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trabalho literatura brasileira

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
CURSO LICENCITATURA EM LETRAS: PORTUGUES
DISCIPLINA LITERATURA BRASILEIRA III
 PROFESSOR (A) TUTOR (A): MARCIA PEREIRA DA VEIGA BUCHEB
 
TÍTULO DA ATIVIDADE ESTRUTURADA: APONTAR AS LEITURAS POSSIVEIS QUE O OLHAR CONTEMPORÂNEO PRODUZ SOBRE A RAÇA E ETINIA DE FORMA PRECONCEITUOSA, A PARTIR DA LEITURA DOS CONTOS: “NEGRINHA” DE MONTEIRO LOBATO E “CLARA DOS NAJOS” DE LIMA BARRETO.
 ALUNO (A) AUTOR (A) DA ATIVIDADE: TATIANA DA SILVA CARDOSO
DATA: 16/09/2021.
Em 1889 ocorreu a Proclamação da República no Brasil e a partir desse momento, várias cidades do país começaram e reestruturar os seus espaços urbanos. O objetivo era eliminar da arquitetura as marcas da colonização portuguesa. Assim em cidades como no Rio de Janeiro, ocorreu um movimento que ficou conhecido como “bota-abaixo”. Como resultado dessa modificação, transferiu-se para as regiões periféricas, as pessoas pobres que residiam em cortiços no centro da cidade, surgindo assim as primeiras favelas. Além disso, os escravos libertos, substituídos pela mão de obra europeia, também acabaram indo parar nessas regiões simplesmente por falta de opções. Em oposição ao que acontecia no Rio de Janeiro, o estado de São Paulo enriquecia com a cultura do café. Enquanto isso no Nordeste, o motivo da pobreza e miséria era a seca. Nesse contexto surgiram vários conflitos sociais: no Nordeste a Guerra de Canudos; em São Paulo a Greve dos Operários; e no Rio de Janeiro a Revolta da Vacina e a Revolta da Chibata. Devido a todos esses problemas sociais, os escritores brasileiros adotaram uma postura liberal e começaram a fazer criticas sobre os problemas enfrentados pela maioria da população. Sendo assim, surgiram obras em que se denunciava os diversos problemas político-econômico e social, tendo como principais expoentes Lima Barreto e Monteiro Lobato. O objetivo do trabalho é entender o contexto social com as quais os autores estavam inseridos e observar como as criticas a essa sociedade foram colocadas em suas obras
As duas obras analisadas Clara dos Anjos e Negrinha abordam a questão da discriminação racial, a violência com pessoas de baixa renda e no caso de Lima Barreto, ele aborda ainda a questão da violência à mulher negra. A primeira obra trata da história de uma personagem homônima, que era filha de pais superprotetores, mas que moravam no subúrbio carioca. Já o segundo trabalho trata-se da história de uma criança órfã que sofre todo tipo de brutalidade vindo de uma senhora que havia sido dona de escravos. As obras denunciam situações que ocorrem até os dias de hoje e, portanto, são obras super atuais, pela problemática que trazem à reflexão. 
Lima Barreto é apontado como um dos “fundadores da literatura negra”, sendo que sua obra possibilita ao leitor reconhecer o envolvimento com a causa do negro de forma bem explícita. Foi o próprio autor marcado pelo estigma de ser afrodescendente e deixou em suas obras o registro do seu mal-estar diante de uma sociedade que havia libertado os escravos, mas que carregava encrustado nas suas raízes praticas extremamente preconceituosas. Ele dá voz a esse povo que é marginalizado, e que naquele momento da história nacional, era retirado e jogado para áreas isoladas da cidade, com a desculpa da modernização da então capital do Brasil, o Rio de Janeiro. 
Nascido e criado em subúrbio, Barreto sentiu na pele a situação humilhante e prepotente com a qual a elite do começo do século XX tratava essa população. No entanto, fez da sua palavra uma denuncia contra essa realidade vivenciada por sua gente. Sua obra reflete o abandono, o sofrimento e a ausência de perspectivas dessa classe, que apesar de ter se tornado livre por lei, não eram aceitos como cidadãos por conta dos séculos em que foram mantidos em cativeiro. Denunciava a maneira como a sociedade abastada insistia em manter segregada as pessoas de ascendência negra, reforçando a supremacia branca e contra a miscigenação racional que acontecia aqui. 
Observamos em Clara dos Anjos uma temática voltada para questões como preconceito racial e exclusão social; denuncia as humilhações sofridas pela mulher negra, que eram vistas somente como objeto sexual despertando no leitor repúdio contra tais valores estereotipados. Mostra o dilema da mulher diante do preconceito racial, da exploração sexual e da miséria econômica. Uma mulher que coloca seus sonhos em um casamento que não acontece, e que se deixa levar pela ilusão de um amor não correspondido. Acaba gravida e ao procurar a família do namorado acaba sendo escorraçada devido sua condição de mulher negra e pobre. O drama vivenciado no decorrer da história traz à tona o problema tradicional de desrespeito sexual por parte dos homens brancos e de classes economicamente mais elevadas em relação a essas mulheres tidas como desclassificadas pela sociedade da época, sociedade criticada exponencialmente pelo autor por ainda, depois de tantos anos da abolição, manter no corpo e na cor da mulher os vícios que perpetraram nos senhores brancos durante a época da escravatura. 
A protagonista dessa obra apresenta-se triplamente marcada pelo fato de ser mulher, mulata e ser pobre. A personagem sente um grande complexo de inferioridade porque ela sofre um pré-conceito de que ela não é adequada para um casamento e que sua vida está fadada a uma conduta de amoralidade. O próprio namorado é retratado como um homem que apesar de ser branco e burguês não consegue se adequar ao ambiente que seria compatível com a sua posição social porque sua realidade suburbana acaba por se sobressair por meio dos gestos e vestimenta, tornando inapto para a vida no centro da cidade, restando a ele somente seduzir as mocas pobres e analfabetas da periferia. 
Vendo toda a problemática que a obra retrata sobre o sofrimento da mulher, podemos perceber que evoluímos muito, apesar de ainda não termos atingido aquilo que seria razoável para a condição da mulher no Brasil. Nossa sociedade ainda estigmatiza mulheres que criam seus filhos sozinhas; vemos ainda diferenças no mercado de trabalho entre homens e mulheres; temos alta taxa de feminicídio; o país ainda tem uma cultura machista em relação a mulher moderna e o preconceito racial e social ainda é vigente. 
Já a obra Negrinha de Monteiro Lobato vai abordar principalmente o tema da opressão e também o preconceito racial. O titulo do livro já traz à tona a maneira pejorativa em que a personagem principal era tratada, e também sua condição social e seu constante estado psicológico. Negrinha é vitima de um meio social injusto e preconceituoso, onde o que vale é a submissão dos mais fracos e a hipocrisia dos mais fortes. Dona Inácia é descrita como uma excelente senhora, gorda, dona de fazenda, dona do mundo, com lugar reservado no céu, ou seja, falsas virtudes, quando na verdade sempre maltratava a pobre negrinha. Então vemos na forma de tratamento entre as duas já mostra a diferença enorme entre as duas: uma era D. Inácia e a outra negrinha simplesmente, sem nome, somente uma alcunha.
Tanto a obra de Lima Barreto quanto a de Monteiro se passam no mesmo contexto histórico, onde a escravidão já havia sido abolida, porém as leis não tinham força para abolir costumes fortemente arraigados na cultura. Dessa maneira, a história nos mostra que D. Inácia ainda considerava negrinha escrava, seja pelas agressões físicas, pelo desafeto ou pelos castigos que negrinha sempre recebia na casa-grande.
A menina não tinha uma identidade própria já que não era considerada um ser humano, mas sim um bicho que devia ser domesticado. Não podia falar, não podia brincar, não podia sequer andar pela casa. A história tem uma reviravolta quando negrinha passa a conviver com as sobrinhas de Dona Inácia. As duas crianças passam a conviver com negrinha e passam a zombar de negrinha, porque também já tinham incorporado um julgamento social imposto pela sociedade. Quando negrinha se depara com as diferenças de tratamento entre aquelas crianças e ela própria, consegue começar a ter uma consciência individual. O autorcoloca voz na boca de negrinha quando a descreve extasiada ao ver uma simples boneca. A representação da boneca para negrinha seria a igualdade, onde toda criança é tratada da mesma forma, tanto a princesinha quanto a mendiga. Quando ela vê a boneca ela se percebe como uma pessoa que tem alma, sentimento porque a figura lúdica do brinquedo representa isso a ela. Tanto que quando as sobrinhas de D. Inácia vão embora e levam a boneca, ela morre triste e sozinha ao se perceber na triste e lastimável mesma condição de antes. 
Hoje percebemos ainda muita violência contra criança. Não só nos lares pobres, mas infelizmente em áreas nobres também. Crianças completamente vulneráveis sofrem agressões sucessivas e que muitas vezes quando são percebidas é tarde demais. Foi o que aconteceu no caso do menino Henry Borel. A suspeita é que o namorado da mãe, o vereador Dr. Jairinho, tenha torturado a criança até a morte. Este também é o caso do menino Gael, que morreu em maio também em casa. A investigação aponta que a mãe o teria matado.
Seguramente, é possível afirmar que o número de violência contra crianças e jovens cresceu durante a pandemia de covid-19, porque com o isolamento social a criança fica limitada ao ambiente familiar onde fica muito mais difícil comprovar a violência. A pandemia propiciou o conjunto ideal para o agressor e o mesmo ocorreu com relação a violência contra as mulheres, já que o número de feminicídios durante esse período também aumentou.
Os especialistas são unanimes em dizer que nascer e crescer em um ambiente sem violência é imprescindível para que uma criança tenha a garantia de uma vida saudável, tanto física quanto emocional.

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