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Fabiana Dantas Turino Infecções virais - Cap. 7 Aula 15 – Bloco 2 – Patologia 1 Nessa aula iremos falar sobre: • Herpes simples – Causado pelo vírus herpes simples • Vacicela (cataporra) • Herpes zoster • Mononucleose infecciosa • Leucoplasia pilosa • Sarcoma de Kaposi – Manifestação oral de paciente com HIV, cujo agente etiológico é o herpes vírus humano do tipo 8; • Papiloma, verruga e condiloma – Manisfestações orais associadas ao vírus do HPV (papiloma vírus humano). • É um vírus que se manifesta mais comumente na cavidade oral • Virús de DNA (fita dupla) • Tipos: 1 e 2 O vírus herpes simples tipo 1 e 2 são 80% geneticamente homólogos (parecidos) O vírus herpes simples do tipo1 tem predileção por afetar pele e mucosa da cintura para cima. Enquanto o vírus herpes simples do tipo 2 tem predileção por afetar pele e mucosa da cintura para baixo. Logo, quando falamos de lesões de mucosa oral causada pelo vírus herpes simples, nós falamos principalmente das lesões causadas pelo vírus herpes simples do tipo 1. • Padrão de infecção Infecção primária: Quando a pessoa entra em contato pela primeira vez com o vírus. Geralemente isso ocorre na infância aos 2/3 anos de idade. A maioria das crianças que entram em contato com o vírus pela primeira vez serão assintomáticos, só que o virus ficará presente no organismo da pessoa para sempre (em latência) nas terminações nervosas/gânglios. Infecção secundária ou Recorrente: Quando há reativação do virus que estava em latência nas terminações nervosas. Figura 1 - Vírus herpes simples Figura 2 - A) HSV-1; B) HSV-2 O vírus do herpes simples gosta de afetar as células epiteliais. Logo, ele irá causa alterações e modificações nas células epiteliais, e após o estabelecimento dessa lesão clinicamente visível (infecção primária), essas lesões desaparecem e o vírus irá ficar em latência nas terminações nervosas. Assim, de tempos em tempos podemos ter a reativação desse vírus (infecção secundária). • A maioria dos casos é assintomática (90%) • Jovens – Contato com a pessoa infectada • Incubação de 3 a 9 dias • Fica em latência no gânglio do nervo trigêmeo – • 12% das infecções iniciais • Crianças – As infecções primárias sintomáticas darão origem a gengivoestomatite herpética (prevalência nos 2 a 3 anos da criança), acometendo a gengiva e mucosa oral. • Sintomatologia (antes das lesões): Linfadenopatia cervical Febre (39 – 40°) e calafrios Anorexia Náuseas Irritabilidade Lesões bucais – As lesões bucais se consistem em vesículas ou bolhas (aumento de volume com presença de um líquido dentro) que se rompem após 1 ou 2 dias Ambos causados pelo vírus varicela zoster Ambos causados pelo vírus epstein-barr Fabiana Dantas Turino levando a formação de úlceras (são dolorosas e incomodam bastante). São localizadas principalmente na gengiva, mas podem estar no palato, língua e mucosa jugal. Figura 3 - Gengivoestomatite herpética – Conseguimos observar áreas de eritema e edema nas papilas, formação de vesículas e bolhas as quais irão se romper e formar grandes áreas de ulceração dolorosas Figura 4 - Gengivoestomatite herpética - Criança com gengiva edemaciada e dolorida Figura 5 - Gengivoestomatite herpética – Lesões fora da gengiva, localizada na mucosa jugal e palato duro • Seja o paciente com infecção primária assintomática ou sintomática, o vírus ficará em latência nas terminações nervosas até a sua reativação. Causas da reativação do vírus • Luz ultravioleta • Estresse emocional • Idade avançada • Gravidez • Alergia • Trauma • Alterações respiratórias • Ciclo menstrual • Doenças sistêmicas (neoplasias malignas) Essa reativação do vírus pode levar ao quadro de herpes recorrente, a famosa herpes labial (pois o vírus tem predileção por ocorrer na região perilabial) • Borda do lábio e tecido epitelial peribucal • Sintomatologia prodrômica – 24 horas antes das lesões = Geralmente 1 dia antes, nas áreas que vão surgir as lesões, a pessoa tem aquela sensação de dormência, ardor, prurido e coceira. • Fase de crosta – sem risco de contaminação Figura 6 - Herpes secundária, recorrente ou labial - Presença de bolhas na borda do lábio e tecido epitelial peribucal, que depois de 1 ou 2 dias virarão áreas de úlceras Figura 7 - Herpes recorrente - Bolhas labiais que se rompem e formam áreas de ulceração recobertas por crostas Figura 8 - Herpes recorrente na região peribucal e palato duro • O herpes vírus do tipo 1 afeta pele e mucosa da cintura para cima. • O Panarício herpético ocorre principalmente em crianças • Muitas vezes o paciente estar com essas lesões visíveis e ao estoura-las aquele liquido está cheio de vírus e pode ser transmitido para o dedo, havendo um quadro de contaminação de um local para o outro. Figura 9 – Panarício herpético - Contaminação do dedo com o vírus herpes simples por causa da lesão em boca. Reativação assintomática Recorrências clinicamente evidentes Fabiana Dantas Turino Figura 10 - Infecção ocular - Pode ocorrer quando coçamos a boca e levamos a mão contaminada com o vírus herpes simples para o olho • Cuidar somente dos sintomas e sinais (febre=antipirético; dor=analgésico) • O uso do Aciclovir só é eficaz antes do surgimento das lesões = Fase prodrômica. Suspensão de aciclovir – técnica de bochechar e engolir (nos três primeiros dias de sintomatologia) • Quando as lesões são clinicamente visíveis deve-se esperar sua regressão de 7 dias (casos leves) à 15 dias (casos severos) • Orientações ao paciente e aos familiares O diagnóstico é clinico, não é necessário a biópsia • Caso faça a biópsia iremos ver os principais efeitos em células epiteliais: Degeneração balonizante: O vírus causa a perda dos desmossomos das células epiteliais, então as células que geralmente tinham um formato poligonal ficam com formato arredondado. Acantólise, núcleo claro e aumento Células de Tzanck Vesícula intra-epitelial = edema intracelular: Por causa da perda dos desmossomos uma células começa a se separar da outra levando a formação de uma fenda ou vesícula intra-epitelial, que clinicamente é caracterizado pela formação de bolha. Fusão das células adjacentes = células multinucleadas: Ocasionada pela separação das células epiteliais e posterior fusionamento. Figura 11 - Epitélio normal na direita, mas há desprendimento das células epiteliais uma das outras na esquerda, devido a perda dos desmossomos formando assim as fendas, caracterizando a formação da bolha. Além disso, as células epiteliais ficam redondas. Figura 12 - As células epiteliais se funcionam e formam uma única célula grande com vários núcleos dentro = célula multinucleada Figura 13 - Uma única célula só com várias células dentro = célula multinucleada. Além de ficar redonda, pois perdeu seus desmossomos • Infecção primária – Catapora/Varicela 5-9 anos Maioria dos casos é sintomática; Ocorre em pacientes saudáveis ou não • Latência nos nervos sensitivos (gânglio espinhal dorsal) Reativação – Herpes-zoster (10-20% dos indivíduos) Associada a quadros de imunossupressão, radiação, neoplasias malignas, sensibilidade, álcool e tratamento dentário • Recorrência – Herpes-zoster Características clínicas: Formação de bolhas ou vesículas que se rompem formado úlceras com crostas pruriginosas que coçam Figura 14 - Características clínicas da Varicela – Formação de bolhas ou vesículas que se rompem formado úlceras com crostas pruriginosas que coçam. • Prevalência de ataque aumenta com a idade Espera-se apenas uma recorrência durante toda a vida • Fase: Fabiana Dantas Turino 1) Prodrômica: Antes de aparecer a lesão o paciente sente dor intensa, pois o vírus começa a se replicar dentro das terminações nervosas. Então, ele se replica nas terminações nervosas levandoa quadros de ganglionites (necrose neural) – neuralgia Febre, mal-estar e cefaléia (1-4 dias antes) 2) Aguda: Presença de vesículas em base eritematosa 4-5 dias: vesículas se rompem formando úlceras 3) Crônica: Formação de crostas = cicatrização Marcas de hipo/hiperpigmentação (infecções bacterianas) Na fase prodrômica o paciente sente tanta dor na face que procura o dentista achando que está com dor de dente. Porém, dois ou três dias depois aparece as lesões na face. As lesões de herpes-zoster vão até a linha média, não ultrapassam. Então, se o paciente apresenta lesões do lado direito da face ela vai até a metade do rosto (no resto do corpo acontece a mesma coisa). Os pacientes acometidos pela Herpes-zoster, mesmo meses depois, continuam sentido dor, e para isso damos o nome de neuralgia pós-herpética. Devido essa dor tão intensa o paciente pode cometer suicídio. Figura 15 - Lesões de Herpes-zoster de vesículas e bolhas somente até a linha média Figura 16 - Lesões de Herpes-zoster na boca somente até a linha média • Sintomatológico: antipiréticos e antipruginosos – difenidramina • Sintomatológico • Antivirais: Aciclovir, valaciclovir e Fanciclovir Diminuição da dor aguda e neuralgia pós-herpética Acelera a cicatrização Eficazes se administrado até 72 horas iniciais (fase prodrômica) • Neuralgia pós-herpética = difícil resolução Características clínicas: mononucleose infecciosa • Transmissão geralmente por contato íntimo Exposição quando criança: assintomática (brinquedo na boca) Exposição quando adultos jovens: sintomáticas (beijo – muito comum a mononucleose pós-carnaval) • Sintomas: Febre, linfadenopatia (aumento de volume dos linfonodos e amigdalas – com presença de secreção nas amigdalas), hepatoesplenomegalia e/ou tosse, 20% dos casos há presença de ptéquias no palato. • Quadro prodrômico: fadiga, mal-estar e anorexia • Febre de até 40°C – 2 a 14 dias • 90% dos casos possuem linfadenopatia evidente Figura 17 - Mononucleose infecciosa - aumento de volume das amigdalas com presença de secreção Figura 18 - Mononucleose infecciosa - Presença de ptéquias no palato Feito através dos achados clínicos e exame de sangue quando fazemos o leucograma. • Leucograma: Aumento do número de leucócitos, especialmente de linfócitos (linfocitose) Fabiana Dantas Turino Figura 19 – Leucograma É um tratamento de suporte onde tratamos os sinais e sintomas com antipirético. • Regressão espontâneas – 4 a 6 semanas Tratamento sintomatológico • Complicações incomuns: Ruptura esplênica Hepatite por EBV Paralisia facial • Lesão causada por infecção do vírus Epstein-Barr (EBV) nas células epiteliais • A leucoplasia pilosa é uma das manifestações orais da AIDS: Primeiro descrito em pacientes HIV positivos. Por isso, que muitas das vezes que dá o diagnóstico de HIV para o paciente é o dentista. • Lesão branca em borda lateral de língua não removível por raspagem (bilateralemente). • Inicialmente: estrias finas verticais • Tardia: áreas espessas e corrugadas, superfície áspera • Resumindo: O vírus Epstein-Barr (EBV) causa a leucoplasia pilosa, só que a manifestação da doença é descrita em pacientes HIV+. Figura 20 - Leucoplasia pilosa – Placa branca tanto em borda lateral de língua esquerda e direita Quando vemos essa placa branca em borda de língua devemos raspar para ver se é removível. Se não removeu quer dizer que não é candidíase pseudomembranosa. Se essa lesão em borda de língua ainda for bilateral há hipótese diagnóstica de leucoplasia pilosa. Após, devemos perguntar se o paciente é HIV+, e se ele falar que não podemos solicitar o exame de HIV. Figura 21 - A leucoplasia pilosa pode passar despercebida, nesse caso o paciente possui saburra lingual e leucoplasia pilosa em borda lateral de língua direita e esquerda • As alterações são em células epiteliais • Hiperqueratose • Camada espinhosa Células balonizantes Marginação periférica da cromatina Figura 22 - Leucoplasia pilosa Figura 23 - Leucoplasia pilosa – Técnica de hibridização in situ, onde pegamos uma sonda que é complementar ao DNA do vírus, pinga na lâmina, e as células epiteliais ficam com coloração azulada confirmando a presença do vírus • Não é necessário • Aciclovir por razões estéticas (podem ocorrer recidivas) • Diagnóstico de leucoplasia pilosa = níveis de CD4 e CD8 anormais. Logo, se o paciente faz tratamente para AIDS as lesões da leucoplasia pilosa começam a desaparecer. • Podemos usar a podofilina resinosa, a qual é um antiqueratolítico que destroi a queratina responsável pela formação das lesões brancas. • Pode ser sinal clínico da AIDS • Afastar a possibilidade de imunocomprometimento • Neoplasia multifocal com origem nas células endoteliais vasculares (mesenquimal). Fabiana Dantas Turino • Tumor mais comum em pessoas com AIDS; • Antes da AIDS: Raro, encontrado mais em pacientes com mais de 60 anos. • Surgimento da AIDS: Numero de SK disparou, logo foi percebido essa ligação entre HIV e SK. • HHV-8 (herpes vírus humano do tipo 8): agente etiológico para desenvolvimento do Sarcoma de Kaposi. • Inicialmente lesões vasculares planas assintomáticas (pele ou mucosa bucal) – manchas avermelhadas • Progressão: Placas ou nódulos (aumento de volume), associadas com dor, sangramento, necrose e disfunção oral • SK: Em qualquer região da mucosa bucal, palato duro e gengiva superior sítios mais comuns. • Lesões bucais: 50% pacientes afetados Figura 24 - Sarcoma de Kaposi - Lesões avermelhadas na pele da face Figura 25 - Sarcoma de Kaposi - Na cavidade oral inicialmente vemos manchas avermelhadas ou arroxeadas Figura 26 - Sarcoma de kaposi - Com a progressão das doenças as antigas manchas viram lesões nodulares, sangrentas, avermelhadas na gengiva Figura 27 - Sarcoma de kaposi - Lesão aroxeadas e avermelhadas no palato duro bem sugestivas Figura 28 - Sarcoma de Kaposi em dorso de língua Figura 29 – Sarcoma de Kaposi - Envolvimento de todo palato duro do paciente • Biópsia é necessária: diagnóstico definitivo • Manifestação clínica e histórica da doenla: diagnóstico presuntivo Figura 30 - Sarcoma de Kaposi - Biópsia com proliferação de endotélio vascular, logo, podemos ver células endoteliais que se proliferam associado a grandes áreas de hemorragia (temos presença de hemácias fora dos vasos sanguíneos) Figura 31 - Fazemos uma técnica de imunohistoquímica que vamos pingar um anticorpo com o HHV-8 na lâmina, e se as células ficarem com a coloração marrom significa que tem a presença do vírus no tecido. Fabiana Dantas Turino • Reduzir o número e tamanho das lesões – Usando o coquetel para a compensação do HIV (terapia antiretroviral) • Caso não reduza com a terapia anti-retroviral: Radioterapia, quimioterapia sistêmica • Regressão SK: tratamento anti-retroviral Melhora do sistema imune? Efeito antiviral contra HHV-8 O HPV está frequentemente associado com o câncer de colo de útero, mas também pode causar lesões em boca Características gerais: • Os papilomavírus humanos pertencem a uma grande família de vírus, os papovaviridae • São epiteliotrópicos • Os HPVs infectam a pele e as mucosas • Possuem mais de 100 subtipos, sendo 24 associados com lesões de cabeça e pescoço Dentre as lesões que o HPV pode causar em boca temos: • O papiloma escamoso está associado a dois subtipos virais do HPV: 6 e 11 • Baixa virulência e baixa taxa de infecção • Período de latência de 3 a 12 meses • Mais comum entre a terceira e a quinta década • Apresenta-se como lesão solitária em dorso de língua e em palato mole. • Sítios principais: Língua, lábio e palato mole Características clínicas: • Nódulo exofítico, mole, indolor e geralmente pediculado (projeções semelhantes a dedos) • A coloração pode variardo róseo ao branco • Solitário chegando normalmente a 0,5cm Figura 32 - Papiloma escamoso - Nódulo com projeções mais finas e alongadas, localizadas principalmente em dorso de língua e em mucosa jugal do lado direito. Figura 33 - Papiloma escamoso - Manifestação clássica da doença: lesão nodular com projeções finais localizadas em dorso de língua. Figura 34 - Biópsia: Epitélio de mucosa com projeções epiteliais Tratamento do papiloma escamoso • Excisão cirúrgica (biópsia excional) • A verruga vulgar está associada a quatro subtipos virais do HPV: 2,4,6 e 40 • É contagiosa (alta virulência e patogenicidade) • Não é muito comum na mucosa oral (limita-se ao vermelhão do lábio – semimucosa labial) Características clínicas: • Mais comum em crianças, principalmente nos dedos; • Atinge a mucosa oral por auto-inoculação • Apresenta-se como uma pápula ou um nódulo semelhante ao papiloma escamoso • As lesões orais normalmente são brancas • Crescimento rápido (0,5mm) Figura 35 - Verruga vulgar - Lesão nodular que apresenta projeções finas e menores Fabiana Dantas Turino Figura 36 - Verruga vulgar - Epitélio de semimucosa com projeções, mas não tantas como o papiloma escamoso Tratamento da verruga vulgar • As verrugas de pele e mucosa – Crioterapia (congelamento da verruga), remoção cirúrgica e laser • A recidiva é mais comum com remoção cirúrgica • O condiloma acuminado está associado a sete subtipos virais do HPV: 2,6,11,53, 54 e subtipos virais de alto risco16 e 18; • Sexualmente transmitido, com lesões desenvolvendo-se no local de contato sexual ou trauma (pênis, vagina e cavidade oral) • Indicativo de abuso sexual em crianças • Incubação de 1 a 3 meses • Auto-inoculação para outras mucosas O papiloma escamoso e a verruga vulgar não são sexualmente transmitidos Características clínicas: • Lesões bucais: mucosa labial, palato mole e freio lingual • Contato direto com a lesão • Apresenta-se como múltipla massa exófilitica, séssil, rósea, bem firme com projeções rombudas e curtas Figura 37 - Condiloma acuminado em boca como lesão múltipla no lábio com projeções curtas Figura 38 - Condiloma acuminado – Microscopia: Caracterizado por apresentar alterações celulares causada pelo vírus chamadas de coilocitose, que é um núcleo bem condensado e citoplasma bem claro. Tratamento do condiloma acuminado • Remoção cirúrgica
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