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RESUMO Direitos Humanos(1 ao 8)

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DIREITOS HUMANOS 
 
TEMA 1: O Estado Constitucional de Direito e a Segurança dos Direitos do Homem 
 
O Estado Constitucional de Direito e a Segurança dos Direitos do Homem 
 
Estado de Direito e direitos humanos são dois temas intimamente relacionados. Não há como dissociar a garantia dos direitos humanos fundamentais da 
Constituição Política do Estado, até porque não há como se pensar em direitos humanos se não for no contexto de um Estado de Direito. 
 
Estudar o Estado Constitucional de Direito é o primeiro passo para a compreensão da maneira pela qual se busca impor a segurança dos direitos do homem, 
direcionamento que será dado aos nossos estudos, sempre com base no conteúdo da obra de Ferreira Filho (2012), autor do Livro-Texto desta disciplina. 
 
A reivindicação do Estado de Direito 
Como antecessor do Estado de Direito Contemporâneo, pode-se apontar o Estado Moderno, caracterizado pelo Despotismo, no âmbito do qual prevalecia o 
arbítrio do governante, conhecido como déspota, figura que exercia o poder sem se preocupar em respeitar a lei. 
 
Sinopse: Nicolau Maquiavel, em sua obra “O Príncipe”, que foi talvez o primeiro tratado de teoria política, além de esboçar os princípios do Estado 
Moderno, também foi pioneiro em caracterizar a figura do déspota, apresentando-o como um governante sem ética e inescrupuloso. 
 
O Estado Contemporâneo nasceu justamente com o objetivo de criar um governo com feições opostas ao despótico, isto é, um governo em que os 
detentores do poder atuassem sempre fundamentados na lei. 
 
Essas origens remontam ao Século XIX, primeiro com a insurgência dos colonos ingleses contra o Governo Central, que era conduzido totalmente à margem 
da lei, e em seguida com a consequente Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, em 4 de julho de 1776. 
 
As origens do Estado Contemporâneo estão também associadas à Revolução Francesa de 1789, com a mobilização e o levante da burguesia contra o 
Terceiro Estado, em relação ao qual há o emblemático epsódio do “Juramento do Jogo de Pela”, em que ficou muito clara a indignação da burguesia contra 
o Rei déspota, assim como os anseios por um Estado de Direito. 
 
O Direito Justo 
 
Não resta dúvida, portanto, de que o Estado Constitucional de Direito vincula o Poder Político ao cumprimento da lei veiculada no plano do Direito Objetivo. 
Esse Direito, também é consenso, deve ser expressão da Justiça, isto é, refletir o que é justo. 
 
E, justo, por sua vez, na concepção da Revolução Francesa, prevalente durante o século XVIII e identificada com o conteúdo do primeiro capítulo, vem a ser a 
lei declarada pelo Legislador de acordo com a natureza das coisas. 
 
Sinopse: Essa é a obra máxima de Charles-Louis de Secondat. O Barão de Montesquieu, além de caracterizar o Estado despótico e defender, já no primeiro 
capítulo do livro, que “as leis são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas”, também concebe a teoria da tripartição dos poderes em 
Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e harmônicos entre si. 
 
Esse entendimento, presente no pensamento de Montesquieu, não condiz com as concepções de Rousseau e Sieyès, que serão expostas adiante. 
 
Ademais, segundo Gonçalves (2007), as características que legitimam as leis a comandarem os homens e a constituírem expressão do justo são as seguintes: 
1. Generalidade: aplicação a todos os casos iguais; 2. Impessoalidade: não faz distinção de pessoas. 
 
O Primado da Constituição, o Poder Constituinte e a Coordenação dos Direitos Fundamentais 
 
Documento fundamental da Revolução Francesa, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (Dèclaration des Droits de l’Homme” e du 
Citoyen, em francês, 1789), que teve por principal objeto a enunciação dos direitos individuais e coletivos dos homens, dispôs em seu artigo 16 que: “A 
sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos (fundamentais) nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição”. 
 
A ideia é de que não se pode dissociar a garantia dos direitos humanos fundamentais da constituição política do Estado, sentido no qual, com a evolução do 
Estado contemporâneo, a declaração de direitos e o pacto político passaram a constituir um documento único, chamado de Constituição. 
 
Assim, direitos humanos fundamentais e poder político coexistem sob a égide do sistema de três Poderes harmônicos e independentes entre si, formulado 
por Montesquieu, na seguinte medida: 
 
Poder Legislativo: declara os direitos humanos fundamentais. 
 
Poder Executivo: responsável por cumprir e aplicar os direitos e as leis de forma não contenciosa (não litigiosa). 
Poder Judiciário: responsável por fazer cumprir e aplicar os direitos e as leis de forma contenciosa (quando há litígios). 
 
Fala-se, com isso, na figura do Estado Constitucional de Direito, baseado no primado da Constituição e emanado do chamado Poder Constituinte. 
Conforme Sieyés (2009), é no Poder Constituinte que se fundamenta a Constituição como norma hierárquica superior do sistema jurídico, ficando superado 
o pensamento de que as leis derivam da natureza das coisas, para se evoluir, depois das revoluções do século XVIII, à ideia pactista de Rousseau de que a lei 
constitui expressão da vontade geral. 
 
Sinopse: nessa obra de importância fundamental para o pensamento político contemporâneo, datada de 1762, Rousseau defende que a vida social é 
considerada a base de um contrato em que cada contratante condiciona sua liberdade ao bem da comunidade, procurando proceder sempre de acordo com 
as aspirações da maioria. 
 
E, como expressão da vontade geral, é da lei que deve vir a coordenação dos direitos humanos fundamentais. 
 
A Limitação de Poder e o Estado de Direito 
 
O modelo de Estado como instituição regida pelas leis que exprimem a vontade geral, concebido pelo pensamento político de Montesquieu, de Rousseau e 
de outros pensadores iluministas, inspirou os ideiais da Revolução Francesa de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, norteando a declaração dos Direitos 
do Homem e do Cidadão de 1789. 
 
 
obras de pensadores como Sócrates, Platão, Montesquieu, Rousseau, entre outros 
 
 
Entre a década de 1970 e a primeira metade dos anos 2000, a Editora Abril Cultural e, depois, a Nova Cultura, lançaram oito edições de uma coleção de 
livros que era uma verdadeira enciclopédia do pensamento humano ocidental. Publicação singular no Brasil, cada volume da coleção “Os Pensadores” traz a 
biografia e reproduz algumas 
 
Considerada o documento que inaugurou a Primeira Geração de Direitos Humanos, a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão encontra sustentação 
em duas pilastras fundamentais, quais sejam: 1. Separação dos Poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário. 2. Garantia dos Direitos Humanos 
Fundamentais. 
 
Coerentemente, dois anos depois da Declaração de 1789, que representou o pacto social em torno dos direitos humanos fundamentais, foi promulgada a 
Constituição Francesa de 1791 como Carta Política do Estado e documento de garantia dos direitos humanos fundamentais 
 
A Constituição é o diploma legal hierarquicamente superior da ordem jurídica dos Estados Democráticos de Direito da atualidade, a exemplo da Constituição 
Brasileira de 1988. Prevalece como norma fundamental de limitação ao Poder Político, o que se dá por meio dos direitos fundamentais que enuncia. 
 
Os Princípios do Estado de Direito 
 
É na Constituição que são veiculados os princípios fundamentais do Estado de Direito, enumerados em três por Ferreira Filho (2012), quais sejam: 
Legalidade, Isonomia e Justicialidade. 
 
Pelo princípio geral da legalidade, veiculado no inciso II do artigo 5º da Constituição, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão 
em virtude de lei”. Especificamente em matéria criminal, o princípio da Reserva Legal ou da Legalidade Penal encontra-se expresso na norma do artigo 5º, 
inciso XXXIX da Constituição, segundo a qual “não há crime sem lei anterior que o defina, nem penasem prévia cominação legal”. Em Direito Tributário, voga 
o princípio da legalidade tributária, descrito no artigo 150, inciso I da Constituição Federal, de acordo com o qual é vedado às pessoas políticas “exigir ou 
aumentar tributo sem que lei o estabeleça”. 
 
Já o princípio da isonomia, fundamentado no ideal de igualdade e intimamente ligado à abolição de privilégios, tem sua base veiculada logo no caput do 
artigo 5º da Constituição Federal, cujo enunciado dispõe que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. 
 
As distinções vedadas pela Constituição são aquelas injustificáveis, que tratam de maneira diferente seres humanos em condições absolutamente análogas, 
especialmente aquelas que se baseiam em critérios odiosos, tais como origem, raça, sexo, cor, idade, religião etc. 
 
Sinopse: no ano de 1964, dois agentes do FBI, interpretados por Gene Hackman e Willem Dafoe, investigam a morte de três militantes dos direitos civis que 
viviam em uma pequena cidade do Mississipi marcada pela segregação que dividia a população em brancos e negros, bem como pelos constantes atos de 
violência contra os negros. 
 
Por outro lado, a isonomia deve ser material, isto é, para que a igualdade seja real, admite-se a existência de tratamentos jurídicos diferenciados, 
justamente para que pessoas que não estejam na mesma situação possam ter seus direitos efetivamente igualados perante a lei. É o que acontece, por 
exemplo, no caso de reserva de vagas em estacionamentos para pessoas portadoras de necessidade especiais, na determinação de idade mínima para 
ingresso na carreira da Magistratura, entre outras situações. 
Além disso, da mesma forma que ocorre em relação ao princípio da legalidade, a isonomia também é constitucionalmente tratada de modo específico 
quanto a determinados ramos do Direito. 
 
Por exemplo, o artigo 150, inciso II da Constituição Federal veicula o princípio da isonomia tributária, pelo qual é proibido “instituir tratamento desigual 
entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente”. E, no campo do Direito da Família, assegura-se o tratamento isonômico entre o casamento 
e a união estável (BRASIL, art. 226, § 3º), bem como entre os filhos havidos dentro ou fora do casamento, e também entre os filhos naturais e os adotivos 
(BRASIL, art. 227, § 6º). 
 
Finalmente, o termo Justicialidade, mais conhecido como Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, é veiculado no inciso XXXV, do artigo 5º da 
Constituição, nos seguintes termos: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. 
 
As Três Gerações dos Direitos Fundamentais 
 
Quando se fala em direitos humanos e na sua origem na Declaração de Direitos de 1789, pode-se pensar que tenha ocorrido naquele momento o 
reconhecimento completo dos direitos fundamentais. 
 
Todavia, esse ponto da história remonta apenas à origem desses direitos, isto é, ao momento em que foram reconhecidas as chamadas liberdades públicas, 
correspondente à primeira geração de direitos fundamentais. 
 
Desse momento em diante, fala-se em uma evolução histórica cumulativa, mediante a qual, gradativamente, novos direitos foram sendo reconhecidos como 
fundamentais e foram agregados aos já haviam sido anteriormente reconhecidos, a começar pela segunda geração, consubstanciada nos direitos sociais, 
econômicos e culturais (primeira metade do século XX) e, mais recentemente, a terceira geração, relativa aos direitos da solidariedade e que, no plano 
global, ainda se encontra em fase de afirmação. 
 
Constituição: diploma hierarquicamente superior da ordem jurídica. Constitui o veículo normativo de reconhecimento e garantia dos direitos humanos 
fundamentais e de instituição do sistema político do Estado. 
 
Déspota: governante típico da Idade Moderna caracterizado por exercer o poder segundo o seu arbítrio, sem que houvesse preocupação em respeitar o 
primado da lei. 
 
Direito Objetivo: é o conjunto de normas jurídicas obrigatórias vigentes em um Estado em determinada época. 
 
Direitos fundamentais: são direitos humanos de caráter universal, reconhecidos pelos Estados Constitucionais de Direito e garantidos pelos sistemas 
jurídicos domésticos e internacionais. 
 
Estado Constitucional de Direito: é pessoa política de direito público soberana sobre seu povo e território, constituída sob a égide da Constituição e 
submetida aos comandos da lei. 
 
Poder Constituinte: é o poder fundamentado na vontade geral e legitimado para o estabelecimento da ordem jurídico-constitucional. É do Poder 
Constituinte que emana a Constituição de um Estado. 
 
Tema 2: A Evolução dos Direitos Fundamentais: a Declaração de 1789 e as Liberdades Públicas 
 
A Evolução dos Direitos Fundamentais: a Declaração de 1789 e as Liberdades Públicas Quando se fala em direitos humanos 
fundamentais e se pensa na Declaração de 1789 como grande marco histórico, corre-se o risco de, equivocadamente, 
concluir ter sido aí que tudo começou. Deve-se, contudo, esclarecer que a Declaração de 1789 constitui o documento formal 
de reconhecimento de direitos preexistentes, que tiveram a sua formação fundamentada em antecedentes históricos e na 
doutrina do direito natural, que remontam à Antiguidade e segue por Idades Média e Moderna. 
 
Eis a linha de raciocínio seguida por Ferreira Filho (2012). Fontes filosófico-doutrinárias A doutrina do direito natural, 
pressuposto teórico essencial à formação da doutrina dos direitos fundamentais, possui como grande baliza a existência de 
um Direito superior, não estabelecido pelos homens. Na Antiguidade, esse Direito superior era conferido aos homens pelos 
deuses e, depois de Cristo, por um Deus único, ao menos entre os Cristãos. 
 
Mas, segundo Ferreira Filho (2012), é na Idade Moderna, por intermédio da Doutrina do Direito Natural e das Gentes, cujo 
maior expoente foi o jurista holandês Hugo Grócio, que surgiu a concepção de direito natural adotada no pensamento 
iluminista e na Declaração de 1789. Trata-se de uma doutrina racionalista, representativa da laicização do direito natural, que 
passa a ser visto sob a ótica de que determinados direitos decorrem da natureza humana e são outorgados pelo legislador 
mediante análise de pertinência engendrada segundo a natureza razoável e sociável do ser humano. 
 
Precedentes históricos 
Sem ignorar os forais ou cartas de franquia, como documentos escritos veiculando outorgas de direitos feitas aos súditos e 
vassalos por reis e senhores feudais na Idade Média, o primeiro grande antecedente histórico das declarações de direitos 
humanos fundamentais data do ano de 1215, na Inglaterra. Cuida-se da Magna Carta, documento tido como a primeira 
Constituição da história da humanidade, o qual contemplou diversos direitos humanos pleiteados pelos barões ingleses, 
consagrando importantes princípios e direitos depois consagrados como humanos fundamentais, com destaque para: 
legalidade tributária (itens 12 e 14), gradação das penas (itens 20 e 21), propriedade privada (item 31), judicialidade (item 39) 
e liberdade de locomoção (item 41). 
 
Robin Hood. Direção: Ridley Scott. Produção: Russell Crowe, Ridley Scott, Brian Grazer. EUA: Universal Pictures, 2010. 
Sinopse: mais recente versão cinematográfica da lenda, “o Robin Hood” de Ridley Scott, com Russell Crowe e Cate Blanchett, 
tem um enfoque interessante, pois retrata bem a origem histórica da lenda, que foi o momento do surgimento da Monarquia 
Constitucional com a Magna Carta de 1215. Entre os diversos direitos humanos pleiteados pelos barões ingleses ao Rei João 
Sem Terra, o foco do filme volta-se para a regra de que o rei não poderia mais criar impostos sem consultar um conselho 
formado por membros do clero e da nobreza (legalidade tributária). 
 
Já na Idade Moderna, também na Inglaterra, no ano de 1689, foi de suma importância o documento denominado Bill of 
Rights (Declaração de Direitos), como manifestação formal acerca da existência de direitos dos ingleses que deveriam ser 
respeitados,tais como: moradia, proteção da família e julgamento justo. Apenas para contextualizar, foi uma declaração de 
direitos do parlamento inglês, aceita em 1689 por Guilherme Orange e Maria II, após a Revolução Gloriosa, como condição 
para ascenderem em conjunto ao trono inglês. Em 1791, o cenário passa a ser a América, quando uma Bill of Rights declarou 
vários direitos dos cidadãos norte-americanos, que vieram a constituir as dez primeiras emendas à Constituição dos Estados 
Unidos. 
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 A Declaração de 1789, exarada no contexto da Revolução 
Francesa, não é apenas consagrada como o grande marco do reconhecimento dos direitos humanos de primeira geração. 
Constitui também o modelo de reconhecimento de direitos humanos seguido pelas Constituições dos Estados de Direito 
contemporâneos. 
Mas, para uma exata compreensão desse papel fundamental, é necessário pontuar alguns aspectos acerca da referida 
declaração. São eles: finalidade, natureza, caracteres dos direitos declarados e objeto. Senão vejamos: 
 
Finalidade: proteger os direitos do Homem contra os atos de Governo, assim compreendidos os atos do Poder Executivo e do 
Poder Legislativo. 
Natureza: não se trata de uma instituição de direitos, mas de direitos enunciados, isto é, de uma declaração de direitos 
preexistentes. 
Caracteres dos direitos declarados: além de constituírem direitos naturais e abstratos, os direitos humanos fundamentais 
declarados em 1789 possuem as seguintes características: imprescritibilidade, inalienabilidade, individualidade e 
universalidade. 
 
Objeto: foram enunciadas duas grandes categorias de direitos, que são as liberdades e os direitos políticos. Entre todos esses 
aspectos, é possível afirmar que, na essência, a declaração francesa de 1789 houve como grande diferencial em relação às 
antecedentes o caráter universal, isto é, por ser voltada para todos os homens, independentemente da nacionalidade, e não 
apenas aos franceses. Eis, certamente, a maior justificativa de toda a sua importância histórica. Outra nuance essencial 
refere-se ao objeto da Declaração de 1789, muito bem ressaltada por Ferreira Filho (2012) como um aspecto que nos 
permite compreender melhor a razão pela qual o histórico documento de 1789 foi intitulado “Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão”. Pode ser que o leigo entenda que “homem e cidadão” constitui uma expressão redundante. Mas, não 
é assim. Na verdade, além dos direitos fundamentais do homem, que são as liberdades, a Declaração de 1789 também 
enunciou os direitos do cidadão, que são os direitos políticos. Seguindo essa concepção, fica fácil perceber a diferença entre 
os direitos do homem e os direitos do cidadão, entre as liberdades públicas e os direitos políticos, como representado no 
esquema abaixo: 
 
 
 
 
 
 
Desse modo, é essa declaração que consagra o início da Primeira Geração de Direitos Humanos Fundamentais, voltada às 
Liberdades Públicas e preceitos que visam à sua garantia, quais sejam: liberdade em geral (arts. 1º, 2º e 4º), segurança (art. 
2º), liberdade de locomoção (art. 7º), liberdade de opinião (art. 10), liberdade de expressão (art. 11), propriedade (arts. 2º e 
17), devido processo legal (art. 7º), legalidade criminal (art. 8º) e presunção de inocência (art. 9º). Só que, por outro lado, a 
mesma declaração francesa também consagra os direitos políticos, consubstanciados em: 
 
1) Poderes dos cidadãos: são meios de participação política do cidadão, tais como os direitos de participar da vontade 
geral ou de escolher representantes que o façam (art. 6º), consentir no imposto (art. 14), controlar o dispêndio do 
dinheiro público (art. 14) e pedir contas da atuação do agente público (art. 15). 
2) Princípios de organização política: igualdade (art. 1º), papel do Estado e da “força pública” na conservação dos 
direitos naturais e imprescritíveis do homem (arts. 2º e 12), soberania da nação (art. 3º) e limitação ao exercício do 
poder pela separação dos poderes (art. 16). 
 
As liberdades públicas 
As liberdades públicas, direitos fundamentais reconhecidos em 1789 e contemplados nas Constituições dos Estados de 
Direito contemporâneos, possuem natureza de direitos subjetivos reconhecidos e protegidos pela ordem jurídica a todos os 
seres humanos. Assim, como direitos subjetivos, as liberdades podem constituir relações jurídicas entre sujeitos ativos e 
sujeitos passivos com relação a determinado objeto. Veja-se: 
 
Sujeitos ativos: são os titulares dos direitos humanos fundamentais, isto é, todos os seres humanos. 
Sujeitos passivos: são os próprios seres humanos em relação aos direitos dos semelhantes e as pessoas jurídicas públicas 
(Estado e todos os seus entes) e privadas. 
 Objeto: são condutas positivas ou negativas. Um exemplo de conduta positiva é a liberdade de locomoção (direito de ir e vir) 
e um de conduta negativa é a presunção de inocência (ninguém será considerado culpado até sentença penal condenatória 
transitada em julgado). Sem dúvida, o reconhecimento das liberdades públicas pela Declaração de 1789 e, até os dias atuais, 
pelas Constituições dos Estados de Direito contemporâneos, constituiu um passo fundamental para a proteção dos direitos 
humanos fundamentais de primeira geração. Contudo, para que essa proteção seja efetiva, é necessário que o Estado esteja 
organizado para propiciar real garantia dos direitos fundamentais. É nesse ponto que se fala nas chamadas Garantias 
Fundamentais como meios de dar efetividade na proteção aos direitos que são aquelas normas veiculadas no sistema 
jurídico com o objetivo de propiciar efetiva proteção aos direitos humanos. 
 
Em um sentido amplíssimo, pode-se falar em um sistema de garantias fundamentais que emana da Constituição de cada 
Estado. E, no âmbito desse sistema, deve-se pensar nas garantias fundamentais em três níveis diferentes, quais sejam: 
 
Garantia-estrutura: estabelecida em nível amplo e estrutural, compreende a estrutura institucional organizada para a defesa 
dos direitos humanos, tal como a manutenção institucional de um Poder Judiciário organizado para acolher as pretensões 
contra violações aos direitos fundamentais e que seja capaz de manejar instrumentos para restaurá-los quando necessário, 
inclusive quando o responsável pela violação for um agente, órgão ou entidade do Estado. 
Garantia-defesa ou garantia-limite: acepção restrita do sistema de garantia, constitui qualquer proibição que tenha por 
objetivo a defesa de determinados direitos, incluindo a imposição de limites a ação de poder, a exemplo do que ocorre com a 
proibição ao confisco, como meio de defesa da propriedade. 
Garantia-instrumento: estabelecida em nível restritíssimo, refere-se aos meios que o sistema dispõe para defesa dos direitos 
fundamentais perante as instituições competentes. As garantiasinstrumento compreendem as ações constitucionais 
especiais tais como ação popular, as ações de controle de constitucionalidade e os remédios constitucionais, tais como 
mandado de segurança, habeas corpus e habeas data. 
 
Na Constituição brasileira, o reconhecimento das Liberdades Públicas está concentrado no artigo 5º, que trata dos direitos e 
deveres individuais e coletivos, pertencente ao Título II da Carta, denominado “Dos Direitos e Deveres Individuais e 
Coletivos”. Já no caput do referido artigo 5º, esses direitos humanos de primeira geração estão evidenciados em caráter 
expresso: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”. 
Mas, é importante esclarecer que as Liberdades Públicas não se restringem às enunciadas no artigo 5º da Constituição 
Federal, consoante dispõe o § 2º do próprio artigo 5º: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem 
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionaisem que a República 
Federativa do Brasil seja parte”. 
 
Portanto, além dos direitos humanos de primeira geração expressamente consagrados no artigo 5º da Constituição, outras 
liberdades e respectivas garantias podem decorrer do regime e dos princípios constitucionais, assim como dos tratados 
internacionais de que o Brasil seja signatário. Um exemplo de liberdade decorrente dos princípios constitucionais é o 
princípio da legalidade tributária, previsto no artigo 150, inciso I, da Constituição, segundo o qual é vedado a União, Estados, 
Distrito Federal e Municípios, criar ou aumentar tributos sem que lei o estabeleça. 
E, por fim, um exemplo decorrente de tratado internacional é a proibição da prisão por dívidas, exceto se for originária de 
pensão alimentícia, consagrada na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto de São José 
da Costa Rica. 
 
Direitos subjetivos: são direitos estabelecidos na ordem jurídica passíveis de serem exercidos por seus titulares em face dos 
respectivos sujeitos passivos. Os direitos subjetivos concedem aos seus titulares uma faculdade de agir (facultas agendi). 
Garantias fundamentais: são meios de dar efetividade na proteção aos direitos consubstanciados em normas veiculadas no 
sistema jurídico com o objetivo de propiciar a sua efetiva proteção. 
Imprescritibilidade: característica segundo a qual um direito não se extingue pelo decurso do tempo. Os direitos humanos 
fundamentais não decaem com o tempo, porque a natureza humana é imutável. 
Inalienabilidade: diz respeito à impossibilidade do titular dispor um direito. No campo dos direitos humanos, a 
inalienabilidade está no fato de que não se pode abrir mão de direitos atinentes à própria natureza do ser humano. 
 Individualidade: é a aderência de um direito à personalidade de seu titular. Os direitos humanos fundamentais são 
individuais, na medida em que podem ser exercidos pelos indivíduos isoladamente, independentemente da vontade dos 
demais membros da sociedade. 
 Liberdades públicas: são direitos humanos fundamentais de primeira geração, reconhecidos na Declaração de 1789 e nas 
Constituições dos Estados contemporâneos, com natureza de direitos subjetivos de titularidade de todos os seres humanos, 
declarados e protegidos pela ordem jurídica. 
Universalidade: característica segundo a qual todo e qualquer ser humano é titular dos direitos humanos fundamentais, 
independentemente de serem cidadãos de determinado Estado. 
 
Tema 3: A Evolução dos Direitos Fundamentais: Direitos Econômicos e Sociais 
 e os Novos Direitos da Solidariedade 
 
Vamos continuar estudando as três gerações de direitos humanos, a começar pela segunda geração, que é a dos direitos 
sociais e econômicos, reconhecidos em caráter global pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Organização das 
Nações Unidas, de 1948. Os direitos humanos fundamentais de segunda geração, de natureza social, econômica e cultural, 
possuem origem mais ligada às lutas das classes trabalhadoras após a Revolução Industrial e se inserem nas esferas do 
trabalho, das relações de produção e dos direitos à assistência social, à associação sindical, ao descanso, ao lazer, à saúde, à 
educação, à livre participação na vida cultural da comunidade, entre outros. Ao final, estudaremos a terceira geração de 
direitos fundamentais, que se encontra em acelerado processo de consolidação e diz respeito aos direitos da solidariedade, 
mais relacionados à qualidade de vida. Vale lembrar sempre que cada nova geração de direitos humanos vem se somar às 
anteriores, sem negá-las e só aumentando a proteção. 
 
A Evolução dos Direitos Fundamentais: Direitos Econômicos e Sociais e os Novos Direitos da Solidariedade 
Conforme estudado em aulas anteriores, a evolução dos direitos humanos fundamentais teve início com o reconhecimento 
das Liberdades Públicas, que foram a primeira geração de direitos humanos. É importante sempre lembrar que, até este 
momento, na história dos direitos fundamentais, sempre que surge uma nova geração de direitos humanos, essa nova 
geração vem para se somar às anteriores, representando um novo reconhecimento de direitos em caráter de ampliação da 
proteção, nunca com o intuito de negar qualquer direito que tenha sido anteriormente reconhecido. 
 
Evolução Histórica e Doutrinária dos Direitos Humanos de Segunda Geração 
Os direitos humanos fundamentais de segunda geração, de natureza social, econômica e cultural, possuem origem mais 
ligada às lutas das classes trabalhadoras após a Revolução Industrial e se inserem nas esferas do trabalho, das relações de 
produção e dos direitos à assistência social, à associação sindical, ao descanso e ao lazer, à saúde, à educação, à livre 
participação na vida cultural da comunidade, entre outros. Para uma efetiva compreensão de como surgiram e se 
consolidaram, é muito importante que seja traçada uma linha do tempo retratando fatos e ideias de grande destaque ao 
longo do século XIX e início do XX. 
Na Europa do século XIX, o cenário era de Liberalismo Econômico, com um Estado minimamente interventor e vigência das 
normas decorrentes das revoluções liberais. Também como consequência da Revolução Industrial, o mundo conheceu um 
acúmulo de riquezas antes jamais vivenciado na história da humanidade, porém essa riqueza ficou concentrada nas mãos de 
poucos empresários, a burguesia. Enquanto isso, a classe trabalhadora, afundada em uma situação de penúria e miséria, 
contrastava totalmente com essa conjuntura de prosperidade econômica da classe burguesa. Com a explosão das máquinas, 
as consequências foram piores que as imaginadas: uma imensa massa de desempregados e, para quem tinha emprego, 
baixos salários, condições de trabalho penosas e insalubres nas fábricas, trabalho infanto-juvenil e condições indignas de 
trabalho das mulheres, levando a uma marginalização da classe operária. 
Este contexto histórico, chamado de “Questão Social”, na acepção burguesa, e de “Luta de Classes”, na terminologia 
marxista, colocou as instituições liberais e o desenvolvimento econômico em cheque, culminando com um final de século XIX 
marcado por debates de ideias e batalhas políticas. Na esfera política, a luta da classe trabalhadora era pelo sufrágio 
universal, neste momento, apenas em relação aos homens. Aos poucos, os detentores do poder do Estado tiveram de ir 
cedendo, e, paulatinamente, a classe trabalhadora foi conquistando direito ao voto e sendo disputada pelos movimentos e 
partidos, o que proporcionou um momento histórico propício para o surgimento de mudanças. No campo das ideias, a crítica 
marxista veio denunciar o caráter formal das liberdades públicas, como direitos que, para serem exercidos, dependiam de 
condições econômicas e financeiras de que não dispunha a classe operária. 
Deve-se, no entanto, esclarecer que, mesmo entre os socialistas, as ideias não eram unívocas, ponto em que se deve 
destacar a dicotomia entre Socialismo Revolucionário e Socialismo Reformista. Postando-se na linha revolucionária, para 
marxistas, socialistas radicais e anarquistas, a única solução seria a extinção da classe exploradora, a burguesia, o que 
dependeria de Revolução. Para os reformistas, defensores de posturas difundidas pelo Positivismo, pela social democracia e 
pelo cristianismo social, a solução era pacificadora, de reconciliação da classe proletária com o Estado e demais classes 
sociais. Neste ponto, foi muito importante o apoio da doutrina social da Igreja Católica, a partir da Encíclica Rerum Novarum, 
editada pelo Papa Leão XIII, em 1891, com base na tese de Tomás de Aquino sobre o bem comum e a vida digna. 
No final, não resta dúvida de que o Reformismo foi o caminho que levou efetivamente à conquista dos direitos sociais que 
protagonizam os direitos humanos de segunda geração, já que os Revolucionários chegaram ao poder apenas na Rússia, com 
a Revolução de 1917. 
Em consequência de todos esses precedentes, as primeiras duas décadas do século XX foram marcadas por inúmerosfatos 
históricos que levaram à consolidação dos direitos econômicos e sociais. Os principais foram os seguintes: 
Constituição Mexicana de 1917: grande marco da segunda geração de direitos fundamentais, consagra direitos sociais como 
reforma agrária e direitos do trabalhador. 
Declaração Russa de 1918 ou Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado: documento de caráter meramente 
propagandístico que possui como valor os princípios que enuncia contra a exploração burguesa. 
 Tratado de Versalhes de 1919: firmado para definir as condições de paz entre Aliados e Alemanha, ao final da Primeira 
Guerra Mundial, institui a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e consagra os direitos do trabalhador como 
obrigatórios para todos os Estados signatários. 
Constituição Alemã de 1919 (Constituição Weimar): inteiramente marcada pelo espírito da segunda geração de direitos 
humanos, consagra a função social da propriedade, a reforma agrária, a socialização de empresas, o direito de sindicalização, 
a proteção ao trabalho, a previdência social, entre outros direitos sociais. 
 
Em meio a todos esses precedentes tivemos a Primeira Guerra Mundial que, a despeito do Tratado de Versalhes e da 
Constituição Weimar, teve sua feridas malcuradas, abrindo espaço para doutrinas como o Nazismo e o Fascismo, até que 
eclodisse, com todos os seus horrores, a Segunda Guerra Mundial. 
Coerentemente com o contexto histórico-evolutivo apresentado e as doutrinas abordadas, ao término da Segunda Guerra 
Mundial, o cenário encontrado era de um mundo castigado pelos horrores das guerras mundiais, clamando por uma 
reafirmação dos direitos humanos de primeira geração, brutalmente violados nas guerras, bem como de um reconhecimento 
universal dos direitos humanos de segunda geração. A resposta veio por parte da comunidade internacional de nações, por 
meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas de 1948, documento que veio: 
Reafirmar as liberdades públicas e os direitos civis e políticos, classificados como direitos humanos de primeira geração. 
Confirmar os direitos sociais, econômicos e culturais, considerados os direitos humanos de segunda geração. 
 
A Expansão do Modelo dos Direitos Humanos de Segunda Geração 
A partir da Constituição Weimar e, sobretudo, após a Declaração da ONU em 1948, o que se passou a ver foram as 
Constituições da maioria dos Estados seguindo o modelo de reconhecimento dos direitos sociais e econômicos, 
contemplando-os em seus respectivos sistemas de garantia. E, deste modo, da mesma forma que os direitos de primeira 
geração, os direitos sociais e econômicos não estão meramente declarados, mas integram as ordens jurídicas dos Estados de 
Direito, constituindo verdadeiros direitos subjetivos a serem exigidos por seus destinatários. É assim que os direitos sociais e 
econômicos estão reconhecidos e contemplados no sistema de garantias da Constituição Federal Brasileira de 1988, 
mediante proteção disseminada por todo o texto constitucional, com destaque para: 
 
Educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, 
assistência aos desamparados (art. 6º). • Trabalho (art. 7º). • Seguridade social (art. 195). • Saúde (art. 196). • Educação (art. 
205). • Cultura (art. 215). • Lazer pelo desporto (art. 217). • Família (art. 226). 
 
Caracteres dos Direitos Sociais 
Em relação aos caracteres dos direitos sociais, Ferreira Filho (2012) destaca os seguintes: 
 
Natureza: a exemplo das liberdades da primeira geração, os direitos sociais, econômicos e culturais são direitos subjetivos, 
mas não são meros poderes de agir, e sim poderes de exigir do Estado a prestação concreta de saúde, educação, cultura, 
lazer etc. 
Sujeito passivo: a rigor, o Estado é considerado o responsável pelo atendimento a esses direitos, mas não só ele, uma vez ser 
representante da sociedade; assim, alguns direitos sociais possuem responsabilidade compartilhada, como são os casos: i) da 
Seguridade Social, responsabilidade de toda a sociedade (CF, art. 195); e ii) da educação, responsabilidade partilhada com a 
iniciativa privada e a família (CF, art. 205). 
Objeto: geralmente, é uma prestação de serviço de saúde, educação, assistência social e outros, mas também pode ser um 
prestação em dinheiro, como é o caso do seguro-desemprego. 
Fundamentos: pressupõem a existência de sociedade, no que parecem distinguir-se das liberdades públicas, que se 
fundamentam no direito natural, muito embora a sociabilidade seja de natureza humana, de modo que também não é 
absurdo dizer que, no fundo, também são direitos naturais reconhecidos. 
Garantia: em uma primeira frente possuem garantia institucional, mas, quando violados, não há dúvidas de que as vítimas 
podem recorrer ao Poder Judiciário, por exemplo, mediante a propositura de uma reclamação trabalhista. 
 
Os Direitos Humanos de Terceira Geração: Direitos da Solidariedade 
Há uma terceira geração de direitos fundamentais em acelerado processo de consolidação, mais relacionados à solidariedade 
entre os povos e à qualidade de vida. 
Cabe realçar que o desenvolvimento desses direitos ocorreu no plano internacional em documentos firmados no âmbito da 
ONU e da UNESCO, tais como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos da ONU de 1966, Declaração de Estocolmo de 
1972, Carta dos Direitos e Deveres Econômicos de 1974, Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Sociais de 1978, Carta 
Africana dos Direitos dos Povos de 1981, Carta de Paris para uma Nova Europa de 1990, e a Declaração do Rio de Janeiro de 
1992 (ECO 92). 
Os principais deles, todos reconhecidos na Constituição Federal de 1988, são os seguintes: 
Direito à paz (art. 4º, VI). • Direito ao desenvolvimento – cooperação dos povos para o progresso da humanidade (art. 4º, IX). 
• Direito à comunicação (art. 220). • Autodeterminação dos povos (art. 4º, III). • Direito ao meio ambiente (art. 225) 
 
No que diz respeito aos caracteres desses direitos, Ferreira Filho (2012) destaca os seguintes: 
Titularidade: não são direitos individuais, são direitos difusos. 
Sujeito passivo: são os Estados no âmbito interno e como membros da comunidade internacional. 
Objeto: são direitos subjetivos de objetos bastante heterogêneos, compreendendo direitos de exigir (por exemplo: direito à 
paz); de fazer (por exemplo: a recuperação do meio ambiente poluído) ou de não fazer (por exemplo: não degradar o 
patrimônio comum da humanidade, como são os casos do fundo do mar e do subsolo). 
Fundamento: a solidariedade, principalmente a solidariedade entre os povos. 
Garantia: em sua maioria não cabe senão a garantia institucional, mas há direitos que, como é o caso do meio ambiente, 
podem ser garantidos no âmbito judicial por meio de ações tais como ação civil pública (CF, art. 129, III) e ação popular (CF, 
art. 5º, LXXIII). 
 
Autodeterminação dos povos: direitos dos povos a dispor deles próprios, determinando livremente seu estatuto político e 
assegurando o próprio desenvolvimento econômico, social e cultural. 
Direitos difusos: direitos cujos titulares são pessoas indeterminadas ligadas por circunstâncias de fato, como é o caso do 
direito ao meio ambiente saudável, livre de poluição, e à preservação da flora, que se garante, por exemplo, com as normas 
que proíbem queimadas de cana em determinada região. 
Garantia institucional: estabelecida em nível amplo e estrutural, compreende a estrutura institucional organizada para a 
defesa dos direitos humanos, tal como a manutenção de um Poder Judiciário organizado para acolher as pretensões contra 
violações aos direitos fundamentais e capaz de manejar instrumentos para restaurá-los quando necessário, inclusive quando 
o responsável pela violação for um agente, órgão ou entidade do Estado. É o mesmo que garantia-estrutura. 
 
Patrimônio comum da humanidade: é algo que pertence a toda a humanidade e não pode ser objeto de apropriação, tal 
como o fundo do mar eo subsolo, ou ainda algo de interesse comum da humanidade, tais como monumentos, paisagens, 
conjuntos arquitetônicos e áreas de interesse arqueológico, histórico, étnico, cultural etc. Esse conceito se deduz de 
exposição feita por Zanirato (2010) no V Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e 
Sociedade. 
 
Tema 4: A Proteção dos Direitos Fundamentais: a Proteção contra o Legislador 
 
No campo dos direitos humanos fundamentais a figura do Estado é paradoxal. Ao mesmo tempo em que exerce a função de 
garanti-los, constitui, potencialmente, o maior violador desses direitos. Dessa forma, cumpre investigar o sistema e as 
instituições pelas quais o Estado garante a efetividade da proteção aos direitos humanos fundamentais em face dos atos que 
ele próprio pratica, sobretudo por meio do Poder Legislativo e da Administração Pública. Nesta aula, o enfoque será nos 
meios de prevenção e repressão aos atos do Poder Legislativo que possam, potencial ou efetivamente, desrespeitar os 
direitos humanos fundamentais. O caminho, como será demonstrado, percorre a estrada do constitucionalismo, partindo da 
supremacia da Constituição Federal e passando pelos sistemas de controle de constitucionalidade. 
 
A Proteção dos Direito Fundamentais: a Proteção contra o Legislador 
De modo mais detalhado, o tema em pauta refere-se à proteção dos direitos humanos fundamentais contra o Estado, em 
face de possíveis violações por parte do Poder Legislativo. Para desenvolvê-lo, inicialmente, é necessário que se compreenda 
com precisão uma situação paradoxal. Conforme estudado em aulas anteriores, sabe-se que o Estado desempenha o papel 
fundamental de manter um sistema de proteção dos direitos humanos fundamentais. Entretanto, paradoxalmente, é o 
momento de se esclarecer que esse mesmo Estado, potencialmente, constitui o maior violador dos direitos humanos 
fundamentais. Denotando esse contexto apresentado, basta que se lance o olhar sobre determinados termos e expressões 
comuns no meio jurídico, tais como: abuso de poder, ilegalidade e inconstitucionalidade. Os dois primeiros estão 
intimamente relacionados com a temática da próxima aula, quando será abordada a proteção dos direitos fundamentais 
contra a Administração Pública. Já o termo inconstitucionalidade guarda rigorosa relação de pertinência com o tema desta 
aula, que se foca na proteção dos direitos fundamentais contra o Legislador 
 
É que, consoante já abordado neste curso, para que se propicie uma efetiva proteção aos direitos humanos fundamentais, é 
necessária a figura do Estado de Direito, voltado para a garantia desses direitos fundamentais não apenas contra o 
desrespeito por parte de componentes da sociedade, mas também em face de violações pelos poderes constituídos. Nesse 
ponto, cumpre ressaltar que o Estado de Direito fundamenta-se no primado da Constituição, o que leva, entre outras, às 
seguintes conclusões lógicas: 1º) além de declarar quais são os direitos humanos fundamentais, a Constituição desempenha 
o papel de estabelecer o sistema que deverá garantir a respectiva proteção; 2º) em matéria de direitos humanos 
fundamentais, quando elabora normas que sejam contrárias ou alheias ao estabelecido na Constituição, o Poder Legislativo 
se posiciona como violador do sistema de proteção. 
A exigência de constitucionalidade 
 
As normas constitucionais são as normas hierarquicamente superiores da ordem jurídica (MARTINS, 2014). Portanto, o 
sistema jurídico parte da Constituição e todas as normas abaixo da Constituição, inclusive as leis elaboradas pelo Poder 
Legislativo. O direito positivo, ou seja, o conjunto de normas jurídicas vigentes em determinado local e em determinada 
época, sob o ponto de vista orgânico, manifesta-se como um complexo de normas jurídicas válidas em limites definidos no 
tempo e no espaço, dispostas em estrutura escalonada, caracterizada por uma relação hierarquizada entre as unidades 
normativas. Como preconizado por Bobbio (1994, p. 19), “*...+ as normas jurídicas nunca existem isoladamente, mas sempre 
em um contexto de normas com relações particulares entre si”. A esse contexto normativo atribui-se a denominação de 
“ordenamento jurídico”, “ordenamento normativo” ou, simplesmente, “ordem jurídica”. 
 
Dispostas no ordenamento normativo de forma escalonada, as normas jurídicas guardam, entre si, relações de hierarquia, 
que se verificam conforme a extensão da eficácia e a intensidade criadora de direitos peculiares a cada norma positivada, de 
modo que as normas inferiores devem estar em conformidade com as superiores, sendo de relevo os princípios da 
constitucionalidade e da legalidade. Segundo Kelsen (1995, p. 225), “*...+ devemos conduzir-nos como a Constituição 
prescreve, quer dizer, de harmonia com o sentido subjetivo do ato de vontade constituinte, de harmonia com as prescrições 
do autor da Constituição”. Daí a concepção de que a Constituição Federal ocupa o ápice da estrutura hierarquizada e 
escalonada da ordem jurídica, bem como de que as normas inferiores devem guardar estrita relação de consonância com o 
texto emanado do Poder Constituinte. 
Isso parece responder às indagações de Canotilho (1980), que após se deter na cadeia de validade das normas jurídicas, ou 
“pirâmide legal”, postando a Constituição no topo desta estrutura piramidal, reconhecendo até que as leis devem ter forma e 
conteúdo que sejam conformes ao texto constitucional, passa a questionar “o que é que dá fundamento à constituição?”, 
“quem pode criar normas constitucionais?” e “quem garante a conformidade ao direito da própria constituição?”. 
Realmente, as respostas para tais indagações estão encerradas na ideia de que a Constituição encontra seu fundamento de 
validade na norma hipotética fundamental, ou seja, no dever de respeitar o Poder Constituinte. Modernamente, é 
amplamente reconhecido que a titularidade do Poder Constituinte pertence ao povo (FERREIRA FILHO, 1985), pois “todo 
poder emana do povo” (art. 1º., parágrafo único, primeira parte, da CF/1988), e este, salvo as hipóteses de exercício direto 
constitucionalmente previstas, o exerce “por meio de representantes eleitos” (art. 1º., parágrafo único, in fine, da CF/1988). 
Assim, as normas constitucionais são criadas pelos representantes do povo, legítimo titular do Poder Constituinte, o qual, na 
visão de Sieyés, consiste em um poder inicial, autônomo e onipotente (apud CANOTILHO, 1980), fato que garante a 
conformidade das normas constitucionais com o Direito. Eis, então, o primordial fundamento da supremacia da ordem 
constitucional. A Constituição Federal, na condição de lei fundamental do Estado, ocupa a posição hierarquicamente superior 
na ordem jurídica, não somente em face da rigidez que a caracteriza e da sua emanação da vontade do povo, titular do Poder 
Constituinte, como também porque a imperatividade de seus comandos, que obrigam pessoas físicas e jurídicas, de direito 
público ou direito privado, legitima todas as demais normas do ordenamento jurídico (CARRAZZA, 2002). Com isso, as normas 
constitucionais devem ser incondicionalmente respeitadas pelos atos administrativos de natureza normativa, pelas sentenças 
judiciais e, principalmente, pelo legislador infraconstitucional. 
 
O Controle de Constitucionalidade 
Todo procedimento tendente a eliminar normas contrárias à Constituição Federal pertence à seara do controle da 
constitucionalidade das normas jurídicas, pautado por vias, procedimentos e sistemas previstos no próprio texto 
constitucional, seguindo todos, invariavelmente, o critério hierárquico para desintegração de antinomias da ordem jurídica, 
fundando-se esta necessária adoção do critério hierárquico, justamente, na supremacia da ordem constitucional. Para Diniz 
(1997, p. 130), havendo um conflito entre uma norma constitucional e uma lei ordinária, o critério a ser aplicado para 
solucionar a antinomia será sempre “o critério hierárquico (lex superior derogat legi inferiori), baseado na superioridade deuma fonte de produção jurídica sobre a outra”, até porque, segundo Ferraz Junior (apud DINIZ, 1997, p. 130), “a hierarquia é 
um conjunto de relações estabelecidas conforme regras estruturais de subordinação e coordenação”. Sob essa óptica, o 
controle de constitucionalidade das normas jurídicas poderá ser preventivo, destinado a prevenir a vigência de normas 
inconstitucionais, ou repressivo, tendente a eliminar da ordem jurídica as normas inconstitucionais que tenham 
eventualmente entrado em vigor (via de ação) ou a neutralizar os respectivos efeitos no instante da aplicação ao caso 
concreto, sem, contudo, afastá-la em definitivo do direito vigente (via de exceção). 
 
Controle Preventivo 
 
O controle preventivo atua sobre a lei em formação, ou seja, durante o processo legislativo. Exemplo clássico de controle 
preventivo de constitucionalidade é o previsto na Constituição Federal da França (Sistema Francês), onde constitui a única 
modalidade de controle de constitucionalidade adotada, inadmitindo-se o controle a posteriori da constitucionalidade das 
leis (MORAES, 1988). 
No Brasil, o controle de constitucionalidade não é exclusivamente preventivo, mas também está presente nas figuras das 
Comissões de Constituição e Justiça e no poder de veto do Poder Executivo. 
As Comissões de Constituição e Justiça são órgãos das casas legislativas entre cujas atribuições encontra-se a deliberação 
sobre a constitucionalidade das matérias em trâmite perante o Poder Legislativo. Além disso, a ordem constitucional atribui 
também ao Poder Executivo a prerrogativa de prevenir a vigência de normas jurídicas inconstitucionais, o que faz por 
intermédio do artigo 66 da Constituição Federal de 1988, segundo o qual o projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo 
será enviado à sanção do Presidente da República (CF, art. 66 caput), que poderá ser expressa, quando o chefe do Poder 
Executivo manifestar sua aquiescência com o projeto, ou tácita, quando se mantiver silente por mais de quinze dias (§ 3º). 
 
Controle Repressivo 
Já em relação ao controle repressivo da constitucionalidade das normas jurídicas, pode-se afirmar existirem dois sistemas 
distintos: o sistema difuso e o sistema concentrado. Tal separação sistemática fundamenta-se em questões subjetivas e 
orgânicas, sendo o primeiro também conhecido por “sistema americano”, pois costuma-se remontar sua origem aos Estados 
Unidos da América, e o segundo, por “sistema austríaco”, eis que posto em prática, pela primeira vez, na Constituição da 
Áustria de 1920. 
 
O controle da constitucionalidade pelo “sistema americano” é exercido por todos os órgãos jurisdicionais, de maneira 
incidental, na decisão de cada caso concreto, observadas as regras de competência, com a peculiaridade de que, em Estados 
federativos, como o norte-americano, coexistem o controle da constitucionalidade de normas federais e estaduais com 
relação à Constituição Federal e de normas estaduais em relação às Constituições Estaduais. O referido sistema nasceu em 
1803, a partir do famoso caso Madison versus Marbury, no qual o Juiz Marshal, da Suprema Corte Americana, decidiu que é 
próprio da atividade jurisdicional interpretar e aplicar a lei, sendo que, em caso de contradição entre a legislação e a 
Constituição, o tribunal deve aplicar esta última por ser superior a qualquer outra espécie normativa (MORAES, 1988). Como 
ensina Barroso (2002, p. 27), “*...+ o controle incidental de constitucionalidade é atribuído difusamente aos órgãos do Poder 
Judiciário, que podem deixar de aplicar, nos casos concretos submetidos à sua apreciação, norma que considerem 
inconstitucional” 
 
No Brasil, pode-se asseverar que os sistemas americano (concentrado) e o austríaco (difuso) coexistem. O controle difuso ou 
concreto ocorre no momento da aplicação da norma jurídica ao caso concreto, motivo pelo qual é também denominado de 
“via de exceção, de defesa ou incidental”, caracterizandose pela permissão de todo e qualquer juiz ou tribunal analisar a 
compatibilidade das normas jurídicas com a Constituição Federal, deixando de aplicar aquelas que entender incompatíveis. O 
controle concentrado, por sua sorte, constitui um sistema abstrato de controle de constitucionalidade que, 
independentemente de qualquer caso concreto, objetiva eliminar do ordenamento jurídico, definitivamente, uma norma 
contrária à Constituição Federal, sendo de relevo afirmar que este sistema de controle ocorre pela “via principal ou de ação”, 
por meio de ações de constitucionalidade propostas perante o Supremo Tribunal Federal. 
Portanto, no Brasil, o sistema concentrado constitui atribuição do Supremo Tribunal Federal, a cuja apreciação 
podem ser levadas várias espécies de ações de constitucionalidade, dentre as quais merece destaque a ação declaratória de 
inconstitucionalidade. 
A ação declaratória de inconstitucionalidade, mais propriamente denominada ação direta de inconstitucionalidade, 
é proposta perante o Supremo Tribunal Federal somente pelas autoridades e órgãos legitimados (art. 103 da CF/1988) e tem 
por causa pedir a antinomia de uma norma inferior em relação à Constituição Federal, por fundamento, a supremacia da 
Constituição, e por pedido, a declaração total ou parcial de nulidade de uma lei (MENDES, 1999). Além da ação direta de 
inconstitucionalidade, nosso sistema jurídico conhece ainda outras ações pertinentes à jurisdição constitucional. São elas: a 
ação declaratória de constitucionalidade, estabelecida pela Emenda Constitucional nº. 3, de 17 de março de 1993, por razões 
de segurança jurídica e com o fim precípuo de proporcionar um mecanismo jurisdicional para aniquilar eventuais dúvidas 
quanto à validade das normas jurídicas que lhe são objeto (MORAES, 1988); a ação declaratória de inconstitucionalidade por 
omissão (art. 103, § 2º. da CF/1988), com caráter mandamental, caracterizado na determinação de que o Poder competente 
considerado omisso tome todas as medidas necessárias para tornar efetiva norma constitucional (MENDES, 1999); e dois 
casos especiais, que são a arguição de descumprimento de preceito fundamental (art. 102, § 1º da CF/1988) e a ação direta 
de inconstitucionalidade interventiva (art. 36, III da CF/1988). 
 
Antinomias: é a contradição entre duas normas de um mesmo sistema jurídico. Quando a antinomia de uma norma ocorre 
em relação à outra hierarquicamente superior, aparecem os vícios da inconstitucionalidade e da ilegalidade. 
Constitucionalidade: é a conformidade de uma norma jurídica do sistema com as normas de estatura constitucional. 
Legalidade: consiste na adequação dos atos executivos e judiciais às normas jurídicas infraconstitucionais, bem como no 
vínculo de subordinação hierárquica entre as normas infraconstitucionais de diferentes níveis. 
Poder constituinte: é o poder de elaborar e promulgar as normas fundamentais e hierarquicamente superiores do sistema 
jurídico, que são as normas constitucionais. O poder que promulga o texto original de uma Constituição é denominado poder 
constituinte originário, ao passo que o poder de alterar normas constitucionais é conhecido como poder constituinte 
derivado reformador. 
 
 
Tema 5: A Proteção dos Direitos Fundamentais: a proteção contra o administrador 
 
Se o Estado é o maior potencial violador dos direitos humanos fundamentais e, como vimos na aula passada, as 
violações podem ocorrer por parte do legislador, nesta aula você vai ficar sabendo que os agentes políticos e administrativos 
do Poder Executivo é que são responsáveis pela maioria dos atos que violam direitos humanos fundamentais. Daí a 
importância de se estudar a proteção dos direitos humanos fundamentais contra o Administrador, tópico que permeará os 
nossos estudos na presente aula-tema. Entre os sistemas de proteção contra atos do Administrador é fundamental destacar 
os sistemas judiciais, com ênfase para o adotado no Brasil, que é o sistema inglês ou de jurisdição única, e especial menção 
para os writs constitucionais manejados para defesadesses direitos, tais como habeas corpus e mandado de segurança. Além 
disso, outros órgãos de fiscalização e controle da atividade estatal também serão abordados, com destaque para o Ministério 
Público. 
 
A Proteção dos Direito Fundamentais: a proteção contra o administrador 
 
Não é novidade, pois já foi abordado em aulas anteriores, que o Estado é, potencialmente, o maior violador dos 
direitos humanos fundamentais. No que tange à proteção dos direitos fundamentais contra atos do legislador, mereceram 
destaque a supremacia da Constituição e o papel dos sistemas de controle de constitucionalidade em face de normas 
inconstitucionais. 
 Ocorre que o Poder Legislativo não é o único Poder do Estado que pode cometer essas violações. Muito mais do que 
dos legisladores, é por parte dos administradores públicos que se dá a maioria dos atos que importam violação a direitos 
humanos fundamentais, cabendo salientar que esses atos são praticados não só por parte dos agentes políticos, tais como 
chefes do Poder Executivo, ministros e secretários, como também por parte de agentes administrativos de todos os níveis 
hierárquicos da Administração Pública. Vale aqui citar diversos exemplos de violações de direitos humanos de todas as 
gerações, tais como prisões ilegais pela polícia, negativa de matrícula em escolas públicas, falta de atendimento ou de 
fornecimento de medicamentos em unidades de saúde, omissões do Poder Público quanto à preservação do meio ambiente 
etc. 
 Cabe ressaltar que o Poder Executivo, para o exercício de sua atividade administrativa, possui inúmeras 
prerrogativas, que são os chamados poderes administrativos, tais como poder de polícia e poder disciplinar. O uso dos 
poderes administrativos é uma prerrogativa que a Administração possui, devendo ocorrer sempre em benefício da 
coletividade, em prol do interesse público, segundo as normas legais, a moral, a finalidade pública. Quando isso não se dá, 
ocorre o chamado abuso de poder, que pode ocorrer em duas vertentes: 
 
1ª Excesso de poder: ocorre quando o agente age fora dos limites de sua competência, extrapolando o que lhe é permitido, 
violando o elemento competência do ato administrativo. Por exemplo: o agente policial que realiza uma prisão ilegal. 
2ª Desvio de poder ou desvio de finalidade: ocorre quando a autoridade competente, atuando dentro dos limites, pratica o 
ato por motivos ou com finalidade diversa da estabelecida em lei ou exigida pelo interesse público. Por exemplo: a 
desapropriação de um imóvel sem que haja interesse público que a justifique. 
 
Além disso, deve ser ressaltado que o abuso de poder pode ocorrer tanto na forma comissiva (por meio de uma 
ação positiva) quanto na omissiva (por uma omissão), como é o caso da negativa de atendimento de um cidadão em uma 
unidade básica de saúde 
 
Sistemas judiciais de proteção contra atos do Administrador 
 
Diante da figura do Estado, por meio de seus órgãos e agentes públicos, como potencial violador dos direitos 
humanos fundamentais, torna-se importante expor que o próprio Estado, paradoxalmente, precisa se organizar para 
estabelecer um sistema de proteção em face de atos do Administrador. De acordo com Ferreira Filho (2012), existem vários 
sistemas de proteção contra o Administrador, os quais podem ser encontrados no direito comparado. Constituem regimes 
adotados pelo Estado para a correção dos atos administrativos ilegais ou ilegítimos praticados pelo Poder Público. Entre eles, 
vamos destacar os dois principais do ponto de vista histórico e de influência sobre os sistemas administrativos do mundo 
inteiro. E ainda mencionar um terceiro, que também é citado por Ferreira Filho (2012). 
 
Sistema francês ou do contencioso administrativo 
 
 No âmbito desse sistema deve-se citar a existência de duas jurisdições distintas, a comum para os litígios em geral e 
a administrativa para qualquer conflito envolvendo a Administração. No sistema francês, apenas a jurisdição administrativa é 
que pode dirimir os conflitos em matéria administrativa, não se podendo recorrer ao Poder Judiciário. Na França há, de um 
lado, a estrutura do contencioso administrativo, em que o Conselho de Estado, no ápice da hierarquia, revê as decisões dos 
Tribunais Administrativos e ainda controla a legalidade dos atos do Tribunal de Contas, do Conselho Superior da Educação 
Nacional e da Corte de Disciplina Orçamentária. 
 Do outro lado, tem-se a Justiça Comum, competente para julgar todos os demais litígios, isto é, aqueles que não 
envolvam a Administração Pública. Surgindo qualquer conflito, ele deverá ser julgado pelo Tribunal de Conflito, formado por 
dois Ministros de Estado, três conselheiros do Conselho de Estado e três membros da Corte de Cassação. 
 
Sistema inglês, sistema judiciário ou de jurisdição única 
Embora tenha origem na Inglaterra, encontra seu principal expoente nos Estados Unidos da América, onde 
prevalece a rule of law, ou seja, a supremacia da lei, com todos se submetendo à jurisdição da Justiça Ordinária, do Poder 
Judiciário, inclusive o Administrador Público. 
 Atenção que, no Sistema Judiciário, nada impede que existam órgãos de julgamento ou tribunais administrativos. 
Apenas que estes não profiram decisões definitivas e conclusivas. Somente as decisões do Poder Judiciário é que fazem coisa 
julgada. As administrativas podem ser revistas ou anuladas pelo Poder Judiciário, sempre que afrontarem a lei e violarem 
direitos fundamentais. Eis o sistema adotado pelo Brasil, desde a Constituição de 1891, até hoje. 
 
O Direito brasileiro e os writs constitucionais 
 
Não existe no Brasil o chamado contencioso administrativo. Há, é verdade, decisões proferidas pelos órgãos administrativos 
de julgamento, mas não fazem coisa julgada, isto é, não são definitivas e podem ser contestadas pelo Poder Judiciário, até 
porque, nos termos do artigo 5º, inciso XXXV da Constituição Federal, “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário 
lesão ou ameaça a direito”. 
 
Portanto, sempre que um particular se sentir prejudicado, ele poderá recorrer ao Poder Judiciário, sendo curioso anotar que 
só a Administração é que está impedida de buscar a Justiça para alterar uma decisão por ela mesma proferida que tenha 
beneficiado o administrado, o que se dá por absoluta falta de interesse de agir. Sabendo-se que o sistema brasileiro é o 
Sistema Inglês ou Sistema Judiciário ou de Jurisdição Única, é interessante pontuar que a própria ordem constitucional 
contempla um sistema de writs, terminologia de origem inglesa que se refere a ações especiais tendentes à obtenção de 
ordens jurídicas escritas para a defesa de direitos específicos. Apelidados pela comunidade jurídica de remédios heroicos, os 
writs garantidos em nossa Constituição são os seguintes: 
 
Habeas corpus: sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de 
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder (CF, art. 5º, LXVIII). Habeas data: concedido: a) para assegurar o 
conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades 
governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, 
judicial ou administrativo (CF, art. 5º, LXXII). Mandado de segurança: será concedido para proteger direito líquido e certo, 
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade 
pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público (CF, art. 5º, LXIX). Mandado de segurança 
coletivo: poderá ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, 
entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos 
interesses de seus membros ou associados (CF, art. LXX). Mandado de injunção: sempre que a falta de norma 
regulamentadora torne inviável o exercício dosdireitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à 
nacionalidade, à soberania e à cidadania (CF, LXXI). 
 
Um importante antecedente do mandado de segurança, citado por Ferreira Filho (2012, p. 105-106), é o amparo mexicano, 
consagrado na Constituição de 1917, que, entre outras finalidades, serve para proteção do indivíduo “contra atos que violem 
as garantias individuais”. 
 
Órgãos de Fiscalização e Controle da Atividade Estatal 
 
No sistema de fiscalização e controle da atividade estatal, é importante mencionar a existência de órgãos independentes que 
exercem papéis fundamentais. Um importante precedente foi a Procuratura soviética, o Ombudsman, originário da Suécia e 
o Ministério Público, consagrado no sistema brasileiro. Assim, a missão constitucional de proteção aos direitos humanos 
fundamentais em face de atos da Administração não ficou restrita ao Poder Judiciário. Nesse ponto é fundamental dar ênfase 
ao relevante papel exercido pelo Ministério Público (CF, art. 127), entidade autônoma, inclusive com mandato garantido ao 
seu Chefe, o Procurador-Geral (CF, art. 128). 
 
O Ministério Público, por meio dos Procuradores e Promotores de Justiça, é responsável por exercer várias funções 
relacionadas à defesa dos direitos fundamentais, com destaque para as atribuições de promover o inquérito civil e a ação 
civil pública, para proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (CF, 
art. 129, III). 
 
Ombudsman: órgão de controle e fiscalização estatal, atribuído a um ou mais indivíduos, com amplos poderes de 
investigação e de recomendação (FERREIRA FILHO, 2012, p. 107). Poder de polícia: poder-dever da Administração Pública 
restringir o exercício de direitos em razão do interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à 
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do 
Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos, conforme 
delineado no artigo 78 do Código Tributário Nacional. Poder disciplinar: é a prerrogativa pela qual a Administração apura as 
infrações e aplica as penalidades ao infrator, que pode ser um servidor público ou particular sujeito à disciplina 
administrativa. Procuratura: órgão da antiga União Soviética, comparável ao Ministério Público brasileiro, ao qual incumbia a 
supervisão da execução estrita e uniforme das leis por todos, entes públicos, organizações sociais e indivíduos (FERREIRA 
FILHO, 2012, p. 108). 
 
 
Tema 6: Os Direitos Fundamentais na Constituição Brasileira 
 
É chegado o momento de estudar os direitos humanos fundamentais positivados na ordem jurídica interna brasileira. 
Conforme exposto ao longo da apresentação das três gerações de direitos humanos, os direitos declarados na Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1798, e na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 1948, foram 
sendo, gradativamente, enunciados e garantidos nas Constituições dos Estados de Direito. No Brasil, a tradição constitucional 
sempre foi da declaração de direitos fundamentais, o que se repetiu com diferenciais na Constituição Federal de 1988 que, 
além das liberdades, direitos políticos e direitos sociais, econômicos e culturais, também passou a contemplar os direitos de 
solidariedade. Nesta aula, portanto, o objetivo é dissecar a sistematização dos direitos humanos fundamentais na 
Constituição Federal de 1988. 
 
Os Direitos Fundamentais na Constituição Brasileira 
 
 A declaração de direitos fundamentais constitui tradição constitucional brasileira, mas ganhou novos contornos com 
a Constituição Federal de 1988. Segundo se depreende dos estudos de Ferreira Filho (2012), a declaração de direitos 
fundamentais constitui traço comum em todas as constituições brasileiras, sendo que, a partir de 1934, acrescentaram-se os 
direitos sociais às liberdades públicas e, agora, na Constituição de 1988, acrescentaram-se os direitos da solidariedade. 
 Além disso, o mesmo jurista enumera três pontos inovadores no novo texto constitucional promulgado em 1988: 
1. Os direitos fundamentais são enunciados antes da estruturação do Estado, o que representa uma inversão em relação às 
constituições anteriores e marca a preeminência dos direitos humanos na visão do Poder Constituinte. 2. Tratamento dos 
direitos fundamentais de primeira e segunda geração no Título II (Direitos e Garantias Fundamentais) na seguinte sequência: 
1º) Direitos individuais e coletivos; 2º) Direitos sociais; 3º) Nacionalidade, direitos políticos e partidos políticos. 
3. A Constituição aponta direitos fundamentais em outros pontos, como ocorre com as limitações ao poder de tributar do 
capítulo do Sistema Tributário Nacional (CF, art. 145 e ss). 
 
 
 
A enumeração exemplificativa do artigo 5º da Constituição Federal de 1988, os direitos implícitos e os decorrentes de 
tratados internacionais. 
 
A Constituição de 1988 contempla em seu sistema as três gerações de direitos humanos, como você pode ver no Quadro: 
 
 
 
 
 
 
 
Portanto, a enumeração de direitos do artigo 5º é meramente exemplificativa. E isso acontece, primeiramente, porque os 
direitos e garantias estão expressos em toda a Constituição, como é o caso dos direitos e garantias fundamentais relativos à 
tributação, enunciados no capítulo constitucional relativo ao Sistema Tributário Nacional, entre eles: 
 
Capacidade contributiva (art. 145, § 1º): sempre que possível os impostos terão caráter pessoal e serão graduados de acordo 
com a capacidade econômica do contribuinte. 
 
Legalidade tributária (art. 150, I): é vedado às pessoas políticas criar ou aumentar tributos sem que lei o estabeleça. 
 
Isonomia tributária (art. 150, II): é vedado instituir tratamento desigual entre contribuintes em situações equivalentes. 
 
Em segundo lugar, há direitos e garantias fundamentais implícitos, que decorrem do regime e dos princípios, muitas vezes 
estabelecidos no próprio artigo 5º, mas, outras tantas, decorrentes de outros dispositivos espalhados por toda a 
Constituição. Por exemplo, um direito fundamental muito importante, que está implícito na Constituição, é o direito ao 
sigilo. 
 
Embora não esteja expresso e decorra do direito à privacidade e à intimidade, previsto no artigo 5º, inciso X, constitui a base 
para outros direitos fundamentais, como o sigilo da fonte de informações, estabelecido no artigo 5º, inciso XIV e o sigilo da 
correspondência e das comunicações telegráfi cas, de dados e das comunicações telefônicas, objeto do artigo 5º, inciso XII. 
Outro princípio que está implícito e decorre de diversas normas disseminadas por todo o texto constitucional é o princípio da 
segurança jurídica, que se fundamenta tanto no artigo 5º, como ocorre com a norma que protege o direito adquirido, o ato 
jurídico perfeito e a coisa julgada (CF, art. 5º, XXXVI), como também, por exemplo, no artigo 150, inciso III, da Constituição, 
que trata dos princípios da irretroatividade e da anterioridade da norma tributária, segundo os quais é vedado à União, aos 
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da 
vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) n o mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei 
que os instituiu ou aumentou; c) a ntes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu 
ou aumentou. Em relação aos direitos sociais e econômicos não é diferente. O artigo 6º da Constituição enumera os direitos 
sociais, mas há outros deles implicitamente garantidos em outros dispositivos constitucionais, como são os casos: 
 
- Do direito ao trabalho digno, decorrente do artigo 7º 
 
- Do direito à seguridade social que, conjugando direitos enunciados no artigo 6º, é reconhecido com todas as letras no artigo 
194, compreendendo saúde, previdência e assistênciasocial. 
 
Outro exemplo é o princípio da livre iniciativa, que se encontra enunciado no artigo 170, parágrafo único da Constituição 
Federal, que tem a seguinte redação: “É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, 
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”. Por fim, têm-se os direitos e 
garantias fundamentais decorrentes dos tratados internacionais sobre direitos humanos de que o Brasil seja signatário. Esses 
tratados, por dizerem respeito a direitos humanos fundamentais, podem ser internalizados com estatura de normas 
constitucionais, isto é, admitidos na ordem jurídica interna com status de Emendas Constitucionais, consoante dispõe 
expressamente o § 3º do artigo 5º da Constituição: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que 
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, 
serão equivalentes às emendas constitucionais”. Atenção para a necessidade de ratificação do tratado mediante quórum 
qualificado de 3/5 do Congresso Nacional, o que significa dizer que os tratados de direitos humanos podem ser ratificados 
sem estatura constitucional se a ratificação ocorrer mediante aprovação de maioria simples do Congresso. Um exemplo 
decorrente de tratado internacional, aliás já abordado em aulas anteriores, é a proibição da prisão por dívidas, exceto se for 
originária de pensão alimentícia, consagrada na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto 
de São José da Costa Rica. Outro exemplo advém de recentíssima jurisprudência do STF, como se pode identificar no seguinte 
acórdão: 
 
A ordem constitucional brasileira, inaugurada em 1988, trouxe desde seus escritos originais a preocupação com a 
proteção das pessoas portadoras de necessidades especiais, construindo políticas e diretrizes de inserção nas diversas 
áreas sociais e econômicas da comunidade (trabalho privado, serviço público, previdência e assistência social). 
Estabeleceu, assim, nos arts. 227, § 2º, e 244, a necessidade de se conferir amplo acesso e plena capacidade de 
locomoção às pessoas com deficiência, no que concerne tanto aos logradouros públicos, quanto aos veículos de 
transporte coletivo, determinando ao legislador ordinário a edição de diplomas que estabeleçam as formas de 
construção e modificação desses espaços e desses meios de transporte. Na mesma linha afirmativa, há poucos anos, 
incorporou-se ao ordenamento constitucional a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 
primeiro tratado internacional aprovado pelo rito legislativo previsto no art. 5º, § 3º, da CF, o qual foi internalizado por 
meio do Decreto presidencial 6.949/2009. O art. 9º da convenção veio justamente reforçar o arcabouço de proteção do 
direito de acessibilidade das pessoas com deficiência. (STF – ADI 903, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em 22-5- 2013, 
Plenário, DJE de 7-2-2014). 
 
Aplicabilidade imediata 
Nos termos do artigo 5, § 1º da Constituição Federal, as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm 
aplicação imediata. Entretanto, fica a crítica de Ferreira Filho (2012) no sentido de que a aplicabilidade imediata fica 
inviabilizada quando a norma constitucional veiculadora do direito ou garantia fundamental estiver incompleta. Ocorre, por 
exemplo, no mandado de injunção (CF, art. 5º, LXXI), em que a previsão do remédio constitucional restringe-se a enunciar o 
cabimento quando a falta de norma regulamentadora tornar inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e 
das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, sem que, contudo, estabeleça o procedimento 
aplicável. 
 
Colisão de direitos 
Uma possibilidade importante a se considerar diz respeito à colisão de direitos fundamentais enunciados. Não há no texto da 
Constituição uma solução pronta e acabada para a colisão entre direitos fundamentais, de modo que, para solução de 
conflitos dessa espécie há de se sopesar qual o direito mais importante, tarefa que incumbe ao legislador no momento da 
elaboração da lei e também ao Poder Judiciário na interpretação e aplicação das normas de direitos humanos fundamentais 
em cada caso concreto, valendo-se do princípio da proporcionalidade. 
 
Classificações dos direitos fundamentais 
Há várias classificações doutrinárias dos direitos fundamentais que são citadas por Ferreira Filho (2012). Duas de grande 
importância são as classificações quanto ao objeto e quanto ao titular 
 
Quanto ao objeto: liberdades, direitos de crédito, direitos de situação e direitos de garantia. 
Quanto ao titular: individuais, de grupo, coletivos e difusos. 
 
Cláusulas pétreas 
Por fim, em Constituições como a brasileira, deve-se ressaltar a existência de normas impassíveis de modificação, conforme 
detalha Roque Carrazza em comentários sobre a supremacia constitucional pátria: 
A supremacia da Constituição brasileira também vem resguardada por sua rigidez. Pode, é certo, ser emendada, mas só 
por meio de um procedimento especial (art. 60, I a III e §§ 1º. a 5º.), respeitadas as cláusulas pétreas (cerne fixo da 
Carta Magna, a teor de seu art. 60, § 4º., I a IV), inclusive as que consagram direitos do contribuinte e suas garantias. 
Sobremais, nossa Constituição não pode ser emendada na vigência de intervenção federal, estado de defesa ou sítio. 
(CARRAZA, 2002, p. 28). 
 
Nessa direção, não serão objeto de apreciação as propostas, seja de quem for a iniciativa, tendentes à abolição da forma 
federativa de Estado, do voto direto, secreto, universal e periódico, da separação dos Poderes e dos direitos e garantias 
individuais (CF, art. 60, § 4º). E, portanto, entre as cláusulas pétreas, estão os direitos e garantias individuais explícitos e 
implícitos na Constituição. 
 
Liberdades: são poderes de fazer (ações), tais como o direito de ir e vir, ou não fazer (omissões), a exemplo do direito do 
preso permanecer calado (FERREIRA FILHO, 2012, p. 128). 
Direitos de crédito: são direitos de reclamar alguma coisa, em geral, contraprestações positivas do Estado, a exemplo dos 
direitos à saúde, educação, trabalho e segurança (FERREIRA FILHO, 2012, p. 128). 
Direitos de situação: são direitos de exigir um status, uma situação a ser preservada ou restabelecida, como são os direitos 
ao meio ambiente sadio, à paz e à autodeterminação dos povos (FERREIRA FILHO, 2012, p. 128). Direitos de garantia: são 
garantias instrumentais, que constituem poderes de mobilizar o Estado, em especial o Poder Judiciário em defesa de outros 
direitos, tais como o mandado de segurança e o habeas corpus, ou garantias-limites, que são poderes de exigir que não se 
faça algo, a exemplo dos direitos de não sofrer censura, de não ser expropriado sem justa indenização (FERREIRA FILHO, 
2012, p. 128). 
Direitos individuais: aquele cujo titular é um ser humano, um indivíduo, uma pessoa física, ou mesmo uma pessoa jurídica 
(FERREIRA FILHO, 2012, p. 128). 
Direitos de grupo: conceituados no artigo 81, parágrafo único, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor com a 
denominação de direitos individuais homogêneos, constituem uma agregação de direitos individuais que possuem origem 
comum (FERREIRA FILHO, 2012, p. 128). 
Direitos coletivos: conceituados no artigo 81, parágrafo único, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor, são direitos de 
que o titular é uma coletividade (povo, categoria, classe etc.), vinculados entre si por uma relação jurídica básica (FERREIRA 
FILHO, 2012, p. 128). 
 Direitos difusos: conceituados no artigo 81, parágrafo único, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor, são direitos 
transindividuais de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato, 
ou seja, direitos sem individualização, reconhecidos a uma série indeterminada de pessoas (FERREIRA FILHO, 2012, p. 128). 
São os casos do direito ao meio ambiente sadio

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