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2 SUMÁRIO: 1. CONTEXTUALIZAÇÃO ........................................................................................ 3 2. ÉTICA ................................................................................................................... 5 2.1 Definição ........................................................................................................... 5 2.2 Principais conceitos: ..................................................................................... 6 2.3 Algumas Teorias éticas de filósofos clássicos: ............................................ 9 3. ÉTICA PROFISSIONAL ..................................................................................... 21 4. ÉTICA EMPRESARIAL ...................................................................................... 24 5. ÉTICA EMPRESARIAL X ESTRATÉGIA E COMPETITIVIDADE ..................... 29 6. GOVERNANÇA CORPORATIVA ...................................................................... 31 7. PRINCÍPIOS ÉTICOS NAS FINANÇAS ............................................................. 35 8. COMPLIANCE NO SETOR FINANCEIRO E A LEI DE SARBOX ..................... 36 9. ÉTICA X COMPETITIVIDADE E LUCRATIVIDADE .......................................... 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 47 REFERÊNCIAS: ....................................................................................................... 48 3 1. CONTEXTUALIZAÇÃO Em todo contexto social as pessoas travam entre si uma série de relacionamentos, uma vez que buscam a realização de objetivos que podem se de natureza individual ou até mesmo coletiva. Esses relacionamentos carregam em si aspectos próprios do comportamento humano que são influenciados por uma série de valores e crenças que cada indivíduo carrega dentro de si. Ocorre que, esses relacionamentos podem ocasionar conflitos e isso leva a necessidade de se buscar soluções que colocam os indivíduos em posicionamentos próprios, dentro daquilo que acreditam ser certo ou errado, justo ou injusto. Para que a convivência social alcance um patamar pacífico é necessário que cada pessoa consiga assumir individualmente comportamentos que respeite seu semelhante, principalmente naquilo que lhe é seu de direito. É preciso levar em conta que a experiência com o outro, tem a possibilidade de causar, o que se denomina estranhamento frente à realidade, o sentir – se estranho, fora da normalidade diante do modo de ser e de agir de outrem, nos permite a descoberta da diferença entre o que é e o que deveria ser: nos proporcionando o que chamamos de uma experiência ética fundamental. O ser humano, deve construir ou conquistar o seu ser. Ele não nasce pronto, se faz ser humano, se torna pessoa. O grande desafio de nossas vidas está no processo de construção do nosso ser. E quando superamos a visão da realidade existente como algo inquestionável e absoluto, é que podemos imaginar, sonhar, pensar sobre uma outra realidade possível, diferente e melhor. A experiência existencial de se rebelar diante de uma situação desumana ou injusta é o que denominamos indignação ética. O questionamento ético, revela algumas contradições que fazem parte de nossas vidas. A primeira é o conflito que pode existir entre meu interesse a curto prazo e meus objetivos a médio e longo prazo. Além desse conflito existe também o conflito entre o interesse pessoal e coletivo. Se não houver esse tipo de conflito ou se não fosse importante as pessoas não se questionariam sobre o que devem ou não fazer em relação às outras pessoas 4 ou outros grupos. Buscariam apenas os seus interesses e direitos e dos outros e os da coletividade como tal. A necessidade de conviver com os outros nos leva à necessidade de estabelecermos relações que permitam a sobrevivência de todos os que compõem a comunidade. Nós somos seres morais e a comunidades humanas sempre criaram sistemas de valores e normas morais para possibilitar a convivência, porque somos seres já predeterminados. A consciência ética surge com a desconfiança de que os valores morais da comunidade ou até mesmos os meus, encobrem algum interesse particular, muitas vezes não confessáveis, ou inconsciente que rompe com as próprias causas geradoras da moral. Desconfiança de que interesses imediatos e menores podem ser colocados acima dos objetivos maiores, os interesses imediatos e menores são colocados acima dos objetivos maiores, ou os interesses particulares são colocados acima do bem da coletividade o que é negada aos seres humanos, a sua liberdade e sua dignidade em nome de valores petrificados ou pseudoteorias. O grande desafio das instituições públicas ou privadas, nacionais ou internacionais está na atualização de suas políticas e práticas para atender as demandas da sociedade atual, que vem sofrendo uma profunda e rápida transformação. 5 2. ÉTICA 2.1 Definição A Ética enquanto ramo do conhecimento tem por objeto o comportamento humano dentro de uma determinada sociedade. O objetivo desse conhecimento é concretizar níveis aceitáveis de convivência pacífica dentro de um determinado contexto social. O sentido etimológico da palavra Moral tem sua origem no latim, mos (singular), mores (plural) que significa “costumes”. Um conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. A moral se refere ao comportamento adquirido ou modo de ser conquistado pelo homem. Quando todos aceitam o costume e os valores morais estabelecidos na sociedade não há necessidade de muita discussão sobre eles. Mas quando surgem questionamentos sobre a validade de determinados valores ou costumes surge a necessidade de fundamentar teoricamente estes valores vividos na prática, e para aqueles que não concordam a de criticá-los. A Ética tem sua origem no grego ethos, modo de ser, caráter. É o conjunto das práticas morais de uma determinada sociedade, ou os princípios que norteiam estas práticas. Podemos afirmar que a Ética é teoria sobre a prática moral. Uma reflexão teórica que analisa e critica ou legitima os fundamentos e princípios que regem um determinado sistema moral. Representa as características de um grupo, representando a forma de agir de um coletivo, em relação à sua cultura e ao seu comportamento nessa sociedade. Sua função é iluminar a consciência humana, sustentando e dirigindo as ações do homem, norteando a conduta não só individual como também a conduta social. Cabe, ainda, à ética explicar, esclarecer ou investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes. Por lançar um olhar à uma determinada realidade social, afirmamos que a Ética é um produto histórico – cultural, e sendo assim, ela define o que é a virtude, o que é bom ou mau, certo ou errado, permitido ou proibido, para cada cultura ou sociedade. 6 A Ética, é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerado, porém, na sua totalidade, diversidade e variedade. Não lhe cabe formular juízos de valor sobre a prática moral de outras sociedades, ou de outras épocas, em nome de uma moral absoluta e universal, mas deve antes explicar a razão de ser desta pluralidade e das mudanças de moral, isto é, deve esclarecer o fato de os homens terem recorrido a práticas morais diferentes e até opostas. Quando, por exemplo, nos questionamos se devemos cumprir uma promessa, cumprir ordem de nossos superiores, ser caridoso, etc., nos defrontamos com problemas práticos, isto é, problemas que se apresentam nas relações efetivas, reais, entre os indivíduos ou quando se julgam certas decisões, e ações dos mesmos. Na vida real, defrontamo – nos com problemas práticos dos quaisninguém pode eximir- se. Para resolvê – los recorremos as normas, cumprimos determinados atos, formulamos juízos e podemos ainda utilizar de determinados argumentos ou razões para justificar determinada decisão adotada ou posições tomadas. O comportamento humano prático – moral, mesmo que sujeito a uma variação de época para época, ou de uma sociedade para outra, remonta até as próprias origens do homem como ser social. O ser humano não só age moralmente, mas também reflete sobre determinado comportamento prático se tornando objeto de sua reflexão e de seu pensamento. Quando essa reflexão se manifesta, então temos a passagem do plano da prática moral para o da teoria moral, o plano da ética. 2.2 Principais conceitos: Consciência ética: A consciência ética resulta da relação íntima do homem consigo mesmo; é o fruto de uma conexão entre as capacidades do “ ego” e as energias espirituais, responsáveis pela nossa vida, isto é, reside em nosso interior. A consciência ética é o estado decorrente de mente e espírito, através do qual não só aceitamos modelos para conduta como efetivamos julgamentos próprios. Assim, agir de acordo como uma consciência moldada em desejos, pode ser normal para alguns, mas não o será perante o julgamento geral de terceiros. 7 Comportamento ético: O homem é ao mesmo tempo um indivíduo e um ser social. Apesar de poder ser independente ele não deixa de fazer parte de um todo, que é a comunidade humana. Qualquer comunidade, qualquer organização social está baseada em um conjunto de regras que abordam as situações típicas de seu dia a dia. Essas normas são disciplinadoras do comportamento de seus membros. Elas regem o cotidiano social, limitam a coexistência do todo, limitam as ações das pessoas definindo direitos e deveres. O fundamento da existência de normas está na exigência da natureza humana de viver em sociedade, dispondo sobre o comportamento dos seus membros. Segundo Diniz (2015, p.342): “As normas são necessárias para a estruturação ôntica do homem. E como a vida do grupo social está intimamente ligada à disciplina das vidas individuais, elas fundam-se também na necessidade de organização na sociedade, exatamente porque não há sociedade sem normas... que tem por objeto uma ação humana…” As normas materializam-se de diversos modos, tantos formais como informais, podendo serem coercitivas ou facultativas, e elas podem ser separadas em função de sua natureza, objetivo, competência, abrangência, aplicabilidade, etc. É importante compreender que para que as normas sejam cumpridas, para cada regramento estabelecido é estabelecido também uma penalidade para quem a desrespeitar. Mesmo que a penalidade não seja clara para os membros da sociedade, ela sempre existirá. Apesar das regras proporcionarem benefícios para todos, há sempre a possibilidade de serem desrespeitadas, principalmente quando encontramos conflitos de interesses entre particulares e a própria sociedade. Toda vez que o benefício de se quebrar uma norma superar o custo da penalidade imposta, a tendência é que ela seja desrespeitada. No campo da ética, em especial na ética profissional, encontramos frequentemente essa situação, ou seja, um profissional, quando está no exercício de suas atividades pode se deparar com situações que o obriguem a decidir entre o cumprimento das regras ou o seu desrespeito. 8 As profissões têm suas regras próprias a serem seguidas e certamente, também têm suas punições. Os profissionais especializados, tem em seu cotidiano as mesmas chances e riscos que qualquer outro integrante da sociedade. No exercício profissional a existência de um código de ética, um código de conduta, é indispensável, assim é de se esperar que o bom comportamento seja difundido. Mas é de se esperar também que o bom comportamento também seja esperado na sociedade quando os valores éticos são defendidos e praticados. O convívio social proporciona benefícios gerais a partir do momento que todos os seus integrantes estejam dispostos a proteger os valores éticos. Responsabilidade: No entanto, há que se ficar atento à um importante ponto: é possível tratarmos sobre comportamento moral somente quando o sujeito que assim se comporta é responsável pelos seus atos, e isto, por sua vez pressupõe que esse sujeito pôde fazer o que queria fazer, ou seja, pôde escolher entre duas ou mais alternativas, e agir de acordo com a decisão tomada. É importante ficar claro que, a liberdade da vontade é inseparável da responsabilidade. Decidir e agir numa situação concreta é um problema prático moral, mas investigar o modo pelo qual a responsabilidade moral se relaciona com a liberdade e com o determinismo ao qual nossos atos estão sujeitos, é um problema de ordem teórica, cujo campo de competência pertence à Ética. Para que o indivíduo possa ser responsabilizado por um determinado comportamento moral são necessários alguns requisitos: a) Conduta livre e autônoma: a origem do ato ou da conduta deve partir da livre consciência do agente. É certo que sem autonomia não há responsabilidade ética a ser cobrada. b) Conduta dirigida pela convicção pessoal: autoconvencimento. O comportamento deve ser resultado de uma deliberação individual. c) Conduta insuscetível de coerção: a conduta só é praticada eticamente por livre convencimento do agente dentro de regras e costumes sociais 9 Portanto, devemos considerar como atos morais tão somente aqueles nos quais podemos atribuir ao indivíduo uma responsabilidade não só pelo que propôs realizar, mas também pelos resultados ou consequências de sua ação. Não basta julgar determinado até conforme uma norma ou regra de ação, é preciso também examinar as condições concretas nas quais ele se realiza, a fim de determinar se existe a possibilidade de opção e decisão necessária para poder imputar – lhe uma responsabilidade. Além dos requisitos de uma conduta para a imputação de sua responsabilidade, é preciso considerar ainda que o indivíduo não pode ignorar nem as circunstâncias nem as consequências de sua ação, e que a causa de seus atos esteja nele próprio e não em outro agente que o force a agir de certa maneira. Ignorância e responsabilidade É evidente que se deve eximir da responsabilidade moral aquele que não tem consciência daquilo que faz, isto é, a quem ignora as circunstâncias, natureza ou as consequências de sua ação. Mas não basta afirmar que ignorava essas circunstâncias para livrar – se da responsabilidade. É necessário acrescentar que, não só não as conhecia, mas que não podia e não tinha obrigação de conhece –lás. Mas é preciso ter cautela, nesta questão. A ignorância para eximir alguém de responsabilidade deve ser admissível, pois caso contrário, não pode eximir aquele que não sabe o que deveria saber. Cabe ainda esclarecer que a ignorância das circunstâncias nas quais o indivíduo age, do caráter moral da ação ou das suas consequências não pode deixar de ser tomada em consideração, particularmente quando é devida ao nível de desenvolvimento moral pessoal em que o sujeito se encontra a sociedade. A estrutura econômica – social da sociedade abre e fecha determinadas possibilidades ao desenvolvimento moral e, por conseguinte, ao comportamento do indivíduo em cada caso concreto. 2.3 Algumas Teorias éticas de filósofos clássicos: 10 A moral é um fato histórico e, por conseguinte, a ética como ciência da moral, não poderia ser concebida como dada de uma vez para sempre, mas ser considerada como um aspecto da realidade humana mutável através do tempo. Esse campo da existência humana surgiu quando o homem superou a sua natureza puramente natural, instintiva e dotou-se de uma natureza social, quando se colocou como membro de uma coletividade. Conforme nos ensina Vazquez (2000) a divisão da sociedadeantiga em duas classes antagônicas fundamentais traduziu-se numa divisão no campo da moral também. Esta deixou de ser um conjunto de normas aceitas conscientemente por todas sociedade. Passou então a existir duas morais: uma dominante dos homens livres – a única considerada verdadeira – e outra dos escravos que no íntimo rejeitavam os princípios e as normas morais vigentes e consideravam válidos somente os seus princípios, na medida em que adquiriam a consciência da sua liberdade. A Moral Ateniense está intimamente relacionada com a política como técnica de dirigir e organizar as relações entre os membros da comunidade sobre bases racionais. Há naquele período uma exaltação das virtudes cívicas. Mas esses aspectos se referiam aos homens livres, cuja liberdade tinha por base a instituição da escravidão e, a negação de que os escravos pudessem levar uma vida política e moral. Este período clássico foi palco de uma profunda reflexão ética nas mentes de principalmente três grandes expoentes: Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates (469 – 399 a.C) tem sido até hoje considerado um grande pensador no campo da Ética. A reflexão grega no campo da Ética ocorreu como uma pesquisa em torno da natureza do bem moral, na procura de um princípio absoluto de conduta. Suas especulações se sedimentaram principalmente em torno da natureza humana e suas implicações ético – sociais. Implicações essas que surgiam do convívio, da moralidade, dos hábitos e práticas coletivas, das atitudes do legislador, da linguagem poética” (BITTAR, 2008 p. 161). O filósofo reconhecia que a principal luta da humanidade devia ser pela educação e reconhecia que a maior das virtudes humanas era saber que nada se sabe. O conhecimento, para o filósofo, residia no próprio interior do homem. Assim, conhecendo – se a si mesmo, pode – se conhecer melhor o mundo, sendo este o mandamento que se inscreve como necessário para a construção de uma ética sólida. 11 O ensinamento socrático residia, portanto, no conhecimento e na felicidade. Ética, significava conhecimento, tendo em vista que, só por meio dele, podemos saber julgar acerca do bem e do mal, sendo nisso que reside a verdadeira sabedoria e discernimento. Quanto à felicidade socrática, é necessário esclarecer que nada tem a ver com a posse de bens materiais e conforto, e sim com a realização do saber. Platão (427 – 347 a.C) desenvolve com grande sutileza os mesmos pressupostos do pensamento socrático: a virtude é conhecimento, e o vício é resultado da ignorância. A prática da virtude platônica é a coisa mais preciosa para o homem, sendo considerada a base para a harmonia individual e social. O ideal buscado pelo homem, era para Platão, a aproximação em Deus, o sábio era aquele que buscava se assemelhar em Deus. O filósofo, demonstra acreditar numa vida após a morte preferindo assim o ascetismo, isto é o autocontrole do corpo e do espírito como um caminho imprescindível em direção a Deus, à verdade ou à virtude. Para Platão, os homens deveriam buscar durante a vida, a contemplação das ideias, a contemplação principalmente da ideia do Bem. Segundo Valls (1994, p.26) o filósofo considera que a dialética e a virtude sempre caminham juntas, uma vez que a dialética é o caminho da contemplação das ideias e a virtude está na adequação da vida pessoal às ideias supremas. É mister, ainda esclarecermos que para a filosofia platônica a virtude é uma purificação pois auxilia o homem a desprender – se do corpo com tudo o que este tem de terreno e de sensível para contemplar o mundo ideal, imutável e eterno. Platão ainda, nos apresenta as principais virtudes, sendo: a justiça, a prudência, a fortaleza, a temperança. Aristóteles (384 – 322 a.C) era considerado um pensador mais sistemático e analítico, principalmente pelo fato de apresentar a experiência humana sobre três perspectivas: o saber teórico (campo do conhecimento), o saber prático (campo da ação); o saber criativo (campo produtivo). Para o filósofo, a ética, pertence ao domínio do saber prático, tendo como objetivo principal estabelecer sob que condições podemos agir da melhor forma possível, tendo em vista a busca pela felicidade, ou realização pessoal. (MARCONDES, 2007 p.39) 12 Com o intuito de descobrir o que seja a felicidade, Aristóteles examina a natureza humana e suas características, sob o olhar ético, ou seja seu objeto principal de preocupação são as virtudes humanas. É na filosofia aristotélica, especificamente, na obra Ética à Nicômaco que encontramos o emprego da palavra Ética com o mesmo sentido empregado atualmente, ou seja, como o “estudo sistemático sobre as normas e os princípios que regem a ação humana e com base nos quais essa ação é avaliada em relação a seus fins” (MARCONDES, 2007 p. 40) Para Aristóteles a felicidade, também é um objetivo buscado por toda a humanidade. A felicidade está relacionada à realização humana e ao sucesso em sua obtenção, sendo aquilo que todos buscam, e sendo por isso um objetivo da ética. A felicidade para o filósofo deve ser entendida como a contemplação das verdades eternas, atividade típica do sábio, do filósofo. A filosofia aristotélica afirma ainda que a virtude pode ser ensinada, sendo inclusive considerada como um dos principais objetivos do conhecimento filosófico. Ela resulta do hábito e, portanto, é necessário praticá-la, para que efetivamente nos tornemos seres virtuosos. Ainda, encontramos no pensamento aristotélico a ideia de justa medida; fundamento da ética. Para Aristóteles toda ação deve evitar os extremos, buscando o equilíbrio, a justa medida. A sabedoria prática, portanto está na capacidade de discernir essa medida. Com o desaparecimento do mundo antigo, assentado na instituição da escravidão, nasce uma nova sociedade cujos traços essenciais se delineiam desde os séculos V e VI de nossa era, e cuja existência se prolongará durante uns 10 séculos. Trata – se da Sociedade Feudal, cujo regime econômico – social se caracteriza pela divisão em duas classes sociais fundamentais: a dos senhores feudais e a dos camponeses servos. Os homens livres das cidades estavam sujeitos a autoridade do senhor feudal, por sua vez, o senhor se colocava numa relação de dependência ou vassalagem com outro senhor feudal mais poderoso. Esse sistema de dependências ou de vassalagens na forma de uma pirâmide cujo vértice era o senhor mais poderoso na figura do rei ou o imperador, e ao seu lado a Igreja. Cumpre ressaltar aqui que a Igreja era considerada o instrumento do senhor supremo (Deus) ao qual todos os senhores da 13 terra deviam vassalagem, e exercia por isso um poder espiritual indiscutível em toda a vida cultural daquela época, e ao mesmo tempo, o seu poder se estendia aos assuntos temporais gerando constantes conflitos com os reis e imperadores, que muitas vezes procuravam se dirimir, de acordo com a doutrina denominada “duas espadas”. (VAZQUEZ, 2000) O autor nos ensina que esse foi um período em que constatamos a existência de uma ética limitada pela índole religiosa e dogmática. O pensamento ético está todo ligado à religião, à interpretação da Bíblia e à teologia. A moral da sociedade medieval correspondia às suas características econômico – sociais e espirituais. Naquele período constatamos também uma estratificação moral, isto é, uma pluralidade de códigos morais: a moral cavalheiresca e a moral aristocrática. Esse período da sociedade tem como principais representantes do pensamento voltado para as questões Santo Agostinho (354 – 430 d.C.) e Tomás de Aquino (1224 – 1274). Em Santo Agostinho encontramos uma síntese da filosofia grega, em especial o platonismo, e o cristianismo. A sua ética é o resultado de uma releitura das teorias éticas de origem grega e romana destacando - se principalmente o platonismo discutido sob a perspectiva cristã.Fizeram parte de seu repertório teórico, as discussões em torno do problema da natureza humana e do caráter inato da virtude, a origem do mal, o conceito de felicidade, a liberdade e a possibilidade de se agir de forma ética. (MARCONDES, 2007 p. 53) Basicamente encontramos nos textos Agostinianos, a afirmação de que a doutrina cristã forneceria a solução dessas discussões: “... a origem da virtude na natureza humana criada por Deus, a queda e o pecado original como explicações das falhas humanas, a graça divina como possibilidade de redenção e alcance da felicidade na vida eterna, e o livre – arbítrio ou liberdade individual concedido ao ser humano por Deus, que torna os indivíduos responsáveis por seus atos” (MARCONDES, 2007 p. 53) Por outro lado, a doutrina aquiniana, toma como base a ética aristotélica, igualmente interpretada à luz da doutrina cristã. 14 Tomás de Aquino demonstrou que o pensamento aristotélico era compatível com o cristianismo, e assim a partir da concepção de virtude do filósofo grego, considerava a natureza humana passível de aperfeiçoamento. O teólogo introduz as virtudes teologais: a Fé, a Esperança e a Caridade, e conceitua felicidade como beatitude, atingindo, assim, uma visão beata de Deus, que será possível por meio da Revelação e da Graça. Gradativamente a sociedade continua a sua evolução e nos deparamos com o aparecimento de uma nova classe social, denominada burguesia. A sociedade moderna vai formatando suas características base na realidade dos trabalhadores assalariados, no princípio da mais valia, na valorização da mão de obra. O homem passa a valer pela sua capacidade de produção. É uma sociedade que constrói suas bases na lei do máximo lucro gerando com isso uma radical mudança nos valores morais daquele novo contexto social que se formava. Vazquez (2000) então nos explica que surge então uma moral mais individualista dando lugar ao espírito de posse e ao egoísmo, tendo o emprego de métodos brutais na exploração da mão de obra do trabalhador em busca do crescimento econômico. Estamos diante das primeiras relações capitalistas de produção, que contribuíram para o desaparecimento da sociedade feudal, do enfraquecimento da religião como forma ideológica dominante, e o surgimento do Estado Moderno como modelo único e centralizador, da organização da sociedade. O culto ao dinheiro e a tendência de acumular lucros tornaram o terreno propício para que as relações entre os indivíduos fossem construídas baseadas no espírito de posse, no cinismo na hipocrisia, fomentando assim, um individualismo exacerbado. O homem nesta nova realizada dá a si mesmo sua própria lei. Como sujeito cognoscente é ativo, criador e está no centro tanto do conhecimento quanto da moral, se sentido responsável pelos seus atos e tendo consciência de seu dever (VAZQUEZ, 2000). Neste período encontramos em Kant (1724 – 1804), o principal pensamento em torno da ética, e para este filósofo essa temática pode ser analisada sob dois aspectos: o teórico que trata do que ocorre de fato no mundo e o prático que corresponde ao que ocorre por vontade livre dos seres humanos. Pela perspectiva prática, os seres humanos têm consciência de comandos que eles experimentam 15 como incondicionados, isto e, os imperativos categóricos. Que são aqueles que mandam incondicionalmente e estão a serviço das pessoas. São uma experiência da vida cotidiana de convivência entre pessoas. A missão da ética, portanto, é descobrir as características formais que tais imperativos devem ter para que tomem a forma de normas morais. Essas características, expressas em máximas, são as seguintes: A universalidade, referir-se aos seres humanos, valer para uma legislação universal. Esses comandos morais devem ser pensados como se fossem leis universalmente cumpridas sem que isso implique em nenhuma incoerência e ao se obedecer a estes comandos se está obedecendo a sua própria consciência autônoma. E ainda, para Kant, a liberdade torna-se um postulado da razão prática, isto é, um postulado que não procede da ciência, mas é compatível com o que ela nos ensina. Kant considerava que somos capazes de decidir por nós mesmos, autonomamente, não levados pelos instintos biológicos, as forças sociais e os condicionamentos. Cada pessoa tem o poder da soberania racional sobre si mesmo. Assim, é próprio da moral a boa vontade, ou seja, a disposição permanente de conduzir a própria vida obedecendo a imperativos categóricos e não às tendências da natureza, nesse sentido o bem moral reside na autonomia, na possibilidade de se construir corretamente a própria vida. Isso pode ser alcançado com a união entre o bem moral e a felicidade que aspiramos por natureza. Porém como a razão não oferece nenhuma garantia de que se possa alcançar este bem supremo a única possibilidade de se alcançar isso é a fé religiosa. Durante o desenvolvimento da sociedade moderna, encontramos também uma importante linha de pensamento em torno da ética, qual seja, o Utilitarismo: Trata-se de uma versão do hedonismo clássico, mas com uma perspectiva social. O utilitarismo procura conjugar a busca do prazer com os sentimentos sociais, entre os quais, a percepção de não só nós como os outros também desejam alcançar o prazer. Constatamos assim, volta da identificação da felicidade com o maior prazer para o maior número de seres vivos. É imprescindível, aqui que se opte por uma ação que proporcione a maior felicidade ao maior número. Os principais defensores desse posicionamento foi o jurista Cesare Beccaria, mas são reconhecidos como clássicos 16 representantes do utilitarismo Jeremy Bentham (1748-1832), John Stuart Mill (1806- 1876) e Henry Sigdwick (1838-1900). Bentham propõe uma aritmética dos prazeres, pois eles podem ser medidos e comparados. Mill rejeita essa ideia, afirmando que os prazeres são na verdade, uma questão de qualidade, uma vez que existem prazeres superiores e inferiores, sendo preferíveis os prazeres intelectuais e morais. Há, então uma supervalorização dos sentimentos sociais como fonte de prazer. (CORTINA; MARTINEZ, 2005 p.11) Dentre as éticas da linguagem, Cortina e Martínez (2005, p.13 e segs.) apontam o importante estudo histórico e psicológico empreendido por Nietzsche acerca da moral, utilizando para tanto como base uma história dos conceitos morais. Para o filósofo, existem três períodos da história humana: pré-moral, moral e extra moral, conforme as ações humanas são julgadas pelas consequências, procedência (intenção) ou pelo não-intencionado. O não intencionado é decisivo para avaliar as ações, significando uma auto superação da moral. Tendo esse pensamento o filósofo relativiza o caráter absoluto dos valores morais. Assim o moral nasce do imoral ou do extra moral: Moral identifica- se com o imoral, o que promove a vontade potência dos indivíduos. (CORTINA; MARTINEZ, 2005 p.11) Na visão deste filósofo a moral europeia e o cristianismo alimentaram o instinto de rebanho, o ressentimento nos medíocres para que a vontade de potência não triunfasse. O cristianismo continuou a rebelião dos escravos, a vitória dos plebeus contra os nobres e contra o domínio dos valores nobres. Para ele o animal e o instinto brutal que existe no ser humano continua a atuar, pois, sentindo-se inibido em sua vontade potência, vinga-se criando a má consciência e a culpa. Nietzsche afasta-se de todas as propostas anteriores de moral ao opor-se à interpretação teleológica (fim, finalidade) de toda atividade prática do ser humano. A necessidade e o determinismo dominam o mundo e a única saída é o fatalismo: o destino no sentido da condicionalidade vital. (CORTINA; MARTINEZ, 2005 p.11) Além desses pontos, a liberdade do indivíduo é colocada no centro e tem o direito de se afirmar diante de todas as exigências morais. A justiça consistiráem dar a cada um, o que é seu, pondo cada coisa sob uma nova luz. Justiça é querer realizar 17 a individualidade de cada um e deixar cada um ser ele mesmo. Trata-se da justiça absolutória que reconhece cada individualidade sob nova luz. É o reconhecimento da diferença de cada um. Moral não é seguir normas por dever, mas reconhecer os outros em seu ser individual. Nessa mesma linha de pesquisa em torno da linguagem a linguagem G. E. Moore com a sua obra Principia Ethica (1903) esclarece as questões fundamentais da ética, analisando a linguagem moral, principalmente o termo “bom”, gerador de muita confusão. Para ele o “bom” só pode ser apreendido por uma intuição pois é uma noção indefinível, não sendo demonstrável. Ainda podemos citar John Rawls que propõe uma definição dos princípios morais básicos da justiça como se fossem o produto de um hipotético acordo unânime entre pessoas iguais e racionais que se encontrem numa situação especial, chamada de posição original, na qual poriam entre parêntese os interesses particulares de cada um e tendo toda informação geral necessária para adotar princípios de justiça adequados à convivência social atual. Assim se chegaria a convicções básicas, denominadas “ senso comum” em questões morais e que todos compartilham. Na escolha destes princípios básicos de justiça possibilitados pela posição original, Rawls propõe que imaginemos pessoas afetadas por um véu de ignorância que as impede de conhecer as suas próprias características naturais e sociais, isto é, desconhecem os traços físicos, psicológicos e sociais, as crenças e projeto de vida que terão. Além disso, não são capazes de dominar ou coibir uns aos outros e detém amplos conhecimentos gerais necessários. (CORTINA; MARTINEZ, 2005 p.12) Nesse contexto, pensado pelo filósofo adotar – se - iam os seguintes princípios: a) Toda pessoa tem direito a um esquema plenamente adequado de liberdades iguais compatível com um esquema similar de liberdade para os outros (princípio de liberdades iguais); b) As inevitáveis desigualdades econômicas e sociais têm que satisfazer duas condições para serem aceitas: elas devem estar associadas a cargos e posições abertas a todos em condições de equitativa igualdade de oportunidades (princípio de justa igualdade de oportunidades) e devem obter o máximo benefício aos membros menos privilegiados (princípio de diferença). 18 Na segunda metade do século 20 teremos, um crescente aumento nas produções em torno da preocupação ética. As publicações, pesquisas e debates sobre este tema estendem – se a todas as áreas da atividade humana. Preocupações éticas em torno da política, do Direito, da indústria, comércio, administração, na ciência e entre tantos outros campos. Paralelamente a essa intensa produção no campo científico, filosófico e artístico multiplicam – se movimentos reivindicando ética na vida pública, na vida social e no comportamento pessoal. Dentre os teóricos contemporâneos, Habermas (1929 – atual) define a tarefa do pensamento ético como uma “reconstrução do núcleo universal de nossas intuições morais” (MARCÍLIO; RAMOS, 1999 p.26) Nós fazemos parte do mundo e da sociedade e devemos respeitar a natureza e é nosso dever ético conservá – la para as futuras gerações. É uma ordem cósmica da natureza a comandar a ordem ética do comportamento humano. É de forma consciente e livre que o homem desenvolve sua atividade, subordinada às leis da natureza da ordem universal. É esse o sentido das reivindicações atuais da ética nos mais diversos setores da vida social; a exigência do respeito à dignidade da pessoa humana em todas as suas dimensões e em todos os lugares, traduzindo principalmente na luta universal pelos direitos humanos e a retomada da responsabilidade que o homem tem com seu destino, com sua casa (Terra) Hans Jonas (1903 -1993) se destaca como um precursor da ideia de que o homem caminha para a autodestruição, caso não assuma um novo paradigma de princípios, de direitos e de deveres, tendo em mente a preservação das condições da vida humana em relação ao mundo em que habita. A relação entre ética e tecnologia tornou-se sua principal preocupação. (GABRIEL, 2019 s/p) Sua postura é absolutamente ética, preocupada em conter o descontrole da tecnociência e economia avassaladoras e destrutivas da humanidade. A preocupação de Hans Jonas está sedimentada no vazio a relativismo ético pela qual a sociedade pós-moderna vem passando e que exige novas formas de impor deveres e princípios que proporcionem segurança à humanidade. 19 Apresenta a necessidade da responsabilidade enquanto princípio importante para fundamentar a ética de uma civilização onde a tecnologia oferta poderes de imensurável utilização, mas que produzem imprevisíveis consequências éticas podendo serem catastróficas para a humanidade. O pensador propões em sua ética da responsabilidade a necessidade de preservar a permanente ambiguidade da liberdade do homem e a integridade de seu mundo e de sua essência frente aos abusos do poder (PELIZZOLI, 2003 p. 97) Hans Jonas, considera que a ética, a partir do imperativo categórico de Kant, “age de tal maneira que a máxima de sua ação se torne universal” não pode ser mais aplicada na atual situação do mundo contemporâneo. O imperativo ético de Hans Jonas, identifica-se como um princípio ético subjacente à civilização tecnológica e que pode se expressar da seguinte forma: “age de tal maneira que a máxima de sua ação permita a perpetuação dos seres humanos no planeta”. O princípio da responsabilidade alerta que as consequências das ações na perspectiva tradicional limitam-se ao âmbito humano do presente e, com o advento do poder/saber técnico, e importante pensar nas consequências de nossas ações para o futuro. (GABRIEL, 2019 s/p) O princípio da responsabilidade de Hans Jonas é enfático ao demonstrar que o homo faber se colocou muito acima do homo sapiens, do homem da inteligência e do bom senso. No entanto, o agir coletivo e a definição de ser humano exigem uma nova forma de pensamento e de ação, baseada em novos imperativos éticos. O pensador afirma que uma nova ética deve coibir as ações prejudiciais em relação ao planeta, preocupando -se principalmente com o grande arsenal de destruição que o homem potencialmente produz contra si mesmo. E essa preocupação impõe na visão do filósofo a necessidade de se preocupar com a educação ambiental e também com as ações humanas. A grande preocupação, portanto, está depositada no fato de que a ciência siga por caminhos éticos pautados pelo princípio responsabilidade, subjacente ao ser em toda sua plenitude. As preocupações em torno da ética, tem fomentado uma série de discussões, debates, posicionamento, no curso da história. Aqui, cumpre – nos apenas apresentar alguns posicionamentos importantes para o conhecimento, mas certamente o debate teórico não se esgota com a apresentação dos pensamentos acima apresentados. 20 Divisões da ética: Segundo orientação conceitual, podemos dividir a Ética em alguns segmentos, quais sejam: Ética normativa que se subdivide em ética teleológica e deontológica; Metaética Ética geral Ética Profissional Ética normativa: se detém a um estudo histórico – filosófico ou conceitual da moralidade, isto é, das normas morais espalhadas pela sociedade, praticadas ou não. A ética normativa teleológica entende que este campo do conhecimento deve conduzir a um fim natural, ou à felicidade, ao bem-estar ou à utilidade geral. A ética normativa deontológica entende que a noção primordial é a da necessária e imperativa obediência ética pela consciência do dever e da responsabilidade individual e social. A Metaética se propõe a se ruma investigação epistemológica, ou seja, uma avaliação das condições de possibilidade de qualquer estudo ou propostateórico ética. É um estudo da natureza, função e justificação dos juízos morais. Ética geral analisa e estuda as normas sociais que atingem toda a coletividade e possui lineamentos abrangentes, correspondendo ao conjunto de preceitos aceitos numa determinada cultura, época e local, não por meio do consenso popular, mas pela maioria predominante. A ética aplicada/profissional se dedica à apreciação de normas morais e códigos de ética especificamente localizáveis na sociedade. Está relacionada à categoria de pessoas, de grupos. Essa vertente da ética se manifesta nos estudos da ética ecológica, familiar, profissional, empresarial entre outras. 21 3. ÉTICA PROFISSIONAL Quando tratamos da ética sob o ponto de vista profissional nos detemos às normas que presidem o relacionamento humano por meio do trabalho, realizando uma reflexão da conjugação da ação laboral e a ação moral. Profissão sob o aspecto prático é definida como a prática reiterada e lucrativa, da qual extrai o homem os meios para a sua sobrevivência, buscando sua qualificação e aperfeiçoamento moral, técnico e intelectual, proporcionando, assim, um benefício social. Sob o aspecto moral, a profissão representa um compromisso social que deverá ser exercido buscando a proteção da dignidade humana. Ainda sob a ótica moral, a profissão é uma atividade pessoal que é desenvolvida de forma estável e honrada, não só a serviço dos outros, mas também em benefício próprio. Um código de ética pode ser compreendido como uma relação das práticas de comportamento que se espera que sejam observadas pelos sujeitos no exercício das atividades profissionais. Essas normas inseridas em um código de Ética visam o bem- estar de uma sociedade, assegurando a integridade de procedimentos de seus membros interna e externamente a uma determinada Instituição. Para Bittar (2008, p 429) “ o que define um estatuto ético de uma determinada profissão é a responsabilidade que dela decorre, pois quanto maior sua importância, maior a responsabilidade que dela provém em face dos outros”. A ética profissional é a formação da consciência profissional sobre padrões de conduta 22 Princípios éticos existem em todas as comunidades e podem ser aceitos por consenso, bem como podem se apresentar por meio da forma escrita, usualmente através de códigos de ética. O código de ética torna os princípios éticos obrigatórios aos praticantes, assegurando, assim, sua observância. Esse código contém, asserções sobre princípios éticos gerais e regras particularizadas sobre problemas específicos da prática de uma determinada profissão. Certamente, nenhum código, consegue abranger todos os problemas que surgem no exercício de determinada profissão, e em virtude disto, ele deve ser suplementado com o posicionamento de órgãos competentes e por associações profissionais. (LISBOA, 2012 p.58). Porém, no exercício da atividade profissional, o trabalhador deve estar preparado para assumir responsabilidade perante si, seus companheiros de trabalho e perante toda a coletividade. A liberdade absoluta que o indivíduo possui para escolher um determinado comportamento de natureza ética, não se aplica completamente no campo profissional. Diante dessa circunstância o profissional deve ajustar seus posicionamentos éticos aos mandamentos mínimos que compõem o comportamento da categoria a que pertence. Assim, a liberdade ética individual é limitada pelas exigências da corporação ou instituição que controla os atos de seus empregados. Sua liberdade profissional é restringida com o intuito de não ferir as exigências coletivas, havendo com isso uma responsabilidade para com o coletivo imanente. De uma maneira geral os códigos de ética devem conter em seu repositório os seguintes aspectos: (ANTONIK,2016 p.159) Accountability (prestação de contas) Compliance (obediência à lei) Confidencialidade Honestidade Integridade Lealdade Objetividade Respeitabilidade 23 Transparência Além disso, Antonik (2016 p. 161) esclarece que além dos aspectos acima apresentados, um código de ética trata de: Direitos e deveres do profissional Limites dos relacionamentos entre colegas e clientes Regras de sigilo profissional Respeitos aos direitos humanos, no que se refere às pesquisas científicas, meio ambiente e relações sociais. Assim, podemos compreender que a ética profissional é elaborada pelos conselhos que representam e fiscalizam as atividades profissionais. 24 4. ÉTICA EMPRESARIAL No mundo dos negócios, a preocupação com as questões éticas, vem se fortalecendo e valorizando sobremaneira, uma vez que a simples consideração de que uma empresa possui um código de ética, tem sido considerado um aspecto muito positivo. Isso vem sendo corroborado com um atual crescimento da boa prática empresarial nas empresas brasileiras. (ANTONIK, 2016 p.166) Quando tratamos das questões éticas que envolvem as relações empresariais devemos considerar em que dimensões essas questões devem ser aplicadas: A Sustentabilidade, respeito à Multicultura, Aprendizado contínuo, inovação e Governança Corporativa. (SANTOS, 2015 p.5) A dimensão da sustentabilidade estabelece limites para ações que interfiram no meio ambiente, sendo um dever da empresa preocupar – se com a dispensa de resíduos e lixo industrial Conforme Santos (2015 – p. 9) a sustentabilidade cria condições para um processo ser realizado ou ainda condições para alguém ou algo existir. A empresa não passa de um microssistema que está inserida numa dimensão muito maior que é a sociedade que compõe um macrossistema. Isso significa que a atuação de uma 25 empresa reflete diretamente no desenvolvimento de uma sociedade, do planeta como um todo. A sustentabilidade é formada pela convergência de três aspectos a saber: socioambiental, eco eficiência e socioeconômico. a) Aspectos ambientais: Toda empresa deve estar atenta aos impactos ambientais que podem ser ocasionar no processo produtivo, no impacto das suas instalações, nos impactos ocasionados dentro da comunidade em que está localizada. É obrigação das empresas ações necessárias para a proteção ambiental da comunidade em que está sediada, sendo: A verificação se insumos e materiais utilizados causam impacto ambiental; Verificação da forma de produção de insumos e materiais utilizados mesmo daqueles materiais produzidos por terceiros Reaproveitamento de lixo ou formar de evitar desperdícios Busca de melhorias de processo e certificações Cálculos do impacto ambiental e formas de evita-los Políticas para orientação, prevenção e correções de comportamentos. (SANTOS, 2015 p.11) b) Aspectos econômicos: As empresas devem evitar uma visão limitada dos gestores que pode ocasionar impacto na própria imagem institucional, na gestão e resultados econômico. A negligência em relação às questões éticas é um comportamento que pode ocasionar esse impacto. O aspecto econômico também é negligenciado, quando há desperdiço de recursos, perda de oportunidades de impulsionamento financeiro podendo ocasionar o encerramento das atividades empresarias. É fundamental que os gestores realizem estudos adequados da utilização de recursos, realizem projetos econômico – 26 financeiros, comportamento de mercado, para que a empresa se adeque à postura ética que deve ter dentro de um determinado contexto social. c) Aspectos sociais: A responsabilidade social se caracteriza pelo fato das pessoas ou empresas buscarem garantir a inclusão social, a sustentabilidade e o respeito aos indivíduos. Ela pode ser desenvolvida através de projetos ou programas que façam parte da política institucional.Dentre as ações que podem ser praticadas, Santos (2015 p.12) elenca as seguintes: Criação e promoção política interna e externa justa, transparentes e éticas que promovam o crescimento profissional; Desenvolvimento de ações incentivadoras do convívio harmonioso entre funcionários, fornecedores, clientes e a comunidade; Valorização dos agentes envolvidos na gestão empresarial. O respeito à cultura como segunda dimensão da ética empresarial pressupõe o envolvimento dos colaboradores e o respeito à multicultura e às diferenças. É necessária a participação dos funcionários, agentes e a comunidade de forma que haja consideração à multicultura e as diferenças individuais, respeitando assim a vida, a valorização do indivíduo, o ecossistema, as diferenças culturais, religiosas, étnico – raciais entre outras. Quanto à terceira dimensão a educação e o aprendizado continuado são relevantes para o acompanhamento de novas realidades sociais e o conhecimento de possíveis impactos sociais. Essa dimensão considera a necessidade de profissionais qualificados e atualizados para contribuírem para uma gestão mais ética, uma vez que o conhecimento e a adoção de novas tecnologias e processos permitem o desenvolvimento da sustentabilidade e responsabilidade social. A inovação se apresenta como quarta dimensão e acaba por ser uma consequência da valorização da educação e do aprendizado continuado devendo ser 27 incentivada pelas organizações. Ela é imprescindível par ao desenvolvimento de novas tecnologias e processos éticos que sejam capazes de contribuir com a sociedade. Além disso, possibilita o desenvolvimento de políticas que consideram as necessidades e realidades institucionais. (SANTOS, 2015 p. 14) A última dimensão se manifesta através da Governança Corporativa, sendo um aspecto importantíssimo para ética empresarial, trataremos desta questão em tópico destacado permitindo um aprofundamento mais detalhado. Um dos aspectos fundamentais da ética é sua utilização de forma integral nas relações empresariais, devendo ser aplicadas: a) Em todas as épocas, respeitando a continuidade e fomentando inclusive o emprego de treinamentos periódicos b) Em todas as áreas internas a fim de que os profissionais tenham ciência de que o agir de forma ética deve ocorrer em todos os setores de uma empresa. c) Em ambientes internos e externos, uma vez que o profissional representa a empresa e, portanto, deve estar atento ao seu comportamento em público, que pode afetar a imagem da instituição. d) Em diversos níveis hierárquico uma vez que o comportamento ético é destinado a todos indivíduos inseridos no contexto empresarial, desde em níveis hierárquicos mais baixos até os níveis em que estão agentes de alto escalão. Sendo assim, uma política ética deve influenciar a todos os níveis da cadeia produtiva. O comportamento ético empresarial normalmente será transmitido por meio de um código de Ética. Esse código de conduta, além dos parâmetros para a atuação do profissional neste meio, prevê em seu conteúdo quais as intenções que a empresa possui na relação com seus clientes, concorrentes, fornecedores e direciona ainda, as relações da empresa com as autoridades reguladoras. Um código de ética trata das relações principalmente entre: Agentes de mercado e concorrentes, agentes governamentais e reguladores, comunidades e 28 sociedade em geral, consumidores e clientes, fornecedores, parceiros, associados e colaboradores, sócios, acionistas e investidores sustentabilidade e meio ambiente. Ele procura definir os padrões e normas de conduta possibilitando a regulamentação de ações e procedimentos e com isso destacando a seriedade da empresa e o intuito de construir uma sociedade melhor. (SANTOS, 2015 p. 34) Para a sua criação, é necessária a consideração de alguns aspectos, a saber: missão, os valores e objetivos da empresa; a realidade e o contexto institucional; os aspectos legais; a comunidade interna e externa; a multicultura, os aspectos étnicos e religiosos, e ainda o princípio da igualdade, base fundamental da sociedade. Os princípios empresariais compõem a missão, valores e objetivos de uma empresa, são de natureza legal e ética e estão incorporados na teoria do negócio, devendo ser revisados constantemente e principalmente quando se constate que sua validade está em risco. Mesmo quando uma empresa conquista um grande sucesso, sua teoria do negócio deve ser revisada uma vez que um novo contexto pode estar se formando e pondo em cheque o papel da instituição perante a sociedade. Além da frequente revisão da missão, valores e objetivos empresarias, é imprescindível um cuidado especial à circulação de informações dentro do ambiente empresarial. Uma sociedade globalizada e competitiva como a atual, fornece uma grande facilidade de comunicação e difusão das informações, o que pode fomentar um descontrole da instituição. É necessário que a empresa assuma um papel de responsabilidade diante da circulação das informações, impondo – se assim uma postura ética na utilização da tecnologia e da internet, evitando – se assim a prática de crimes e a ocorrência de prejuízos aos indivíduos. Um código de conduta deve prever uma série de assuntos dentre eles: O cumprimentos das leis e pagamento de tributos, operações com partes relacionadas, o uso de ativos da organização, questões que envolvam conflitos de interesses, informações privilegiadas, política de negociação das ações da empresa, processos judiciais e arbitragem, delação, prevenção e tratamento de fraudes, pagamentos e 29 recebimentos questionáveis, recebimento de presentes e favorecimento, doações, atividades políticas, privacidade, nepotismo, meio ambiente, discriminação no ambiente de trabalho, exploração do trabalho adulto ou infantil, assédio moral e sexual, segurança no trabalho, relações com a comunidade e ainda sobre o uso de álcool e drogas.(SANTOS, 2015 p.34) O código de conduta está direcionado principalmente aos indivíduos que atuam internamente na empresa, porém, suas normas devem também contemplar toda pessoa ou grupo que de alguma forma tem interesse na empresa. A doutrina os denomina de stakeholders, e são considerados como partes interessadas, uma vez que estão envolvidos direta ou indiretamente com a empresa e, portanto, atingem de alguma forma a conduta empresarial, dentre eles podemos apontar, os clientes, os fornecedores, terceirizados, prestadores de serviços e concorrentes. 5. ÉTICA EMPRESARIAL X ESTRATÉGIA E COMPETITIVIDADE A princípio Ética e competitividade são termos que podem dar a impressão que se conflitam. Isso se dá porque a Ética nos remete à valores e normas de conduta que objetiva o bem-estar pessoal e coletivo e, no entanto, a competitividade nos conduz para uma luta frequente de uns com os outros. Porém, não há necessidade de que isso ocorra, considerando que a competitividade é uma expressão muito empregada nos meios empresariais Competir significa a busca simultânea de dois ou mais indivíduos por uma vantagem, um estatuto. O problema está no modo como o indivíduo atinge essa posição, sendo aqui que se exige a presença da ética. É certo que a competitividade está presente no trabalho, nos estudos, na carreira, etc., Porém, muitas vezes essa situação de competição pode tornar-se –se uma atividade sobrecarregada pela falta de ética das pessoas que formam a organização. A competitividade é um requisito excelente onde há cooperação, onde o indivíduo e a organização pensam no coletivo, no bem comum. 30 Adotar os padrões comportamentais de natureza ética se tornou fundamental nas organizações que querem ser competitivas, porque os princípios éticos são cada vez mais exigidos pelas pessoas e pelas comunidades em geral. Percebe –se com isso, que a competitividadepode ser positiva ou negativa dependendo do modo como venha a ser praticada no contexto empresarial. As empresas, atualmente entendem que é também desejável, conciliar harmoniosamente ética e competitividade. Aquelas que souberem adotar critérios de rigor, competência, relações internas e externas que inspirem confiança ganham vantagem competitiva saudável e menos conflituosa. Dias (2014, p.104) explica que a competitividade não nos pode separar da ética e da moral, da responsabilidade associada aos valores, dos princípios e às regras presentes numa organização. Ela deve contribuir para o sucesso, tanto das pessoas como das organizações. Os princípios éticos devem ser utilizados nos diversos relacionamentos da organização com todos os que a constituem, interna e externamente. As organizações são sistemas de cooperação e competição, enquanto há uma colaboração para atingir os objetivos que são comuns a todos e que constituem os fins da organização. No entanto, não se pode desconsiderar também a competição por maiores privilégios, por promoção pessoal, para obtenção de benefícios, quando isso é praticado de forma a prejudicar o outro, e, por isso se caracteriza como comportamento antiético. (DIAS, 2014 p. 105) Situações como esta, podem criar mal- estar nas relações interpessoais alimentando sérios conflitos que direta ou indiretamente afetam a própria organização empresarial. Conforme ensina Dias (2014 p. 106) que as relações, independentemente das competências, ou dos estatutos de cada um, tem a necessidade de partilhar valores, princípios universais, dirigidos a todos, valorizando a dignidade da pessoa humana e garantindo a todos os recursos humanos na organização. Esta garantia dada pelas leis universais deve também ser legitimada com os códigos éticos de cada organização. É importante referir que, quando surgem em contexto organizacional conflitos, temos de ter uma consciência clara que a participação de todos nas soluções é a melhor maneira de defender a dignidade das pessoas no presente das organizações, mas também no seu futuro 31 6. GOVERNANÇA CORPORATIVA De acordo com Santos (2015, p.76) a governança é um conjunto sistêmico de processos, práticas e normas que regulam uma empresa como objetivo de garantir a ética, transparência e gestão. O autor, ainda apresenta a definição do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, a saber: Governança Corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo as práticas e os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle. A principal finalidade da governança corporativa é tornar melhor o relacionamento e satisfação dos agentes envolvidos. Para que se alcance esse resultado é imprescindível o respeito à missão, a visão e valores da empresa, considerando –se ainda o relacionamento com os agentes e com o meio ambiente. 32 Sendo assim, são seus princípios básicos: a transparência, a equidade, a prestação de contas e a responsabilidade corporativa. Com base, ainda nas explicações de Santos (2015, p. 76) o auxilio que a governança corporativa pode proporcionar às empresas, se situa nas seguintes esferas: A ampliação do retorno de investimentos Aumento do valor da sociedade Possibilitar o acesso a financiamentos de terceiros Captação de recursos internacionais Ampliação de investimentos dos sócios Conquista de novos sócios Permitir a continuidade da sociedade Obtenção de transparência interna e externa, com relação à imagem e confiabilidade institucional O instituto da Governança Corporativa, tem sua origem reconhecida nos Estados Unidos, em meados de 1990, Fatos mundiais importantes como a crise e a turbulência financeira mundial e ainda a aprovação de grandes mudanças legais no setor da contabilidade nacional fomentaram o crescimento da necessidade desse instituto junto às empresas, permitindo a revisão de suas práticas e a ampliação de transparência e segurança, (SANTOS, 2015 p. 78) No Brasil, não foi diferente, pois, uma maior abertura do mercado para as empresas estrangeiras, além de todo o processo de globalização e dinâmica de mercado que afetou as mais diversas áreas da economia muitas organizações buscaram mercados externos com o intuito de acessarem e adotarem melhores forma de controle, acompanhamento e gestão de suas atividades empresariais Em nosso país, a principal referência na elaboração de políticas de governança corporativa é o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Esse Instituto exerce fundamental papel na criação das diretrizes e orientações para a governança, uma vez que seus membros procedem a uma constante discussão e atualização das práticas nacionais que vem a serem incorporadas pelas empresas. 33 O Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa é instrumento fundamental, que orienta e auxilia a elaboração e implementação das políticas corporativas (SANTOS, 2015 p.77). De acordo com Álvares et al. (apud SANTOS, 2015 p. 78) os modelos teóricos que fundamentam o desenvolvimento da prática da governança corporativa, são: O modelo financeiro (visão contratual da firma); modelo público relevante (busca melhorar as relações e tornar públicas as ações); modelo de Procuradoria (ênfase nos gestores) e o modelo Político (com base nos motivos políticos internos e externos). Além disso, é preciso conhecer a realidade de cada empresa para que se possa definir quais as políticas de governança. Os principais modelos teóricos que embasam o desenvolvimento de Governança Corporativa, são: Financeiro, Públicos Relevantes ou Stakeholders, Procuradoria e o Político. O modelo Financeiro, apresenta um formato mais legalista com base numa visão contratual da empresa. Segundo Alvares et. al. (apud SANTOS, 2015 p.790 este modelo apresenta uma gestão preocupada em construir regras de alinhamento aos interesses dos administradores e dos proprietários.) O modelo Públicos Relevantes preocupa-se em melhorar as relações e tornar as suas ações públicas, prestando contas para a comunidade. Já o modelo de Procuradoria a preocupação maior é com os gestores que buscam um retorno elevado para os acionistas. E, finalmente o Modelo Político adota a Governança Corporativa por razões políticas internas e externas. (SANTOS, 2015 p. 79) Para que possam ser adotadas políticas de governança corporativa adequadas à cada empresa, é necessário uma precisa classificação dessas instituições, e essa classificação pode se dar da seguinte forma, conforme nos orienta Santos (2015 p. 79 e segs.) a) Quanto à natureza jurídica: Terceiro Setor: são instituições não governamentais, sem fins lucrativos, com objetivo de gerar serviços públicos. 34 Cooperativas: são aquelas que exercem suas atividades na forma da lei, por meio de atos cooperativos de prestação de serviços diretos aos seus associados, sem fins lucrativos, que desenvolvam a mesma atividade e com a finalidade de obterem em comum melhores resultados para cada um deles em particular. Sociedade limitadas: tipo de sociedade que realiza atividade empresarial, formada por dois ou mais sócios que contribuem com moeda ou bens avaliáveis em dinheiro para a formação do capital social. Sociedades anônimas: são empresas em que o capital social está dividido em ações. b) Quanto às estruturas de controle: Definido: é um controle exercido por um acionista ou grupo de acionistas vinculado por acordo de sócios ou sob controle comum que possui formalmente mais de 50% das ações ou quotas com direito a voto da organização. Difuso: controle exercido por acionista ou grupo de acionistas que não esteja vinculado por acordo de sócios nem sob controle ou representandointeresse comum, detentor de parcela relevante do capital votante da organização, mas inferior a 50% do capital social. Pulverizado ou disperso: a composição acionária está espalhada entre um grande número de acionistas, não existindo com isso um acionista ou grupo capaz de exercer o controle de forma permanente. c) Quanto à caracterização do controlador: Estatal: São empresas controladas pelo Estado, por possuírem a maioria do capital votante Familiar/Multifamiliar: empresa em que uma ou algumas famílias detêm o poder de controle da empresa Não familiar: o controle está em poder de mais de um grupo empresarial, ou possui controle definido ou difuso, mas o controle é familiar 35 Estrangeiro: O controle está em poder de controladores estrangeiros Institucional: Controladores são investidores (fundos de pensão, fundos de investimento) d) Quanto ao porte da empresa: Microempresas e empresas de pequeno porte: as microempresas são constituídas com uma receita bruta anual de até R$ 360.000,00 e as de pequeno porte possuem uma receito bruta anual entre R$ 360.000,00 a R$ 3.6000.000,00. Médias empresas: são empresas que não tem obrigação pública de prestação de contas e elaboram demonstrações contábeis para fins gerais para usuários externos. Grandes empresas: são aquelas que têm receita bruta anual acima de R$ 300 milhões ou possuem ativos acima de R$ 240 milhões Tendo em vista essas classificações há uma variação na estrutura política e administrativa da governança corporativa. Todos esses modelos de empresas possuem sócios, fornecedores, clientes, stakeholders, também possuem intervenção no meio ambiente e por isso produzem impacto social. Isto posto, é imprescindível o desenvolvimento de práticas de Governança Corporativa para todos os modelos de empresas, levando inclusive em consideração os seus custos e a capacidade de gestão de cada uma delas. 7. PRINCÍPIOS ÉTICOS NAS FINANÇAS As questões éticas estão inseridas todas as atividades humanas, mesmo porque todos os indivíduos sempre têm uma dimensão moral. A área financeira é reconhecidamente um território de mentes quantitativas, o tipo de ambiente onde a maior preocupação é o dinheiro. A maior preocupação tem se concentrado bastante na regulamentação do mercado de modo a lhe garantir um mínimo de credibilidade e estabelecer limites de exposição para os diversos agentes em função do risco sistêmico. Encontramos também um crescente interesse na avaliação do desempenho dos fundos de investimento com preocupações humanitárias ou fundos éticos em contraste com 36 outros fundos e com índices de mercado além de se saber se atitudes éticas e/ou socialmente responsáveis levadas a cabo pelas empresas são legitimadas dentro do conceito de maximização da riqueza dos acionistas; bem como há por parte das empresas uma grande preocupação em suavizar as arestas nos conflitos de agência entre corretores, investidores e firmas corretoras. Atualmente, preocupar – se com as questões éticas dentro das finanças é sinônimo de: Ver a profissão como uma prática e nessa prática buscar o “bem interno” acima de todo o resto. Considerar os atributos da profissão para que esta seja uma prática, estabelecer seus próprios padrões de excelência e ser em parte definida por eles; as práticas devem ser dirigidas ao objetivo (teleológica); devem ser orgânicas acompanhando a evolução. Além disso, os atributos dos “bens internos” dentro dessa prática devem serem únicos àquela atividade; serem ilimitados; intangíveis; não podendo ser simplesmente definidos, quantificados ou matematicamente enumerados (MOREIRA, 2002 p.10) 8. COMPLIANCE NO SETOR FINANCEIRO E A LEI DE SARBOX Estruturar uma empresa é um procedimento que requer tempo, maturidade institucional e profissionalismo. Mas adotar um padrão ético dentro do âmbito empresarial é considerado pela doutrina uma decisão mais difícil que requer não só a maturidade empresarial e propósitos sólidos. É certo que gestores devem ter consciência de que são responsáveis pelos lucros e pelo desafio das responsabilidades sociais. É imprescindível que a ética seja a base de toda gestão empresarial e essa questão se fortalece quando constatamos que a corrupção cobra um alto preço para todas as nações, sem exceções. 37 Considerando essa preocupação elevada com as questões éticas, nos estados Unidos e Europa, empresas e entidade públicas têm adotado códigos de conduta com a finalidade de impedir que empregados/ servidores recebam presentes de qualquer valor (ANTONIK, 2016 p.36). O princípio básico da responsabilidade operacional abarca duas medidas: segregação de funções e controle. A segregação de funções, dispõe que determinadas ações não podem ser praticadas pelo mesmo indivíduo. Antonik (2016 p. 34) nos aponta um exemplo para uma boa compreensão: uma autoridade que concede um determinado benefício não pode ser o beneficiado desta concessão. O controle impõe que a responsabilidade operacional exige a existência de sistemas de auditoria interna, externa e indicadores de controladoria. A responsabilidade operacional (segregação de funções e o controle), impõe medidas que tem por finalidade evitarem que as empresas tenham perdas significativas de suas receitas, muitas vezes em virtude de comportamentos inadequados de seus próprios funcionários. Com o intuito de reduzir essas perdas, as empresas têm criado linhas diretas para denúncias, mas também, têm se preocupado com a educação de seus funcionários acerca das atividades fraudulentas, ensinando – os a identificar situações, em seu próprio meio de trabalho, que de alguma forma indiquem a possibilidade da prática de algum tipo de fraude. Nas empresas de grande porte, áreas que eventualmente apontem a existência de comportamentos inadequados são analisadas por auditorias internas, que além de proporcionar uma análise detalhada das atividades empresariais, proporcionam o conhecimento de procedimentos e controles da empresa. Entretanto, as auditorias externas também possuem um papel fundamental na prevenção de problemas dessa natureza, pois podem apontar erros e sugerirem melhorias que auxiliam na criação de sistemas de controles internos e prevenção à fraude. As empresas são consideradas como organismos vivos que devem construir uma política de incentivo ao aprendizado. É necessário que seus agentes estejam abertos às mudanças que se fazem necessárias proporcionando, assim, uma adequada adaptação aos novos tempos. 38 Apesar da tendência de muitas empresas se portarem de maneira mais rígida, atualmente o cenário indica que os novos gestores são desafiados a realizarem o mesmo trabalho, buscarem os mesmos lucros, porém sob uma ótica mais humanizada. (ANTONIK, 2016 p.40) Um ambiente empresarial mais saudável e inteligente, nasce conforme Antonik (2016 p. 41) do emprego de elementos de controle, e seus resultados devem ser objeto de discussões, análises não só entre integrantes da gerência, mas também entre os subordinados, com o principal intuito de possibilitar o enfrentamento e aprendizado, por parte de todos os integrantes das instituições empresariais. É mister que proprietários e subordinados identifiquem em conjunto objetivos a serem alcançados, definam responsabilidade a serem assumidas. Empresas eticamente responsáveis, mantém a responsabilidade em relação não só aos seus acionistas, mas também em relação aos seus fornecedores, clientes e inclusive em relação ao governo. Elas não exploram seus fornecedores, não oferecem propina, respeitam os seus colaboradores e principalmente respeitam o meio ambiente. Tendo em vista, as exigências éticas no âmbito empresarial, as organizações vêm adotando, também, uma série de normas que objetivam o combate, a inibição, a repressão àcomportamentos considerados inadequados na esfera de negócios. Compliance é um conjunto normativo que assevera o cumprimento de regras de determinado setor. Conforme nos ensina Antonik (2016 p. 46): “ ... é a adesão da empresa a normas ou procedimentos de determinado setor, tendo como objetivo central o combate à corrupção, ao possibilitar a identificação de possíveis infrações, a falta de cumprimento de uma norma legal. Pressupõe o cumprimento de regras e regulamentos, trabalhando ou agindo dentro da lei”. Composto por leis, decretos, resoluções, normas, atos e portarias, o Compliance é toda uma estrutura regulatória aplicada pelas agências que controlam e regulam o setor em que se insere a empresa. Em seu sentido etimológico, Compliance vem do inglês, to comply, que significa seguir regras, instruções, normas, diretrizes ou simplesmente responder a um comando. O Compliance pressupõe a adesão e respeito a normas e regulamentos (ANTONIK, 2015 p. 47) 39 Com a finalidade principal de combater a corrupção sua atividade se manifesta através de cinco aspectos: Regulamentação Educação Cooperação Transparência Independência A regulamentação ocorre por meio de regras claras, possíveis e disseminadas, com a concordância de todos na sociedade. A educação se materializa por meio da formação e capacitação em torno de conceitos como integridade e ética com o intuito de engajar os envolvidos. A cooperação se manifesta através da integração e colaboração entre países diferentes e instâncias regulamentares e investigativas. A transparência ocorre por meio de ferramentas de divulgação, monitoramento e acompanhamento de informações públicas. E a independência pressupõe liberdade para a investigação e julgamento de casos de corrupção. (ANTONIK, 2015 p. 48) Lei brasileira de Compliance – Lei anticorrupção A Compliance no Brasil adquiriu um importante significado após a promulgação da Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, denominada Lei Anticorrupção (ou Lei do Compliance) que dispõe sobre a responsabilidade administrativa e civil de pessoas jurídicas, de qualquer natureza ou formato societário, pela prática de atos contra a administração pública nacional ou estrangeira. A lei acima citada responsabiliza as pessoas jurídicas, inclusive os sucessores, dirigentes e administradores, tanto no âmbito administrativo como civil, por atos praticados em benefício próprio. Antonik (2016 p.51) com base na análise da Lei anticorrupção, elenca quais atos são considerados lesivos à administração pública nacional ou estrangeira, a saber: 40 Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada; Financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo subvencionar a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei; Utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados; Quanto as licitações e contratos realizados são considerados atos lesivos: Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público; Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório público; Afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo; Fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente; Criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação pública ou celebrar contrato administrativo; Obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações ou prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos instrumentos contratuais; ou Manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos celebrados com a administração pública; Dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das 41 agências reguladoras e dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro nacional. Algumas inovações são apresentadas pela Lei Anticorrupção, sendo principais as seguintes: a) Responsabilidade Objetiva: empresas podem ser responsabilizadas em casos de corrupção, independentemente da comprovação de culpa. b) Penas mais rígidas: valor das multas pode chegar até a 20% do faturamento bruto anual da empresa, ou até 60 milhões de reais, quando não for possível calcular o faturamento bruto. Na esfera judicial, pode ser aplicada até mesmo a dissolução compulsória da pessoa jurídica. c) Acordo de Leniência: Se uma empresa cooperar com as investigações, ela pode conseguir uma redução das penalidades. Tratado no bojo de um processo administrativo de competência do CADE ou autoridade máxima de órgão da administração pública ou entidade dos três poderes; d) Abrangência: Lei pode ser aplicada pela União, estados e municípios e tem competência inclusive sobre as empresas brasileiras atuando no exterior. Delação premiada: Instituto de Direito Penal que proporciona ao investigado, indiciado, acusado ou condenado, um prêmio que pode se materializar desde a redução até a liberação da pena, em razão de confissão e auxílio nos procedimentos persecutórios, prestada de forma voluntária ou espontânea. Este instituto permite aos juízes uma atuação mais livre, podendo se tornar mais complacente com os réus que colaborarem com a justiça, concedendo a possibilidade de oferecimento de penas menores, cumprimento de sentenças em liberdade e o perdão judicial. (ANTONIK, 2016 p. 55) Essa colaboração premiada foi gradativamente inserida ao Ordenamento Jurídico Brasileiro através da Lei 7.492/86 (lei do Colarinho Branco), posteriormente pela Lei 8.072/1990 (Lei de crimes Hediondos), a mais recentemente pela Lei 9.613/1998 (Lei dos Crimes de Lavagem de dinheiro) e Lei 12.850/2013 (Escândalo do Petrolão). 42 As principais características da Delação Premiada são: Colaboração voluntária; O benefício depende da efetividade da colaboração, isto é, resultados; O juiz não deve participar das negociações de formalização de acordo; O acordo deve conter relato do colaborador e resultados pretendidos; É indispensável a presença de advogado em todos os atos de negociação. A delação é tratada no correr do inquérito ou processo criminal, com a homologação pelo Poder Judiciário e a participação do Ministério Público e o Delegado de Polícia. A promulgação e aplicação da lei anticorrupção e demais normas direcionadas ao combate da corrupção colocam o Brasil ao lado de países com legislações rigorosas e avançadas acerca do tema. Legislações dessa natureza afetam a cultura organizacional das empresas, evitando que caiam em situação de corrupção, obrigando – as a criarem uma estrutura de governança corporativa, gestão e controles internos. Com o avanço de ações de combate à corrupção sendo implantadas no Brasil, teremos uma legislação de largo alcance e a implementação de métodos específicos de auditoria interna e medidas de conformidade. A Controladoria Geral da União é o principal órgão que deve contribuir para a aplicação da Lei Anticorrupção, pois é o órgão que tem competência para a instauração de processo administrativo e para responsabilizar pessoas jurídicas, avocar, apurar e julgar processos de crimes praticados contra a administração pública e instaurados pela justiça. Também é o único órgão competente para celebrar acordos de leniência com pessoas jurídicas que praticaram atos ilícitos nesta seara. O acordo de leniência para produzir efeitos deve proporcionar: identificação dos demais envolvidos
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