraternidade, identificar os progressos e entraves à concretização desses direitos nas diversas sociedades contemporâneas e promover ações concretas diante da desigualdade e das violações desses direitos em diferentes espaços de vivência, respeitando a identidade de cada grupo e de cada indivíduo. (EM13CHS606) Analisar as características socioeconômicas da sociedade brasileira – com base na análise de documentos (dados, tabelas, mapas etc.) de diferentes fontes – e propor medidas para enfrentar os problemas identificados e construir uma sociedade mais próspera, justa e inclusiva, que valorize o protagonismo de seus cidadãos e promova o autoconhecimento, a autoestima, a autoconfiança e a empatia. FONTE: Adaptado de BNCC (BRASIL, 2020, P. 570) 112 O planejamento de aula fundamentado na BNCC é um instrumento essencial para o professor elaborar sua metodologia conforme o objetivo a ser alcançado, tendo que ser criteriosamente adequado para as diferentes turmas, havendo flexibilidade caso necessite de alterações. Entre os elementos que devem compor um plano de aula para o Ensino Médio estão: • clareza e objetividade; • atualização do plano periodicamente; • conhecimento dos recursos disponíveis da escola; • noção do conhecimento que os alunos já possuem sobre o conteúdo abordado; • articulação entre a teoria e a prática; • utilização de metodologias diversificadas, inovadoras e que auxiliem no processo de ensino-aprendizagem; • sistematização das atividades com o tempo; • flexibilidade frente a situações imprevistas; • realização de pesquisas buscando diferentes referências, como revistas, jornais, filmes entre outros; • elaboração de aulas de acordo com a realidade sociocultural dos estudantes; • domínio e compreensão das Competências e Habilidades propostas na BNCC. DICA Caro acadêmico, acesse o site nova escola e veja a diversidade de planos de aulas para a Geografia no Ensino Médio: https://planosdeaula. novaescola.org.br/geografia. RESUMO DO TÓPICO 1 113 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Planejamento é uma palavra que significa o ato ou efeito de planejar, criar um plano para otimizar a alcance de um determinado objetivo. Essa palavra pode abranger muitas áreas diferentes. No caso da Educação, o professor que utiliza o planejamento como uma ferramenta no seu trabalho demonstra um interesse em prever e organizar ações e processos que vão acontecer no futuro, aumentando a sua racionalidade e eficácia. • Existem diversos tipos e níveis de planejamento na Educação. O plano de aula é um documento elaborado pelo professor é a modalidade de planejamento que mais dialoga com o currículo real da sala de aula. • A BNCC preconiza que os alunos que estejam em curso na Educação Básica cumpram 10 competências gerais, a fim de que se tornem cidadãos que buscam construir uma sociedade mais igualitária, justa, democrática e inclusiva. • O Ensino Fundamental, de acordo com a BNCC, está organizado em cinco áreas do conhecimento. Essas áreas favorecem a comunicação e englobam os componentes curriculares. Portanto, um planejamento anual de acordo com a BNCC para o ensino fundamental deve passar pelas seguintes grandes áreas: Linguagens – Língua Portuguesa, Arte, Educação Física, Língua Inglesa; Matemática; Ciências da Natureza; Ciências Humanas – Geografia, História; Ensino Religioso. • No ensino fundamental a sequência configuradora da proposta do documento da BNCC para a Geografia e planejamento é: UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E HABILIDADES. • A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida. • O planejamento de aula fundamentado na BNCC para o Ensino Médio é um instrumento essencial para o professor elaborar sua metodologia conforme o objetivo a ser alcançado, tendo que ser criteriosamente adequado para as diferentes turmas, havendo flexibilidade caso necessite de alterações. 114 1 O planejamento de um professor é determinante no bom desempenho de seu trabalho com os alunos. Com isso, o planejamento perpassa diversos espaços e possibilidades de construção, dando ao professor e aos demais membros da instituição escolar a possibilidade de ser construído e compreendido. Na organização de nossos trabalhos pedagógicos, o planejamento também aparece. Sobre o planejamento, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O planejamento é essencialmente: análise, reflexão e previsão. b) ( ) O planejamento é descartável em todos os níveis de nossa vida. c) ( ) O planejamento é somente necessário em nossa vida pessoal. d) ( ) O planejamento é necessário na divulgação de Fake News. 2 Toda escola possui o planejamento em sua área pedagógica. Ele pode ser curricular, diário, entre outros. No planejamento diário, encontramos os conteúdos de ensino. Sobre os conteúdos e a BNCC para o Ensino Fundamental, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Na BNCC ensino fundamental, conteúdos são vistos como um fim em si mesmo. b) ( ) Na BNCC ensino fundamental, conteúdos estão relacionados com competências e habilidades. c) ( ) Na BNCC ensino fundamental, conteúdos são a acumulação de matérias no ano letivo, sem importância para aprendizagem. d) ( ) Na BNCC ensino fundamenta, conteúdos de geografia e história devem ser deixados sempre em segundo plano e somente. 3 O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, direito público subjetivo de todo cidadão brasileiro. Todavia, a realidade educacional do País tem mostrado que essa etapa representa um gargalo na garantia do direito à educação. Para além da necessidade de universalizar o atendimento, tem-se mostrado crucial garantir a permanência e as aprendizagens dos estudantes, respondendoas suas demandas e aspirações presentes e futuras. Entender as características do Novo Ensino Médio e todas as indicações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para esse ciclo é um desafio para professores e gestores de todo o país. Referente ao Ensino Médio e a BNCC, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Na BNCC se considera que que há muitas juventudes implica organizar uma escola que acolha as diversidades, promovendo, de modo intencional e permanente, o respeito à pessoa humana e aos seus direitos. b) ( ) Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e responsáveis, cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar somente experiências e processos que lhes garantam as aprendizagens conservadoras. AUTOATIVIDADE 115 c) ( ) A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas demoradas transformações decorrentes do desenvolvimento teológico, impõe desafios ao Ensino Médio. d) ( ) Favorecer a atribuição de sentido às aprendizagens, por sua vinculação aos desafios da realidade e pela explicitação dos contextos de reprodução e circulação de arbitrários culturais. 4 Ao estarmos na área do ensino, mais precisamente em sala de aula, cada professor necessita encontrar-se e buscar meios para que seus alunos obtenham maiores conhecimentos e que se sintam bem neste espaço. Para tanto, vê-se a necessidade de utilizarmos um dos elementos constitutivos mais importantes em todas as áreas de nossa vida, que é o planejamento. Assim, disserte sobre como o planejamento auxilia na melhoria dos trabalhos em sala de aula. 5 Para estarmos em sala de aula, cada professor busca várias formas de trabalhar com seus alunos. Por isso, o profissional necessita de organização, a qual nos dá possibilidades de desenvolver trabalhos coerentes e eficazes com nossos alunos. Nessa organização, encontramos o plano de aula. Diante disso, disserte sobre para que serve o plano de aula e quais os passos de sua elaboração. 116 117 O AVALIAR NA GEOGRAFIA ESCOLAR 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, neste Tópico 2, abordaremos a introdução ao avaliar no ensino da Geografia, que pressupõe que a avaliação deve ser traçada de acordo com os objetivos do planejamento, de forma clara e objetiva, evitando, assim, interpretações equivocadas. Os exercícios devem explorar o senso crítico, permitindo que os estudantes possam resolver situações-problema, compreender, comparar e interpretar fenômenos, entre outros olhares. Aprenderemos sobre a Avaliação no ensino fundamental na Geografia e BNCC, a qual nos mostrará que também se deve observar o desenvolvimento de habilidades e competências e é preciso se atentar para uma análise global e integral do estudante, e isso abre espaço para novas formas de avaliação. Estudaremos, ainda, sobre a Avaliação no ensino médio na Geografia e BNCC, e observaremos que as avaliações não devem ser encaradas como uma exigência burocrática da escola. É preciso que o educador reconheça a ação como um elemento integrador entre o processo de ensino-aprendizagem. Contemplado em todo o processo educacional, são os resultados da mensuração dos conhecimentos construídos pelos alunos que permitem a reorganização das situações de aprendizagem. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 2 INTRODUÇÃO AO AVALIAR NO ENSINO DA GEOGRAFIA Partindo do pressuposto de que ensinar pode ser entendido como uma troca de conhecimentos, e para que ela seja bem-sucedida, faz-se necessário que os professores dominem métodos didáticos que facilitem esse momento e tornem a aprendizagem significativa. Um desses métodos ou elementos principais nos processos didáticos é a avaliação. A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino-aprendizagem. Através dela os resultados que são obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos a fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as correções necessárias (LIBÂNEO, 1994, p. 195). 118 Portanto, a avaliação é utilizada para acompanhar a evolução dos alunos ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Esse procedimento vai além de aplicar testes e conceder notas aleatórias, mas exige um acompanhamento do estudante em diferentes momentos do processo educativo. Sobre os modelos ou tipos de avaliação podemos citar a avaliação diagnóstica, a formativa, a comparativa e a somativa, que diferem entre si principalmente pela finalidade com que os resultados são utilizados. Compreender os tipos de avaliações e os usos de seus resultados é essencial para uma análise do aprendizado dos alunos, suas dificuldades e evolução. Observe no quadro a seguir as características e particularidade de cada tipo de avaliação. QUADRO 12 –- MODELOS DE AVALIAÇÕES Avaliações diagnósticas: Diagnosticar o conhecimento do aluno é o primeiro passo e deve ser levado em consideração em qualquer instituição. Deve ser realizada sempre no início de um processo para obter os dados e informações necessários na construção do planejamento de ensino. Já sua aplicação ao longo do ano tem como principal objetivo ser uma forma de monitoramento de aprendizagem. Esta avaliação é usada para diagnosticar o que um aluno sabe e o que não sabe. Os professores utilizam as informações das avaliações diagnósticas para nortear o que e como ensinar. Eles passarão mais tempo ensinando as habilidades nas quais seus alunos enfrentam mais dificuldades de acordo com os resultados da avaliação diagnóstica. Avaliação formativa: Este tipo de avaliação pode ser feito de maneira informal, durante as aulas, por meio de debates e questionamentos aos alunos durante as explicações, a fim de entender se a forma que o conteúdo está sendo aplicado está sendo absorvido pelos alunos. É importante que os professores desenvolvam maneiras de registrar os resultados dessa avaliação. A avaliação formativa promove abertura para que os alunos deem feedbacks sobre as aulas e atribui a eles um maior protagonismo sobre seu processo de aprendizagem. Avaliação comparativa: Esta avaliação é usada para verificar se os alunos dominam um tópico do conteúdo. A avaliação comparativa é aplicada durante ou depois de uma aula e abrange uma parte do material. Os alunos devem dominar o conteúdo da avaliação comparativa. Tem a função de indicar com antecedência se o conteúdo foi absorvido satisfatoriamente, ou não. Como resultado, possibilita aos educadores retomarem pontos e conceitos indicados como insuficientes e às famílias auxiliarem nesse processo. 119 Avaliação somativa: Faz parte da realidade de grande parte das escolas brasileiras e corresponde às provas bimestrais, semestrais ou anuais. O objetivo dessa avaliação é informar e verificar o aprendizado dos alunos, da turma e da escola como um todo ao final de um processo de aprendizagem. Ela visa oferecer um parecer sobre as habilidades e aprendizados desenvolvidos. Este tipo de avaliação não deve servir apenas para classificar os alunos, mas sim para proporcionar reflexões e oferecer dados para um direcionamento às ações pedagógicas e administrativas, a fim de obter uma maior e melhor qualidade na educação. Esta avaliação é utilizada como uma forma de controle no final do ano ou do curso para avaliar quantos conteúdos os alunos aprenderam no geral. Elas são aplicadas para todos os alunos em sala de aula, para que todos tenham uma oportunidade igual de demonstrarem o que sabem. Os alunos demonstram sua capacidade de desempenho em um nível prescrito como padrão para o teste de proficiência. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3FHYJ8G>. Acesso em: 12 out. 2021. Existem diferentes instrumentos de avaliação no ensino de Geografia e é possível criar uma alternância entre eles ao longo do ano letivo. Confira os principais para analisar o desempenho do aluno: • Registro das atividades pedagógicas realizadas. • Observação dosalunos nas aulas (anotação da sua participação nas atividades). • Debate entre os alunos. • Trabalho em grupo. • Autoavaliação. • Provas e testes. • Portfólio dos trabalhos no ano letivo. DICA Registrar as aulas é uma boa ferramenta para rever sua prática, compartilhar experiências, e manter um arquivo de suas atividades. Acesse alguns modelos de uso: https://novaescola.org.br/conteudo/4601/quatro- aplicativos-para-registrar-suas-aulas. Caro acadêmico, lembre-se que a boa avaliação envolve três passos: • saber o nível atual de desempenho do aluno (etapa também conhecida como diagnóstico); • comparar essa informação com aquilo que é necessário ensinar no processo educativo (qualificação); 120 • tomar as decisões que possibilitem atingir os resultados esperados (planejar atividades, sequências didáticas ou projetos de ensino, com os respectivos instrumentos avaliativos para cada etapa). O que fazer com os resultados? Segundo os especialistas, a avaliação interessa a quatro públicos: • ao aluno, que tem o direito de conhecer o próprio processo de aprendizagem para se empenhar na superação das necessidades; • aos pais e adultos responsáveis pelos estudantes, corresponsáveis pela Educação dos filhos e por parte significativa dos estímulos que eles recebem; • ao professor, que precisa constantemente avaliar a própria prática de sala de aula; • à equipe docente, que deve garantir continuidade e coerência no percurso escolar de todos os estudantes. Luckesi (2005) destaca que o papel da avaliação é diagnosticar a situação da aprendizagem, tendo em vista subsidiar a tomada de decisão para a melhoria da qualidade do desempenho do aluno. Nesse contexto, a avaliação é processual e dinâmica. Na medida em que busca meios pelos quais todos possam aprender o que é necessário para o próprio desenvolvimento, é inclusiva. Sendo inclusiva é, antes de tudo, um ato democrático. Ele acrescenta que o professor deve ser pontual e ou o ato de avaliar deve ser contínuo, a avaliação só faz sentido quando leva ao desenvolvimento do educando, ou seja, só se deve avaliar aquilo que foi ensinado. Não adianta exigir que um grupo não orientado sobre a apresentação de seminários se saia bem nesse modelo. E é inviável exigir que a garotada realize uma pesquisa na biblioteca ou na internet se não mostrar como fazer. Enquanto é avaliado, o educando expõe sua capacidade de raciocinar". Essa é a razão pela qual todas as atividades avaliadas devem ser devolvidas aos autores com os respectivos comentários. 3 AVALIAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL NA GEOGRAFIA E BNCC O Ensino Fundamental é a etapa mais longa da Educação Básica. Com nove anos de duração, essa fase escolar atende a estudantes entre 6 e 14 anos. Alinhada aos fundamentos pedagógicos da BNCC, que tem foco no desenvolvimento de competências, a etapa do Ensino Fundamental está organizada em cinco áreas do conhecimento. Cada uma delas estabelece competências específicas de área e em articulação com as dez competências gerais da Educação Básica. Ao orientar a elaboração dos currículos do Ensino Fundamental, a BNCC apresenta os objetos de conhecimento e as habilidades pretendidas em cada área e etapa, mas não especifica formatos de avaliação. Isso reforça o caráter norteador da Base, permitindo que as escolas e os professores organizem seus currículos e suas propostas pedagógicas com a devida 121 adequação aos seus contextos, ou seja, as competências e diretrizes são comuns, os currículos são diversos. Ao longo dos nove anos que compõe o segmento, algumas estratégias de avaliação são comumente utilizadas no dia a dia escolar e não precisam, necessariamente, ser abolidas. Em certo sentido a avaliação no Ensino Fundamental deve ser encarada como reorientação para uma aprendizagem melhor e para a melhoria do sistema de ensino. Em qualquer processo de avaliação da aprendizagem, há um foco no individual e no coletivo. É preciso levar em consideração que os dois protagonistas são o professor e o aluno. O primeiro tem de identificar exatamente o que quer e o segundo, se colocar como parceiro. Portanto, discutir os critérios de avaliação de forma coletiva ajuda a obter resultados melhores para todos. Cabe ao professor listar os conteúdos realmente importantes, informá-los aos alunos e evitar mudanças sem necessidade. Uma outra questão importante no processo avaliativo no ensino fundamental referente ao ensino de Geografia é o professor compreender e dominar o conceito de infância e pré-adolescência, pois ele vai trabalhar em sala no Ensino Fundamental com crianças e pré-adolescentes em sua maioria. Quais os interesses e a realidade nossas crianças e pré-adolescentes? Como vivem e se relacionam essas temporalidades humanas? Partindo desses questionamentos, o professor conhecerá a vida e sonhos de seus alunos e com certeza suas avaliações terão um critério ético de respeito e reconhecimento da identidade e pertencimento de seus alunos. De acordo com Drumond (2020), para o Ensino Fundamental na Base Nacional Comum Curricular, além do conhecimento cognitivo construído pelo aluno, as avaliações também devem observar o desenvolvimento de habilidades e competências. É preciso se atentar para uma análise global e integral do estudante, e isso abre espaço para novas formas de avaliação. Na BNCC, as práticas avaliativas têm sua atuação ampliada, desvinculando- se de visões reducionistas que privilegiam somente a dimensão intelectual. A partir da determinação de uma matriz escolar comum para todos, a BNCC também direciona as formas de monitoramento do desempenho dos alunos. Segundo o documento normativo que preconiza o desenvolvimento global do estudante as avaliações precisam ter como principal objetivo uma análise integral dos alunos. Segundo Drumond (2020), não basta avaliar os estudantes quantificando o que eles sabem de um determinado conteúdo. É fundamental assisti-los durante a produção e comprovação desse saber. Ao observar e registrar as habilidades dos alunos, o professor consegue efetivamente levantar o que de fato foi aprendido e em quais pontos ainda existem faltas, traçando, assim, o planejamento de um percurso de aprendizagem. Por considerar todas as dimensões formativas do sujeito intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica, a BNCC concebe as práticas avaliativas como parte de um conjunto de decisões que caracterizam o currículo em ação. 122 No que tange à avaliação, especificamente, o documento determina às instituições de ensino: “Construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como referência para melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos” (BRASIL, 2020, p. 17). Sem delimitar os instrumentos e a frequência, a BNCC explicita o viés de “avaliação formativa”. Drumond (2020) comenta que, esse tipo de avaliação busca medir o desempenho escolar dos estudantes, porém, fugindo à maneira tradicional. Contrária à concepção classificatória, o conceito de avaliação formativa considera o aluno como parte indispensável no processo de ensino-aprendizagem. Na concepção de avaliação formativa, utilizando diferentes métodos avaliativos, os alunos assumem um papel de protagonismo no processo de avaliação. Em essência, para fazer a avaliação no Ensino Fundamental seguindo as diretrizes da BNCC (2020), é preciso se atentar a três pontos: • Assegurar uma análise global e integral do estudante. Considerar, além de conteúdo, as competências e habilidades pretendidas para cada etapa. • Levar em conta os contextos e as condições de aprendizagem. Identificar as características dos alunos e suas especificidades e demandas pedagógicas, além dos conhecimentos prévios. • Promover o protagonismo dos estudantes, assegurando que eles se apropriem da medida de sua atuação no processo de ensino-aprendizagem. O professordeve possibilitar novas formas de avaliação e registro para mensurar o aprendizado dos alunos do Ensino Fundamental. E esses instrumentos avaliativos vão muito além das provas tradicionais. São diversos os estilos de atividades formativas que podem ser aplicados de maneira contínua, cabendo atenção aos objetivos preestabelecidos pelo educador. Vale também destacar que, para potencializar a formação de estudantes autônomos, uma possibilidade é compartilhar com eles, em cada estudo, os objetivos do trabalho e os critérios de avaliação. DICA A avaliação formativa pode e deve ser realizada de formas diversas e criativas. Desde que sejam observadas as características e princípios que norteiam essa forma de verificação dos resultados da aprendizagem: – A autoavaliação (alunos e professores). – A avaliação dos processos de ensino (professores) e de aprendizagem (estudantes); – A avaliação dos educadores (por seus pares e pelos alunos). 123 Os instrumentos mais comuns ao sistema de avaliação formativa são: – revisão diária de anotações e cadernos, dos deveres e trabalhos de casa, manter e estabelecer o diálogo, estimular a interação e a participação ativa em sala de aula, provocar reflexões que gerem boas perguntas, sobre o próprio desempenho, sobre o conteúdo e sobre as atividades em sala de aula; – de forma ocasional, estabelecer e aplicar instrumentos de avaliação formais e criativos (provas, quizzes, apresentações, exposições orais, teatrais ou em vídeos etc.); – periodicamente, ao final de cada etapa pedagógica ou conteúdo, aplicar testes para mensurar o nível de aprendizagem e de desempenho escolar. Não só com os testes, mas principalmente nesses momentos de transição e evolução, provocar e estimular as autoavaliações. FONTE: https://novaescola.org.br/conteudo/395/avaliar-para-ensinar-melhor. 4 AVALIAÇÃO NO ENSINO MÉDIO NA GEOGRAFIA E BNCC O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, direito público subjetivo de todo cidadão brasileiro. Para além da necessidade de universalizar o atendimento, tem-se mostrado crucial garantir a permanência e as aprendizagens dos estudantes, respondendo às suas demandas e aspirações presentes e futuras. Com a perspectiva de um imenso contingente de adolescentes, jovens e adultos que se diferenciam por condições de existência e perspectivas de futuro desiguais, é que o Ensino Médio deve trabalhar. Está em jogo a recriação da escola que, embora não possa por si só resolver as desigualdades sociais, pode ampliar as condições de inclusão social, ao possibilitar o acesso à ciência, à tecnologia, à cultura e ao trabalho para responder a essa necessidade de recriação da escola, mostra-se imprescindível reconhecer que as rápidas transformações na dinâmica social contemporânea nacional e internacional, em grande parte decorrentes do desenvolvimento tecnológico, atingem diretamente as populações jovens e, portanto, suas demandas de formação. Nesse cenário cada vez mais complexo, dinâmico e fluido, as incertezas relativas às mudanças no mundo do trabalho e nas relações sociais como um todo representam um grande desafio para a formulação de políticas e propostas de organização curriculares para a Educação Básica, em geral, e para o Ensino Médio, em particular. Na direção de atender às expectativas dos estudantes e às demandas da sociedade contemporânea para a formação no Ensino Médio, é necessário reconhecer a juventude como condição sócio-histórico-cultural de uma categoria de sujeitos que necessita ser considerada em suas múltiplas dimensões, com especificidades próprias que não estão restritas às dimensões biológica e etária, mas que se encontram articuladas com uma multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais, produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes. Adotar essa noção ampliada e plural de juventudes significa, portanto, entender as culturas juvenis em sua singularidade. Significa não apenas compreendê-las como diversas e dinâmicas, como também reconhecer os jovens como participantes ativos das sociedades nas quais estão inseridos, sociedades essas também tão dinâmicas e diversas (BRASIL, 2020). 124 Considerar que há muitas juventudes implica organizar uma escola que acolha as diversidades, promovendo, de modo intencional e permanente, o respeito à pessoa humana e aos seus direitos. E mais, que garanta aos estudantes serem protagonistas de seu próprio processo de escolarização, reconhecendo-os como interlocutores legítimos sobre currículo, ensino e aprendizagem. Significa, nesse sentido, assegurar-lhes uma formação que, em sintonia com seus percursos e histórias, permita-lhes definir seu projeto de vida, tanto no que diz respeito ao estudo e ao trabalho como também no que concerne às escolhas de estilos de vida saudáveis, sustentáveis e éticos (BRASIL, 2020). NOTA O Novo Ensino Médio torna obrigatório que o Projeto de Vida dos estudantes seja desenvolvido em todas as escolas, para desenvolver determinadas habilidades, como cooperação, compreensão, saber defender suas ideias, dominar as tecnologias, respeitar e analisar o mundo ao seu redor. O Projeto de Vida oferece essas experiências para os alunos dentro da escola, com a orientação dos professores, que apresentam as possibilidades existentes e tiram dúvidas, respeitando a autonomia para tomarem as próprias decisões. Dessa forma, os alunos constroem seu próprio Projeto de Vida, de acordo com suas preferências, respeitando a responsabilidade social de cada um, descobrindo-se a si mesmos, aos outros e o meio em que vivem. Para saber mais acesse: https://sae.digital/projeto-de-vida-no-novo-ensino-medio/. Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e responsáveis, cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e processos que lhes garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o enfrentamento dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a tomada de decisões éticas e fundamentadas. O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que se sintam estimulados a equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais, abrindo-se criativamente para o novo. O Ensino Médio tem entre alguns objetivos a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental; a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando; o aprimoramento dele como pessoa humana; reconhecimento e respeito cultural e a compreensão dos fundamentos científico- tecnológicos dos processos produtivos .Nessa perspectiva, a BNCC atua em uma relação profunda com o Novo Ensino Médio, em que o Novo Ensino Médio e a BNCC propõem aliar a perspectiva propedêutica (termo utilizado para tratar das etapas iniciais e introdutórias no processo de aprendizagem, aprendizado prévio) tradicional de 125 aprendizagens, mas com característica interdisciplinar, com as novas competências, enquanto possibilita caminhos para os estudantes aperfeiçoarem os conhecimentos que julgarem mais importantes para a sua formação e seu projeto de vida através dos itinerários formativos. A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto à sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida (BRASIL, 2020, p. 461). Portanto acadêmico, para elaborar e avaliar os processos de ensino- aprendizagem no Ensino Médio no componente curricular Geografia, oprofessor deve levar em consideração, além dos conteúdos, habilidades e competências o uso de tecnologias, as observações em sala de aula, a história de vida de seus alunos. DICA Caro acadêmico, acesse o site Nova escola, onde encontrará dicas de como desenvolver conteúdos para o Ensino Médio. Acesse em: https:// novaescola.org.br/conteudo/19175/ensino-medio-na-bncc-como- desenvolver-propostas-em-sala. 126 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Partindo do pressuposto de que ensinar pode ser entendido como uma troca de conhecimentos, e para que ela seja bem-sucedida, faz-se necessário que os professores dominem métodos didáticos que facilitem esse momento e tornem a aprendizagem significativa. Um desses métodos ou elementos principais nos processos didáticos é a avaliação. A avaliação é utilizada para acompanhar a evolução dos alunos ao longo do processo de ensino-aprendizagem. • Sobre os modelos ou tipos de avaliação podemos citar. A avaliação diagnóstica, a formativa, a comparativa e a somativa, que diferem entre si principalmente pela finalidade com que os resultados são utilizados. • Em certo sentido a avaliação no Ensino Fundamental deve ser encarada como reorientação para uma aprendizagem melhor e para a melhoria do sistema de ensino. Em qualquer processo de avaliação da aprendizagem, há um foco no individual e no coletivo. • Uma outra questão importante no processo avaliativo no ensino fundamental referente ao ensino de Geografia é o professor compreender e dominar o conceito de infância e pré-adolescência, pois ele vai trabalhar em sala no Ensino Fundamental com crianças e pré-adolescentes em sua maioria. • Na direção de atender às expectativas dos estudantes e às demandas da sociedade contemporânea para a formação no Ensino Médio, é necessário reconhecer a juventude como condição sócio-histórico-cultural de uma categoria de sujeitos que necessita ser considerada em suas múltiplas dimensões, com especificidades próprias que não estão restritas às dimensões biológica e etária, mas que se encontram articuladas com uma multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais, produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes. • Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e responsáveis, cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e processos que lhes garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o enfrentamento dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a tomada de decisões éticas e fundamentadas. • Para elaborar e avaliar os processos de ensino-aprendizagem no Ensino Médio no componente curricular Geografia, o professor deve levar em consideração, além dos conteúdos, habilidades e competências o uso de tecnologias, as observações em sala de aula, a história de vida de seus alunos. 127 1 Muito se fala sobre a avaliação. A avaliação é um elemento que auxilia a determinar o que o aluno aprendeu e o que o professor desenvolveu. E ao tratar dela, da avaliação, nos remetemos então ao professor e ao aluno. No que se refere a que pontos e de que forma devemos avaliar, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A avaliação deve ser vista de maneira global, onde o aluno é avaliado desde o primeiro momento do processo até o final. b) ( ) A avaliação deve estar voltada para a forma quantitativa, descartando a qualitativa, pois ao final do bimestre ou semestre o que vale é o fator numérico. c) ( ) A avaliação é vista como um processo estanque, sem possiblidade de ocorrer um feedback no processo ensino-aprendizagem. d) ( ) A avaliação precisa ser voltada à figura do professor, que possui todo o poder de classificar o aluno no processo de ensino. 2 Avaliar é algo que leva os professores a discussões calorosas, que são vistas com leveza por alguns profissionais e outros tornam essa avaliação um momento de total cobrança. Assim, é necessário realizar a todo instante, enquanto professor, a avaliação da aprendizagem. Referente à avaliação e ao ensino fundamental, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) No ensino fundamental, a avaliação é uma atividade voltada para o processo educativo, com seus objetivos pedagógicos. b) ( ) No ensino fundamental, a avaliação é uma atividade voltada totalmente à dimensão quantitativa no processo educativo. c) ( ) No ensino fundamental, a avaliação é uma atividade meramente controlada, sem a preocupação com o conhecimento. d) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. 3 A avaliação é um elemento que faz com que os profissionais da educação estejam a todo instante refletindo sobre ela. Dessa forma, muitas são as visões relativas à avaliação. No entanto, na atualidade, a avaliação para o ensino médio passou a ter nova forma de ser trabalhada. Em relação ao momento em que falamos de avaliação no ensino médio, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) De análise das avaliações realizadas pelo aluno e seus pais. b) ( ) De reconstrução dos conhecimentos e das atividades do aluno. c) ( ) De preocupação com relação à verificação quantitativa do aluno. d) ( ) A avaliação precisa ser voltada à figura do professor, que possui todo o poder de classificar o aluno no processo de ensino. AUTOATIVIDADE 128 4 A avaliação é um dos momentos que perpassam por todo o processo de ensino- aprendizagem. Para muitos professores, a avaliação é algo que difere de todo o processo. Assim, acarreta problemas relacionados com o aluno e os trabalhos desenvolvidos em sala de aula, fazendo com que a avaliação e a construção do conhecimento fiquem desagregados, desestimulando os alunos na realização de suas atividades. Dessa forma, disserte sobre como o professor deve realizar a avaliação dentro do processo de ensino-aprendizagem. 5 Quando falamos em avaliação, surgem diversos dilemas e tipos de avaliar. Para tanto, a avaliação é um instrumento no qual o professor deve buscar subsídios para sua autoanálise e avaliar o aluno em sua plenitude. Disserte sobre como o professor deve avaliar a competência do aluno. 129 TÓPICO 3 - GEOGRAFIA E CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS NO SÉCULO XXI 1 INTRODUÇÃO No Tópico 3, Geografia e Construção de Conhecimentos no Século XXI, você estudará os conteúdos descritos a seguir: A Geografia Ambiental que é uma das áreas que aborda principalmente as relações diretas entre ser humano e natureza, ou seja, as relações estabelecidas entre os humanos e o meio ambiente no qual se encontram inseridos, compreendendo as ações de seres vivos e não vivos e de eventuais interferências nos ecossistemas e na vida humana. A Geografia Cultural que é o campo que estuda os produtos e normas culturais e suas variações através dos espaços e dos lugares. Foca-se na descrição e análise de como as formas de linguagem, religião, artes, crenças, economia, governo, trabalho e outros fenômenos culturais variam ou permanecem constantes de um lugar para outro, e na explicação de como os humanos elaboram o espaço. O ensino de Cartografia e geotecnologias na Era da Globalização, a qual nos encontramos, traz novos desafios aos educadores. A Cartografia e suas tecnologias vêm sendo empregadas de forma crescente no ensino, e essa integração da cartografia e das geotecnologias à educação escolar contribui para que os alunos sejam capazes de melhor entender as relações entre meio-ambiente e sociedade. UNIDADE 2 2 GEOGRAFIA AMBIENTAL EM SALA DE AULA A sociedade do Século XXI é marcada por um aumento quantitativo e qualitativo dos riscos. E dentre os riscos, que preocupam a sociedade e os estudiosos, tem-se os decorrentes da degradação ambiental. Verifica-se uma destruição do meio ambiente, de forma rápida e violenta, o que vem a atingir o próprio ser humano. A humanidade tem utilizado indiscriminados poderes sobre os valores da natureza. Isso ocorre porque as necessidades do ser humano são ilimitadas, enquanto os bens da natureza são limitados.Assim, o meio ambiente acaba se inserindo dentro das disputas econômicas. O campo da Geografia que estuda e possibilita o aluno compreender esse fenômeno é a Geografia Ambiental que se interessa pelos estudos acerca do meio ambiente e da preservação da natureza, configurando-se como uma área essencialmente interdisciplinar. 130 O que é a Geografia Ambiental? A Geografia Ambiental é a área dos estudos geográficos que estuda o espaço geográfico, representando os esforços de se compreender, sobretudo, a relação entre o ser humano com o meio natural e o meio ambiente transformado (também é objetivo desse ramo do saber, o conhecimento a respeito das consequências dessas ações antrópicas e dos efeitos da natureza sobre as atividades socioespaciais). Os debates sobre a questão ambiental, por sua vez, também envolvem, a interação da sociedade com a natureza e os impactos e possibilidades no que se refere à exploração do meio natural. Por isso, a importância da Geografia ambiental. FIGURA 1 – A NATUREZA FONTE: <https://bit.ly/3HUPO6c>. Acesso em: 12 maio 2021. Quais são os estudos que a Geografia Ambiental desenvolve? A principal ênfase dos estudos ambientais na Geografia refere-se aos temas concernentes à degradação e aos impactos ambientais, além do conjunto de medidas possíveis para conservar os elementos da natureza, mantendo uma interdisciplinaridade com outras áreas do conhecimento, como a Biologia, a Geologia, a Economia, a História e muitas outras. Nesse sentido, o principal cerne dos estudos é o meio ambiente e as suas formas de preservação. NOTA Entende-se por meio ambiente o espaço que reúne todas as coisas vivas e não vivas, possuindo relações diretas com os ecossistemas e com as sociedades. Com isso, fala-se que existe o ambiente natural, aquele constituído sem a intervenção humana, e o ambiente antropizado, aquele que é gerido no âmbito das práticas sociais. 131 A Geografia Ambiental, portanto, atua no sentido de compreender e descrever os aspectos físicos e socioespaciais desse meio natural, além de se envolver em questões geopolíticas e de estabelecer uma escala que vai do local ao global; com ela é possível relacionar as diferentes formas de manifestação espacial, proporcionando conhecimentos e conceitos relativos à interferência do meio natural na sociedade e, principalmente, da sociedade humana sobre o meio ambiente. NOTA Impacto ambiental pode ser definido como “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais”, de acordo com a Resolução 001/86 do CONAMA. Quais são impactos da atividade humana no nosso dia a dia? Por que preservar as plantas? Perguntas como essa têm um grande efeito provocador e estimulam as crianças a refletir sobre as respostas de cada uma delas. Os conteúdos relacionados à Geografia Ambiental, estimulam nos alunos noções de cidadania e responsabilidade social e a desenvolver o senso crítico sobre uma vida sustentável em sociedade e sua participação individual dentro desse contexto. A preocupação com o meio ambiente é atual e envolve toda a sociedade, pois preservar também é coisa de criança. FIGURA 2 – MANEIRAS DE ENSINAR QUESTÕES AMBIENTAIS PARA CRIANÇAS FONTE: <https://bit.ly/3HSKyzV>. Acesso em: 12 maio 2021. 132 Caro acadêmico, observe, no quadro a seguir, algumas possibilidades de ensinar e de aprender as questões ambientais, portanto, nossa provocação e estudo é de como trabalhar com a Geografia Ambiental em sala de aula. Eis uma dica: QUADRO 13 – O CRESCIMENTO DAS CIDADES E A ALTERAÇÃO DA NATUREZA Sobre este plano: Ele está previsto para ser realizado em uma aula de 50 minutos. Serão abordados aspectos que fazem parte do trabalho com a habilidade (EF06GE07) de Geografia, que consta na BNCC. Como a habilidade deve ser desenvolvida ao longo de todo o ano, você observará que ela não será contemplada em sua totalidade aqui, e que as propostas podem ter continuidade em aulas subsequentes. O objetivo principal desta aula é identificar que a razão do crescimento das cidades é a maior necessidade por espaço para pessoas e indústrias e analisar que esse crescimento gera alterações na natureza. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3KoVd6E>. Acesso em: 23 nov. 2021. NOTA Caro acadêmico, veja alguns objetivos que poderão ser abordados. OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA CRIANÇAS A necessidade da inclusão da educação ambiental nas escolas é uma demanda da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Irina Bokova, diretora da agência, fez uma declaração durante o IX Congresso Mundial de Educação Ambiental (WEEC), realizado na cidade canadense de Vancouver, em 2017, para ratificar essa necessidade. De acordo com a UNESCO, os quatro objetivos da educação ambiental para crianças são: Conscientizá-las e sensibilizá-las em relação aos problemas ambientais. Fomentar seu interesse em relação ao cuidado e melhoria do meio ambiente. Desenvolver na infância a capacidade de aprender sobre o meio que nos cerca. Ampliar seus conhecimentos ecológicos em assuntos como energia, paisagem, ar, água, recursos naturais e vida silvestre. A educação das novas gerações é de responsabilidade de todos, e não só dos pais. As crianças de hoje serão os governantes e líderes mundiais de amanhã e terão que lidar com grandes desafios – como o aquecimento global ou o estresse hídrico – e tomar decisões cruciais para a humanidade. O futuro está em suas mãos! FONTE: <https://www.iberdrola.com/meio-ambiente/educacao-ambiental-para-criancas>. Acesso em: 10 maio, 2021. 133 3 GEOGRAFIA CULTURAL EM SALA DE AULA A Geografia Cultural abraçou novos rumos e possibilidades dentro dos estudos da Geografia. O pós-guerra (1945) trouxe uma nova visão de mundo e o avanço tecnológico irrompeu fronteiras inimagináveis. Novas compreensões foram exigidas, nas quais as vivências e culturas populares ganharam a atenção dos pesquisadores. Logo, aspectos relacionados com às identidades culturais, percepções, representações, às memórias e heranças dos indivíduos e grupos passaram a compor o novo corpo de preocupações dos novos estudos. Entre as temáticas abordadas no âmbito da geografia cultural, merecem ser destacados os seguintes conteúdos: • literatura; • cinema; • música; • gênero; • religião; • geopolítica dos países; • globalização; • hegemonia cultural; • americanização; • paisagens culturais. Os conteúdos anteriormente citados encontram-se no cerne dos debates e trabalhos científicos deste campo renovado. Disponibilizamos para você uma dica de plano de aula referente à temática Cultura e Geografia. QUADRO 14 – DIVERSIDADE NA PRODUÇÃO CULTURAL DO LUGAR Sobre este plano: Ele está previsto para ser realizado em uma aula de 50 minutos. Serão abordados aspectos que fazem parte do trabalho com a habilidade EF06GE01 de Geografia, que consta na BNCC. Como a habilidade deve ser desenvolvida ao longo de todo o ano, você observará que ela não será contemplada em sua totalidade aqui e que as propostas podem ter continuidade em aulas subsequentes. Neste plano a habilidade vinculada será contemplada no estudo da diversidade cultural brasileira e local, suas origens históricas, territorialidades e manifestações. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3G9afu9>. Acesso em: 23 nov. 2021. 134 NOTA Fique sabendo! Como a geografia cultural engloba muitos temas, o profissional do seu campo, geógrafo, pode atuar em várias vertentes que exploram os conhecimentos sobre as interações entre homem e ambiente. Os conceitos da geografia cultural podem ser usados na área de relações internacionais, em planejamentos para o uso dos solos ou atémesmo em atividades voltadas para o comércio e negócios. FONTE: <https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/geografia/geografia-cultural>. Acesso em: 12 mar. 2021. 4 CARTOGRAFIA E GEOTECNOLOGIAS EM SALA DE AULA Caro acadêmico, entraremos em um assunto importantíssimo para suas aulas, a cartografia que faz parte do cotidiano. Em razão disso, ensiná-la na escola é necessidade primordial. Sua importância é traduzida por um grande geógrafo; “Carl Sauer, que em 1956 sintetizou claramente a importância da Cartografia para o Geógrafo: Mostre-me um geógrafo que não necessite deles (mapas) constantemente e os queira ao seu redor e eu terei minhas dúvidas se ele fez a correta escolha em sua vida” (SAUER apud OLIVEIRA, 2007, p. 15). O conhecimento cartográfico proporciona a compreensão do espaço geográfico em que se vive e de forma gradativa essa compreensão é ampliada para outros níveis e escala de espaços. Leva o aluno a perceber de forma crítica e, assim, atuar na realidade à qual pertence, contribuindo para a construção da cidadania. Para isso, é fundamental que o professor ou o futuro professor se aperfeiçoe em termos de conhecimentos sobre a cartografia e como ensinar e aprender os conteúdos cartográficos com metodologias que incluam procedimentos adequados, que contribuam para o aprimoramento do conhecimento do aluno. Observe, na figura a seguir, algumas ideias que se encontram vinculadas à noção de cartografia. 135 FIGURA 3 – CARTOGRAFIA FONTE: <https://bit.ly/32nFhzY>. Acesso em: 13 maio 2021. Um primeiro ponto para compreender o conhecimento cartográfico é entender o que é a Cartografia e qual a origem dessa palavra. A palavra cartografia tem origem na língua portuguesa, tendo sido registrada pela primeira vez em 1839 numa correspondência, indicando a ideia de um traçado de mapas e cartas. Hoje entende- mos cartografia como a representação geométrica plana, simplifica- da e convencional de toda a superfície terrestre ou de parte dela, apresentada através de mapas, cartas ou plantas. Por meio da cartografia, quaisquer levantamentos (ambientais, socioeconômicos, educacionais, de saúde etc.) podem ser represen tados espacialmente, retratando a dimensão territorial, facilitando e tornando mais eficaz a sua compreensão. Não se pode esquecer, no entanto, que os mapas, como meios de representação, traduzem os interesses e objetivos de quem os propõe, podendo se aproximar ou se afastar da realidade represen tada. Além disso, enfrentam, como veremos mais adiante, as limitações e distorções que inevitavelmente surgem quando da transposição da realidade para o plano. Todo produto cartográfico é sempre útil e válido para uma determinada aplicação, em um determinado instante do tempo (IBGE, 2021, p. 15). A palavra cartografia foi introduzida pelo historiador português Manuel Francisco Carvalhosa em uma carta endereçada ao historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen, vindo a ser internacionalmente consagrado pelo seu uso, podemos destacar também, que por se ter a necessidade de conhecer, em detalhes, o espaço onde se habita, seja para a exploração e ocupação da superfície, seja para a proteção, unida da curiosidade inerente ao ser humano é que todo produto cartográfico é sempre útil e valido para uma de terminada aplicação, em um determinado instante do tempo. 136 A cartografia é a ciência que se dedica à representação do espaço geográfico por meio do estudo, análise e confecção de cartas ou mapas. Os seus produtos, entretanto, não se limitam aos mapas: plantas, croquis e o globo terrestre são outros resultados diretos da aplicação dos conhecimentos cartográficos. Essa ciência utiliza-se de uma série de técnicas para que seja possível a reprodução do espaço, de parcelas do espaço ou, ainda, de alguns de seus aspectos em uma escala reduzida e da forma mais acurada possível. Outras utilidades podem ser atribuídas à cartografia e aos seus produtos. Tais como: localização de um determinado referencial na superfície terrestre, desde áreas das mais extensas, como continentes e países, até pontos específicos de um determinado lugar, como um bairro ou uma residência. Associado a isso, a cartografia serve ainda para a orientação no espaço e para auxiliar nos deslocamentos, o que é feito com a utilização de mapas e bússolas ou GPS. Por meio das técnicas cartográficas, cria-se uma série de produtos que nos auxiliam no estudo e compreensão de várias características do espaço físico, como: • relevo • hidrografia • climas • distribuição dos tipos de solo • localização e limites dos biomas etc. NOTA Acadêmico, seguem exemplos de planos de aula para se trabalhar com os mapas temáticos. Plano de aula: Mapas temáticos do Brasil: leitura, interpretação e produção. Acesse em: https://bit.ly/3nS5YoO. A cartografia permite também a espacialização de informações geográficas úteis para tomadas de decisões na esfera polícia, gestão e planejamento e para o desenvolvimento de estratégias de caráter político, social ou econômico. Para tal, são utilizados os mapas: • políticos; • populacionais; • de redes de transporte; • econômicos; • de uso da terra, e de uma variedade de outros temas. 137 DICA Acadêmico, visite alguns aplicativos de mapas interativos que poderão auxiliá-lo a planejar suas aulas. Acesse em: https://applications.icao.int/airport-map/. https://ourairports.com/countries/US/. A cartografia pode ser dividida em duas grandes áreas: • Cartografia sistemática: ramo da cartografia dedicado à representação das características físicas da superfície terrestre e, por essa razão, é também chamada de cartografia topográfica. As informações representadas são de caráter genérico e, por isso, duradouras no tempo, sendo coletadas e replicadas por meio de técnicas específicas (IBGE, 2021). • Cartografia temática: ramo da cartografia dedicado à produção de mapas com base em informações geográficas diversas, não se restringindo às dimensões físicas de uma área. Seus produtos indicam a ocorrência espacial de fenômenos específicos, como econômicos, sociais, demográficos e mesmo naturais. Por essa razão, recebe o nome também de cartografia geográfica (IBGE, 2021). DICA Caro acadêmico, o acervo cartográfico da Biblioteca Nacional é composto por mais de 22 mil mapas, entre manuscritos e impressos, e aproximadamente 2.500 atlas, além de diversas monografias e tratados sobre o tema. Acesse o site e uma boa pesquisa. Acesse em: https://www.bn.gov.br/explore/acervos/cartografia. No âmbito da cartografia, diversos termos específicos são utilizados. Verifique na tabela a seguir os significados dos principais termos empregados nesse campo de estudo. QUADRO 15 – PRINCIPAIS CONCEITOS CARTOGRAFIA Mapa – um mapa é uma representação reduzida de uma dada área do espaço geográfico. Um mapa temático, por sua vez, é uma representação de um espaço realizada a partir de uma determinada perspectiva ou tema, que pode variar entre indicadores sociais, naturais e outros. Plantas – representação cartográfica realizada a partir de uma escala muito grande, ou seja, com uma área muito pequena e um nível de detalhamento maior. É muito utilizada para representar casas e moradias em geral, além de bairros, parques e empreendimentos. 138 Croqui – é um esboço cartográfico de uma determinada área ou, em outras palavras, um mapa produzido sem escala e sem os procedimentos padrões na sua elaboração, servindo apenas para a obtenção de informações gerais de uma área. Escala – é a proporção entre a área real e a sua representação em um mapa. Geralmente, aparece designada nos próprios mapas na forma numérica e/ou na forma gráfica. Legenda – é a utilização de símbolos em mapas para definir algumas representações e está sempre presente em mapas temáticos. Alguns símbolos cartográficos e suas legendas são padronizados para todos os mapas, como o azul para designar a água e o verde para indicar uma área de vegetação, entre outros. Orientação –é a determinação de ao menos um dos pontos cardeais, importante para representar a direção da área de um mapa. Alguns instrumentos utilizados na determinação da orientação cartográfica são a Rosa dos Ventos, a Bússola e o aparelho de GPS. Projeções Cartográficas – são o sistema de representação da Terra, que é geoide e quase arredondada, em um plano, de forma que sempre haverá distorções. No sistema de projeções cartográficas, utiliza-se a melhor estratégia para definir quais serão as alterações entre o real e a representação cartográfica com base no tipo de mapa a ser produzido. Hipsometria – também chamada de altimetria, é o sistema de medição e representação das altitudes de um determinado ambiente e suas formas de relevo. Portanto, um mapa hipsométrico ou altimétrico é um mapa que define por meio de cores e tons as diferenças de altitude em uma determinada região. Latitude – é a distância, medida em graus, entre qualquer ponto da superfície terrestre e a Linha do Equador, que é um traçado imaginário que se encontra a uma igual distância entre o extremo norte e o extremo sul da Terra. Longitude – é a distância, medida em graus, entre qualquer ponto da superfície terrestre e o Meridiano de Greenwich, outra linha imaginária que é empregada para definir a separação dos hemisférios leste e oeste. Paralelos – são as linhas imaginárias traçadas horizontalmente sobre o planeta ou perpendiculares ao eixo de rotação terrestre. Os principais paralelos são a Linha do Equador, os Trópicos de Câncer e Capricórnio e os Círculos Polares Ártico e Antártico. Todo paralelo da Terra possui um valor específico de latitude, que pode variar de 0º a 90º para o sul ou para o norte. Meridianos – são as linhas imaginárias traçadas verticalmente sobre o planeta ou paralelas ao eixo de rotação terrestre. O principal meridiano é o de Greenwich, estabelecido a partir de uma convenção internacional. Todo meridiano da Terra possui um valor específico de longitude, que pode variar entre 0º e 180º para o leste ou para o oeste. Coordenadas Geográficas – é a combinação do sistema de paralelos e meridianos com base nas longitudes e as latitudes para endereçar todo e qualquer ponto da superfície terrestre. 139 Curvas de Nível – é uma linha ou curva imaginária que indica os pontos e áreas localizados sob uma mesma altitude e que possui a sua designação altimétrica feita por números representados em metros. Aerofotogrametria – é o registro de imagens a partir de fotografias áreas, sendo muito utilizado para a produção de mapas. SIG – sigla para “Sistemas de Informações Geográficas”, é o conjunto de métodos e sistemas que permitem a análise, coleta, armazenamento e manipulação de informações sobre uma dada área do espaço geográfico. Utiliza, muitas vezes, técnicas e procedimentos tecnológicos, incluindo softwares, imagens de satélite e aparelhos eletrônicos em geral. FONTE: Adaptado de <https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/conceitos-basicos-cartografia.htm>. Acesso em: 12 out. 2021. FIGURA 4 – ORIENTAÇÃO E LOCALIZAÇÃO FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/f2/ed/ad/f2edadbd50dd26345e7d1cf5c5f3685c.jpg>. Acesso em: 12 maio 2021. 140 O conceito de Sistema de Informações Geográficas (SIG) tem evoluído durante os anos, por ser um sistema de coleta, tem um armazenamento, manipulação e a saída de dados cartográficos. As geotecnologias ou geoprocessamentos vieram para otimizar esse processo, são um conjunto de técnicas e métodos para realizar essas atividades e disponibilizar informação com referência geográfica. O geoprocessamento envolve, pelo menos, quatro categorias de técnicas relacionadas ao tratamento da informação espacial (ROSA ,2005): 1. Técnicas para coleta de informação espacial (cartografia, sensoriamento remoto, GPS, topografia, levantamento de dados alfanuméricos). 2. Técnicas de armazenamento de informação espacial (bancos de dados – orientado a objetos, relacional, hierárquico etc.). 3. Técnicas para tratamento e análise de informação espacial (modelagem de dados, geoestatística, aritmética lógica, funções topológicas, redes etc.). 4. Técnicas para o uso integrado de informação espacial, como os sistemas GIS – Geographic Information Systems, LIS – Land Information Systems, AM/FM – Automated Mapping/Facilities Management, CADD – Computer-Aided Drafting and Design. O GIS engloba em sua definição vários aspectos já abordados na definição de geoprocessamento. As geotecnologias são compostas por soluções em hardware e software que juntas constituem poderosas ferramentas para tomada de decisão. Dentre as geotecnologias podemos citar: • sistemas de informação geográfica; • cartografia digital; • sensoriamento remoto; • sistema de posicionamento global; • topografia georreferenciada. QUADRO 16 – PRINCIPAIS GEOTECNOLOGIAS Sensoriamento remoto É a aquisição de informações sobre um objeto através da análise de dados adquiridos por dispositivos que não estão em contato direto com o objeto. Os sensores remotos, são capazes de captar energia do objeto e convertê-lo em um sinal que pode ser gravado em um formato adequado para a extração de informações sobre o objeto referido. Eles podem coletar energia acústica, energia gravitacional e energia eletromagnética. São utilizados acoplados por exemplo a Drones, aeronaves, satélites orbitais e estações espaciais. 141 Sensoriamento remoto É a aquisição de informações sobre um objeto através da análise de dados adquiridos por dispositivos que não estão em contato direto com o objeto. Os sensores remotos, são capazes de captar energia do objeto e convertê-lo em um sinal que pode ser gravado em um formato adequado para a extração de informações sobre o objeto referido. Eles podem coletar energia acústica, energia gravitacional e energia eletromagnética. São utilizados acoplados por exemplo a Drones, aeronaves, satélites orbitais e estações espaciais. Sistema de Informação Geográfica (SIG) Um Sistema de Informação Geográfica (SIG), originado do inglês Geographic Information System (GIS) representa a união entre hardware e software que pode armazenar, analisar e processar dados georreferenciados. Os SIGs podem conter arquivos de varredura digital como imagens de satélite e fotos aéreas ou arquivos vetoriais como pontos, linhas ou polígonos. A análise das informações contidas no sistema possibilita a elaboração de mapas, gráficos, tabelas e relatórios que representam digitalmente o mundo real. Cada parte dos dados armazenados é associada a coordenadas em duas ou três dimensões no espaço e relaciona-se a um determinado local no globo. Sistema de Posicionamento Global (GPS) O Sistema consiste numa constelação de satélites que podem determinar a localização e o posicionamento de um receptor em qualquer lugar na superfície da Terra, no mar ou no ar. Através de sinais de radiofrequência, um dispositivo receptor é capaz de determinar sua distância em relação a pelo menos quatro satélites. Com base nas coordenadas de satélite e nas distâncias, é possível calcular as coordenadas do dispositivo receptor do usuário. Geoprocessamento O Geoprocessamento é um ramo da área do conhecimento denominada como Geomática, onde engloba o total conjunto de técnicas/tecnologias ligadas à informação espacial, quer seja no tocante à coleta, ao tratamento ou análise desses dados. A atividade de geoprocessamento utiliza ferramentas computacionais para manipular e analisar dados geográficos. Com o conjunto dessas ferramentas integradas em Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), é possível analisar e cruzar dados de diferentes fontes, facilitando a extração de informações e tomada de decisão. A cartografia digital consiste em oferecer um modelo de representação de dados para os processos que ocorrem no espaço geográfico, visando o desenvolvimento de materiais, equipamentos e metodologias para a confecção de moldes cartográficos digitais. FONTE:Adaptado de <https://bit.ly/3KHzSFy>. Acesso em: 12 out. 2021. Principais utilizações das geotecnologias, de acordo com o pesquisador e professor Rosa (2005): 142 • Mapeamento de fatores relevantes nas prefeituras, serviços de saneamento, energia elétrica e telecomunicações podem valer-se do uso das geotecnologias para relacionar suas redes de distribuição às demais informações de seus bancos de dados. • Utilização na análise, exploração, estudo e conservação de recursos naturais, considerando diferentes escalas e informações espaciais. • Estudo da paisagem como topografia, hidrografia, geologia e geomorfologia e variáveis ambientais como temperaturas, precipitação e radiação solar. • Auxílio na prevenção de desastres naturais como, por exemplo, inundações, terremotos e erupções vulcânicas. • Gerenciamento e monitoramento de atividades humanas relacionadas a diversas áreas como infraestrutura, agricultura e pecuária. DICA Caro acadêmico, assista ao vídeo: “(geo)Tecnologias para além da sala de aula”. A partir dele você terá maior compreensão do uso de geotecnologias em sala de aula. Acesse em: https://youtu.be/tlES0Fd54Js. 143 A IMPORTÂNCIA DAS GEOTECNOLOGIAS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA Vanessa Oliveira da Silva Bruno Zucherato Daniela Wancura Barbieri Peixoto GEOPROCESSAMENTO Com o desenvolvimento da tecnologia e informatização, percebemos que a análise de informações realizadas em documentos analógicos, tornava difícil um estudo espacial, quando necessária a combinação de fatores e dados, nesse contexto surge o Geoprocessamento. Marble (1984) afirma que o geoprocessamento é um conjunto de técnicas e metodologias de armazenamento, processamento, automação e utilização de imagens para tomada de decisões. O armazenamento, análise e apresentação de um grande volume de dados sobre um determinado espaço geográfico, fizeram com que se desenvolvessem ambientes que aliassem mapas digitais às informações sobre os elementos do mapa. Essa operação só foi possível devido ao grande avanço na área de tecnologia de informática, o que permitiu o surgimento de sistemas de gerenciamento automatizado de banco de dados e cartografia digital. Para a manipulação dos dados, o geoprocessamento utiliza diferentes técnicas ligadas à informação espacial com o processamento informatizado e matemático de dados georreferenciados, também conhecido como computação em nuvem (cloud computing), que consiste no armazenamento que utiliza memória de computadores e servidores compartilhados e interligados via internet. Assim, os dados são armazenados em sistemas (serviços) que podem ser acessados a qualquer hora e local, sem a necessidade de instalação de software. Na área da educação, Fonseca (2017) defende a importância do contato do aluno com o geoprocessamento, especialmente pela utilização da informática e da análise espacial, proporcionando uma formação interdisciplinar. Além disso, o autor destaca que a aplicação do Geoprocessamento permite um melhor entendimento dos conteúdos da Geografia na prática. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são ferramentas do geoprocessamento, através das quais são geradas informações por meio da análise e conexão de dados geográficos. Esses dados permitem a criação de diferentes mapas, onde vários tipos de informações podem ser sobrepostos e interpretados. Miranda (2015, p. 26) enfatiza que o SIG “é visto mais como uma ciência de informação espacial do que uma tecnologia”, destacando que os dados no SIG devem LEITURA COMPLEMENTAR 144 ser organizados para produzir conhecimento útil em uma determinada localização espacial, por meio de mapas, imagens, estatísticas, gráficos e outros. Ainda de acordo com Miranda (2015) esses sistemas já existiam antes do desenvolvimento dos sistemas computacionais. No entanto, a evolução do conceito de SIG segundo Fitz (2008) deve- se, entre outros fatores, à evolução do computador (hardware) e de programas específicos (software) que conseguem resolver os problemas de quantificação de maneira mais rápida e eficaz. Além da necessidade do uso do meio computacional, faz-se necessária a existência de uma base de dados georreferenciados, que são dados associados a um sistema de coordenadas conhecido, ou seja, vinculam-se a pontos reais dispostos no terreno, caracterizados pelas suas coordenadas de latitude e longitude. Os autores Burrough e McCONELL (1998, p. 11), entendem o SIG como um poderoso conjunto de ferramentas de coleta, armazenamento, recuperação, transformação e visualização de dados espaciais do mundo real para um conjunto de propósitos específicos. Deve-se levar em conta, nesse sistema, a integração de dados, equipamentos e pessoas. Como qualquer sistema computacional, um SIG terá sua acessibilidade definida pelo responsável de sua confecção. Assim determinadas ferramentas só poderão ser acessadas por determinado usuário. Rodrigues e Colesanti (2008) afirmam que os SIG, não se restringem às suas potencialidades tecnológicas de estoque de dados geográficos ou de análise e manipulação, mas sim, sobre esse atual aspecto de mídia de dados geográficos e, portanto, de informações geográficas, que podem ser utilizadas nos diferentes níveis de ensino. SENSORIAMENTO REMOTO Com as novas transformações tecnológicas e científicas e, até mesmo, políticas e estratégicas, observamos a necessidade de os países desenvolverem sistemas de detecção e obtenção precisas de informações da superfície terrestre em maior escala de detalhe, em áreas abrangentes. A partir da década de 1970 os Estados Unidos deram impulso ao desenvolvimento de satélite de observação da terra com o lançamento do ERTS-1, mais tarde denominado LANDSAT-1, que permitia a obtenção de imagens da superfície terrestre a cada 18 dias (SAUSEN,2008). O Sensoriamento Remoto compreende a detecção, aquisição e análise (interpretação e extração de informações) da energia eletromagnética emitida ou refletida pelos objetos terrestres e registradas por sensores remotos. O sistema compreende uma aferição a distância, das propriedades dos objetos ou alvos a partir da reflexão de energia eletromagnética. A energia eletromagnética refletida pelos objetos terrestres, bem como suas propriedades físico-químicas e biológicas, pode ser identificada nas imagens e nos dados de sensores remotos. Os sensores podem ser radiômetros de campo e de laboratório, os espectroradiômetros, “scanners” e as câmeras fotográficas, e outros sistemas que operam em aeronaves e satélites. 145 Os satélites, diferentes de outros sensores, permitem o acompanhamento temporal, além de um grande campo de visada do imageamento por estarem em grandes altitudes (600 e 1.000 km) e em nível orbital. A qualidade de um sensor, geralmente, é especificada pela sua capacidade de obter medidas detalhadas da energia eletromagnética. As características dos sensores estão relacionadas com a resolução espacial, temporal, espectral e radiométrica. A resolução espacial representa a capacidade de o sensor distinguir objetos, indicando o tamanho do menor elemento da superfície individualizado pelo sensor. O tempo de revisita do sensor a um determinado ponto da superfície corresponde a resolução temporal. A resolução espectral depende do número de bandas ou faixas espectrais do sensor. A resolução geométrica, dada pelo número de bits, possibilita maior distinção entre objetos (JENSEN, 2009). Os sistemas sensores podem ser mantidos no nível orbital (satélites) ou suborbital (acoplados em aeronaves ou mantidos ao nível do solo). A obtenção de dados no nível orbital é realizada através de sistemas sensores a bordo de satélites artificiais. O sensoriamento remoto nesse nível permite a repetitividade das informações, bem como um melhor monitoramento dos recursos naturais para grandes áreas da superfície terrestre. Observa-se que os programas brasileiros de sensoriamento remoto não são amplamentedivulgados na educação básica, apesar do desenvolvimento do programa CBERS (China Brazil Earth Resources Satellite – Satélite Sino Brasileiro de Recursos Terrestres) que envolveu a construção, lançamento e gerenciamento operacional de satélites de sensoriamento remoto que obtém imagens a intervalos regulares, e o processamento dos dados para que sejam gerados os produtos a serem distribuídos aos usuários. Em sua grande maioria, os produtos das geotecnologias estão disponíveis na internet e disponibilizados gratuitamente, por exemplo, imagens de satélites, visualizáveis no sítio da Divisão de Geração de Imagens (DGI) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Essas imagens, juntamente com softwares livres, os demais recursos (cartas topográficas, redes de coordenadas, bases cartográficas, mapas temáticos, Google Earth, entre outros) estão disponíveis para download, podendo ser aproveitados como ferramentas dinamizadoras de aulas. FONTE: Adaptada de <https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/geo/article/view/12766/8449>. Acesso em: 12 out. 2021. 146 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A Geografia Ambiental é a área dos estudos geográficos que estuda o espaço geográfico, representando os esforços de se compreender, sobretudo, a relação entre o ser humano com o meio natural e o meio ambiente transformado (também é objetivo desse ramo do saber o conhecimento a respeito das consequências dessas ações antrópicas e dos efeitos da natureza sobre as atividades socioespaciais). • A principal ênfase dos estudos ambientais na Geografia refere-se aos temas concernentes à degradação e aos impactos ambientais, além do conjunto de medidas possíveis para conservar os elementos da natureza, mantendo uma interdisciplinaridade com outras áreas do conhecimento, como a Biologia, a Geologia, a Economia, a História e muitas outras. Nesse sentido, o principal cerne de estudos é o meio ambiente e as suas formas de preservação. • A Geografia Cultural abraçou novos rumos e possibilidades dentro dos estudos da Geografia. O pós-guerra (1945) trouxe uma nova visão de mundo e o avanço tecnológico irrompeu fronteiras inimagináveis. Novas compreensões foram exigidas, nas quais as vivências e culturas populares ganharam a atenção dos pesquisadores. • O conhecimento cartográfico proporciona a compreensão do espaço geográfico em que se vive e de forma gradativa essa compreensão é ampliada para outros níveis e escala de espaços. Leva o aluno a perceber de forma crítica e assim atuar na realidade à qual pertence, contribuindo para a construção da cidadania. • A cartografia é a ciência que se dedica à representação do espaço geográfico por meio do estudo, análise e confecção de cartas ou mapas. Os seus produtos, entretanto, não se limitam aos mapas: plantas, croquis e o globo terrestre são outros resultados diretos da aplicação dos conhecimentos cartográficos. Essa ciência utiliza-se de uma série de técnicas para que seja possível a reprodução do espaço, de parcelas do espaço ou, ainda, de alguns de seus aspectos em uma escala reduzida e da forma mais acurada possível. • O conceito de Sistema de Informações Geográficas (SIG) tem evoluído durante os anos, por ser um sistema de coleta, tem um armazenamento, manipulação e a saída de dados cartográficos. As geotecnologias ou geoprocessamentos vieram para otimizar esse processo, sendo um conjunto de técnicas e métodos para realizar essas atividades e disponibilizar informação com referência geográfica. 147 RESUMO DO TÓPICO 3 • As geotecnologias são compostas por soluções em hardware e software que juntas constituem poderosas ferramentas para tomada de decisão. Dentre as geotecnologias podemos citar: sistemas de informação geográfica, cartografia digital, sensoriamento remoto, sistema de posicionamento global, topografia georreferenciada. 148 1 A Geografia Ambiental é a área dos estudos geográficos que se preocupa em compre- ender a ação do homem sobre a natureza, produzindo o seu meio de vivência e a sua transformação. A respeito da Geografia Ambiental, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A Geografia que estuda o espaço geográfico, representando os esforços de se compreender, sobretudo, a relação entre o ser humano com o meio natural e o meio ambiente transformado. b) ( ) É objetivo da Geografia Ambiental, do saber o conhecimento a respeito das consequências dessas ações tecnológicas e dos efeitos da natureza sobre as atividades socioespaciais. c) ( ) A Geografia Ambiental atua no sentido de compreender e descrever os aspectos físicos e religiosos desse meio rural, além de se envolver em questões geopolíticas e de estabelecer uma escala que vai do local ao global; com ela é possível relacionar as diferentes formas de manifestação espacial. d) ( ) O meio ambiente acaba se inserindo dentro das disputas culturais. O campo da Geografia que estuda e possibilita o aluno a compreender esse fenômeno é a Geografia Cultural que se interessa pelos estudos acerca do meio ambiente e da preservação da natureza, configurando-se como uma área essencialmente interdisciplinar. 2 A Geografia Cultural abraçou novos rumos e possibilidades dentro dos estudos da Geografia. O pós-guerra (1945) trouxe uma nova visão de mundo e o avanço tecnológico irrompeu fronteiras inimagináveis. Novas compreensões foram exigidas, nas quais as vivências e culturas populares ganharam a atenção dos pesquisadores. Referente à temática Paisagem cultural, assinale a alternativa CORRETA: I- A paisagem cultural é reflexo das relações firmadas entre o ser humano e o seu meio. II- Em linhas gerais, a paisagem cultural integra a paisagem humanizada, porém com características especiais. A paisagem cultural transmite as particularidades históricas e culturais dos seus moradores. III- A paisagem cultural é caracterizada pelas relações específicas de uma determinada cultura que as torna particular. Isso está diretamente conectado à identidade nacional do seu povo. a) ( ) Somente a afirmativa I está correta. b) ( ) Somente a afirmativa III está correta. c) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. d) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. AUTOATIVIDADE 149 3 A cartografia que faz parte do cotidiano, em razão disso, ensiná-la na escola é necessidade primordial. Sua importância é traduzida por um grande Geógrafo, “Carl Sauer em 1956 sintetiza claramente a importância da Cartografia para o geógrafo: “Mostre-me um geógrafo que não necessite deles (mapas) constantemente e os queira ao seu redor e eu terei minhas dúvidas se ele fez a correta escolha em sua vida” (SAUER apud OLIVEIRA, 2007, p. 15). FONTE: OLIVEIRA, L. de. Estudo metodológico e cognitivo do mapa. In: ALMEIDA, R. D. de (Org.). Cartografia Escolar. São Paulo: Contexto, 2007. p. 15-41. Referente à temática Cartografia, analise as sentenças a seguir: I- O conhecimento cartográfico proporciona a compreensão do espaço geográfico em que se vive e de forma gradativa essa compreensão é ampliada para outros níveis e escala de espaços. II- A palavra cartografia foi introduzida pelo historiador brasileiro Manuel Francisco Silveira da Costa Carvalhosa. III- A cartografia é a ciência que se dedica à representação do espaço geográfico por meio do estudo, análise e confecção de cartas ou mapas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Todas as sentenças estão corretas. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Nenhuma sentença está correta. 4 Uma das emergências do mundo contemporâneo é a manutenção e preservação dos aspectos ecológicos diante do uso desenfreado dos recursos naturais. Desse modo, são necessárias iniciativas eficazes que objetivem e primem amenizar os impactos provocados, bem como extinguir ações que causem estragos ao meio ecológico. Tais ações precisam envolver todos na sociedade, principalmente que a iniciativa parta do poderpúblico e setor privado. Nesse contexto, disserte sobre quais iniciativas possibilitam que essas ações em prol da manutenção dos aspectos ecológicos sejam eficazes. 5 As paisagens representam as marcas do passado e do presente registradas além dos elementos naturais e culturais. Tudo que podemos visualizar e perceber empregando os nossos cinco sentidos e todo ambiente, seja ele classificado como rural ou urbano, é considerado paisagem. Por ser um tema de grande abrangência de estudo, é dividido em dois tipos: as paisagens naturais e as paisagens culturais. Nesse contexto, disserte sobre as características que diferenciam as paisagens naturais das paisagens culturais. 150 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2020. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 20 ago. 2021. COLL, C. et al. Aprender conteúdos e desenvolver capacidades. Porto Alegre: Artmed, 2004. DRUMOND. K. Sistema max de ensino, 2020. Como a BNCC orienta a avaliação no Ensino Fundamental? Disponível em: https://www.sistemamaxi.com.br/bncc-e-a- avaliacao-no-ensino-fundamental/. Acesso em: 11 out. 2021. GANDIN, D. A prática do planejamento participativo. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. IBGE. Conceitos gerais, o que é cartografia? Rio de Janeiro: IBGE, 2021. Disponível em: https://atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/o-que-e-cartografia.html. Acesso em: 12 out, 2021. LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola teoria e prática. 3. ed. Goiânia, GO: Alternativa, 2001. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando conceitos e criando a prática. 2 ed. Salvador: Malabares Comunicações e eventos, 2005. OLIVEIRA, L. de. Estudo metodológico e cognitivo do mapa. In: ALMEIDA, R. D. de (org.). Cartografia Escolar. São Paulo: Contexto, 2007. p. 15-41. PADILHA, P. R. Planejamento dialógico: como construir o projeto político- pedagógico da escola. São Paulo: Cortez, 2001. ROSA, R. Geotecnologias na geografia aplicada. Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, v. 16, p. 81-90, 2005. Disponível em: https://www.revistas.usp. br/rdg/article/view/47288/51024. Acesso em: 20 set. 2021. SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000. VASCONCELLOS, C dos S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico – elementos metodológicos para elaboração e realização. 7. ed. São Paulo: Libertad, 2000. VASCONCELLOS. C dos S. Planejamento: plano de ensino-aprendizagem e projeto educativo. São Paulo: Libertad, 1995. 151 ENSINO DE GEOGRAFIA E A BNCC UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar as habilidades e competências presentes na BNCC no Ensino de Geografia; • relacionar os elementos configuradores e estruturantes presentes na BNCC com o Ensino da Geografia; • conhecer os principais conceitos e temas da Geografia na BNCC; • caracterizar os diferentes métodos e teorias presentes na BNCC da Geografia. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – BNCC E A EDUCAÇÃO BÁSICA TÓPICO 2 – BNCC E GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL TÓPICO 3 – BNCC E GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 152 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 153 TÓPICO 1 — BNCC E A EDUCAÇÃO BÁSICA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, no Tópico 1, você vai estudar a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e a Educação Básica. Você verá que a BNCC é um documento que regulamenta quais são as aprendizagens essenciais a serem trabalhadas nas escolas brasileiras públicas e particulares de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio para garantir o direito à aprendizagem e o desenvolvimento pleno de todos os estudantes. Por isso, é um documento importante para a promoção da igualdade no sistema educacional, colaborando para a formação integral e para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva. No assunto relacionado à BNCC: Educação Infantil e Ensino Fundamental, abordaremos como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil, que é o início e o fundamento do processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada. E, por sua vez, o Ensino Fundamental, com nove anos de duração, é a etapa mais longa da Educação Básica, atendendo estudantes entre 6 e 14 anos. Há, portanto, crianças e adolescentes que, ao longo desse período, passam por uma série de mudanças relacionadas a aspectos físicos, cognitivos, afetivos, sociais, emocionais, entre outros. E por último em BNCC: Ensino Médio, veremos que a dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada, especialmente, pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto a sua formação, 2 INTRODUÇÃO À BNCC A BNCC, sigla para Base Nacional Comum Curricular, é um documento normativo previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica (LDB, 1996) que busca definir o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Isso é feito para assegurar os direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, em conformidade com o que estabelece o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2014/2024). 154 Esse documento integra a política nacional da Educação Básica, contribuindo para o alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e municipal. Ele se refere à formação de professores, à avaliação, à elaboração de materiais educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura para o desenvolvimento da educação. Caro acadêmico, a BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental foi homologada em 20 de dezembro de 2017. Já a do Ensino Médio foi homologada em 2018. Ela é de vital importância devido, justamente, a ser uma das bases na formação humana e social do sujeito. O ser, o estar, o conviver, o fazer humano está inserido nesse documento. Dito de outra maneira, a Educação, processo cultural que humaniza o ser humano, por meio da concepção de trabalho, as relações estabelecidas entre os seres humanos, entre a natureza e a cultura produzida, cria a sociedade humana, cria o mundo do trabalho, cria as relações e interações sociais. Todos os setores e profissões da sociedade de forma direta ou indireta são influenciados por esse documento, por isso a necessidade de estudá-lo e compreendê-lo. A BNCC define as aprendizagens essenciais que devem ser desenvolvidas ao longo de toda a Educação Básica. Isso significa que a elaboração dos currículos nacionais deve ser norteada pela BNCC, a fim de garantir a todos os estudantes uma formação integral que os prepare para enfrentar os desafios da vida. Trata-se de um documento extenso e complexo, que tem despertado diversas dúvidas entre os educadores. Nesse contexto, a estrutura da Base como um todo e para cada segmento é um dos aspectos que tem gerado muitas perguntas. A BNCC divide-se em competências e habilidades que o aluno deve desenvolver ao longo de toda a Educação Básica. As definições desses conceitos são apresentadas no próprio documento: A competência é definida como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudese valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BRASIL, 2020, p. 9). Por sua vez, “as habilidades expressam as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares” (BRASIL, 2020, p. 9). Dessa forma, a escola deve pensar práticas pedagógicas com o objetivo de desenvolver as habilidades dos estudantes. A evolução das competências será fruto da mobilização dessas habilidades com o objetivo de resolver problemas e desafios. No documento é determinado um conjunto de dez competências gerais que sumarizam os direitos de aprendizagem e de desenvolvimento dos estudantes. Essas competências devem ser trabalhadas ao longo de toda a Educação Básica e compreendem todas as dimensões do indivíduo: não apenas a cognitiva, mas também as dimensões física, social, emocional e cultural. Também devem ser trabalhadas de forma integrada, uma vez que se relacionam de diversas maneiras, e seu desenvolvimento deve ser articulado com as habilidades dos componentes curriculares. Além disso, elas devem ser trabalhadas e estimuladas não apenas em sala de aula, mas em todo o espaço escolar, na relação com o outro e com o ambiente. 155 Acompanhe o quadro referente as 10 competências gerais da BNCC: FIGURA 1 – COMPETÊNCIAS GERAIS FONTE: Adaptada de Brasil (2020) As 10 Competências Gerais da Base Nacional Comum Curricular acompanham o desenvolvimento dos alunos desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. É importante ressaltar que as Competências Gerais mantêm as mesmas da Educação Infantil ao Ensino Médio, mas se desdobram ao longo de cada uma dessas etapas da educação para se adequarem às particularidades de cada fase do desenvolvimento dos estudantes. Na Educação Infantil: para essa etapa, as 10 Competências Gerais da BNCC se desdobram em direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, dentro dos cinco campos de experiência da Educação Infantil. No Ensino Fundamental, as Competências Gerais estão presentes em unidades temáticas, objetos de conhecimento e habilidades a serem trabalhadas dentro de cada área do conhecimento e componentes curriculares específicos. No Ensino Médio, as Competências Gerais se desdobram em habilidades que serão desenvolvidas dentro de cada área do conhecimento. 156 DICA Competências e Habilidades 1. Conhecimento Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Pensamento científico, crítico e criativo Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Repertório cultural Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais e, também, participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Comunicação Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos, além de produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Cultura digital Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Trabalho e projeto de vida Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais, apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentação Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Autoconhecimento e autocuidado Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 157 9. Empatia e cooperação Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Responsabilidade e cidadania Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. FONTE: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC, 2020. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 18 maio 2021. Portanto, tendo em vista cada uma das competências da BNCC, fica clara a intenção de buscar uma formação mais completa para os alunos. Não é mais o suficiente se limitar a transmitir um conteúdo teórico a ser decorado, mas sim contribuir para que o estudante se desenvolva de maneira integral. A BNCC busca nortear os currículos e propostas pedagógicas de todas as escolas, públicas e privadas, do Brasil. 3 BNCC: EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL Veremos que a Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica considerada uma das mais importantes etapas da formação das crianças, pois é onde elas começam a existir fora do convívio familiar, o que envolve lidar com diferenças. Por sua vez o ensino fundamental consiste em um dos níveis da educação básica, obrigatória no Brasil. É composto pelo ensino fundamental anos iniciais e anos finais. 3.1 EDUCACÃO INFANTIL Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento do processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada. Nas últimas décadas, vem se consolidando, na Educação Infantil, a concepção que vincula educar e cuidar, entendendo o cuidado como algo indissociável do processo educativo. Nesse contexto, as creches e pré-escolas, ao acolher as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente da família e no contexto de sua comunidade, e articulá-los em suas propostas pedagógicas, têm o objetivo de ampliar o universo de experiências, conhecimentos e habilidades dessas crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, atuando de maneira complementar à educação familiar especialmente quando se trata da educação dos bebês e das crianças bem 158 pequenas, que envolve aprendizagens muito próximas aos dois contextos (familiar e escolar), como a socialização, a autonomia e a comunicação. Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, são importantes a prática do diálogo e o compartilhamento de responsabilidades entre a instituição de Educação Infantil e a família.Como se constitui o desenvolvimento e aprendizagem das crianças na Educação Infantil? A BNCC (BRASIL, 2020, p. 38) descreve que, Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. • Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. Conviver, brincar, participar da vida comunitária, expressar sentimentos e emoções, dialogar, construir e conhecer sua identidade. A reflexão em torno da infância na BNCC vai muito além da sala de aula, pois aponta para uma formação em que os espaços e processos culturais que a criança vive estejam incorporados no ensino- aprendizagem das escolas e, consequentemente, no desenvolvimento social dessa criança e a mudança de modelos de sociedades, pois o conhecimento criado, trabalhado, assimilado proporciona novas formas de ser e estar no mundo. Na primeira etapa da Educação Básica, e de acordo com os eixos estruturantes da Educação Infantil (interações e brincadeira), devem ser assegurados seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, para que as crianças tenham condições de aprender e se desenvolver (Conviver – Brincar – Participar – Explorar – Expressar – Conhecer-se). 159 Considerando os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, a BNCC estabelece cinco campos de experiências, nos quais as crianças podem aprender e se desenvolver: • O eu, o outro e o nós. • Corpo, gestos e movimentos. • Traços, sons, cores e formas. • Escuta, fala, pensamento e imaginação. • Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Em cada campo de experiências são definidos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento organizados em três grupos por faixa etária. (Bebês, crianças muito pequenas, crianças pequenas). Portanto, na Educação Infantil, o quadro de cada campo de experiências se organiza em três colunas relativas aos grupos por faixa etária, nas quais estão detalhados os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Em cada linha da coluna, os objetivos definidos para os diferentes grupos referem-se a um mesmo aspecto do campo de experiências. FIGURA 2 – ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA BNCC FONTE: <https://bit.ly/3IXWlwG>. Acesso em: 20 maio 2021. 3.2 ENSINO FUNDAMENTAL O Ensino Fundamental, com nove anos de duração, é a etapa mais longa da Educação Básica, atendendo a estudantes entre seis e catorze anos. Há, portanto, crianças e adolescentes que, ao longo desse período, passam por uma série de mudanças relacionadas a aspectos físicos, cognitivos, afetivos, sociais, emocionais, 160 entre outros. E essas mudanças impõem desafios à elaboração de currículos para a etapa de escolarização, de modo a superar as rupturas que ocorrem na passagem não somente entre as etapas da Educação Básica, mas também entre as duas fases do Ensino Fundamental: Anos Iniciais e Anos Finais (BRASIL, 2020). FIGURA 3 – ÁREAS DO CONHECIMENTO E COMPONENTES CURRICULARES EF FONTE: O autor Na BNCC, o Ensino Fundamental está organizado em cinco áreas do conhecimento. Essas áreas, favorecem a comunicação entre os conhecimentos e saberes dos diferentes componentes curriculares. Elas se intersectam na formação dos alunos, embora se preservem as especificidades e os saberes próprios construídos e sistematizados nos diversos componentes. Nos textos de apresentação, cada área do conhecimento explicita seu papel na formação integral dos alunos do Ensino Fundamental e destaca particularidades para o Ensino Fundamental Anos Iniciais e o Ensino Fundamental Anos Finais, considerando tanto as características do alunado quanto às especificidades e demandas pedagógicas dessas fases da escolarização. Cada área do conhecimento estabelece competências específicas de área, cujo desenvolvimento deve ser promovido ao longo dos nove anos. Essas competências explicitam como as dez competências gerais se expressam nessas áreas. Nas áreas que abrigam mais de um componente curricular (Linguagens e Ciências Humanas), também são definidas competências específicas do componente (Língua Portuguesa, Arte, Educação Física, Língua Inglesa, Geografia e História) a ser desenvolvidas pelos alunos ao longo dessa etapa de escolarização. As competências específicas possibilitam a articulação horizontal entre as áreas, perpassando todos os componentes curriculares, e a articulação vertical, ou seja, a progressão entre o Ensino Fundamental Anos Iniciais e o Ensino Fundamental Anos Finais e a continuidade das experiências dos alunos, considerando suas especificidades. Para garantir o desenvolvimento das competências específicas, cada componente curricular apresenta um conjunto de habilidades. Essas habilidades estão relacionadas a diferentes objetos de conhecimento entendidos como conteúdos, conceitos e processos, que, por sua vez, são organizados em unidades temáticas. 161 Ao longo do Ensino Fundamental Anos Finais, os estudantes se deparam com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental Anos Iniciais no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes (BRASIL, 2020). Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, oferecendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação. Os estudantes dessa fase inserem-se em uma faixa etária que corresponde à transição entre infância e adolescência, marcada por intensas mudanças decorrentes de transformações biológicas, psicológicas, sociais e emocionais., ampliam-se os vínculos sociais e os laços afetivos, as possibilidades intelectuais e a capacidade de raciocínios mais abstratos. Os estudantes tornam-se mais capazes de ver e avaliar os fatos pelo ponto de vista do outro, exercendo a capacidade de descentração, importante na construção da autonomia e na aquisição de valores morais e éticos. As mudanças próprias dessa fase da vida implicam a compreensão do adolescente como sujeito em desenvolvimento, com singularidades e formações identitárias e culturais próprias, que demandam práticas escolares diferenciadas, capazes de contemplar suas necessidades e diferentes modos de inserção social (BRASIL, 2020).Há que se considerar, ainda, que a cultura digital tem promovido mudanças sociais significativas nas sociedades contemporâneas. Em decorrência do avanço e da multiplicação das tecnologias de informação e comunicação e do crescente acesso a elas pela maior disponibilidade de computadores, telefones celulares, tablets e afins, os estudantes estão dinamicamente inseridos nessa cultura, não somente como consumidores. Os jovens têm se engajado cada vez mais como protagonistas da cultura digital, envolvendo-se diretamente em novas formas de interação multimidiática e multimodal e de atuação social em rede, que se realizam de modo cada vez mais ágil. Por sua vez, essa cultura também apresenta forte apelo emocional e induz ao imediatismo de respostas e à efemeridade das informações, privilegiando análises superficiais e o uso de imagens e formas de expressão mais sintéticas, diferentes dos modos de dizer e argumentar característicos da vida escolar. Todo esse quadro impõe à escola desafios ao cumprimento do seu papel em relação à formação das novas gerações (BRASIL, 2020). Além disso, e tendo por base o compromisso da escola de propiciar uma formação integral balizada pelos direitos humanos e princípios democráticos, é preciso considerar a necessidade de desnaturalizar qualquer forma de violência nas sociedades contemporâneas, incluindo a violência simbólica de grupos sociais que impõem normas, valores e conhecimentos tidos como universais e que não estabelecem diálogo entre as diferentes culturas presentes na comunidade e na escola. Em todas as etapas de escolarização, mas de modo especial entre os estudantes dessa fase do Ensino Fundamental, esses fatores frequentemente dificultam a convivência cotidiana e a 162 aprendizagem, conduzindo ao desinteresse e à alienação e, não raro, à agressividade e ao fracasso escolar. Atenta a culturas distintas, não uniformes nem contínuas dos estudantes dessa etapa, é necessário que a escola dialogue com a diversidade de formação e vivências para enfrentar com sucesso os desafios de seus propósitos educativos. A compreensão dos estudantes como sujeitos com histórias e saberes construídos nas interações com outras pessoas, tanto do entorno social mais próximo quanto do universo da cultura midiática e digital, fortalece o potencial da escola como espaço formador e orientador para a cidadania consciente, crítica e participativa (BRASIL, 2020). 4 BNCC: ENSINO MÉDIO O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, direito público subjetivo de todo cidadão brasileiro. Todavia, a realidade educacional do País tem mostrado que essa etapa representa um gargalo na garantia do direito à educação. Para além da necessidade de universalizar o atendimento, tem-se mostrado crucial garantir a permanência e as aprendizagens dos estudantes, respondendo as suas demandas e aspirações presentes e futuras (BRASIL, 2020). Na BNCC, o Ensino Médio está organizado em quatro áreas do conhecimento. A organização por áreas não exclui, necessariamente, as disciplinas, com suas especificidades e saberes próprios historicamente construídos, mas, sim, implica o fortalecimento das relações entre elas e a sua contextualização para apreensão e intervenção na realidade, requerendo trabalho conjugado e cooperativo dos seus professores no planejamento e na execução dos planos de ensino. Contudo, são detalhadas as habilidades de Língua Portuguesa e Matemática, considerando que esses componentes curriculares devem ser oferecidos nos três anos do Ensino Médio. Ainda assim, para garantir aos sistemas de ensino e às escolas a construção de currículos e propostas pedagógicas flexíveis e adequados a sua realidade, essas habilidades são apresentadas. Nos textos de apresentação da BNCC (BRASIL, 2020), cada área do conhecimento explicita seu papel na formação integral dos estudantes do Ensino Médio e destaca particularidades no que concerne ao tratamento de seus objetos de conhecimento, considerando as características do alunado, as aprendizagens promovidas no Ensino Fundamental e as especificidades e demandas dessa etapa da escolarização. Cada área do conhecimento estabelece competências específicas de área, cujo desenvolvimento deve ser promovido ao longo dessa etapa, tanto no âmbito da BNCC como dos itinerários formativos das diferentes áreas. Essas competências explicitam como as competências gerais da Educação Básica se expressam nas áreas. Elas estão articuladas às competências específicas de área para o Ensino Fundamental, com as adequações necessárias ao atendimento das especificidades de formação dos estudantes do Ensino Médio. 163 Para assegurar o desenvolvimento das competências específicas de área, a cada uma delas é relacionado um conjunto de habilidades, que representa as aprendizagens essenciais a serem garantidas no âmbito da BNCC a todos os estudantes do Ensino Médio. Elas são descritas de acordo com a mesma estrutura adotada no Ensino Fundamental. As áreas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Biologia, Física e Química), Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) e Matemática e suas Tecnologias (Matemática) seguem uma mesma estrutura: definição de competências específicas de área e habilidades que lhes correspondem. Na área de Linguagens e suas Tecnologias (Arte, Educação Física, Língua Inglesa e Língua Portuguesa), além da apresentação das competências específicas e suas habilidades, são definidas habilidades para Língua Portuguesa (BRASIL, 2020). Com a perspectiva de um imenso contingente de adolescentes, jovens e adultos que se diferenciam por condições de existência e perspectivas de futuro desiguais, é que o Ensino Médio deve trabalhar. Está em jogo a recriação da escola que, embora não possa por si só resolver as desigualdades sociais, pode ampliar as condições de inclusão social, ao possibilitar o acesso à ciência, à tecnologia, à cultura e ao trabalho. Para responder a essa necessidade de recriação da escola, mostra-se imprescindível reconhecer que as rápidas transformações na dinâmica social contemporânea nacional e internacional, em grande parte decorrentes do desenvolvimento tecnológico, atingem diretamente as populações jovens e, portanto, suas demandas de formação. Nesse cenário cada vez mais complexo, dinâmico e fluido, as incertezas relativas às mudanças no mundo do trabalho e nas relações sociais como um todo representam um grande desafio para a formulação de políticas e propostas de organização curriculares para a Educação Básica, em geral, e para o Ensino Médio, em particular (BRASIL, 2020). Na direção de atender às expectativas dos estudantes e às demandas da sociedade contemporânea para a formação no Ensino Médio, a necessidade de não caracterizar o público dessa etapa constituído predominantemente por adolescentes e jovens, como um grupo homogêneo, nem conceber a juventude como mero rito de passagem da infância à maturidade. Ao contrário, defendem ser fundamental reconhecer a juventude como condição sócio-histórico-cultural de uma categoria de sujeitos que necessita ser considerada em suas múltiplas dimensões, com especificidades próprias que não estão restritas às dimensões biológica e etária, mas que se encontram articuladas com uma multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais, produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes Adotar essa noção ampliada e plural de juventudes significa, portanto, entender as culturas juvenis em sua singularidade. Significa não apenas compreendê-las como diversas e dinâmicas, como também reconhecer os jovens como participantes ativos das sociedades nas quais estão inseridos, sociedades essas também tão dinâmicas e diversas (BRASIL, 2020). 164 Considerar que há muitas juventudes implica organizar uma escola que acolha as diversidades, promovendo, de modo intencional e permanente, o respeito à pessoa humana e aos seus direitos. E mais, que garanta aos estudantes seremprotagonistas de seu próprio processo de escolarização, reconhecendo-os como interlocutores legítimos sobre currículo, ensino e aprendizagem. Significa, nesse sentido, assegurar-lhes uma formação que, em sintonia com seus percursos e histórias, permita-lhes definir seu projeto de vida, tanto no que diz respeito ao estudo e ao trabalho como também no que concerne às escolhas de estilos de vida saudáveis, sustentáveis e éticos (BRASIL, 2020). Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e responsáveis, cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e processos que lhes garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o enfrentamento dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a tomada de decisões éticas e fundamentadas. O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que se sintam estimulados a equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais, abrindo-se criativamente para o novo (BRASIL, 2020). Quais seriam as finalidades do Ensino Médio no Mundo Contemporâneo? A dinâmica social contemporânea nacional e internacional, marcada, especialmente, pelas rápidas transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender às necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e à inserção no mundo do trabalho, e responder à diversidade de expectativas dos jovens quanto a sua formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida (BRASIL, 2020, p. 462). Para orientar essa atuação, torna-se imprescindível, a consolidação e o aprofun- damento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o pros- seguimento de estudos; a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; a compreensão dos fundamentos científico-tecno- lógicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. Garantir a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental é essencial nessa etapa final da Educação Básica. Além de possibilitar o prosseguimento dos estudos a todos aqueles que assim o desejarem, o Ensino Médio deve atender às necessidades de formação geral indispensáveis ao exercício da cidadania e construir aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea. 165 De acordo com a BNCC (BRASIL, 2020), para atingir essa finalidade, é necessário, em primeiro lugar, assumir a firme convicção de que todos os estudantes podem aprender e alcançar seus objetivos, independentemente de suas características pessoais, seus percursos e suas histórias. Com base nesse compromisso, a escola que acolhe as juventudes deve: • favorecer a atribuição de sentido às aprendizagens, por sua vinculação aos desafios da realidade e pela explicitação dos contextos de produção e circulação dos conhecimentos; • garantir o protagonismo dos estudantes em sua aprendizagem e o desenvolvimento de suas capacidades de abstração, reflexão, interpretação, proposição e ação, essenciais à sua autonomia pessoal, profissional, intelectual e política; • valorizar os papéis sociais desempenhados pelos jovens, para além de sua condição de estudante, e qualificar os processos de construção de sua(s) identidade(s) e de seu projeto de vida; • assegurar tempos e espaços para que os estudantes reflitam sobre suas experiências e aprendizagens individuais e interpessoais, de modo a valorizarem o conhecimento, confiarem em sua capacidade de aprender, e identificarem e utilizarem estratégias mais eficientes a seu aprendizado; • promover a aprendizagem colaborativa, desenvolvendo nos estudantes a capacidade de trabalhar em equipe e aprender com seus pares; e • estimular atitudes cooperativas e propositivas para o enfrentamento dos desafios da comunidade, do mundo do trabalho e da sociedade em geral, alicerçadas no conhecimento e na inovação. Essas experiências, como apontado pela BNCC (BRASIL, 2020), favorecem a preparação básica para o trabalho e a cidadania, o que não significa a profissionalização precoce ou precária dos jovens ou o atendimento das necessidades imediatas do mercado de trabalho. Ao contrário, supõe o desenvolvimento de competências que possibilitem aos estudantes inserir-se de forma ativa, crítica, criativa e responsável em um mundo do trabalho cada vez mais complexo e imprevisível, criando possibilidades para viabilizar seu projeto de vida e continuar aprendendo, de modo a serem capazes de se adaptar com flexibilidade às novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores. Para tanto, a escola que acolhe as juventudes precisa se estruturar de maneira a: • garantir a contextualização dos conhecimentos, articulando as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura; • viabilizar o acesso dos estudantes às bases científicas e tecnológicas dos processos de produção do mundo contemporâneo, relacionando teoria e prática – ou o conhecimento teórico à resolução de problemas da realidade social, cultural ou natural; • revelar os contextos nos quais as diferentes formas de produção e de trabalho ocorrem, sua constante modificação e atualização nas sociedades contemporâneas e, em especial, no Brasil; 166 • proporcionar uma cultura favorável ao desenvolvimento de atitudes, capacidades e valores que promovam o empreendedorismo (criatividade, inovação, organização, planejamento, responsabilidade, liderança, colaboração, visão de futuro, assunção de riscos, resiliência e curiosidade científica, entre outros), entendido como competência essencial ao desenvolvimento pessoal, à cidadania ativa, à inclusão social e à empregabilidade; e • prever o suporte aos jovens para que reconheçam suas potencialidades e vocações, identifiquem perspectivas e possibilidades, construam aspirações e metas de formação e inserção profissional presentes e/ou futuras, e desenvolvam uma postura empreendedora, ética e responsável para transitar no mundo do trabalho e na sociedade em geral. Nessa mesma direção, conforme a BNCC (BRASIL, 2020), é também finalidade do Ensino Médio o aprimoramento do educando como pessoa humana, considerando sua formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. Tendo em vista a construção de uma sociedade mais justa, ética, democrática, inclusiva, sustentável e solidária, a escola que acolhe as juventudes deve ser um espaço que permita aos estudantes: • conhecer-se e lidar melhor com seu corpo, seus sentimentos, suas emoções e suas relações interpessoais, fazendo-se respeitar e respeitando os demais; • compreender que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, igualmente valiosas, e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história; • promover o diálogo, o entendimento e a solução não violenta de conflitos, possibilitando a manifestação de opiniões e pontos de vista diferentes, divergentes ou opostos; • combater estereótipos, discriminações de qualquer natureza e violações de direitos de pessoas ou grupos sociais, favorecendo o convívio com a diferença; • valorizar sua participação política e social e a dos outros, respeitando as liberdades civis garantidas no estado democráticode direito; e • construir projetos pessoais e coletivos baseados na liberdade, na justiça social, na solidariedade, na cooperação e na sustentabilidade. Subjacente a todas essas finalidades, o Ensino Médio deve garantir aos estudantes a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática. Para tanto, a escola que acolhe as juventudes, por meio da articulação entre diferentes áreas do conhecimento, deve possibilitar aos estudantes, de acordo com a BNCC (BRASIL, 2020): • compreender e utilizar os conceitos e teorias que compõem a base do conhecimento científico-tecnológico, bem como os procedimentos metodológicos e suas lógicas; • conscientizar-se quanto à necessidade de continuar aprendendo e aprimorando seus conhecimentos; 167 • apropriar-se das linguagens científicas e utilizá-las na comunicação e na disseminação desses conhecimentos; e • apropriar-se das linguagens das tecnologias digitais e tornar-se fluente em sua utilização. Para atender a todas essas demandas de formação no Ensino Médio, mostra- se imperativo repensar a organização curricular vigente para essa etapa da Educação Básica, que apresenta excesso de componentes curriculares e abordagens pedagógicas distantes das culturas juvenis, do mundo do trabalho e das dinâmicas e questões sociais contemporâneas. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber, BNCC (BRASIL 2020). I – linguagens e suas tecnologias; II – matemática e suas tecnologias; III – ciências da natureza e suas tecnologias; IV – ciências humanas e sociais aplicadas; V – formação técnica e profissional. Essa nova estrutura do Ensino Médio, além de ratificar a organização por áreas do conhecimento sem desconsiderar, mas também sem fazer referência direta a todos os componentes que compunham o currículo dessa etapa, prevê a oferta de variados itinerários formativos, seja para o aprofundamento acadêmico em uma ou mais áreas do conhecimento, seja para a formação técnica e profissional. Essa estrutura adota a flexibilidade como princípio de organização curricular, o que permite a construção de currículos e propostas pedagógicas que atendam mais adequadamente às especificidades locais e à multiplicidade de interesses dos estudantes, estimulando o exercício do protagonismo juvenil e fortalecendo o desenvolvimento de seus projetos de vida. FIGURA 4 – A BNCC DO ENSINO MÉDIO 168 FONTE: Brasil (2020, p. 438) 4.1 ITINERÁRIOS FORMATIVOS Os itinerários formativos são o conjunto de disciplinas, projetos, oficinas, núcleos de estudo, entre outras situações de trabalho, que os estudantes poderão escolher no ensino médio. Os itinerários formativos podem se aprofundar nos conhecimentos de uma área do conhecimento (Matemáticas e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) e da formação técnica e profissional (FTP) ou mesmo nos conhecimentos de duas ou mais áreas e da FTP. As redes de ensino terão autonomia para definir quais os itinerários formativos irão ofertar, considerando um processo que envolva a participação de toda a comunidade escolar. Acompanhe o quadro demonstrativo referente aos Itinerários formativos: FIGURA 5 – ITINERÁRIO FORMATIVO FONTE: Brasil (2020, p 439) 169 A oferta de diferentes itinerários formativos pelas escolas deve considerar a realidade local, os anseios da comunidade escolar e os recursos físicos, materiais e humanos das redes e instituições escolares de forma a propiciar aos estudantes possibilidades efetivas para construir e desenvolver seus projetos de vida e se integrar de forma consciente e autônoma na vida cidadã e no mundo do trabalho. Para tanto, os itinerários devem garantir a apropriação de procedimentos cognitivos e o uso de metodologias que favoreçam o protagonismo juvenil (BRASIL, 2020). FIGURA 6 – CONCEPÇÃO DE ITINERÁRIOS FONTE: Brasil (2020, 440) A BNCC (BRASIL, 2020) da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas integrada por Filosofia, Geografia, História e Sociologia propõe a ampliação e o aprofundamento das aprendizagens essenciais desenvolvidas no Ensino Fundamental, sempre orientada para uma formação ética. Tal compromisso educativo tem como base as ideias de justiça, solidariedade, autonomia, liberdade de pensamento e de escolha, ou seja, a compreensão e o reconhecimento das diferenças, o respeito aos direitos humanos e à interculturalidade, e o combate aos preconceitos de qualquer natureza. No Ensino Fundamental, a BNCC (BRASIL, 2020) se concentra nos processos de tomada de consciência do Eu, do Outro e do Nós, das diferenças em relação ao Outro e das diversas formas de organização da família e da sociedade em diferentes espaços e épocas históricas. Para tanto, prevê que os estudantes explorem conhecimentos 170 próprios da Geografia e da História: temporalidade, espacialidade, ambiente e diversidade (de raça, religião, tradições étnicas etc.), modos de organização da sociedade e relações de produção, trabalho e poder, sem deixar de lado o processo de transformação de cada indivíduo, da escola, da comunidade e do mundo. A exploração dessas questões sob uma perspectiva mais complexa torna- se possível no Ensino Médio dada a maior capacidade cognitiva dos jovens, que lhes permite ampliar seu repertório conceitual e sua capacidade de articular informações e conhecimentos. O desenvolvimento das capacidades de observação, memória e abstração permite percepções mais acuradas da realidade e raciocínios mais complexos – com base em um número maior de variáveis, além de um domínio maior sobre diferentes linguagens, o que favorece os processos de simbolização e de abstração (BRASIL, 2020). Portanto, no Ensino Médio, a BNCC (2020) da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas propõe que os estudantes desenvolvam a capacidade de estabelecer diálogos entre indivíduos, grupos sociais e cidadãos de diversas nacionalidades, saberes e culturas distintas, elemento essencial para a aceitação da alteridade e a adoção de uma conduta ética em sociedade. Para tanto, define habilidades relativas ao domínio de conceitos e metodologias próprios dessa área. As operações de identificação, seleção, organização, comparação, análise, interpretação e compreensão de um dado objeto de conhecimento são procedimentos responsáveis pela construção e desconstrução dos significados do que foi selecionado, organizado e conceituado por um determinado sujeito ou grupo social, inserido em um tempo, um lugar e uma circunstância específicos. Nessa direção, a BNCC (BRASIL, 2020) da área de Ciências Humanas prevê que, no Ensino Médio, sejam enfatizadas as aprendizagens dos estudantes relativas ao desafio de dialogar com o Outro e com as novas tecnologias. Considerando que as novas tecnologias exercem influência, às vezes negativa, outras vezes positiva, no conjunto das relações sociais, é necessário assegurar aos estudantes a análise e o uso consciente e crítico dessas tecnologias, observando seus objetivos circunstanciais e suas finalidades a médio e longo prazos, explorando suas potencialidades e evidenciando seus limites na configuração do mundo contemporâneo. Tempo e Espaço explicam os fenômenos nas Ciências Humanas porque permitem identificar contextos, sendo categorias difíceis de se dissociar. No Ensino Médio, a análise de acontecimentos ocorridos em circunstâncias variadas torna possível compará-los, observar suas semelhanças e diferenças, assim como compreender processos marcados pela continuidade, por mudanças e por rupturas (BRASIL, 2020). Definir o que seria o tempo é um desafio sobre o qual se debruçaram e se debruçam grandes pensadores de diversas áreas do conhecimento.O tempo é matéria de reflexão na Filosofia, na Física, na Matemática, na Biologia, na História, na Sociologia e em outras áreas do saber. Na História, o tempo assume significados e importância variados. O fundamental é compreender que não existe uma única noção de tempo e 171 que ele não é nem homogêneo nem linear, ou seja, ele expressa diferentes significados. Assim, no Ensino Médio, os estudantes precisam desenvolver noções de tempo que ultrapassem a dimensão cronológica, ganhando diferentes dimensões, tanto simbólicas como abstratas, destacando as noções de tempo em diferentes sociedades. Na história, o acontecimento, quando narrado, permite-nos ver nele tanto o tempo transcorrido como o tempo constituído na narrativa sobre o narrado (BRASIL, 2020). A compreensão do espaço deve contemplar suas dimensões histórica e cultural, ultrapassando suas representações cartográficas. Espaço está associado aos arranjos dos objetos de diversas naturezas e, também, às movimentações de diferentes grupos, povos e sociedades, nas quais ocorrem eventos, disputas, conflitos, ocupações (ordenadas ou desordenadas) ou dominações. No espaço (em um lugar) se dá a produção, a distribuição e o consumo de mercadorias. Nele são realizados fluxos de diversas naturezas (pessoas e objetos) e são desenvolvidas relações de trabalho, com ritmos e velocidades variados (BRASIL, 2020). Território e Fronteira, por sua vez, são categorias cuja utilização, na área de Ciências Humanas, é bastante ampla. Território é uma categoria usualmente associada a uma porção da superfície terrestre sob domínio de um grupo e suporte para nações, estados, países. É dele que provêm alimento, segurança, identidade e refúgio. Engloba as noções de lugar, região, fronteira e, especialmente, os limites políticos e administrativos de cidades, estados e países, sendo, portanto, esquemas abstratos de organização da realidade. Associa-se território também à ideia de poder, jurisdição, administração e soberania, dimensões que expressam a diversidade das relações sociais e permitem juízos analíticos. Fronteira também é uma categoria construída historicamente. Ao expressar uma cultura, povos definem fronteiras, formas de organização social e, por vezes, áreas de confronto com outros grupos. A conformação dos impérios coloniais, a formação dos Estados Nacionais e os processos de globalização problematizam a discussão sobre limites culturais e fronteiras nacionais. Os limites, por exemplo, entre civilização e barbárie geraram, não raro, a destruição daqueles indivíduos considerados bárbaros. Temos aí uma fronteira sangrenta. Povos com culturas e saberes distintos em muitos casos foram separados ou reagrupados de forma a resolver ou agravar conflitos, facilitar ou dificultar deslocamentos humanos, favorecer ou impedir a integração territorial de populações com identidades semelhantes (BRASIL, 2020). Para além das marcações tradicionais do território, as cidades são repletas de territorialidades marcadas por fronteiras econômicas, sociais e culturais. As músicas, as festas e o lazer podem aproximar, mas podem também separar, criar grupos com culturas específicas ou circuitos culturais ou de poder. As fronteiras culturais são porosas, móveis e nem sempre circunscritas a um território específico. Também há fronteiras de saberes, que envolvem, entre outros elementos, conhecimentos e práticas de diferentes sociedades. Caçar ou pescar, por exemplo, são atividades que demandam 172 habilidades nem sempre conhecidas e desenvolvidas por populações das grandes cidades. Plantar e colher exigem competências e habilidades experimentadas no dia a dia por populações dedicadas ao trabalho agrícola, desenhando fronteiras, frutos de diversas formas de produção, usos do solo e transformação na natureza (BRASIL, 2020). Assim, no Ensino Médio, o estudo dessas categorias deve possibilitar aos estudantes compreender os processos identitários marcados por territorialidades e fronteiras em históricas disputas de diversas naturezas, mobilizar a curiosidade investigativa sobre o seu lugar no mundo, possibilitando a sua transformação e a do lugar em que vivem, enunciar aproximações e reconhecer diferenças. Todavia, os humanos têm, também, necessidades relacionadas à sua subsistência. Nesse sentido, exercem atividades que implicam relações com a natureza, agindo sobre ela de maneira deliberada e consciente, transformando-a. Esse processo contribui para que o indivíduo se constitua como ser social. A sociedade, da qual faz parte o indivíduo, consiste em um grupo humano, ocupante de um território, com uma forma de organização baseada em tradições, práticas, hábitos, costumes, modos de ser e valores, responsáveis por sua especificidade cultural. Na construção de sua vida em sociedade, o indivíduo estabelece relações e interações sociais com outros indivíduos, constrói sua percepção de mundo, atribui significados ao mundo ao seu redor, interfere na natureza e a transforma, produz conhecimento e saberes, com base em alguns procedimentos cognitivos próprios, fruto de suas tradições tanto físico-materiais como simbólico-culturais. A forma como diferentes povos e sociedades estruturam e organizam o espaço físico-territorial e suas atividades econômicas permite, por exemplo, reconhecer a influência que esses aspectos exercem sobre os diversos modos como esses grupos estabelecem suas relações com a natureza, incluindo-se os problemas ambientais resultantes dessas interferências. As relações que uma sociedade tem com a natureza também são influenciadas pela importância atribuída a ela em sua cultura, pelos valores sociais como um todo e pela informação e consciência que se tem da importância da natureza para a sustentabilidade do planeta (BRASIL, 2020). As diferenças e semelhanças entre os indivíduos e as sociedades foram sedimentadas ao longo do tempo e em múltiplos espaços e circunstâncias. Procurar identificar essas diferenças e semelhanças tanto em seu grupo social (familiar, escolar, bairro, cidade, país, etnia, religião etc.) quanto em outros povos e sociedades constitui uma aprendizagem a ser garantida aos estudantes na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Para além dessa identificação, o exercício de deslocamento para outros pontos de vista e o reconhecimento de diferentes demandas políticas é central para a formação das juventudes no Ensino Médio, na medida em que ajuda a superar posturas baseadas na reiteração das referências de seu próprio grupo para avaliar os demais (BRASIL, 2020). 173 O entrelaçamento entre questões sociais, culturais e individuais permite aprofundar, no Ensino Médio, a discussão sobre a ética. Para tanto, os estudantes devem dialogar sobre noções básicas como o respeito, a convivência e o bem comum em situações concretas. A ética pressupõe a compreensão da importância dos direitos humanos e de se aderir a eles de forma ativa no cotidiano, a identificação do bem comum e o estímulo ao respeito e ao acolhimento às diferenças entre pessoas e povos, tendo em vista a promoção do convívio social e o respeito universal às pessoas, ao bem público e à coletividade (BRASIL, 2020). As categorias Política e Trabalho também ocupam posição de centralidade nas Ciências Humanas. A vida em sociedade pressupõe ações individuais e coletivas que são mediadas pela política e pelo trabalho. A política é entendida enquanto ação e inserção do indivíduo na pólis, na sociedade e no mundo, incluindo o viver coletivo e a cidadania. As discussões em torno do bem comum e do público, dos regimes políticos e das formas de organização em sociedade, as lógicas de poder estabelecidas em diferentes grupos, a micropolítica, as teorias em torno do Estado e suas estratégias de legitimação e a tecnologia interferindo nas formas de organização da sociedade são alguns dos temas que estimulam a produção de saberes nessa área. No mundo contemporâneo, essas questões observadas tanto em escala local