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Ética empresarial

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2 
 
SUMÁRIO: 
 
1. CONTEXTUALIZAÇÃO ........................................................................................ 3 
2. ÉTICA ................................................................................................................... 5 
2.1 Definição ........................................................................................................... 5 
2.2 Principais conceitos: ..................................................................................... 6 
2.3 Algumas Teorias éticas de filósofos clássicos: ............................................ 9 
3. ÉTICA PROFISSIONAL ..................................................................................... 21 
4. ÉTICA EMPRESARIAL ...................................................................................... 24 
5. ÉTICA EMPRESARIAL X ESTRATÉGIA E COMPETITIVIDADE ..................... 29 
6. GOVERNANÇA CORPORATIVA ...................................................................... 31 
7. PRINCÍPIOS ÉTICOS NAS FINANÇAS ............................................................. 35 
8. COMPLIANCE NO SETOR FINANCEIRO E A LEI DE SARBOX ..................... 36 
9. ÉTICA X COMPETITIVIDADE E LUCRATIVIDADE .......................................... 44 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 47 
REFERÊNCIAS: ....................................................................................................... 48 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1. CONTEXTUALIZAÇÃO 
 
Em todo contexto social as pessoas travam entre si uma série de 
relacionamentos, uma vez que buscam a realização de objetivos que podem se de 
natureza individual ou até mesmo coletiva. 
Esses relacionamentos carregam em si aspectos próprios do comportamento 
humano que são influenciados por uma série de valores e crenças que cada indivíduo 
carrega dentro de si. 
Ocorre que, esses relacionamentos podem ocasionar conflitos e isso leva a 
necessidade de se buscar soluções que colocam os indivíduos em posicionamentos 
próprios, dentro daquilo que acreditam ser certo ou errado, justo ou injusto. 
Para que a convivência social alcance um patamar pacífico é necessário que 
cada pessoa consiga assumir individualmente comportamentos que respeite seu 
semelhante, principalmente naquilo que lhe é seu de direito. 
É preciso levar em conta que a experiência com o outro, tem a possibilidade de 
causar, o que se denomina estranhamento frente à realidade, o sentir – se estranho, 
fora da normalidade diante do modo de ser e de agir de outrem, nos permite a 
descoberta da diferença entre o que é e o que deveria ser: nos proporcionando o que 
chamamos de uma experiência ética fundamental. 
O ser humano, deve construir ou conquistar o seu ser. Ele não nasce pronto, se 
faz ser humano, se torna pessoa. O grande desafio de nossas vidas está no processo 
de construção do nosso ser. 
E quando superamos a visão da realidade existente como algo inquestionável 
e absoluto, é que podemos imaginar, sonhar, pensar sobre uma outra realidade 
possível, diferente e melhor. A experiência existencial de se rebelar diante de uma 
situação desumana ou injusta é o que denominamos indignação ética. 
O questionamento ético, revela algumas contradições que fazem parte de 
nossas vidas. A primeira é o conflito que pode existir entre meu interesse a curto prazo 
e meus objetivos a médio e longo prazo. 
Além desse conflito existe também o conflito entre o interesse pessoal e 
coletivo. Se não houver esse tipo de conflito ou se não fosse importante as pessoas 
não se questionariam sobre o que devem ou não fazer em relação às outras pessoas 
4 
 
ou outros grupos. Buscariam apenas os seus interesses e direitos e dos outros e os 
da coletividade como tal. 
A necessidade de conviver com os outros nos leva à necessidade de 
estabelecermos relações que permitam a sobrevivência de todos os que compõem a 
comunidade. 
Nós somos seres morais e a comunidades humanas sempre criaram sistemas 
de valores e normas morais para possibilitar a convivência, porque somos seres já 
predeterminados. 
A consciência ética surge com a desconfiança de que os valores morais da 
comunidade ou até mesmos os meus, encobrem algum interesse particular, muitas 
vezes não confessáveis, ou inconsciente que rompe com as próprias causas 
geradoras da moral. 
Desconfiança de que interesses imediatos e menores podem ser colocados 
acima dos objetivos maiores, os interesses imediatos e menores são colocados acima 
dos objetivos maiores, ou os interesses particulares são colocados acima do bem da 
coletividade o que é negada aos seres humanos, a sua liberdade e sua dignidade em 
nome de valores petrificados ou pseudoteorias. 
 
O grande desafio das instituições públicas ou privadas, nacionais ou 
internacionais está na atualização de suas políticas e práticas para atender as 
demandas da sociedade atual, que vem sofrendo uma profunda e rápida 
transformação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
2. ÉTICA 
2.1 Definição 
 
 A Ética enquanto ramo do conhecimento tem por objeto o comportamento 
humano dentro de uma determinada sociedade. O objetivo desse conhecimento é 
concretizar níveis aceitáveis de convivência pacífica dentro de um determinado 
contexto social. 
 O sentido etimológico da palavra Moral tem sua origem no latim, mos 
(singular), mores (plural) que significa “costumes”. Um conjunto de normas ou regras 
adquiridas por hábito. 
A moral se refere ao comportamento adquirido ou modo de ser conquistado 
pelo homem. 
Quando todos aceitam o costume e os valores morais estabelecidos na 
sociedade não há necessidade de muita discussão sobre eles. Mas quando surgem 
questionamentos sobre a validade de determinados valores ou costumes surge a 
necessidade de fundamentar teoricamente estes valores vividos na prática, e para 
aqueles que não concordam a de criticá-los. 
A Ética tem sua origem no grego ethos, modo de ser, caráter. É o conjunto das 
práticas morais de uma determinada sociedade, ou os princípios que norteiam estas 
práticas. Podemos afirmar que a Ética é teoria sobre a prática moral. Uma reflexão 
teórica que analisa e critica ou legitima os fundamentos e princípios que regem um 
determinado sistema moral. Representa as características de um grupo, 
representando a forma de agir de um coletivo, em relação à sua cultura e ao seu 
comportamento nessa sociedade. 
 Sua função é iluminar a consciência humana, sustentando e dirigindo as 
ações do homem, norteando a conduta não só individual como também a conduta 
social. Cabe, ainda, à ética explicar, esclarecer ou investigar uma determinada 
realidade, elaborando os conceitos correspondentes. 
Por lançar um olhar à uma determinada realidade social, afirmamos que a Ética 
é um produto histórico – cultural, e sendo assim, ela define o que é a virtude, o que é 
bom ou mau, certo ou errado, permitido ou proibido, para cada cultura ou sociedade. 
6 
 
A Ética, é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana 
ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerado, porém, na sua 
totalidade, diversidade e variedade. Não lhe cabe formular juízos de valor sobre a 
prática moral de outras sociedades, ou de outras épocas, em nome de uma moral 
absoluta e universal, mas deve antes explicar a razão de ser desta pluralidade e das 
mudanças de moral, isto é, deve esclarecer o fato de os homens terem recorrido a 
práticas morais diferentes e até opostas. 
Quando, por exemplo, nos questionamos se devemos cumprir uma promessa, 
cumprir ordem de nossos superiores, ser caridoso, etc., nos defrontamos com 
problemas práticos, isto é, problemas que se apresentam nas relações efetivas, reais, 
entre os indivíduos ou quando se julgam certas decisões, e ações dos mesmos. Na 
vida real, defrontamo – nos com problemas práticos dos quaisninguém pode eximir-
se. Para resolvê – los recorremos as normas, cumprimos determinados atos, 
formulamos juízos e podemos ainda utilizar de determinados argumentos ou razões 
para justificar determinada decisão adotada ou posições tomadas. 
O comportamento humano prático – moral, mesmo que sujeito a uma variação 
de época para época, ou de uma sociedade para outra, remonta até as próprias 
origens do homem como ser social. 
O ser humano não só age moralmente, mas também reflete sobre determinado 
comportamento prático se tornando objeto de sua reflexão e de seu pensamento. 
Quando essa reflexão se manifesta, então temos a passagem do plano da prática 
moral para o da teoria moral, o plano da ética. 
 
2.2 Principais conceitos: 
 
 Consciência ética: 
A consciência ética resulta da relação íntima do homem consigo mesmo; é o 
fruto de uma conexão entre as capacidades do “ ego” e as energias espirituais, 
responsáveis pela nossa vida, isto é, reside em nosso interior. 
A consciência ética é o estado decorrente de mente e espírito, através do qual 
não só aceitamos modelos para conduta como efetivamos julgamentos próprios. 
Assim, agir de acordo como uma consciência moldada em desejos, pode ser 
normal para alguns, mas não o será perante o julgamento geral de terceiros. 
 
7 
 
 Comportamento ético: 
 
O homem é ao mesmo tempo um indivíduo e um ser social. Apesar de poder 
ser independente ele não deixa de fazer parte de um todo, que é a comunidade 
humana. 
Qualquer comunidade, qualquer organização social está baseada em um 
conjunto de regras que abordam as situações típicas de seu dia a dia. Essas normas 
são disciplinadoras do comportamento de seus membros. Elas regem o cotidiano 
social, limitam a coexistência do todo, limitam as ações das pessoas definindo direitos 
e deveres. 
O fundamento da existência de normas está na exigência da natureza humana 
de viver em sociedade, dispondo sobre o comportamento dos seus membros. 
Segundo Diniz (2015, p.342): 
 
“As normas são necessárias para a estruturação ôntica do homem. E 
como a vida do grupo social está intimamente ligada à disciplina das 
vidas individuais, elas fundam-se também na necessidade de 
organização na sociedade, exatamente porque não há sociedade sem 
normas... que tem por objeto uma ação humana…” 
 
As normas materializam-se de diversos modos, tantos formais como informais, 
podendo serem coercitivas ou facultativas, e elas podem ser separadas em função de 
sua natureza, objetivo, competência, abrangência, aplicabilidade, etc. 
É importante compreender que para que as normas sejam cumpridas, para 
cada regramento estabelecido é estabelecido também uma penalidade para quem a 
desrespeitar. Mesmo que a penalidade não seja clara para os membros da sociedade, 
ela sempre existirá. 
Apesar das regras proporcionarem benefícios para todos, há sempre a 
possibilidade de serem desrespeitadas, principalmente quando encontramos conflitos 
de interesses entre particulares e a própria sociedade. 
Toda vez que o benefício de se quebrar uma norma superar o custo da 
penalidade imposta, a tendência é que ela seja desrespeitada. 
No campo da ética, em especial na ética profissional, encontramos 
frequentemente essa situação, ou seja, um profissional, quando está no exercício de 
suas atividades pode se deparar com situações que o obriguem a decidir entre o 
cumprimento das regras ou o seu desrespeito. 
8 
 
As profissões têm suas regras próprias a serem seguidas e certamente, 
também têm suas punições. Os profissionais especializados, tem em seu cotidiano as 
mesmas chances e riscos que qualquer outro integrante da sociedade. 
No exercício profissional a existência de um código de ética, um código de 
conduta, é indispensável, assim é de se esperar que o bom comportamento seja 
difundido. Mas é de se esperar também que o bom comportamento também seja 
esperado na sociedade quando os valores éticos são defendidos e praticados. 
O convívio social proporciona benefícios gerais a partir do momento que todos 
os seus integrantes estejam dispostos a proteger os valores éticos. 
 
 Responsabilidade: 
 
No entanto, há que se ficar atento à um importante ponto: é possível tratarmos 
sobre comportamento moral somente quando o sujeito que assim se comporta é 
responsável pelos seus atos, e isto, por sua vez pressupõe que esse sujeito pôde 
fazer o que queria fazer, ou seja, pôde escolher entre duas ou mais alternativas, e 
agir de acordo com a decisão tomada. 
É importante ficar claro que, a liberdade da vontade é inseparável da 
responsabilidade. Decidir e agir numa situação concreta é um problema prático moral, 
mas investigar o modo pelo qual a responsabilidade moral se relaciona com a 
liberdade e com o determinismo ao qual nossos atos estão sujeitos, é um problema 
de ordem teórica, cujo campo de competência pertence à Ética. 
Para que o indivíduo possa ser responsabilizado por um determinado 
comportamento moral são necessários alguns requisitos: 
a) Conduta livre e autônoma: a origem do ato ou da conduta deve partir da 
livre consciência do agente. É certo que sem autonomia não há 
responsabilidade ética a ser cobrada. 
b) Conduta dirigida pela convicção pessoal: autoconvencimento. O 
comportamento deve ser resultado de uma deliberação individual. 
c) Conduta insuscetível de coerção: a conduta só é praticada eticamente por 
livre convencimento do agente dentro de regras e costumes sociais 
 
9 
 
Portanto, devemos considerar como atos morais tão somente aqueles nos 
quais podemos atribuir ao indivíduo uma responsabilidade não só pelo que propôs 
realizar, mas também pelos resultados ou consequências de sua ação. 
Não basta julgar determinado até conforme uma norma ou regra de ação, é 
preciso também examinar as condições concretas nas quais ele se realiza, a fim de 
determinar se existe a possibilidade de opção e decisão necessária para poder 
imputar – lhe uma responsabilidade. 
Além dos requisitos de uma conduta para a imputação de sua responsabilidade, 
é preciso considerar ainda que o indivíduo não pode ignorar nem as circunstâncias 
nem as consequências de sua ação, e que a causa de seus atos esteja nele próprio e 
não em outro agente que o force a agir de certa maneira. 
 
 Ignorância e responsabilidade 
 
É evidente que se deve eximir da responsabilidade moral aquele que não tem 
consciência daquilo que faz, isto é, a quem ignora as circunstâncias, natureza ou as 
consequências de sua ação. Mas não basta afirmar que ignorava essas circunstâncias 
para livrar – se da responsabilidade. É necessário acrescentar que, não só não as 
conhecia, mas que não podia e não tinha obrigação de conhece –lás. 
 Mas é preciso ter cautela, nesta questão. A ignorância para eximir alguém de 
responsabilidade deve ser admissível, pois caso contrário, não pode eximir aquele 
que não sabe o que deveria saber. 
Cabe ainda esclarecer que a ignorância das circunstâncias nas quais o 
indivíduo age, do caráter moral da ação ou das suas consequências não pode deixar 
de ser tomada em consideração, particularmente quando é devida ao nível de 
desenvolvimento moral pessoal em que o sujeito se encontra a sociedade. A estrutura 
econômica – social da sociedade abre e fecha determinadas possibilidades ao 
desenvolvimento moral e, por conseguinte, ao comportamento do indivíduo em cada 
caso concreto. 
 
2.3 Algumas Teorias éticas de filósofos clássicos: 
 
10 
 
A moral é um fato histórico e, por conseguinte, a ética como ciência da moral, 
não poderia ser concebida como dada de uma vez para sempre, mas ser considerada 
como um aspecto da realidade humana mutável através do tempo. 
Esse campo da existência humana surgiu quando o homem superou a sua 
natureza puramente natural, instintiva e dotou-se de uma natureza social, quando se 
colocou como membro de uma coletividade. 
 Conforme nos ensina Vazquez (2000) a divisão da sociedadeantiga em duas 
classes antagônicas fundamentais traduziu-se numa divisão no campo da moral 
também. Esta deixou de ser um conjunto de normas aceitas conscientemente por 
todas sociedade. Passou então a existir duas morais: uma dominante dos homens 
livres – a única considerada verdadeira – e outra dos escravos que no íntimo 
rejeitavam os princípios e as normas morais vigentes e consideravam válidos somente 
os seus princípios, na medida em que adquiriam a consciência da sua liberdade. 
 A Moral Ateniense está intimamente relacionada com a política como técnica 
de dirigir e organizar as relações entre os membros da comunidade sobre bases 
racionais. Há naquele período uma exaltação das virtudes cívicas. Mas esses 
aspectos se referiam aos homens livres, cuja liberdade tinha por base a instituição da 
escravidão e, a negação de que os escravos pudessem levar uma vida política e 
moral. 
 Este período clássico foi palco de uma profunda reflexão ética nas mentes de 
principalmente três grandes expoentes: Sócrates, Platão e Aristóteles. 
 Sócrates (469 – 399 a.C) tem sido até hoje considerado um grande pensador 
no campo da Ética. A reflexão grega no campo da Ética ocorreu como uma pesquisa 
em torno da natureza do bem moral, na procura de um princípio absoluto de conduta. 
Suas especulações se sedimentaram principalmente em torno da natureza humana e 
suas implicações ético – sociais. Implicações essas que surgiam do convívio, da 
moralidade, dos hábitos e práticas coletivas, das atitudes do legislador, da linguagem 
poética” (BITTAR, 2008 p. 161). 
O filósofo reconhecia que a principal luta da humanidade devia ser pela 
educação e reconhecia que a maior das virtudes humanas era saber que nada se 
sabe. O conhecimento, para o filósofo, residia no próprio interior do homem. Assim, 
conhecendo – se a si mesmo, pode – se conhecer melhor o mundo, sendo este o 
mandamento que se inscreve como necessário para a construção de uma ética sólida. 
11 
 
O ensinamento socrático residia, portanto, no conhecimento e na felicidade. 
Ética, significava conhecimento, tendo em vista que, só por meio dele, podemos saber 
julgar acerca do bem e do mal, sendo nisso que reside a verdadeira sabedoria e 
discernimento. Quanto à felicidade socrática, é necessário esclarecer que nada tem a 
ver com a posse de bens materiais e conforto, e sim com a realização do saber. 
Platão (427 – 347 a.C) desenvolve com grande sutileza os mesmos 
pressupostos do pensamento socrático: a virtude é conhecimento, e o vício é 
resultado da ignorância. A prática da virtude platônica é a coisa mais preciosa para o 
homem, sendo considerada a base para a harmonia individual e social. 
O ideal buscado pelo homem, era para Platão, a aproximação em Deus, o sábio 
era aquele que buscava se assemelhar em Deus. 
O filósofo, demonstra acreditar numa vida após a morte preferindo assim o 
ascetismo, isto é o autocontrole do corpo e do espírito como um caminho 
imprescindível em direção a Deus, à verdade ou à virtude. 
Para Platão, os homens deveriam buscar durante a vida, a contemplação das 
ideias, a contemplação principalmente da ideia do Bem. 
Segundo Valls (1994, p.26) o filósofo considera que a dialética e a virtude 
sempre caminham juntas, uma vez que a dialética é o caminho da contemplação das 
ideias e a virtude está na adequação da vida pessoal às ideias supremas. É mister, 
ainda esclarecermos que para a filosofia platônica a virtude é uma purificação pois 
auxilia o homem a desprender – se do corpo com tudo o que este tem de terreno e de 
sensível para contemplar o mundo ideal, imutável e eterno. 
Platão ainda, nos apresenta as principais virtudes, sendo: a justiça, a 
prudência, a fortaleza, a temperança. 
Aristóteles (384 – 322 a.C) era considerado um pensador mais sistemático e 
analítico, principalmente pelo fato de apresentar a experiência humana sobre três 
perspectivas: o saber teórico (campo do conhecimento), o saber prático (campo da 
ação); o saber criativo (campo produtivo). Para o filósofo, a ética, pertence ao domínio 
do saber prático, tendo como objetivo principal estabelecer sob que condições 
podemos agir da melhor forma possível, tendo em vista a busca pela felicidade, ou 
realização pessoal. (MARCONDES, 2007 p.39) 
12 
 
Com o intuito de descobrir o que seja a felicidade, Aristóteles examina a 
natureza humana e suas características, sob o olhar ético, ou seja seu objeto principal 
de preocupação são as virtudes humanas. 
É na filosofia aristotélica, especificamente, na obra Ética à Nicômaco que 
encontramos o emprego da palavra Ética com o mesmo sentido empregado 
atualmente, ou seja, como o “estudo sistemático sobre as normas e os princípios que 
regem a ação humana e com base nos quais essa ação é avaliada em relação a seus 
fins” (MARCONDES, 2007 p. 40) 
Para Aristóteles a felicidade, também é um objetivo buscado por toda a 
humanidade. A felicidade está relacionada à realização humana e ao sucesso em sua 
obtenção, sendo aquilo que todos buscam, e sendo por isso um objetivo da ética. 
A felicidade para o filósofo deve ser entendida como a contemplação das 
verdades eternas, atividade típica do sábio, do filósofo. 
A filosofia aristotélica afirma ainda que a virtude pode ser ensinada, sendo 
inclusive considerada como um dos principais objetivos do conhecimento filosófico. 
Ela resulta do hábito e, portanto, é necessário praticá-la, para que efetivamente nos 
tornemos seres virtuosos. 
Ainda, encontramos no pensamento aristotélico a ideia de justa medida; 
fundamento da ética. Para Aristóteles toda ação deve evitar os extremos, buscando o 
equilíbrio, a justa medida. 
A sabedoria prática, portanto está na capacidade de discernir essa medida. 
 Com o desaparecimento do mundo antigo, assentado na instituição da 
escravidão, nasce uma nova sociedade cujos traços essenciais se delineiam desde 
os séculos V e VI de nossa era, e cuja existência se prolongará durante uns 10 
séculos. Trata – se da Sociedade Feudal, cujo regime econômico – social se 
caracteriza pela divisão em duas classes sociais fundamentais: a dos senhores 
feudais e a dos camponeses servos. 
 Os homens livres das cidades estavam sujeitos a autoridade do senhor feudal, 
por sua vez, o senhor se colocava numa relação de dependência ou vassalagem com 
outro senhor feudal mais poderoso. Esse sistema de dependências ou de vassalagens 
na forma de uma pirâmide cujo vértice era o senhor mais poderoso na figura do rei ou 
o imperador, e ao seu lado a Igreja. Cumpre ressaltar aqui que a Igreja era 
considerada o instrumento do senhor supremo (Deus) ao qual todos os senhores da 
13 
 
terra deviam vassalagem, e exercia por isso um poder espiritual indiscutível em toda 
a vida cultural daquela época, e ao mesmo tempo, o seu poder se estendia aos 
assuntos temporais gerando constantes conflitos com os reis e imperadores, que 
muitas vezes procuravam se dirimir, de acordo com a doutrina denominada “duas 
espadas”. (VAZQUEZ, 2000) 
 O autor nos ensina que esse foi um período em que constatamos a existência 
de uma ética limitada pela índole religiosa e dogmática. O pensamento ético está todo 
ligado à religião, à interpretação da Bíblia e à teologia. 
 A moral da sociedade medieval correspondia às suas características 
econômico – sociais e espirituais. 
 Naquele período constatamos também uma estratificação moral, isto é, uma 
pluralidade de códigos morais: a moral cavalheiresca e a moral aristocrática. 
 Esse período da sociedade tem como principais representantes do pensamento 
voltado para as questões Santo Agostinho (354 – 430 d.C.) e Tomás de Aquino (1224 
– 1274). 
 Em Santo Agostinho encontramos uma síntese da filosofia grega, em especial 
o platonismo, e o cristianismo. A sua ética é o resultado de uma releitura das teorias 
éticas de origem grega e romana destacando - se principalmente o platonismo 
discutido sob a perspectiva cristã.Fizeram parte de seu repertório teórico, as discussões em torno do problema 
da natureza humana e do caráter inato da virtude, a origem do mal, o conceito de 
felicidade, a liberdade e a possibilidade de se agir de forma ética. (MARCONDES, 
2007 p. 53) 
 Basicamente encontramos nos textos Agostinianos, a afirmação de que a 
doutrina cristã forneceria a solução dessas discussões: 
“... a origem da virtude na natureza humana criada por Deus, a queda 
e o pecado original como explicações das falhas humanas, a graça 
divina como possibilidade de redenção e alcance da felicidade na vida 
eterna, e o livre – arbítrio ou liberdade individual concedido ao ser 
humano por Deus, que torna os indivíduos responsáveis por seus 
atos” (MARCONDES, 2007 p. 53) 
 
 Por outro lado, a doutrina aquiniana, toma como base a ética aristotélica, 
igualmente interpretada à luz da doutrina cristã. 
14 
 
 Tomás de Aquino demonstrou que o pensamento aristotélico era compatível 
com o cristianismo, e assim a partir da concepção de virtude do filósofo grego, 
considerava a natureza humana passível de aperfeiçoamento. 
 O teólogo introduz as virtudes teologais: a Fé, a Esperança e a Caridade, e 
conceitua felicidade como beatitude, atingindo, assim, uma visão beata de Deus, que 
será possível por meio da Revelação e da Graça. 
Gradativamente a sociedade continua a sua evolução e nos deparamos com o 
aparecimento de uma nova classe social, denominada burguesia. 
A sociedade moderna vai formatando suas características base na realidade 
dos trabalhadores assalariados, no princípio da mais valia, na valorização da mão de 
obra. O homem passa a valer pela sua capacidade de produção. É uma sociedade 
que constrói suas bases na lei do máximo lucro gerando com isso uma radical 
mudança nos valores morais daquele novo contexto social que se formava. 
Vazquez (2000) então nos explica que surge então uma moral mais 
individualista dando lugar ao espírito de posse e ao egoísmo, tendo o emprego de 
métodos brutais na exploração da mão de obra do trabalhador em busca do 
crescimento econômico. 
Estamos diante das primeiras relações capitalistas de produção, que 
contribuíram para o desaparecimento da sociedade feudal, do enfraquecimento da 
religião como forma ideológica dominante, e o surgimento do Estado Moderno como 
modelo único e centralizador, da organização da sociedade. O culto ao dinheiro e a 
tendência de acumular lucros tornaram o terreno propício para que as relações entre 
os indivíduos fossem construídas baseadas no espírito de posse, no cinismo na 
hipocrisia, fomentando assim, um individualismo exacerbado. 
O homem nesta nova realizada dá a si mesmo sua própria lei. Como sujeito 
cognoscente é ativo, criador e está no centro tanto do conhecimento quanto da moral, 
se sentido responsável pelos seus atos e tendo consciência de seu dever (VAZQUEZ, 
2000). 
Neste período encontramos em Kant (1724 – 1804), o principal pensamento em 
torno da ética, e para este filósofo essa temática pode ser analisada sob dois 
aspectos: o teórico que trata do que ocorre de fato no mundo e o prático que 
corresponde ao que ocorre por vontade livre dos seres humanos. Pela perspectiva 
prática, os seres humanos têm consciência de comandos que eles experimentam 
15 
 
como incondicionados, isto e, os imperativos categóricos. Que são aqueles que 
mandam incondicionalmente e estão a serviço das pessoas. São uma experiência da 
vida cotidiana de convivência entre pessoas. A missão da ética, portanto, é descobrir 
as características formais que tais imperativos devem ter para que tomem a forma de 
normas morais. Essas características, expressas em máximas, são as seguintes: A 
universalidade, referir-se aos seres humanos, valer para uma legislação universal. 
Esses comandos morais devem ser pensados como se fossem leis 
universalmente cumpridas sem que isso implique em nenhuma incoerência e ao se 
obedecer a estes comandos se está obedecendo a sua própria consciência autônoma. 
E ainda, para Kant, a liberdade torna-se um postulado da razão prática, isto é, 
um postulado que não procede da ciência, mas é compatível com o que ela nos 
ensina. Kant considerava que somos capazes de decidir por nós mesmos, 
autonomamente, não levados pelos instintos biológicos, as forças sociais e os 
condicionamentos. Cada pessoa tem o poder da soberania racional sobre si mesmo. 
Assim, é próprio da moral a boa vontade, ou seja, a disposição permanente de 
conduzir a própria vida obedecendo a imperativos categóricos e não às tendências da 
natureza, nesse sentido o bem moral reside na autonomia, na possibilidade de se 
construir corretamente a própria vida. Isso pode ser alcançado com a união entre o 
bem moral e a felicidade que aspiramos por natureza. Porém como a razão não 
oferece nenhuma garantia de que se possa alcançar este bem supremo a única 
possibilidade de se alcançar isso é a fé religiosa. 
Durante o desenvolvimento da sociedade moderna, encontramos também uma 
importante linha de pensamento em torno da ética, qual seja, o Utilitarismo: 
Trata-se de uma versão do hedonismo clássico, mas com uma perspectiva 
social. O utilitarismo procura conjugar a busca do prazer com os sentimentos sociais, 
entre os quais, a percepção de não só nós como os outros também desejam alcançar 
o prazer. 
Constatamos assim, volta da identificação da felicidade com o maior prazer 
para o maior número de seres vivos. É imprescindível, aqui que se opte por uma ação 
que proporcione a maior felicidade ao maior número. Os principais defensores desse 
posicionamento foi o jurista Cesare Beccaria, mas são reconhecidos como clássicos 
16 
 
representantes do utilitarismo Jeremy Bentham (1748-1832), John Stuart Mill (1806- 
1876) e Henry Sigdwick (1838-1900). Bentham propõe uma aritmética dos prazeres, 
pois eles podem ser medidos e comparados. Mill rejeita essa ideia, afirmando que os 
prazeres são na verdade, uma questão de qualidade, uma vez que existem prazeres 
superiores e inferiores, sendo preferíveis os prazeres intelectuais e morais. Há, então 
uma supervalorização dos sentimentos sociais como fonte de prazer. (CORTINA; 
MARTINEZ, 2005 p.11) 
 Dentre as éticas da linguagem, Cortina e Martínez (2005, p.13 e segs.) 
apontam o importante estudo histórico e psicológico empreendido por Nietzsche 
acerca da moral, utilizando para tanto como base uma história dos conceitos morais. 
Para o filósofo, existem três períodos da história humana: pré-moral, moral e 
extra moral, conforme as ações humanas são julgadas pelas consequências, 
procedência (intenção) ou pelo não-intencionado. 
O não intencionado é decisivo para avaliar as ações, significando uma auto 
superação da moral. Tendo esse pensamento o filósofo relativiza o caráter absoluto 
dos valores morais. Assim o moral nasce do imoral ou do extra moral: Moral identifica-
se com o imoral, o que promove a vontade potência dos indivíduos. (CORTINA; 
MARTINEZ, 2005 p.11) 
Na visão deste filósofo a moral europeia e o cristianismo alimentaram o instinto 
de rebanho, o ressentimento nos medíocres para que a vontade de potência não 
triunfasse. O cristianismo continuou a rebelião dos escravos, a vitória dos plebeus 
contra os nobres e contra o domínio dos valores nobres. 
Para ele o animal e o instinto brutal que existe no ser humano continua a atuar, 
pois, sentindo-se inibido em sua vontade potência, vinga-se criando a má consciência 
e a culpa. 
Nietzsche afasta-se de todas as propostas anteriores de moral ao opor-se à 
interpretação teleológica (fim, finalidade) de toda atividade prática do ser humano. A 
necessidade e o determinismo dominam o mundo e a única saída é o fatalismo: o 
destino no sentido da condicionalidade vital. (CORTINA; MARTINEZ, 2005 p.11) 
Além desses pontos, a liberdade do indivíduo é colocada no centro e tem o 
direito de se afirmar diante de todas as exigências morais. A justiça consistiráem dar 
a cada um, o que é seu, pondo cada coisa sob uma nova luz. Justiça é querer realizar 
17 
 
a individualidade de cada um e deixar cada um ser ele mesmo. Trata-se da justiça 
absolutória que reconhece cada individualidade sob nova luz. É o reconhecimento da 
diferença de cada um. Moral não é seguir normas por dever, mas reconhecer os outros 
em seu ser individual. 
 Nessa mesma linha de pesquisa em torno da linguagem a linguagem G. E. 
Moore com a sua obra Principia Ethica (1903) esclarece as questões fundamentais da 
ética, analisando a linguagem moral, principalmente o termo “bom”, gerador de muita 
confusão. Para ele o “bom” só pode ser apreendido por uma intuição pois é uma 
noção indefinível, não sendo demonstrável. 
 Ainda podemos citar John Rawls que propõe uma definição dos 
princípios morais básicos da justiça como se fossem o produto de um hipotético 
acordo unânime entre pessoas iguais e racionais que se encontrem numa situação 
especial, chamada de posição original, na qual poriam entre parêntese os interesses 
particulares de cada um e tendo toda informação geral necessária para adotar 
princípios de justiça adequados à convivência social atual. Assim se chegaria a 
convicções básicas, denominadas “ senso comum” em questões morais e que todos 
compartilham. Na escolha destes princípios básicos de justiça possibilitados pela 
posição original, Rawls propõe que imaginemos pessoas afetadas por um véu de 
ignorância que as impede de conhecer as suas próprias características naturais e 
sociais, isto é, desconhecem os traços físicos, psicológicos e sociais, as crenças e 
projeto de vida que terão. Além disso, não são capazes de dominar ou coibir uns aos 
outros e detém amplos conhecimentos gerais necessários. (CORTINA; MARTINEZ, 
2005 p.12) 
Nesse contexto, pensado pelo filósofo adotar – se - iam os seguintes princípios: 
 
a) Toda pessoa tem direito a um esquema plenamente adequado de liberdades 
iguais compatível com um esquema similar de liberdade para os outros 
(princípio de liberdades iguais); 
b) As inevitáveis desigualdades econômicas e sociais têm que satisfazer duas 
condições para serem aceitas: elas devem estar associadas a cargos e 
posições abertas a todos em condições de equitativa igualdade de 
oportunidades (princípio de justa igualdade de oportunidades) e devem obter o 
máximo benefício aos membros menos privilegiados (princípio de diferença). 
18 
 
 
Na segunda metade do século 20 teremos, um crescente aumento nas 
produções em torno da preocupação ética. As publicações, pesquisas e debates sobre 
este tema estendem – se a todas as áreas da atividade humana. Preocupações éticas 
em torno da política, do Direito, da indústria, comércio, administração, na ciência e 
entre tantos outros campos. 
Paralelamente a essa intensa produção no campo científico, filosófico e 
artístico multiplicam – se movimentos reivindicando ética na vida pública, na vida 
social e no comportamento pessoal. 
Dentre os teóricos contemporâneos, Habermas (1929 – atual) define a tarefa 
do pensamento ético como uma “reconstrução do núcleo universal de nossas 
intuições morais” (MARCÍLIO; RAMOS, 1999 p.26) 
Nós fazemos parte do mundo e da sociedade e devemos respeitar a natureza 
e é nosso dever ético conservá – la para as futuras gerações. É uma ordem cósmica 
da natureza a comandar a ordem ética do comportamento humano. 
É de forma consciente e livre que o homem desenvolve sua atividade, 
subordinada às leis da natureza da ordem universal. É esse o sentido das 
reivindicações atuais da ética nos mais diversos setores da vida social; a exigência do 
respeito à dignidade da pessoa humana em todas as suas dimensões e em todos os 
lugares, traduzindo principalmente na luta universal pelos direitos humanos e a 
retomada da responsabilidade que o homem tem com seu destino, com sua casa 
(Terra) 
Hans Jonas (1903 -1993) se destaca como um precursor da ideia de que o 
homem caminha para a autodestruição, caso não assuma um novo paradigma de 
princípios, de direitos e de deveres, tendo em mente a preservação das condições da 
vida humana em relação ao mundo em que habita. A relação entre ética e tecnologia 
tornou-se sua principal preocupação. (GABRIEL, 2019 s/p) 
Sua postura é absolutamente ética, preocupada em conter o descontrole da 
tecnociência e economia avassaladoras e destrutivas da humanidade. A preocupação 
de Hans Jonas está sedimentada no vazio a relativismo ético pela qual a sociedade 
pós-moderna vem passando e que exige novas formas de impor deveres e princípios 
que proporcionem segurança à humanidade. 
19 
 
Apresenta a necessidade da responsabilidade enquanto princípio importante 
para fundamentar a ética de uma civilização onde a tecnologia oferta poderes de 
imensurável utilização, mas que produzem imprevisíveis consequências éticas 
podendo serem catastróficas para a humanidade. 
O pensador propões em sua ética da responsabilidade a necessidade de 
preservar a permanente ambiguidade da liberdade do homem e a integridade de seu 
mundo e de sua essência frente aos abusos do poder (PELIZZOLI, 2003 p. 97) 
Hans Jonas, considera que a ética, a partir do imperativo categórico de Kant, 
“age de tal maneira que a máxima de sua ação se torne universal” não pode ser mais 
aplicada na atual situação do mundo contemporâneo. O imperativo ético de Hans 
Jonas, identifica-se como um princípio ético subjacente à civilização tecnológica e que 
pode se expressar da seguinte forma: “age de tal maneira que a máxima de sua ação 
permita a perpetuação dos seres humanos no planeta”. O princípio da 
responsabilidade alerta que as consequências das ações na perspectiva tradicional 
limitam-se ao âmbito humano do presente e, com o advento do poder/saber técnico, 
e importante pensar nas consequências de nossas ações para o futuro. (GABRIEL, 
2019 s/p) 
O princípio da responsabilidade de Hans Jonas é enfático ao demonstrar que o 
homo faber se colocou muito acima do homo sapiens, do homem da inteligência e do 
bom senso. No entanto, o agir coletivo e a definição de ser humano exigem uma nova 
forma de pensamento e de ação, baseada em novos imperativos éticos. 
O pensador afirma que uma nova ética deve coibir as ações prejudiciais em 
relação ao planeta, preocupando -se principalmente com o grande arsenal de 
destruição que o homem potencialmente produz contra si mesmo. E essa 
preocupação impõe na visão do filósofo a necessidade de se preocupar com a 
educação ambiental e também com as ações humanas. A grande preocupação, 
portanto, está depositada no fato de que a ciência siga por caminhos éticos pautados 
pelo princípio responsabilidade, subjacente ao ser em toda sua plenitude. 
As preocupações em torno da ética, tem fomentado uma série de discussões, 
debates, posicionamento, no curso da história. Aqui, cumpre – nos apenas apresentar 
alguns posicionamentos importantes para o conhecimento, mas certamente o debate 
teórico não se esgota com a apresentação dos pensamentos acima apresentados. 
 
20 
 
Divisões da ética: 
 Segundo orientação conceitual, podemos dividir a Ética em alguns segmentos, 
quais sejam: 
 Ética normativa que se subdivide em ética teleológica e deontológica; 
 Metaética 
 Ética geral 
 Ética Profissional 
 
Ética normativa: se detém a um estudo histórico – filosófico ou conceitual da 
moralidade, isto é, das normas morais espalhadas pela sociedade, praticadas ou não. 
A ética normativa teleológica entende que este campo do conhecimento deve 
conduzir a um fim natural, ou à felicidade, ao bem-estar ou à utilidade geral. 
A ética normativa deontológica entende que a noção primordial é a da 
necessária e imperativa obediência ética pela consciência do dever e da 
responsabilidade individual e social. 
A Metaética se propõe a se ruma investigação epistemológica, ou seja, uma 
avaliação das condições de possibilidade de qualquer estudo ou propostateórico 
ética. É um estudo da natureza, função e justificação dos juízos morais. 
Ética geral analisa e estuda as normas sociais que atingem toda a coletividade e 
possui lineamentos abrangentes, correspondendo ao conjunto de preceitos aceitos 
numa determinada cultura, época e local, não por meio do consenso popular, mas 
pela maioria predominante. 
A ética aplicada/profissional se dedica à apreciação de normas morais e códigos 
de ética especificamente localizáveis na sociedade. Está relacionada à categoria de 
pessoas, de grupos. Essa vertente da ética se manifesta nos estudos da ética 
ecológica, familiar, profissional, empresarial entre outras. 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. ÉTICA PROFISSIONAL 
 
Quando tratamos da ética sob o ponto de vista profissional nos detemos às 
normas que presidem o relacionamento humano por meio do trabalho, realizando uma 
reflexão da conjugação da ação laboral e a ação moral. 
Profissão sob o aspecto prático é definida como a prática reiterada e lucrativa, 
da qual extrai o homem os meios para a sua sobrevivência, buscando sua qualificação 
e aperfeiçoamento moral, técnico e intelectual, proporcionando, assim, um benefício 
social. Sob o aspecto moral, a profissão representa um compromisso social que 
deverá ser exercido buscando a proteção da dignidade humana. 
Ainda sob a ótica moral, a profissão é uma atividade pessoal que é 
desenvolvida de forma estável e honrada, não só a serviço dos outros, mas também 
em benefício próprio. 
Um código de ética pode ser compreendido como uma relação das práticas de 
comportamento que se espera que sejam observadas pelos sujeitos no exercício das 
atividades profissionais. Essas normas inseridas em um código de Ética visam o bem-
estar de uma sociedade, assegurando a integridade de procedimentos de seus 
membros interna e externamente a uma determinada Instituição. 
Para Bittar (2008, p 429) “ o que define um estatuto ético de uma determinada 
profissão é a responsabilidade que dela decorre, pois quanto maior sua importância, 
maior a responsabilidade que dela provém em face dos outros”. 
A ética profissional é a formação da consciência profissional sobre padrões de 
conduta 
22 
 
Princípios éticos existem em todas as comunidades e podem ser aceitos por 
consenso, bem como podem se apresentar por meio da forma escrita, usualmente 
através de códigos de ética. O código de ética torna os princípios éticos obrigatórios 
aos praticantes, assegurando, assim, sua observância. 
Esse código contém, asserções sobre princípios éticos gerais e regras 
particularizadas sobre problemas específicos da prática de uma determinada 
profissão. 
Certamente, nenhum código, consegue abranger todos os problemas que 
surgem no exercício de determinada profissão, e em virtude disto, ele deve ser 
suplementado com o posicionamento de órgãos competentes e por associações 
profissionais. (LISBOA, 2012 p.58). Porém, no exercício da atividade profissional, o 
trabalhador deve estar preparado para assumir responsabilidade perante si, seus 
companheiros de trabalho e perante toda a coletividade. 
A liberdade absoluta que o indivíduo possui para escolher um determinado 
comportamento de natureza ética, não se aplica completamente no campo 
profissional. Diante dessa circunstância o profissional deve ajustar seus 
posicionamentos éticos aos mandamentos mínimos que compõem o comportamento 
da categoria a que pertence. 
Assim, a liberdade ética individual é limitada pelas exigências da corporação 
ou instituição que controla os atos de seus empregados. Sua liberdade profissional é 
restringida com o intuito de não ferir as exigências coletivas, havendo com isso uma 
responsabilidade para com o coletivo imanente. 
De uma maneira geral os códigos de ética devem conter em seu repositório os 
seguintes aspectos: (ANTONIK,2016 p.159) 
 
 Accountability (prestação de contas) 
 Compliance (obediência à lei) 
 Confidencialidade 
 Honestidade 
 Integridade 
 Lealdade 
 Objetividade 
 Respeitabilidade 
23 
 
 Transparência 
 
Além disso, Antonik (2016 p. 161) esclarece que além dos aspectos acima 
apresentados, um código de ética trata de: 
 
 Direitos e deveres do profissional 
 Limites dos relacionamentos entre colegas e clientes 
 Regras de sigilo profissional 
 Respeitos aos direitos humanos, no que se refere às pesquisas 
científicas, meio ambiente e relações sociais. 
 
Assim, podemos compreender que a ética profissional é elaborada pelos 
conselhos que representam e fiscalizam as atividades profissionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. ÉTICA EMPRESARIAL 
 
No mundo dos negócios, a preocupação com as questões éticas, vem se 
fortalecendo e valorizando sobremaneira, uma vez que a simples consideração de 
que uma empresa possui um código de ética, tem sido considerado um aspecto muito 
positivo. Isso vem sendo corroborado com um atual crescimento da boa prática 
empresarial nas empresas brasileiras. (ANTONIK, 2016 p.166) 
 
Quando tratamos das questões éticas que envolvem as relações empresariais 
devemos considerar em que dimensões essas questões devem ser aplicadas: 
A Sustentabilidade, respeito à Multicultura, Aprendizado contínuo, inovação e 
Governança Corporativa. (SANTOS, 2015 p.5) 
 
A dimensão da sustentabilidade estabelece limites para ações que interfiram 
no meio ambiente, sendo um dever da empresa preocupar – se com a dispensa de 
resíduos e lixo industrial 
 Conforme Santos (2015 – p. 9) a sustentabilidade cria condições para um 
processo ser realizado ou ainda condições para alguém ou algo existir. A empresa 
não passa de um microssistema que está inserida numa dimensão muito maior que 
é a sociedade que compõe um macrossistema. Isso significa que a atuação de uma 
25 
 
empresa reflete diretamente no desenvolvimento de uma sociedade, do planeta como 
um todo. 
A sustentabilidade é formada pela convergência de três aspectos a saber: 
socioambiental, eco eficiência e socioeconômico. 
 
a) Aspectos ambientais: 
 
Toda empresa deve estar atenta aos impactos ambientais que podem ser 
ocasionar no processo produtivo, no impacto das suas instalações, nos impactos 
ocasionados dentro da comunidade em que está localizada. 
É obrigação das empresas ações necessárias para a proteção ambiental da 
comunidade em que está sediada, sendo: 
 A verificação se insumos e materiais utilizados causam impacto 
ambiental; 
 Verificação da forma de produção de insumos e materiais utilizados 
mesmo daqueles materiais produzidos por terceiros 
 Reaproveitamento de lixo ou formar de evitar desperdícios 
 Busca de melhorias de processo e certificações 
 Cálculos do impacto ambiental e formas de evita-los 
 Políticas para orientação, prevenção e correções de comportamentos. 
(SANTOS, 2015 p.11) 
 
b) Aspectos econômicos: 
 
 As empresas devem evitar uma visão limitada dos gestores que pode ocasionar 
impacto na própria imagem institucional, na gestão e resultados econômico. A 
negligência em relação às questões éticas é um comportamento que pode ocasionar 
esse impacto. 
 O aspecto econômico também é negligenciado, quando há desperdiço de 
recursos, perda de oportunidades de impulsionamento financeiro podendo ocasionar 
o encerramento das atividades empresarias. É fundamental que os gestores realizem 
estudos adequados da utilização de recursos, realizem projetos econômico – 
26 
 
financeiros, comportamento de mercado, para que a empresa se adeque à postura 
ética que deve ter dentro de um determinado contexto social. 
 
c) Aspectos sociais: 
 
 A responsabilidade social se caracteriza pelo fato das pessoas ou empresas 
buscarem garantir a inclusão social, a sustentabilidade e o respeito aos indivíduos. 
Ela pode ser desenvolvida através de projetos ou programas que façam parte da 
política institucional.Dentre as ações que podem ser praticadas, Santos (2015 p.12) 
elenca as seguintes: 
 
 Criação e promoção política interna e externa justa, transparentes e éticas que 
promovam o crescimento profissional; 
 Desenvolvimento de ações incentivadoras do convívio harmonioso entre 
funcionários, fornecedores, clientes e a comunidade; 
 Valorização dos agentes envolvidos na gestão empresarial. 
 
O respeito à cultura como segunda dimensão da ética empresarial pressupõe 
o envolvimento dos colaboradores e o respeito à multicultura e às diferenças. É 
necessária a participação dos funcionários, agentes e a comunidade de forma que 
haja consideração à multicultura e as diferenças individuais, respeitando assim a vida, 
a valorização do indivíduo, o ecossistema, as diferenças culturais, religiosas, étnico – 
raciais entre outras. 
 
Quanto à terceira dimensão a educação e o aprendizado continuado são 
relevantes para o acompanhamento de novas realidades sociais e o conhecimento de 
possíveis impactos sociais. Essa dimensão considera a necessidade de profissionais 
qualificados e atualizados para contribuírem para uma gestão mais ética, uma vez que 
o conhecimento e a adoção de novas tecnologias e processos permitem o 
desenvolvimento da sustentabilidade e responsabilidade social. 
 
A inovação se apresenta como quarta dimensão e acaba por ser uma 
consequência da valorização da educação e do aprendizado continuado devendo ser 
27 
 
incentivada pelas organizações. Ela é imprescindível par ao desenvolvimento de 
novas tecnologias e processos éticos que sejam capazes de contribuir com a 
sociedade. Além disso, possibilita o desenvolvimento de políticas que consideram as 
necessidades e realidades institucionais. (SANTOS, 2015 p. 14) 
 
A última dimensão se manifesta através da Governança Corporativa, sendo um 
aspecto importantíssimo para ética empresarial, trataremos desta questão em tópico 
destacado permitindo um aprofundamento mais detalhado. 
 
Um dos aspectos fundamentais da ética é sua utilização de forma integral nas 
relações empresariais, devendo ser aplicadas: 
 
a) Em todas as épocas, respeitando a continuidade e fomentando inclusive o 
emprego de treinamentos periódicos 
b) Em todas as áreas internas a fim de que os profissionais tenham ciência de que 
o agir de forma ética deve ocorrer em todos os setores de uma empresa. 
c) Em ambientes internos e externos, uma vez que o profissional representa a 
empresa e, portanto, deve estar atento ao seu comportamento em público, que 
pode afetar a imagem da instituição. 
d) Em diversos níveis hierárquico uma vez que o comportamento ético é destinado 
a todos indivíduos inseridos no contexto empresarial, desde em níveis 
hierárquicos mais baixos até os níveis em que estão agentes de alto escalão. 
Sendo assim, uma política ética deve influenciar a todos os níveis da cadeia 
produtiva. 
 
O comportamento ético empresarial normalmente será transmitido por meio de 
um código de Ética. Esse código de conduta, além dos parâmetros para a atuação do 
profissional neste meio, prevê em seu conteúdo quais as intenções que a empresa 
possui na relação com seus clientes, concorrentes, fornecedores e direciona ainda, 
as relações da empresa com as autoridades reguladoras. 
 
Um código de ética trata das relações principalmente entre: Agentes de 
mercado e concorrentes, agentes governamentais e reguladores, comunidades e 
28 
 
sociedade em geral, consumidores e clientes, fornecedores, parceiros, associados e 
colaboradores, sócios, acionistas e investidores sustentabilidade e meio ambiente. 
Ele procura definir os padrões e normas de conduta possibilitando a regulamentação 
de ações e procedimentos e com isso destacando a seriedade da empresa e o intuito 
de construir uma sociedade melhor. (SANTOS, 2015 p. 34) 
 
Para a sua criação, é necessária a consideração de alguns aspectos, a saber: 
missão, os valores e objetivos da empresa; a realidade e o contexto institucional; os 
aspectos legais; a comunidade interna e externa; a multicultura, os aspectos étnicos 
e religiosos, e ainda o princípio da igualdade, base fundamental da sociedade. 
 Os princípios empresariais compõem a missão, valores e objetivos de uma 
empresa, são de natureza legal e ética e estão incorporados na teoria do negócio, 
devendo ser revisados constantemente e principalmente quando se constate que sua 
validade está em risco. 
 
 Mesmo quando uma empresa conquista um grande sucesso, sua teoria do 
negócio deve ser revisada uma vez que um novo contexto pode estar se formando e 
pondo em cheque o papel da instituição perante a sociedade. 
 
 Além da frequente revisão da missão, valores e objetivos empresarias, é 
imprescindível um cuidado especial à circulação de informações dentro do ambiente 
empresarial. Uma sociedade globalizada e competitiva como a atual, fornece uma 
grande facilidade de comunicação e difusão das informações, o que pode fomentar 
um descontrole da instituição. 
 É necessário que a empresa assuma um papel de responsabilidade diante da 
circulação das informações, impondo – se assim uma postura ética na utilização da 
tecnologia e da internet, evitando – se assim a prática de crimes e a ocorrência de 
prejuízos aos indivíduos. 
 Um código de conduta deve prever uma série de assuntos dentre eles: O 
cumprimentos das leis e pagamento de tributos, operações com partes relacionadas, 
o uso de ativos da organização, questões que envolvam conflitos de interesses, 
informações privilegiadas, política de negociação das ações da empresa, processos 
judiciais e arbitragem, delação, prevenção e tratamento de fraudes, pagamentos e 
29 
 
recebimentos questionáveis, recebimento de presentes e favorecimento, doações, 
atividades políticas, privacidade, nepotismo, meio ambiente, discriminação no 
ambiente de trabalho, exploração do trabalho adulto ou infantil, assédio moral e 
sexual, segurança no trabalho, relações com a comunidade e ainda sobre o uso de 
álcool e drogas.(SANTOS, 2015 p.34) 
O código de conduta está direcionado principalmente aos indivíduos que atuam 
internamente na empresa, porém, suas normas devem também contemplar toda 
pessoa ou grupo que de alguma forma tem interesse na empresa. A doutrina os 
denomina de stakeholders, e são considerados como partes interessadas, uma vez 
que estão envolvidos direta ou indiretamente com a empresa e, portanto, atingem de 
alguma forma a conduta empresarial, dentre eles podemos apontar, os clientes, os 
fornecedores, terceirizados, prestadores de serviços e concorrentes. 
 
 
 
 
5. ÉTICA EMPRESARIAL X ESTRATÉGIA E COMPETITIVIDADE 
 
A princípio Ética e competitividade são termos que podem dar a impressão que 
se conflitam. Isso se dá porque a Ética nos remete à valores e normas de conduta que 
objetiva o bem-estar pessoal e coletivo e, no entanto, a competitividade nos conduz 
para uma luta frequente de uns com os outros. 
Porém, não há necessidade de que isso ocorra, considerando que a 
competitividade é uma expressão muito empregada nos meios empresariais 
Competir significa a busca simultânea de dois ou mais indivíduos por uma 
vantagem, um estatuto. O problema está no modo como o indivíduo atinge essa 
posição, sendo aqui que se exige a presença da ética. É certo que a competitividade 
está presente no trabalho, nos estudos, na carreira, etc., Porém, muitas vezes essa 
situação de competição pode tornar-se –se uma atividade sobrecarregada pela falta 
de ética das pessoas que formam a organização. 
A competitividade é um requisito excelente onde há cooperação, onde o 
indivíduo e a organização pensam no coletivo, no bem comum. 
30 
 
Adotar os padrões comportamentais de natureza ética se tornou fundamental 
nas organizações que querem ser competitivas, porque os princípios éticos são cada 
vez mais exigidos pelas pessoas e pelas comunidades em geral. Percebe –se com 
isso, que a competitividadepode ser positiva ou negativa dependendo do modo como 
venha a ser praticada no contexto empresarial. 
As empresas, atualmente entendem que é também desejável, conciliar 
harmoniosamente ética e competitividade. Aquelas que souberem adotar critérios de 
rigor, competência, relações internas e externas que inspirem confiança ganham 
vantagem competitiva saudável e menos conflituosa. 
Dias (2014, p.104) explica que a competitividade não nos pode separar da ética 
e da moral, da responsabilidade associada aos valores, dos princípios e às regras 
presentes numa organização. Ela deve contribuir para o sucesso, tanto das pessoas 
como das organizações. Os princípios éticos devem ser utilizados nos diversos 
relacionamentos da organização com todos os que a constituem, interna e 
externamente. 
As organizações são sistemas de cooperação e competição, enquanto há uma 
colaboração para atingir os objetivos que são comuns a todos e que constituem os 
fins da organização. No entanto, não se pode desconsiderar também a competição 
por maiores privilégios, por promoção pessoal, para obtenção de benefícios, quando 
isso é praticado de forma a prejudicar o outro, e, por isso se caracteriza como 
comportamento antiético. (DIAS, 2014 p. 105) Situações como esta, podem criar mal-
estar nas relações interpessoais alimentando sérios conflitos que direta ou 
indiretamente afetam a própria organização empresarial. 
Conforme ensina Dias (2014 p. 106) que as relações, independentemente das 
competências, ou dos estatutos de cada um, tem a necessidade de partilhar valores, 
princípios universais, dirigidos a todos, valorizando a dignidade da pessoa humana e 
garantindo a todos os recursos humanos na organização. Esta garantia dada pelas 
leis universais deve também ser legitimada com os códigos éticos de cada 
organização. É importante referir que, quando surgem em contexto organizacional 
conflitos, temos de ter uma consciência clara que a participação de todos nas soluções 
é a melhor maneira de defender a dignidade das pessoas no presente das 
organizações, mas também no seu futuro 
 
31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. GOVERNANÇA CORPORATIVA 
 
 De acordo com Santos (2015, p.76) a governança é um conjunto sistêmico de 
processos, práticas e normas que regulam uma empresa como objetivo de garantir a 
ética, transparência e gestão. O autor, ainda apresenta a definição do Instituto 
Brasileiro de Governança Corporativa, a saber: 
 
Governança Corporativa é o sistema pelo qual as organizações são 
dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo as práticas e os 
relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, 
diretoria e órgãos de controle. 
 
A principal finalidade da governança corporativa é tornar melhor o 
relacionamento e satisfação dos agentes envolvidos. Para que se alcance esse 
resultado é imprescindível o respeito à missão, a visão e valores da empresa, 
considerando –se ainda o relacionamento com os agentes e com o meio ambiente. 
32 
 
Sendo assim, são seus princípios básicos: a transparência, a equidade, a prestação 
de contas e a responsabilidade corporativa. 
Com base, ainda nas explicações de Santos (2015, p. 76) o auxilio que a 
governança corporativa pode proporcionar às empresas, se situa nas seguintes 
esferas: 
 A ampliação do retorno de investimentos 
 Aumento do valor da sociedade 
 Possibilitar o acesso a financiamentos de terceiros 
 Captação de recursos internacionais 
 Ampliação de investimentos dos sócios 
 Conquista de novos sócios 
 Permitir a continuidade da sociedade 
 Obtenção de transparência interna e externa, com relação à imagem e 
confiabilidade institucional 
 
O instituto da Governança Corporativa, tem sua origem reconhecida nos 
Estados Unidos, em meados de 1990, 
Fatos mundiais importantes como a crise e a turbulência financeira mundial e 
ainda a aprovação de grandes mudanças legais no setor da contabilidade nacional 
fomentaram o crescimento da necessidade desse instituto junto às empresas, 
permitindo a revisão de suas práticas e a ampliação de transparência e segurança, 
(SANTOS, 2015 p. 78) 
No Brasil, não foi diferente, pois, uma maior abertura do mercado para as 
empresas estrangeiras, além de todo o processo de globalização e dinâmica de 
mercado que afetou as mais diversas áreas da economia muitas organizações 
buscaram mercados externos com o intuito de acessarem e adotarem melhores forma 
de controle, acompanhamento e gestão de suas atividades empresariais 
Em nosso país, a principal referência na elaboração de políticas de governança 
corporativa é o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Esse Instituto 
exerce fundamental papel na criação das diretrizes e orientações para a governança, 
uma vez que seus membros procedem a uma constante discussão e atualização das 
práticas nacionais que vem a serem incorporadas pelas empresas. 
33 
 
O Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa é instrumento 
fundamental, que orienta e auxilia a elaboração e implementação das políticas 
corporativas (SANTOS, 2015 p.77). 
 De acordo com Álvares et al. (apud SANTOS, 2015 p. 78) os modelos teóricos 
que fundamentam o desenvolvimento da prática da governança corporativa, são: O 
modelo financeiro (visão contratual da firma); modelo público relevante (busca 
melhorar as relações e tornar públicas as ações); modelo de Procuradoria (ênfase nos 
gestores) e o modelo Político (com base nos motivos políticos internos e externos). 
 Além disso, é preciso conhecer a realidade de cada empresa para que se possa 
definir quais as políticas de governança. 
 Os principais modelos teóricos que embasam o desenvolvimento de 
Governança Corporativa, são: Financeiro, Públicos Relevantes ou Stakeholders, 
Procuradoria e o Político. 
 O modelo Financeiro, apresenta um formato mais legalista com base numa 
visão contratual da empresa. Segundo Alvares et. al. (apud SANTOS, 2015 p.790 este 
modelo apresenta uma gestão preocupada em construir regras de alinhamento aos 
interesses dos administradores e dos proprietários.) 
 O modelo Públicos Relevantes preocupa-se em melhorar as relações e tornar 
as suas ações públicas, prestando contas para a comunidade. 
 Já o modelo de Procuradoria a preocupação maior é com os gestores que 
buscam um retorno elevado para os acionistas. 
 E, finalmente o Modelo Político adota a Governança Corporativa por razões 
políticas internas e externas. (SANTOS, 2015 p. 79) 
 Para que possam ser adotadas políticas de governança corporativa adequadas 
à cada empresa, é necessário uma precisa classificação dessas instituições, e essa 
classificação pode se dar da seguinte forma, conforme nos orienta Santos (2015 p. 79 
e segs.) 
 
a) Quanto à natureza jurídica: 
 
 Terceiro Setor: são instituições não governamentais, sem fins lucrativos, 
com objetivo de gerar serviços públicos. 
34 
 
 Cooperativas: são aquelas que exercem suas atividades na forma da lei, 
por meio de atos cooperativos de prestação de serviços diretos aos seus 
associados, sem fins lucrativos, que desenvolvam a mesma atividade e 
com a finalidade de obterem em comum melhores resultados para cada 
um deles em particular. 
 Sociedade limitadas: tipo de sociedade que realiza atividade 
empresarial, formada por dois ou mais sócios que contribuem com 
moeda ou bens avaliáveis em dinheiro para a formação do capital social. 
 Sociedades anônimas: são empresas em que o capital social está 
dividido em ações. 
 
b) Quanto às estruturas de controle: 
 
 Definido: é um controle exercido por um acionista ou grupo de acionistas 
vinculado por acordo de sócios ou sob controle comum que possui 
formalmente mais de 50% das ações ou quotas com direito a voto da 
organização. 
 Difuso: controle exercido por acionista ou grupo de acionistas que não 
esteja vinculado por acordo de sócios nem sob controle ou 
representandointeresse comum, detentor de parcela relevante do 
capital votante da organização, mas inferior a 50% do capital social. 
 Pulverizado ou disperso: a composição acionária está espalhada entre 
um grande número de acionistas, não existindo com isso um acionista 
ou grupo capaz de exercer o controle de forma permanente. 
 
c) Quanto à caracterização do controlador: 
 
 Estatal: São empresas controladas pelo Estado, por possuírem a maioria 
do capital votante 
 Familiar/Multifamiliar: empresa em que uma ou algumas famílias detêm 
o poder de controle da empresa 
 Não familiar: o controle está em poder de mais de um grupo empresarial, 
ou possui controle definido ou difuso, mas o controle é familiar 
35 
 
 Estrangeiro: O controle está em poder de controladores estrangeiros 
 Institucional: Controladores são investidores (fundos de pensão, fundos 
de investimento) 
 
d) Quanto ao porte da empresa: 
 Microempresas e empresas de pequeno porte: as microempresas são 
constituídas com uma receita bruta anual de até R$ 360.000,00 e as de 
pequeno porte possuem uma receito bruta anual entre R$ 360.000,00 a 
R$ 3.6000.000,00. 
 Médias empresas: são empresas que não tem obrigação pública de 
prestação de contas e elaboram demonstrações contábeis para fins 
gerais para usuários externos. 
 Grandes empresas: são aquelas que têm receita bruta anual acima de 
R$ 300 milhões ou possuem ativos acima de R$ 240 milhões 
 
Tendo em vista essas classificações há uma variação na estrutura política e 
administrativa da governança corporativa. Todos esses modelos de empresas 
possuem sócios, fornecedores, clientes, stakeholders, também possuem intervenção 
no meio ambiente e por isso produzem impacto social. Isto posto, é imprescindível o 
desenvolvimento de práticas de Governança Corporativa para todos os modelos de 
empresas, levando inclusive em consideração os seus custos e a capacidade de 
gestão de cada uma delas. 
7. PRINCÍPIOS ÉTICOS NAS FINANÇAS 
 
As questões éticas estão inseridas todas as atividades humanas, mesmo porque 
todos os indivíduos sempre têm uma dimensão moral. A área financeira é 
reconhecidamente um território de mentes quantitativas, o tipo de ambiente onde a 
maior preocupação é o dinheiro. 
A maior preocupação tem se concentrado bastante na regulamentação do 
mercado de modo a lhe garantir um mínimo de credibilidade e estabelecer limites de 
exposição para os diversos agentes em função do risco sistêmico. Encontramos 
também um crescente interesse na avaliação do desempenho dos fundos de 
investimento com preocupações humanitárias ou fundos éticos em contraste com 
36 
 
outros fundos e com índices de mercado além de se saber se atitudes éticas e/ou 
socialmente responsáveis levadas a cabo pelas empresas são legitimadas dentro do 
conceito de maximização da riqueza dos acionistas; bem como há por parte das 
empresas uma grande preocupação em suavizar as arestas nos conflitos de agência 
entre corretores, investidores e firmas corretoras. 
Atualmente, preocupar – se com as questões éticas dentro das finanças é 
sinônimo de: Ver a profissão como uma prática e nessa prática buscar o “bem interno” 
acima de todo o resto. Considerar os atributos da profissão para que esta seja uma 
prática, estabelecer seus próprios padrões de excelência e ser em parte definida por 
eles; as práticas devem ser dirigidas ao objetivo (teleológica); devem ser orgânicas 
acompanhando a evolução. 
Além disso, os atributos dos “bens internos” dentro dessa prática devem serem 
únicos àquela atividade; serem ilimitados; intangíveis; não podendo ser simplesmente 
definidos, quantificados ou matematicamente enumerados (MOREIRA, 2002 p.10) 
 
 
 
 
 
 
 
 
8. COMPLIANCE NO SETOR FINANCEIRO E A LEI DE SARBOX 
 
Estruturar uma empresa é um procedimento que requer tempo, maturidade 
institucional e profissionalismo. Mas adotar um padrão ético dentro do âmbito 
empresarial é considerado pela doutrina uma decisão mais difícil que requer não só a 
maturidade empresarial e propósitos sólidos. É certo que gestores devem ter 
consciência de que são responsáveis pelos lucros e pelo desafio das 
responsabilidades sociais. 
É imprescindível que a ética seja a base de toda gestão empresarial e essa 
questão se fortalece quando constatamos que a corrupção cobra um alto preço para 
todas as nações, sem exceções. 
37 
 
Considerando essa preocupação elevada com as questões éticas, nos estados 
Unidos e Europa, empresas e entidade públicas têm adotado códigos de conduta com 
a finalidade de impedir que empregados/ servidores recebam presentes de qualquer 
valor (ANTONIK, 2016 p.36). 
 O princípio básico da responsabilidade operacional abarca duas medidas: 
segregação de funções e controle. 
 A segregação de funções, dispõe que determinadas ações não podem ser 
praticadas pelo mesmo indivíduo. Antonik (2016 p. 34) nos aponta um exemplo para 
uma boa compreensão: uma autoridade que concede um determinado benefício não 
pode ser o beneficiado desta concessão. 
 O controle impõe que a responsabilidade operacional exige a existência de 
sistemas de auditoria interna, externa e indicadores de controladoria. 
 A responsabilidade operacional (segregação de funções e o controle), impõe 
medidas que tem por finalidade evitarem que as empresas tenham perdas 
significativas de suas receitas, muitas vezes em virtude de comportamentos 
inadequados de seus próprios funcionários. 
 Com o intuito de reduzir essas perdas, as empresas têm criado linhas diretas 
para denúncias, mas também, têm se preocupado com a educação de seus 
funcionários acerca das atividades fraudulentas, ensinando – os a identificar 
situações, em seu próprio meio de trabalho, que de alguma forma indiquem a 
possibilidade da prática de algum tipo de fraude. Nas empresas de grande porte, áreas 
que eventualmente apontem a existência de comportamentos inadequados são 
analisadas por auditorias internas, que além de proporcionar uma análise detalhada 
das atividades empresariais, proporcionam o conhecimento de procedimentos e 
controles da empresa. 
 Entretanto, as auditorias externas também possuem um papel fundamental na 
prevenção de problemas dessa natureza, pois podem apontar erros e sugerirem 
melhorias que auxiliam na criação de sistemas de controles internos e prevenção à 
fraude. 
 As empresas são consideradas como organismos vivos que devem construir 
uma política de incentivo ao aprendizado. É necessário que seus agentes estejam 
abertos às mudanças que se fazem necessárias proporcionando, assim, uma 
adequada adaptação aos novos tempos. 
38 
 
 Apesar da tendência de muitas empresas se portarem de maneira mais rígida, 
atualmente o cenário indica que os novos gestores são desafiados a realizarem o 
mesmo trabalho, buscarem os mesmos lucros, porém sob uma ótica mais 
humanizada. (ANTONIK, 2016 p.40) 
 Um ambiente empresarial mais saudável e inteligente, nasce conforme Antonik 
(2016 p. 41) do emprego de elementos de controle, e seus resultados devem ser 
objeto de discussões, análises não só entre integrantes da gerência, mas também 
entre os subordinados, com o principal intuito de possibilitar o enfrentamento e 
aprendizado, por parte de todos os integrantes das instituições empresariais. É mister 
que proprietários e subordinados identifiquem em conjunto objetivos a serem 
alcançados, definam responsabilidade a serem assumidas. 
 Empresas eticamente responsáveis, mantém a responsabilidade em relação 
não só aos seus acionistas, mas também em relação aos seus fornecedores, clientes 
e inclusive em relação ao governo. Elas não exploram seus fornecedores, não 
oferecem propina, respeitam os seus colaboradores e principalmente respeitam o 
meio ambiente. 
 Tendo em vista, as exigências éticas no âmbito empresarial, as organizações 
vêm adotando, também, uma série de normas que objetivam o combate, a inibição, a 
repressão àcomportamentos considerados inadequados na esfera de negócios. 
 Compliance é um conjunto normativo que assevera o cumprimento de regras 
de determinado setor. Conforme nos ensina Antonik (2016 p. 46): 
 
“ ... é a adesão da empresa a normas ou procedimentos de 
determinado setor, tendo como objetivo central o combate à 
corrupção, ao possibilitar a identificação de possíveis infrações, a falta 
de cumprimento de uma norma legal. Pressupõe o cumprimento de 
regras e regulamentos, trabalhando ou agindo dentro da lei”. 
 
 
Composto por leis, decretos, resoluções, normas, atos e portarias, o 
Compliance é toda uma estrutura regulatória aplicada pelas agências que controlam 
e regulam o setor em que se insere a empresa. 
Em seu sentido etimológico, Compliance vem do inglês, to comply, que significa 
seguir regras, instruções, normas, diretrizes ou simplesmente responder a um 
comando. O Compliance pressupõe a adesão e respeito a normas e regulamentos 
(ANTONIK, 2015 p. 47) 
39 
 
Com a finalidade principal de combater a corrupção sua atividade se manifesta 
através de cinco aspectos: 
 Regulamentação 
 Educação 
 Cooperação 
 Transparência 
 Independência 
 
A regulamentação ocorre por meio de regras claras, possíveis e disseminadas, 
com a concordância de todos na sociedade. 
 A educação se materializa por meio da formação e capacitação em torno de 
conceitos como integridade e ética com o intuito de engajar os envolvidos. 
 A cooperação se manifesta através da integração e colaboração entre países 
diferentes e instâncias regulamentares e investigativas. 
 A transparência ocorre por meio de ferramentas de divulgação, monitoramento 
e acompanhamento de informações públicas. 
 E a independência pressupõe liberdade para a investigação e julgamento de 
casos de corrupção. (ANTONIK, 2015 p. 48) 
 
 Lei brasileira de Compliance – Lei anticorrupção 
 
A Compliance no Brasil adquiriu um importante significado após a promulgação 
da Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, denominada Lei Anticorrupção (ou Lei do 
Compliance) que dispõe sobre a responsabilidade administrativa e civil de pessoas 
jurídicas, de qualquer natureza ou formato societário, pela prática de atos contra a 
administração pública nacional ou estrangeira. 
A lei acima citada responsabiliza as pessoas jurídicas, inclusive os sucessores, 
dirigentes e administradores, tanto no âmbito administrativo como civil, por atos 
praticados em benefício próprio. 
Antonik (2016 p.51) com base na análise da Lei anticorrupção, elenca quais 
atos são considerados lesivos à administração pública nacional ou estrangeira, a 
saber: 
40 
 
 Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a 
agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada; 
 Financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo subvencionar a 
prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei; 
 Utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou 
dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos 
atos praticados; 
Quanto as licitações e contratos realizados são considerados atos lesivos: 
 Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro 
expediente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público; 
 Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de 
procedimento licitatório público; 
 Afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento 
de vantagem de qualquer tipo; 
 Fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente; 
 Criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar 
de licitação pública ou celebrar contrato administrativo; 
 Obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de 
modificações ou prorrogações de contratos celebrados com a 
administração pública, sem autorização em lei, no ato convocatório da 
licitação pública ou nos respectivos instrumentos contratuais; ou 
 Manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos 
celebrados com a administração pública; 
 Dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades 
ou agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das 
41 
 
agências reguladoras e dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro 
nacional. 
Algumas inovações são apresentadas pela Lei Anticorrupção, sendo principais 
as seguintes: 
 
a) Responsabilidade Objetiva: empresas podem ser responsabilizadas em 
casos de corrupção, independentemente da comprovação de culpa. 
b) Penas mais rígidas: valor das multas pode chegar até a 20% do 
faturamento bruto anual da empresa, ou até 60 milhões de reais, quando 
não for possível calcular o faturamento bruto. Na esfera judicial, pode ser 
aplicada até mesmo a dissolução compulsória da pessoa jurídica. 
c) Acordo de Leniência: Se uma empresa cooperar com as investigações, 
ela pode conseguir uma redução das penalidades. Tratado no bojo de um 
processo administrativo de competência do CADE ou autoridade máxima 
de órgão da administração pública ou entidade dos três poderes; 
d) Abrangência: Lei pode ser aplicada pela União, estados e municípios e tem 
competência inclusive sobre as empresas brasileiras atuando no exterior. 
 
 
 Delação premiada: 
 
 Instituto de Direito Penal que proporciona ao investigado, indiciado, acusado 
ou condenado, um prêmio que pode se materializar desde a redução até a liberação 
da pena, em razão de confissão e auxílio nos procedimentos persecutórios, prestada 
de forma voluntária ou espontânea. Este instituto permite aos juízes uma atuação mais 
livre, podendo se tornar mais complacente com os réus que colaborarem com a 
justiça, concedendo a possibilidade de oferecimento de penas menores, cumprimento 
de sentenças em liberdade e o perdão judicial. (ANTONIK, 2016 p. 55) 
 Essa colaboração premiada foi gradativamente inserida ao Ordenamento 
Jurídico Brasileiro através da Lei 7.492/86 (lei do Colarinho Branco), posteriormente 
pela Lei 8.072/1990 (Lei de crimes Hediondos), a mais recentemente pela Lei 
9.613/1998 (Lei dos Crimes de Lavagem de dinheiro) e Lei 12.850/2013 (Escândalo 
do Petrolão). 
42 
 
 
 As principais características da Delação Premiada são: 
 
 Colaboração voluntária; 
 O benefício depende da efetividade da colaboração, isto é, resultados; 
 O juiz não deve participar das negociações de formalização de acordo; 
 O acordo deve conter relato do colaborador e resultados pretendidos; 
 É indispensável a presença de advogado em todos os atos de negociação. 
 
A delação é tratada no correr do inquérito ou processo criminal, com a 
homologação pelo Poder Judiciário e a participação do Ministério Público e o 
Delegado de Polícia. 
 A promulgação e aplicação da lei anticorrupção e demais normas direcionadas 
ao combate da corrupção colocam o Brasil ao lado de países com legislações 
rigorosas e avançadas acerca do tema. Legislações dessa natureza afetam a cultura 
organizacional das empresas, evitando que caiam em situação de corrupção, 
obrigando – as a criarem uma estrutura de governança corporativa, gestão e controles 
internos. 
 Com o avanço de ações de combate à corrupção sendo implantadas no Brasil, 
teremos uma legislação de largo alcance e a implementação de métodos específicos 
de auditoria interna e medidas de conformidade. 
 A Controladoria Geral da União é o principal órgão que deve contribuir para a 
aplicação da Lei Anticorrupção, pois é o órgão que tem competência para a 
instauração de processo administrativo e para responsabilizar pessoas jurídicas, 
avocar, apurar e julgar processos de crimes praticados contra a administração pública 
e instaurados pela justiça. Também é o único órgão competente para celebrar acordos 
de leniência com pessoas jurídicas que praticaram atos ilícitos nesta seara. 
 O acordo de leniência para produzir efeitos deve proporcionar: identificação dos 
demais envolvidos

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