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Direitos Humanos - Tema 02 - Módulo 03 Adversidade das culturas aos Diretos Humanos

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Direitos Humanos
Tema 02: Módulo 03 – Adversidade das culturas aos Diretos Humanos
O ano de 1948 se tornou um marco na história dos Direitos Humanos Naquele ano, as Nações Unidas proclamaram sua declaração, propondo que este recurso estivesse à disposição de todas as pessoas da família humana.
Esta declaração pretendia servir de base para a garantia de direitos em todos os lugares do mundo. No entanto, não foi denominada como uma declaração internacional, mas autointitulada de declaração universal.
A escolha do seu nome atendia à ideia de que esses direitos deviam estar acima de um ou outro país e proclamava que esses direitos pertencem a todo mundo sem nenhuma condição ou exceção.
Ao pensar sobre a universalidade, surgiu um novo questionamento: seria possível criar um direito básico que atendesse a todas as demandas, independentemente do gênero, da religião, da nacionalidade ou qualquer outra característica da pessoa? Os Direitos Humanos deviam ou podiam ser universais?
A ideia de ser um recurso legal básico disponível para o mundo inteiro parecia ideal e irrecusável. Se direitos são vistos como benefícios, não haveria razão para ser rejeitada por alguém, mas, apesar da boa intenção, a ideia não foi aceita unanimemente.
Saiba mais: Há anos, a questão vinha sendo discutida e a universalidade desses direitos vinha sendo contestada, principalmente pelos países não europeus, que não concordavam que essa declaração atendesse a todas as culturas. Eles enxergavam que a proposta foi produzida a partir dos princípios ocidentais, com fortes tendências eurocêntricas, e que ela impôs o que devia ser acolhido por todos, sem levar em consideração que, em outras partes do globo, existem culturas diferentes, outras demandas sociais, outras religiões além do cristianismo e de outras formas de organização política.
Críticas ao universalismo 
Para os críticos da universalidade dos Direitos Humanos, a ideia de se criar um conjunto de direitos básicos capazes de atender a todos se mostra até mesmo soberba, se levarmos em consideração que ela foi escrita por um grupo, e não por todas as nações.
A partir dessa ideia, poderia ser criada a noção de que existe um grupo que é capaz de entender sozinho as necessidades de todo o mundo e que pode decidir por todos o que é necessário para se ter uma vida digna sem consultar aqueles que irão usufruir desse modo de vida.
Dessa maneira, reforça-se a ideia de hierarquia e desigualdade, segundo a qual um grupo ou uma cultura é superior a outro e que pode ter a tutela do mundo.
Por esse ponto, surge também uma acusação de que, ao se fazer dessa declaração universal, pode-se chegar ao efeito de uma prática imperialista, pois são impostas políticas de um grupo sobre os demais. Pensar a universalidade dos Direitos Humanos como uma prática imperialista é um ponto especificamente interessante, pois, segundo Hannah Arendt, foram justamente as políticas imperialistas praticadas pela Europa no final do século XIX que romperam os Direitos Humanos no passado e deram origem aos grandes conflitos do século XX. Assim, a universalidade acabou tornando-se um objetivo contraditório, pois, ao mesmo tempo em que procura garantir direitos a todos, acaba ocasionando sua própria ruptura.
Respondendo à acusação de ser uma declaração imperialista e imposta ao mundo, os defensores do caráter universal da carta argumentam que, após a elaboração da Declaração, diversos países, de todos os continentes e das mais variadas culturas, aderiram voluntariamente ao documento.
Assim, a legitimidade do caráter universal da Declaração mostrou-se naturalmente, na medida em que os países se preocupam em adaptar suas constituições a esses valores, esquecendo-se de que uma das principais características dessa Declaração é que ela é um objeto histórico, fruto do seu tempo, resultado das necessidades de uma época, que procura atender às demandas de uma parte da sociedade, geralmente a que a produziu, e que está em constante mudança e adaptação e nunca se tornará definitiva, sempre havendo o que melhorar.
Multiculturalismo
Diante de tantas críticas, surge o multiculturalismo, uma corrente em contestação à visão universalista e que amplia as possibilidades de inclusão desses direitos em todo o mundo. Essa corrente tem como um de seus principais apoiadores o sociólogo Boaventura de Souza Santos que, apesar de ser português, critica a visão eurocêntrica da Declaração e procura discutir as diferenças culturais existentes no mundo para contribuir com uma declaração mais plural.
O sociólogo afirma que é natural que todas as culturas enxerguem os seus princípios como os valores mais corretos, que deveriam ser adotados pelos demais — ou não cultivariam aqueles hábitos. A questão é que os ocidentais são os únicos que ultrapassam os limites, buscando se expandir e se impor a todo o restante do mundo.
Ele diz que quando se assume a ideia da universalidade dos Direitos Humanos, tenta-se impor as vontades locais ao todo, e que a solução para tal problema seria aceitar as diferenças existentes no mundo e mudar a qualificação desses direitos, de universais para multiculturais. Caso contrário, a Declaração acaba se tornando um instrumento que põe as civilizações em choque umas com as outras.
Atenção: É importante reconhecer esses problemas para não cairmos na armadilha de relativizar todas as atitudes em nome dos valores locais. Boaventura combate a ideia de relativizar as culturas ao extremo e justificar todas as ações cometidas sem questioná-las.
O que dizer de se assistir a uma sociedade que provoca o mutilamento genital de meninas e mulheres sem questionar, permitindo que atrocidades sejam cometidas em nome da cultura? Assumir as imperfeições e os limites da cultura é o melhor caminho para a construção de direitos humanos multiculturais.
Para Santos, o multiculturalismo representa o equilíbrio entre a competência global e a legitimidade local, ou seja, entre aquilo que precisa ser um ponto em comum entre todos e o respeito das características de cada comunidade. Antes de tudo, é necessário criar um conjunto de direitos que promova a igualdade ao mesmo tempo que são respeitadas as diferenças culturais das diversas comunidades.
[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.
(SANTOS, 2003: 56)
Diversidade Cultural 
É preciso procurar, por meio do diálogo intercultural, atitudes que possam ser assumidas em diversos grupos ou que sejam praticadas de formas diferentes, mas que tenham o mesmo objetivo de não inferiorizar o outro.
Atenção: Nunca se deve assumir um valor que classifique uma cultura ou um grupo como mais correto que outro. Sobre essa relação de diferença e igualdade, podemos pensar no seguinte exemplo: homens e mulheres são diferentes, mas isso não é, ou não deveria ser, motivo de tratamento desigual pela sociedade.
As doutrinas cristã e judaica oferecem visões religiosas distintas, mas, para a sociedade, essa questão não deveria ser hierarquizante nem gerar disputa entre seus praticantes.
Outro ponto que deve ficar claro a respeito das culturas é que elas são dinâmicas e que igualdade não é sinônimo de uniformidade: apesar de serem originários do mesmo continente, norte-americanos, brasileiros e argentino têm características bastante diferentes.
As versões de uma mesma cultura precisam ser também avaliadas e entendidas separadamente para não se criar falsas generalizações.
Dentro do grupo dos islâmicos, existem os xiitas, os sunitas e outras correntes. As ideias de cada um desses grupos podem ser iguais em certo aspecto e radicalmente contrastantes em outros. Todas as diferenças devem ser aceitas pela sociedade desde que nenhum valor inferiorize ou ameace o outro. A burca utilizada pelas mulheres mulçumanas deve ser compreendida como um hábito cultural, mas debatidaquando mulheres que não a desejam, sejam obrigadas a vesti-la.
A aceitação das diferenças é importante até mesmo para que se garanta que os Direitos Humanos sejam atendidos. Em cada sociedade, um direito irá repercutir de uma maneira. Um princípio contrário às práticas cotidianas locais pode levar ao descumprimento contínuo de um direito, seja ou não seja lei. Sem aceitação da comunidade, o direito não tem efetividade.
É preciso lembrar que os Direitos Humanos estão em constante debate e evolução e que, há anos, as Nações Unidas assumem a missão de mediar os interesses de todos e promover debates acerca do assunto para reorganizar os direitos universais.
Mesmo admitindo a existência de críticas, é preciso reconhecer o esforço da Declaração Universal e de tantos outros tratados e documento redigidos pela ONU, ainda que alguns posicionamentos sejam questionáveis é pelo trabalho que se faz uma movimentação global por um debate que visa promover os sistemas jurídicos dos países em busca de uma situação confortável para todos.
A sociedade deve seguir aprendendo a tratar todas as pessoas com igualdade e a compreender as diferenças da família humana.
Dignidade da pessoa humana e a ordem jurídica
Se em um primeiro momento as declarações de direitos essenciais preocuparam-se com a garantia da liberdade e da igualdade, no século XX, outro conceito passou também a ser considerado fundamental: o respeito à dignidade da pessoa humana.
O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas assinado em 1948 afirma: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.
O Brasil, que participa da ONU e que firmou o compromisso de garantir os direitos humanos a seus indivíduos, positivou essa ideia na Constituição de 1988, que está em vigor.
Também no primeiro artigo da nossa Carta Magna, registra-se que a “República Federativa do Brasil (...) tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana”.
A importância da dignidade é tratada em outros momentos, como no Artigo 170, no qual consta que toda ação econômica tem como finalidade garantir uma existência digna. O artigo 230 define que é dever da família, da sociedade e do Estado defender a dignidade das pessoas idosas.
Conceito de “Dignidade da Pessoa Humana”:
Dignidade da pessoa humana são as condições mínimas necessárias para que uma pessoa viva uma vida justa, em condições adequadas e sem depreciação. Este é um valor absoluto, regulador de todos os objetivos do ser humano, pois nada é mais importante do que a garantia das condições vitais para a sobrevivência nesse mundo.
É uma noção incomensurável, insubstituível e que não permite equivalente, ou seja, é um valor que não tem como ser medido de forma quantitativa ou qualitativa. A dignidade humana não pode ser trocada por nenhuma outra coisa, possui um valor que não é comparável a nenhum outro.
Não há uma definição legal única que determine que condições são essas, pois elas variam em cada cultura ou sociedade.
Exemplo: 
Para um homem europeu, ateu e inserido no mundo capitalista, essa noção pode estar completamente baseada nas conquistas financeiras e na possibilidade de desenvolvimento da sua carreira ou do seu negócio.
Já uma mulher, árabe e praticante do islamismo pode ter essa noção amparada na possibilidade de constituir uma família e de criar seus filhos dentro dos princípios da sua religião.
Seja como for, mesmo variando, é certo que todos os grupos e culturas nutrem valores básicos que formam seu conceito de dignidade humana.
Nas sociedades ocidentais, podemos reconhecer as condições da dignidade da pessoa humana como as que foram trazidas na Declaração dos Direitos Humanos da ONU, pois, se a declaração foi escrita por representantes da cultura ocidental como os valores mínimos necessários para todas as pessoas, é lá que estão descritos os seus pilares. Porém, apesar de serem direitos universais, eles não refletem as condições da dignidade humana em todas as culturas do mundo.
Comentário: Segundo o sociólogo Boaventura de Souza Santos, para que os direitos humanos alcancem o maior número de pessoas da família humana e se tornem multiculturais, é fundamental ter clareza de que todas as culturas possuam sua concepção de dignidade da pessoa humana e que nem todas enxergarão a sua noção de dignidade contemplada nos termos da declaração das Nações Unidas.
Para o melhor consenso, já que nem todas as concepções de dignidade humana conseguirão ser contempladas, por serem opostas ou contraditórias, uma solução seria procurar atender ao maior número possível de seres humanos, buscando uma versão mais aberta do conceito, ou seja, a visão da dignidade humana que melhor será aceita dentro das particularidades das outras culturas.
Transformações no Conceito 
Também é necessário compreendermos que, assim como os direitos humanos são um conceito construído a partir das demandas históricas que se modificam na medida em que novos acontecimentos surgem, a noção de dignidade da pessoa humana de cada grupo e de cada época também é mutável.
Uma significativa transformação desse conceito aconteceu no momento após a Segunda Guerra Mundial, quando houve a chamada “virada kantiana”, que rejeitou qualquer espécie de coisificação e instrumentalização dos homens e mulheres. A dignidade da pessoa humana passou a ser considerada um fim para a humanidade e não um meio para a construção do mundo.
Atualmente, não são mais as pessoas que precisam se esforçar para construírem uma sociedade agradável, mas o contrário, o mundo é que precisa ser agradável para que as pessoas possam viver em plenitude, seguras e felizes.
Estruturação dos Direitos Universais 
É quando se inverte a lógica e se assume que a sociedade deve acolher as pessoas, e não o contrário, que a carta de Direitos Humanos universais das Nações Unidas é escrita.
A partir daquele momento, segundo o professor Fernando Quintana (1999), podemos separar os esforços da ONU com os Direitos Humanos Universais em três fases de composição:
Primeira Fase - Seria a burocrática, a fase da definição dos Direitos Humanos.
Segunda Fase - Período de promoção e estabelecimento desses direitos pelo mundo, quando foram realizados congressos, publicações e diversos debates e estudos.
Terceira Fase - A atual fase de proteção, em que é necessário observar e controlar o estabelecimento e o cumprimento desses direitos. Foram criados comitês e grupos para fiscalizar e denunciar violações dos Direitos Humanos em todos os países que aceitaram integrar ou não as Nações Unidas.
Para garantir o sucesso dessa declaração e o acesso aos direitos fundamentais a toda a “família humana”, também foi necessário comprometer os países, fazendo com que assumissem compromissos e tratados e construíssem um sistema que possibilitasse seu funcionamento.
Dessa forma, desde 1966 até os dias atuais, já foram assinados nove tratados que devem ser observados e implementados pelos países membros e que levam em consideração temas específicos como a tortura, os imigrantes, as crianças, as pessoas com deficiências e a discriminação racial e contra a mulher, entre outros.
Além disso, constituiu-se uma estrutura chamada Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos, por órgãos como os comitês regionais; o Sistema Interamericano de Direitos Humanos; o Sistema Europeu de Direitos Humanos e o Sistema Africano de Direitos Humanos.
Esses sistemas regionais acompanham diretamente os países integrantes e se responsabilizam pelos demais países que não fazem parte de nenhum comitê regional, não ficando estes excluídos de acionar os direitos internacionais.
É papel dos comitês regionais se responsabilizar pela proteção de pessoas cujos países não têm um órgão similar. Ou seja, cabe a esses comitês ultrapassarem sua esfera e prestarem auxílio a países e cidadãos de países sem comitê regional que necessitem de acolhimento e de proteção, fazendo valer o princípio de que antes de o indivíduo ser pertencentea um país, ele é integrante da família humana.

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