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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM SUZAYNNE TORRES FREITAS NUNES AÇÕES DA ENFERMAGEM NA ESTRETÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍIA ACERCA DA VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS São Gonçalo 2019 SUZAYNNE TORRES FREITAS NUNES AÇÕES DA ENFERMAGEM NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA ACERCA DA VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS São Gonçalo 2019 Projeto apresentado à disciplina de Trabalho de conclusão de curso do curso de enfermagem da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO, como parte dos requisitos para conclusão do curso. Orientador: Ms. Nelson Carvalho Andrade FICHA CATALOGRÁFICA Torres, Suzaynne. Ações da enfermagem na estratégia de saúde da família acerca da violência contra idosos. São Gonçalo, RJ, 2019. 00 p. Monografia apresentada à Universidade Salgado de Oliveira. Graduação em Enfermagem Orientador: Ms. Nelson Carvalho Andrade. 1. Idoso 2. Envelhecimento 3. Saúde do idoso 4. Atenção Primária à Saúde FOLHA DE APROVAÇÃO SUZAYNNE TORRES FREITAS NUNES AÇÕES DA ENFERMAGEM NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA ACERCA DA VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS Monografia apresentada ao curso de Enfermagem da Universidade Salgado de Oliveira, como parte dos requisitos para conclusão do curso. Aprovada: ____∕____∕_______. _____________________________________________ Ms. Nelson Carvalho Andrade Professor Orientador DEDICATÓRIA Há Deus, o maior orientador da minha vida. Ele nunca me abandonou nos momentos de necessidade, me proporcionou esse momento único em minha vida e me deu força para concluir essa etapa importante da minha vida. Sem a direção dada por Deus, a conclusão deste trabalho não seria possível. AGRADECIMENTOS Agradeço a minha mãe pelo carinho, afeto, dedicação e cuidado que me deu durante toda a minha existência, você é o pilar da minha formação como ser humano, esta monografia é a prova de que todo seu investimento e dedicação valeram a pena. Agradeço imensamente aos amigos que Deus me deu na durante a graduação, que Deus abençoe vocês e continuem iluminando seus caminhos, que na vida de vocês jamais se esgotem a sabedoria, a paciência, a saúde e a paz. Agradeço ao professor Ms. Nelson Carvalho Andrade por ser uma constante fonte de motivação e incentivo ao longo do projeto. Meu sincero agradecimento a todos que fazem parte da minha vida e que me apoiam e torcem por meu sucesso profissional. Porque Sou Eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro. Jeremias 29:11 RESUMO Objetivo: Analisar as concepções dos profissionais de enfermagem atuantes em Unidades Básicas de Saúde quanto à detecção e prevenção de idosos violentados. Método: Estudo descritivo e exploratório com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado em quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS), sendo que uma delas também funciona como Ambulatório de Referência ao Programa Saúde da Família (PSF); As UBS referenciadas na pesquisa estão localizadas nos Municípios de São Gonçalo e Itaboraí – RJ, utilizando roteiro de entrevista semiestruturada, em agosto a novembro de 2019. Resultados: Identificaram-se 5 categorias: “Despreparo da equipe de enfermagem frente a idosos violentados”; “Capacitação da enfermagem para a identificação de indícios de violência contra o idoso”; “Acolhimento da enfermagem à pessoa idosa vitima de violência no meio intrafamiliar”; “A responsabilidade do enfermeiro diante da notificação dos casos de violência contra idosos”; “Posicionamento da equipe de enfermagem da Unidade Básica de Saúde frente á notificação de violência ao idoso”. Conclusão: Portanto, conclui-se que a estrutura funcional e a falta de capacidade em gerontogeriatria tem dificultado o trabalho e limitado às funções da equipe de enfermagem, que são profissionais estratégicos dentro das equipes de saúde para o combate à violência contra a pessoa idosa. Palavras chave: Idoso; Envelhecimento; Saúde do idoso; Atenção Primária à Saúde; Necessidades e demandas de serviços de saúde. ABSTRACT Objective: To analyze the conceptions of nursing professionals working in Basic Health Units regarding the detection and prevention of abused elderly. Method: Descriptive and exploratory study with qualitative approach. The study was conducted in four Basic Health Units (BHU), one of which also functions as a Family Outpatient Referral Clinic (PSF); The BHUs referenced in the research are located in the municipalities of São Gonçalo and Itaboraí - RJ, using a semi-structured interview script, from August to November 2019. Results: We identified 5 categories: “Nursing team's lack of preparation in relation to abused elderly”; “Nursing training to identify evidence of violence against the elderly”; “Nursing welcoming to the elderly victim of violence in the family environment”; “The nurse's responsibility when reporting cases of violence against the elderly”; “Positioning of the nursing staff of the Basic Health Unit regarding notification of violence to the elderly”. Conclusion: Therefore, it is concluded that the functional structure and lack of capacity in gerontogeriatrics makes the work difficult and limits the functions of the nursing team, which are strategic professionals within health teams to combat violence against the elderly. Key words: Elderly; Aging; Health of the elderly; Primary Health Care; Needs and demands of health services. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 1. OBJETIVOS .............................................................................................................. 13 1.1 OBJETIVO GERAL. ..................................................................................................... 13 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS. ......................................................................................... 13 1.3 HIPÓTESE. ............................................................................................................... 13 1.4 JUSTIFICATIVA. ......................................................................................................... 13 2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................... 15 2.1 PROCESSOS DE ENVELHECIMENTO E CERCA DA VIOLÊNCIA........................................... 15 2.2 TIPOS DE VIOLÊNCIAS ............................................................................................... 19 2.3 A ENFERMAGEM NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA ............................................... 21 2.4 FORMAS DE PREVENÇÃO/COMBATE À VIOLÊNCIA. ........................................................ 23 2.5 ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PARA IDENTIFICAR A VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO. ................. 24 2.5.1 Plano de ação .................................................................................................... 24 3 METODOLOGIA DA PESQUISA .............................................................................. 27 3.1 Cenário da pesquisa . ............................................................................................ 28 3.2 ASPECTOS ÉTICO E LEGAL. ........................................................................................ 28 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .................................................................. 30 4.1 DESPREPARO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM FRENTE A IDOSOS VIOLENTADOS ................. 30 4.2 CAPACITAÇÃO DA ENFERMAGEMPARA A IDENTIFICAÇÃO DE INDÍCIOS DE VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO ..................................................................................................... 31 4.3 ACOLHIMENTO DA ENFERMAGEM À PESSOA IDOSA VITIMA DE VIOLÊNCIA NO MEIO INTRAFAMILIAR. ........................................................................................................ 31 4.4 A RESPONSABILIDADE DO ENFERMEIRO DIANTE DA NOTIFICAÇÃO DOS CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS. ...................................................................................................... 32 4.5 POSICIONAMENTO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE FRENTE Á NOTIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIA AO IDOSO.. ...................................................................... 33 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................ 34 6 DISCUSSÃO ............................................................................................................. 35 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 37 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39 APÊNDICES ............................................................................................................. 44 APÊNDECE A – ENTREVISTAS ........................................................................... 44 ANEXOS .............................................................................................................................. 68 ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................................. 68 ANEXO B – FICHA DE NOTIFICAÇÃO INDIVIDUAL ........................................................ 69 ANEXO C – CADERNETA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA ............................................... 71 10 INTRODUÇÃO Segundo o dicionário Aurélio, “Violência” significa abuso da força, tirania; opressão, constrangimento exercido sobre alguma pessoa para obrigá-la a fazer um ato qualquer; coação. Além das crianças, os idosos também são vitimados pela violência, possivelmente pela fragilidade adquirida com o avançar da idade, passando a exigir mais cuidados, criando uma situação de dependência. As agressões domésticas, segundo Minayo (2003), ocorrem em número infinitamente maior do que a violência institucional. Por esse e por outros motivos, em primeiro de outubro de 2003, entrou em vigor a Lei 10.741 conhecida como Estatuto do Idoso, onde estão previstas garantias com a finalidade de proteger as pessoas de mais idade. A violência contra a pessoa idosa é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como ações ou omissões cometidas de forma isolada ou repetidamente, prejudicando a integridade física e emocional do idoso e impedindo o seu desempenho social (OMS, 2002). Já o Estatuto do Idoso, em seu capítulo IV, artigo 19, a conceitua como qualquer ação ou omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico (BRASIL, 2003). Desde 2006, o dia 15 de junho é lembrado como dia mundial de conscientização da violência contra a pessoa idosa. A data, que foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa. Em 2017, o Ministério dos Direitos Humanos contabilizou mais de 33 mil denúncias de abusos e agressões contra idosos (ONU, 2018). A mais comum no Brasil é a física (58,9%), seguida da psicológica (26,7%), e da negligência e abandono, que trata da omissão de cuidados básicos, como a privação de medicamentos, alimentação, descuido com a higiene, ausência de proteção contra frio e calor (24,9%). Entretanto, ainda existem outros tipos de violência pouco conhecidos, como a econômico-financeira e patrimonial e sexual, e a autoagressão e autonegligência, quando o idoso violenta a si mesmo (MS, 2016). 11 Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) O envelhecimento populacional no Brasil vem crescendo de forma acelerada devido ao declínio da fecundidade, a sociedade tem estabelecido valorizar a pessoa idosa lhe dando mais atenção, cuidado, aumentando a expectativa de vida. A partir desta concepção, foram elaboradas perguntas que alavancaram a referida pesquisa: “O que pode ser feito para prevenir casos futuros de violência contra a pessoa idosa?”; “Qual a importância da equipe de Enfermagem na investigação de possíveis agressões?” e “Quais condutas apropriadas que a Enfermagem deve tomar adiante a um idoso, quando seus agressores são do meio intrafamiliar?”. O Ministério da Saúde promove diversas ações por meio da área de Saúde da Pessoa Idosa, em parceria com a Coordenação Geral de Doenças Não Transmissíveis, nos estados e municípios. Entre elas, oficinas de capacitação de prevenção à violência em idosos, por meio de cursos EAD e presenciais. No período de 2012 a 2015, foram realizadas 19 oficinas em diferentes estados, sendo capacitados 2.231 profissionais da atenção básica e de outros setores que atuam na rede de proteção contra a violência (MS, 2016). A enfermagem que tem o primeiro contato com o idoso, por isso são os principais profissionais que podem detectar se há algum tipo de violência, proporcionando prevenção, detecção precoce e acompanhamento. É necessário que o profissional tenha envolvimento, humanização e compreensão com a violência e com os próprios idosos. É importante que a atenção e o cuidado não sejam mecanizados, ouvir suas queixas, histórias, humanizar as relações entre enfermeiro e usuários, escutar seus problemas, ser ético e atento a fim de transmitir segurança. Estes profissionais devem possibilitar o acesso universal e contínuo à saúde de qualidade resolutiva, os serviços devem ser organizados para assumir sua função central de acolher, escutar e oferecer respostas positivas capazes de minimizar sofrimentos. Uma boa relação entre enfermeiro-idoso-família se torna importante para conquistar confiança e favorecer o diálogo do idoso com o profissional, possibilitando bons resultados na coleta de dados e a identificação precoce da violência. De acordo com D'Oliveira & Schraiber3 (1999), os profissionais tendem a compreender a violência doméstica como problemática que diz respeito à esfera da 12 Segurança Pública e à Justiça, e não à assistência médica. Jaramillo & Uribe14 (2001) observaram que a maioria das disciplinas da saúde não contempla em seus currículos e programas de educação continuada à formação e o treinamento dos aspectos relacionados com a violência. Por isso, profissionais de saúde não se encontram preparados para oferecer uma atenção que tenha impacto efetivo à saúde das vítimas. No entanto é necessário que a equipe seja treinada para identificar e denunciar situações de risco ou de violência contra o idoso. Promovendo assistência às necessidades de saúde do idoso, extensiva aos âmbitos ambulatorial e domiciliar. Os profissionais de saúde que interagem com idosos devem estar prontamente dispostos a investigar qualquer indício de violência doméstica, levando em consideração que muitas vezes o próprio idoso oculta o fato, por medo do agressor. Cabe à equipe multidisciplinar atuante na atenção primária intervir da melhor forma, buscando o auxílio para a resolução do problema, uma vez que vários casos são identificados por terceiros. A lei 10.741 de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, também, em seus artigos 19 e 57, expressa a responsabilidade dos profissionais de saúde em denunciar os casos de maus tratos que tiverem contato. Ao ser omisso o profissional nega estes direitos de proteção adquiridos pelos idosos, embora seja seu dever encaminhar estes casos para garantir proteção pelos órgãos competentes. É direito do idoso não serem tratados com discriminaçõesde nenhuma natureza, tendo direito também a cidadania e o Estado é responsável por garantir sua participação na comunidade, assim defendendo seu bem estar e direitos à vida. 13 1. OBJETIVOS 1.1 Objetivo geral Analisar as concepções dos profissionais de enfermagem atuantes em Unidades Básicas de Saúde quanto à detecção e prevenção de idosos violentados 1.2 Objetivos específicos Descrever a importância da equipe de enfermagem nas investigações de possíveis agressões e quais condutas os mesmos devem elaborar mediante a tais situações. Analisar as ações e cuidados diante casos de agressões e abusos cometidos no meio intrafamiliar. 1.3 Hipótese Identificar como a equipe de enfermagem atua no atendimento na Unidade de Saúde da Família ao idoso vitima de violências. Observar o grau de conhecimento que a equipe de enfermagem possui diante casos de agressões e violências contra idosos no Brasil. 1.4 Justificativa A mudança do perfil demográfico no cenário mundial e, de forma mais recente, no Brasil, tem, dentre suas manifestações, o aumento no número de idosos. Esse fenômeno traz consigo grande impacto social ao exigir mudanças desde o nível de políticas públicas até o núcleo familiar e suscita discussões e investigações sob diferentes óticas, nas mais variadas áreas de conhecimento. Uma das vertentes que vem a ser estudada no contexto nacional e internacional diz respeito à violência contra a pessoa idosa. (MENDES, 2005) Apesar dos avanços na ciência, na legislação e nas políticas públicas voltadas para a assistência no processo de envelhecimento, percebe-se que tanto as famílias de pessoas idosas quanto os cuidadores destas necessitam de instruções que permitam prepara de forma adequada, sistematizada e eficaz a prática do cuidado, minimizando, assim, o aumento da violência contra os idosos. 14 Portanto é fundamental orientar as políticas para um envelhecimento bem-sucedido, assim como para alterar o panorama de ensino dos profissionais de Enfermagem, é imprescindível conhecer a realidade da violência contra a terceira idade. Diante disso, despertou-se o interesse em analisar a atuação da equipe de enfermagem e compreender o contexto em que ocorre a violência contra os idosos não institucionalizados, empoderar o profissional de saúde e o torna capaz de, além de diagnosticar a violência, atuar de forma preventiva assistindo a esse grupo. 15 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Processos de envelhecimento e cerca da violência O Brasil envelhece de forma rápida e intensa. Segundo a Organização Mundial de Saúde (2015), o aumento na expectativa de vida, aliado as quedas evidentes de natalidade, está levando a um rápido envelhecimento da população mundial. O envelhecimento populacional é um fenômeno verificado por meio do aumento na proporção de pessoas idosas (60 anos e mais) resultante do declínio da fecundidade, da queda nas taxas de mortalidade e do aumento da expectativa de vida. Segundo o IBGE, a população idosa brasileira é composta por 29.374 milhões de pessoas, totalizando 14,3% da população total do país. A expectativa de vida em 2016, para ambos os sexos, aumentou para 75,72 anos, sendo 79,31 anos para a mulher e 72,18 para o homem. Esse crescimento representa uma importante conquista social e resulta da melhoria das condições de vida, com ampliação do acesso a serviços médicos preventivos e curativos, avanço da tecnologia médica, ampliação da cobertura de saneamento básico, aumento da escolaridade e da renda, entre outros determinantes. De acordo com o Ministério da Saúde (2015), o perfil epidemiológico da população idosa é caracterizado pela tripla carga de doenças com forte predomínio das condições crônicas, prevalência de elevada mortalidade e morbidade por condições agudas decorrentes de causas externas e agudizações de condições crônicas. A maioria dos idosos é portadora de doenças ou disfunções orgânicas, mas cabe destacar que esse quadro não significa necessariamente limitação de suas atividades, restrição da participação social ou do desempenho do seu papel social. No cenário internacional, a discussão sobre envelhecimento da população mundial teve como marco a aprovação do Plano Internacional para Envelhecimento, conduzido pela ONU, em Madri, no ano de 2002, que estabeleceu como objetivo garantir o envelhecimento seguro e digno para todas as populações do mundo com participação e lugar nas sociedades como cidadãos plenos de direitos (MS, 2017). 16 O processo de envelhecimento desenvolve no organismo humano diversas modificações, a saber: biológicas, psicológicas e sociais, evidenciando-se ainda mais com o avançar da idade. Para estudar o processo de envelhecimento, não podemos centrar-nos apenas numa das dimensões, pois todas interagem ao longo da vida e cada uma afeta e é afetada pelas outras. Idoso é aquele “que tem diversas idades: a idade do seu corpo, da sua história genética, da sua parte psicológica e da sua ligação com a sociedade” (Zimerman, 2000, p.19). Assim, o aumento das pessoas idosas apresenta desafios para a sociedade, cuidadores, profissionais e políticas de saúde, sociais e educativas. A cultura contemporânea concebe a juventude como padrão ideal de reconhecimento, saúde e vitalidade. Aspectos que podem ser percebidos através da valorização excessiva da imagem do ser jovem, a qual geralmente aparece associada à mídia ou ao imaginário das pessoas (BLESSMAN, 2004). Nesse sentido, para Beauvoir, citada pela mesma autora, o ser humano nunca vive somente sua natureza, independente da fase de sua vida, pois é influenciado pela a sociedade em que vive. Assim, na visão da sociedade contemporânea as contribuições que os idosos podem oferecer à coletividade são a experiência e a memória, pois possuem pouca força e saúde. Segundo Martins e Santos (2008), na sociedade ocidental, até o século XIX, o idoso ainda era considerado pelos mais jovens, por sua experiência e conhecimento adquiridos ao longo da vida. Porém, com o desenvolvimento de uma visão mais produtiva da sociedade, somada ao uso da tecnologia, o idoso foi se distanciando desta nova realidade. Para estes autores o idoso, com o passar do tempo, adquiriu uma desvalorização social uma vez que não é permitida sua participação nas relações interpessoais, de modo que este ator social tem compartilhado seu lugar de exclusão na sociedade com outros grupos como mulheres, negros, índios e pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Ao se pensar em uma sociedade cuja cultura valoriza o novo, ou seja, rosto e corpo jovem, a velhice pode ser considerada, em grande escala, um estigma para quem cruzou a linha do tempo admissível para o “belo”. Assim sendo, observa-se que a emergência da aparência envelhecida, que acontece na vida de todo ser humano, vai fazendo com que o idoso deixe de assumir um lugar de aceitação social para 17 ocupar um lugar de rejeição, um lugar estigmatizado. De tal modo, o termo estigma “é usado em referência a um atributo profundamente depreciativo” (GOFFMAN, 1963). Portanto, a vivência subjetiva do processo de envelhecimento, na medida em que é estigmatizada passa a representar uma ameaça à auto-estima do idoso, à aceitação de si, tornando-os vulneráveis a sofrimentos psíquicos. Com o objetivo de dar uma nova imagem à velhice, criou-se o termo Terceira Idade que, segundo Neri e Freire (2000), citadas por Schneider e Irigaray (2008), tem origem na França, na década de 1960, utilizada para descrever a idade em que a pessoa se aposentava. Este termo foi criado para garantir a atividade das pessoas depois da aposentadoria. Desta forma, o termo Terceira Idade foi designado como sendo uma fase intermediaria entre a vida adulta e velhice. Néri e Freire (2000), citadas por Schneider e Irigaray (2008), observam que existem outras expressões acercada velhice como "amadurecer” e "idade madura", termos estes utilizados para designar as mudanças ocorridas no organismo, bem como a conquista de papeis sociais e comportamentos considerados pertencentes ao adulto mais velho. De forma geral, nota-se que os termos e expressões apresentados têm o objetivo de “soar bem", revelando a existência de preconceitos sociais e negando a realidade do individuo, pois, caso contrário, se não existisse preconceito, não caberia criar diversos termos para se referir à velhice ou aos idosos. O envelhecimento ativo e saudável visa reconhecer as inúmeras capacidades e recursos das pessoas mais velhas e contribuir de forma significativa para a sua atividade produtiva, social, bem-estar e relações intergeracionais (Ramos, 2013). Esta abordagem pretende aperfeiçoar o processo de envelhecimento valorizando a importância da pessoa idosa se envolver socialmente, manter ativa a sua participação através de laços sociais com diferentes gerações, manter a sua atividade produtiva, remunerada ou não, através de bens e serviços tanto em contexto familiar como noutros contextos, sendo referência e apoio para os mais jovens (RAMOS, 2013). O EA baseia-se no reconhecimento dos direitos humanos das pessoas idosas e nos princípios da ONU, numa abordagem centrada nos direitos dos mais velhos à igualdade de oportunidades e participação na sociedade, através de interações promotoras da dignidade humana (WHO, 2002). 18 A Declaração Universal dos Direitos Humanos descreve no 1º artigo que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devendo agir uns para com os outros em espírito de fraternidade” e no 25º artigo refere que toda a pessoa tem direito a “um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar (…) à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice”. Constituindo assim, um código de valores que protegem o ser humano contra diferentes formas de violência. A discriminação baseada na idade tem impacto negativo na participação, saúde, bem-estar e dignidade das pessoas idosas. Em Portugal, a discriminação aumenta à medida que a idade avança, sendo os idosos os mais discriminados (Lima, Marques, Batista, & Ribeiro, 2010). A discriminação pela idade está relacionada com o idadismo e a violência, sendo a discriminação uma forma de violência (Win, 2012). O fenômeno violência parece não ter origem específico sendo recorrente e inesgotável, presente em todas as culturas e sociedades humanas. Há concepções da violência como parte da natureza humana, instituída na sociedade, definindo-se o ser humano como uma criatura naturalmente violenta. Existem várias compreensões entrelaçadas, mas diferenciadas entre si, que tentam explicar o fenômeno da violência nas relações humanas (FERNANDES; NITSCHKE; ARARUNA, 2006). “[...] a violência é lembrada desde o mito de origem bíblico, evidenciando-se a convivência da sociedade humana com as perenes disputas de poder, com os ódios e com a vontade de aniquilamento de uns pelos outros” (MINAYO, 2005, p. 10). Conforme a autora citada, a violência é um dos fenômenos que abrange, praticamente, todas as dimensões de uma sociedade e que vai estimular as alterações nas relações sociais e organização cotidiana. A violência contra idosos trata-se de um problema com consequências devastadoras para os idosos, pois acarreta baixa qualidade de vida, estresse psicológico, falta de segurança, lesões e traumas, bem como o aumento da morbidade e mortalidade. A violência contra o idoso é um ato (único ou repetido) ou omissão que lhe cause dano ou aflição e resulta, na maioria das vezes, em sofrimento, lesão, dor, omissão ou perda dos direitos humanos e redução da qualidade de vida do idoso. A OMS em 1996, na 49ª Assembleia Mundial de Saúde, declara a violência como uma prioridade de saúde pública. No relatório mundial sobre violência e saúde, a 19 violência é considerada um fenômeno complexo, um problema global que afeta pessoas de todas as idades, classes sociais, gêneros, religiões e culturas (WHO 2002b; Ramos, 2004). Uma forma de combater a discriminação e violência, é estimular e facilitar a participação dos idosos na sociedade e nos processos de decisão 12º CONGRESSO NACIONAL DE PSICOLOGIA DA SAÚDE 301 politica (Win, 2012). São vários os fatores que podem influenciar a violência, incluindo a história familiar de violência, em que o próprio idoso, já foi o agressor, a coabitação, a sobrecarga e stresse do cuidador familiar e a falta de recursos formais e informais, contribuem para a violência no contexto familiar (Gil, 2014). 2.2 Tipos de violências Conhecer as diferentes manifestações dos diversos tipos de violência contra a pessoa idosa é fundamental para uma intervenção, devendo a avaliação ser realizada por uma equipe multiprofissional preparada para a entrevista (BRASIL, 2007).. Os tipos de violência vivenciadas e/ou presenciadas pelas idosas, tais como a violência psicológica, física, financeira, abandono, negligência e menosprezo, vêm de encontro ao que referem alguns autores quando mencionam que a violência psicológica, física e roubo (enquadrada em tal estudo como violência financeira) são as formas prevalentes de violências causadas aos idosos (SANTANA et al., 2016).. Segundo diretrizes do Ministério da Saúde (2015), são passíveis de notificação de violência contra a pessoa idosa casos suspeitos ou confirmados de: Violência física (sevícia física, maus-tratos físicos ou abuso físico): atos violentos, nos quais se faz uso da força física de forma intencional, não acidental, com o objetivo de ferir, lesar, provocar dor e sofrimento ou destruir a pessoa, deixando, ou não, marcas evidentes no seu corpo. Violência psicológica: toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança exagerada, punições humilhantes e utilização da pessoa para atender às necessidades psíquicas de outrem. 20 Tortura: ato de constranger alguém com emprego de força ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com a finalidade de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa, provocar ação ou omissão de natureza criminosa, em razão de discriminação racial ou religiosa. Violência sexual: qualquer ação na qual uma pessoa, valendo-se de sua posição de poder e fazendo uso de força física, coerção, intimidação ou influência psicológica, com uso ou não de armas ou drogas, obriga outra pessoa – de qualquer sexo – a ter, presenciar, ou participar, de alguma maneira, de interações sexuais ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, com fins de lucro, vingança ou outra intenção. Tráfico de seres humanos: inclui o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento de pessoas, recorrendo à ameaça, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade, ao uso da força ou a outras formas de coação, ou à situação de vulnerabilidade, para exercer prostituição, ou trabalho sem remuneração, escravo ou de servidão, ou para remoção e comercialização de órgãos, com emprego ou não de força física. Violência financeira (econômica): ato de violência que implica dano, perda, subtração, destruição ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores de outrem. Negligência (abandono): omissão pela qual se deixou de prover as necessidades e os cuidados básicos para o desenvolvimento físico, emocional e social de outrem. Intervenção legal: ato violento praticado durante intervenção por agente legal público, isto é, representante do Estado, polícia ou de outro agente da lei no uso da sua função. Um dos obstáculos para lidar com a violência é a pouca integração entre os serviços de saúde e aqueles de proteção aos idosos, e isto não é exclusividade de nosso país. Recentemente, O’Brien alertoupara a necessidade de integração entre as instituições, antes de se proceder ao rastreamento de violência contra idosos nos Estados Unidos. Ainda assim, em nossos meio, esforços na qualificação das equipes para identificar, atender e notificar os casos de violência que chegam às unidades do Sistema Único de Saúde é necessário para proteger os idosos. Isto 21 inclui a formação, tanto na graduação dos profissionais de saúde, quanto na educação continuada. 2.3 A enfermagem na estratégia de saúde da família A enfermagem trabalha o suporte a família e, por conseguinte, o cuidado aos idosos. De modo a compreender todas as nuances dos maus-tratos provocados por essa esfera familiar, há de se levar em consideração o acolhimento ao idoso. É responsabilidade dos profissionais, favorecer uma atmosfera de confiança para o idoso e respeitar as decisões do mesmo. Levando em consideração também se o mesmo está em pleno exercício de sua capacidade mental, prestando encaminhamento correto a cada situação, atentando para a satisfação das necessidades físicas, sociais e emocionas de cada vítima. Há dificuldades que os idosos enfrentam diante da situação de violência, considerando principalmente que muitos não conhecem seus direitos ou não têm acesso a uma delegacia para denunciar essa violência. A maioria dos idosos têm dificuldades em tomar a decisão de denunciar a agressão ou o abuso sofrido, pois muitas vezes o agressor é um membro da própria família e/ou o único cuidador e em outros casos, o mesmo não se reconhece como vítima de violência. A violência doméstica contra esse público é um fenômeno que sugere um campo maior de investigação dada à vulnerabilidade e os riscos ao qual está submetido (SANCHES; LEBRÃO; DUARTE, 2008). Os serviços de saúde são espaços privilegiados para detectar a violência devido a sua proximidade com a população e a sua ampla cobertura (SOUZA; FREITAS; QUEIROZ, 2007). Neste sentido, a Estratégia Saúde da Família (ESF) apresenta um enorme potencial para programar ações de prevenção, detecção precoce e acompanhamento de famílias em situação de violência uma vez que suas atividades tendem a estreitar as relações entre o serviço de saúde e a comunidade, facilitar a identificação de famílias de risco, possibilitar o levantamento das possíveis redes sociais de apoio disponíveis e permitir uma prática transdisciplinar satisfatória (ANDRADE; FONSECA, 2008). A participação dos profissionais de saúde na identificação de maus-tratos contra os idosos nas instituições de saúde, nos domicílios e nas ruas favorece o planejamento de estratégias e a implantação de políticas para prevenção (SOUZA; FREITAS; 22 QUEIROZ, 2007). Neste sentido, a participação dos profissionais de enfermagem da Atenção Básica de Saúde torna-se de suma importância na elaboração de planos para a prevenção da violência doméstica contra os idosos, podendo os mesmos atuar no diagnóstico precoce e na identificação de fatores de riscos intrínsecos nas famílias, o que ajudaria a evitar formas de intervenções tardias ou traumáticas, além de fornecer à vítima a assistência adequada à saúde. A identificação da violência contra as pessoas idosas é frequentemente negligenciada no atendimento à saúde pela dificuldade que os profissionais possuem em detectar sinais indicativos. Uma pesquisa realizada por Wanderbroocke e Moré (2013) sobre a abordagem profissional da violência familiar contra idosos em uma Unidade de Saúde mostrou que os profissionais de saúde possuíam dificuldades no manejo dos casos de violência familiar contra o idoso durante o rastreamento e acompanhamento dos casos. Além disso, a dinâmica de funcionamento da Unidade, com ênfase em rotinas mais voltadas à saúde física e à ausência de uma assistência com abordagem interdisciplinar, desfavorecia a atuação eficaz durante a identificação das situações de violência. A frequência com que esses profissionais detectam a violência reflete muito o conhecimento que eles têm sobre os aspectos que a envolvem (BRASIL, 2006). A pesquisa realizada por Mascarenhas et al. (2012), por exemplo, ao analisar as notificações de violência do SINAN, constatou que 78,8% dos episódios de violência contra os idosos ocorreram no domicílio. Nesse contexto, a visita domiciliar tem um papel fundamental junto ao registro de ocorrências de violência pelo profissional da ESF, pois, por meio desta, possibilita ao mesmo vivenciar a situação no contexto familiar, identificando os riscos potenciais, o que não aconteceria em serviços de saúde (MENEZES et al., 2007; GIACOMOZZI; LACERDA, 2006). Muitos profissionais de saúde se sentem inseguros em confirmar um caso de violência, principalmente quando esta não deixa lesões aparentes. A omissão do idoso e, muitas vezes, da família faz com que o julgamento do profissional seja baseado, sobretudo, em fatores subjetivos (psicológicos), o que leva à insegurança na tomada de decisão uma vez que existe uma tendência à valorização das lesões físicas como comprovação de ato violento. 23 A lei 10.741/03 que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, em seus artigos 19 e 57, menciona claramente a responsabilidade dos profissionais de saúde de denunciar os casos de maus-tratos com que tiverem contato. A denúncia deve ser registrada no Conselho do Idoso (Municipal, Estadual ou Nacional), no Ministério Público e Delegacias de Polícia (BRASIL, 2003). Fatores como a ausência de mecanismos legais de proteção aos profissionais encarregados de notificar, a falha na identificação da violência e a quebra do sigilo profissional dificultam a notificação no Brasil (GONÇALVES; FERREIRA, 2002). 2.4 Formas de prevenção/combate à violência contra a pessoa idosa. No Brasil, a notificação de violência pela área de Saúde foi implementada em 2006 através do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes – VIVA e passou a ser compulsória em 2011, com resultados significativos. A notificação de violência surgiu com o objetivo de dar visibilidade a esse fenômeno, que se constitui enquanto problema social, de saúde e de segurança públicas. A vigilância de violências instrumentalizada por meio da ficha de notificação é parte da estratégia do SUS frente à violência, assim como os Núcleos de Prevenção de Violência e Promoção da Saúde (MS, 2016). Atualmente, os desafios da notificação de violência são implementar a notificação intersetorial, expandir a notificação para municípios silenciosos, melhorar a qualidade das informações coletadas e fortalecer a rede de proteção e cuidado. No ano de 2015 foram registrados 14.478 ocorrências de violência contra idosos, com aumento de 261%, quando comparado com 2011. Cabe destacar que esse aumento é reflexo do processo de implementação do VIVA. Embora o número seja expressivo, ainda não reflete a realidade. Existem 27 milhões de pessoas idosas no país (13.7% da população, segundo IBGE). Já a incidência comprovada no mundo inteiro é que de 5% a 10% dos idosos sofrem violência física visível ou invisível. Assim, é possível afirmar que existe um grande número de casos não registrados no Brasil (MS, 2016). A violência na maioria dos casos tem como principal agressor o filho (28,3%), segundo dados preliminares de 2015 da Secretaria de Vigilância em Saúde do 24 Ministério da Saúde. Das mulheres idosas vítimas de violência, 45% são de casos reincidentes. No caso dos homens idosos vítimas de violência, 27,1% são de reincidentes. Os laços familiares e o medo são os principais fatores para o silêncio das vítimas. Segundo Garbin (2015), o Brasil é portador de vários instrumentos jurídicos que amparam vítimas de violência, tendo o poder público um importante papel como zelador dos direitos da população, inclusive os idosos, no sentido de garantir os seus cumprimentos, assim como os serviços de saúde, que são porta de entrada para o atendimento doidoso no que diz respeito à Atenção à Saúde, possuindo a obrigação de acolher e dar apoio às vítimas de violência, como forma de combate. Conforme pesquisa realizada por Rocha et al. (2015), os casos de pessoas idosas violentadas, identificados pelos profissionais da Estratégia de Saúde da Família, exigiram destes a elaboração de estratégias como visitas domiciliares, diálogos e encaminhamentos como forma de enfrentamento e resolução do problema. Em contrapartida, destaca-se a necessidade e importância de capacitação específica a tais profissionais que ainda encontram-se aquém no que se refere à temática, para que estejam aptos a prestar auxílio ao idoso vitimado ou suscetível a tal (ALENCAR et al., 2014). Além disso, Minayo et al. (2015), evidencia que Centros Integrados de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa (CIAPVI) vêm sendo implantados e implementados em diversas regiões do Brasil, tendo como um dos objetivos a sensibilização e conscientização de toda a população para com o assunto. 2.5 Estratégias utilizadas para identificar a violência contra o idoso 2.5.1 Plano de ação Segundo o Ministério da Saúde, para planejar ações voltadas para a população idosa é necessário saber quantos idosos vivem no território de abrangência e conhecer suas diferentes necessidades. Uma forma de planejar o cuidado a partir dessas necessidades é classificar as pessoas idosas de acordo com sua capacidade funcional e com os cuidados de que necessitam. Esses critérios podem ser identificados durante as visitas domiciliares e nas avaliações propostas na Caderneta da Saúde da Pessoa Idosa em anexo c, que foi estruturada pelo Ministério da Saúde (MS) para ser um instrumento estratégico 25 de acompanhamento longitudinal das condições de saúde da população idosa nos serviços de saúde. De acordo com a condição funcional da pessoa idosa identificada a partir da avaliação realizada com o uso da Caderneta, será elaborado o plano de cuidados. A elaboração desse plano, coordenado e integrado, em curto, médio e longo prazo, visa especialmente à recuperação e/ou à manutenção da capacidade funcional da pessoa idosa. O sucesso do plano de ação depende do envolvimento do usuário, dos familiares e da equipe de saúde. O principal objetivo do Plano de Ação para Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa é promover ações que levem ao cumprimento do Estatuto do Idoso e do Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento, que tratem do enfrentamento da exclusão social e de todas as formas de violência contra esse grupo, tais como: ações como reuniões na comunidade, identificação dos idosos pertencentes à comunidade, obtenção de informações de moradia, vínculo familiar dos idosos, divulgação e esclarecimentos sobre o Disque 100. São eles: 1. Capacitar as Equipes de Saúde da Família para a correta orientação, apoio e atendimento das necessidades familiares decorrentes do envelhecimento; 2. Identificar os idosos pertencentes à comunidade; 3. Identificar as necessidades básicas dos idosos (alimentação, ventilação, locomoção, medicação) e idosos em situação de dependência através das Agentes Comunitárias de Saúde. 4. Realizar reuniões nas Unidades Básicas de Saúde entre Profissionais de Saúde e Idosos; 5. Agendar consulta e encaminhar para psicólogo em caso de suspeita de Violência Psicológica conforme necessidade; 6. Divulgar o “Disque 100” para todos os idosos da comunidade, através de cartazes, informativos, redes sociais; 7. Orientar os idosos quanto a realizar telefonemas para familiares ou amigos ao necessitar de ajuda; 8. Qualificar a equipe prestadora de assistência aos idosos institucionalizados através do treinamento; 26 9. Fiscalizar o atendimento e assistência ao idoso em instituições de Longa Permanência; 10. Realizar campanhas com toda a comunidade com o objetivo de alertar os próprios idosos, familiares, vizinhos e amigos sobre a necessidade de prevenção e combate a violência. 27 3. METODOLOGIA DA PESQUISA O presente estudo trata-se de uma pesquisa exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa. Para GIL, 2007, a pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. A grande maioria dessas pesquisas envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que estimulem a compreensão. Segundo Gil (2002), as pesquisas descritivas possuem como finalidade a descrição das características de determinada população, fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Tem como característica mais significativa a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistêmica. A observação é uma técnica de coleta de dados que consiste em ver, ouvir e também permite examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar. Esta técnica obriga o observador a ter um contato mais direto com o objeto de estudo. Na observação não participante, o pesquisador não se integra ao grupo, presenciando o fato sem participar. O pesquisador faz papel de espectador, já que não se deixa envolver pelas situações (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). O estudo foi realizado em quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS), sendo que uma delas também funciona como Ambulatório de Referência ao Programa Saúde da Família (PSF); As UBS referenciadas na pesquisa estão localizadas nos Municípios de São Gonçalo e Itaboraí – RJ, Brasil. A amostra, composta pelos profissionais de enfermagem, quais sejam: oito enfermeiros e sete técnicos de enfermagem. Consideraram-se como critérios de inclusão: trabalhar na UBS pelo período mínimo de 1 ano, por se entender que estes apresentam maiores experiências de atendimento ao idoso no local alvo da pesquisa, e profissionais que não desenvolvessem atividades de gerencia. Todos os quinze profissionais foram incluídos na pesquisa por se encaixarem nos critérios estabelecidos. O critério de exclusão era: estar afastado do serviço por mais de quinze dias, por qualquer motivo, durante o tempo da pesquisa. 28 Utilizou-se um roteiro de entrevista semiestruturada em apêndice a, elaborado previamente, com perguntas abertas e fechadas que contemplam as informações esperadas, porém, no intuito de permitir ao entrevistado uma conversa mais fluida e relevante para a pesquisa. O desenvolvimento deste trabalho baseou-se em dados onde à coleta foi realizada nas bases de dados: BVS, LILACS, SCIELO, nos últimos 10 anos, acessível eletronicamente empregando as expressões de pesquisa: “Violência contra idosos”, “Atuação da enfermagem frente ao idoso violentado”, “Enfermagem da Unidade Básica de saúde na detecção de idosos violentados”, “Violência em idosos no meio intrafamiliar”. 3.1 - Cenário da pesquisa A pesquisa será realizada com 15 profissionais da enfermagem de Unidades de Saúde da Família do município de São Gonçalo e Itaboraí – Rio de Janeiro. 3.2 - Aspectos ético e legal O presente trabalho será desenvolvido após a avaliação da Comissão de Ética e Pesquisa da Universidade Salgado de Oliveira - Campus São Gonçalo atendendo assim a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e suas complementares. A proposta é desenvolver uma pesquisa de campo, fazendo levantamento de dados com roteiro de entrevistas semiestruturadas para os profissionais de enfermagem. Serão analisados os benefícios aos indivíduos participantes da pesquisa, sujeitos do estudo, bem como os riscos potenciais de sua participação. De acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNE) o risco da pesquisa é entendido como a possibilidade de danos seja de ordem física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do serhumano, em qualquer fase da pesquisa é de responsabilidade do pesquisador e da e da instituição promover assistência às complicações e danos decorrentes dos riscos previstos. Declaro de que a identidade dos participantes será mantida em sigilo e asseguro a privacidade quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa. A participação nesse estudo é consensual, havendo liberdade para ausentar-se em 14 qualquer etapa, e isso não impedirão em nada suas atividades do seu dia-a-dia. Nada será 12 cobrado ou pago às pessoas participantes dessa pesquisa. E por ser 29 de livre e espontânea a sua participação na pesquisa, em nada afetar, ou seja, a sua participação não lhe trará privilégios ou dano algum. Estão garantidas as informações que vocês queiram antes, durante e depois do estudo. O conteúdo final deste estudo estará disponível aos participantes. Os dados resultantes da entrevista serão utilizados para o desenvolvimento de pesquisa, a serem divulgados nos meios acadêmicos e científicos, no entanto, se qualquer informação for divulgada em relatório ou publicação, isto será feito sob forma codificada, para que a confidencialidade seja mantida. Garantindo que qualquer problema decorrente do estudo que será conduzido pelo pesquisador. Quaisquer outras informações adicionais que julgar importantes para compreensão do desenvolvimento da pesquisa e de minha participação poderão ser obtidas no Comitê de Ética e Pesquisa (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2012). 30 4. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS A análise dos dados possibilitou a elaboração de cinco categorias: Despreparo da equipe de enfermagem frente a idosos violentados; Capacitação da enfermagem para a identificação de indícios de violência contra o idoso; Acolhimento da enfermagem à pessoa idosa vitima de violência no meio intrafamiliar; A responsabilidade do enfermeiro diante da notificação dos casos de violência contra idosos; Posicionamento da equipe de enfermagem da Unidade Básica de Saúde frente á notificação de violência ao idoso; apresentadas a seguir: 4.1 Despreparo da equipe de enfermagem frente a idosos violentados A rede de atenção primária a saúde funciona como porta de entrada para os serviços públicos da saúde, configurando-se como importante estratégia na identificação de casos de violência familiar, mas, mesmo que seja evidenciada a incorporação para a efetivação de políticas públicas em suas rotinas de trabalho, muitos profissionais ainda sentem dificuldades em sua execução, muitas vezes pela falta de preparo e o sentimento de impotência, que surge quando o profissional se depara com a questão e não se sente suficientemente capacitado para abordá-la. (Wanderbroocke ACNS, Moré CLO, 2013) [...] Não me sinto tão preparada para atender casos de violência, eu faço o que posso e que da para orienta. (Entrevistado 6) [...] [...] Não me sinto segura pra isso! (Entrevistado. 3) [...] [...] Não me sinto treinada (Entrevistado 8) [...] Os relatos identificaram que esses profissionais não estão habilitados para atender um idoso vítima de violência no âmbito dos serviços de saúde, seja pelos despreparo profissional ou mesmo pela complicação do atendimento que demandam. Musse, Rios (2015) relatam que são muitos aspectos relacionados ao despreparo da enfermagem para lidar com as situações de violência, entre os quais encontram-se: a falta de informação adequada para identificar os sinais, o desconhecimento dos mecanismos utilizados na detecção e nas intervenções, e os trâmites legais para a notificação. 31 4.2 Capacitação da enfermagem para a identificação de indícios de violência contra o idoso Ainda a um déficit entre as equipes de saúde no Brasil, principalmente nas Unidades Básicas de Saúde, por muitas vezes não passam por um programa de treinamento básico para tal tipo de situação. A equipe deve ser treinada para notificar situações de risco de violência contra idosos, promovendo assistência às necessidades de saúde do idoso extensiva aos âmbitos ambulatorial domiciliar. (Musse; Rios, 2015) [...] Nunca recebi nenhuma instrução e nem preparo (Entrevistado 9)[...] [...] não recebi treinamento algum (Entrevistado 2) [...] [...] Nunca recebi nenhuma instrução sobre violência especificamente ao idoso. (Entrevistado 11) [...] É notável que ainda existam uma grande parte da enfermagem trabalhando na Atenção Básica que não realizaram a capacitação e treinamento para lidar com o idoso vitimado. Para executar suas atribuições corretamente, a equipe precisa se capacitar, entre suas atividades de capacitação devem incluir o cuidado ao idoso violentado. Oliveira KSM, Carvalho FPB, Oliveira LC, Simpson CA, Silva FTL, Martins AGC (2018), relatam que preparar os profissionais de saúde para o acolhimento ao idoso vitimizado por agressões é um desafio que deve ser concretizado. Quando o idoso procura o serviço de saúde em caso de agressão, é de fundamental importância que o profissional de saúde saiba identificar o ocorrido, buscando soluções para o problema de maus-tratos e negligência. 4.3 Acolhimento da enfermagem à pessoa idosa vitima de violência no meio intrafamiliar. Preparar os profissionais de saúde para o acolhimento ao idoso vitimizado por agressões é um desafio que deve ser concretizado. Quando o idoso procura o serviço de saúde em caso de agressão, é de fundamental importância que o profissional de saúde saiba identificar o ocorrido, buscando soluções para o problema de maus-tratos e negligência. (Camacho, ACLF, Alves RR, 2015) 32 [...] fazemos essa visita para identificar como é a casa, higiene do Idoso, se está tendo maus-tratos ou não, visualizamos o idoso como um todo. (Entrevistado 3) [...] [...] fazemos uma busca ativa tanto na casa do paciente quanto na vizinhança, tentar também visitar em horários diferentes para ver se encontramos a família. (Entrevistado 10) [...] [...] o enfermeiro quando vai à casa do paciente é com algum propósito, ou alguém percebeu e pediu para fazer a visita, ou nós mesmo percebemos (Entrevistado 1) [...] A consulta de Enfermagem é fundamental para o profissional exerce sua função e se utilizam da visita domiciliar para a busca de idosos doentes e fragilizados acerca de desenvolver medidas para melhorar sua vida. O profissional que interagem com idosos deve está prontamente disposto a investiga qualquer indicio de violência domestica levando em consideração que muitas vezes o próprio idoso oculta o fato, por medo do agressor. 4.4 A responsabilidade do enfermeiro diante da notificação dos casos de violência contra idosos Os casos notificados são de grande importância, pois é através deles que a problemática ganha visibilidade, permitindo o dimensionamento epidemiológico desta e a criação de políticas públicas voltadas à sua prevenção. A lei nº 12.461 de 26 de julho de 2011, altera o art. 19 da Lei n o 10.741, de 1 o de outubro de 2003, para prever a notificação compulsória dos atos de violência praticados contra idosos atendidos em estabelecimentos de saúde públicos ou privados [...] nunca notifiquei nada na minha unidade (Entrevistado 10) [...] [...] Nunca preenchi uma ficha de notificação e também não conheço, nunca vi (Entrevistado 9) [...] [...] nunca notifiquei nada sobre violência física, mas percebemos e fica bem visível (Entrevistado 4) [...] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm 33 Muitos profissionais que recebem estas vitimas não estão preparados para recebe- lós, alguns nem sabem da existência da ficha de notificação, que por sinal é obrigação deste profissional notificar. De acordo com a reformulaçãodo artigo 19, da lei nº 10.741, é obrigatório que os profissionais da saúde notifiquem os casos de violência, quando constarem suspeita ou confirmação, agindo dessa forma o profissional dará encaminhamento correto para tentar resolver a situação. 4.5 Posicionamento da equipe de enfermagem da Unidade Básica de Saúde frente á notificação de violência ao idoso. De acordo com a reformulação do artigo 19, da lei nº 10.741, é obrigatório que os profissionais da saúde notifiquem os casos de violência, quando constarem suspeita ou confirmação da mesma contra o idoso, agindo dessa forma o profissional dará encaminhamento correto para tentar resolver a situação. [...] nossa conduta é essa procurar Assistência Social, entregar o caso a ela, ela que vai resolver. (Entrevistado 11) [...] [...] Nos passamos o caso para o Nasf e eles continuam assistindo o caso! (Entrevistado 15) [...] [...] Minha conduta naquela situação foi somente chamada assistente social. (Entrevistado 12) [...] Observei na minha pesquisa que a maior parte dos profissionais transfere a responsabilidade para um colega da equipe, geralmente o assistente social ou o enfermeiro. É um dever não só como profissional, mas como cidadão, denunciar qualquer tipo de abuso e violência. Os profissionais devem atentar para a sua importância nas condições de saúde/doença dos indivíduos de modo a considerar o processo de determinação social e a efetivação do cuidado em saúde. (Oliveira MFV, Carraco TE. 2011) 34 5. ANÁLISE DOS RESULTADOS São muitos os aspectos relacionados ao despreparo da enfermagem para lidar com as situações de violência, entre os quais encontram-se: a falta de informação adequada para identificar os sinais, o desconhecimento dos mecanismos utilizados na detecção e nas intervenções, e os trâmites legais para a notificação. Muitas vezes, visualizei o desinteresse quanto às condutas tomadas rotineiramente na identificação da violência. Uma vez que, o profissional deve ter uma visão crítica- reflexiva, promovendo o cuidado integralizado e uma escuta qualificada, buscando aproximar-se do usuário e ganhar a confiança do mesmo. No entanto, fica claro que muitos profissionais não querem se envolver nos casos, alguns relatam que esperam eles falarem ou a tomada de atitude de algum colega profissional. No relato dos profissionais entrevistados, poucos expõem que já participaram de capacitação sobre saúde do idoso, os mesmos relataram que na capacitação não é dada orientações sobre violências contra a pessoa idosa, é válido registrar que os demais profissionais entrevistados não manifestaram preocupação em não ter treinamento sobre o assunto. Apesar da deficiência na capacitação, alguns profissionais reconhecem e desconfiam dos possíveis casos, entretanto, não sabem como proceder, na maioria das vezes há um receio e medo por conta da criminalidade onde a unidade fica localizada. É notável que a maioria dos profissionais de saúde transferem as responsabilidades de denunciar e notificar para um colega da equipe, sempre citando o enfermeiro e/ou assistente social como os únicos responsáveis. No entanto, noto também que partes destes profissionais não sabem a conduta correta perante a situação de violência contra o idoso. 35 6. DISCUSSÃO Atualmente muitos desses profissionais focam nas patologias já existentes e não na situação de violência. A enfermagem precisa levar em conta todos os processos desencadeantes às agressões, e desenvolver estratégias que trabalhem o idoso vitimado desde o acolhimento, acompanhamento e restauração de sua dignidade, baseado nas políticas públicas (Guimarães DBO, Mendes PN, Rodrigues IS, Feitosa CDA, Sales JCS, Figueiredo MLF, 2016). Dentre os fatores desencadeantes a literatura também nos traz como elementos perceptíveis identificados pelo profissional da saúde às faltas frequentes das consultas agendadas, discurso incoerente relacionado às lesões e traumas sofridos, relatos de mais de três quedas por ano, pânico, desesperança e depressão, mostrando uma forte indicação na facilidade de reconhecimento da agressão (Musse J, Rios MHE, 2015). Ao decorrer das entrevistas foi percebido que poucas unidades realizam a notificação de casos suspeitos ou confirmados de violência contra o idoso que procura o serviço de saúde, alguns profissionais relataram que até notam os sinais de violência, mas, preferem não “se meter” ou não sabem como prosseguir. A identificação de vitimas de violência e maus tratos se iniciam por uma anamnese, a investigação deve ser realizada com solicitude e paciência, pois todos os abusos físicos, psicológicos, sexuais, financeiros e negligências, assim como outras formas de violência geralmente não chegam aos serviços de saúde, pois permanecem neutralizados nas relações familiares, ou dos prestadores de cuidados aos idosos, porém a detecção de fatores de riscos é uma iniciativa para a prevenção, detecção precoce e alicerce de condutas apropriadas. Um dos maiores obstáculos para equipe é a resistência da maioria dos idosos em compartilhar a ocorrência de episódios de agressão, motivada por medo e até mesmo vergonha, baseia-se em geral no fato de que a maioria dessas agressões parte dos seus familiares, dificultando as ações de saúde. Os profissionais devem atentar para a sua importância nas condições de saúde/doença dos indivíduos de modo a considerar o processo de determinação social e a efetivação do cuidado em saúde. A sociedade hodierna está inserida 36 numa atmosfera de desconforto com os imediatismos da vida moderna que remete a falta de compromisso moral com o outro, o determinismo pela tecnologia e pela técnica e ainda a fluidez nas relações de cuidado. Assim, é preciso que se olhe o que está em torno, admitindo que os fenômenos em saúde revelem a capacidade de abrangência das experiências humanas, o que de fato dá sentido à nossa vivência (Oliveira MFV, Carraco TE, 2011) A notificação é parte integrante e fundamental do atendimento à vítima de violência. E, para que seja adequada, é necessário que esse profissional esteja apto a identificar caso suspeito ou confirmado e a notificá-lo (Thomazine AM, Oliveira BRG, Vieira CS, 2009). Mas o cenário é outro, muitos profissionais que recebem estas vitimas não estão preparados para recebe-lós, alguns nem sabem da existência da ficha de notificação, e todos entrevistados transferiram suas obrigações para o Assistente Social ou Enfermeiro. 37 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Identificou-se que é necessário tomar as medidas apropriadas para o atendimento adequado a população idosa vítima de violência e que este é um aspecto que contribuiria para a efetivação e melhoria da qualidade da saúde da pessoa idosa e diminuição dos dados de violência existente no país. Alguns profissionais são imprescindíveis no cuidado ao idoso, como é o caso do profissional de enfermagem que deve estar apto a desenvolver estratégias que permitam atender/acolher os idosos da melhor forma. O objetivo da pesquisa foi contemplado, uma vez que permitiu avaliar as concepções dos profissionais de enfermagem quanto à detecção e prevenção de idosos violentados, observou-se a dificuldade em identificar a violência existente, sendo muitas vezes despercebidas no ato da consulta ou mesmo visita domiciliar executada pelo profissional de enfermagem. Com base nas respostas dos entrevistados foi analisada a necessidade da capacitação e educação permanente direcionada a esse tema para esses profissionais, o que facilitaria à identificação de vítimas de violência. A enfermagem tem um papel fundamental na saúde do idoso, principalmente quando se trata de prevenções, como por exemplo, ministrar palestras para os cuidadores/familiares sobre o processo do envelhecimento, aspectos biopsicossociais do envelhecimento com o objetivo de alertaros próprios idosos, familiares, vizinhos e amigos sobre a necessidade de prevenção e combate a violência. Para Vieira (2004), é indispensável ampliar e criar novos programas educacionais que incentivam valorização do idosa, tanto nas escolas quanto nas demais instituições de controle social, com a finalidade de reconstruir o significado da velhice para as próximas gerações e preparar uma realidade futura menos amarga do que vivenciada atualmente por muitos idosos. Portanto, conclui-se que a estrutura funcional e a falta de capacidade em gerontogeriatria tem dificultado o trabalho e limitado às funções da equipe de enfermagem, que são profissionais estratégicos dentro das equipes de saúde para o 38 combate à violência contra a pessoa idosa. No entanto, é necessário que não só a enfermagem, mas sim todos profissionais de saúde se preparem, pois a prevalência da população idosa no Brasil vai aumentando vertiginosamente a cada ano. 39 REFERÊNCIAS ANDRADE, Clara de Jesus Marques; FONSECA, Rosa Maria Godoy Serpa da. 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Se sim, o que? 10) De acordo com a sua opinião, qual o melhor meio para prevenir de Violência contra os idosos? 45 ENTREVISTA 1 Qual seu nome e há quanto tempo trabalha na Unidade de Saúde da Família? R: Meu nome é C.D.S., sou Enfermeira e trabalho a 5 anos. (Entrevista 1) Na unidade em que trabalha aparecem casos de Violência contra idosos? R: Não, aparece de vez em quando um processo para responder referente a violência contra idosos em casa pela família. (Entrevista 1) Quais orientações como profissional, você deu diante destes casos? R: Geralmente vamos à casa do paciente avaliar o tratamento que o idoso recebe e fazemos uma resposta com Ministério Público. (Entrevista 1) Como é o acolhimento e acompanhamento a esta vitima? R: Mas para detecção, geralmente começamos a observar quando o idoso começa a perder muito peso, ficar desidratado, deprimido, choroso, mas quieto, tem uns que chegam aqui e são brincalhões aí já percebemos que estão mais quietos. Para identificar geralmente o enfermeiro quando vai à casa do paciente é com algum propósito, ou alguém percebeu e pediu para fazer a visita, ou nós mesmo percebemos e vamos verificar o caso de violência contra o idoso, ai passamos para assistente social dar entrada no processo. (Entrevista 1) Você se sentiu capaz e preparado para oferecer um atendimento eficiente para ter bons resultados na coleta de dados? R: Sim! (Entrevista 1) Na unidade é preenchida a ficha de notificação? R: Sim, mas nesta unidade não temos tantos casos de violência contra o idoso, é mais do Ministério Público que a denúncia é feita pela própria família em um momento de raiva de um irmão por exemplo, que é usuário de drogas e maltrata os pais, um neto usuário, geralmente assim usuário de drogas que maltrata mais o idoso. (Entrevista 1) 46 Já recebeu alguma instrução ou treinamento para detectar informações coletadas na entrevista de enfermagem? R: Então, não fala diretamente contra violência, mas tem de vez em quando uma capacitação sobre a saúde do idoso que é abordado, porém bem pincelado a violência e na academia, apenas. (Entrevista 1) Algo já te impediu de notificar. Se sim, o que? R: O pior impedimento é a violência, seja uma denúncia para criança, mulher ou idoso, nosso posto fica localizado em um bairro violento perto de boca de fumo e favela, às vezes é um primo meu marido é um filho que trabalha no tráfico e são impedimentos pois pode nos ameaçar. (Entrevista 1) ENTREVISTA 2 Qual seu nome e há quanto tempo trabalha na Unidade de Saúde da Família? R: Meu nome é A.B.S, sou técnica de enfermagem e trabalho a 4 anos. (Entrevista 2) Na unidade em que trabalha aparecem casos de Violência contra idosos? R: Quase não aparecem casos de violência contra o idoso nessa unidade, nos raros casos que já aconteceram, que não foi diretamente comigo. Me recordo de uma Senhorinha que veio e disse que já foi agredida pelo filho dela que era usuário. (Entrevista 2) Quais orientações como profissional, você deu diante destes casos? R: A conduta neste caso foi somente orientar pelo fato de ter sido agredida pelo filho e por não ter sido algo recorrente. Tem outro caso que acabei de lembrar, foi uma agressão verbal, não entrei muito a fundo no caso, mas é filho envolvido também e usuário de droga geralmente com violência verbal. (Entrevista 2) Como é o acolhimento e acompanhamento a esta vitima? 47 R: Temos aqui o estatuto do idoso, conhecemos e oferecemos para eles. Para detecção da violência contra o idoso geralmente quando percebemos algo diferente, o que é muito raro, mas conversamos por exemplo: “Oi Dona Maria tudo bem? Que manchinha preta é essa no seu bracinho?”, “A Bia isso aqui foi que eu me machuquei”, “É uma coisa que a senhora não quer me falar?”... insistimos e colemos informações, caso seja violência física. Agora verbal fica muito na cara, ela já ficam mais sentidos e muita das vezes não são apenas os parentes ou conhecidos que os agridem, por muitas vezes nós, profissionais da saúde, vem muita gente reclamar aqui por conta disso, o próprio profissional da área por muitas vezes não tem paciência, pode estar num dia ruim, até mesmo o próprio idoso fala algo e o profissional rebate. Então assim o caso de violência é muito amplo. (Entrevista 2) Você se sentiu capaz e preparado para oferecer um atendimento eficiente para ter bons resultados na coleta de dados? R: Me sinto sim. (Entrevista 2) Na unidade é preenchida a ficha de notificação?
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