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A (IM)POSSIBILIDADE DA RESSOCIALIZAÇÃO PERANTE O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

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FACULDADE DE DIREITO SANTO AGOSTINHO – FADISA
Ranielle Rodrigues Fonseca
A (IM)POSSIBILIDADE DA RESSOCIALIZAÇÃO PERANTE O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
Montes Claros/MG
2018
Ranielle Rodrigues Fonseca
A (IM)POSSIBILIDADE DA RESSOCIALIZAÇÃO PERANTE O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
Monografia apresentada Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo Agostinho – FADISA, como requisito para aprovação na disciplina Trabalho de Curso II, e requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. 
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Silva Pimentel Santos
Montes Claros/MG
2018
Ranielle Rodrigues Fonseca
A (IM)POSSIBILIDADE DA RESSOCIALIZAÇÃO PERANTE O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
A Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Direito Santo Agostinho – FADISA, como exigência para aprovação na disciplina Trabalho de Curso II, e requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, foi avaliada por todos os membros da Banca Examinadora e aprovada em sua forma final.
Banca Examinadora
__________________________________________________
Presidente: Prof. Dr. Reinaldo Silva Pimentel Santos
__________________________________________________
Membro: Profª. Msc. Izabela Alves Drumond Fernandes
__________________________________________________
Membro: Prof. William César Rocha
Montes Claros/MG, 14 de junho de 2018
AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente a Deus pela dádiva da vida. A Ele toda a minha gratidão por sua presença constante em minha vida, desde o meu existir.
 Agradeço em especial a Heidy, minha irmã do coração, que me amparou como ninguém neste momento tão árduo e embaraçado para mim. Não tenho palavras para lhe agradecer por toda atenção, dedicação e suporte a mim oferecidos; como diz Clarice Lispector: "Tem gente que não é parente, mas se torna família pelo valor e força que nos dá.". Você sem dúvidas é muito mais que família, esta acima de quaisquer pessoas cujas quais são do meu sangue e considero parentes. Deixo aqui o meu sincero obrigada, sua amizade é sem igual. 
Ao Prof. Dr. Reinaldo Silva Pimentel Santos, agradeço por toda atenção e prestadio a mim direcionados. Ressalto que, ainda que tenha tido a sua ilustre orientação tão somente nos últimos momentos, afirmo que fora a mais aproveitada e satisfatória. A sua forma de transmitir conhecimento, a sua docência e profissionalismo são incomparáveis, visto que, sua sabedoria consegue alcançar a todos, sem exceções, e enriquecer a bagagem acadêmica de forma exemplar.
Ao meu companheiro, João Vitor agradeço por toda paciência, zelo, carinho e apresso. Obrigada por acreditar em mim e, me incentivar dia após dia com gestos e palavras de superação. 
A esta Instituição de Ensino, e a toda sua direção eu deixo uma palavra de agradecimento por todo ambiente prazeroso e recursos disponíveis. 
A todas as pessoas que fizeram parte deste percurso, sintam-se reconhecidos.
RESUMO
O presente estudo monográfico tem por objetivo analisar a possibilidade de ressocialização do apenado perante o sistema prisional brasileiro. Percebe-se que o sistema carcerário é apresentado como uma instituição de controle social destinado a regulamentação da sociedade civil. Nesse sentido, propõe-se a ocorrência de uma crise no citado sistema. Justifica-se a presente pesquisa ante a necessidade de discutir e analisar as condições de ressocialização do apenado em uma perspectiva democrática. A Constituição da República Federativa do Brasil, assim como a legislação infraconstitucional, especialmente a Lei n.°7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal - reconhecem os direitos do preso e buscam a reintegração social do mesmo. Porém, em desacordo com a previsão normativa, os estabelecimentos prisionais brasileiros não apresentam condições para satisfação e observância da lei. Neste diapasão, procura-se compreender os aspectos de ressocialização e reintegração do preso, tendo como realidade o sistema prisional brasileiro. Propõe-se que o desrespeito aos direitos e garantias legais pode ser observado pelas condições degradantes dos presídios do Brasil os quais não atingem o seu objetivo primordial, a ressocialização. O presente estudo foi desenvolvido com emprego do método dedutivo, através da exploração bibliográfica, mediante dados secundários. Concluiu-se que o sistema carcerário não corresponde ao previsto na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e na Lei de Execução Penal. Observa-se uma contradição entre a norma e a sua efetiva aplicação pelos estabelecimentos penais, tendo em vista as situações compreendidas como degradantes em que os presos são submetidos, tais como com superlotação, higiene precária e aumento da violência. Ainda foi possível observar que a ressocialização diante da realidade prisional se torna utópica, vez que não são garantidos aos custodiados direitos básicos e tratamento adequado para reintegra-los ao convívio social.
Palavras- chave: Ressocialização. Sistema Prisional. Lei de Execução Penal.
ABSTRACT 
This study aims to analize the (im) possibility of resocialization before the Brazilian prison system. It is noticed that the prison system is presented as an institution of destined social control the regulation of the civil society. 
In this sense, a crisis is proposed in the mentioned system. This research is justified by the need to discuss and analyze the conditions of resocialization of the victim in a democratic perspective. In this sense, the Constitution of the Federative Republic of Brazil (CRFB / 88), as well as the Law of Penal Execution (LEP), recognize the rights of the prisoner and seek the social reintegration of the prisoner. However, unlike the provisions of the LEP, Brazilian prisons have been unable to satisfy the will of the law. In this context, the objective is to understand the aspects of resocialization and reintegration of the prisoner, having as reality the Brazilian prison system. It is proposed that the disrespect to the rights and legal guarantees can be observed by the degrading conditions of Brazil's prisons which do not reach their primary objective, resocialization. A documentary and bibliographic research was carried out by means of a deductive methodology using secondary data. It was concluded that the prison system does not correspond to that established in the Constitution of the Federative Republic of Brazil of 1988 and the Criminal Enforcement Law. There is a contradiction between the law and its effective application by penal establishments, in view of the degrading situations in which prisoners are living with overcrowding, poor hygiene and especially with the increase of violence. It was still possible to observe that the resocialization before prison reality becomes utopian, since basic rights and adequate treatment are not guaranteed to reintegrate them into the social life.
Keywords: Resocialization. Prision System. Law of Penal Execution
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Art. – Artigo
APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados
CNJ – Conselho Nacional de Justiça 
CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil
DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional
INFOPEN – Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
LEP – Lei de Execução Penal 
STF – Supremo Tribunal Federal
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	8
2 DIREITOS HUMANOS RELACIONADOS AOS PRESOS 	10
2.1 A Constituição da República Federativa do Brasil e os direitos do 
 apenado 	10
2.2 A Dignidade da pessoa humana 	13
2.3 Lei de Execução Penal: caráter humanístico 	17
3 O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO 	21
3.1 Estruturação e Dados 	21
3.2 Inconformidades no Sistema Prisional Brasileiro 	24
3.3 A proposta dos instrumentos normativos e a situação do sistema
 prisional 	27
4 A (IM)POSSIBILIDADE DA RESSOCIALIZAÇÃO	33
4.1 A Reintegração e Ressocialização Social do Detentofrente ao Sistema
 Prisional Brasileiro 	33
4.2 Reincidência 	36
4.3 A (im)possibilidade de ressocialização do apenado 	39
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS	45
REFERÊNCIAS	47
1 INTRODUÇÃO
O objeto do presente estudo visa analisar a (im)possibilidade de ressocialização do apenado perante o sistema prisional brasileiro. Dessa forma, partindo do pressuposto que o completo objetivo da prisão – punir e ressocializar – não vêm sendo alcançado, pretende-se discutir e verificar quais os aspectos têm contribuído para tal falha. 
Percebe-se tratar de temática que está visualmente presente na mídia e em diversos meios de comunicação. Nesse sentido, faz-se necessário verificar qual seria a finalidade relativa a prisão adotada pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB) e legislação infraconstitucional. Não apenas, deve-se discutir qual a presente aplicação que contraria o esperado pela norma, uma vez que as críticas se encontram significativas em decorrência da ineficácia no proposto. 
Abre-se a discussão voltada para a violação sistêmica e estrutural sobre os direitos fundamentais, esses que serão discutidos frente ao sistema prisional brasileiro com indignas, desumanas e cruéis condições que se fazem impositivas aos detentos.
São existentes inúmeras deficiências pelo Estado como gestor penal. Propõe-se que no que tange ao sistema prisional tais deficiências tem interferido na tarefa de reeducar e ressocializar o preso. Neste sentido, este trabalho busca apontar razões que impedem a efetiva ressocialização do condenado e sua reinserção no convívio social após cumprimento da respectiva pena. 
Atualmente, visualiza-se no sistema carcerário brasileiro significativa ineficácia, principalmente, com relação à sua função de ressocialização. Ainda que consagrada pela Constituição da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana no que se refere à pessoa do preso não tem garantia de direitos.
Sabe-se que tal eixo axiológico constitucional, por vezes tratado pela doutrina como princípio, não é respeitado pelo próprio Estado, tal que se apresenta como análise nessa pesquisa diante da situação das penitenciárias brasileiras. Por conseguinte, de acordo com o problema apresentado e uma vez reconhecido o Estado como gestor falho no que se refere à garantia de direitos fundamentais e a ressocialização do preso a presente pesquisa justifica-se para identificar, demostrar, e apresentar as consequências de tais aspectos. 
Neste prisma, faz-se necessário analisar se as prisões no Brasil contribuem para a ressocialização do apenado. Para tanto, busca-se conceituar e compreender os principais aspectos da ressocialização e reintegração do preso.
Com o intuito de alcançar uma abordagem significativa do estudo em questão. A referida pesquisa bibliográfica será qualitativa, desenvolvida através do método de abordagem hipotético-dedutivo, correspondendo à extração discursiva do conhecimento a partir de premissas gerais aplicáveis a hipóteses concretas, a fim de analisar as consequências que o sistema prisional brasileiro traz perante a sociedade, especialmente aos detentos, pois o objetivo é partir de ideias gerais para alcançar uma conclusão particular.
Por conseguinte, a primeira parte deste estudo, tendo em vista a importância de garantir os direitos fundamentais a toda pessoa, optou-se por descrever a relação da constituição e os direitos do apenado. Disserta-se também a respeito da Lei n.°7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal (LEP) e os direitos específicos do preso.
O segundo capítulo dedica-se integralmente ao sistema penitenciário brasileiro, apresentando suas reais condições através de estruturação de dados e as inconformidades no sistema prisional. Aborda também, aquilo que é proposto pela LEP no que tange aos instrumentos normativos e a situação carcerária.
Por fim, o terceiro capítulo analisará sobre a (im)possibilidade da ressocialização do preso perante o sistema prisional. O estudo ainda demonstrará a relação entre a ressocialização, reintegração e a situação carcerária, observando se o sistema prisional brasileiro possui condições de reintegrar socialmente o preso sem violar seus direitos.
Assim, através dos conceitos e exemplificações realizadas neste estudo, apesar de sucinto, possibilita ao leitor um entendimento quanto aos direitos que o preso possui e que na maioria das vezes são violados, além de poder compreender os principais motivos que tem levado a falência do sistema prisional e consequentemente a impossibilidade de ressocialização do preso.
2 DIREITOS HUMANOS RELACIONADOS AOS PRESOS
A abordagem do capítulo visa discutir as garantias constitucionais asseguradas ao indivíduo preso, visto que toda pessoa ainda que esteja em situação privativa de liberdade, tem a sua disposição, um conjunto de direitos e garantias que visam proteger a dimensão básica da dignidade humana. Com o intuito de impedir que os indivíduos venham a sofrer qualquer tipo de redução legal ou moral que fira seu status de direitos, há que ser demonstrado os direitos elencados na CRFB e na LEP referente à pessoa encarcerada.
2.1 A Constituição da República Federativa do Brasil e os direitos do apenado 
A CRFB, considerada norma máxima e regulamentadora do Estado (superior a outras leis), remete direitos fundamentais a todos os cidadãos, inclusos os indivíduos que se encontram encarcerados, privados de sua liberdade e que ainda assim, são portadores de direitos, dotados de suas garantias constitucionais, outrossim, pelo status de normas hierárquicas, existe uma atenção peculiar. No presente estudo para melhor compreensão é pertinente apresentar o conceito de direitos fundamentais.
Incorporadas à espécie de direitos humanos, cujo quais ao decorrer dos anos se tornaram garantias, encontram-se os direitos fundamentais, estes que segundo Flores (2009) são conceituados como o conjunto de valores éticos, positivados ou não, que visam a proteger e realizar a dimensão básica da dignidade humana, impedindo que os indivíduos sofram qualquer tipo coisificação ou de redução legal ou moral ao seu status como sujeitos de direitos. 
O uso do termo acima se mostra pertinente, uma vez que é nessa dimensão que se encontra o rol de direitos básicos, essenciais e fundamentais que todos os membros de caráter humano devem compartilhar em igualdade de condições, sem a objeção de qualquer natureza. 
De acordo com Tavares, este que em sua obra cita Perez Luño, os direitos humanos são conceituados como:
 
Um conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional. (PEREZ LUÑO apud TAVARES, 2008, p. 461).
Neste seguimento, Piovesan (2006), constata que os direitos humanos “são dotados de universalidade, em razão de possuir extensão universal, pois basta possuir condição de pessoa para ser titular de direitos”. Desta feita, Piosevan (2006, p. 18) afirma que “o ser humano é visto como um ser essencialmente moral com unicidade existencial e dignidade”. 
De acordo com os conceitos abordados, para um melhor entendimento, se faz necessário distinguir as expressões “direitos fundamentais” de “direitos humanos”. Os direitos humanos nas palavras de Canotilho e Moreira (2007, p. 240):
 
Distinguem-se dos direitos fundamentais porque estes são os direitos constitucionalmente positivados e juridicamente garantidos no ordenamento jurídico (interno), enquanto os direitos (humanos) são os direitos de todas as pessoas ou coletividades de pessoas independentemente da sua positivação jurídica nos ordenamentos político-estaduais. Nesta perspectiva Alexandrino (2007, p. 30) declara que os direitos fundamentais retratam a “expressão constitucional que designa as situações jurídicas fundamentais das pessoas reconhecidas […] na Constituição”. 
Entende-se que os direitos humanos são aqueles que relacionam às situações jurídicasderivadas da natureza ou da condição de ser humano e que o Direito internacional admite. 
Com a compreensão de que os direitos fundamentais são reconhecidos e compatíveis a todos no ordenamento jurídico brasileiro, sem distinção, vale ressaltar e elencar os dispositivos disponíveis na CRFB, que versam de sobre os direitos individuais e essenciais do apenado. 
À vista disso, enfatiza a letra da lei disposta pelo Art. 5º da CRFB:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
[...]XLVII - não haverá penas: 
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;
[...]
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial.
[...]
Sublinhando o inciso XLIX acima exposto, ressalta Silva (2000) que ao agredir a integridade física do preso (corpo) consequentemente será agredida a vida, uma vez que a vida se realiza no corpo humano.
Concentrando-se ainda neste entendimento, observa-se que o apenado em qualquer situação que esteja, é conservador de atributos essenciais, como a saúde, conforme descrito em íntegra pelo art.196 ainda da CRFB:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
Os direitos explanados possuem força normativa na CRFB, em que qualquer violação destas normas acimas descritas como direitos fundamentais resulta numa evidente violação da CRFB, visto que são consideradas normas constitucionais e ponto de referência do ordenamento jurídico. 
A CRFB identifica a dignidade da pessoa humana, enumerada em seu art. 1º, III, como fundamento e prevalência no meio dos direitos humanos. Neste sentido ilustra-se:
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
III – a dignidade da pessoa humana;
Diante desse entendimento e de todo o exposto, vale ressaltar que todo e qualquer indivíduo da sociedade é detentor de direitos e garantias aplicáveis frente a sua dignidade de pessoa humana, esta que deve ser remetida a todos, cujo caráter é imprescindível para uma vida digna. Da qual relevância se faz discutível, será demonstrado a fundo o que se entende por dignidade da pessoa humana e como se aplica aos indivíduos ainda que se encontrem exclusos da sociedade. 
2.2 A Dignidade da pessoa humana
Dignidade da pessoa humana, diz respeito a um fundamento constitucional para o ser humano, visando toda e qualquer pessoa como merecedora de respeito, sendo esta um atributo automático para todos. No entendimento de Nunes (2002, p.49): “Então, a dignidade nasce com a pessoa. É-lhe inata. Inerente à sua essência”.
A dignidade da pessoa humana elencada na CRFB visa assegurar os direitos sociais e individuais de todo e qualquer cidadão, regendo que cada pessoa esteja protegida do que minimamente configura desumano e/ou degradante, para viver satisfatoriamente. 
A dignidade humana, de acordo com Reale (2002), foi assumida no âmbito da legislação após a segunda metade do século XX, figurando como fundamento constitucional do Direito e da democracia. Ainda nas palavras do autor, a dignidade humana, também é amparada pela doutrina jurídica majoritária nacional e internacional, que a considera, como valor supremo, fonte ética, valor-fonte dos direitos e garantias fundamentais.
Reitera Sarlet (2011) que a dignidade humana, elencada no art. 1º, III, da CRFB, conforme demonstrado anteriormente, contêm não apenas uma norma. Esta vai além de sua condição de princípio e regra (e valor) fundamental, mas consiste também em norma definidora de garantias de direitos, assim como de deveres fundamentais.
Ademais, nas palavras de Sarmento (2016, p. 305): 
A dignidade da pessoa humana não é propriamente um direito fundamental, mas a fonte de todos os direitos materialmente fundamentais. Os direitos materialmente fundamentais são concretizados da dignidade humana, o que torna possível o uso do critério da especialidade nos casos em que envolvam ofensas a direitos fundamentais específicos e lesões à dignidade humana que decorram de tais afrontas. 
Diante do exposto, nota-se a relevância da dignidade humana como um instrumento fundamental para que o cidadão garanta demais direitos advindos desta, tais como sua honra, respeito e moral.
 Sarlet (2001, p. 60) por sua vez, reafirma e constata a dignidade da pessoa humana como indisponível a todos os homens, considerada qualidade inata: 
Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, nesse sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos.
 Segundo Greco (2011) a preocupação do legislador constitui em atribuir um status normativo a dignidade da pessoa humana, percebendo-a como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito.
À vista disso Bonavides (2003, p. 233), assegura que toda a problemática da legitimidade do poder e do Estado há de passar necessariamente pelo exame do papel normativo da dignidade da pessoa humana. "Se houver reconhecidamente um princípio supremo no trono da hierarquia das normas, esse princípio não deve ser outro senão aquele em que todos os ângulos éticos da personalidade se acham consubstanciados". 
Nesse entendimento, Silva (1998, p. 92) corrobora com este assunto sustentando:
Poderíamos até dizer que a eminência da dignidade da pessoa humana é tal que é dotada ao mesmo tempo da natureza de valor supremo, princípio constitucional fundamental e geral que inspiram a ordem jurídica, mas a verdade é que a Constituição lhe dá mais do que isso, quando a põe como fundamento da República Federativa do Brasil constituída em Estado Democrático de Direito, se é fundamento é porque se constitui num valor supremo, num valor fundante da República, da Federação, do País, da Democracia e do Direito. Portanto, não é apenas um princípio da ordem jurídica, mas o é também da ordem política, social, econômica e cultural. Daí sua natureza de valor supremo, porque está na base de toda a vida nacional.
A dignidade humana de acordo com Moraes (2010) não é criação da ordem constitucional, ainda que seja por ela respeitada e protegida. Desta feita, com a ordem moral e social, é na dignidade humana que a ordem jurídica tem apoio, em que a pessoa humana é que se torna o centro protetor do direito. 
Nas palavras de Bello Filho (2007), a dignidade da pessoa humana é um valor moral que ao ser positivado transforma-se em norma de direito positivo. Ao ser incorporado à ordem positiva, deixa de se tratar de uma declaração ética ou moral,passando a configurar-se em norma jurídica que gera efeitos como quaisquer outras normas do ordenamento jurídico-constitucional. A sua positividade transforma o seu conteúdo fazendo-o estender-se do campo da moral para o terreno do direito.
Vilhena (2006) sustenta este entendimento ao dizer que de qualquer modo, a dignidade da pessoa humana é multidimensional, podendo ser associada a um amplo espectro de condições inerentes à existência humana, tais como a própria vida, a integridade física e psíquica, a plenitude moral, a liberdade, as condições materiais de bem-estar etc.
Assegura Baez (2015) que a dignidade da pessoa humana não pode ser objeto de renúncia ou de transação por parte de seu titular, sobrepondo-se à autonomia da vontade, para evitar qualquer forma de subjugação ou degradação da pessoa humana.
Diante a importância do exposto, Sarlet (2015, p. 99) aborda que a dignidade humana vem sendo violada no contexto social: 
Cada vez mais a dignidade de certos seres humanos é violada, exposta e desprotegida, seja pelo aumento assustador da violência contra a pessoa, seja pela carência social, econômica e cultural ou pelo crescente comprometimento das condições existenciais mínimas para uma vida com dignidade e, destarte, de uma existência com sabor de humanidade.
 
Percebe-se que ainda que os direitos humanos sejam assegurados a toda e qualquer pessoa, e existam leis para dirimir sobre cada um existente, é cabível análise se no país há o cumprimento efetivo do disposto nelas.
Neste mesmo contexto, faz-se indispensável e apropriado uma explanação e compreensão no que tange a aplicabilidade da dignidade humana frente ao cidadão encarcerado, e sua respectiva efetuação. 
Cabe ao Estado proporcionar de forma adequada, condições dignas e humanas ao apenado para cumprir sua pena em um local que respeite as suas garantias como ser humano. Dessa premissa, surge a necessidade da estreita relação da dignidade da pessoa humana no sistema penitenciário brasileiro junto a todos os direitos dos apenados, vez que mesmo detido em estabelecimento civil ou militar, ou seja, privado de sua liberdade, o preso não perde vários outros direitos que são necessários para a sua integridade física, moral, social, bem como sua condição como pessoa. 
Em concordância com o explanado, Sarlet (2007, p. 217) ratifica a garantia da dignidade independente do estado em que se encontra remetida na sociedade:
A dignidade da pessoa humana é atribuída às pessoas, independentemente de suas circunstâncias concretas ou dos danos que eventualmente tenham causado à realidade externa, isto é, ela é também reconhecida aos mais cruéis criminosos, terroristas, ou a qualquer outra denominação que se queira atribuir aos indivíduos que violam os direitos dos seus semelhantes, pois eles são reconhecidos como pessoas e seus atos, por mais tenebrosos que sejam não são capazes de apagar esse traço inato.
Baseando-se nos estudos de Greco e reafirmando todo o exposto (2011, p. 306) a dignidade humana:
É entendida como uma qualidade que integra a própria condição humana, sendo, em muitas situações, considerada, ainda, irrenunciável e inalienável. É algo inerente ao ser humano, um valor que não pode ser suprimido, em virtude da sua própria natureza. Até o mais vil, o homem mais detestável, o criminoso mais frio e cruel é portador desse valor. 
Desse modo, percebe-se que a dignidade humana é um direito inquestionável que deve ser respeitado tanto pela coletividade quanto pelo Estado. Assim, mesmo que esteja privado de sua liberdade o preso sofrerá limitações, mas não poderá perder o seu valor humano. 
Sobre esse aspecto, conforme apresentado por Greco (2011, p. 320) ressalta-se que: 
Nunca devemos esquecer que os presos ainda são seres humanos e, nos países em que não é possível a aplicação das penas de morte e perpétua, em pouco ou em muito tempo, estarão de volta à sociedade. Assim, podemos contribuir para que voltem melhores ou piores. É nosso dever, portanto, minimizar o estigma carcerário, valorizando o ser humano que, embora tenha errado, continua a pertencer ao corpo social.
Integrando a este raciocínio Dworkin (2003) defende que, no caso dos presos, os motivos que os levaram ao encarceramento compulsório, ainda que reprováveis, não permite que eles possam ser tratados como meros objetos. 
Isto porque, mesmo diante de uma conduta reprovável, o tratamento dado ao apenado precisar estar em conformidade com a dignidade humana. Prado (2006, p. 277) respalda com este assunto ao definir “em um Estado Democrático de Direito, veda-se a criação, a aplicação ou a execução da pena bem como de qualquer outra medida que atentar contra a dignidade humana”. 
Neste prisma, é cabível a compreensão de que o respeito à dignidade da pessoa humana deve ultrapassar as classes sociais, atendendo, portanto, a todos. 
Desta forma, o presente estudo apresentará em sequência um recorte da LEP no que discorre as garantias e direitos previstos aos encarcerados, observando a aplicação da lei não apenas no seu sentido punitivo, mas com a finalidade de prevenção e principalmente de ressocialização do condenado.
2.3 Lei de Execução Penal: caráter humanístico 
O presente tópico será denotado com o intuito de compreender as garantias elencadas frente ao apenado, uma vez que o caráter da LEP compatibiliza com o mandamento constitucional e remete em propiciar as condições adequadas e harmônicas no tratamento daqueles que se encontram restritos de liberdade. Nas palavras de Roig (2005, p. 138) a LEP segue regulamentando e disciplinando o sistema prisional brasileiro particularmente a: “ressocialização do condenado como objetivo anunciado da pena, reincorporando a noção de periculosidade do agente e primando pela ideia de "tratamento do delinquente".”.
Em favor de oferecer as melhores condições no que importa a integração social do apenado, a LEP em seu artigo 1º dispõe: Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.
Nas palavras de Schmidt (2007, p. 209), acerca dos objetivos da LEP:
Resta evidente, portanto, a opção do nosso legislador, no sentido de que a sanção penal fixada na sentença condenatória será cumprida com uma finalidade específica, qual seja, a de proporcionar a harmônica integração social do condenado e do internado [...]. Nesse sentido, é notório fundamento pedagógico adotado pelo legislador penal no que se refere à pretensão executória, característica esta notada em inúmeras outras incidentes da execução da pena.
Portanto, como ressalta Schmidt (2007) o principal objetivo da LEP é proporcionar meios adequados para que o condenado ao deixar o cárcere consiga alcançar a finalidade de retornar a sociedade com condições e meios de integrar novamente a esta, como qualquer outro cidadão.
Sob a perspectiva de Mirabete (2002) preceituado pelo artigo 40 da LEP, é imposto a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e demais presos. Cabe ressaltar que os direitos humanos fundamentais do homem, tais como: saúde, integridade física e moral, dignidade humana, dentre vários outros que vislumbram destes, devem ser protegidos para dar suporte aos demais. Acrescenta-se às palavras de Mirabete (2002, p. 116) diante do supracitado:
Em virtude dessa declaração, que tem caráter constitucional, pois que prevista no art. 5º, XLIX, da Carta Magna, estão proibidos os maus-tratos e castigos que, por sua crueldade ou conteúdo desumano, degradante, vexatório e humilhante, atentam contra a dignidade da pessoa, sua vida, sua integridade física e moral. Ainda que seja difícil desligar esses direitos dos demais, pois dada sua natureza eles se encontram compreendidos entre os restantes, é possível admiti-los isoladamente, estabelecendo, como faz a lei, as condições para que não sejam afetados. Em todas as dependências penitenciárias, e em todos os momentos e situações, devem ser satisfeitas as necessidades de higienee segurança de ordem material, bem como as relativas ao tratamento digno da pessoa humana que é o preso. 
Na LEP, conforme disposto em seu artigo 41, retrata os direitos previstos aos presos, fracionando mais uma vez o respeito à integridade física e moral do apenado, conforme demonstrado in verbis:
Art. 41 - Constituem direitos do preso:
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração; 
III - previdência Social; 
IV - constituição de pecúlio; 
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; 
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; 
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; 
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; 
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; 
XI - chamamento nominal; 
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena; 
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento; 
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.
Todos os direitos elencados no artigo 40 e 41 são tidos como os principais objetivos da LEP, sendo estes irrenunciáveis e imprescritíveis, visto que são garantias para as condições que devem ser exigidas para a existência digna e o desenvolvimento dos apenados, devendo a estes serem assegurados para o próprio reingresso na sociedade. 
Neste sentido, Castro (2005) ratifica que o preso enquanto condenado é possuidor de deveres e direitos, conforme já mencionados e reafirma que constituem como direitos dos presos: ter alimentação suficiente e vestuário; proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; assistência à saúde, material, jurídica, educacional, social e religiosa; igualdade de tratamento, salvo quando às exigências da individualização da pena; representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito. 
Castro (2005), ainda, favorece com a afirmativa que dentre os direitos assegurados aos presos, considera-se como um dos mais importantes o disposto no art. 88, da LEP, o qual adverte sobre o aspecto físico da unidade prisional, de maneira que pressuponha vitalidade ao apenado, indicando a salubridade do espaço físico do estabelecimento prisional.
Por este mesmo prisma e com ligação a CRFB, aduz, Schmidt (2007, p. 224):
Primeiramente, no que tange aos direitos do preso, não faz ele jus, apenas às situações arroladas nos incisos do art. 41, senão também a todos os demais direitos individuais e sociais previstos na Constituição Federal, desde que compatíveis com a sua situação de apenado.
Não observando tão somente o art. 41, como mencionado pelo autor, o apenado deve ter como garantia todos os outros direitos assegurados aos demais cidadãos. Ainda que privado da sua liberdade o preso não pode ter limitações no que tange aos seus direitos fundamentais.
Desta feita, há nestes dispositivos a pretensão em alcançar o propósito de proteção aos apenados, estes que por sua vez estão sob responsabilidade do Estado, fazendo com que não seja possível que a dignidade da pessoa humana seja enodoada.
Todos estes fatores são necessários para a recuperação do infrator, como destaca o art. 10 da LEP, na íntegra: “A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno a convivência em sociedade.”
Face o exposto, observa-se a necessidade de ressocialização dos condenados para que após o cumprimento da pena ocorra uma adequada reinserção destes ao convívio social. E como visto pelo art. 10 da LEP, a execução penal busca promover recuperação do condenado desenvolvendo a capacidade e sua responsabilidade individual e social.
3 O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO
O presente capítulo dispõe sobre a crise do sistema prisional brasileiro, que foi originada pelas más condições do sistema punitivo, tendo como escopo do problema as inadequações do sistema prisional, especialmente, à superlotação. Será comprovado em dados à estruturação do sistema prisional e sua correspondência quanto à realidade, observando ainda as más condições frente aos indivíduos encarcerados e a violação dos seus direitos individuais, ressaltando a sua dignidade. Observa-se as condições em que os apenados estão submetidos por parte da deficiência encontrada nos estabelecimentos prisionais. 
Devido às precariedades existentes, ressalta-se o abandono do sistema por parte do poder público, sendo peça de origem desta falência. Adentra-se neste capítulo as principais causas desta falência, com destaque aos principais problemas encontrados, e sua ineficácia frente CRFB, bem como o papel da sociedade e do Estado diante do exposto.
3.1 Estruturação e Dados
Com o intuito de obter uma análise compreensiva, faz-se necessário examinar as condições oferecidas por parte do sistema prisional brasileiro, tornando-se imperioso discorrer sobre os dados referentes a tal sistema. 
A quantidade de estabelecimentos penais, a quantidade de vagas disponíveis e a quantidade de presos no Brasil representam uma dos significativos problemas do sistema carcerário. Nesse sentido, conforme dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no ano 2017 o Brasil contava com 2.632 (dois mil seiscentos e trinta e dois) estabelecimentos prisionais. (BRASIL, 2017)
Reunindo todos os estabelecimentos prisionais do país, tem-se o total de 407.976 (quatrocentos e sete mil e novecentos e setenta e seis) vagas disponíveis para os apenados. No entanto, conforme os dados explicitados pelo CNJ com Tribunais de Justiça tem-se o total de 654.372 (seiscentos e cinquenta e quatro mil trezentos e setenta e dois) presos no Brasil.
Portanto, tem-se o déficit de vagas de 246.396 (duzentos e quarenta e seis mil trezentos e noventa e seis) vagas, ou seja, a quantidade de indivíduos encarcerados está além da quantidade de vagas disponíveis. 
Diante dos dados apresentados, a porcentagem de 66% equivale a 431.885 (quatrocentos e trinta e um mil e oitocentos e oitenta e cinco), sendo estes presos condenados e 34% a porcentagem referente a 222.486 (duzentos e vinte e dois mil e quatrocentos e oitenta e seis) são presos provisórios. 
Tal estatística apresentada revela o excesso de presos que ainda não tiveram a sentença transitada em julgado, mas que se encontram dentro dos estabelecimentos penais revelando um dos problemas do sistema penal brasileiro: a quantidade exacerbada de presos provisórios.
De acordo com os dados divulgados pelo CNJ, no Brasil no ano de 2017, possuía 309.610 (trezentos e nove mil seiscentos e dez) presos em regime fechado, 104.216 (cento e quatro mil e duzentos e dezesseis) presos em regime semiaberto, 9.220 (nove mil duzentos e vinte) presos em regime aberto, 248.539 (duzentos e quarenta e oito mil e quinhentos e trinta e nove) presos provisórios, 4.107 (quatro mil cento e sete) presos em prisão domiciliar, internos em cumprimento de medida de segurança são 3.159 (três mil cento e cinquenta e oito) internos. Assim, um excesso de indivíduos presos em regime fechado é expresso através dos dados. 
Não apenas torna-se imperioso discorrer sobre as principais características dos presos.
No que tange a idade dos indivíduos, conforme dados publicados pelo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN) tem-se que 30,12% possuem entre dezoito e vinte e quatro anos, 24,96% possuem de vinte e cinco a vinte e nove anos, 18,9% possuem de trintaa trinta e quatro anos e 26% possuem trinta e cinco anos ou mais. Portanto, o panorama nacional revela que em porcentagem a presença de jovens nos presídios é intensa e predominante.
Outro aspecto de importância versa sobre a cor/etnia. Conforme os dados divulgados pelo INFOPEN, cerca de 61,67% dos presos são negros, pretos ou pardos, 37,22% são brancos, 0,65% são amarelos e 0,13% são indígenas. Portanto, a quantidade de negros, pretos ou pardos é predominante. 
No que diz respeito ao nível de escolaridade a população prisional apresenta um menor grau. O INFOPEN aponta que 24,92% dos presos possuem ensino médio incompleto até acima de superior completo, já 75,08% apresentam até o ensino fundamental completo. Portanto, ante o exposto é observado que o grau de escolaridade da população prisional brasileira é extremamente baixo.
No que diz respeito à quantidade de homens e mulheres nos estabelecimentos prisionais, tem-se que as mulheres representam 5,8% da população carcerária e os homens, 94,2%. Observa-se que os principais motivos das condenações femininas são crimes relacionados ao tráfico de drogas e associação ao tráfico com 64%; roubo com 10%; furto 9% e homicídio 6%.
De acordo com o relatório do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), do Ministério da Justiça, os indivíduos que estão hoje encarceradas no Brasil, em geral, apresentam um perfil semelhante: eles cometeram crimes mais visíveis e/ou mais violentos e passaram pelos filtros do sistema de justiça criminal. Assim, os dados divulgados comprovam que 46% estão presos por crime contra o patrimônio, 28% por infringir a Lei de Drogas, 13% crimes contra pessoa, 5% por infringir o Estatuto do Desarmamento, 4% por cometer crimes contra a dignidade sexual, 2% por crimes contra a paz pública e 2% por outros crimes (BRASIL, 2017).
No que tange o tempo total das penas da população prisional condenada, os dados do INFOPEN (BRASIL, 2016) elencam que: 2% possuem pena de até 6 meses, 1% possuem pena de mais de 6 meses até 1 ano, 4% possuem pena de mais de 1 ano até 2 anos, 16% possuem pena de mais de 2 anos até 4 anos, 31% possuem pena de mais de 4 anos até 8 anos, 23% possuem pena de mais de 8 anos até 15 anos, 10% possuem pena de mais de 15 anos até 20 anos, 8% possuem pena de mais de 20 até 30 anos, 4% possuem pena de 30 a 40 anos e 1% possuem pena de mais de 50 anos até 100 anos.
Assim, conforme a estruturação explicitada e os dados elencados identifica-se que o sistema penitenciário brasileiro apresenta inúmeras dificuldades e deficiências evidenciadas no cumprimento das penas de prisão, tais como: a superlotação carcerária (preponderante em todo o sistema, e originadora dos incontáveis problemas), o excesso de jovens apenados, a maioria da população carcerária correspondendo a negros, pretos ou pardos, majoritariamente carecidos de escolaridade, a crescente presença feminina dentro do cárcere, entre outros aspectos. 
Dessa maneira os problemas sociais e estruturais da sociedade carcerária brasileira, comprovados através dos dados dispostos, são resultantes de inconformidades no sistema prisional brasileiro, representando assim reflexos da atual conjuntura social. 
3.2 Inconformidades no Sistema Prisional Brasileiro
Adiante o exposto, há possibilidade em correlacionar os diversos problemas do sistema prisional brasileiro perante a estruturação e dados anteriormente constatados. O tópico em questão destaca fatores como a superlotação, más condições, falta de segurança e a revolta por parte dos indivíduos encarcerados. 
De acordo com o disposto por Silva (2012), o Brasil enfrenta ao longo dos anos uma drástica crise de superlotação carcerária, em que elenca o referido autor que ela seria a mais séria da história. Assim, a superlotação, a precariedade da estrutura, as condições de saúde, associada à disseminação da violência agravam os problemas dos apenados dentro do sistema prisional, gerando tal crise. 
Nas palavras de Dassi (2013) diante da falência do sistema prisional brasileiro:
No panorama brasileiro, o estado desordenado do sistema carcerário constitui-se mais um dos efeitos da falência dos paradigmas da modernidade. A prisão serve tão-somente para deportar do meio social aqueles indivíduos que representam um risco à sociedade. Na perspectiva foucaultiana, constitui-se um instrumento utópico de ressocialização, criado para atender aos interesses capitalistas. Ela exclui do ângulo de  visibilidade as mazelas sociais, mas não recupera o infrator e não contribui para diminuir as práticas criminosas. Estabelecendo um confronto entre as disposições legais e a realidade, observa-se que os requisitos mínimos da boa condição penitenciária, preconizados pela legislação penal brasileira estão longe de serem cumpridos. Para esta constatação, basta um breve olhar sobre as prisões existentes no país.
Contudo, percebe-se através dos dados apresentados e em consonância com o supracitado, que as penitenciárias brasileiras não conseguem prover condições dignas e humanas aos apenados. Isto porque, as penitenciárias se encontram repletas de inconformidades frente aos instrumentos normativos dos quais deveriam seguir, e em confronto se dispõem em péssimas disposições, desordenadas, superlotadas, e sem quaisquer condições de higiene e saúde. 
Sendo assim, constata que o sistema prisional brasileiro com suas graves deficiências estruturais certamente enfrenta o problema da superlotação. Contudo, este problema não deve ser questionado de forma única, visto que tem sido o fato gerador de vários outros que atingem o sistema carcerário.
Percebe-se que as mazelas e a ineficácia do sistema prisional brasileiro associadas à superlotação representam um problema não apenas institucional, mas também estrutural. 
Conforme Relatório de Gestão Supervisão do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas publicado pelo CNJ (BRASIL, 2017) a atual conjuntura do sistema prisional brasileiro é radical. De acordo com os dados de 2017, o sistema prisional possui 401.000 (quatrocentos e um mil) vagas, no entanto são cerca de 670.000 (seiscentos e sessenta mil) presos no Brasil, dentre eles: 296.000 (duzentos e noventa e seis mil) em regime fechado, 243.000 (duzentos e quarenta e três mil) em regime provisório, 105 (cento e cinco mil) em regime semiaberto e 9.000 (nove mil) em regime aberto. 
Os dados disponibilizados pelo CNJ demonstra a decadente situação de superlotação dos estabelecimentos prisionais brasileiros. No que tange o tema Fernandes (2000, p. 163-164) esclarece que:
A capacidade real de uma prisão é difícil de ser objetivamente estimada e como resultado disso, é fácil de ser manipulada. Mas não resta duvida que quase todos os estabelecimentos prisionais brasileiros estão superlotados. Como todos os administradores prisionais sabem, prisões superlotadas são extremamente perigosas: aumentam as tensões elevando a violência entre os presos, tentativas de fuga e ataque aos guardas. Não é surpresa que uma parcela significativa dos incidentes de rebeliões, greves de fome e outras formas de protestos nos estabelecimentos prisionais do país sejam diretamente atribuídos a superlotação.
Percebe-se assim que o problema da superlotação como mencionado pelo autor supra, não deixa de ser degradante e constitui um fenômeno social. No intuito de cumprir o seu papel punitivo, o Estado aloca os detentos em estabelecimentos prisionais. No entanto, não são garantidas condições adequadas e nem dignas para os mesmos. 
Dentre as condições inadequadas em que grande parte dos presos são submetidos, a que se tratar das condições de higiene. Na expressão de Rabelo, Viegas, Resende (2011), os ambientes precários e insalubres dos presídios fazem com que haja proliferação de diversas doenças, que tornam ineficazes quaisquer medidas que seja apenas um paliativo. Não há existência de tratamento médico-hospitalar propício nas penitenciárias, tornando-se necessário a locomoção dos presos para hospitais, dependendo de escolta policial, esta quepode ser demorada, e junto a pendente de disponibilidade de contingente, leva a consequências, advindas da lentidão nos casos, com resultados em que chega a piorar a enfermidade e/ou levar ao óbito. 
A este respeito, Praciano (2007, p. 82) corrobora com o assunto ao relatar que o Estado apenas busca cumprir o papel de punir e:
Para isso não importa quantos criminosos estejam nas prisões e em que condições eles estejam inseridos; não importa se o estabelecimento prisional excedeu a sua capacidade de lotação, muito menos se há limite ao número de excedentes.
Acrescenta-se ao exposto, nas palavras de Tourinho Neto (2009) que a falta de vagas faz com que os presos vivam amontoados em pequenos espaços, vivendo como animais. Levanta-se a necessidade de novos presídios para minorar essa superlotação. 
Ratifica-se o supracitado, pelos estudos de Praciano (2007, p. 83) ao descrever que “as condições da prisão já são precárias, o excessivo contingente carcerário contribui sobremaneira para acentuar as mazelas na vida dos presos, violando direitos mais elementares, como o de dormir”. 
Diante deste contexto Thompson (2000, p. 102), por sua vez, exemplifica: 
[...] em um alojamento onde caberiam cinco camas, com razoável distância entre elas, de sorte a permitir a colocação de um pequeno armário, podem ser acomodados doze presos, desde que se usem beliches e se suprima o móvel; ou vinte e seis, se todo o imobiliário for eliminado e se fizer com que os hóspedes durmam num estrado inteiriço, a cobrir toda a extensão da cela (sistema usado, v.g., no Presídio de água Santa, no rio). Ou se a área pode 58 suportar cinquenta alojamentos, com dez presos em cada um, torna-se viável nela recolher uma população de mil e quinhentas ou duas mil pessoas, se, em vez de dividi-la em compartimentos, a autoridade se limita a cercá-la com arame farpado, deixando que os residentes se amontoem no interior, dormindo no chão puro (como ocorria no antigo Galpão, no Rio hoje Instituto Presídio Evaristo de Morais até 1967). Se o número de guardas, por diminuto pode manobrar, apenas, uma população prisional de cem presos, basta adotar o expediente de manter os internos trancados no cubículo dia e de noite, privados completamente de sol, para habilitar aquela quantidade de funcionários a custodiar mil e quinhentos. Se a verba de alimentação é suficiente para sustentar quinhentos internos, com duas refeições ao dia, pode-se destiná-la ao dobro, se fornece uma única refeição diária.
Não obstante, a superlotação dos presídios retrata a precariedade do sistema prisional brasileiro, com o excesso de lotação se agravando cada vez mais, faz com que a situação seja subumana, ferindo os direitos humanos e garantias constitucionais estabelecidas em lei, de acordo com o art. 5º, inciso XLIX, da CRFB, onde é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral. Segundo Camargo (2006) as condições atuais dos presídios não conseguem garantir o mínimo de dignidade ao apenado que sofre com as celas superlotadas sem condições de dormir, comer ou de conviver de maneira digna. 
Enfatiza-se a assistência à saúde, visto que pelos estabelecimentos se encontrarem superlotados, acaba tornando o ambiente oportuno para as doenças contagiosas e outros fatores mentais, como o transtorno. Considera-se tais situações como degradantes e desumanas. 
Diante do exposto Thompson (2002) compreende que a questão da superlotação decorre de problemáticas relacionadas à questão social, política e econômica. Desta maneira, não se pode analisar o problema da superlotação de forma exclusiva por parte do Estado, pois tal situação envolve toda a sociedade. Desta feita, nas palavras de Dropa (2003, p.5) acaba “contribuindo ainda mais para desenvolver o caráter violento do indivíduo e seu repúdio à sociedade que ele acusa de tê-lo colocado ali”.
Sendo assim, em análise ao mencionado observa-se que o problema da superlotação carcerária junto à precariedade do que essa situação agrava é grave e precisa ser estudado para que planos sejam traçados a fim de realizar um combate efetivo. 
3.3 A proposta dos instrumentos normativos e a situação do sistema prisional
O sistema penitenciário brasileiro, em sua atual estruturação, não atende plenamente os preceitos do fundamento da dignidade da pessoa humana, os dispostos na CRFB e a LEP. Em contrapartida, o que se observa nos estabelecimentos penais são afrontas aos direitos humanos e ausência de políticas públicas eficientes.
Frente às inconformidades apresentadas, nota-se que o descaso e a aplicação do cumprimento da pena são inadequados ao estabelecido, conforme dados apresentados, e dificulta ainda mais o retorno do apenado ao convívio social. 
Para vários sociólogos e filósofos o poder punitivo do Estado deve sofrer alterações para que este consiga alcançar um caráter efetivo de prevenção e não de repressão. 
No mesmo norte, Silva (2004, p. 65) retrata a garantia e a finalidade do Estado diante aos apenados:
O que se deve ter em mira será a conveniência de amparar o cidadão honesto, protegendo-o e assegurando o exercício de seus direitos fundamentais, desde que a sua liberdade de ser e agir não invada a esfera da liberdade de ser e de agir do seu concidadão, ao mesmo tempo em que sancione a conduta criminosa, mas assegurando que a sanção será aplicada nos limites da lei, com o devido respeito à condição humana do condenado o que, infelizmente, não se verifica no Brasil.
Dessa forma, compreende-se a necessidade do sistema prisional em garantir ao apenado condições dignas no cumprimento de sua pena. Não obstante, Ribeiro (2009) contribui com este estudo ao mencionar que o Estado tem apenas garantido a simples manutenção da ordem, deixando a desejar a eficácia quanto aos direitos do indivíduo preso, vez que este se passa por despercebido e, ao retornar do cárcere não é mais visto como cidadão, oriundo do preconceito da sociedade. 
Corroborando com a alegação supracitada, Greco (2011, p. 103) ilustra: 
Veja-se, por exemplo, o que ocorre com o sistema penitenciário brasileiro. Indivíduos que foram condenados ao cumprimento de uma pena privativa de liberdade são afetos, diariamente, em sua dignidade, enfrentando problemas como superlotação carcerária, espancamentos, ausência de programas de reabilitação, falta de cuidados médicos, etc. A ressocialização do egresso é uma tarefa quase impossível, pois não existem programas governamentais para a sua reinserção social, além do fato de a sociedade, hipocritamente, não perdoar aquele que já foi condenado por ter praticado uma infração penal.
No que concerne ao Brasil percebe-se que a ressocialização prevista pela legislação tem sido apenas uma utopia, pois conforme ao destacado pelo Plano Nacional de Segurança, Ministério da Justiça (2005, p.71) vê-se que:
No Estado Democrático de Direito é imprescindível que exista coerência entre legislação e políticas públicas. Fazem parte de nosso cotidiano leis que não são cumpridas e políticas públicas descoladas das leis. Na área do sistema penitenciário, esse descolamento, essa distância entre o que está estabelecido na legislação e o que os presos vivenciam é absolutamente dramática.
Nota-se que os problemas detectados no sistema penitenciário são diversos dos estabelecido pela legislação, confrontando a mesma com a realidade vivenciada por eles.
Conforme o supracitado e perante ao estudo, aduz Assis (2007, p. 76):
Aliados à falta de segurança das prisões e ao ócio dos detentos leva a deflagração de outro grave problema do sistema carcerário brasileiro: as rebeliões e as fugas de presos. As rebeliões nada mais são do que um grito de reivindicação de seus direitos, e uma forma de chamar a atenção das autoridades para a situação subumanas à qual eles são submetidos dentro das prisões.
Frente a este mesmo assunto que vem sendo enfrentado no Sistema Prisional Brasileiro, o Deputado Estadual do Rio de Janeiro (PSOL), em uma entrevista feita por Ramos e Paiva (2007, p.78), onde lhe perguntaram a respeito do mundo da mídia, sobre a formacom que ela transmite as notícias no que tange este assunto, o Deputado respondeu, dizendo: 
O sistema penitenciário é visto como um capítulo menos importante, porque afinal de contas o criminoso já está preso. O que vai acontecer dentro da penitenciária, vai acontecer com "o outro", com aquele com quem eu não tenho muita identidade – "eu não sou um deles". Isso está muito forte na sociedade e está muito forte na imprensa. É claramente uma outra categoria que está ali dentro. Na verdade, o que se nega não é o direito, é a humanidade. Esse discurso, que está cada vez mais forte, é o discurso da guerra. É a guerra contra o tráfico, a guerra contra o crime. 
	
Diante do exposto, fica evidente que ainda é necessária uma maior participação da sociedade no que tange ao aprisionamento do detento. Assim como descrito não há interesse sobre as condições ou a falta delas para com aqueles indivíduos, visto que eles estando presos, não são mais vistos como um problema na sociedade, todavia como delinquentes que estão sendo castigados, e tão pouco importa a forma em que estes se encontram.
Sarlet (2017) acrescenta no que retrata o papel do Estado, junto à sociedade:
Embora seja o Estado o principal responsável pelas políticas de segurança e pela criação e manutenção do sistema prisional (inclusive pela integridade física e psíquica dos detentos), a causa é de toda a sociedade, já que sem tal conscientização e mobilização geral — repise-se — o próprio Estado estará limitado na sua capacidade de ação, pelo menos num Estado Democrático de Direito (a exemplo do projetado e exigido pela Constituição Federal de 1988), onde a vontade e a participação da cidadania são elementos e princípios fundamentais e estruturantes.
A sociedade não busca alcançar um papel passível de solução perante a criminalidade, tão pouco tem ciência das consequências advindas pela falta de medidas coercitivas eficazes. Bitencourt (2012, p. 670) alega que: 
Todos os segmentos sociais devem conscientizar-se de que a criminalidade é um problema de todos e que não será resolvido com o simples lema “Lei e Ordem”, que representa uma política criminal repressiva e defensora intransigente da ordem (geralmente injusta) estabelecida. Os meios de comunicação coletiva exercem um papel importante, posto que apresentam a criminalidade como um “perigoso inimigo” interior. Nessas condições, fica difícil que a opinião pública possa abandonar a atitude predominantemente repressiva e vingativa (além de estigmatizante) que tem a respeito do fenômeno delitivo. É indispensável uma transformação radical da opinião pública e da atitude dos cidadãos em relação ao delinquente se se pretende oportunizar-lhe a possibilidade de ressocializar-se. Se isso não ocorrer, será muito difícil a reincorporação ao sistema social de uma pessoa que sofre grave processo de marginalização e de estigmatização. O fenômeno delitivo tem uma inevitável dimensão social; por essa razão é que a atitude e participação do cidadão é decisiva.
A culpabilidade dessa ineficiência estatal não se atesta apenas do Poder Executivo. Sobre isso ratifica Greco (2015, p. 227):
A culpa por essa ineficiência não deve ser creditada somente ao Poder Executivo, ou seja, aquele Poder encarregado de implementar os recursos necessários ao sistema penitenciário. A corrupção, o desvio de verbas, a má administração dos recursos, enfim, todos esses fatores podem ocorrer se, para tanto, não houver uma efetiva fiscalização por parte dos órgãos competentes.
Atinge o autor no que diz respeito aos órgãos competentes para devida fiscalização, não obstante de forma exclusiva, o Poder Judiciário, a Defensoria Pública e o Ministério Público. 
Nas palavras de Sarlet (2017), uma vez que a questão carcerária não é um assunto atrativo para os eleitores, e, dessa forma, em geral não é cabível de preocupação e ação no cenário político-governamental. Ainda que os índices de reincidência se agravem cada vez mais, posto o que se sabe, colocando os indivíduos nos cárceres não garante a tão pretendida e legalmente assegurada ressocialização, mas de forma inversa a reiteração criminosa e a inserção em alguma das facções criminosas do momento.
Constata Mirabete (2008, p. 89): 
A falência de nosso sistema carcerário tem sido apontada, acertadamente, como uma das maiores mazelas do modelo repressivo brasileiro, que, hipocritamente, envia condenados para penitenciárias, com a apregoada finalidade de reabilitá-lo ao convívio social, mas já sabendo que, ao retornar à sociedade, esse indivíduo estará mais despreparado, desambientado, insensível e, provavelmente, com maior desenvoltura para a prática de outros crimes, até mais violentos em relação ao que o conduziu ao cárcere.
Assimila a crise do sistema e a sua falta de eficiência, junto à falha no que traz consequência a ressocialização do apenado. 
A LEP, em seu artigo 1º, apresentado anteriormente, dispõe que deverá ser propostas aos apenados condições harmônicas e humanas para sua integração social. 
Isso porque, o objetivo principal da lei destacada é, pois, a ressocialização e se cumprida integralmente provavelmente propiciaria a reeducação e ressocialização de vários apenados.
Neste mesmo prisma, cabe destacar que a LEP aborda todos os direitos do preso e como citado anteriormente o que ocorre é a falta de eficácia no cumprimento dessas leis.
Conforme o exposto, Beneti (1996, p. 35) corrobora que:
[...] o preso, mesmo após a condenação, continua titular de todos os direitos que não foram atingidos pelo internamento prisional decorrente da sentença condenatória em que impôs uma pena privativa de liberdade. [...] Por estar privado de liberdade, o preso encontra-se em uma situação especial que condiciona uma limitação dos direitos previstos na Constituição Federal e nas leis, mas isso não quer dizer que perde, além da liberdade, sua condição de pessoa humana e a titularidade dos direitos não atingidos pela condenação.
Todas as assistências garantidas ao detento, conforme apresentadas, são de fundamental necessidade para o seu processo de ressocialização e reintegração na sociedade, mas diante da realidade observada é contraditório com o que dispõe a LEP, por não ser aplicada, por sua vez, sendo errônea. A aplicação da lei é imprecisa, vez que não há o mínimo para efetiva-la, conforme a falta de acompanhamento do Estado.
Assim, assevera Falconi (1998, p. 109) que: 
Vê-se a cruzeta como que o Estado trata seus encarcerados. Se cumprir a parte final da norma jurídica, tudo bem. Afinal nós somos ferrenhos apologistas da laborterapia. O risco está em não se dar ocupação ao preso e, ao final, mata-lo de inanição. Não se pode esquecer, jamais, que vivemos na doente América Latina, onde os detentores do Poder são, em grande parte, vingativos, carrascos e desumanos. Somente lembram os "Direitos Humanos" quando os destinatários são eles próprios. A história está aí, viva e atual.
Nesta perspectiva compreende-se que a LEP tem significativa importância na reintegração do sentenciado, pois possibilita um tratamento voltado para que o detento não permaneça no estabelecimento penal sem nada a produzir. Contudo, vê-se que as condições dos cárceres não são aplicadas com base na lei.
Nesse sentido, Sarmento (2016, p.116) descreve sobre as prisões brasileiras: 
As prisões brasileiras são verdadeiros infernos Dantescos, com celas superlotadas, imundas e insalubres, em que frequentes os episódios mais bárbaros de tortura e violência sexual contra presos, praticados por outros detentos ou agentes do Estado. O déficit prisional existente no momento de finalização desta obra ultrapassa as 230 mil vagas, e não para de crescer. Os presos não têm acesso à justiça, à alimentação adequada, à saúde, à educação e ao trabalho, e a ressocialização não passa de quimera: os detentos normalmente saem do cárcere muito mais perigosos do que entraram. 
Para tanto, segundo Costa (2011) o Estado não investe na solução dos problemas, tal como o da superlotação. Faz-se necessário à construção de outros estabelecimentospara alcançar proporcionalmente a demanda carcerária, sem infringir nas condições de sobrevivência, tão pouco na dignidade humana, visto que acaba impedindo a ressocialização dos condenados com a falta de demandas capazes de solucionar parte do problema. 
O que se observa diante do manifesto é que a LEP é tão benéfica quanto descumprida, ou seja, a lei não se omite na criação de regras, contudo o investimento do Estado é ineficiente e cada vez mais tem deixado o encarcerado conviver em condições subumanas como confirma Marcão (2007, p. 22): 
Diante da pública e notória total falência das instituições prisionais no nosso País, não podem as autoridades responsáveis pelo acompanhamento das execuções penais deixarem [sic] de tomar certas atividades humanitárias em prol dos sentenciados, sob pena de permitirem verdadeiras violações aos mais elementares direitos dos seres humanos.
Neste sentido, nota-se que o Estado enquanto garantidor de direitos tem sido ineficaz, vez que se percebe que o sistema carcerário não tem conseguido atingir sua finalidade que é de ressocializar o preso. Nesse sentido, é notório o descaso enfrentado ao apenado. Percebe-se que o Estado não consegue proteger os indivíduos em liberdade, e tão pouco zelar pela reeducação e ressocialização daqueles que estão sobre a sua vigília.
4 A (IM)POSSIBILIDADE DA RESSOCIALIZAÇÃO 
A CRFB possui como fundamento a dignidade da pessoa humana, tornando-se elemento referencial para aplicação das normas jurídicas penais. Nessa perspectiva as sanções, o estabelecimento prisional, o cumprimento da pena e a ressocialização do apenado à sociedade, devem seguir os preceitos normativos dispostos e assegurados aos apenados. 
O presente capítulo demonstrará o que se entende por reintegração e ressocialização, indicará dados referentes à reincidência dos apenados, de maneira que apresente a ineficácia do sistema prisional advinda das inconformidades existentes. Por fim, faz-se uma análise da realidade carcerária e o resultado alcançado, diante de todos os direitos e garantias já abordados. Conjunto a inconformidade do sistema há que ser analisado se realmente o sistema prisional brasileiro alcança resultados positivos e possíveis para atingir o objetivo de ressocializar o indivíduo encarcerado.
4.1 A Reintegração e Ressocialização Social do Detento frente ao Sistema Prisional Brasileiro
A ressocialização dos indivíduos após o enfrentamento do sistema prisional brasileiro remete a uma abordagem relevante, uma vez que envolve as diversas camadas sociais, não apenas o apenado, mas toda a sociedade. 
Neste prisma Bitencourt (2001, p. 139) dispõe que: “[...] o objetivo da ressocialização é esperar do delinquente o respeito e a aceitação de tais normas com a finalidade de evitar a prática de novos delitos”.
Percebe-se que o objetivo da LEP de reintegrar e ressocializar o apenado e ex-apenado certamente se encontra em defasagem, isto porque conforme apresentado, o sistema prisional encontra-se em situação degradante.
 Ainda que considerada uma legislação moderna, a LEP se depara com inúmeros desafios para aplicar o seu propósito e alcançar a sua finalidade. Disposto pelo art. 1º, conforme já apresentado, o intuito da legislação é de proporcionar condições harmônicas para integração social do condenado, e garantir a dignidade humana emparelhada a todos os direitos dos indivíduos para a reintegração social. A LEP estabelece além de tudo diretrizes para o Estado evitar o crime e preparar o condenado ao retorno do convívio social.
 À frente do que fora discorrido no capítulo antecedente, nota-se que os desafios existentes e pertinentes do sistema prisional brasileiro, dificultam o alcance das condições pretendidas.
Neste sentido, colocando como fim do cumprimento da pena a ressocialização do apenado, Pinzon (2004, p. 293-294) preceitua:
A ressocialização orientada ao delinquente/apenado está prevista em nossa legislação na Lei de Execução Penal (LEP) – Lei 7.210, de 11/7/84 – tanto na sua exposição de motivos, quanto em seu artigo primeiro. Conforme seu artigo primeiro, uma de suas preocupações é “proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”, que denota seu instituto de corrigir e educar o delinquente para resguardar a comunidade, embora não use o vocábulo ressocializar. Nas palavras de Muñoz Conde, “reeducação, reinserção social, levar, no futuro, com responsabilidade social, uma vida sem delitos; em uma palavra: ressocialização do delinquente” são expressões que, quando aparecem nas legislações de execução pena, têm por intuito à execução da pena privativa de liberdade uma função reeducadora e corretora do delinquente, o que nos remete à prevenção especial positiva, e isso ocorre em nossa LEP, segundo dito anteriormente. Logo, a ideologia do tratamento, que tem por escopo a recuperação do delinquente para a sociedade, é uma das finalidades da nossa Lei de Execução Penal.
A LEP discorre quanto á função ressocializadora da pena, mesmo que os estabelecimentos prisionais brasileiros não disponibilizem programas efetivos e eficientes para a concretização de tal processo. 
Sobre o processo de ressocialização, imperioso dispor os ensinamentos Albergaria (1996, p. 134):
A ressocialização é um dos direitos fundamentais do preso e está vinculada a welfare states (estado social do direito), que (...) se empenha por assegurar o bem-estar material a todos os indivíduos para ajuda-los fisicamente, economicamente e socialmente. O delinquente, como individuo em situações difícil e como cidadão, tem direito á sua reincorporação social. Essa concepção tem o mérito de solicitar e exigir a cooperação de todos os especialistas em ciências do homem para uma missão eminentemente humana e que pode contribuir para o bem-estar da humanidade
Portanto, a ressocialização constitui um dos direitos fundamentais do indivíduo. Nesse sentido, Gaya (1993, p. 18) afirma que ressocializar é converter o apenado, na intenção de:
Orientar esforços no sentido de dotar tais pessoas com conhecimentos capazes de estimularem a transformação da sociedade vigente. A finalidade seria reestabelecer ao delinquente o respeito por estas normas básicas, tornando-o capaz de corresponder no futuro ás expectativas nelas contidas, evitando assim, o cometimento de novos crimes, a reincidência, mas deparados com o nosso atual sistema podemos sintetizar uma diminuição do efeito e alcance da finalidade pretendida.
Reiterando ao supracitado, Baratta (1990, p. 2) acorda que:
Não se pode conseguir a reintegração social do sentenciado através do cumprimento da pena, entretanto se deve buscá-la apesar dela; ou seja, tornando menos precárias as condições de vida no cárcere, condições essas que dificultam o alcance dessa reintegração.
De acordo com o pensamento de Baratta (1990), a prisão, do modo como é retratada, é de fato incapaz de promover a ressocialização dos indivíduos encarcerados, pelo contrário, o que ela ocasiona e alcança são empecilhos para atingir este fim. Todavia, posto que tenha esse reconhecimento, o propósito não deve ser desassistido, porém reconstruído e, nesta reconstrução, recomenda a substituição dos termos ressocialização e tratamento pelo de reintegração social.
Para melhor compreensão dos termos citados, Sá (2005) inclui que a oposição aos termos reabilitação e ressocialização se dá pela responsabilidade que a sociedade passa a ter neste sistema. Consoante sua expressão, ainda nas palavras de Sá (2005, p.11) “pela reintegração social, a sociedade (re)inclui aqueles que ela excluiu, através de estratégias nas quais esses excluídos tenham uma participação ativa, isto é, não como meros ‘objetos de assistência’, mas como sujeitos”.
Nesse sentido a premissa maior da ressocialização é preparar o apenado para seu reingresso na sociedade. Após o cumprimento da pena deve ocorrer uma reintegração social do condenado para o desenvolvimento social, concedendo oportunidades, ensinando-lhe atividades profissionais, hábitos pessoais saudáveis, disciplina,ordem e a sua construção ou reconstrução moral.
De acordo com o exposto neste estudo nota-se que apenas o encarceramento não favorece a reintegração social do apenado. O processo de reintegração e ressocialização vão além do encarceramento, tendo como objetivo a humanização. A esse respeito Molina (1998, p. 383) ressalta que:
O modelo ressocializador propugna, portanto, pela neutralização, na medida do possível, dos efeitos nocivos inerentes ao castigo, por meio de uma melhora substancial ao seu regime de cumprimento e de execução e, sobretudo, sugere uma intervenção positiva no condenado que, longe de estigmatizá-lo com uma marca indelével, o habilite para integrar-se e participar da sociedade, de forma digna e ativa, sem traumas, limitações ou condicionamentos especiais.
Observa-se que o encarceramento não representa para o delinquente a oportunidade de reintegração na sociedade, pois os efeitos advindos da prisão têm causado, além disso, mais motivos para que voltem a delinquir.
Sobre esse mesmo aspecto, Bitencourt (2001, p. 24), acrescenta que “a ressocialização não pode ser viabilizada numa instituição carcerária, pois essas se convertem num microcosmo no qual se reproduzem e agravam-se as contradições que existem no sistema social”.
Portanto, nota-se que o ambiente do cárcere desenvolve um processo inverso ao que deveria ser esperado no que tange a ressocialização e reintegração dos apenados.
Dessa forma, o objetivo ressocializador torna-se ineficiente diante da realidade do sistema prisional. Neste mesmo prisma, Baratta (1999, p. 71) ressalta que:
 
Na atualidade o modelo ressocializador demonstrou ser ineficaz, sendo provada a sua falência através de investigações empíricas que identificaram as dificuldades estruturais e os escassos resultados conseguida pelo sistema carcerário, em relação ao objetivo ressocializador.
Portanto, nessa linha de pensamento, a função da prisão de ressocializar o apenado tem sido uma tarefa impossível levando-se em conta as condições atuais do sistema carcerário e que a cada dia os presos de hoje são os mesmos de amanhã, sobrevindo reincidentes ao contrário de recuperados.
4.2 Reincidência 
 Percebe-se que a grande maioria dos presos após cumprirem suas penas e serem liberados do sistema carcerário voltam a cometer novos crimes, e consequentemente retornam as prisões. Tem-se um resultado negativo de acordo com o objetivo do Estado, cujo qual além de não oferecer um ambiente propício para os encarcerados e efetivar as assistências garantidas pela LEP, tão pouco prepara a sociedade para recebê-los ao sair da prisão. 
No que diz respeito ao reincidente, de acordo com Queiroz (2008) só pode ser considerado reincidente aquele que cometer um novo crime após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória que o tenha condenado pelo crime anterior, e o lapso temporal for inferior a cinco anos. 
Com o esclarecimento do julgado do Supremo Tribunal Federal (STF), Amaro (2007, p. 362) exemplifica: 
Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado sentença condenatória de processo anterior, assim o que a conceitua é o cometimento do novo crime e não a existência da segunda sentença condenatória passada em julgado. (STF – RHC 36.201 – Rel. Min. HENRIQUE D’AVILA – J. 24.9.58) (RF 189/272).
Sendo assim, tendo passado os cinco anos e ocorrendo a prática de uma nova infração, o sentenciado é apontado novamente como primário.
Neste prisma, Bitencourt (2007, p. 89), aduz que “as elevadas taxas de reincidência podem não só indicar a influência da prisão, como ainda refletir as transformações dos valores que se produzem na sociedade e na estrutura socioeconômica”.
Com intuito de averiguar as elevadas taxas, como menciona o autor supracitado, nota-se que frente à última pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no ano de 2015, a taxa de reincidência no Brasil aproximava-se de 70%. 
Alega o Ministério de Justiça que é de difícil apuração obter os dados. De acordo com o DEPEN, o número de reincidências é definido pelos presos recolhidos no ano com passagem anterior pelo sistema, ainda que não tenham sido condenados. Sobrestima-se assim a quantidade, uma vez que grande parte informada possa vir a ser presos provisórios, sem condenação. 
Adentrando nos motivos que embasam a reincidência, percebe-se que a prisão não é de forma exclusiva a única responsável pelo caráter e reingresso do apenado. Contudo, todo o conjunto da vida pessoal e social no meio em que viveu e para o qual irá retornar.
Bitencourt (2004, p. 589) corrobora com este pensamento, ao demonstrar que:
De acordo com as observações expostas, é forçoso concluir que as cifras de reincidência têm um valor relativo. O índice de reincidência é um indicador insuficiente, visto que a recaída do delinquente produz-se não só pelo fato de a prisão ter fracassado, mas também por contar com a contribuição de outros fatores pessoais e sociais. 
Incumbe a toda a sociedade perceber tais indivíduos e acolhê-los, visto que não é somente a prisão responsável pelo caráter que venham a adotar na sociedade com o retorno, como todo o seu meio social. A ressocialização para ser efetivada precisa de todos em prol do bem comum, entretanto a sociedade sequer observa a realidade social dos indivíduos com base em seus atos de delinquir.
Nesta perspectiva, Bitencourt (2007, p. 90), afirma que “[...] a reincidência não poderia ser atribuída de forma exclusiva ao fracasso dos métodos penitenciários”. Para ele, as reincidências não são todas comparáveis, pois em alguns casos não passam de fracassos aparentes, constituindo, na verdade, êxitos parciais. Ainda no entendimento do autor a reincidência não é causada meramente pelo sistema prisional e seus pontos internos, outrossim por questões externas, pertencentes ao âmbito político, social, econômico e cultural nos quais o encarcerado vive.	
	 Streck apud Carvalho (2015, p. 5), que apoia e acrescenta no que tange ao assunto: 
A reincidência, além de agravar a pena do (novo) delito, constitui-se em fator obstaculizante de uma série de benefícios legais, tais como a suspensão condicional da pena, o alongamento do prazo para o deferimento da liberdade condicional, a concessão do privilégio do furto de pequeno valor, só para citar alguns. Esse duplo gravame da reincidência é antigarantista, sendo, à evidência, incompatível com o Estado Democrático de Direito, mormente pelo seu componente estigmatizante, que divide os indivíduos em aqueles que aprenderam a conviver em sociedade e aqueles que não aprenderam e insistem em continuar delinquindo. 
Nas palavras de Almeida (2006) o sistema prisional brasileiro não é capaz de ressocializar o detento. Como já demonstrado, reforça o autor que a pretensão acaba entrando em divergência com a realidade, sendo assim, socializando os membros dentro do nexo da reincidência e aperfeiçoando-os de técnicas para realizarem novos crimes. 
Faz-se preciso observar e estruturar um trabalho direcionado para que seja minorado as consequências decorridas das condições degradantes em que os presos são submetidos e ao tratamento que recebem enquanto encarcerados, para que seja possível devolvê-los à sociedade de maneira digna.
Em consonância com este entendimento, Assis (2007, p. 11) afirma que:
A sociedade e as autoridades devem conscientizar-se de que a principal solução para o problema da reincidência passa pela adoção de uma política de apoio ao egresso, fazendo com que seja efetivado o previsto na Lei de Execução Penal, pois a permanecer da forma atual, o egresso desassistido de hoje continuará sendo o criminoso reincidente de amanhã.
A reincidência depende, portanto, da efetivação de todas as assistências e garantias determinadas em lei, bem como dos projetos de acompanhamento para o público egresso.
4.3 A (im)possibilidade de ressocialização do apenado
Conforme demonstrado o sistema prisional brasileiro encontra-se improvidente, logo que fora resultado das inúmeras falhas do Estado.

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