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Todo o conteúdo deste ebook foi desenvolvido pela Descola em parceria com os professores do curso. Você já viu ou provavelmente está vendo o curso “Comunicação Não Violenta: CNV para melhores diálogos e relacionamentos”. Esperamos que você tenha gostado do conteúdo e que tenha desenvolvido competências valiosas de relacionamento. Você aprendeu sobre a natureza compassiva do ser humano e entendeu os pilares da comunicação interpessoal: empatia, autenticidade e autoconexão. Já começou a colocar em prática os quatro componentes da CNV e a transformar seus diálogos através da escuta empática. Neste ebook, falamos mais dos conceitos apresentados e relacionamos filmes e livros complementares, para que você siga aprofundando os conceitos abordados nas videoaulas e aprenda mais. Abraços, Equipe Descola Uma escola de inovação online OLÁ ALUNO ÍNDICE Juliana é formada em Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda pela FAAP. Sua experiência vai além da publicidade, passando também pela comunicação interpessoal, que abrange todos os relacionamentos de pessoas para pessoas. Desde 2013, ela trabalha como consultora de comunicação pela La Gracia Design e, desde 2016, pelo Instituto Tiê. Lá, ela ministra treinamentos de compreensão ao outro, empatia e Comunicação Não Violenta para empresas como a Coca-Cola, Natura, Shell, Klabin, Unimed, Itaú, Bradesco e outras. Mas sua maior experiência é a que adquiriu ao longo de sua própria história, aprendendo com o ambiente corporativo e até dentro de casa, com o divórcio de seus pais. Aqui, ela uniu tudo isso junto com a gente para criar um curso que possa tocar o seu coração e trazer um novo olhar para suas experiências na vida e no trabalho. Juliana Calderón Carolina Nalon Carolina, a convidada especial do nosso curso, é especialista em empatia e fundadora do Instituto Tiê. Sua experiência passa pela escuta, o diálogo, as relações interpessoais, o pensamento sistêmico e a Comunicação Não Violenta. Já passou pelo TEDxPedradoPenedo e dá workshops por todo o país. Convidada: http://dsco.la/juliana-linkedin Mais do que isso: ele é essencial para nosso desenvolvimento e para a evolução da sociedade. É ele que nos movimenta, nos faz buscar por novas soluções e desperta diferentes mentalidades que precisam ser acordadas. A Comunicação Não Violenta não veio para evitar o conflito, mas para encará-lo e nutri- lo da melhor forma possível, a fim de criar consciência a respeito da diversidade e da complexidade das relações humanas. Hoje, ela é utilizada em mais de 60 países para estabelecer acordos de paz. Sua escala, que cresce cada vez mais, está atingindo mais do que parcerias, acordos e estruturas sociais. Ela está atingindo pessoas. Mais especificamente, o coração delas. E para falar de pessoas, a gente precisava de uma professora que tivesse experiência o suficiente em tocar o coração delas: Juliana Calderón. http://dsco.la/nalon-linkedin O conflito sempre vai existir. 7 Gentileza gera gentileza. Com certeza, você já escutou ou leu essa frase em algum lugar. Se alguém chama sua atenção na rua para avisar que sua carteira caiu na calçada, essa é a palavra que vem à nossa cabeça: gentileza. A segunda é: "UAU, que pessoa incrível!". Ficamos extremamente surpresos com gestos como este. Simplesmente porque não esperamos gentileza como um reflexo natural do ser humano. Fomos educados a acreditar que a natureza humana é essencialmente ruim, e O princípio da Comunicação Não Violenta que suas atitudes negativas podem ser justificadas por esta natureza. Uma mulher é morta por feminicídio, uma nova guerra civil começa em algum canto do mundo, um adolescente faz um massacre armado em uma escola, e logo pensamos: "como o ser humano é horrível!". Pressupomos que o horror é uma característica potencial do ser humano, sua essência e natureza. Descola.org | Comunicação Não Violenta 10 Mas esquecemos que, assim como todos os outros animais, somos regidos pelas mesmas leis naturais. Os padrões repetem-se. A sociedade é como uma colônia de formigas ou uma colmeia natural. E, como já sabemos, somos tão animais quanto as abelhas, os leões, as garças e os tubarões. Da mesma forma, somos naturalmente cooperativos, compassivos e empáticos como eles. E isso não é só papo não. Já virou pesquisa há muito tempo. A neurociência conseguiu comprovar que a empatia é uma habilidade que faz parte da natureza do ser humano. Mas, então, por que algumas pessoas parecem simplesmente não ter empatia? Por que nos afastamos de nossa natureza compassiva? Ou melhor... Por que mesmo as pessoas que sobreviveram a guerras e contextos deploráveis continuam compassivas, e outras não? Para melhores diálogos e relacionamentos 11 A resposta está na nossa comunicação. Ou na falta de entendimento do que verdadeiramente significa se comunicar. Toda a nossa comunicação é, na verdade, um pedido. Às vezes, respondemos aos sentimentos que foram despertados em nós por uma situação ou pela atitude de uma pessoa específica. Mas estamos sempre respondendo às pessoas e situações por meio de pedidos. Você não lavou a louça de novo, né, Guilherme? Caramba, você não me deixa em paz, mãe! Algumas pessoas, mesmo depois de sobreviverem a contextos de guerra e sofrimento, conseguem ser mais compassivas do que outras. Isso acontece por conta da forma que elas respondem ao mundo. Elas responsabilizam-se pelo que sentem e pelo que precisam, e, por isso, sabem exatamente como pedir ajuda quando ela cabe ao outro. EU PRECISO ME SENTIR APOIADA O que ela quer dizer é: O que ele quer dizer é: EU PRECISO ME SENTIR LIVRE Descola.org | Comunicação Não Violenta 12 Aquilo que percebemos, sentimos e desejamos faz parte de uma matéria invisível, na maioria das vezes absorvida somente por nosso inconsciente . Ao não saber lidar ou expressar estes sentimentos e necessidades, acabamos reagindo às situações de maneira repetitiva, automática e, em alguns casos, violenta. Quando ganhamos consciência desta matéria invisível que permeia nossas relações e definem a forma como nos comunicamos, tornamo-nos capazes de ouvir as necessidades mais profundas do outro e de nós mesmos. Nossa comunicação torna-se fiel à nossa verdadeira natureza. No fundo, já sabemos como nos comunicar de maneira autêntica, mas fomos educados para esquecer. Fomos criados por uma sociedade cheia de padrões limitantes, bloqueios e distanciamento emocional. E é para isso que você está aqui: para se lembrar. Para melhores diálogos e relacionamentos 13 Marshall Rosenberg Em seu livro comunicação não violenta Aprendemos muitas formas de 'comunicação alienante da vida' que nos levam a falar e a nos comportar de maneiras que ferem aos outros e a nós mesmos. Descola.org | Comunicação Não Violenta 14 Ao comunicar com consciência, somos mais honestos e claros acerca de nossos sentimentos, e paramos de reagir. Essa consciência é adquirida por meio do entendimento de nossos próprios gatilhos: os comportamentos ou contextos que nos afetam. Passamos a nos comunicar com o coração. Mais do que isso: aprendemos a nos comunicar com respeito e empatia pelo outro, buscando não só o entendimento de nossas necessidades, mas também das outras pessoas. A comunicação que parte de nossos verdadeiros sentimentos, e não de reflexos distorcidos de nossas intenções e motivações, tem o poder de nos reconectar com essa natureza compassiva, que é a própria natureza humana. Descola.org | Comunicação Não Violenta 16 Para melhores diálogos e relacionamentos 17 Lembra aquela aula na época da escola, em que aprendemos a estabelecer conexões saudáveis com outras pessoas, compreender o outro, ter diálogos construtivos e discordar sem brigar? Vai, vamos deixar você pensar um pouquinho. Vasculha aí na memória, sem pressa… O CAMINHO ALEM DO ceRto e do ERRADO Descola.org| Comunicação Não Violenta 18 Sabe por que você não lembra muito bem? Porque essa aula nunca aconteceu. Na maioria das escolas por aí, ninguém aprende nada sobre relacionamento e comunicação interpessoal. Passamos anos decorando a fórmula de Bhaskara, desenhando o caminho do alimento até o intestino e entendendo o relevo do Brasil. Tudo isso para sair da escola, arrumar um emprego e ser demitido por não saber trabalhar em equipe ou colaborar dentro de projetos. E se mesmo estudando o meio ambiente o ser humano já não é lá nenhum mestre em sustentabilidade, então imagine quando estamos falando de relações. Um dos maiores desafios do ser humano são seus relacionamentos. E um de seus maiores poderes é, também, sua capacidade de se relacionar. No caminho entre o desafio e a habilidade, está a consciência que torna possível a construção de relacionamentos mais sustentáveis. Estas relações são resultado da expressão do nosso estado compassivo natural, em que nos sentimos plenos em relação às nossas questões internas individuais e gratos pelas questões internas do outro. Não aprendemos a nos relacionar. Para melhores diálogos e relacionamentos 19 Os relacionamentos que construímos em círculos mais fechados de nossas vidas - pessoal e profissional - têm uma influência transformadora na sociedade como um todo. Se um pai é capaz de falar de forma violenta com seu próprio filho, que é parte de sua família, o que ele será capaz de fazer com pessoas de outras culturas, que não se comportam da maneira que ele acredita ser a correta? A compaixão nos aproxima de quem somos sozinhos e de quem somos como um todo, abrindo portas dentro de nós para o mundo . O mundo que conhecemos e julgamos é um reflexo de nós mesmos. A maneira como nos relacionamos e nos comunicamos com as pessoas que mais importam em nossas vidas é um primeiro sinal de como anda nossa habilidade de sermos compassivos e empáticos. Descola.org | Comunicação Não Violenta 20 Nossas relações são uma expressão da nossa verdade. Se analisamos, julgamos ou controlamos, estamos reafirmando uma verdade. Se aceitamos, respeitamos e ajudamos, estamos reafirmando uma outra verdade. E o segredo não está somente em como nos sentimos ou no que pensamos, mas sim em como comunicamos tudo isso no dia a dia. A qualidade das nossas relações é definida pela qualidade da nossa comunicação. Pode reparar que aquele relacionamento meio conturbado que você tem na família ou no trabalho é, em grande parte, por conta do tipo de linguagem que você utiliza para se comunicar com aquela pessoa. A maioria das pessoas sente-se afetada dentro de um relacionamento: às vezes, por não se sentir escutada, e outras, por se sentir atacada de algum jeito. E este ataque pode vir de diversas formas. Dificilmente a gente percebe quando nossa comunicação está sendo violenta, porque não entendemos o que é realmente ser violento. Quando procuramos por um culpado, julgamos ou comparamos, também estamos nos comunicando por meio de um formato de violência. E isso nos distancia cada vez mais das pessoas sem que a gente se dê conta. Para além das ideias de certo e errado, existe um caminho. Eu me encontrarei com você lá. Rumi Precisamos de uma comunicação que não nos afaste da compaixão, mas sim que nos aproxime dela. Pois é a compaixão que nos ajudará a cultivar relacionamentos sustentáveis. Para nossa sorte, essa comunicação aí já existe, e o nome é Comunicação Não Violenta. Corre para o próximo capítulo que a gente vai te contar mais sobre ela! A Comunicação Não Violenta (ou CNV, como chamaremos ao longo deste ebook) nasceu com base em uma pesquisa contínua desenvolvida pelo psicólogo e mediador de conflitos, Marshall B. Rosenberg, após entender que a chave dos conflitos entre as pessoas era a linguagem. A língua do coração Marshall Rosenberg deu nome à Comunicação Não Violenta inspirado pela filosofia de Gandhi, que utiliza o termo "não violência" se referindo ao estado compassivo natural que nos toma quando a violência é afastada do coração. Depois de observar e pesquisar muito sobre o tema durante seu trabalho como mediador, Marshall desenvolveu a CNV, que tem como objetivo facilitar a observação e o entendimento das necessidades de duas pessoas que se comunicam. Marshall Rosenberg Descola.org | Comunicação Não Violenta 26 A CNV serve para expressar ao outro suas necessidades individuais e, também, para escutar e compreender as necessidades dele. A CNV não evita o conflito, apenas nos ajuda a lidar com ele de forma construtiva. E, por incrível que pareça, ela não requer que o outro conheça a CNV ou queira praticá-la. Por isso, não é feita em conjunto. Isso acontece porque, em sua essência, a CNV é como uma nova linguagem que fala ao coração das pessoas. Esta linguagem é compreendida por todos, já que compartilhamos da mesma natureza compassiva. A perspectiva de mundo da CNV é como a de uma girafa, com seu longo pescoço e o maior coração das espécies. Não à toa, a girafa é usada como um dos maiores símbolos da metodologia de Marshall. A CNV transforma conflitos, relações e pessoas. Por meio da CNV, podemos despertar sentimentos e reações diferentes daquelas que foram automatizadas em nós pela violência do mundo. Dessa forma, conseguimos resultados transformadores. Este método é formado por princípios bem fundamentados e por um processo delineado para proporcionar métodos práticos de comunicação. A CNV não morre na teoria sobre a natureza compassiva, a importância de relacionamentos mais sustentáveis e a violência na comunicação humana. Ela oferece ferramentas simples e fáceis de serem aplicadas. Mesmo requerendo atenção, cuidado e dedicação, a CNV é completamente acessível. Seus princípios baseiam-se na empatia, na autenticidade e na autoconexão. São eles que garantem a eficácia de seu processo, que envolve a observação sem julgamento e a identificação de nossos sentimentos e necessidades. Descola.org | Comunicação Não Violenta 28 Este processo nos permite expressar todos os nossos sentimentos, necessidades, desejos e anseios mais autênticos sem passar por cima do outro. É uma forma de compartilhar aquilo que achamos que está óbvio, mas que, na realidade, só é claro para nós porque existe dentro de nós. Com a CNV, damos clareza ao diálogo e o transformamos em um instrumento de poder, capaz de dar maior consciência às pessoas acerca de seus relacionamentos - sejam eles pessoais, profissionais ou sociais. Comunicar-se de forma não violenta tem tudo a ver com clareza, autoconhecimento, vulnerabilidade e conexão. É mais do que uma fórmula mágica de texto que coloca tudo no lugar e ilumina nossos pré-conceitos, mas um mergulho profundo em quem somos e em quem almejamos nos tornar. Para melhores diálogos e relacionamentos 29 Separamos um vídeo do próprio Marshall Rosenberg falando sobre Comunicação Não Violenta em um de seus workshops: http://dsco.la/intro-marshall Quando tudo o que precisamos é de uma resposta, o silêncio pode se tornar a violência mais cruel. Você já deve ter sentido como se o silêncio de alguém fosse uma facada no seu estômago. Mas, se é possível se sentir tão violentado pelo silêncio, afinal, o que é violência? E o que queremos dizer quando falamos de uma comunicação “não violenta”? A violência não se limita a uma agressão física, um xingamento ou um levantar da voz. É possível ser violento falando baixinho e devagar. E é possível ser violento sem falar uma palavra sequer. AS palavras podem ser mais violentas do que bombas A violência está no julgamento e no sentimento de dívida. Onde não há lugar para que a nossa compaixão se manifeste naturalmente, há violência. Por isso, quando alguém não permite que a gente doe amor, preocupação ou dedicação por nosso próprio prazer e iniciativa, nos sentimos violentados. É como se tivéssemos algumtipo de dívida com aquela pessoa. E este sentimento de dívida é uma espécie de ofensa à nossa capacidade humana de doar voluntariamente. Sempre que sustentamos essa postura, reafirmando-a através da nossa comunicação, ferimos as pessoas e a nós mesmos. A linguagem utilizada em um diálogo pode fazer com que as pessoas se sintam atacadas. Nem todos tomamos consciência disso, mas nossas necessidades são agredidas a todo momento por nossas habilidades falhas de comunicação. Você já se perguntou o quanto você gosta de ser violento? Já parou para pensar no que você ganha com isso? Quando as pessoas sentem que elas têm a obrigação de demonstrar preocupação, dedicação, apoio ou amor, elas o fazem. Mas nem sempre você está recebendo tudo o que acha que está, seja no formato de um gesto, uma palavra ou outra expressão humana. Pense em uma situação na qual você precisa que alguém faça algo, como por exemplo, escutar seus pedidos. O que você quer que essa pessoa faça? E que motivos você gostaria que esta pessoa tivesse para fazer aquilo que você pediu? Com certeza, você não pensou em culpa, medo ou obrigação. Mas é o que tem despertado nas pessoas, simplesmente por não conhecer outra forma de comunicar suas necessidades sem machucar o outro. Tudo bem, é para isso que você está aqui agora. A doação obrigatória pode vir do medo ou da culpa, mas dificilmente vem do coração. Somos mestres em nos comunicar de forma silenciosamente violenta dentro de nossas próprias casas. Repetimos esses padrões com nossos pais, nossos filhos, nossos parceiros, e reforçamos eles em nosso ambiente de trabalho, entre amigos, e até com nós mesmos. Se nossas palavras continuarem provocando destruição ao invés de transformação, chegaremos a um ponto em que não teremos mais o que reconstruir. Por isso, essa é a hora certa de agir. A Comunicação Não Violenta é isto: reconstrução. Ela está aqui como sua ferramenta pessoal de transformação e, também, autoconhecimento. É indispensável que comecemos todos a refletir sobre a maneira como estamos utilizando a comunicação dentro das relações que permeiam nossas vidas. Nossa comunicação tem devastado nossos relacionamentos. Suas palavras estão agindo como lápis ou como armas? Uma única expressão se comunica não apenas com os ouvidos, a mente e o corpo de uma pessoa, mas também com seu coração. Só que para se comunicar com compaixão, antes é preciso aprender a dar e receber com o coração. Você se lembra da última vez que alguém fez uma crítica sobre você? Provavelmente não faz muito tempo. Independentemente de quem tenha vindo essa crítica - seu chefe, amigo, pai, filha, namorado etc. -, você deve ter se sentido péssimo. E talvez não tenha reagido da maneira que gostaria. Essa sensação terrível que temos quando percebemos um erro está diretamente relacionada à nossa necessidade de aceitação e compreensão. Em contrapartida, nossa crença está enraizada no dualismo: certo e errado, culpado e inocente, punição e recompensa. A forma como enxergamos o mundo e como nos comunicamos com as pessoas é extremamente influenciada por esta ideia dual. Entre a culpa e compaixão: quem ganha? Descola.org | Comunicação Não Violenta 38 Todas essas análises de outros seres humanos são expressões trágicas de nossos próprios valores e necessidades. Estamos sempre tentando buscar quem está certo. Queremos apontar culpados. Acreditamos na vergonha, na obrigação e na punição, que nos afastam da doação natural, que caracteriza a nossa natureza compassiva. Nosso principal bloqueio de conexão é a CULPA. E não é à toa, afinal, a transformamos em um jogo em que ninguém ganha ou chega a lugar nenhum. É como um daqueles quartos fechados em que você precisa descobrir como sair, só que sem pistas. A grande problemática da ideia de culpa é que ela dá espaço para o julgamento, que é alimentado pela constante análise e interpretação que fazemos dos comportamentos e atitudes das outras pessoas. Marshall Rosenberg Para melhores diálogos e relacionamentos 39 Nossos julgamentos são apenas percepções. Ao jogar a culpa em uma pessoa, a forçamos a agir de certa maneira que julgamos correta, ignorando suas necessidades e afastando ela mesma de sua capacidade de doar - e se doar - naturalmente. Pelos olhos da CNV, não existe um lado certo e errado no diálogo. Existem apenas valores e necessidades diferentes sendo expressadas - e, na maioria das vezes, de maneira errônea. Quando nos comunicamos com base no que consideramos que está errado no comportamento do outro, somos indiretamente violentos. Nossas palavras são mais sentidas espontaneamente do que absorvidas de forma consciente, o que nos leva à enorme falha de comunicação que cerca nossos conflitos. Descola.org | Comunicação Não Violenta 40 Todos pagamos caro quando as pessoas reagem a nossos valores e necessidades não pelo desejo de se entregar de coração, mas por medo, culpa ou vergonha. Cedo ou tarde, sofreremos as consequências da diminuição da boa vontade daqueles que se submetem a nossos valores pela coerção que vem de fora ou de dentro. Marshall Rosenberg Para melhores diálogos e relacionamentos 41 Esse tipo de comunicação é uma forma de ferir aos outros e a nós mesmos. Julgamento, culpa e comparação são juízos de valor que acabam traduzindo desejos individuais como exigências e influenciando uma linguagem que bloqueia a compaixão. Como se já não bastasse isso, a culpa também cria uma barreira na autorresponsabilização de pessoas. Elas se apegam à abstração de que sempre haverá um culpado por tudo que elas sentem na vida, gerando maior dependência emocional em suas relações. Segundo Marshall, "podemos substituir uma linguagem que implique falta de escolha por outra que reconheça a possibilidade de escolha", dando abertura para que as pessoas expressem sua verdade e compaixão naturalmente. E esta linguagem é a CNV. É ela que promete evitar cenários em que o jogo da culpa fala mais alto do que a realidade, nos tornando capazes de clarear conflitos e direcionar soluções mais eficazes. Depois de estudar cenários de conflito dentro de diferentes ambientes - familiar, profissional e até em áreas de guerra -, Marshall Rosenberg deu um depoimento polêmico e muito significativo, afirmando que o ambiente corporativo é o mais violento em que ele já esteve. Pois é, mesmo depois de conhecer vítimas de guerra, a violência mais absurda que Marshall já presenciou foi dentro de um escritório. Já pensou que loucura é isso? Se pararmos para pensar bem, ele não poderia estar mais certo. Embora enfrentemos diversos conflitos em nossa vida, o ambiente no qual estamos mais propensos a encontrar desafios de comunicação interpessoal é, certamente, o profissional. A complexidade das relações no ambiente profissional Por muito tempo, escutamos que lugar de trabalho não é lugar para nossas emoções. Desenvolvemos nosso pensar e nosso agir, mas renunciamos o nosso sentir. E, com isso, nos afastamos de nossas necessidades mais importantes quando estamos diretamente focados na vida profissional. É como se nossas necessidades deixassem de existir quando entrássemos no ambiente de trabalho. E isso é inegavelmente insustentável. Além de prejudicar a saúde emocional, o desempenho e a produtividade dos colaboradores de qualquer empresa, isso também afasta as pessoas e gera conflitos desnecessários. Quando estes conflitos acontecem, três questões precisam ser respondidas: Quem está discutindo? Quem vai ser afetado? Quem vai solucionar? 1. 2. 3. Todas elas envolvem pessoas, portanto, todas possuem seu grau único de complexidade. XProblema ComplicadoProblema complexo Um dos maiores desafios das empresas é aprender a lidar com problemas complexos. É preciso entender que há uma diferença muito importante entre um problema complicado e um problema complexo. O problema complicado é aqueleque é operacional, sistemático. Pode ser um engarrafamento no trânsito, uma falta de luz, um erro na entrega de um produto etc. Já o problema complexo, é qualquer problema que envolve vidas e vontades independentes. Ele é mais do que sistemático: ele é sistêmico. E seu sistema engloba as ligações humanas e emocionais dentro de uma estrutura. Descola.org | Comunicação Não Violenta 46 Quando nossos sentimentos e necessidades estão sendo ameaçados dentro de um conflito, temos um problema complexo. Lidamos com problemas complexos como se eles fossem simplesmente complicados. Somos melhores com máquinas do que emoções, então fazemos das pessoas máquinas e fechamos os olhos para suas necessidades humanas individuais. Para quebrar este círculo vicioso e massacrante, precisamos aprender a lidar com a complexidade. E a comunicação consciente é a ferramenta ideal para isso. É aí que a CNV entra em ação, estabelecendo uma conexão humana entre as relações que nascem no mundo corporativo. Veja a seguir alguns exemplos dessas relações: Para melhores diálogos e relacionamentos 47 É importante que a gestão de uma empresa seja feita levando em consideração as necessidades individuais de seu gestor em equilíbrio com as necessidades de seus colaboradores como pessoas e profissionais. Muitas diferenças surgem no caminho, mas numa comunicação que se baseia na clareza e transparência (não apenas de opiniões, mas de sentimentos também), os conflitos tornam-se bem menos ameaçadores. Se você é gestor, pode utilizar a CNV para expressar seus sentimentos aos seus colaboradores e, é claro, principalmente, para escutá-los. Uma gestão verdadeiramente eficaz está sempre atenta às necessidades daqueles que fazem parte do propósito e dos resultados da empresa. Gestor e colaborador 47 Descola.org | Comunicação Não Violenta 48 Em meio a tanta diversidade de opiniões e interesses, a CNV tem tudo para se tornar uma metodologia ainda mais poderosa, já que ela pode manter a ordem e o alinhamento entre os colaboradores de uma empresa. Todos possuímos responsabilidades, pesos, urgências e necessidades diferentes que podem entrar no caminho de nossas relações dentro do trabalho. Como comunicar aquilo de que precisamos sem ferir o outro, de forma que ele compreenda e possa, de fato, colaborar com uma solução? A CNV é muito utilizada para aproximar ou então restaurar a relação entre colaboradores. A comunicação consciente entre as partes é fundamental para o desenvolvimento dos processos e das pessoas que formam uma empresa. Colaborador e colaborador Para melhores diálogos e relacionamentos 49 Se o seu trabalho tem contato frequente com seus consumidores, usuários ou clientes, você sabe exatamente porque a comunicação é tão importante nestas relações. Nem sempre a área de atendimento de uma empresa está realmente preparada para lidar com os problemas que aparecem pelo caminho. E isso acontece por causa da nossa dificuldade em lidar com a complexidade. A CNV pode ser utilizada em um acordo com o cliente, na hora de ajudar um usuário no processo de utilização do produto ou em qualquer outro tipo de interação. Trabalhar com pessoas não é nada fácil, mas uma comunicação eficaz pode servir de ferramenta para o entendimento e a solução de problemas (ainda que simples) do dia a dia desta relação. Colaborador e consumidor 49 Descola.org | Comunicação Não Violenta 50 A relação entre o gestor e o investidor de uma empresa é um quebra-cabeça. A negociação entre eles é intensa e requer um balanço de necessidades muito explícito, o que nem sempre acontece. Interesses e imposições entram em constante conflito nesta relação. Mas, a partir da prática da CNV, é possível encontrar um modelo sustentável de acordo entre estas duas figuras dentro das organizações. É preciso apenas que ambos estejam dispostos a escutar e expressar abertamente, dando espaço para a construção de um relacionamento melhor. Gestor e investidor Para melhores diálogos e relacionamentos 51 Reconhecer que as pessoas sentem e precisam de algo é o primeiro passo que as organizações precisam dar. É pequeno, mas muito significativo para o meio corporativo. Não significa que a empresa em si poderá ou irá fazer algo por aquela pessoa - seja ela um colaborador ou um cliente. Significa apenas que ela está escutando, que compreende e, principalmente, que se importa e fará o que puder para ajudar. Esta postura já é o princípio da transformação do ambiente de trabalho com base em uma comunicação mais consciente. Mas, como veremos nos próximos capítulos, ainda há um longo caminho pela frente, que só pode ser continuado por cada um de nós. Está pronto para começar? A Comunicação Não Violenta possui dois eixos, e o primeiro deles é a empatia. A empatia pode ser resumida na nossa habilidade socioemocional de se colocar no lugar do outro. Por isso, o eixo da empatia é o eixo da recepção do outro . Ele diz respeito a como escutamos - e compreendemos - os sentimentos e as necessidades das pessoas. E não apenas como sentimos essa empatia, mas como a demonstramos ao outro. Algumas pessoas chegam até nós com uma alta carga emocional e jogam em nossa direção expressões distorcidas de como elas se sentem e do que elas precisam de nós. O eixo da recepção do outro Descola.org | Comunicação Não Violenta 54 Muitas vezes, achamos que estamos sendo acusados de algo, tachados, atacados, mas aquela é só a forma que o outro encontrou para comunicar seus sentimentos mais profundos. Se interpretamos as atitudes do outro, nossa percepção se torna um julgamento. Se observamos o que ele faz e entendemos suas necessidades, conseguimos tirar o máximo proveito daquela relação através do olhar empático. Quando esse tipo de coisa acontece, é quase como se a pessoa falasse em uma língua diferente. E a verdade é que ela está falando mesmo. Se você quer deixar qualquer assunto confuso, posso lhe dizer como fazer: misture o que eu faço com a maneira que você reage a isso. Marshall Rosenberg Para melhores diálogos e relacionamentos 55 Esse eixo da CNV está ligado à humildade de reconhecer a ausência total de controle dentro das relações humanas. É parte da nossa aceitação de que nunca saberemos realmente como é estar no lugar do outro. Você pode se colocar no lugar do outro, mas você nunca será o outro. Se queremos começar a entender, precisamos estar abertos para escutar. Quando nos comunicamos por meio da CNV, não apenas falamos com o coração, mas escutamos com ele . E, independentemente de como a pessoa esteja tentando se comunicar, precisamos ter a capacidade de escutar, também, o que não está sendo dito. No próximo capítulo, a gente vai te ajudar com isso dando alguns conhecimentos essenciais para o desenvolvimento da sua escuta. Descola.org | Comunicação Não Violenta 56 Para melhores diálogos e relacionamentos 57 Escutar quem parece com a gente (quem tem os mesmos valores, opiniões e ambições) é fácil. Não sentimos aquela necessidade absurda de autodefesa e aceitação. Escutar sem discordância é prazeroso, porque a gente se encontra no outro. Mas escutar alguém que não concorda com a forma como pensamos, enxergamos e sentimos o mundo, é sempre um grande desafio. Revira uma parte lá dentro de nós que ainda não conhecemos por completo. No fundo, escutamos para responder, e não para compreender . Queremos reafirmar nossas crenças e necessidades, tanto para as pessoas quanto para nós mesmos, e utilizamos o diálogo como veículo para isso. É por isso que a escuta é tão importante para a empatia. Ela é um exercício e também uma manifestação do olhar empático. Para sermos mais empáticos, precisamos nos reencontrar com a essência da escuta, que vem da mais pura intenção de se conectar com o outro. Os 4 níveis de consciência da escuta A escuta é um dos aspectos mais importantes daempatia. Descola.org | Comunicação Não Violenta 58 Desenvolvida pelo escritor e professor do MIT Otto Scharmer, a Teoria U tem como propósito engajar e movimentar pessoas por meio da conexão humana. Segundo a teoria, a escuta possui 4 níveis diferentes de consciência . Vamos conhecer cada um deles? Quando a gente finge que está escutando o outro, é porque nos encontramos no primeiro nível de escuta. Ele pode se manifestar por meio de respostas automáticas ou naqueles momentos em que concordamos sem prestar atenção. A maioria das pessoas vive sintonizada neste nível por conta do piloto automático do dia a dia. Geralmente essa escuta acontece quando há desinteresse de um dos lados do diálogo ou quando achamos que já sabemos daquilo que está sendo falado. Quando abrimos a mente, entramos no segundo nível de escuta. Chamamos este nível de escuta factível, porque desligamos nosso julgamento para ouvir os fatos sem alterá-los a partir de nossa percepção pessoal. Esta escuta requer que haja concentração no que a pessoa está realmente dizendo. Devemos mostrar que estamos genuinamente abertos à perspectiva do outro. É importante que tentemos ver as coisas do ponto de vista do outro, tentando entender qual é a necessidade por trás de suas palavras e nos abrindo para as possibilidades que vão além de nossas próprias convicções Nível 1: Downloading Nível 2: Open Mind Para melhores diálogos e relacionamentos 59 Quando abrimos nosso coração, praticamos a escuta empática. Neste nível, a conexão acontece mentalmente e através do coração. É uma conexão com o lado sentimental daquele ser, em que compreendemos as emoções presentes em seu discurso. É quando há compaixão. Esta escuta requer que você se coloque no lugar do outro, entendendo e, principalmente, sentindo como ele. Ao conseguir visualizar as coisas a partir das referências do outro, as palavras dele tocam seu coração e o entendimento vai mais longe. Quando entendemos como aquela pessoa está criando seus pensamentos e nos conectamos de maneira mais profunda com ela, chegamos à escuta generativa. Para alcançar este nível, devemos abrir nossas mentes, corações e vontades. É preciso se conectar com as necessidades e os sentimentos por trás da fala. Este é o nível mais profundo de escuta. Ele permite que pratiquemos nossa empatia e também sejamos capazes de encorajar as pessoas na criação de novos pensamentos, novas ideias e novos projetos. Nível 3: Open Heart Nível 4: Open Will Ao começarmos a praticar uma escuta cada vez mais consciente, notamos com mais facilidade o efeito engrandecedor desta habilidade. Entendemos o quão longe a escuta pode nos levar em nossas relações mesmo sem pronunciarmos uma só palavra. Se você quiser saber mais sobre o poder da escuta, recomendamos o TEDx feito em San Diego por William Ury, "O Poder de Escutar": http://dsco.la/ted-william-ury Descola.org | Comunicação Não Violenta 60 Para melhores diálogos e relacionamentos 61 A citação que dá início a este capítulo já diz tudo. As palavras podem tanto nos libertar e nos mostrar um novo mundo, quanto nos aprisionar em nosso próprio universo. A escuta profunda é como uma porta. Ela não só nos liberta, mas convida o outro a entrar. Ela inspira a empatia, a compaixão e a conexão. Sem ela, não escutamos nem a nós mesmos, que dirá ao outro. Mesmo quando estamos falando de diálogos, especialmente aqueles que utilizam a CNV, é indispensável falarmos de escuta. Afinal, nem mesmo os diálogos são possíveis sem que antes escutemos o outro, seus sentimentos e suas necessidades. Aí vão três histórias sobre pessoas que foram capazes de escutar e, por meio da CNV, conseguiram reparar situações e relacionamentos. Olha só que legal: Escutar quem parece com a gente (quem tem os mesmos valores, opiniões e ambições) é fácil. Não sentimos aquela necessidade absurda de autodefesa e aceitação. Escutar sem discordância é prazeroso, porque a gente se encontra no outro. Mas escutar alguém que não concorda com a forma como pensamos, enxergamos e sentimos o mundo, é sempre um grande desafio. Revira uma parte lá dentro de nós que ainda não conhecemos por completo. No fundo, escutamos para responder, e não para compreender . Queremos reafirmar nossas crenças e necessidades, tanto para as pessoas quanto para nós mesmos, e utilizamos o diálogo como veículo para isso. É por isso que a escuta é tão importante para a empatia. Ela é um exercício e também uma manifestação do olhar empático. “Palavras são janelas, ou paredes.” Ruth Bebermeyer Descola.org | Comunicação Não Violenta 62 Na véspera de Natal, Cristina fez um post com o tema “política” em sua rede social particular, e sua mãe interpretou como sendo uma indireta para ela - o que não era o caso. Então, a mãe fez uma série de comentários com pontos de exclamação na postagem, questionando e condenando o que a filha havia postado. Cristina ficou muito irritada e pediu para que ela parasse de comentar em suas postagens - algo que a mãe fazia com frequência. As duas, então, passaram a brigar ainda mais acaloradamente pelo WhatsApp. A coisa foi piorando, até que a mãe disse que só estava “testando” a filha. Isso porque Cristina era uma estudante de Comunicação Não Violenta, mas, segundo sua mãe, no fundo, era “intolerante”. Cristina ficou ainda mais irritada, e já ia responder novamente quando se deu conta do que estava acontecendo. Elas estavam em uma espiral destrutiva. Nenhuma das duas estava em condições de oferecer empatia à outra. De repente, Cristina lembrou-se da importância da autoempatia. Parou, respirou, conectou-se com o que estava sentindo e precisando, e só então foi capaz de se conectar com o que sua mãe estaria sentindo e precisando também. Mas o fato é que ela não tinha mais energia para discutir. Ela estava desgastada, precisava de um tempo. Escreveu o seguinte para a mãe: Transformando a família "Mãe, imagino que você se sinta julgada e menosprezada por mim, por isso me ‘testa’. Fico triste, porque gostaria de ter uma relação de amizade e troca de ideias (em vez de ‘testes’ e provocações) com você, e neste momento não estamos conseguindo fazer isso. Ainda tenho muito o que aprender sobre tolerância, paciência, empatia e não violência. Por isso, estou estudando e buscando isso para minha vida cada vez mais. Quem sabe um dia eu consiga ser um ser de luz que não se irrita nunca, independente do que ouça e de quem fale. Tomara. Estou buscando. Mas algumas relações são mais complexas e demandam uma energia que nem sempre temos para despender, e a nossa, às vezes, é assim. Faz parte dessa busca saber Para melhores diálogos e relacionamentos 63 Note que ela usou pseudo-sentimentos para oferecer empatia à mãe, o que não é ideal, mas, neste caso, eles foram bem precisos. Veja a resposta da mãe de Cristina: quando é hora de parar, quando é hora de se acolher e ficar em silêncio também. Agora, estou sem energia para ser empática e tolerante com você e preciso desse silêncio para ficar bem de novo... Vamos dar um tempinho e ter uma ceia de Natal amorosa e pacífica com a família? Te amo." “Sim. É verdade, eu me sinto desvalorizada por você e pelo seu irmão. Não quero culpar ninguém por isso, tampouco quero culpar a mim. Eu amo você, é minha filha, e, por isso, por mais que eu tente, ficar em silêncio não é fácil. Todos os dias faço esse exercício na mente, mas aí surge alguma coisa que queria dividir com vocês e o meu filtro falha.” Quando as duas saíram do paradigma da culpa e passaram para o paradigma da confiança, elas foram capazes de frear aquela espiral destrutiva - garantindo a paz e a harmonia durante a ceia de Natal. No fim das contas, a qualidade da relação delas era muito mais importante do que o desentendimento relacionado à postagem em si. E tudo isso foi possível porque elas conectaram com seus sentimentos e necessidades profundas. Descola.org| Comunicação Não Violenta 64 Paula e Júlia tinham acabado de terminar um relacionamento amoroso conturbado, estressante; repleto de ciúmes, ofensas, brigas e términos repentinos. Estavam separadas há três meses e, embora não considerassem retomar o relacionamento, não conseguiam parar de pensar uma na outra ou de falar uma da outra. Paula desabafou com um amigo sobre como havia se sentido durante o relacionamento com Júlia e do quanto a amava apesar de tudo, mas jamais havia dito tudo aquilo diretamente para Júlia. Jamais havia falado de seus sentimentos. Então, já que Paula não conseguia tirar isso da cabeça, seu amigo a sugeriu que ela conversasse com Júlia mais uma vez, sem nenhuma intenção além de esvaziar tudo aquilo, de contar a ela tudo o que tinha guardado em seu peito por tanto tempo. Transformando os relacionamentos Para melhores diálogos e relacionamentos 65 Depois de criar coragem, Paula marcou um café com a ex, explicou o objetivo da conversa e se abriu, expressou todos aqueles sentimentos a ela de forma autêntica, pela primeira vez. A resposta de Júlia foi: “Espero que você entenda que eu não tenho nada para te dizer agora”. Mas tudo bem, porque Paula estava aliviada e orgulhosa por ter se expressado e por Júlia finalmente saber o que tinha se passado dentro dela durante todo o tempo em que estiveram juntas. Para sua surpresa, no dia seguinte, Júlia ligou com um convite para o cinema. Contrariando todas as previsões, desde então, elas nunca mais se separaram. Foram morar juntas, casaram-se e são daqueles casais que inspiram qualquer um pelo amor, parceria e cumplicidade. 65 Descola.org | Comunicação Não Violenta 66 Um senhor, internado no hospital, estava proibido pelo médico de se levantar da cama. Mas como estava há muito tempo na mesma posição, passou a insistir para a enfermeira que o deixasse levantar. A enfermeira respondeu várias vezes que ela sentia muito, mas que não era possível, porque aquelas eram ordens do médico. O senhor começou a ficar cada vez mais incomodado e irritado, gritando que queria se levantar. A enfermeira já não sabia o que fazer para acalmá-lo, quando disse: Transformando o trabalho “Eu só posso imaginar o quanto está difícil para o senhor ficar nesta mesma posição por tanto tempo. Depois de tantas horas com as costas encostadas, a pele começa a formar escaras que machucam muito, não é? Eu morro de vontade de deixar o senhor levantar, mas o médico me proibiu, porque a sua condição pode piorar muito, e aí você pode ter que ficar ainda mais tempo preso nessa cama. Para melhores diálogos e relacionamentos 67 Reconhecer o que o outro está sentindo, enxergar suas necessidades e demonstrar que nos importamos faz toda a diferença. Quando esta profissional se abriu sobre como ela se sentia a respeito da situação, todo o contexto tornou- se mais compreensível e aceitável para o senhor. A conexão entre eles é o prenúncio de um relacionamento profissional que, com sua profundidade, pode perdurar e levar a resultados surpreendentes, trazendo benefícios profissionais e pessoais. Então, vamos fazer assim? Para o senhor conseguir aguentar mais um pouco, eu ajudo o senhor a se virar de lado na cama e peço para outra enfermeira trazer um pano com água pra passar nas suas costas, para aliviar a dor. Depois, eu prometo que converso com o médico de novo para ver quando o senhor vai poder se levantar. A gente pode fazer assim por enquanto?” Descola.org | Comunicação Não Violenta 68 Isso aqui é apenas a pontinha do iceberg. Os diálogos podem ir desde a sala de casa até as negociações entre diplomatas de continentes diferentes. O diálogo e a escuta são ferramentas de transformação que não possuem fronteiras. Podemos aplicar a CNV em contextos diversos para enriquecer nossa comunicação interpessoal, evitar conflitos e restaurar nossos relacionamentos. Quando expressamos nossa compaixão e nossa verdade, despertamos o potencial máximo de nossas relações. Descola.org | Comunicação Não Violenta 70 Para melhores diálogos e relacionamentos 71 O que nos impede de ver no outro uma parte de nós mesmos e ter empatia na hora de dialogar com pessoas diferentes são as nossas interpretações . Ou melhor, acreditar que nossas interpretações são a verdade. Acreditamos naquilo que pensamos sobre as pessoas, nos rótulos que damos a elas e nas caixinhas nas quais as colocamos. Mas, quando colocamos alguém em uma caixa, estamos desconsiderando a profundidade de quem ele é. Os pré-julgamentos que vêm com nossas interpretações fazem com que todas as nossas ações em relação às pessoas sejam baseadas no que achamos que já sabemos sobre elas. Escutar quem parece com a gente (quem tem os mesmos valores, opiniões e ambições) é fácil. Não sentimos aquela necessidade absurda de autodefesa e aceitação. Escutar sem discordância é prazeroso, porque a gente se encontra no outro. Mas escutar alguém que não concorda com a forma como pensamos, enxergamos e sentimos o mundo, é sempre um grande desafio. Revira uma parte lá dentro de nós que ainda não conhecemos por completo. No fundo, escutamos para responder, e não para compreender . Queremos reafirmar nossas crenças e necessidades, tanto para as pessoas quanto para nós mesmos, e utilizamos o diálogo como veículo para isso. É por isso que a escuta é tão importante para a empatia. Ela é um exercício e também uma manifestação do olhar empático. A vida em meio à diversidade Descola.org | Comunicação Não Violenta 72 Interpretamos e julgamos as pessoas por gênero, profissão, posicionamento político e visão de mundo. Mulheres são sensíveis, advogados são sérios e pessoas que meditam são "paz e amor". Por muito tempo, nos convencemos de que já conhecemos as pessoas e sabemos tudo o que precisamos saber sobre elas, e ainda estamos no processo de reconstrução desta mentalidade. Um dos episódios que representam muito bem essa questão é o depoimento dado pela atriz e comediante Tatá Werneck no Programa Altas Horas: "Eu sempre fui muito criticada desde nova por ser uma mulher falando palavrão. Quer dizer, um homem poderia falar palavrão - ainda é muito engraçado quando, em uma roda, ele fala um palavrão, conta uma história, faz um cuecão -, ele faz qualquer coisa. E uma mulher fazendo isso é sempre julgada. Minha mãe sempre disse, quando eu era criança: 'mulheres espontâneas e extrovertidas tendem a ser mal interpretadas'. E eu sempre falei: 'então, que essas pessoas lidem com as suas questões, porque eu sou mulher e sou assim'. (...) As pessoas precisam colocar em nichos, né. Você não pode ser várias coisas ao mesmo tempo. E somos múltiplos. Somos todos diferentes. Não existe ninguém igual a ninguém. Então, eu sou uma mulher e sou assim. Você é uma mulher e é assim. E somos legítimos do jeito que somos." Para melhores diálogos e relacionamentos 73 Diferente do que a maioria das pessoas entende por "empatia", a prática empática não tem a ver com enxergar a todos como iguais e tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. A empatia está ligada ao entendimento de que nós não somos o outro e as pessoas não são todas iguais. Para cada relação, é preciso um olhar, uma escuta e uma abordagem diferente. A empatia cria vida em meio à diversidade. Os vieses que regem a nossa sociedade são uma verdadeira barreira para as nossas conexões. Todos nós somos muito mais complexos do que os rótulos que hipoteticamente deveriam nos definir. Somos maiores do que um gênero ou uma profissão. Somos maiores do que nossos hobbies e os lugares em que vivemos. E quando nos lembramos disso, os bloqueios começam a ser quebrados. Desbloquear nosso verdadeiro potencial empático é indispensável para a conexão humana e um primeiro passo ideal para o segundo pilar mais importante da CNV. Quer descobrir qual é? Vamos para a próxima página! Descola.org | ComunicaçãoNão Violenta 74 Para melhores diálogos e relacionamentos 75 Até aqui, falamos bastante da CNV pelo olhar da empatia, que foca na nossa capacidade de compreender o outro. Agora, vamos falar um pouco sobre o seu lado da história. O segundo eixo da Comunicação Não Violenta é a autenticidade. É o eixo da nossa expressão mais verdadeira . Ele diz respeito à nossa capacidade de expressar nossos sentimentos e necessidades de forma construtiva, para que o outro possa nos escutar e nos compreender de verdade. Os dois eixos da CNV conectam as duas vias da comunicação. Empatia é quando escutamos, e autenticidade é quando falamos. Escutar quem parece com a gente (quem tem os mesmos valores, opiniões e ambições) é fácil. Não sentimos aquela necessidade absurda de autodefesa e aceitação. Escutar sem discordância é prazeroso, porque a gente se encontra no outro. Mas escutar alguém que não concorda com a forma como pensamos, enxergamos e sentimos o mundo, é sempre um grande desafio. Revira uma parte lá dentro de nós que ainda não conhecemos por completo. No fundo, escutamos para responder, e não para compreender . Queremos reafirmar nossas crenças e necessidades, tanto para as pessoas quanto para nós mesmos, e utilizamos o diálogo como veículo para isso. É por isso que a escuta é tão importante para a empatia. Ela é um exercício e também uma manifestação do olhar empático. O eixo da nossa expressão Descola.org | Comunicação Não Violenta 76 O quão fiel você tem sido a si mesmo em suas atitudes? Autenticidade é a prática diária de abandonar quem nós pensamos que devemos ser e abraçar quem somos. Estamos sendo constantemente cobrados pela nossa autenticidade. Precisamos escolher ser autênticos ou não em diversos contextos: quando estamos decidindo o que vamos vestir, quando precisamos fazer um pedido pessoal para alguém ou mesmo quando estamos lidando com um cliente. Mas nem sempre escolhemos abraçar quem somos. Brené Brown Para melhores diálogos e relacionamentos 77 Não é à toa que essa realidade acaba refletindo na nossa comunicação. Geralmente, quando tentamos nos expressar por meio de uma linguagem inconsciente, geramos uma reação defensiva no outro, porque utilizamos as palavras como barreiras, e não como pontes. Às vezes, exageramos na sinceridade achando que estamos sendo autênticos, mas acabamos deixando o egocentrismo falar mais alto e comunicamos de forma violenta o que poderia ter sido expressado com mais empatia. Descola.org | Comunicação Não Violenta 78 Esse eixo da CNV é um exercício de compaixão tão intenso quanto a empatia. Não está ligado apenas a como o outro nos compreende, mas também a como compreendemos a nós mesmos. Aprendendo a identificar nossos sentimentos e necessidades, nos tornamos mais empáticos com os sentimentos e necessidades do outro. É tudo parte do que chamamos de caminhada autêntica, em que vamos atrás da nossa verdadeira natureza compassiva. Para melhores diálogos e relacionamentos 79 Esta caminhada é dada passo a passo, e estamos aqui para te ajudar em cada um deles. No próximo capítulo, você vai entender melhor no que consiste cada um dos passos da CNV. Descola.org | Comunicação Não Violenta 80 Para melhores diálogos e relacionamentos 81 Existem quatro componentes essenciais para o modelo da Comunicação Não Violenta, que garantem um diálogo baseado na empatia e na autenticidade. São conhecidos como os 4 passos da CNV: A sua caminhada autêntica 1.Observações 3.Necessidades 2.Sentimentos 4.Pedidos Em cada um deles, estaremos construindo um pedaço da mensagem que comunicará os seus sentimentos e necessidades para o outro, de forma que vocês possam buscar uma solução coerente juntos. Então, é muito importante ter um cuidado especial para entender e trabalhar cada um dos passos. Pensando nisso, vamos te guiar por cada um deles: Descola.org | Comunicação Não Violenta 82 1. Observações As observações são tudo aquilo que pode ser filmado com uma câmera, é o que aconteceu exatamente na situação. Quando fazemos observações, geralmente as confundimos com nossas interpretações pessoais dos cenários. E esse é o ponto mais importante deste componente: a diferenciação entre observação e interpretação. Por exemplo, imagine que, dentro de um conflito, você diz: "eu estou sendo traída". Isso pode ser realmente o que você sente, e o contexto pode representar uma espécie de traição para você. Mas o que é traição para você não é o mesmo para a pessoa por quem você se sente traída. Talvez você se sinta traída porque seu colega de trabalho não esboçou animação com seu projeto dentro da empresa, mas aquilo não é traição para ele. Na perspectiva dele, ele jamais te traiu. A traição é apenas a sua interpretação, enquanto a observação seria, na verdade, que ele não se demonstrou empolgado com a sua conquista pessoal. O primeiro componente da CNV questiona: O que aconteceu exatamente? Quais são os fatos que têm relação com essa situação? • • Observações são os fatos, as ações, o que houve. Elas não carregam julgamento, diagnóstico ou interpretação alguma. É a descrição factual das ações. Para melhores diálogos e relacionamentos 83 2. Sentimentos Se lá no primeiro componente já começamos atribuindo culpa a outra pessoa, nossa interpretação nos leva por caminhos ainda mais tortuosos. A situação mal interpretada desperta sentimentos ruins e, por acreditar que a outra pessoa é a culpada, direcionamos estes sentimentos a ela. Nos convencemos de que aquele sentimento foi causado pela pessoa, ou seja, projetamos de fora para dentro. O ponto mais importante deste componente é a diferenciação entre pseudo-sentimentos e sentimentos verdadeiros. Os pseudo-sentimentos são esses que carregam julgamento e culpa. Quando nos responsabilizamos por nossos sentimentos e entendemos que não somos vítimas das pessoas, adquirimos maior consciência de nossos sentimentos e conseguimos nos expressar com autenticidade. O segundo componente da CNV questiona: O que você sentiu ou como está se sentindo diante dessa situação? • No capítulo 14, explicamos com mais profundidade este segundo componente e demos exemplos de sentimentos que podem ser usados no discurso da CNV. Dá um pulo lá para ver! Descola.org | Comunicação Não Violenta 84 3. NECESSIDADES Na maioria das vezes, as pessoas não conseguem escutar nossas necessidades. E isso acontece porque, ao responsabilizar e culpar o outro pelo contexto do conflito e por nossos sentimentos, ele se sente atacado por nossa comunicação. Existem muitas estratégias possíveis para atender a uma mesma necessidade. Mas é preciso avaliar quais sentimentos essas estratégias vão despertar, se elas vão estar mesmo atendendo à necessidade ou se vão acabar criando um problema para uma outra necessidade. O terceiro componente da CNV questiona: Do que você precisa? Quais necessidades suas não foram atendidas nessa situação? • • No capítulo 15, explicamos com mais profundidade este terceiro componente e fizemos uma lista de necessidades humanas que podem ser atendidas por meio da CNV. Para melhores diálogos e relacionamentos 85 4. PEDIDOS Não sabemos como pedir. Em alguns casos, utilizamos a CNV para escutar as necessidades de outra pessoa, mas, na maioria deles, a utilizamos para expressar as nossas necessidades. Apostamos na comunicação para mostrar ao outro no que ele está “errando” e pedir por algo quando ele não compreende o que pode fazer com base somente em nossos sentimentos. A questão é: Parece fácil, mas não, não para por aí. O pedido precisa ser mais específico ainda. Afinal, se você quer que alguém te ame, o que as pessoas precisam fazer para que você se sinta amado? Quais são as ações que você espera de uma pessoa que te ama? Seja claro, detalhista. Uma das respostas possíveis seria: Temos, então, um pedido que pode ser entendido e atendido facilmente. Mase se a resposta dessa pessoa tivesse sido essa daqui? Os pedidos são a cereja do bolo da CNV. É aquilo que a pessoa poderia fazer para te ajudar a atender sua necessidade. E ele deve ser um pedido específico de ação, claro e prático. Vamos usar como exemplo o seguinte pedido: "Eu quero que você me ame." “Eu gostaria que você pegasse na minha mão mais vezes e estivesse comigo nos momentos difíceis.” “Eu gostaria que você adivinhasse o que eu quero.” Descola.org | Comunicação Não Violenta 86 Esta foi a necessidade expressada por uma das pacientes de Marshall Rosenberg, sobre a qual ele disserta em seu livro. Vemos claramente que a necessidade verbalizada neste pedido não é uma necessidade que pode ser atendida. De fato, é o que faria com que essa pessoa se sentisse amada. Mas no caso, um pedido não vai solucionar a questão, e sim sua capacidade de resolver essa carência inconcebível. Este quarto componente é o que mais precisamos, justamente porque é o que mais erramos na hora de nos comunicar. O ponto mais importante dele é a diferenciação entre pedidos e exigências. Mesmo quando estamos pedindo por algo, devemos considerar os sentimentos do outro e buscar por estratégias que estejam alinhadas com as necessidades de ambos O quarto componente da CNV questiona: Que pedido você faria a essa pessoa? Dá para tornar esse pedido mais específico? Há outras estratégias possíveis? • • • Para melhores diálogos e relacionamentos 87 Os quatro passos ou componentes da CNV servem para que você possa compreender melhor o que está acontecendo com você e com a pessoa, além de te capacitar para demonstrar empatia e se expressar de forma autêntica. Nos próximos dois capítulos, aprofundamos melhor os dois componentes principais: sentimentos e necessidades humanas, antes de partir para a prática da Comunicação Não Violenta. Descola.org | Comunicação Não Violenta 88 Para melhores diálogos e relacionamentos 89 Você já tentou explicar para alguém como você estava se sentindo no meio de uma discussão e percebeu que a pessoa ficou ainda mais alterada depois que escutou seus sentimentos? Quando isso aconteceu, você provavelmente se sentiu extremamente frustrado. E pode ter passado pela sua cabeça que aquela atitude era um sinal de indiferença da pessoa. Na realidade, o que aconteceu foi que não houve comunicação verdadeira. Escutar quem parece com a gente (quem tem os mesmos valores, opiniões e ambições) é fácil. Não sentimos aquela necessidade absurda de autodefesa e aceitação. Escutar sem discordância é prazeroso, porque a gente se encontra no outro. Mas escutar alguém que não concorda com a forma como pensamos, enxergamos e sentimos o mundo, é sempre um grande desafio. Revira uma parte lá dentro de nós que ainda não conhecemos por completo. No fundo, escutamos para responder, e não para compreender . Queremos reafirmar nossas crenças e necessidades, tanto para as pessoas quanto para nós mesmos, e utilizamos o diálogo como veículo para isso. É por isso que a escuta é tão importante para a empatia. Ela é um exercício e também uma manifestação do olhar empático. O segundo componente da Comunicação Não Violenta Espera aí, mas eu coloquei todos os meus sentimentos para fora, eu me abri o máximo que pude... Como assim eu não me comuniquei? Descola.org | Comunicação Não Violenta 90 Temos tanta dificuldade de comunicar nossos sentimentos quanto temos de compreendê-los. Como diz Marshall, "somos ensinados a estar direcionados aos outros, em vez de em contato com nós mesmos". Estamos sempre preocupados com o que é certo dizer e fazer. Todo aquele jogo da culpa tem uma influência enorme na maneira como enxergamos o contexto das situações, especialmente dos conflitos. Por exemplo, quando uma determinada situação desperta em nós algum sentimento ruim, acabamos projetando este sentimento na pessoa que está relacionada ao contexto. Acreditamos erroneamente que aquela pessoa nos causou aquele sentimento. Na CNV, entendemos que nenhuma pessoa pode causar um sentimento em outra. Afinal, isso implicaria em culpa e juízo de valor, que são duas coisas que não têm espaço na comunicação compassiva. Para melhores diálogos e relacionamentos 91 Ao atribuirmos um sentimento a uma pessoa, utilizamos um glossário de sentimentos que carrega consigo o peso da culpa. Para entender melhor o que a gente quer dizer, dá uma olhada nessas duas listas de palavras Cansado Receoso Magoado Desamparado Manipulado Desrespeitado Injustiçado Menosprezado Você consegue perceber a diferença entre os sentimentos listados nas duas colunas? Na primeira coluna (esquerda), temos sentimentos que não dependem da ação de uma pessoa. Enquanto isso, na segunda coluna (direita) temos outros quatro sentimentos que dependem da ação de uma pessoa. Quando dizemos que estamos nos sentindo manipulados, acusamos alguém de estar nos manipulando por algo. Quando dizemos que estamos nos sentindo desrespeitados, acusamos alguém de estar faltando com respeito em relação a nós. Quando dizemos que estamos nos sentindo injustiçados, acusamos alguém de estar cometendo uma injustiça conosco. Quando dizemos que estamos nos sentindo menosprezados, acusamos alguém de estar nos tratando com desprezo. • • • • Descola.org | Comunicação Não Violenta 92 As pessoas sentem-se atacadas por nossos sentimentos, porque ainda não sabemos como nos expressar sem jogar com a culpa e o medo. Em sua essência, palavras como "manipulado", "desrespeitado", "injustiçado" e "menosprezado", não são sentimentos autênticos. São julgamentos, juízos de valor e acusações falhas. Chamamos de pseudo-sentimentos. De acordo com a sua perspectiva, pode até parecer que aquela pessoa está, de fato, te desrespeitando. Mas essa é uma das muitas percepções que podem ser consideradas. Não precisa haver um culpado para que seus sentimentos sejam escutados e atendidos. Pelo contrário, quando nos expressamos de maneira não violenta, nos tornamos muito mais propensos a sermos compreendidos pelo outro. Se nossa expressão é entendida como crítica ou acusação em vez de um convite para a mudança, ferimos e desencorajamos o outro de se conectar com nossos sentimentos e necessidades emocionais. Automaticamente, ele parte para a autodefesa de seus próprios sentimentos e necessidades. OLHA AQUI MAIS ALGUNS PSEUDO-SENTIMENTOS: Abandonado Abusado Atacado Traído Intimidado Diminuído Manipulado Rejeitado Pressionado Provocado Não-apreciado Não-ouvido Não-visto Usado Desrespeitado Menosprezado Excluído Violentado Invadido Sentimentos autênticos não julgam ou acusam. Se utilizamos este repertório de sentimentos dentro de um diálogo, estamos acusando - de certa forma, indiretamente - a pessoa com quem falamos. É daí que vêm todas aquelas reações agressivas que recebemos quando tentamos expor nossos sentimentos. Para melhores diálogos e relacionamentos 93 Agora, talvez você esteja pensando: "Mas então como eu faço isso? Como eu expresso meus sentimentos sem ferir o outro?" Marshall Rosenberg criou uma lista extensa de palavras que podem ser usadas para a expressão autêntica de seus sentimentos em dois cenários: quando suas necessidades ESTÃO sendo atendidas e quando NÃO ESTÃO sendo atendidas. Preparamos um material bem legal com estas listas para você utilizar como apoio agora no início de sua jornada. Clique no link para acessar o material de apoio: http://dsco.la/sentimentos-cnv Descola.org | Comunicação Não Violenta 94 Quanto melhor conseguirmos identificar e nomear nossas emoções, melhor será nossa conexão com o outro. Por isso, precisamos enriquecer o vocabulário dos nossos sentimentos. Pense em uma situação desagradável pela qual você passou nos últimos dias e escolha um sentimento da lista para descrever como você se sentiu. Com qual destas três opções sua resposta está mais parecida?1 . "Sinto que estou apreensivo" 2 . "Estou me sentindo apreensivo" 3 . "Eu estou apreensivo" Acredite ou não, às vezes usamos a palavra "sentir" sem falar de nossos sentimentos. Quando acompanhada de termos como "que", essa palavra acaba expressando uma ideia do que acreditamos estar sentindo, que não condiz com nosso sentimento autêntico SENTIMENTOS ≠ PENSAMENTOS Sempre que você se pegar dizendo "eu sinto que...", já pode acionar o alerta vermelho e ter certeza de que seu cérebro entrou na frente dos seus sentimentos. Respire, conecte-se com você mesmo e tente buscar a verdadeira resposta para o que você está sentindo. 1. SInto que estou... 2. Estou me sentindo... Quando nos expressamos desta forma, comunicamos nossos sentimentos com muito mais clareza. Se essa foi sua primeira resposta, você compreendeu como funciona essa segunda possibilidade da CNV. Pode parecer que a frase ficou meio direta e errada, mas não. Ela também está correta. Você não precisa prolongar sua expressão com o “estou me sentindo...”, contanto que seus sentimentos não estejam mascarados por um “sinto que...”. O importante é que você exponha seu sentimento de forma autêntica, identificando e comunicando de maneira clara. 3. Eu estou... Descola.org | Comunicação Não Violenta 98 Vamos ver alguns exemplos de como podemos modificar nossa comunicação com os recursos aprendidos até aqui: Podemos substituir esta frase por: "Estou me sentindo rejeitado, porque você não fez o que te pedi ontem." “Quando você não faz o que eu te peço, me sinto desapontado, porque espero que você demonstre mais apoio.” Há duas diferenças principais entre estas duas frases. Uma delas é o uso correto do vocabulário dos sentimentos, em que substituímos "rejeitado" por "desapontado". Apesar destas palavras não serem exatamente sinônimos, sua substituição continua sendo válida. A ideia aqui é substituir o juízo de valor por um sentimento que corresponda à emoção vivida sem acusar o outro. Para melhores diálogos e relacionamentos 99 A segunda diferença principal entre as duas frases é a responsabilização dos sentimentos . Na primeira frase, temos um narrador que está atribuindo a rejeição à atitude de uma pessoa, responsabilizando a mesma por seu sentimento. Na segunda, temos um narrador que tem consciência de seus sentimentos e se autorresponsabiliza por eles. Esse cara sabe que seu sentimento ("desapontado") não foi causado pela pessoa que não atendeu ao seu pedido, e sim pela sua expectativa de que ela o atendesse ("porque espero que você..."). A autorresponsabilização dos sentimentos é poderosíssima, e não só para a sua comunicação, como também para o seu autoconhecimento e empoderamento pessoal. Ela é um dos aprendizados mais importantes da expressão autêntica encorajada pela CNV. Nos próximos capítulos, vamos analisar juntos alguns exemplos mais práticos da aplicação da linguagem da CNV. Aguenta aí! Não somos muito bons em entender e comunicar nossas necessidades. Muitas vezes, conseguimos apontar exatamente o que nos incomoda, mas não somos capazes de verbalizar aquilo que precisávamos que fosse feito. Somos melhores analisando o erro do outro do que expressando claramente nossas necessidades . Quando elas não são aceitas, responsabilizamos o outro e evidenciamos o que percebemos como suas falhas. Um bom exemplo que Marshall dá em seu livro é o da esposa que desabafa para o marido: “Você ama mais o trabalho do que a mim”. À primeira vista, sua declaração pode ser compreendida pelo marido como uma crítica, desencadeando uma discussão. Mas o que ela realmente quer dizer com sua afirmação é que sua necessidade de contato íntimo não está sendo atendida. O terceiro componente da Comunicação Não Violenta Descola.org | Comunicação Não Violenta 102 Todos nós fazemos isso. Se você se lembrar da última vez em que se abriu da mesma forma para alguém próximo, vai se dar conta de que cometeu o mesmo deslize em sua comunicação. Acreditava estar sendo claro, mas não se fez claro o suficiente para o entendimento do outro. Isso acontece principalmente porque não conhecemos nossas realidades. Não fomos treinados para vê-las com tal frequência e profundidade. Temos tão pouca consciência de nossas necessidades que a única forma que encontramos de expressá-las é indiretamente. Comunicamos nossas necessidades através de interpretações, avaliações e julgamentos, o que faz com que as pessoas ouçam nossos desabafos apenas como críticas. Dificilmente elas conseguem escutar nossas necessidades quando se sentem atacadas por nossa comunicação. Na maioria das vezes, elas nem percebem que há uma necessidade pedindo para ser ouvida ali. Em outras, elas até captam a necessidade, mas acabam atendendo-a só para fugir de uma situação desagradável. Ou conseguimos o que queremos forçando o outro a agir de uma determinada maneira sem uma motivação sincera, ou corremos o risco de não conseguir o que precisávamos. Para melhores diálogos e relacionamentos 103 Para que as pessoas reajam com compaixão, escutando nossas necessidades e buscando por um meio de atendê-las, precisamos conectar nossos sentimentos às necessidades. Pense em algo que uma pessoa fez e que te incomodou. Que sentimento você teve naquele exato momento? Por que você se sentiu daquela forma? Que necessidade sua não estava sendo atendida naquela situação? Do que você precisava? “Eu me sinto assim porque eu…” Segundo Marshall Rosenberg, as necessidades humanas são universais. Todos nós temos necessidades em comum, que vão desde a justiça até o amor, passando por diferentes aspectos da vida. Descola.org | Comunicação Não Violenta 104 No fundo, é como se a comunicação interpessoal se resumisse em apenas duas frases: POR FAVOR e OBRIGADA. Quando uma pessoa grita com você ou reage a algo que você diz/faz, ela está dizendo por favor. Quando uma pessoa é gentil e procura atender suas necessidades, ela está dizendo obrigada. Imagine um mundo em que possamos escutar apenas por favor e obrigada quando as pessoas são gentis ou intolerantes. Em um mundo como esse, seria bem mais fácil entender que há sempre uma necessidade por trás de toda iniciativa de comunicação. Mais do que isso: seria possível enxergar com mais empatia aqueles que parecem estar contra nós, mas que, na verdade, estão apenas perdidos. Fizemos uma lista com todas as necessidades mencionadas por Marshall em seu livro, “Comunicação Não Violenta”. Clica aqui para acessar o material de apoio: http://dsco.la/necessidades-cnv Para melhores diálogos e relacionamentos 105 Tome como exemplo esta primeira frase: A primeira conclusão que podemos tirar desta afirmação é que esta pessoa está dizendo “por favor”. É como se ela dissesse “Por favor, me ajude! Eu tenho uma necessidade.”. Se ouvimos isso de alguém e conseguimos identificar esta primeira mensagem, já estamos no caminho da CNV. “Eu odeio quando você grita comigo!” O mais importante no início é entender que ali há uma necessidade e que a acusação feita não é uma crítica pela qual devemos nos sentir afetados, apenas uma versão meio deformada da mensagem real. Então, qual é a necessidade presente nesta frase? Tudo vai depender do contexto, da pessoa, das pessoas. Mas, em um primeiro momento, mesmo que você esteja dentro da situação, é possível que você também não consiga identificar a necessidade. Descola.org | Comunicação Não Violenta 106 Um jeito de testar suas hipóteses é fazendo perguntas. Aqui vai um exemplo de diálogo: "Você está magoado porque eu estou gritando?" “Você está nervoso, porque você gostaria que eu fosse mais calmo?” “Então, deixa eu ver se eu entendi… Quando eu grito, você se sente nervoso, porque gostaria que eu te tratasse com mais respeito?” “Não! Eu estou nervoso porque você sempre grita comigo!” “Eu gostaria que você fosse mais educado! Você sempre me desrespeita!”“Sim! Eu só preciso que você me respeite.” Pessoa A Pessoa A Pessoa A Pessoa B Pessoa B Pessoa B E aí está a necessidade da pessoa: respeito. Ao longo do diálogo, vemos claramente que se trata de uma discussão entre uma pessoa que não conhece as ferramentas da CNV e uma outra pessoa que conhece pelo menos o básico da teoria. Desde o início, B utiliza uma linguagem violenta, que entrega suas necessidades indiretamente, mas A não se intimida por esta linguagem ou a leva para o pessoal. Pelo contrário, A está consciente de que aquela é só uma versão do que B está tentando dizer e procura ajudá-lo a expressar sua necessidade. Quanto mais você investigar as suas próprias necessidades, mais o seu olhar acerca do outro vai se transformar. Assim como no diálogo que vimos aqui, você não vai mais escutar e se conectar com a ofensa. Você vai escutar as necessidades das pessoas. Para melhores diálogos e relacionamentos 107 Aprender sobre as necessidades humanas é aprender sobre a individualidade do ser humano e seu direito de escolha. Quando tiramos de uma pessoa a possibilidade de escolher fazer algo simplesmente por seu prazer, e não pela obrigação de servir à necessidade do outro, estamos machucando essa pessoa. Estamos violando sua própria natureza. Ao alcançar um entendimento mais pleno das necessidades humanas e de como elas podem se manifestar indiretamente por meio da comunicação, afiamos nossa escuta. E, como consequência, também paramos de pensar em soluções com base no controle do outro. Começamos a pensar a partir do desejo de cooperar com o outro e encontrar uma resposta conjunta para o conflito. Lembra que a gente falou que iríamos analisar juntos alguns exemplos mais práticos da aplicação da linguagem da CNV? Chegou a hora! Corre para o próximo! O ser humano adora fazer bem para o outro, mas só quando ele tem escolha. Descola.org | Comunicação Não Violenta 108 Para melhores diálogos e relacionamentos 109 A Comunicação Não Violenta utiliza algumas fórmulas para sua aplicação prática no dia a dia, que possuem funções diferentes. Elas podem ser aplicadas para: E como você pode ver, uma das principais aplicações da fórmula pode ser feita durante o quarto passo da CNV na expressão de nossos pedidos. Vamos entender melhor os cenários e as técnicas que podem ser utilizadas em cada um deles? Como levar o conhecimento da cabeça à ponta da língua Expressar suas necessidades Pedir o que você precisa Escutar o outro e identificar a necessidade dele • • • Descola.org | Comunicação Não Violenta 110 Imagine que você está em meio a um desentendimento ou um conflito com seu amigo ou o gerente do seu trabalho. Alguma situação te deixou bem mal, desconfortável, e você quer solucionar o atrito o quanto antes. Para utilizar a CNV neste caso, você vai precisar aplicar três componentes: observação, sentimento e necessidade. Cada um deles vai ditar um pedacinho do seu discurso, criando um tipo de fórmula textual, que dará maior consciência para a sua comunicação. Você já conhece os componentes a fundo, então podemos ir direto para a mão na massa. Expressando suas necessidades A nossa fórmula é essa aqui: "Quando você (observação)..., eu me sinto (sentimento)..., porque eu (necessidade)." Para melhores diálogos e relacionamentos 111 "Quando você fala que meu trabalho está medíocre (observação), eu me sinto frustrado (sentimento), porque eu espero que você reconheça meu esforço (necessidade)." Exemplo 1 Observação Sentimento Necessidade Temos uma observação clara que não faz julgamento da pessoa. Perceba que em momento algum o narrador diz "você me maltrata" ou "você despreza meu trabalho". Ele apenas descreve uma ação específica da pessoa, sem atribuir culpa. “Frustrado” é um sentimento autêntico que expressa a sensação de desgosto e desamparo do narrador. Em “eu espero que...” é demonstrada a autorresponsabilidade do narrador ao reconhecer que sua frustração foi causada por suas próprias expectativas, e não pela pessoa com quem ele está falando. Descola.org | Comunicação Não Violenta 112 “Quando você me manda mensagem de uma em uma hora (observação), eu me sinto sufocado (sentimento), porque eu gostaria de não ter que dar satisfações a todo momento (necessidade).” Exemplo 2 Observação Sentimento Necessidade Mais uma vez, temos outra observação clara e sem atribuição de culpa. A pessoa com quem o narrador está falando não está sendo necessariamente julgada por sua atitude, ainda que esta incomode o narrador por algum motivo. O narrador utiliza a palavra “sufocado” para expressar sua indignação. Na realidade, ele se sente cercado por aquela necessidade constante de contato que a outra pessoa está demonstrando. Entretanto, ao admitir que aquela situação é sufocante, ele atribui a culpa de seu sentimento à pessoa, como se ela fosse responsável por sufocá-lo. Ele poderia substituir seu sentimento por “sobrecarregado”, por exemplo. A sobrecarga sentida aqui pode estar relacionada à responsabilidade de responder a todas as mensagens, assim, deixando de julgar negativamente a necessidade da outra pessoa. A necessidade, por outro lado, foi muito bem expressa nessa frase. O narrador poderia dizer que gostaria de ter mais liberdade, mas estaria culpando a pessoa por tirar sua liberdade, então, optou por uma necessidade mais objetiva. A descrição prática e objetiva de observações, necessidades e pedidos (como veremos a seguir) é de extrema importância para que o outro possa compreender o que você precisa e o que ele pode fazer por você. Para melhores diálogos e relacionamentos 113 Quando a pessoa não consegue entender o que ela pode fazer em relação à sua necessidade dentro do contexto, seu papel é pedir o que você precisa. Você já viu que esse pedido precisa ser específico e objetivo, envolvendo uma ação, e que essa ação deve estar clara para a outra pessoa. Mas como verbalizar isso tudo? Vamos dar uma olhada nos mesmos exemplos anteriores: PEDINDO O QUE VOCÊ PRECISA Descola.org | Comunicação Não Violenta 114 "Quando você fala que meu trabalho está medíocre (observação), eu me sinto frustrado (sentimento), porque eu espero que você reconheça meu esforço (necessidade)." Exemplo 1 A necessidade deste narrador é que seu esforço seja reconhecido. Mas, para garantir que isso aconteça, antes ele precisa definir o que faria com que ele se sentisse reconhecido. Tendo em mente que atitude está sendo esperada, ele pode fazer seu pedido de maneira esclarecida. No caso, para este narrador, o que faz com que ele se sinta reconhecido é seu gestor dar feedbacks positivos, elogiar e apontar suas conquistas diárias sempre que possível. Para melhores diálogos e relacionamentos 115 “Eu gostaria que... você fizesse mais comentários positivos e elogiasse minhas conquistas em vez de só me procurar para dar feedbacks quando eu erro.” Pensando nisso, seu pedido poderia ser: Descola.org | Comunicação Não Violenta 116 “Quando você me manda mensagem de uma em uma hora (observação), eu me sinto sufocado (sentimento), porque eu gostaria de não ter que dar satisfações a todo momento (necessidade).” Exemplo 2 A necessidade deste narrador está atrelada a um relacionamento de sua vida pessoal, dentro do qual ele precisa de um pouco mais de espaço. Para expressar seu pedido, ele precisa entender o que exatamente essa pessoa pode fazer para que ele se sinta menos sobrecarregado, sem abrir mão das necessidades dela também. Para melhores diálogos e relacionamentos 117 “Eu entendo que... você precisa destas mensagens para se sentir mais calmo quanto à minha segurança e que manter este contato comigo é importante para você. Mas eu preciso que... a gente diminua pelo menos um pouco a frequência destas mensagens para que eu me sinta mais confortável com a situação e possa atender às suas
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