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SUMÁRIO
1. Introdução .............................................................................................................................. 3
2. Sobre a Pena de Morte ........................................................................................................... 3
2.1. A mídia da morte em horário gratuito................................................................................ 3
2.2. Pena de morte ..................................................................................................................... 5
3. Capitalismo e sistema penal ................................................................................................. 6
3.1. Punidos e mal pagos ........................................................................................................... 6
4. Autoritarismo e sistema penal............................................................................................... 8
4.1. Sem documentos? Teje preso!............................................................................................ 8
5. Violência e polícia................................................................................................................. 10
5.1. Criminalidade e favelas..................................................................................................... 10
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SUMÁRIO
1. Introdução .............................................................................................................................. 3
2. Sobre a Pena de Morte ........................................................................................................... 3
2.1. A mídia da morte em horário gratuito................................................................................ 3
2.2. Pena de morte ..................................................................................................................... 5
3. Capitalismo e sistema penal ................................................................................................. 6
3.1. Punidos e mal pagos ........................................................................................................... 6
4. Autoritarismo e sistema penal............................................................................................... 8
4.1. Sem documentos? Teje preso!............................................................................................ 8
5. Violência e polícia................................................................................................................. 10
5.1. Criminalidade e favelas..................................................................................................... 10
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1. Introdução
Diante da importância acadêmica e da pertinência com os concursos de Delegado 
de Polícia, decidimos incluir no nosso estudo um resumo da importantíssima obra do Nilo 
Batista: “Punidos e Mal Pagos - Violência, Justiça, Segurança Pública e Direitos Humanos 
no Brasil de hoje - Ano 1990”, que, apesar de ter sido produzida no início dos anos 90, 
permanece atual e servirá para enriquecer nosso estudo.
2. Sobre a Pena de Morte
2.1. A mídia da morte em horário gratuito1
O debate sobre a pena de morte, redivivo pelo oportunismo eleitoreiro da 
direita, apresenta dois riscos que podem ser evitados. O primeiro é restringir-se ao mais 
bisonho empirismo, articulando impressões e vivências de pessoas atingidas por atos de 
violência ou pela administração publicitária do medo a certo discurso “bem pensante”, que 
reduz algumas categorias jurídicas (especialmente a retribuição) ao nível de almanaque, 
e procura seduzir com os sortilégios daquele bom senso que Miaille caracteriza como “ 
o oposto da ciência”. Exemplo disso é relacionar a ocorrência de linchamentos à falta da 
pena de morte, ignorando que nos Estados Unidos, como apontou Sellin, a lei de Lynch foi 
observada principalmente nos estados sulistas — onde existia, e arraigadamente, a sanção 
capital.
O segundo risco reside em situar-se o debate no plano jusfilosófico ou moral. Aí 
nos deparamos com a mania de alguns jurisconsultos, percebida por Erasmo (não, por certo, 
o coronel paulistano, e sim o sábio seiscentista), de amontoar glosas e citações, persuadidos 
de que o preço da beleza teórica é pago em dores e fadiga. Exemplo disso está nos rios de 
tinta que se seguiram à notável reflexão de Camus, ou nos alentados tomos que poderiam 
compendiar os estudos sobre o caráter valorativo da retribuição. O mistério da morte, 
que sempre desafiou o espírito humano, empresta indevidamente suas perplexidades a 
um assunto que é bem outro, porque a morte é uma questão religiosa, social, filosófica e 
científica, mas a pena de morte é essencialmente uma questão político-jurídica.
Um bom caminho para contornar esses dois riscos está em correr um terceiro: 
o do pragmatismo penal. Ou seja, diante da mídia da morte em horário gratuito, devemos 
conter a lembrança do caso Naves, resistir à atração do alpinismo jusfilosófico (ainda que 
Millôr, no JB de 3.out.86, tenha aportado algo de novo ao argumento do verdugo), e pergun-
tar pura e simplesmente se a pena de morte é eficaz. Se houvesse uma só probabilidade de 
resposta positiva, estaríamos em maus lençóis, porque enquanto questão político-jurídica a 
cominação de uma pena não pode fundamentar-se tão-só em sua eficácia. Sucede que, en-
tre tantas amargas lições que a história da pena de morte ensinou, a de sua ineficácia é das 
1 (Batista, 1990, p. 12)
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mais constantemente esquecidas. O recente livro de Barbero Santos (Pena de Muerte — el 
ocaso de um mito, B. Aires, ed. Depalma, 1985) oferece um bom roteiro para a vulgarização 
daquela lição, que toma a um só tempo risível o discurso “bem pensante” da direita e des-
necessárias as grandes indagações jusfilosóficas, morais ou religiosas.
Respondamos, com o professor espanhol, à seguinte pergunta: a pena de 
morte intimida? Certamente que não ao elevado percentual de assassinos que, segundo 
estatísticas, se suicidam (em antiga pesquisa inglesa, de 7.454 homicidas, 1.674 se 
suicidaram). É muito duvidoso também que ela intimide as pessoas que se encontrem em 
situação sem saída, os criminosos passionais (quase 50%), ou os numerosos casos nos quais 
concorram componentes psicopatológicos. Quanto aos crimes políticos — à parte, é claro, 
outras considerações — não há quem hoje afirme que a pena capital opere por intimidação. 
Vemos, portanto, que se existe algum efeito intimidativo, é o efeito sobre um saldo, sobre 
um modesto saldo de homicidas.
Sendo, contudo, inoperante para o efeito preventivo geral de intimidação, a 
pena de morte logra um resultado que Staub comprovou, e que é exatamente o oposto. 
Falamos do suicídio judiciário, isto é, dos inúmeros casos em que o homicídio é cometido 
por alguém que deseja, mais ou menos conscientemente, morrer, e elege, mais ou menos 
conscientemente, o carrasco como meio de autodestruição. Middendorff lembra que 
enquanto Peter Kurten, o vampiro de Düsseldorf, cometia seus crimes, quase 200 pessoas 
se apresentaram à polícia afirmando-se autores. Exemplos recentes de condenados à morte 
que desejavam morrer: Sirham Bishara, Gary Gilmore, Jesse Bishop e Steven Judy.
Pesquisas americanas identificaram que nos arredores da prisão, nos dias de 
execução de pena de morte, são cometidos mais crimes de sangue do que normalmente. 
Observemos agora, sempre em companhia de Barbero Santos, alguns resultados de uma 
investigação da ONU, de 1962, sobre estatísticas de países que aboliram a pena de morte. 
Vejamos na Alemanha, com pena de morte abolida em 1949, os números de homicídio: 1948, 
521; 1950, 301; 1960, 355. Vejamos na Áustria’(abolição em 1950): 1948, 77; 1949, 93; 1950, 48; 
1951, 64; 1952, 38; 1953, 41. Na Itália, na Argentina, e recentemente na Espanha, a supressão 
da pena de morte não teve o menor efeito criminógeno. A sempre citada pesquisa da Selim, 
realizada sobre um amplo universo de quase 30 cidades de diversos estados americanos,não encontrou qualquer relação entre a pena de morte e o volume de homicídios de cada 
conjunto comparável, concluindo que as execuções não influenciam os percentuais de 
homicídios. As últimas e mais avançadas investigações criminológicas norte-americanas 
sobre a eficácia da prevenção geral da pena de morte procuraram, através de um método 
denominado multiple regression analysis (MRA), que associa à pena capital diversas séries 
de variáveis controláveis estatisticamente, verificar se a pena de morte tal como praticada 
tem efeito intimidativo, e, em caso positivo, se poderia obter-se por outros meios tal efeito. 
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mais constantemente esquecidas. O recente livro de Barbero Santos (Pena de Muerte — el 
ocaso de um mito, B. Aires, ed. Depalma, 1985) oferece um bom roteiro para a vulgarização 
daquela lição, que toma a um só tempo risível o discurso “bem pensante” da direita e des-
necessárias as grandes indagações jusfilosóficas, morais ou religiosas.
Respondamos, com o professor espanhol, à seguinte pergunta: a pena de 
morte intimida? Certamente que não ao elevado percentual de assassinos que, segundo 
estatísticas, se suicidam (em antiga pesquisa inglesa, de 7.454 homicidas, 1.674 se 
suicidaram). É muito duvidoso também que ela intimide as pessoas que se encontrem em 
situação sem saída, os criminosos passionais (quase 50%), ou os numerosos casos nos quais 
concorram componentes psicopatológicos. Quanto aos crimes políticos — à parte, é claro, 
outras considerações — não há quem hoje afirme que a pena capital opere por intimidação. 
Vemos, portanto, que se existe algum efeito intimidativo, é o efeito sobre um saldo, sobre 
um modesto saldo de homicidas.
Sendo, contudo, inoperante para o efeito preventivo geral de intimidação, a 
pena de morte logra um resultado que Staub comprovou, e que é exatamente o oposto. 
Falamos do suicídio judiciário, isto é, dos inúmeros casos em que o homicídio é cometido 
por alguém que deseja, mais ou menos conscientemente, morrer, e elege, mais ou menos 
conscientemente, o carrasco como meio de autodestruição. Middendorff lembra que 
enquanto Peter Kurten, o vampiro de Düsseldorf, cometia seus crimes, quase 200 pessoas 
se apresentaram à polícia afirmando-se autores. Exemplos recentes de condenados à morte 
que desejavam morrer: Sirham Bishara, Gary Gilmore, Jesse Bishop e Steven Judy.
Pesquisas americanas identificaram que nos arredores da prisão, nos dias de 
execução de pena de morte, são cometidos mais crimes de sangue do que normalmente. 
Observemos agora, sempre em companhia de Barbero Santos, alguns resultados de uma 
investigação da ONU, de 1962, sobre estatísticas de países que aboliram a pena de morte. 
Vejamos na Alemanha, com pena de morte abolida em 1949, os números de homicídio: 1948, 
521; 1950, 301; 1960, 355. Vejamos na Áustria’(abolição em 1950): 1948, 77; 1949, 93; 1950, 48; 
1951, 64; 1952, 38; 1953, 41. Na Itália, na Argentina, e recentemente na Espanha, a supressão 
da pena de morte não teve o menor efeito criminógeno. A sempre citada pesquisa da Selim, 
realizada sobre um amplo universo de quase 30 cidades de diversos estados americanos, 
não encontrou qualquer relação entre a pena de morte e o volume de homicídios de cada 
conjunto comparável, concluindo que as execuções não influenciam os percentuais de 
homicídios. As últimas e mais avançadas investigações criminológicas norte-americanas 
sobre a eficácia da prevenção geral da pena de morte procuraram, através de um método 
denominado multiple regression analysis (MRA), que associa à pena capital diversas séries 
de variáveis controláveis estatisticamente, verificar se a pena de morte tal como praticada 
tem efeito intimidativo, e, em caso positivo, se poderia obter-se por outros meios tal efeito. 
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Como assinala Barbero Santos, o resultado quase unânime desses estudos é no 
sentido de não se demonstrar possua a pena de morte um apreciável efeito intimidativo 
(any measurable deterrent effect).
Isso deveria bastar, e normalmente basta. A pena de morte não é eficaz, e, 
portanto, desnecessário discutir suas implicações morais, religiosas e filosóficas. Há 
entretanto outra linha que também evita aqueles dois riscos, e é convidar os partidários da 
pena de morte para examinar de perto a realização de suas ideias.
Há alguns livros que se ocupam exclusivamente desse aspecto, como os de 
Kurt Rossa e Daniel Sueiro. Esses livros, que não podem ser lidos antes de uma refeição, 
demonstram algo que comumente não aparece no debate: a execução da pena de morte é 
sempre um episódio indigno, violento e macabro. O homem não descobriu um modo decente 
para negar tão radicalmente sua própria humanidade. Para a turma da direita penal, seria 
decepcionante dar-se conta de que, nas propostas que defendem, morrer decentemente é 
tão impossível quanto viver decentemente.
2.2. Pena de morte
Sempre que ocorre uma onda de violência, ou um crime particularmente cruel, 
aparecem políticos oportunistas pregando a pena de morte. Quase sempre são políticos 
que nada fazem para mudar a situação de miséria, promiscuidade e medo que é a mãe da 
criminalidade. Quase sempre são políticos ligados aos maiores criminosos do país, que, no 
entanto, praticam uma delinquência dourada e impune, sem se preocupar com a polícia ou 
a justiça. Mas algumas pessoas de boa-fé acabam acreditando que a pena de morte pode 
ajudá-las, que a pena de morte pode diminuir os assaltos, os estupros, os homicídios, etc. 
Não acreditem nisso. A pena de morte não ajuda a reduzir a criminalidade. Como é que se 
sabe? É que em muitos países a pena de morte foi abolida, e em alguns outros introduzida. 
Isso aconteceu principalmente na Europa, na metade do século. E as estatísticas de antes
e de depois da pena de morte puderam ser comparadas. A ONU fez um relatório sobre isso. 
Não há nenhuma diferença a favor da pena de morte. Também nos Estados Unidos, um 
professor fez uma pesquisa em Estados com e sem pena de morte, para um mesmo crime: 
matar um policial em serviço. Ele pensava que ia encontrar menos desses homicídios nos 
Estados sem pena de morte. Pois os resultados provaram que não havia qualquer diferença.
Mas se não existem provas de que a pena de morte reduza a criminalidade, 
existem provas de que ela a aumenta. Antigamente, quando as execuções eram públicas, 
percebeu-se um aumento de violência na área em que os condenados eram mortos. Pior 
do que isso foram os inúmeros casos de pessoas que cometeram um crime punido com a 
pena de morte só para “suicidar-se” através do carrasco. Os livros registram muitos casos 
desses. Por que é que tradicionalmente, quando um crime muito grave era cometido, e não 
se sabia por quem, apareciam dezenas de pessoas na polícia confessando-se autores dele? 
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Eram pessoas que — ainda que não tivessem consciência disso —desejavam morrer, mas 
não tinham coragem de suicidar-se.
O pior da pena de morte, contudo, não é sua ineficácia para reduzir a criminalidade, 
e sua propensão a incentivá-la. O pior é que ela é aplicada discriminatoriamente. São os 
pobres, os negros, os inadaptados que vão para os corredores da morte: ricos e poderosos 
nunca põem os pés lá. 
Olhem para nossas prisões e vejam quem é que esses políticos querem matar. Há 
até certa coerência deles. Sua cumplicidade com uma sociedade injusta os toma coautores 
das milhares de mortes por doença, por falta de alimentação, de assistência, de habitação, 
e até mesmo de uma “morte civil” por falta de informação sobre seus direitos. Propugnando 
pela pena de morte, esses políticos apenas querem continuar a matar, dessa vez sem 
subterfúgios ou dissimulações. Gostam de matar. Mas sua vítima — o povo brasileiro — 
gosta de viver.
3. Capitalismo e sistema penal 
3.1. Punidos e mal pagos
Historicamente o capitalismo recorreu ao sistema penal para duas operações 
essenciais: 1) garantir a mão-de-obra; 2) impedir a cessação do trabalho.
Para garantir a mão-de-obra, criminalizava-se o pobre que não se convertesse 
em trabalhador.A experiência, nos séculos XVII e XVIII, das “casas de trabalho” (Workhouse, 
Arbeithaus), a pioneira das quais foi a rasp-huis holandesa (onde muito pau-brasil certamente 
foi raspado), conduziu à generalização do internamento “correicional”. Com a revolução 
industrial, o esquema jurídico ganhou feições mais nítidas: criou-se o delito de vadiagem.
Referindo-se à reforma dos dispositivos conhecidos como Poor Law, em 1834, Disraeli dizia 
que na Inglaterra ser pobre passava a ser um crime.
Aqueles que, por uma razão ou outra, se recusavam ou não conseguiam vender 
sua força de trabalho, passaram a ser tratados pela justiça mais ou menos como nos 
julgamentos descritos por Jack London em seu conto autobiográfico: a cada 15 segundos, 
uma sentença de 30 dias de prisão para cada vagabundo.
Para impedir a cessação do trabalho, criminalizava-se o trabalhador que se 
recusasse ao trabalho tal como ele “era”: criou-se o delito de greve. O Código Penal francês 
de 1810 contemplava o novo crime, em seu artigo 415. O Vagrancy Act inglês de 1824 
tornava possível processar criminalmente trabalhadores que recusavam a diminuição de 
seus salários. Não por acaso, um dos vagabundos condenados do conto de Jack London, 
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Eram pessoas que — ainda que não tivessem consciência disso —desejavam morrer, mas 
não tinham coragem de suicidar-se.
O pior da pena de morte, contudo, não é sua ineficácia para reduzir a criminalidade, 
e sua propensão a incentivá-la. O pior é que ela é aplicada discriminatoriamente. São os 
pobres, os negros, os inadaptados que vão para os corredores da morte: ricos e poderosos 
nunca põem os pés lá. 
Olhem para nossas prisões e vejam quem é que esses políticos querem matar. Há 
até certa coerência deles. Sua cumplicidade com uma sociedade injusta os toma coautores 
das milhares de mortes por doença, por falta de alimentação, de assistência, de habitação, 
e até mesmo de uma “morte civil” por falta de informação sobre seus direitos. Propugnando 
pela pena de morte, esses políticos apenas querem continuar a matar, dessa vez sem 
subterfúgios ou dissimulações. Gostam de matar. Mas sua vítima — o povo brasileiro — 
gosta de viver.
3. Capitalismo e sistema penal 
3.1. Punidos e mal pagos
Historicamente o capitalismo recorreu ao sistema penal para duas operações 
essenciais: 1) garantir a mão-de-obra; 2) impedir a cessação do trabalho.
Para garantir a mão-de-obra, criminalizava-se o pobre que não se convertesse 
em trabalhador. A experiência, nos séculos XVII e XVIII, das “casas de trabalho” (Workhouse, 
Arbeithaus), a pioneira das quais foi a rasp-huis holandesa (onde muito pau-brasil certamente 
foi raspado), conduziu à generalização do internamento “correicional”. Com a revolução 
industrial, o esquema jurídico ganhou feições mais nítidas: criou-se o delito de vadiagem.
Referindo-se à reforma dos dispositivos conhecidos como Poor Law, em 1834, Disraeli dizia 
que na Inglaterra ser pobre passava a ser um crime.
Aqueles que, por uma razão ou outra, se recusavam ou não conseguiam vender 
sua força de trabalho, passaram a ser tratados pela justiça mais ou menos como nos 
julgamentos descritos por Jack London em seu conto autobiográfico: a cada 15 segundos, 
uma sentença de 30 dias de prisão para cada vagabundo.
Para impedir a cessação do trabalho, criminalizava-se o trabalhador que se 
recusasse ao trabalho tal como ele “era”: criou-se o delito de greve. O Código Penal francês 
de 1810 contemplava o novo crime, em seu artigo 415. O Vagrancy Act inglês de 1824 
tornava possível processar criminalmente trabalhadores que recusavam a diminuição de 
seus salários. Não por acaso, um dos vagabundos condenados do conto de Jack London, 
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alegando perante o juiz que houvera deixado sua ocupação com a esperança de obter uma 
vida mais feliz, foi punido com mais 30 dias por “abandono de emprego”. 
No Brasil, abolida a escravidão e proclamada a república, o Código Penal de 1890 
trazia a mesma receita: em seu artigo 399 punia a vadiagem, e em seu artigo 206 punia a greve 
(definida como “cessação ou suspensão do trabalho para impor aumento ou diminuição de 
serviço ou salário”). Houve forte reação a este último dispositivo, que dois meses depois 
do início da vigência do código foi objeto de reforma, para incluir como condições do crime 
“violências ou ameaças”. Mudou um pouco a letra da lei, porém não o espírito da coisa. O 
teorema jurídico era o mesmo: não trabalhar é ilícito, parar de trabalhar também.
Em suma, punidos e mal pagos. A ditadura militar forneceu um modelo muito 
legível dessas relações. Enquanto a política do arrocho salarial assegurava às multinacionais 
a mão-de-obra mais barata do mundo, o sistema penal tratava de prender vadios e grevistas. 
Se a prisão dos vadios era uma rotina que cumpria outras funções (porque, em certo sentido, 
os vadios eram funcionais para o regime, enquanto compunham o “exército de reserva” 
daquela mão-de-obra mais barata do mundo), os grevistas, paralisando a produção, 
atrapalhavam a assadura política do famoso bolo que um dia — como esquecer? — seria 
dividido.
A constituição da ditadura proibia “greve nos serviços públicos e atividades 
essenciais, definidas em lei” (art. 162). Logo o crime chegaria à legislação de segurança 
nacional: decreto-lei nº 314, de 13.mar. 67 (arts. 32, 33, inc. V e 34), piorado pelo decreto-lei 
nº 510, de 20.m ar.69, e especialmente o decreto-lei nº 898, de 29.set.69 (arts. 38, 39, inc. V 
e 40). 
Neste último, que foi o diploma legal de nossos anos de chumbo, a greve em 
serviços públicos ou atividades essenciais era punida com reclusão de 4 a 10 anos. A mesma 
pena do roubo! 
A nova Constituição assegura o direito de greve de modo amplo, ressalvando que 
os “abusos sujeitam os responsáveis às penas da lei” (art. 9°, § 2°). Essa espécie de ressalva é 
supérflua e infeliz — mas, para os tristes acontecimentos de Volta Redonda, foi tragicamente 
oportuna. 
A ressalva é supérflua porque o abuso de todo e qualquer direito acarreta 
necessariamente sanções jurídicas. Um direito verdadeiramente democrático desconhece 
qualquer criminalização específica da greve, e os abusos porventura ocorridos devem ser 
punidos pelo direito penal comum: para isso existem as infrações penais de constrangimento 
ilegal, vias de fato, lesões corporais, rixa, dano à propriedade alheia, sequestro, etc. A ressalva 
é também infeliz porque, quando se trata do direito de greve, costuma-se regulamentá-lo 
de forma tão restritiva e repressiva que tal regulamentação se converte em sua negação. A 
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Constituição de 1946 reconhecia o direito de greve, “cujo exercício a lei regulará” (art. 158). 
Mal desfechado o golpe militar, em 1 ° de junho de 1964, através da lei nº 4.330, tratou-
se de “regulá-lo”, criando novos crimes (art. 29), e um procedimento tão bacharelesco e 
rococó que, na prática, uma greve legal tornou-se algo inalcançável. Ou seja, o efeito da 
regulamentação durante a ditadura foi tornar a greve sempre ilegal.
Para a tragédia de Volta Redonda, contudo, a ressalva foi oportuna. Podemos 
admitir que a ocupação da aciaria da Companhia Siderúrgica Nacional configurasse 
juridicamente um abuso no exercício do direito de greve. Tal abuso, assim, sujeitaria 
constitucionalmente os responsáveis às “penas da lei”. Mas a lei não prevê para a hipótese 
a pena de morte, aplicada sem processo a três operários, nem as penas corporais aplicadas 
a tantos outros. 
Por outro lado, era incabível empregar, na operação policial de desocupação da 
aciaria, as Forças Armadas, que só podem intervir em questões de lei e ordem por expressa 
solicitação dos poderes constitucionais — como determina o artigo 142 da nova Constituição.
4. Autoritarismo e sistema penal
4.1. Sem documentos? Teje preso!
Muitas pessoas pensam que devem obrigatoriamente sair à rua com algum 
documento pessoal — carteira de identidade, carteira profissional, etc. E que se não 
procederem assim, estarão sujeitas a prisão. Chega o tira, pede os documentos e, diantede 
qualquer resposta negativa (“esqueci”, ou “estão em casa”, por exemplo), profere a sentença: 
“Sem documentos? Teje preso!” 
Tudo isso está completamente errado. 
Em primeiro lugar, quando a polícia aborda um cidadão que não está armado ou 
cometendo um crime (em flagrante delito, como se diz), o agente é que deve se identificar, 
exibindo sua identidade funcional (“carteira de polícia”). 
Em segundo lugar, não existe lei que imponha ao cidadão o dever de andar sempre 
acompanhado de documentos que atestem sua identidade. O que existe é o seguinte: todo 
cidadão é obrigado a fornecer à autoridade policial informações sobre sua identidade 
(nome, filiação), estado (casado, solteiro, separado, viúvo), profissão, local onde mora e 
onde trabalha desde que justificadamente solicitado por ela. Por exemplo: houve um assalto 
num banco. Pessoas que estavam nas proximidades, na mesma rua, são justificadamente
solicitadas a se identificarem. Note-se que ninguém é obrigado a ter seus documentos 
consigo, e sim a fornecer as informações. Quem, nessas circunstâncias, recusar-se a prestar 
os esclarecimentos pedidos sobre sua identidade, ou prestá-los falsam ente (mentindo 
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Constituição de 1946 reconhecia o direito de greve, “cujo exercício a lei regulará” (art. 158). 
Mal desfechado o golpe militar, em 1 ° de junho de 1964, através da lei nº 4.330, tratou-
se de “regulá-lo”, criando novos crimes (art. 29), e um procedimento tão bacharelesco e 
rococó que, na prática, uma greve legal tornou-se algo inalcançável. Ou seja, o efeito da 
regulamentação durante a ditadura foi tornar a greve sempre ilegal.
Para a tragédia de Volta Redonda, contudo, a ressalva foi oportuna. Podemos 
admitir que a ocupação da aciaria da Companhia Siderúrgica Nacional configurasse 
juridicamente um abuso no exercício do direito de greve. Tal abuso, assim, sujeitaria 
constitucionalmente os responsáveis às “penas da lei”. Mas a lei não prevê para a hipótese 
a pena de morte, aplicada sem processo a três operários, nem as penas corporais aplicadas 
a tantos outros. 
Por outro lado, era incabível empregar, na operação policial de desocupação da 
aciaria, as Forças Armadas, que só podem intervir em questões de lei e ordem por expressa 
solicitação dos poderes constitucionais — como determina o artigo 142 da nova Constituição.
4. Autoritarismo e sistema penal
4.1. Sem documentos? Teje preso!
Muitas pessoas pensam que devem obrigatoriamente sair à rua com algum 
documento pessoal — carteira de identidade, carteira profissional, etc. E que se não 
procederem assim, estarão sujeitas a prisão. Chega o tira, pede os documentos e, diante de 
qualquer resposta negativa (“esqueci”, ou “estão em casa”, por exemplo), profere a sentença: 
“Sem documentos? Teje preso!” 
Tudo isso está completamente errado. 
Em primeiro lugar, quando a polícia aborda um cidadão que não está armado ou 
cometendo um crime (em flagrante delito, como se diz), o agente é que deve se identificar, 
exibindo sua identidade funcional (“carteira de polícia”). 
Em segundo lugar, não existe lei que imponha ao cidadão o dever de andar sempre 
acompanhado de documentos que atestem sua identidade. O que existe é o seguinte: todo 
cidadão é obrigado a fornecer à autoridade policial informações sobre sua identidade 
(nome, filiação), estado (casado, solteiro, separado, viúvo), profissão, local onde mora e 
onde trabalha desde que justificadamente solicitado por ela. Por exemplo: houve um assalto 
num banco. Pessoas que estavam nas proximidades, na mesma rua, são justificadamente
solicitadas a se identificarem. Note-se que ninguém é obrigado a ter seus documentos 
consigo, e sim a fornecer as informações. Quem, nessas circunstâncias, recusar-se a prestar 
os esclarecimentos pedidos sobre sua identidade, ou prestá-los falsam ente (mentindo 
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sobre seu nome, estado, profissão ou residência), comete a infração prevista no artigo 68 da 
Lei de Contravenções Penais, com pena de multa (para a recusa) ou prisão simples de 1 a 6 
meses e multa (para a informação falsa).
É importante lembrar que essa contravenção penal só pode juridicamente 
acontecer se a autoridade tiver um motivo justo para solicitar a identificação (por isso, a 
lei diz “justificadamente”). Pelo simples capricho ou mera curiosidade do funcionário, 
nenhum cidadão está obrigado a identificar-se. Além disso, como já foi visto, mesmo quando 
existe o motivo justo, a obrigação não é de ter consigo os documentos, e sim de prestar 
com veracidade as informações exigidas. Fora daí a prisão configurará crime de abuso de 
autoridade para quem a executou ou ordenou.
O que pouca gente sabe é que ninguém (seja funcionário público, como um policial, 
seja outro cidadão, seja uma empresa) pode reter qualquer documento de identificação 
pessoal, mesmo que apresentado em fotocópia autenticada, inclusive certificado militar, 
título eleitoral, carteira profissional, registro civil e outros. Quando a repartição pública ou 
a empresa precisar do documento para algum ato, terá que devolvê-lo no prazo de 5 dias. 
Aquele — seja policial, seja funcionário de uma empresa, seja simples cidadão — que retiver 
os documentos de alguém cometerá contravenção penal, punida com prisão simples de 1 a 
3 meses, ou multa. 
Já imaginaram se as leis fossem respeitadas e cumpridas em nosso país? 
Poderíamos ouvir diálogos assim:
— É cana. Documentos.
— Estão em casa.
— Sem documentos? Teje preso.
— Quem está preso é o senhor, por abuso de autoridade.
Ou como este outro: 
— É cana. Documentos.
— Aqui estão.
— Guarda aí, Edu, os documentos da criança...
— O senhor está preso por retenção de documentos.
Sonhos podem realizar-se. Só depende de nós.
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5. Violência e polícia
5.1. Criminalidade e favelas
O banditismo urbano instalado nas favelas do Rio de Janeiro é hoje um fenômeno 
bastante conhecido e descrito, graças principalmente ao trabalho de antropólogos 
como Alba Zaluar e outros, que desenvolveram pesquisas de campo. A teoria básica da 
“ausência do Estado” foi formulada por esses antropólogos e permite compreender como, 
no vácuo das responsabilidades omitidas pelo Estado — saúde, educação, transportes, 
comunicações, segurança pública—, pequenas quadrilhas, organizadas principalmente em 
torno da exploração do comércio de drogas ilícitas (cocaína e maconha), logram controlar 
imensas com unidades, desorganizadas pela tradicional prática do “clientelismo” e pela 
elevada taxa de desempregados e subempregados.
Nesse caldo de cultura, historicamente propenso a negociações oportunísticas 
de sobrevivência, essas pequenas quadrilhas encontram condições concretas para, através 
de um “assistencialismo” que é a versão privada do “ clientelismo” , obter um reconheci-
mento com unitário, cujo conteúdo pode variar desde uma certa admiração (criadora do 
“bandido social” no sentido de Hobsbawm) até um mudo horror, consoante seus chefes 
exerçam preferencialmente a “ generosidade” ou o terror.
A “generosidade” é exercida através de auxílios materiais para situações espe-
ciais de necessidade (reconstruções, medicamentos, transporte urgente, etc.) e da admi-
nistração da justiça (tanto quanto Boaventura de Souza Santos encontrou, anos atrás, a 
Associação de Moradores detendo a jurisdição civil, José Augusto de Souza Rodrigues em 
recente pesquisa encontrou a boca-de-fumo como instituição encarregada da jurisdição 
criminal). É ilusório supor que essa “generosidade” exclua os mais bárbaros atos contra os 
integrantes da comunidade que se insurgirem ou questionarem o poder da quadrilha, como 
é ilusório presumir-lhe uma potencialidade revolucionária. Na verdade, as quadrilhas sub-
jugam as comunidades e delas se aproveitam, de sua miséria, do escudo humano de seus 
corpos, para finalidades egoísticas. 
De alguma forma, contudo, essas comunidades faveladas percebem, 
intuitivamente, que existe algo que as subjuga e delas se aproveita de forma muito mais 
egoística e eficaz do que as quadrilhas. Incapazes de perceber os mecanismoseconômicos 
e históricos pelos quais o capitalismo sempre pode, e o anarco-capitalism o dependente e 
perverso que vivemos no Brasil necessariamente deve converter, na expressão de Alberto 
Passos Guimarães, “reservas do mundo do trabalho em reservas do mundo do crime”, as 
favelas concentram no ódio à polícia — a fase visível da ordem injusta que, num passe de 
mágica, transforma o desempregado no bandido — uma contrapartida emocional que é 
aproveitada de forma muito competente pelas elites conservadoras para sua teoria brasileira 
das “ classes perigosas”. 
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5. Violência e polícia
5.1. Criminalidade e favelas
O banditismo urbano instalado nas favelas do Rio de Janeiro é hoje um fenômeno 
bastante conhecido e descrito, graças principalmente ao trabalho de antropólogos 
como Alba Zaluar e outros, que desenvolveram pesquisas de campo. A teoria básica da 
“ausência do Estado” foi formulada por esses antropólogos e permite compreender como, 
no vácuo das responsabilidades omitidas pelo Estado — saúde, educação, transportes, 
comunicações, segurança pública—, pequenas quadrilhas, organizadas principalmente em 
torno da exploração do comércio de drogas ilícitas (cocaína e maconha), logram controlar 
imensas com unidades, desorganizadas pela tradicional prática do “clientelismo” e pela 
elevada taxa de desempregados e subempregados.
Nesse caldo de cultura, historicamente propenso a negociações oportunísticas 
de sobrevivência, essas pequenas quadrilhas encontram condições concretas para, através 
de um “assistencialismo” que é a versão privada do “ clientelismo” , obter um reconheci-
mento com unitário, cujo conteúdo pode variar desde uma certa admiração (criadora do 
“bandido social” no sentido de Hobsbawm) até um mudo horror, consoante seus chefes 
exerçam preferencialmente a “ generosidade” ou o terror.
A “generosidade” é exercida através de auxílios materiais para situações espe-
ciais de necessidade (reconstruções, medicamentos, transporte urgente, etc.) e da admi-
nistração da justiça (tanto quanto Boaventura de Souza Santos encontrou, anos atrás, a 
Associação de Moradores detendo a jurisdição civil, José Augusto de Souza Rodrigues em 
recente pesquisa encontrou a boca-de-fumo como instituição encarregada da jurisdição 
criminal). É ilusório supor que essa “generosidade” exclua os mais bárbaros atos contra os 
integrantes da comunidade que se insurgirem ou questionarem o poder da quadrilha, como 
é ilusório presumir-lhe uma potencialidade revolucionária. Na verdade, as quadrilhas sub-
jugam as comunidades e delas se aproveitam, de sua miséria, do escudo humano de seus 
corpos, para finalidades egoísticas. 
De alguma forma, contudo, essas comunidades faveladas percebem, 
intuitivamente, que existe algo que as subjuga e delas se aproveita de forma muito mais 
egoística e eficaz do que as quadrilhas. Incapazes de perceber os mecanismos econômicos 
e históricos pelos quais o capitalismo sempre pode, e o anarco-capitalism o dependente e 
perverso que vivemos no Brasil necessariamente deve converter, na expressão de Alberto 
Passos Guimarães, “reservas do mundo do trabalho em reservas do mundo do crime”, as 
favelas concentram no ódio à polícia — a fase visível da ordem injusta que, num passe de 
mágica, transforma o desempregado no bandido — uma contrapartida emocional que é 
aproveitada de forma muito competente pelas elites conservadoras para sua teoria brasileira 
das “ classes perigosas”. 
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O estereótipo do delinquente se fixa na figura do favelado. Pouco importa 
que, de 100 mortes no Rio de Janeiro, apenas duas estejam associadas a um assalto e 35 
sejam causadas por motoristas imprudentes (as restantes são episódios interindividuais 
— homicídios dolosos —, ou “ mortes institucionais”): nossa figura do matador não é um 
homem de classe média sentado no seu carro, e sim o assaltante armado. Pouco importa 
que o dano econômico e social produzido por um só dos grandes crimes de colarinho 
branco (falências fraudulentas, sonegações fiscais, evasão de divisas, etc.) supere de mil 
vezes o somatório de todos os roubos e furtos: nossa figura do ladrão não é um banqueiro 
desonesto sentado em seu escritório, e sim o assaltante ou mesmo o ventanista.
Os intelectuais dessas elites conservadoras, ao invés da grosseria de campanhas 
de lei e ordem (que ficam por conta de parlamentares financiados pela direita), esmeram-se 
em questionar o cruzamento sempre problemático de variáveis econômicas (desemprego, 
valor real do salário, etc.) com as estatísticas criminais, no esforço absurdo de desvincular 
o crime do social e reduzi-lo a um episódio religioso ou moral. Esquecem-se de que, para 
além dos empecilhos metodológicos, para além da viabilidade, já percebida em países 
centrais, de uma “criminalidade da abundância” , o estudo de casos — como assinalaram 
Figueiredo Dias e Anabela Rodrigues — conduz invariavelmente à conclusão de que “os 
delinquentes provêm na verdade, numa percentagem largamente dominante, dos estratos 
sociais economicamente mais desfavorecidos; e aquela percentagem torna-se ainda maior 
se se tomarem em conta apenas as infrações de caráter patrimonial tradicionais”.
A construção social do delinquente se subordina a sua origem de classe, mas 
o sistema penal — caracterizado na América Latina, como consta do relatório Zaffaroni 
para o Instituto Interamericano de Direitos Humanos, pela seletividade, repressividade e 
estigmatização — se encarrega de disfarçá-lo: o principal expediente é proclamar, na lei e 
nas teorias jurídicas, que as pessoas são punidas pelo que fazem e não pelo que são, ainda 
que baste visitar uma penitenciária para convencer-se do contrário. Gimbernat Ordeig, 
notável professor espanhol, lembrou certa ocasião que a penitenciária é alguma coisa tão 
apta para resolver a questão da criminalidade quanto o hospital para solucionar a saúde 
pública. Não existe solução policial para a grave questão da violência urbana, ainda que 
toquem à instituição policial importantes funções. Um governo que aposte na solução 
policial está apenas honrando seus compromissos com as elites conservadoras e com um 
sistema econômico, iníquo, o qual — a exemplo da quadrilha — subjuga e se aproveita das 
populações marginalizadas, seu- “exército de reserva” regulador do menor salário mínimo 
do mundo. Quando isso ocorre, podemos dizer que a quadrilha está no poder.

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