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A questão ambiental UNIDADE 2

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A questão ambiental
A QUESTÃO AMBIENTAL
Para sermos capazes de elaborar projetos de responsabilidade socioambiental, é necessário refletirmos sobre a dimensão da crise ambiental mundial. Apesar da aparente simplicidade, esse é um tema complexo, que envolve saberes da economia, ciências da natureza e ciências sociais. Há muitas explicações simplistas e ingênuas para o problema ambiental, que se constituem na maior armadilha para aqueles que trabalham com responsabilidade socioambiental. Uma concepção ingênua de ambiente subsidiando um projeto irá fragilizar toda a sua estrutura.
Objetivo
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:
· Analisar situações que envolvam aspectos ambientais.
Conteúdo Programático
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas:
· Tema 1 - Visões de ambiente
· Tema 2 - Crise ambiental
· Tema 3 - Sustentabilidade e sua crítica
O vídeo trata das modificações que ocorreram no planeta Terra desde a inserção do ser humano. Ao longo do tempo o ser humano foi utilizando os recursos disponíveis sem compreender que esses recursos poderiam ser finitos ao mesmo tempo que as necessidades do homem tornaram-se cada vez maiores. Você verá que o vídeo retrata, como o estudo da unidade, a preocupação com as questões ambientais e o desenvolvimento sustentável.
Tema 1Visões de ambiente
Analisar situações que envolvam aspectos ambientais?
Elaborar, implantar ou avaliar programas de responsabilidade ambiental exige que, antes de tudo, nós possamos explicitar qual é a nossa visão sobre o ambiente. Seriam meio ambiente e natureza a mesma coisa? Até que ponto uma ação de responsabilidade ambiental deve preocupar-se com a inclusão de questões sociais?
A ideia de natureza é um construto social e dependente da cultura, por isso não podemos esperar que todas as sociedades compartilhem a mesma percepção do que é a natureza. Além disso, a visão de natureza de uma sociedade não é estática, ela muda no decorrer do tempo influenciada pelas mudanças na cultura. O trabalho clássico de Lenoble (1969) nos alerta sobre o fato de natureza ser um conceito, um construto teórico: “[...] não existe uma natureza em si, existe apenas uma natureza pensada. [...] Não encontramos senão uma ideia de natureza que toma sentido radicalmente diferente segundo as épocas e os homens.”
Os diversos povos indígenas brasileiros têm visões de natureza diferentes entre si e das outras culturas comuns no país. As religiões de matriz africana possuem uma interpretação e uma relação com o mundo natural diferentes das da tradição judaico-cristã.
O estudo de Lenoble ainda detalha que a concepção de natureza dependerá de três fatores em cada lugar e época: a visão de ciência, a visão religiosa e a visão moral. A ciência nos dirá o que são as coisas do mundo, de que elas são feitas, como elas se comportam; a religião norteará a dúvida se a natureza é o divino ou a obra do divino; e a moral estabelecerá que atitude a humanidade terá a respeito do mundo natural.
Lúcia Cidade (2001) exemplifica a relação entre a visão de natureza e a cultura dos povos. Ela analisou dois perfis básicos de sociedades primitivas: agricultores e caçadores, e sua forma de encarar a natureza.
As sociedades agrícolas consideravam a natureza uma grande mãe, viva e em transformação; as pessoas eram parte desse ser [...]. Nesse sentido, as pessoas e divindades fariam parte de uma dança da natureza, improvisada e autocriativa. Diferentemente,para as sociedades caçadoras nômades, a natureza estaria separada tanto dos deuses como das pessoas. A natureza teria sido criada por um deus exterior a ela; significava uma dádiva para ser usada e explorada. Os homens e seus deuses desfrutariam uma posição externa e superior à natureza [...]
(CIDADE, 2001, p. 104).
Ao estudarmos os modelos éticos que valorizam os objetos da natureza, vimos a oposição entre dois modelos: o antropocentrismo e o ecocentrismo. O primeiro dota de valores os elementos da natureza que interessam ao ser humano, os recursos naturais; já o ecocentrismo valora ecossistemas e relações presentes na natureza, independentemente dos usos humanos.
A palavra latina natura significa “a ação de fazer nascer”. Esse termo carrega consigo a ideia de que a natureza não é apenas um conjunto de elementos (animais, plantas, água, rochas...), mas que é composta por uma série de processos, algo como um princípio que é capaz de produzir, desenvolver e eliminar diferentes tipos de coisas ou seres.
Os processos naturais são complexos e interligados. Vários fenômenos que ocorrem nos ecossistemas, quando estudados de maneira mais profunda, revelam diferentes dimensões. Vamos a alguns exemplos importantes.
As cadeias alimentares tendem a ser simplificadas no ensino de ciências como as relações tróficas (quem se alimenta de quem na natureza). Essas relações são diretamente responsáveis pela manutenção da quantidade de seres de cada espécie e pela estrutura do próprio ecossistema. Caso um elo da cadeia alimentar seja retirado ou sofra uma redução em sua população, aqueles seres que são suas presas podem se multiplicar em quantidades absurdas. Temos diversos exemplos disso, um deles são as pragas que afetam a agricultura, geralmente ligadas à maneira como o próprio setor agrícola lidou com a natureza. Pragas de gafanhotos, besouros e lagartas são casos típicos. Na fase em que o café era a base da economia do Brasil, a destruição de florestas para o plantio desse grão reduziu a população de pássaros que predavam as borboletas. Com isso, surgiu a praga da borboletinha do café, e as lagartas dessa borboleta dizimaram as plantações.
Não só insetos podem tornar-se pragas, por exemplo, o coral-sol é transportado de locais distantes do planeta para o Brasil no casco das embarcações e, ao chegar aqui, ele não possui predador, ocupando o espaço dos corais nativos e eliminando a fauna nativa. Esse é o perigo do “ser introduzido”. Animais e plantas de outros países podem representar um risco para nossos ecossistemas. Aqui, eles podem crescer indiscriminadamente, tornando-se pragas e eliminando as populações nativas. Por isso, nas viagens internacionais é proibido transportar sementes.
Coral Sol - Espécie estrangeira que ocupa o espaço dos corais nativos.
Praga de insetos
· 1
· 2
· próximo
Algumas pessoas não entendem por que se investe em programas de conservação de espécies, tais como a ararinha-azul, a baleia jubarte, as tartarugas marinhas. Além da ética biocêntrica, que confere valor aos objetos da natureza, há uma questão de conservação dos ecossistemas como um todo. Os pássaros são dispersores de sementes de muitas espécies vegetais, e isso quer dizer que, sem certas espécies, algumas plantas não irão se espalhar e desaparecerão. Outros seres (morcegos, aves, insetos) são polinizadores, e diversas espécies vegetais não garantem sua reprodução por si só, ou seja, sem o polinizador não há processo reprodutivo. Esse é o motivo que faz a humanidade se preocupar com o atual desaparecimento das abelhas: sem abelhas, diversas espécies vegetais desaparecerão.
Quando uma organização adota o discurso de preocupação com a natureza, cabe a ela informar-se da importância do que está fazendo, como suas ações afetam a natureza, e ir além dos slogans e das palavras de ordem para o entendimento dos processos naturais.
Uma aparente dicotomia presente nos discursos sobre natureza é a questão do natural versus o artificial. O natural viria da natureza, sem necessidade da participação do homem; seriam processos que já se estabeleciam antes de a espécie humana surgir. O artificial é a ação humana sobre as coisas e os processos da natureza. Vale lembrar que nenhum processo artificial é independente da natureza, pois vem de sua modificação. Também é importante refletir sobre a ação dos humanos, que é tão intensa na atualidade que gera consequência para os processos naturais.
O encontro do natural com o artificial gera o ambiental. O ambiente não é natureza pura, livre de humanos — ele se constrói na tensão das relações naturaise artificiais. Dulley (2004) alerta que, apesar da dicotomia natural versus artificial, não se pode dissociar totalmente o natural do social, pois o encontro dessas duas componentes produz as questões ambientais.
[…] pois outros temas, além da destruição da natureza, como o tratamento cruel de animais domésticos, a exploraçãodesumana de trabalhadores e crianças e as restrições por parte dos consumidores aos organismos geneticamente modificados, que até há poucos anos, não eram sequer cogitados pelas legislações específicas, nem mesmo os monitorados por entidades internacionais, passaram, recentemente, a ser considerados parte da crise ambiental.
(DULLEY, 2004, p. 17)
Além disso, o ser humano é um animal, por isso também é parte da natureza. Por mais que vivamos cercados de produtos e processos artificiais, não podemos nos enxergar como algo à parte da natureza.
A ISO 14001 é uma norma internacionalmente reconhecida que define o que deve ser feito para estabelecer um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Essa norma foi desenvolvida com o objetivo de criar o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade e a redução do impacto ambiental, com o comprometimento de toda a organização. A ISO 14001:2004 arriscou uma definição sobre meio ambiente: “Circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações” (ABNT, 2004, p. 1). Essa tentativa de definição ainda é considerada estática — meio ambiente é mais que circunvizinhança, não é um cenário.
No sistema jurídico brasileiro, foi a Lei nº 6.938/1981, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que definiu o conceito de meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e infraestrutura de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981, p. 1). A ideia de abrigar e reger a vida capta mais o funcionamento do meio ambiente e é uma definição mais profunda que a da ISO.
Sofisticando um pouco mais, podemos analisar a reflexão de Primavesi (1997) de que meio ambiente não é apenas o espaço em que se vive, “mas o espaço do qual vivemos”. Isso eleva o papel do meio ambiente de mero cenário a produtor das nossas condições de existência.
Algumas definições explicitam as relações entre mundo natural e sociedades humanas. Para Tostes (1994):
[…] meio ambiente é toda relação, é multiplicidade de relações. É relação entre coisas, como a que se verifica nas reações químicas e físico-químicas dos elementos presentes na Terra e entre esses elementos e as espécies vegetais e animais; é a relação de relação, como a que se dá nas manifestações do mundo inanimado com a do mundo animado [...] é, especialmente, a relação entre os homens e os elementos naturais (o ar, a água, o solo, a flora e a fauna); entre homens e as relações que se dão entre as coisas; entre os homens e as relações de relações, pois é essa multiplicidade de relações que permite, abriga e rege a vida, em todas as suas formas. Os seres e as coisas, isoladas, não formariam meio ambiente, porque não se relacionariam.
Por fim, chegamos a uma compreensão mais totalizante, que não dissocia a cultura do meio ambiente. Silva (2000, p. 20) conceitua o meio ambiente como a “interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”. Para Migliari Junior (2001, p. 40), o meio ambiente é a:
[…] integração e a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais, culturais e do trabalho que propiciem o desenvolvimento equilibrado de todas as formas, sem exceções. Logo, não haverá um ambiente sadio quando não se elevar, ao mais alto grau de excelência, a qualidade da integração e da interação desse conjunto.
Então, quando nos referirmos a meio ambiente, é importante que se entenda que esse conceito engloba toda realidade sociocultural em interação com a natureza. Vejamos como a Constituição brasileira aborda a questão do meio ambiente:
[…] integração e a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais, culturais e do trabalho que propiciem o desenvolvimento equilibrado de todas as formas, sem exceções. Logo, não haverá um ambiente sadio quando não se elevar, ao mais alto grau de excelência, a qualidade da integração e da interação desse conjunto.
Apesar de não ser possível definir cientificamente o que é um meio ambiente ecologicamente equilibrado, entende-se que buscamos conservar as relações que existem nos ecossistemas. Utilizamos o termo “conservar” em vez de “preservar”, pois ao conservarmos podemos intervir — a ação humana não é descartada, desde que não se destrua ou se descaracterize totalmente o ambiente. A grande polêmica da conservação é entender o que deve ser conservado: o ecossistema, as populações ou a diversidade genética?
Preservar é um termo mais forte que conservar. Ao preservarmos uma área, devemos retirar ou livrar o local da exploração humana. Não é possível preservar toda a natureza, pois isso impediria as atividades humanas.
Tema 2Crise ambiental
Qual é o compromisso da Educação Ambiental?
O ser humano tem a capacidade de alterar o ambiente para buscar soluções para seus problemas. Com isso, fomos capazes de utilizar o conhecimento científico para produzir métodos, técnicas e artefatos que alteram as condições oferecidas pelo ambiente. A partir do conhecimento científico sobre a eletricidade, foi possível produzir circuitos elétricos que são a base de diversos aparelhos, mas nem toda tecnologia é necessariamente um objeto material. Diversas técnicas, receitas, protocolos etc. foram desenvolvidos no sentido de mudar a natureza: uma técnica de cirurgia, uma receita para produção de vinhos e um protocolo para coletar sangue para exame são também tecnologias.
Algo que deve ser motivo de reflexão por parte dos professores ao ensinar sobre tecnologia é que, geralmente, ela não surge como resposta à curiosidade humana ou como consequência da atitude altruísta de alguém que deseja melhorar a vida das pessoas. São inegáveis os interesses econômicos e políticos que regem a produção de ciência e tecnologia. Fazer ciência profissional não é algo barato, assim como não o é desenvolver tecnologia de ponta. Os conhecimentos sobre os “porquês” e sobre o “como fazer” são estratégicos politicamente e significam poder. Não é à toa que os países que possuem uma política externa mais agressiva e desejam estender sua influência militar, política e econômica investem tanto em ciência e tecnologia.
O fator econômico é também decisivo para a produção de tecnologias. As empresas não investem em tecnologias que não sejam lucrativas. No caso da saúde, temos o problema das doenças negligenciadas, pouco pesquisadas pela indústria farmacêutica por afetarem mais a população mais pobre. Por esse motivo, tecnologias para produção de vacina e tratamento para doenças antigas como hanseníase e doença de Chagas são raras e antiquadas. Por outro lado, doenças que também podem afetar pessoas com maior poder de compra (câncer, HIV) são pesquisadas de forma intensa, e novas tecnologias são desenvolvidas constantemente.
Para agravar o problema, os impactos ambientais não são compartilhados por todos igualmente, e os grupos menos favorecidos economicamente defrontam-se de forma cruel com essa realidade, tendo que habitar locais próximos a lixões, usar água contaminada e expor-se às poluições visual, sonora e de resíduos tóxicos. Daí surge o compromisso da responsabilidade social e da responsabilidade ambiental.
Para entender melhor a crise ambiental, iniciaremos com uma fábula conhecida: “Era uma vez, uma floresta em chamas e lá estava um beija-flor com seu minúsculo baldinho tentando apagar o fogo. Quando perguntado por que não fugia, o beija-flor disse: ‘Eu estou fazendo a minha parte.’”
Então, se cada um fizer a sua parte nós conseguiremos resolver o problema ambiental?
No sentido de entender as implicações mais profundas da fábula do beija-flor, vamos analisar o iníciodo movimento ambientalista. Um marco importante na história das ciências ambientais foi o lançamento do livro Primavera silenciosa de Rachel Carson, em 1962. Nele, a autora denunciava os efeitos tóxicos do DDT para o ambiente. Boa parte da denúncia se baseou no efeito que o pesticida tinha na saúde das aves. O produto que havia sido utilizado como arma química era agora comercializado como defensivo agrícola. Se pensarmos nos ecossistemas como uma rede de relações entre os seres, algo que está afetando as aves tão devastadoramente estaria afetando os demais seres, humanos inclusos.
Quando Carson fez essa denúncia, a mídia, patrocinada pelas corporações que fabricavam esses defensivos agrícolas, tentou destruir sua imagem, retratando-a como louca e sensacionalista, mas a História fez justiça a Rachel Carson com a proibição do DDT, que logo depois foi comprovado como causador de câncer e envenenamentos.
Não obstante, como tudo isso se conecta com a história do beija-flor? Vamos pensar em alguns casos parecidos com o que Rachel Carson relatou. O Brasil é campeão no uso de agrotóxicos (pesticidas ou defensivos agrícolas). Alguém pode afirmar que a solução para isso é mudarmos nossos hábitos e não usarmos agrotóxicos. Muito bom, mas somos nós que plantamos nosso alimento? Ainda pensando em solução individual, alguém pode propor só comermos produtos orgânicos (plantados sem agrotóxicos ou adubos químicos). Além de serem caros para a maioria da população, não adianta consumir produtos orgânicos enquanto grandes concentrações de agrotóxicos são lançadas no solo, contaminando os lençóis de água subterrâneos e os rios. Também não adianta plantar o próprio alimento, pois não conseguiremos, em área urbana, cultivar tantos vegetais e ainda utilizaremos água que poderá estar contaminada por agrotóxico.
A questão do desperdício de água é outra que, muitas vezes, é minimizada pela mídia. A versão conhecida por todos é que nós (os cidadãos comuns) somos os causadores do problema e resolveremos isso se reduzirmos nosso tempo de banho, não lavarmos a calçada com mangueira, entre outras ações individuais.
Será que a escassez de água se deve ao uso doméstico? Será que fazermos nossa parte resolverá o problema?
Por que falta água no Brasil?
Assista ao vídeo da Fundação Grupo Boticário que aprofunda as questões sobre a escassez de água, desmistificando concepções ingênuas.
Agora, convidamo-lo a refletir sobre o uso de água pela agricultura e pela indústria e o uso doméstico.
Gasto excessivo de água na produção de alimentos
Assista ao vídeo do canal Comer Pra Quê e analise o infográfico sobre o desperdício de água no Brasil. Perceba o papel da pecuária nesse processo. Analise os dados e veja quanta água é gasta para produzir um quilo de carne.
A análise do infográfico no vídeo nos mostra que os maiores consumo e desperdício de água se dão nas lavouras que produzem ração para todo tipo de gado. A indústria também gasta e desperdiça muito mais água que a soma do uso doméstico. A análise do vídeo sobre o ciclo da água nos mostra o quanto é desperdiçado para produzir uma simples garrafa plástica, mas que a indústria utiliza esse tipo de recipiente porque é mais barato.
Ainda analisando práticas pedagógicas ingênuas, que se baseiam na fábula do beija-flor, vamos pensar em reciclagem. A reciclagem costuma ser apresentada como solução para o problema do lixo: para resolvê-lo, basta que saibamos separar os materiais, acondicioná-los nas lixeiras específicas e enviar para reciclagem.
Esse tipo de prática não se baseia na evidência científica de que a reciclagem não consegue dar conta da quantidade de materiais que são produzidos e descartados, impossível de ser reciclada em sua totalidade. O mesmo erro é cometido pelos artesanatos de garrafa PET. Não é possível converter nem uma fração insignificante de garrafas PET em artesanato, pois a cada dia são lançadas na natureza milhares de novas garrafas.
Essa prática também comete o erro das abordagens C&T, que acabam por dar uma ilusão de mundo em que a tecnologia resolverá todos os problemas: podemos consumir desenfreadamente, que é só usar as tecnologias de reciclagem; a indústria pode lançar produtos de curta duração e exagerar nas embalagens, porque a reciclagem resolverá o problema. Mesmo a iniciativa de algumas indústrias de trabalhar com materiais reciclados não resolve o problema, pois a produção supera, e muito, aquilo que é viável de ser reciclado. Lembre-se, também, de que esses novos produtos (reciclados) igualmente voltarão a ser lixo.
Reciclagem de garrafas PET, necessária, porém muito insuficiente para o enfrentamento do problema ambiental.
Então, como educador ambiental, não posso fazer uma oficina de reciclagem ou ensinar cuidados de economia da água doméstica? Pode, sim, mas de forma a problematizar, não para propor soluções mágicas, fantasiosas e ingênuas.
Prática escolar de reaproveitamento de materiais. Deve ser acompanhada de uma abordagem bastante crítica da própria atividade para não alimentar concepções ingênuas.
Uma oficina de reciclagem pode ser um desafio para discutir o poder limitado dessa prática; os cuidados com a água doméstica devem ser ensinados, mas apenas para economizar dinheiro e água tratada, não como solução para o problema da escassez, pois, se não recuperarmos os rios, protegermos as matas ciliares ou agirmos politicamente pela criação de normas contra o desperdício da pecuária, da agricultura e da indústria, não adiantará o cuidado doméstico.
O compromisso do educador ambiental é político, comunitário, e não individualista. A fábula do beija-flor reflete algo triste da sociedade, um egocentrismo desmedido, a ideia de que, mesmo que não adiante de nada, o indivíduo está fazendo sua parte e pode pôr a culpa no outro pelo problema ambiental. O compromisso da Educação Ambiental (EA) não é com a culpa individual, mas com as responsabilidades coletivas, lembrando sempre que essas responsabilidades variam, pois alguns grupos têm maior poder político ou econômico.
Tema 3Sustentabilidade e sua crítica
Como caracterizar o termo “desenvolvimento sustentável”?
Durante muitas décadas, o rio Tâmisa (Londres, Inglaterra) era poluído e muito malcheiroso, a ponto de ser apelidado de o grande pooh (o grande cocô!), representando um problema ambiental e de saúde para a população, que, porém, tratava-o com humor. A população dos educados ingleses conviveu com o problema por muito tempo sem nenhuma grande mobilização no sentido de resolvê-la. No século XIX, por causa de diversas epidemias, incluindo cólera, foram desenvolvidas as primeiras estações de tratamento de água, mas nada foi feito para melhorar as condições do rio. Nos anos 1960, iniciou-se o grande projeto ambiental da cidade, e a empresa que explora a água (Thames Water) e o governo fizeram a despoluição do rio. Atualmente, as águas estão limpas, há peixes e as novas gerações de ingleses que cresceram com o rio limpo são exigentes quanto à qualidade do ambiente.
O que o episódio do Tâmisa nos ensina sobre o desenvolvimento sustentável?
Para responder a isso, primeiro precisamos entender o que é desenvolvimento sustentável. Você poderá encontrar diversas definições para isso, então usaremos uma conceituação mais amplamente utilizada e adotada pela ONU, que propõe um desenvolvimento econômico respeitando a continuidade dos recursos naturais para as próximas gerações. Para isso, é muito importante que você assista atentamente ao vídeo da ONU sobre a Agenda 2030, documento que orienta o desenvolvimento sustentável em todo o mundo.
Compreendendo as dimensões do desenvolvimento sustentável
A ONU explica o desenvolvimento sustentável. Vídeo da ONU sobre a Agenda 2030, documento que orienta o desenvolvimento sustentável em todo o mundo.
Perceba que, ao discutir o desenvolvimento sustentável, alguns fatores sempre farão parte do debate. Com certeza, os aspectos ambientais são lembrados, mas, mesmo que sejam “os primeiros da lista”, não podemos afirmar que é dada a eles a mesma importância dos aspectoseconômicos. Como vimos anteriormente, ambiente não é sinônimo de natureza, mas sim da interação de fatores naturais com fatores sociais. Então, podemos notar a presença de preocupações com as questões sociais.
O que é a Agenda 2030?
A ONU detalha seus objetivos para atingir o desenvolvimento sustentável na Agenda 2030. Assista atentamente ao vídeo da ONU, que detalha cada um dos 17 objetivos da Agenda 2030, e identifique a natureza desses objetivos:social, econômica, natural.
Dessa forma, podemos entender que o desenvolvimento sustentável é um modelo que busca aliar o crescimento econômico à conservação dos recursos naturais, buscando deixar um ambiente saudável para as gerações futuras. Para isso, questões sociais como a fome, a pobreza e a liberdade precisam ser resolvidas.
O IBGE analisa o desenvolvimento sustentável e as metas da ONU com otimismo. São apresentadas melhoras nos índices de diversos objetivos da ONU: a fome no mundo está reduzindo, a desigualdade de gênero também e as condições sanitárias das populações estão melhorando.
O problema, que mesmo a visão otimista do vídeo deixa passar, é que as metas nunca conseguem ser cumpridas nos prazos estipulados. Em 1992, na conferência ECO 92 no Rio de Janeiro, a ONU traçou 21 metas para o século XXI, resultando no documento chamado de Agenda 21. Com a chegada deste século, foi percebido como estávamos longe de atingir essas metas. Os atuais 17 objetivos para 2030 são uma releitura da Agenda 21. Mesmo com os avanços, estamos muito longe de atingir qualquer uma das 17 metas estabelecidas pela ONU.aldade de gênero também e as condições sanitárias das populações estão melhorando.
IBGE Explica – Objetivos do desenvolvimento sustentável
Assista com atenção à explicação sobre desenvolvimento sustentável que é defendida no vídeo. O site do IBGE explica os objetivos para o desenvolvimento sustentável traçados pela ONU.
A ênfase no crescimento econômico coloca em choque a economia com a biologia. Como é possível crescer indefinidamente em um planeta cujos recursos são finitos? A capacidade de suporte do planeta já foi superada desde os anos 1980. A Terra não consegue gerar mais recursos ou absorver a quantidade de resíduos dos diversos processos produtivos. Podemos considerar que um dos grandes entraves ao pensamento sobre sustentabilidade considerar o capitalismo a única forma de modelo produtivo possível. Para salvar esse modelo, são invocadas as inovações tecnológicas e as ações políticas.
Outro problema grave do desenvolvimento sustentável é de natureza ética. O discurso da ONU, por exemplo, é baseado em uma ética antropocêntrica. Os objetos da natureza (animais, plantas, ecossistemas...) são reduzidos a recursos.
No mundo das organizações, o discurso da sustentabilidade é hegemônico, parecendo nunca ser questionado. Talvez, por isso, muitas empresas se vejam seduzidas por soluções ambientais superficiais ou ingênuas. Entender a sustentabilidade é importante, aprender a trabalhar dentro dessa perspectiva é estratégico, mas saber questioná-la é o que diferencia o profissional como ser atuante de mero executor de tarefas.
Agora discutiremos sustentabilidade aplicada ao exemplo da questão do Rio Tâmisa, que estava no início do tópico.
Créditos: Arnika Ganten / Shutterstock.com
Para pensarmos na situação desse rio em Londres, convidamo-lo a sair da Inglaterra para visitarmos o litoral brasileiro. Um dos maiores desafios para a conservação das tartarugas marinhas no Brasil é a necessidade de alimentação da população de baixa renda que vive na costa. Diante das poucas opções para sobrevivência, comer a carne e os ovos das tartarugas se tornou uma opção. Isso foi incorporado à cultura local, de forma que a alimentação à base de tartaruga ganhou valores de identidade local. Vimos no tópico passado que não se faz EA apontando “culpados”, muito menos a partir de concepções ingênuas de ambiente, tal qual a fábula do beija-flor (cada um faz sua parte). Como o Projeto Tamar enfrentou essa situação? Qual foi a abordagem de desenvolvimento sustentável utilizada por essa organização?
O Projeto Tamar foi criado em 1980 pelo antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), que mais tarde se transformou no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). Hoje, é reconhecido internacionalmente como uma das mais bem-sucedidas experiências de conservação marinha e serve de modelo para outros países, sobretudo porque envolve as comunidades costeiras diretamente em seu trabalho socioambiental (PPROJETO…, c2011).
O envolvimento das comunidades costeiras no trabalho socioambiental representa a chave para a questão. O Tamar foi eficiente em gerar uma nova economia para as localidades onde as tartarugas fazem seus ninhos. O turismo associado às tartarugas, gerando emprego e renda (a partir de venda de artesanato), deu uma resposta econômica mais eficiente para as necessidades da população que a predação dos quelônios. Aos poucos, conservar as tartarugas foi se tornando parte da cultura local, mostrando que a cultura não é estática, ela muda.
Perceba que a visão de desenvolvimento sustentável do Tamar alia crescimento econômico, justiça social, natureza, ciência e tecnologia e aspectos culturais.
A vida das pessoas nessas comunidades ainda está muito longe do satisfatório se pensarmos em condições de emprego, renda, moradia e saúde. Porém, é inegável a contribuição do Tamar para as pessoas e as tartarugas, por isso é um projeto socioambiental — veja que a concepção de ambiente do projeto é aquela que engloba os seres humanos como parte da natureza.
Como a EA é uma ferramenta necessária à sustentabilidade, vamos refletir mais sobre ela. Isabel Cristina Moura de Carvalho (2001) divide a educação ambiental em duas grandes correntes: a EA comportamental e a EA popular. A EA comportamental foi criticada por nós na aula anterior. Carvalho (2001) identifica os principais termos dessa corrente: “conscientização” e “mudança de hábitos”
[…] urgência de conscientizar os diferentes estratos da população sobre os problemas ambientais que ameaçam a vida no planeta. Consequentemente, é valorizado o papel da educação como agente difusor dos conhecimentos sobre o meio ambiente e indutor da mudança dos hábitos e comportamentos considerados predatórios, em hábitos e comportamentos tidos como compatíveis com a preservação dos recursos naturais [...].
(CARVALHO, 2001, p. 46)
Será que as pessoas comiam tartarugas ou conviviam com a poluição do Tâmisa por falta de consciência? Será que as nossas decisões do dia a dia são de natureza apenas racional? Será que o problema ambiental é simples questão de vontade? O que faltava às pessoas no litoral brasileiro ou em Londres era a informação para a tomada de consciência? Pois é, “consciência”, “vontade”, “racionalidade” e “esclarecimento” são fatores psicológicos muito limitados para explicar a problemática ambiental.
A EA popular desloca-se da esfera do indivíduo para focar mais o comunitário:
[...] compreende o processo educativo como um ato político no sentido amplo, isto é, como prática social de formação de cidadania, [...] a vocação da educação é a formação de sujeitos políticos, capazes de agir criticamente na sociedade. Ob destinatário desta educação são os sujeitos históricos, inseridosnuma conjuntura sociopolítica determinada, cuja ação, sempre intrinsecamente política, resulta de um universo de valores construído social e historicamente. Nesta perspectiva, não seapaga a dimensão individual e subjetiva, mas esta é vista desde sua intercessão com a cultura e a história, ou seja, o indivíduo é sempre um ser social.
A educação ganha um aspecto político, de organização das comunidades, sempre levando em conta a história, a cultura e os fatores que geraram o problema ambiental. Nessa perspectiva, espera-se que as comunidades, em todas as suas faixas etárias, e não apenas as crianças, lutem por seu direito constitucional a um ambiente equilibrado.
As soluções, na maioria das vezes, não são fáceis e irão esbarrar em conflitos de poderpolítico ou econômico.
Vimos que a Organização das Nações Unidas coloca 17 objetivos para atingir a sustentabilidade. Perceba que esses objetivos foram traçados por países capitalistas, ou seja, as metas são tão básicas que não se trata de debate entre esquerda e direita, mas do mínimo para uma sobrevivência digna no planeta. Convidamo-lo a voltar aos vídeos do início deste tópico indicados na Midiateca e analisar esses 17 objetivos. Veja como eles integram o homem à natureza.
A partir dos 17 objetivos da ONU e da Agenda 21, você consegue construir uma ideia de sustentabilidade?
Para muitos, sustentabilidade é conciliar desenvolvimento econômico com conservação do ambiente para que as futuras gerações de humanos e as outras espécies não sejam prejudicadas por nossa maneira de produzir. O problema é que fazer isso não é simples. Deixamos no ar a questão principal: é possível continuar a crescer indefinidamente em um planeta limitado? Já ultrapassamos a capacidade de renovação de recursos da Terra, e esse esgotamento do planeta indica que a atual lógica de produção é insustentável e que todas as medidas tecnológicas em busca de energia mais limpa e materiais sustentáveis se mostram insuficientes para enfrentar o problema ambiental. A busca por lucros cada vez maiores é incompatível com a ideia de conservação do ambiente (incluindo a da nossa própria espécie).
Vídeo
Para saber mais sobre iniciativas de Sustentabilidade, assista agora ao vídeo: Análise do Caso Natura.
Encerramento
As sociedades como um todo compartilham da mesma percepção sobre o que é a natureza?
Não. A ideia de natureza é uma construção social e dependente da cultura. A visão que uma sociedade tem sobre a natureza não é estática, pois altera no decorrer do tempo sendo influenciada pelas mudanças de cultura. Logo, não se pode esperar que todas as sociedades compartilhem da mesma percepção sobre o que é natureza.
Qual é o compromisso da Educação Ambiental?
O compromisso da Educação Ambiental é com as responsabilidades coletivas, sabendo que essas responsabilidades variam, pois, determinados grupos têm maior poder político e econômico. O compromisso do educador ambiental é político, comunitário e não individualista.
Como caracterizar o termo “desenvolvimento sustentável”?
Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Sustentabilidade é conciliar o desenvolvimento econômico com conservação do ambiente para que a futuras gerações de humanos e as outras espécies não sejam prejudicadas por nossa maneira de produzir.
Resumo da Unidade
Ambiente é muito mais que natureza, pois engloba todas as inter-relações entre sociedade e natureza. Os seres humanos têm a natureza como condição de sobrevivência, porém estão em um constante processo de alterá-la. Neste, o ambiente muda, e surgem novas relações naturais e sociais. A ação desmedida do homem na natureza, amplificadapelo modo de produção capitalista, levou ao esgotamento dos recursos naturais. O desenvolvimento sustentável é tido como forma de enfrentamento dessa lógica predatória de produção, porém não tem conseguido se estabelecer, ao que tudo indica, por suas próprias contradições internas.
Nesta unidade, destacaram-se os conceitos de natureza, ambiente e sustentabilidade, fundamentais para que você seja capaz de entender a crise ambiental e suas implicações para as ações de responsabilidade ambiental de uma empresa.

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