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A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR PERSEGUIÇÃO POLÍTICA E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS AOS POVOS ORIGINARIOS DO BRASIL

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FACULDADE ARNALDO JANSEN 
 
 
 
 
 
 
DANIEL FELIPE DOS SANTOS GOMES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR PERSEGUIÇÃO 
POLÍTICA E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS AOS POVOS 
ORIGINÁRIOS DO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2021 
2 
 
FACULDADE ARNALDO JANSEN 
 
 
 
 
 
 
DANIEL FELIPE DOS SANTOS GOMES 
 
 
 
 
A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR PERSEGUIÇÃO 
POLÍTICA E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS AOS POVOS 
ORIGINÁRIOS DO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à faculdade 
de Direito da Faculdade Arnaldo, para 
obtenção do título de bacharel em 
Direito, sob a orientação da 
 Profa. Dra. Lívia Campos Aguiar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2021 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O trabalho a seguir apresenta uma análise a respeito da responsabilidade civil do 
Estado pela perseguição e violação dos Direitos Humanos dos povos originários do Brasil, 
tendo em vista a evolução legislativa a respeito dos direitos indígenas e discorrendo sobre a 
construção histórica desde a colonização até os dilemas atuais reivindicados pelos povos 
indígenas. Tratou-se também de expor algumas das formas da legitimação do Estado por 
institutos legais que visam a proteção desses povos o implicando a responsabilidade civil por 
injustiças sofridas como a despersonalização da pessoa indígena, e a tomada de suas terras. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. GARANTIAS 
CONSTITUCIONAIS. DIREITO INDÍGENA 
 
ABSTRACT 
 
The following work presents an analysis regarding the civil responsibility of the State for the 
persecution and violation of the Human Rights of the native peoples of Brazil, considering the 
legislative evolution regarding indigenous rights and discussing the historical construction 
from colonization to the current issues claims by indigenous peoples. It was also a matter of 
exposing some of the forms of legitimacy of the State by legal institutes that aim to protect 
these peoples, implying civil responsibility for injustices suffered, such as the 
depersonalization of the indigenous person, and the taking of their lands. 
 
 
KEY WORDS: CIVIL LIABILITY OF THE STATE. CONSTITUTIONAL 
WARRANTIES. INDIGENOUS LAW 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO: 1 Introdução. 2 Escravidão Indígena. 3 Construção Indigenista. 4 
Constituição Federal E O Indígena. 5 Proteção Internacional Aos Direitos Dos Povos 
Indígenas. 5.1 Declaração Da Onu Sobre Os Direitos Dos Povos Indígenas. 6 
Responsabilidade Civil. 7 Povos Indígenas E A Ditadura Militar. 8 Violação E 
Perseguição: Povo Pataxó. 8.1 Dos Crimes Cometidos Pela Polícia Militar Do Estado Da 
Bahia. 9 Responsabilidade Civil Perante A Lei De Anistia. 9.1 Anistia Coletiva Aos 
Indígenas Krenak. 9.2 A Imprescritibilidade Do Pedido De Anistia. 10 Responsabilidade 
Civil Do Estado Perante A Corte Interamericana De Direitos Humanos. 11 O Indígena E 
As Atuais Violações. 12 O Projeto De Lei 490/2007 E Seu Retrocesso Em Relação Ao 
Direito Territorial Indígena. 13 Considerações Finais. 
 
5 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
Estima-se que os povos indígenas, originariamente das terras brasileiras, até o 
contato com os Europeus, eram compostos por 1.400 tribos e aproximadamente 5 milhões 
de indígenas. Separadas por comunidades com diferentes características, como língua, 
praticas culturais e crenças. Classificados em nômades ou seminômades, assim como 
povos africanos se deslocavam com a escassez dos recursos da região habitada. 
A maioria dos povos indígenas residia em aldeias, comunidades pequenas onde 
existia uma organização baseada em hierarquia não tão distante dos não índios 
considerados “mais civilizados”. 
A jornada indígena no Brasil, desde o princípio, fora um assunto delicado e 
conturbado, desde a chegada dos colonizadores (termo que para os indígenas é de um 
saudosismo sem precedentes, preferindo usar o termo “invasores”), considerado como uma 
grande tragedia para todos povos indígenas, pois quando os indígenas perceberam a 
intenção deles em se estabelecerem aqui, notaram a ameaça em relação a suas terras, 
tradições e costumes. 
No decorrer da história brasileira (desde 1500 até os dias de hoje) esse processo de 
colonização foi marcado pelo genocídio, etnocídio e a escravização dos povos originários, 
tornando a história do povoamento indígena na história de despovoamento, visto que o 
total de indígenas anteriormente estava na casa dos milhões de pessoas hoje não ultrapassa 
de 300 mil indivíduos. 
O presente trabalho de conclusão de curso visa estudar por um olhar jurídico, social 
e político a luta indígena pela reparação das inúmeras violações sofridas, causada pela 
inobservância do Estado no tocante da proteção dos direitos humanos. 
O problema que envolve o trabalho a seguir é sobre a discussão que permeia o 
sistema jurídico brasileiro a respeito de atos causados pelo Estado a comunidades 
indígenas, onde a responsabilidade civil de reparação cabe unicamente a ele. Desta forma é 
discorrido as formas legitimas de responsabilização, através de atos jurídicos de cunho 
nacional, e também internacionalmente, visto que a matéria apresenta cunho humanitário. 
A princípio o trabalho faz uma análise histórica a respeito à trajetória do indígena 
no Brasil, expondo conflitos por eles sofrido, e logo em seguida é apresentado como a 
legislação brasileira tratou o indígena e como é definida a obrigação do Estado de garantir 
6 
 
a proteção dos mesmos. Após isso é apresentado o olhar jurídico no âmbito internacional 
em relação aos povos originários, como a aprovação da Declaração da ONU sobre os 
Direitos dos Povos Indígenas, e no que diz respeito a proteção internacional aos direitos 
dos povos indígenas. Diante disso é colocado como funciona a responsabilidade civil 
recepcionando a matéria dos acontecimentos da ditadura militar em relação dos povos 
indígenas. 
Isso exposto, o trabalho discorrerá a respeito do caso Pataxó e a reinvindicação de 
suas terras, conjuntamente com o pedido de reparação civil a respeito de um massacre que 
ocorrera em sua aldeia, causado por agentes do Estado brasileiro. Diante disso é 
apresentado a forma em que o Estado deveria reparar e qual o meio deve ser utilizado, 
assim discorrendo a respeito do povo Krenak e o pedido da anistia coletiva e a 
imprescritibilidade do mesmo. Em seguida, como forma de ilustrar e dar o devido peso a 
matéria, é apresentado um compilado de noticias atuais a respeito das violações sofridas 
pelos indígenas brasileiros, finalizando com a fundamentação do retrocesso do Projeto de 
Lei 490/2007 a qual apresenta uma medida inconstitucional para a demarcação do território 
indígena. 
A discussão exposta no presente trabalho possibilita a reflexão do tema e a 
importância do mesmo em um âmbito geral, onde a matéria nele exposta ultrapassa o 
campo acadêmico, de forma em que a sociedade em geral deveria tratar o caso com mais 
cautela, se esforçando para se livrar do preconceito intrínseco a respeito do indígena, e 
enxergar que o mesmo é pessoa de direitos, direitos esse que lhe são retirados 
dolorosamente. E cabe aos acadêmicos universitários além da fomentação do discurso a 
favor do indígena, o dialogo com o mesmo na tentativa de auxilia-lo pois além do discurso, 
é necessário hoje à ajuda de quem tem voz, para dar voz a quem precisa 
 
2. ESCRAVIDÃO INDÍGENA 
 
A escravidão indígena está ligada ao principal propósito dos europeus, 
especificamente os portugueses, em colonizar a nova terra, e como, diferente dos 
colonizadores da América do Norte, os colonizadores portugueses não deixaram seu reino 
para residir no Brasil, o único intuito era explorar as riquezas naturais da terra e com issoa 
mão de obra disponível era a indígena. Logo, foram usadas ameaças, força física e torturas 
para forçar os indígenas para trabalharem para a Coroa portuguesa, e com isso várias tribos 
7 
 
foram dizimadas quando havia resistência ao trabalho escravo. 
 E assim foi criado a terminologia do “bom selvagem” e o “mal selvagem” 
referindo-se “bom” aquele que se rendia as forças repressivas dos portugueses e o “mal” 
aquele que resistia se recusando aos trabalhos ou fugindo, terminologia essa, depreciativa 
avaliando o povo indígena pela sua conduta submissa com base em sua obediência ao dito 
“superior”, condição análoga a adjetivação a um animal. 
 Visto a resistência e a dizimação de comunidades indígenas, e com a popularização 
do mercado escravista negro, a mão de obra indígena coexistiu com a escravatura negra. 
 
3. CONSTRUÇAO INDIGENISTA 
 
Numa análise mais profunda da construção indigenista, no Brasil utilizar-se-á 
referencial teórico, juristas, ambientalistas e historiadores: 
Segundo Jennings citado por Manuela Cunha (1998, p. 14)1: “A América não foi 
descoberta, foi invadida”. 
Conforme Manuela Cunha (1998, p. 12) o genocídio aos indígenas foi motivado por 
ganância e ambição do homem branco. O homem branco queria suas terras, está com valor 
econômico, persistindo litígios acerca o território até os dias atuais. O desaparecimento dos 
povos indígenas tem uma estrita relação no encontro do Velho Mundo e do Novo Mundo. 
Segundo Manuela Cunha (1992, p. 12)2: 
“Motivos mesquinhos e não uma deliberada política de 
extermínio conseguiram esse resultado espantoso de reduzir uma 
população que estava na casa de milhões em 1500 aos parcos de 200 
mil índios habitam hoje o Brasil.” 
Ainda com a argumentação a historiadora Manuela Carneiro da Cunha diz (1998, p. 
9)3: 
Ao chegarem às costas brasileiras, os navegadores pensaram que haviam atingido o 
paraíso terreal: uma região de eterna primavera, onde se vivia comumente por mais de cem 
anos em perpétua inocência. 
Conforme Thais Luzia Colaço (2003, p. 78)4, com a instalação do Governo Geral, 
 
1 CUNHA, Manuela Carneiro. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia Das Letras, 1998 p.14. 
2 Ibidem p.12 
3 CUNHA, Manuela Carneiro. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia Das Letras, 1998. p.9. 
4 COLAÇO, Thais Luzia; WOLKMER, Antonio Carlos; LEITE, José Rubens Morato (Org.). Os "novos" direitos 
no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2003. p.78 
8 
 
no ano de 1548, inicia a catequese dos índios, para que seja propagado a fé cristã católica. 
Os mesmos são agrupados em aldeias. Thais Luzia Colaço (2003, p. 79)1, no que se refere a 
relação entre Igreja e indígenas, afirma: 
[...] Em alguns momentos que transcorreram dos séculos XVI ao XVII, os 
interesses dos colonos e da Igreja estavam em conflito, pois os membros do clero 
acreditavam na “civilização” dos indígenas por meios pacíficos, por intermédio da 
catequese, ao passo que os colonos estavam interessados exclusivamente na exploração da 
mão de obra indígena por meios violentos. 
De acordo com João Pacheco Oliveira e Carlos Augusto da Rocha Freire (2006, p. 
70), esse Alvará não tratava somente da liberdade dos índios, mas também tinha como 
finalidade: "a dilatação da fé; a extinção do gentilismo; a propagação do Evangelho; a 
civilidade dos índios", entre outras coisas”. 
Em 1838, segundo Cristiane de Assis Portela (2013)2 é criado o Instituto Histórico 
e Geográfico Brasileiro (IHGB). Os indígenas eram vistos como construção da nação, do 
sentimento comum, da construção histórica do Brasil. Entretanto, havia uma 
supervalorização da cultura lusitana, um estereótipo do branqueamento populacional. 
A dissertação de Von Martius, intitulada “Como se deve escrever a história do 
Brasil”, é texto fundador da história oficial do Brasil, estando nela contidos muitos 
elementos do olhar que a historiografia por muito tempo destinou aos povos indígenas. 
Nesta, a história do índio no Brasil tem relevância pelo caráter de exotismo e curiosidade 
que a permeia, devendo o historiador ser instigado pela explicação de como foram 
originadas essas “ruínas de povos”. 
Conforme Thais Luzia Colaço (2003, p. 81)3, a Carta Régia de 1808 “induz a 
violência como recurso e autoriza a escravização por 15 anos dos índios capturados”. 
Segundo Thais Luzia Colaço (2013)4: 
Com a proclamação da independência do Brasil em 1822, sob a influência dos 
ideais liberais, sentiu-se a necessidade de estabelecer na política indigenista, pregando-se o 
término da escravidão e o surgimento de uma nova “raça brasileira”, através da integração e 
da miscigenação. 
 
1 Ibidem p.79 
2 Assis Portela, Cristiane de Por uma história mais antropológica: indígenas na contemporaneidade Sociedade e 
Cultura p.152 
3 COLAÇO, Thais Luzia; WOLKMER, Antonio Carlos; LEITE, José Rubens Morato (Org.). Os "novos" direitos 
no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 81 
4 COLAÇO, Thais Luzia. Os índios e a lei. Disponível em: . Acesso em 20 junho 2021. 
9 
 
De acordo com Manuela Carneiro da Cunha (1998)1, no século XVI, começou-se a 
ter um conceito "menos biológico e mais filosófico" (p. 134). Os índios começavam a 
serem considerados como humanos. José Bonifácio citado propor n Cunha (1998, p. 134), 
escreveu: "Crê ainda hoje muita parte dos portugueses que o índio só tem figura humana, 
sem ser capaz de perfectibilidade". 
Conforme Thais Luzia Colaço (2003)2 só havia uma única lei que tratava sobre os 
autóctones, sendo este o Regulamento das Missões. Este documento era mais 
administrativo do que político e trazia informações referentes a proteção dos índios, para 
que mitigasse a ação com armas do Estado, entre outras coisas. Thais Luzia Colaço ainda 
afirma que apesar da proclamação da Independência a Carta Magna de 1824 não 
mencionava em artigo algum a sequer existência de autóctone no Brasil, assim, não foi 
anotado os conflitos entre indígenas e não indígenas e somente em 1831 foi revogada a 
Carta Régia que permitia violentar indígenas e escraviza-los. 
Na visão de Manuela Carneiro da Cunha (1999, p. 134)3 “os grupos indígenas, sem 
representação real em nível algum, só se manifestam por hostilidades, rebeliões e eventuais 
petições ao Imperador ou processos na Justiça” [...]. A antropóloga ainda traz a questão que 
perpetuou por séculos. No século XVI, afirmavam que os índios não possuíam alma. 
O vocabulário utilizado era de forma contorcida, onde eram referidos como 
inferiores julgando de forma negativa, nuances percebidos no uso de conceitos como 
“bárbaros” e “selvagem”, colocando o indígena como uma espécie diferente, ou que 
representavam um estágio de evolução inferior, onde essa inferioridade não era colocada 
em dúvida. 
A construção da cidadania indígena sofreu várias mudanças, porém, ainda existe o 
estereótipo intrinsecamente na sociedade, onde muito se dá ao fator histórico onde fora 
construído toda uma visão conturbada da figura indígena, onde o índio se trata daquele 
sujeito que vive na floresta, sem comunicação básica, sem qualquer tipo de eletrônico e 
subsistindo de forma ignorante e como citado “selvagem”. 
Por conta dessa interpretação do indígena brasileiro, e pelo não diálogo com o 
mesmo para conhecer sua cultura e respeitar sua identidade, e seu passado referente a 
invasão de suas terras, o litígio por seus territórios continuam, onde o passado reflete os 
 
1 CUNHA, Manuela Carneiro. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia Das Letras, 1998. p. 14 
2 COLAÇO, Thais Luzia; WOLKMER, Antonio Carlos; LEITE, José Rubens Morato (Org.). Os "novos" direitos 
no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2003. p.78 
3 CUNHA, Manuela Carneiro. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia Das Letras, 1998. p. 134 
10 
 
dias de hoje coma desapropriação de suas terras originárias. Entretanto como tentativa de 
reverter o injusto, e trabalhar na construção da cidadania do indígena, o Legislador traz 
direitos e políticas públicas às minorias, especificamente ao indígena. 
 
4. CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O INDÍGENA 
 
Embora os povos indígenas tenham seus próprios direitos e interesses garantidos 
pelo estado, na verdade, a eficácia desses direitos fundamentais ainda é muito baixa e os 
conflitos persistem sobre eles. Nesse sentido, as principais disposições legais que o estado 
dirige aos povos indígenas serão indicadas a seguir. 
O princípio dos direitos dos povos indígenas às suas terras, embora 
sistematicamente desconsiderado, está em vigor pelo menos desde a Carta Real de 30 de 
julho de 1609 do Rei Filipe III da Espanha, primeiro reconhecido pelos índios como 
domínio absoluto sobre as terras ocupadas. Após a promulgação de textos legislativos, os 
mais reconhecíveis foram os direitos dos Povos Indígenas, destacando alguns desses 
direitos: 
 
a) A Constituição Federal de 1934 levantou essa questão primeiro no nível 
constitucional, proteção dos direitos à terra dos povos indígenas: 
 
Art. 129 - Será respeitada a posse de terras de silvícolas que nelas se achem, 
permanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado aliená-las. (Art. 
129, CF de 1934) 
 
b) Estabelecimento do Estatuto do Índio em 1973, Lei nº 6.001 / 73 garantida 
proteção e preservação comunidades indígenas: 
 
Art.1 Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das 
comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, 
progressiva e harmonicamente, à comunhão nacional. (Art. 1º da Lei 6.001/73) 
 
A proteção aos índios também era garantida pelas leis do país: 
 
[...] Aos índios e às comunidades indígenas se estende a proteção das leis do 
País, nos mesmos termos em que se aplicam aos demais brasileiros, resguardados 
os usos, costumes e tradições indígenas, bem como as condições peculiares 
reconhecidas nesta Lei. (Parágrafo único da Lei 6.0001/73) 
 
O estatuto também classifica os índios de acordo com o grau de sua inserção na 
sociedade: 
 
Art. 4º Os índios são considerados: 
I - Isolados - Quando vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem 
poucos e vagos informes através de contatos eventuais com elementos da 
comunhão nacional; 
11 
 
 
II - Em vias de integração - Quando, em contato intermitente ou permanente 
com grupos estranhos, conservam menor ou maior parte das condições de sua 
vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos de existência comuns aos 
demais setores da comunhão nacional, da qual vão necessitando cada vez mais 
para o próprio sustento; 
 
III - Integrados - Quando incorporados à comunhão nacional e reconhecidos 
no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos, costumes e 
tradições característicos da sua cultura. (Art. 4º, Lei 6.001/73) 
 
O estatuto do índio estava em consonância com o Código Civil Brasileiro de 1916 
que caracterizou os índios como "relativamente incapazes" e, portanto, deveriam ser 
protegidos pelo órgão estatal indígena, até que forem integrados à sociedade brasileira. No 
entanto, esta classificação tornou-se incompatível após a Constituição de 1988. Até a 
promulgação da Constituição, era o Estatuto que regia as relações estaduais/nacionais com 
povos indígenas. 
A Constituição Federal de 1988 é a constituição que mais reconheceu e garantiu 
esses direitos indígenas. A constituição é fruto de uma mobilização muito grande por parte 
dos índios e deles defensores que lutaram pela inclusão na nova constituição, que dedicou 
um capítulo pelos direitos dos povos indígenas. Após a promulgação da nova constituição, a 
lei indígena começou a ser reconhecido constitucionalmente. A Constituição Federal de 
1988 estabeleceu novas relações entre Estado, sociedade e comunidades indígenas. Portanto, 
em Art. 216 da CF os índios são reconhecidos como patrimônio cultural Brasileiro: 
 
 
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material 
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à 
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade 
brasileira. (Art. 216, CF/88) 
 
O conceito legal sobre as terras indígenas também apareceu pela primeira vez nessa 
Constituição, reconhecendo os direitos originais dos povos indígenas à terra que 
tradicionalmente ocupam. Onde as definiu: 
a) as habitadas em caráter permanente; 
 
b) as utilizadas para suas atividades produtivas; 
 
c) as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-
estar e, 
d) as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e 
tradições. 
Isso revela dois pressupostos constitucionais a saber: os direitos originários, que 
12 
 
legitima o direito à terra, e a ocupação tradicional, que demonstra obtenção do direito à 
terra. 
Lásaro Moreira da Silva diz: “O termo originário designa um direito anterior ao 
próprio Estado brasileiro, uma posse congênita, legítima por si mesma, ao contrário da posse 
adquirida que precisa preencher os requisitos civilistas para o reconhecimento”. 
Da mesma forma, José Afonso da Silva afirma que reconhecendo a esse direito 
originário, a Constituição Federal de 1988 tem como base o instituto Indigenato, que é o 
direito indígena à terra é inato por ser um instituto luso-brasileiro. 
Portanto, claramente, os direitos originais ou primários dos povos indígenas caem 
diretamente, também, no conceito de terras tradicionalmente ocupadas por eles como 
presente na Constituição Federal. Para ser mais preciso, no Artigo 1º Art. 231: 
§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter 
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos 
ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, 
costumes e tradições. 
Este conceito possui quatro elementos básicos complementares, a saber: a) 
Habitação permanente; b) terras utilizadas para atividades produtivas; c) torna-se essencial 
proteger os recursos ambientais necessários ao seu bem-estar; e d) necessárias à sua 
reprodução física e cultural. 
Percebe-se que quando se trata de terras tradicionalmente ocupadas, não se refere à 
antiguidade, ou seja, a posse desde a antiguidade, mas se refere à forma como os indígenas 
se relacionam com a terra para sobreviver. 
Carlos Frederico Marés de Souza Filho1 afirmou que a Constituição Federal 
Brasileira é a primeira da América Latina a apoiar o direito dos povos indígenas de se 
tornarem grupos diferenciados na sociedade brasileira. 
Esses novos direitos relacionados aos povos indígenas podem ser chamados de 
direitos socioambientais. Marcos Antonio Lorencette Monte2 afirmou: “O direito à vida, a 
diversidade, a tolerância, os valores culturais locais, a multietnicidade e a biodiversidade 
revelam os princípios básicos que orientam o desenvolvimento da sociedade humana. 
Interpretação e aplicação dos direitos sociais e ambientais”. 
 
1 MARÉS, C. F. 2002. Introdução ao direito sócio-ambiental. In: LIMA, A. (org). O direito para o Brasil 
sócioambiental. Porto Alegre 
2 MONTE, Marcos Antonio Lorencette. O pluralismo jurídico e os povos indígenas no Brasil. Dissertação 
(Mestrado) – Curso de Pós graduação em Direito, Universidade Federal de Santa Catarina, 1999. 
13 
 
No entanto, Juliana Santilli (2005, p. 26)1 apontou: 
A palavra socioambiental, portanto, não foi inserida na Constituição de 1988. 
Para entender o que sejam direitos socioambientais é necessário partir do 
conceito de direitos coletivos, inseridos na Constituição […]. 
De acordo com Carlos Frederico Marés de Souza Filho2, outras questõesrelacionadas aos direitos sociais e ambientais também são destacadas, como o direito ao 
patrimônio cultural imaterial: 
[…] a preservação do patrimônio cultural brasileiro foi outro tema introduzido na 
Constituição de 1988 após pressão da vontade popular, garantindo não só a 
proteção dos bens materiais como dos imateriais portadores de referência à 
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade 
brasileira. 
Segundo Carlos Frederico Marés de Souza Filho (2002)3, ao reconhecer que as 
tradições, os costumes, os usos e as tradições são legais, inovou e trouxe um paradigma da 
modernidade, que os membros dos países latino-americanos também seguiram. 
Na ótica de Marcos Antonio Lorencette Monte (1999, p. 59)4 na Constituição de 
1988 “não é mais o índio que necessita entender e incorporar-se à sociedade brasileira, mas 
sim, esta deve buscar entender os valores e concepções étnicos culturais de cada povo 
indígena [...]”. 
Segundo Juliana Santilli (2005, p. 42)5, a Carta Magna “segue as óbvias tendências 
multiculturais e multiétnicas, reconhece os direitos coletivos dos povos indígenas e 
quilombolas e garante que gozem de direitos territoriais especiais”. 
O artigo 231 da Constituição Federal (BRASIL - A, 2013)6 positiva: 
São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e 
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, 
competindo à União demarcá-las, proteger, fazer respeitar todos os seus bens. 
A Carta Magna de 1988 garante que os povos indígenas possam viver plenamente e 
respeitar a cultura, crenças e valores porque reconhece novos direitos. 
O artigo 231 da Carta Magna traz uma série de direitos aos povos indígenas. Com 
 
1 SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. 
São Paulo: Petrópolis, 2005. 
2 MARÉS, C. F. 2002. Introdução ao direito sócio-ambiental. In: LIMA, A. (org). O direito para o Brasil 
sócioambiental. Porto Alegre: SAFE. 
3 Ibidem 
4 MONTE, Marcos Antonio Lorencette. O pluralismo jurídico e os povos indígenas no Brasil. Dissertação 
(Mestrado) – Curso de Pós graduação em Direito, Universidade Federal de Santa Catarina, 1999. 
5 SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. 
São Paulo: Petrópolis, 2005. 
6 BRASIL - A, República Federativa do. Constituição Federal. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> 
14 
 
relação às terras tradicionalmente ocupadas por povos indígenas, a Constituição estabelece 
no artigo 20, inciso XI, que são de propriedade da Federação e, portanto, seu patrimônio. 
Portanto, no que se refere a este assunto, o artigo 231 §2, estipula que essas terras se 
destinam a ser propriedade permanente de povos indígenas, e o artigo 231 §4, afirma que 
essas terras são inalienáveis e indisponíveis. 
Existem outras disposições constitucionais relativas aos povos indígenas, a saber: 
Artigo 20, XI lista os territórios indígenas como propriedade da União, Artigo 22, XIV 
estipula que somente a União tem o direito de legislar sobre os povos indígenas; Artigo 49, 
XVI declara que o Congresso Nacional é o único responsável pelo desenvolvimento e a 
exploração dos recursos naturais em terras indígenas o artigo 109 prevê jurisdição sobre 
disputas envolvendo povos indígenas, ou seja, a Justiça Federal. 
O §6º, do artigo 231 da Constituição Federal afirma: "São nulos e Santilho extintos, 
não produzindo efeitos jurídicos os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a 
posse das terras a que se refere este artigo." 
Segundo Carlos Frederico Marés de Souza Filho, não há porque confundir 
propriedade indígena com propriedade privada: 
É necessário verificar o que significa posse indígena, estando claro que não se 
confunde com a posse civil do receituário privado, porque esta é individual e 
material, enquanto a indígena é coletiva e exercida segundo usos, costumes e 
tradições do povo [...] 
Falando em direitos socioambientais, Juliana Santilli (2005, p. 84)1 afirmou que “o 
multiculturalismo penetra claramente no artigo 210, parágrafo 2º da Constituição Federal” 
(Brasil-A, 2013), que positiva: 
Art. 210: Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de 
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e 
artísticos, nacionais e regionais. 
§ 2º - O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, 
assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas 
maternas e processos próprios de aprendizagem. 
Juliana Santilli (2005, p. 84)2 afirma que 
 […] tal dispositivo revela a preocupação do constituinte com a transmissão das 
línguas indígenas às novas gerações, e é complementado pelo artigo 215, 
 
1 SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural. 
São Paulo: Petrópolis, 2005. 
2 Ibidem 
15 
 
parágrafo 1º, que obriga o Estado a proteger as manifestações culturais dos povos 
indígenas e de outros grupos integrantes da sociedade brasileira. 
Considerando que a maioria desses cursos traz apenas visões jurídicas positivistas, 
ao invés de dialogar com outras áreas científicas, a atenção à aplicação dos direitos dos 
povos indígenas deve ser tema de pesquisa nos cursos de direito brasileiro. Enfatiza a 
importância do diálogo intercultural entre o judiciário e os povos indígenas, a fim de 
resolver os conflitos que envolvem os povos indígenas e possibilitar à administração a 
implementação de novas políticas públicas para os povos tradicionais. 
 
5. PROTEÇÃO INTERNACIONAL AOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS 
 
A aplicação dos direitos humanos relativos aos povos indígenas deve levar em 
consideração a organização social, os usos, os costumes e as tradições dos povos indígenas, 
bem como a natureza coletiva dos bens que constituem seu patrimônio cultural, territorial e 
ambiental. (OLIVEIRA, 2011, p. 144.)1 
A proteção dos direitos humanos dos povos indígenas deve ser feita coletivamente, 
além de seus direitos individuais, porque "a ênfase tradicional no reconhecimento dos 
direitos individuais significa que a proteção dos povos indígenas é insuficiente e 
insatisfatória, e eles têm características coletivas única. 
Esse entendimento passa a ser objeto de resistência por parte de alguns países, 
especialmente no que diz respeito à obtenção de um consenso mínimo em termos como 
povos ou nações indígenas, territórios indígenas e decisões livres. 
Portanto, durante a reunião preparatória da Conferência Mundial de Durban contra 
o Racismo em 2002 na África do Sul, o Reino Unido defendeu o tratamento dos direitos 
indígenas como direitos individuais. No entanto, quando a Conferência aprovou a 
"Declaração e Plano de Ação contra o Racismo", foi uma decisão consensual reconhecer os 
direitos coletivos dos povos indígenas, avançando, assim, significativamente no trato da 
questão dos direitos indígenas. 
 
5.1 DECLARAÇÃO DA ONU SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS 
 
 
1 OLIVEIRA, Paulo Celso de, Os Povos Indígenas e o Direito Internacional dos Direitos Humanos, artigo parte 
da Obra Direitos Humanos – Volume I, Coordenado pela Professora PIOVESAN, Flávia, Juruá Editora, Curitiba, 
2011, p. 144 
16 
 
Em 13 de setembro de 2007, após mais de 20 anos de tramitação, foi aprovada a " 
Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, consagrando os direitos 
coletivos desses povos, reconhecendo e reafirmando que esses direitos coletivos 
indispensáveis à sua existência, bem estar e desenvolvimento integral, enquanto povo.” 
A declaração foi ratificada por 143 países, onde o Brasil aderiu também, com 11 
abstenções,dentre eles a Argentina e teve apenas 4 votos contra, incluindo Estados Unidos 
da América, Nova Zelândia, Canadá e Austrália. 
Cabe destacar que o apoio do Brasil à declaração se manifesta na medida em que o 
texto aprovado pelo Conselho de Direitos Humanos é o mais capaz de tratar dos assuntos em 
questão e que o exercício dos direitos dos povos indígenas é consistente com a soberania e 
integridade territorial do país em que vivem. 
Dezessete dos 46 artigos da Declaração menciona a cultura indígena e as formas de 
protegê-la e promovê-la, respeitando as demandas diretas dos povos indígenas no processo 
de tomada de decisão. Além disso, reconhece o direito dos povos indígenas de viver em 
integridade, liberdade e segurança, e reconhece seu direito de não serem assimilados à força 
ou privados de sua cultura. 
A declaração também leva em consideração a estreita relação entre os povos 
indígenas e o meio ambiente, lembrando que as terras ancestrais dos indígenas são a base de 
sua existência coletiva, de sua cultura e de seu espírito, conforme já reconhecido pela 
Constituição Federal de 1988. Afirma que os povos indígenas têm o direito de que sejam 
considerados plenamente a diversidade de sua cultura, história e preocupações na educação 
pública e na mídia. 
A Declaração reconhece o direito à autodeterminação dos povos indígenas, 
reconhece o direito à sobrevivência e os direitos à terra, território e recursos, e estipula a 
obrigação dos Estados de consultar os povos indígenas antes de adotar e implementar 
medidas legislativas e administrativas que os afetem buscando assim obter o consentimento 
prévio, livre e informado. 
Em essência, a declaração condena a discriminação contra os povos indígenas e 
promove sua participação efetiva e plena em todos os assuntos relacionados a eles, bem 
como seu direito de manter sua identidade cultural e tomar suas próprias decisões sobre seus 
estilos de vida e métodos de desenvolvimento. 
Ban Ki-moon Ex-Secretário-Geral das Nações Unidas diz: 
“à adoção da Declaração é um marco na história da ONU, quando os Estados-
17 
 
Membros e os representantes dos povos indígenas conseguiram se reconciliar com seu 
doloroso passado e se dispuseram a seguir em frente no caminho que leva aos direitos 
humanos, à justiça e ao desenvolvimento para todos. O Secretário-Geral pede aos governos e à 
sociedade civil que incluam em suas agendas as questões indígenas para que o estabelecido na Declaração 
se transforme, urgentemente, em realidade.” 
O Brasil deve colocar em prática os compromissos que defendeu e firmou 
internacionalmente, e dar-lhes o máximo efeito, de modo a evitar que as disposições da 
Declaração em apreço sejam consideradas meramente programáticas. Porém, A posição 
atual do Supremo Tribunal Federal provou ser ambígua e inconsistente com o 
compromisso internacional do Brasil de cumprir a jurisdição internacional de direitos 
humanos: o Brasil ratificou tratados de direitos humanos, mas não pode cumprir as ordens 
normativas interpretadas pela comunidade internacional. 
Embora a declaração das Nações Unidas não tenha a natureza jurídica dos 
tratados internacionais de direitos humanos e, portanto, não seja vinculativa, deve-se 
reconhecer que ela reflete as normas consuetudinárias internacionais que protegem os 
direitos humanos dos povos indígenas e, ainda, elemento de interpretação dos demais 
documentos internacionais de proteção a tais direitos. 
 
6 RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
Embora o Estado tenha a obrigação de proteger as ações contra as questões 
indígenas, o que se verifica é a clara manifestação do poder administrativo ao negligenciar 
a obrigação de proteger os povos indígenas e ignorar as políticas públicas. 
Em termos de aspectos interculturais, a Constituição Federal considera os 
diversos grupos que compõem a sociedade brasileira, com temas que abrangem a 
propriedade, os projetos de vida e a interação social. Portanto, ao proteger a diversidade 
cultural, a Constituição garante o pluralismo e impede qualquer outro grupo, seja ele 
hegemônico, religioso ou mesmo o próprio país, de tomar decisões pelos povos indígenas 
e, consequentemente, a forma em que se relacionam e seus modos de vida. Existem várias 
medidas de proteção legal em nossas leis e regulamentos que visam resistir à assimilação 
da cultura periférica pela cultura dominante. No entanto, ao longo do tempo, a efetivação 
dos direitos indígenas vem ocorrendo gradualmente e muitas vezes é omissa. Um exemplo 
disso é a política de divisão territorial. 
18 
 
Por outro lado, as disposições sobre responsabilidade civil do Estado podem ser 
consideradas o mecanismo básico de defesa de todos os indivíduos contra o poder público. 
Em vista da omissão, mesmo que haja controvérsias sobre a responsabilidade civil Estado 
no campo jurídico, é importante considerar a corrente que apoia a ideia em que as pessoas 
Jurídicas de direito público devem responder objetivamente por danos causados a 
terceiros, em atos comissivos e também por atos omissivos, onde no último caso deve ser 
demonstrado p nexo entre o dano e a omissão específica do Poder Público. 
Em suma, defende a tese de que atos ilícitos causados pela omissão do governo 
em lidar com as atuais questões indígenas também podem levar ao reconhecimento da 
responsabilidade objetiva do Estado. 
Nesse sentido, os termos estão contidos no art. O artigo 37 §6 da Constituição 
Federal adota a chamada teoria do risco administrativo. Portanto, a responsabilidade civil 
decorre de atos ilícitos do poder público quando constitui violação do princípio da 
legalidade, e também o princípio da isonomia deve ser observado. 
No que se refere às omissões, entende-se que a responsabilidade também é 
objetiva, o que se sustenta no entendimento de que há uma omissão específica, ou, para 
ser mais preciso, quando há a constatação de que situação referido foi propiciada pelo 
Estado. 
Com foco nas políticas indígenas atuais, a postura omissiva no combate à 
discriminação e no respeito à diversidade dos povos indígenas é evidente, potencializando 
cada vez mais os riscos de desestruturação cultural indígena além de promover 
indiretamente uma atmosfera de insegurança jurídica e violência potencial e real. 
Entre os diversos desafios enfrentados pelos povos indígenas no Brasil, além de 
ignorá-los e privá-los de seus direitos, estão a superação da discriminação estrutural e da 
invasão de terras historicamente arraigadas. 
Em termos de responsabilidade civil, pode-se inferir que, diante de uma omissão 
específica, o Estado favorece situações que ameaçam os direitos dos povos indígenas, ao 
mesmo tempo em que tem a obrigação de agir para prevenir qualquer oposição ao 
adequado cumprimento da lei. 
Além da responsabilidade civil do estado por atos omissos, existem inúmeros 
casos comissivos, onde temos a legitimidade integral é do Estado, como os atos citados a 
seguir referentes a violação de direitos fundamentais no período da ditadura militar. 
 
19 
 
7 POVOS INDÍGENAS E A DITADURA MILITAR. 
 
Sabe-se que milhares de indígenas foram mortos na história do Brasil, desde a 
invasão dos portugueses até os dias de hoje. O período ditatorial brasileiro tentou 
“socializar” os índios, transformando-os em gente civilizada. Essa socialização irracional 
se deu por meio de políticas institucionalizadas por parte dos ditadores latino-americanos 
e, principalmente, no Brasil, no período de 1946 a 1988. 
A socialização dos povos indígenas tinha como base a política de 
desenvolvimento do governo ditatorial. É possível encontrar inúmeros documentos e 
denúncias de corrupção, apropriação indébita de terras indígenas, homicídios e corrupção. 
Entre os inúmeros documentos está o Relatório Figueiredo, elaborado por Jader 
Figueiredo em 1968, apontando irregularidades no Serviço de Segurança do Índio (SPI). 
O relatório Figueiredo foi um inquérito que constatouviolações de direitos 
humanos aos Índios cometidos por servidores do SPI em 1967. Para tanto, o Brasil lançou 
uma expedição investigando as irregularidades do órgão de proteção indígena. O relatório 
constatou violações de territórios indígenas em que servidores públicos declararam 
fraudulentamente a inexistência de determinados territórios para alienar a terra para 
determinados grupos econômicos (FIGUEIREDO, 1967)1. Além disso, tortura, prisões 
abusivas e uso de trabalho escravo por índios também foram documentados 
(FIGUEIREDO, 1967). 
Pelas conclusões do relatório Figueredo, é impossível negar o genocídio 
cometido contra os índios. O relatório Figueiredo, de 7 mil páginas, indica a necessidade 
de reformular as políticas indígenas e punir quem comete essa ilegalidade. 
Em resposta a essas alegações de genocídio cometido pelo estado brasileiro, a 
Fundação Nacional do Índio foi criada em 1967 para substituir o SPI. De acordo com a 
Lei nº 5.371 de 1967, a FUNAI considera como diretrizes o respeito às instituições e 
comunidades indígenas, a preservação da cultura e a garantia da adaptação natural. 
Devido ao surgimento de uma legislação para abolir direitos, como a Lei 
Institucional nº 5 (SCHWARCZ; STARLING, 2015) 1968 parece ser o pior momento da 
ditadura brasileira, além disso, foi criado o Plano de Integração Nacional (PIN) em 1970 
para incentivar os empresários a ocuparem a região amazônica. De acordo com as 
observações, o sistema legal tentou proteger os índios em 1967, mas para se opondo a 
 
1 Relatório Figueiredo disponível em https://midia.mpf.mp.br/6ccr/relatorio-figueiredo/relatorio-figueiredo.pdf 
https://midia.mpf.mp.br/6ccr/relatorio-figueiredo/relatorio-figueiredo.pdf
20 
 
esses direitos, surgiram empresas de desenvolvimento que começaram a eclodir no Brasil 
por meio do Banco Mundial e outras grandes instituições financeiras. Além disso, 
empresários pressionaram a ditadura para a realização de projetos de infraestrutura nas 
regiões Norte do Brasil. 
O ditador Geisel afirmou que “nós (o governo) vamos formular uma política de 
integração da população indígena à sociedade brasileira no menor tempo possível”. Da 
mesma forma, o ministro Rangel Reis afirmou em 19761 que “Índios não podem impedir 
o progresso (...) Não haverá mais índios no Brasil dentro de 10 a 20 anos” 
A necessidade de integração dos índios com a sociedade brasileira, bem como a 
socialização da Região Norte com o restante do Brasil, por meio de projetos de 
infraestrutura, visava o desenvolvimento econômico, desconsiderando as características 
culturais dos povos tradicionais. A doutrina da segurança nacional ajudou a legitimar as 
graves violações de direitos humanos cometidos contra os indígenas. O governo militar 
considerava os índios como inimigos da defesa do território brasileiro. Tendo como 
argumento que seriam influenciados por interesses internacionais (CAPITAL, 2015). 
Alguns documentos também indicam que o Conselho de Segurança Nacional 
considerou o Comitê de Missionários Indígenas (CIMI) como uma organização comunista 
em 1986. Isso porque o CIMI foi criado para tratar das violações dos direitos indígenas a 
respeito à criação da Rodovia Transamazônica, portanto, a organização se caracterizou 
como uma organização subversiva que viola os interesses do desenvolvimento nacional. 
Pelo menos 8.000 índios foram mortos pelo governo militar. Isso significa que 
morreram mais indígenas do que não-índios durante a ditaduras, como por exemplo os 
perseguidos políticos. Usando esse número no campo do crime racial significa genocídio. 
Portanto, a conclusão a que se chega é que os povos indígenas eram um entrave 
ao desenvolvimento das políticas do regime militar brasileiro. Os povos tradicionais eram 
vistos como incivilizados, sem cultura, e isolados, sendo preciso que o Estado os socialize 
para transformá-los em brasileiros normais, ainda que seja necessário à sua eliminação 
para beneficiar grupos econômicos. 
 
8 VIOLAÇÃO E PERSEGUIÇÃO: POVO PATAXÓ 
 
 
1 COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Relatório Final. Texto 5 – Violações de direitos humanos dos 
povos indígenas. 
21 
 
Os seguintes parágrafos narram a história do povo da Aldeia Mãe Barra Velha do 
Povo pataxó, fatos esses, documentados e narrados por moradores locais, testemunhas e 
vítimas de violação de direitos humanos, relatos esses documentados nos artigos 
científicos redigidos por integrantes da Aldeia1. 
A aldeia Mãe Barra Velha do povo indígena Pataxó, localizada em Porto Seguro, 
Bahia, foi alvo de inúmeras violações dos direitos humanos, sendo marcada pelo evento 
denominado Fogo de 51 em 1951. No governo de Getúlio Vargas, e infelizmente, essa 
violação perdurou até a década de 1980 onde iniciou-se um processo lento e tortuoso de 
retomada de terras, processo que se estende até o dia de hoje 
A localização da Aldeia Mãe Barra Velha é motivo de disputa, pois foi o local 
onde os portugueses chegaram ao território brasileiro com seus veleiros em 1500, e uma 
das mais belas praias do litoral brasileiro está localizada nesta área, conhecida como Ponta 
do Corumbau, existe também o Parque Nacional do Monte Pascoal, no qual a presença de 
indígenas não colabora com o interesse do governo no desenvolvimento do turismo na 
região. 
As lideranças da aldeia procuraram expor o que estava sendo feito e 
conseguiram, por meio de Honório Borges2, em 1951, ir à cidade do Rio de Janeiro / RJ e 
contatar o SPI - Serviço de Proteção ao Índio, que infelizmente oferecia proteção 
questionável, pois eles acreditavam que a vida dos povos indígenas era transitória e que 
ele deveria passar por um processo de civilização pelos não indígenas. Honório Borges 
voltou muito feliz ao encontrar lá um engenheiro que o informou que viria à aldeia para 
fazer a demarcação. 
Em 1951, duas pessoas que se diziam antropólogos e engenheiros se ofereceram 
para ajudar. Eles prometeram acabar com os problemas da comunidade, mas criaram uma 
armadilha para acusar os índios. O povo Pataxó foi enganado, o que criou uma 
oportunidade para a polícia invadir suas terras. Hoje, eles acreditam que foram pessoas 
enviadas por fazendeiros para dividir a terra de forma injusta. Os confrontos entre a 
polícia e os indígenas resultaram na morte de muitos indígenas, na queima de cabanas, no 
estupro de cinco mulheres e na tortura de crianças. Este episódio é denominado "Fogo de 
51". Em busca de melhores condições de vida, os indígenas que ocupavam o litoral do 
 
1DOS SANTOS, Erilsa Braz: A história da demarcação da Terra Indígena Barra Velha. UFMG 
 
2 DOS SANTOS, Erilsa Braz: A história da demarcação da Terra Indígena Barra Velha. UFMG 
22 
 
Brasil se deslocaram lentamente para o interior do país. 
Policiais das cidades de Prado e Porto Seguro alegaram ter recebido a denúncia 
do Instituto Brasileiro de Defesa Florestal e trouxeram Honório Borges detido para 
Salvador, que logo nunca mais foi visto. Tudo mostra que o SPI fez todas as ligações para 
que o Fogo de 51 ocorresse, atendendo à meta do governo de 1943, de instalar o Parque 
Nacional de Monte Pascoal e retirar os indígenas da área. 
De 1951 a 1964, este foi o período de reconstrução da aldeia Mãe Barra Velha, 
mas com a aproximação do regime militar, mais torturas começaram a ocorrer em quase 
todo o período da ditadura militar no Brasil, impedindo-os de produzir alimentos, caça, 
pesca, etc. 
Após o massacre de 19511, cada aldeia elegeu um cacique e um cacique geral. O 
massacre teve um impacto psicológico e social em todos os índios. Ainda hoje, existe o 
receio em mostrar sua identidade e temem que sua cultura seja a causa da violência. 
Muitas pessoas têm medo de usar seu artesanato fora da aldeia e tentam e se esforçam 
para não parecerem índios. O Pataxóestava emocionalmente instável devido a uma série 
de acontecimentos trágicos, que fragilizaram sua organização social e tornaram 
extremamente inseguras suas relações internas e com a sociedade envolvente, conforme 
relatado pelo Ancião Palmiro Ferreira Santos: 
“Aí começa a fome em Barra Velha, a gente não podia pescar, caçar, plantar, 
fazer roças, era muito ruim, nem pegar nosso caranguejo. Quando fazia a roça, 
os guarda destruíam tudo, isso já foi nos anos de 1963. Quando os guardas do 
IBDF estavam fazendo a fiscalização do parque, se pegasse o parente andando 
na estrada, queria amarrar as mãos dele no rabo do cavalo, levava preso. Sabe 
o que era nossa comida? Banana verde pisada com caranguejo, se a gente não 
podia plantar.” Diz o Ancião Palmiro Ferreira Santos, nascido no dia 18 
de janeiro de 1932, na aldeia Barra Velha, filho de Epifânio Ferreira e de 
Jenerâna. 
 
E ainda há relatos de perseguições daqueles que iam realizar pesca nos 
manguezais da região: 
“[...]Nós sofremos bastante, os guardas do IBDF, não deixavam a gente 
mariscar no mangue. 
 
1 DOS SANTOS, Leandro Braz: HISTÓRIA DO PONTO DE VISTA PATAXÓ: TERRITÓRIO E 
VIOLAÇÕES DE DIREITOS INDÍGENAS NO EXTREMO SUL DA BAHIA 
 
23 
 
Foi com ajuda do mangue que criei meus oito filhos, quando a gente ia ao 
mangue havia uns guardas por nome Siquara e Beijinha que nos perseguiam, 
as mulheres eram quem iam constantemente ao mangue, quando voltávamos 
do mangue, tínhamos que trocar de roupa para lavar, pois tínhamos pouca 
roupa. [...]” Relata a Anciã Domingas da Conceição Braz, nascida na 
aldeia Barra Velha, Esposa do Pajé Caruncho. 
 
O Art. 231 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
legitima todo o aparato cultural, social e material ao índio e no seu parágrafo §6 declara 
nulo qualquer ato que tenho como objeto a ocupação de terras indígenas: 
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, 
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que 
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer 
respeitar todos os seus bens. 
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham 
por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este 
artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos 
nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o 
que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a 
indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às 
benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé. 
 
8.1 DOS CRIMES COMETIDOS PELA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA 
BAHIA 
 
Analisando o caso, os relatos de moradores da Aldeia Mãe Barra Velha, é 
carregado de crimes cometidos pela Polícia Militar, ou por soldados do IBDF (Instituto 
brasileiro de Desenvolvimento florestal). 
Relatados são: 
 
1) Homicídio Qualificado 
Art. 121. Matar alguém: 
§ 2º Se o homicídio é cometido: 
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio 
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
“[...]você via índio morto, criança morta ali na porta da igreja dependurada 
24 
 
num samburá. E desse dia em diante que foi o sofrimento da gente[...]” 
Relato de José Sales, 71 anos, aldeia Barra Velha1 
 
2) Estupro 
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter 
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. 
“[...]Minha madrinha foi estrupada por 14 policiais junto de seu marido.” 
Relato de José Sales, 71 anos.”2 
 
3) Lesão corporal grave 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Lesão corporal de natureza grave 
 § 1º Se resulta: 
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
“[...]eles atiraram em vovô e baliaram a perna dele, e peguei a chorar, eu era 
pequena e não aguentava correr. E teve um deles [índio Pataxó] que falou bem 
assim: “Nós podia era matar era ela”. Aí a polícia falou bem assim: “Não mata 
ela porque ela é uma criança e não sabe de nada e não deve nada, nós deve 
pegar é o velho”. Relato de Maria Coruja, 70 anos, aldeia Barra Velha3 
 
4) Tortura 
Art. 5º CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO 
BRASIL inciso III: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do 
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou 
degradante; 
“Eu era pequeno andava agarrado na saía de minha vó, todo cortado de tiririca 
e vestido num camisão, aí pegaram minha tia, minha avó amarram o cordão 
nas mãos, encambaram elas duas, Manoel de Fragoso também foi amarrado 
mais meu avô, tudo amarrado por um cordão. Só eu que não amarraram que 
eu era pequeno. Então pegaram nós e trouxeram para Barra Velha, quando 
 
1 DOS SANTOS, Erilsa Braz: A história da demarcação da Terra Indígena Barra Velha. UFMG 
2 DOS SANTOS, Erilsa Braz: A história da demarcação da Terra Indígena Barra Velha. UFMG 
3 Ibidem 
25 
 
cheguemos e olhemos tinha muita gente na pracinha da Barra Velha vários 
índios apanhando, os políciais tinha um facão pequeno e eles ía no peito das 
pessoas e batia e depois ia nas costas e batia. Meu avô, morreu por causa 
disso, das porradas e Manoel de Fragoso tomou muita porrada, mas só que 
aguentou e tá aguentando. E meu avô morreu por causo disso, ele botava 
sangue pela boca, ele botou muito sangue pela boca e morreu em Cachoeira 
do Mato nesse sertão aí pra dentro. Então eles pegaram nós e levaram todos 
para Caraíva lá tinha um sobradão assim, aí botaram nós todos lá em cima, 
tinha um quarto para as mulheres e outro para os homens. Então o pessoal de 
Caraíva chegava lá para ver a gente e falava bem assim: “Amanhã vocês vão 
morrer tudo, chegou um avião cheio de policia para matar vocês seus 
ladrões”. Aí as mulheres choravam”. Pedro Ferreira 71 anos, Aldeia Barra 
Velha1 
 
9 RESPONSABILIDADE CIVIL PERANTE A LEI DE ANISTIA 
A Lei 10.559.2002 Art.1º II: 
Art. 1o O Regime do Anistiado Político compreende os seguintes direitos: 
II - Reparação econômica, de caráter indenizatório, em prestação única ou em 
prestação mensal, permanente e continuada, asseguradas a readmissão ou a promoção na 
inatividade, nas condições estabelecidas no caput e nos §§ 1o e 5o do art. 8o do Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias; 
E o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias no artigo 8º: 
 Art. 8º É concedida anistia aos que, no período de 18 de setembro de 1946 até a 
data da promulgação da Constituição, foram atingidos, em decorrência de motivação 
exclusivamente política, por atos de exceção, institucionais ou complementares, aos que 
foram abrangidos pelo Decreto Legislativo n.º 18, de 15 de dezembro de 1961, e aos 
atingidos pelo Decreto-Lei n.º 864, de 12 de setembro de 1969, asseguradas as promoções, 
na inatividade, ao cargo, emprego, posto ou graduação a que teriam direito se estivessem 
em serviço ativo, obedecidos os prazos de permanência em atividade previstos nas leis e 
regulamentos vigentes, respeitadas as características e peculiaridades das carreiras dos 
servidores públicos civis e militares e observados os respectivos regimes jurídicos. 
Dessa forma, como supracitado, o instituto da Anistia cabe no caso da 
perseguição política e o massacre de 1951, onde encaixa no período salvo e supri o 
requisito que define que a perseguição foi decorrente por motivos políticos, um desafio em 
 
1DOS SANTOS, Erilsa Braz: A história da demarcação da Terra IndígenaBarra Velha. UFMG 
26 
 
que a individualidade do pedido é um entrave, mas as ações tomadas pelo povo Krenak 
com o apoio do MPF (Requerimento 75.002), questionaram a justiça e apontaram que a Lei 
2.523 / 2008 era inconstitucional. O artigo 8 do Ato das Disposições Constitucionais 
Transitórias prevê o direito de receber anistia política e não restringe o exercício da 
subjetividade coletiva pelos povos indígenas. 
 
9.1 ANISTIA COLETIVA AOS INDÍGENAS KRENAK 
 
No caso do povo Krenak, foi evidente a dimensão coletiva das graves violações 
dos direitos humanos cometidas durante o regime militar. Em 1972, os Krenak foram 
transferidos à força de suas terras para a Fazenda Guarani, antes a área pertencia à Polícia 
Militar de Minas Gerais e estava localizada no município de Carmésia. Somente em 1997 
o povo Krenak conseguiu recuperar parte de seu território tradicional. O deslocamento 
forçado impediu os Krenak de realizar suas cerimônias culturais e religiosas às margens 
do Rio Doce, que chamaram de uátu, e também resultou na dispersão de várias famílias 
pelo país. 
Durante o regime militar, foi instalada uma prisão, chamada Reformatório 
Krenak, para onde foram enviados indígenas de mais de 15 etnias, de pelo menos 11 
estados das cinco regiões do país. No reformatório, os indígenas eram detidos por vários 
motivos, como ingestão de bebidas alcoólicas ou simplesmente sair da reserva sem 
autorização. Naquele local havia um local separado, que os índios chamavam de 
"cubículo", onde eram mantidos dia e noite como punição. 
O texto elaborado pelo povo Krenak com apoio do MPF (Nota Técnica nº 
03/2017-6ªCCR/MPF), no intuito de legitimar o pedido coletivo de anistia, enfatizou que 
o artigo 232 da Constituição reconhece o trabalho das comunidades indígenas e suas 
organizações como entidades individualizadas. Com base no fundamento constitucional 
acima mencionado, a declaração questiona: “Se os povos indígenas podem atuar 
coletivamente na Justiça por meio de suas comunidades e organizações, não há razão legal 
para impedi-los de entrar com pedidos coletivos de natureza administrativa”. 
O requerimento 75.002 (pedido coletivo de anistia de Krenak) foi elaborado pela 
Procuradoria Regional dos Direitos do cidadão em Minas Gerais e submetido à apreciação 
da Comissão de Anistia. A Comissão analisará o pedido de acordo com a Lei nº 10.559 / 
2002, que dispõe sobre as condições de indenização por anistia política. O texto da 
27 
 
Câmara de Populações Indígenas do MPF afirma que o pedido nº 75.002 visa proteger um 
bem jurídico específico: a possibilidade da existência coletiva do Povo Indígena Krenak 
enquanto grupo étnico diferenciado. “Negar a subjetividade coletiva aos povos indígenas 
representaria sua revitimização, bem como a continuidade de prática característica da 
atuação do Estado autoritário”, enfatizou a nota. 
 
9.2 A IMPRESCRITIBILIDADE DO PEDIDO DE ANISTIA 
 
A imprescritibilidade do pedido de anistia fundamenta-se no entendimento do 
STJ, que aponta que não há previsão de danos mentais e violações de direitos humanos 
durante o regime militar, além de publicar o entendimento quanto ao cabimento de ação 
de responsabilização do Estado em relação a casos de omissão de fiscalizar, levando em 
consideração que a responsabilidade da administração pública é consistentes solidária, 
objetiva e ilimitada, por danos os quais poderia ter controlado, como os realizados pelos 
agentes do Estado durante a ditadura brasileira. 
Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais 
decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime 
militar. 
Essa demanda é imprescritível pelo fato de se referir a um período em que a 
ordem jurídica foi abandonada com legislações de exceção e tendo inúmeros abusos e 
violações dos direitos básicos, especialmente a dignidade da pessoa humana. 
E temos como matéria a violações de direitos humanos, conduta essa, 
imprescritível prevista na Constituição brasileira artigo 4º III 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
III - a dignidade da pessoa humana 
E a LEI Nº 12.986, de 2 de junho de 2014. Art. 2º: 
Art. 2º O CNDH tem por finalidade a promoção e a defesa dos direitos 
humanos, mediante ações preventivas, protetivas, reparadoras e sancionadoras 
das condutas e situações de ameaça ou violação desses direitos. 
É verdade que a prescrição é uma regra do ordenamento jurídico. Portanto, via de 
regra, considera-se que um requisito está isento de prescrição, devendo haver uma ordem 
clara no texto constitucional, assim como no caso do art. CF / 88 Art. 37, § 5º: 
28 
 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, 
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: 
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, 
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. 
No entanto, o STJ excepcionalmente destacou que mesmo que não haja 
estipulação clara, pode-se considerar que os pedidos de indenização causados pelo regime 
militar são imprescritíveis por envolverem a matéria de dignidade da pessoa humana. 
[...]A Constituição federal funda-se na premissa de que a dignidade da pessoa humana é 
inarredável de qualquer sistema de direito que afirme a existência, no seu corpo de normas, dos denominados 
direitos fundamentais e os efetive em nome da promessa da inafastabilidade da jurisdição, marcando a relação 
umbilical entre os direitos humanos e o direito processual. [...] 
STJ. 1ª Turma. REsp 1165986/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16/11/2010. 
 
10 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO PERANTE A CORTE 
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 
 
Outra opção onde o Estado se responsabiliza civilmente, é a pela intervenção da 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos onde se eleva a gravidade e 
consequentemente a forma da reparação do processo e, como processo movimentado pelo 
povo Xukuru. 
 Após mobilização do povo Xukuru a Corte Interamericana De Direitos Humanos 
como parte da sentença proferida, US$ 1 milhão de indenização foi depositado na conta 
da Associação Xukuru. A CIDH condenou o Estado brasileiro nos casos que envolveram 
violações sofrida pelo povo Xukuru. A sentença declara que o Estado brasileiro tem 
responsabilidade internacional por violações de proteção judicial, direito a propriedade e 
da garantia judicial, os quais estão previstos na Convenção Americana de Direitos 
Humanos. 
O processo do povo Xukuru teve início na Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos em outubro de 2002. A petição foi apresentada pelo Movimento Nacional de 
Direitos Humanos, Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Gabinete de Assessoria 
Jurídica das Organizações Populares (GAJOP). Em 2009, a Comissão aprovou o relatório 
de admissibilidade 98/09 e aprovou o relatório de caso nº 44/15 em 2015, em paridade 
com o art. 50 da Convenção Americana. Posteriormente, em 2016, a comissão 
encaminhou o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos, que realizou uma 
29 
 
audiência com as partes em 2017, quando as comunidades indígenas contaram com a 
contribuição da justiça global. 
A Serra do Ororubá, em Pesqueira (PE), no Vale do Ipojuca, é o pano de fundo 
da privação e morte do povo Xukuru por mais de três séculos onde somente na década de 
1980, essa trajetória começou a mudar, com a nomeação de Xikão como chefe, o povo 
Xukuru se reuniu e, após quase 20 anos de luta, em 2001, conseguiu obter a aprovação 
para os 27.555 hectares de terra onde viviam. 
Com o fimdo governo militar e a transição para a democracia, a Constituição de 
1988 passou a ser o centro da luta pelo movimento indígena. Em Brasília (DF), Xikão e 
outras importantes lideranças e entidades indígenas visitaram o escritório, recrutaram 
apoiadores, discutiram propostas, organizaram manifestações e, finalmente, consagraram 
os direitos dos povos indígenas às suas terras tradicionais. Na década de 1990, diante da 
demora na demarcação, uma série de tentativas de retomadas fez com que os agricultores 
reagissem, onde em 1992, Pajé Zequinha teve seu filho morto e o advogado da associação 
Geraldo Rolim, também advogado da Funai, foi baleado pelas costas. 
E em 2003 mais um caso de violência foi registrado, uma armadilha contra o 
filho de Xikão, o cacique Marcos, onde teve como consequência a morte de dois indígenas 
responsáveis pela segurança do mesmo. 
Em relação a responsabilidade civil do estado, Adelar Cupsinki, um dos 
advogados que representou o Povo Xukuru contra o estado brasileiro, afirma que a 
sentença proferida foi necessária para corrigiras injustiças sofridas pelo povo, e ainda diz 
que o caso Xukuru é uma esperança para o sistema de defesa judicial dos povos indígenas 
brasileiro: 
“Espera-se que a sentença possa servir como fundamento para o aperfeiçoamento do sistema de 
Justiça brasileiro em relação aos direitos indígenas, que também são sujeitos de direitos” Afirma Adelar 
Cupsinski 
11 O INDIGENA E AS ATUAIS VIOLAÇÕES 
 
O indígena brasileiro ainda sofre inúmeros ataques movidos a interesses 
territoriais, resumindo-se em invasores declarados, utilizando de violência bruta na 
tentativa de repressão e extermínio, buscando que o povo originário (proprietários 
legítimos) deixe as terras para que sejam tomadas e utilizadas por setores econômicos. O 
caso da Terra indígena Yanomami, retrata esses conflitos onde os indígenas têm 
30 
 
abandonado suas comunidades devido a ataques de garimpeiros armados. 
Como informado pelo Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuanna 
(Condisi-YY). Já foram registrados mais de 23 ataques1, esses que se iniciaram no dia 10 
de maio de 2021, onde os garimpeiros, com armas de fogo, chegam de barco à margem 
das comunidades e disparam contra os indígenas, ou até mesmo utilizam-se de bombas de 
gás lacrimejante, como acorrido no dia 5 de junho de 20212. 
Além dos povoados supracitados, inúmeras outras comunidades indígenas sofrem 
incessantemente violência, tomada de terras, violação dos direitos humanos e 
fundamentais, ultrapassando a dignidade da pessoa humana, casos esses análogos a 
características de genocídio, onde busca-se a aniquilação de toda uma etnia 
desconsiderando suas tradições, religiões e a essência que carregam por serem eles os 
reais proprietários dos direitos oriundos a terra. 
A seguir, é apresentado um compilado de notícias atuais da violação dos direitos 
humanos dos povos originários, onde tem como responsável direto o Estado brasileiro, 
onde de forma omissa, negligencia e não observa necessidade desses povos perante a 
sociedade moderna: 
Ataques de garimpeiros a terra indígena Yanomami3 
 
Indigenas convivendo com a violência4: 
 
1 Disponível em < https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/16/indigenas-deixam-comunidades-apos-
ataques-de-garimpeiros-na-terra-yanomami-diz-conselho.ghtml> Acesso em: 20 Junho, 2021 
 
2 Disponível em < https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/05/27/relembre-conflitos-recentes-entre-
garimpeiros-e-indigenas-na-terra-yanomami.ghtml> Acesso em: 20 junho, 2021 
3 Opus Citatum Disponível em < https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/05/27/relembre-conflitos-
recentes-entre-garimpeiros-e-indigenas-na-terra-yanomami.ghtml> Acesso em: 20 junho, 2021 
4 Disponível em < https://www.brasildefato.com.br/2020/10/17/na-defesa-do-territorio-indigenas-convivem-
com-a-violencia-113-foram-mortos-em-2019> Acesso em: 20 junho, 2021 
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/16/indigenas-deixam-comunidades-apos-ataques-de-garimpeiros-na-terra-yanomami-diz-conselho.ghtml
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/16/indigenas-deixam-comunidades-apos-ataques-de-garimpeiros-na-terra-yanomami-diz-conselho.ghtml
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/05/27/relembre-conflitos-recentes-entre-garimpeiros-e-indigenas-na-terra-yanomami.ghtml
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/05/27/relembre-conflitos-recentes-entre-garimpeiros-e-indigenas-na-terra-yanomami.ghtml
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/05/27/relembre-conflitos-recentes-entre-garimpeiros-e-indigenas-na-terra-yanomami.ghtml
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/05/27/relembre-conflitos-recentes-entre-garimpeiros-e-indigenas-na-terra-yanomami.ghtml
https://www.brasildefato.com.br/2020/10/17/na-defesa-do-territorio-indigenas-convivem-com-a-violencia-113-foram-mortos-em-2019
https://www.brasildefato.com.br/2020/10/17/na-defesa-do-territorio-indigenas-convivem-com-a-violencia-113-foram-mortos-em-2019
31 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ataque contra ônibus com lideranças indígenas1. 
 
 
 
 
 
1 Disponível em < https://cimi.org.br/2021/06/povo-munduruku-denuncia-ataque-contra-onibus-liderancas-
brasilia/> Acesso em: 20 junho, 2021 
https://cimi.org.br/2021/06/povo-munduruku-denuncia-ataque-contra-onibus-liderancas-brasilia/
https://cimi.org.br/2021/06/povo-munduruku-denuncia-ataque-contra-onibus-liderancas-brasilia/
32 
 
Casa de liderança indígena incendiada1. 
 
 
Trator é transformado em “caveirão” para atacar indígenas2. 
 
 
 
1 Disponível em < https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2021/05/27/casa-de-lideranca-indigena-munduruku-e-
incendiada-por-garimpeiros-em-jacareacanga-mpf-investiga-o-caso.ghtml> Acesso em: 20 junho, 2021 
 
2 Disponível em <https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2020/10/04/video-trator-e-transformado-em-caveirao-
para-atacar-indigenas.ghtml> Acesso em: 20 junho, 2021 
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2021/05/27/casa-de-lideranca-indigena-munduruku-e-incendiada-por-garimpeiros-em-jacareacanga-mpf-investiga-o-caso.ghtml
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2021/05/27/casa-de-lideranca-indigena-munduruku-e-incendiada-por-garimpeiros-em-jacareacanga-mpf-investiga-o-caso.ghtml
https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2020/10/04/video-trator-e-transformado-em-caveirao-para-atacar-indigenas.ghtml
https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2020/10/04/video-trator-e-transformado-em-caveirao-para-atacar-indigenas.ghtml
33 
 
Garimpeiros afundam canoa tripulada com crianças e jovens indígenas1 
 
 
Indígenas deixam comunidades após ataques de garimpeiros2 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Disponível em https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/18/garimpeiros-afundam-canoa-com-criancas-
e-jovens-indigenas-que-pescavam-na-terra-yanomami.ghtml 
2 Disponível em < https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/16/indigenas-deixam-comunidades-apos-
ataques-de-garimpeiros-na-terra-yanomami-diz-conselho.ghtml> Acesso em: 20 junho, 2021 
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/18/garimpeiros-afundam-canoa-com-criancas-e-jovens-indigenas-que-pescavam-na-terra-yanomami.ghtml
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/18/garimpeiros-afundam-canoa-com-criancas-e-jovens-indigenas-que-pescavam-na-terra-yanomami.ghtml
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/16/indigenas-deixam-comunidades-apos-ataques-de-garimpeiros-na-terra-yanomami-diz-conselho.ghtml
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2021/06/16/indigenas-deixam-comunidades-apos-ataques-de-garimpeiros-na-terra-yanomami-diz-conselho.ghtml
34 
 
Desmatamento e invasões a terras indígenas aumentam na pandemia1 
 
 
Indígenas sãopressionados por discursos de ódio e incitação à violência2 
 
 
 
1 Disponível em < https://cimi.org.br/2021/03/desmatamento-e-invasoes-as-terras-indigenas-aumentaram-
durante-a-pandemia-denuncia-o-cimi-na-onu/> 
2 Disponível em < https://cimi.org.br/2020/10/indigenas-guarani-sao-pressionados-por-discursos-de-odio-e-
incitacao-a-violencia-enquanto-lutam-pela-demarcacao-da-ti-jey/> Acesso em: 20 junho, 2021 
https://cimi.org.br/2021/03/desmatamento-e-invasoes-as-terras-indigenas-aumentaram-durante-a-pandemia-denuncia-o-cimi-na-onu/
https://cimi.org.br/2021/03/desmatamento-e-invasoes-as-terras-indigenas-aumentaram-durante-a-pandemia-denuncia-o-cimi-na-onu/
https://cimi.org.br/2020/10/indigenas-guarani-sao-pressionados-por-discursos-de-odio-e-incitacao-a-violencia-enquanto-lutam-pela-demarcacao-da-ti-jey/
https://cimi.org.br/2020/10/indigenas-guarani-sao-pressionados-por-discursos-de-odio-e-incitacao-a-violencia-enquanto-lutam-pela-demarcacao-da-ti-jey/
35 
 
Garimpo ilegal explode e ameaça indígenas1 
 
 
Impacto da mineração em terras indígenas2 
 
 
 
 
1 Disponível em< https://www.dw.com/pt-br/garimpo-ilegal-explode-em-território-ianomâmi-e-ameaça-
indígenas/a-56983231> Acesso em: 20 junho, 2021 
2 Disponível em < https://cimi.org.br/2021/06/movimento-indigena-realiza-protesto-em-frente-a-sede-da-anm-
contra-mineracao-em-territorios-indigenas-nesta-quinta-17/> Acesso em: 20 junho, 2021 
https://www.dw.com/pt-br/garimpo-ilegal-explode-em-território-ianomâmi-e-ameaça-indígenas/a-56983231
https://www.dw.com/pt-br/garimpo-ilegal-explode-em-território-ianomâmi-e-ameaça-indígenas/a-56983231
https://cimi.org.br/2021/06/movimento-indigena-realiza-protesto-em-frente-a-sede-da-anm-contra-mineracao-em-territorios-indigenas-nesta-quinta-17/
https://cimi.org.br/2021/06/movimento-indigena-realiza-protesto-em-frente-a-sede-da-anm-contra-mineracao-em-territorios-indigenas-nesta-quinta-17/
36 
 
Aumentaram os casos de violência contra indígenas1 
 
 
Violência policial contra índios2 
 
 
 
1 < https://www.brasildefato.com.br/2020/09/30/casos-de-violencia-contra-indigenas-aumentam-150-no-
primeiro-ano-de-bolsonaro> Acesso em: 20 junho, 2021 
2 Disponível em < https://www.extraclasse.org.br/geral/2018/02/violencia-policial-contra-indios-no-rs/> Acesso 
em: 20 junho, 2021 
https://www.brasildefato.com.br/2020/09/30/casos-de-violencia-contra-indigenas-aumentam-150-no-primeiro-ano-de-bolsonaro
https://www.brasildefato.com.br/2020/09/30/casos-de-violencia-contra-indigenas-aumentam-150-no-primeiro-ano-de-bolsonaro
https://www.extraclasse.org.br/geral/2018/02/violencia-policial-contra-indios-no-rs/
37 
 
O povo Xokleng luta pelo direito à terra contra privatização no RS1 
 
 
12 O PROJETO DE LEI 490/2007 E SEU RETROCESSO EM RELAÇÃO 
AO DIREITO TERRITORIAL INDÍGENA 
Ao contrário da Constituição Federal brasileira, o Projeto de Lei nº 490/2007, 
elaborado por parlamentares rurais, propõe a aprovação de leis para delimitar as terras 
indígenas. Além disso, o projeto também prevê a abertura de terras indígenas para 
indústrias de mineração que estão destruindo cada vez mais a Amazônia brasileira. Os 
povos indígenas em todo o Brasil continuam a protestar contra o projeto, que abre terras 
indígenas para projetos de desenvolvimento econômico em grande escala e impossibilita 
uma nova demarcação na prática. 
O Projeto de lei, além de apresentar um retrocesso em relação a legislação atual, 
ela se mostra inconstitucional, uma vez que a mesma tenta contornar uma clausula pétrea, 
no que se refere ao artigo 231 da Constituição, onde reconhece que “as terras 
tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se à sua posse permanente, cabendo-lhes 
o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes”, ao 
contrário do proposto pelo Projeto de lei que abre várias brechas para a exploração do 
território indígena para o garimpo e outras atividades comerciais, afirmando que o 
território natal indígena é assunto de matéria pública e privada: “que as áreas 
reivindicadas e que, por isso, são objeto de demarcação, envolvem interesses diversos, 
 
1 Disponível em < https://cimi.org.br/2020/10/entenda-repercussao-geral-stf-futuro-terras-indigenas/> Acesso 
em: 20 junho, 2021 
https://cimi.org.br/2020/10/entenda-repercussao-geral-stf-futuro-terras-indigenas/
38 
 
tanto públicos quanto privados.”1 
Além disso os votos a favor da pauta colocam como vítima e hipossuficiente 
produtores rurais, e afirmando que a demarcação causa prejuízo para a arrecadação 
tributária: 
“A demarcação reflete-se de forma contundente nas atividades econômicas 
desenvolvidas nas áreas afetadas, causando prejuízo para os produtores rurais e para a 
comunidade local, desemprego, redução das atividades correlatas, queda na arrecadação 
tributária dos municípios e dos Estados envolvidos.”2 
Deputado WALDIR NEVES 
Ante exposto é de plena certeza de que tal projeto não deve se fazer aprovado, 
podendo o mesmo agravar a situação dos povos originários brasileiros, situação essa que 
já não favorece as verdadeiras vítimas. 
 
13 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Por meio do presente estudo foi possível demonstrar e reforçar a hipossuficiência 
do indígena brasileiro na sua relação civil com a legislação atual, e expor o verdadeiro 
conflito que antecede a própria constituição do Estado. Os povos originários desde o 
início da colonização além da violência a eles cometida sofreram também repressões 
morais sendo comparados diretamente a animais selvagens, o considerando inválido e 
inferior e tornando um estigma intrínseco na sociedade. 
Foi visto que o ímpeto ganancioso do homem, pode erradicar uma cultura inteira, 
movido apenas de interesses egoístas, onde a sua vontade lhe torna superior, e todo aquele 
que não demonstra as mesmas características é considerado inferior e alvo de atrocidades 
inimagináveis. Uma etnia antes composta por milhões de indivíduos, onde cada tribo 
apresentava uma cultura e uma história diferente, foi reduzida exponencialmente mediante 
a forte violência e a condição de escravidão, tendo como responsável um estrangeiro, em 
busca uma nova terra, que lhe sentiu legitimado a tomar a tal propriedade. 
Foi retirado do indígena a até mesmo suas crenças onde por meio da doutrinação 
católica, os colonizadores catequisaram os povos originários, desconsiderando toda 
cultura tradicional, ou seja, além de suas terras, e seus próprios corpos, foi retirado do 
 
1 PROJETO DE LEI N.º 490-A, DE 2007 (Do Sr. Homero Pereira) pg.3 
2 PROJETO DE LEI N.º 490-A, DE 2007 (Do Sr. Homero Pereira) Voto relator Deputado WALDIR NEVES 
pg.45 
 
39 
 
indígena aquilo que lhe foi hereditariamente ensinado, fazendo o questionar tudo aquilo 
que julgava como a vida, sendo restringido de praticar seus rituais. 
Foi colocado aqui também, toda a luta por uma legislação que realmente protege 
o indígena como um todo, respeitando sua cultura, sua crença e suas terras, sendo o 
último, o motivo de grande mobilização dos povos originários ate o dia de hoje, onde 
mesmo passado muitos anos da colonização, a questão territorial ainda é uma grande luta 
para esses povos, onde somente em 1988 foi garantido a eles o direito real a sua terra e 
aplicou a responsabilidade pela sua proteção ao estado. 
Uma vez garantido constitucionalmente, qualquer ação contrária detém o Estado 
como responsável de tomar as providências cabíveis para assegurar a segurança judicial, o 
direito a terra, e o direito ao ressarcimento. Porém mesmo sendo clara a lei Constitucional 
que obriga o estado a prestar a garantia aos direitos indígenas, a todo momento além da 
pura negligencia com esse dever, é evidenciado atos

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