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Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU Prática Jurídica Supervisionada - Mediação e Arbitragem Técnicas de Mediação e Constelação Familiar Révelyn Santos Guimarães RA: 2472029 SÃO PAULO (2021) 2 Primeiramente, será feita uma breve contextualização do conceito de mediação. Posteriormente serão abordadas suas técnicas, passando pela constelação familiar, que também está sendo aproveitada como ferramenta terapêutica para efetivação de mediar esses conflitos que surgem no judiciário. A mediação é um método utilizado para solucionar conflitos de forma consensual, voluntária e pacífica; seu enfoque é no diálogo aprofundado no qual o mediador, que é uma terceira pessoa e, portanto, imparcial, irá conduzir e facilitar a comunicação entre as partes sejam elas pessoas físicas ou jurídicas, a fim de chegarem a um acordo onde todos estarão satisfeitos, proporcionando um bom relacionamento a longo prazo. O que difere de outras formas de resoluções de conflitos é a forma empática e amigável como é abordada, senão vejamos: [...] as características diferenciais da mediação de conflitos a respeito do processo judicial (formal, adversarial e impositivo), da negociação cooperativa (diálogo com objetivo resolutivo, autocompositivo), da conciliação (procedimento rápido que inclui um terceiro que orienta e até pressiona na obtenção de um acordo que, ainda que não satisfaça totalmente, consegue encerrar o assunto) e da arbitragem (procedimento privado e misto: negocial e impositivo, que parte da escolha livre de um terceiro para decidir sobre uma questão de sua competência). (VEZZULLA,2006, p.79-80). Embora a mediação não seja considerada como um método formal existe um roteiro para auxiliar no seu andamento. Tendo em vista que não há previsão em lei que descreva tal desenvolvimento, somente estabelecem regras garantidoras da segurança jurídica do procedimento e dos participantes, hipóteses judiciais e extrajudiciais da sua aplicação, princípios, deveres do mediador e exigências para capacitação e cadastramento de mediadores judiciais², portanto, o procedimento é mais subjetivo dependendo das características do profissional mediador, que deverá possuir habilidades cognitivas e aplicar as técnicas de acordo com a forma que considere mais efetiva. Pode-se escolher o método teórico de cada escola, como a mediação facilitava também conhecida como mediação tradicional de Harvard, mediação avaliativa, mediação circular-narrativa ou mediação transformativa. Há também a hipótese de co-mediação: uma ferramenta indicada em razão da complexidade do conflito ou natureza; pode ser realizada por profissionais especialistas na área pertinente ao conflito em questão. Como bem define o Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem- CONIMA, “é o processo realizado por dois (ou mais mediadores) e que permite uma reflexão e amplia a visão da controvérsia, propiciando um melhor controle e qualidade da mediação”. Em alguns casos, na co-mediação, se fazem presentes outros profissionais, como o psicólogo, o psiquiatra ou o assistente social para contribuírem nas discussões acerca do estado da pessoa e do direito de família. 3 Independente de qual escola ou modelo de mediação escolhida, o mediador deve atuar antes de tudo como facilitador. Não sendo de sua competência indicar a solução do problema, que deve ser buscada pelas partes com colaboração. Para fins didáticos há seis etapas, mas alguns autores, adotam a "pré mediação" como primeira etapa e subdivide as demais, como Abertura, Investigação, Agenda, Criação de Opções, Avaliação das Opções, Escolha das Opções e Solução. No decorrer das reuniões essas etapas não ficam tão evidentes, pois o procedimento de mediação é moldado principalmente nas expressões espontâneas de sentimentos, interesses e necessidades dos mediandos. Os conflitos evidenciam fatos e sentimentos muito mais profundos do que geralmente são exteriorizados, muitas vezes é diverso do real interesse das partes. Dessa forma, o conflito pode se lançar de duas formas: aquele que de fato não é o fator que causa a angustia e insatisfação; e o que ocorre de forma oculta, que é chamado de conflito real. Segundo Warat (2001, p. 199), ao observar que “[...] o acordo decorrente de uma mediação, satisfaz, em melhores condições, as necessidades e os desejos das partes, já que estas podem reclamar o que verdadeiramente precisam, e não o que a lei lhes reconheceria”. Durante as seis etapas do procedimento de mediação o profissional mediador deve buscar ao máximo aprofundar-se no problema para conseguir traduzir esses conflitos reais, e assim construir uma resolução duradoura. Nesse sentido, Azevedo (2002, p.163) define mediação como “um conjunto de atos coordenados, lógico e cronologicamente, visando atingir escopos pré-estabelecidos, possuindo fases e pressupondo a realização da prática de determinados atos para se atingirem, com legitimidade, fins esperados” e para isso poderá utilizar-se de técnicas e habilidades comunicativas. Para Cândido Rangel Dinamarco (2003, p. 273-274), a existência da técnica apenas se justifica em razão da finalidade a ser cumprida: “daí ́a ideia de que todo objetivo traçado sem o aporte de uma técnica destinada a proporcionar sua consecução é estéril; e é cega toda técnica construída sem a visão clara dos objetivos a serem atuados”. Dependendo da literatura existem vários tipos de técnicas ou nomenclaturas diferentes com o mesmo objetivo, são elas: Escuta ativa: exprime observar a comunicação verbal e não verbal. Analisar o comportamento humano é fundamental, pois também é uma forma de linguagem, todo o comportamento é uma comunicação, consciente ou não, revelando nossa moralidade. Portanto, gestos como lábios apertados, braços cruzados ou abertos, falta de contato visual, palavra ou silencio dentro outros é uma mensagem, que deve ser interpretada. A comunicação também é falar e ouvir e principalmente entender a realidade do outro e não somente enxergar a sua, é importante se colocar na situação do outro para que se entenda sob o ponto de vista dele e assim criando laços empáticos. Atitude de acolhimento: Visa o reconhecimento das emoções durante a resolução do conflito, partindo do entendimento que as emoções são presentes e difíceis de controlar, mas devem ser toleradas e amenizadas, com recursos como afago, conotação positiva, silêncio, normalização e empenhos para estabelecer uma relação de confiança (rapport). Podemos demonstrar o afago em formas simples, como comentários descontraídos, bom humor, cuidado no preparo do ambiente para 4 recebê-los e tornar o momento mais aconchegante e confortável e oferecer algum agrado. Já a conotação positiva, é aplicada no cuidado com as palavras, substituindo- as por linguagens menos hostis, com foco prospectivo em expressões e termos mais produtivos e construtivos, bem como no reforço positivo elogiando o comportamento e a comunicação das partes, validando também os progressos já obtidos. Quanto ao silencio, indica que os medianos em determinados momentos poderão ficar inertes, pensativos, reflexivos, parando a narrando, e o mediador deve acompanhar esse comportando, dando espaço e se solidarizando ao momento. Na normalização o mediador promove uma manifestação com o intuito de naturalizar as histórias de cada mediando, afastando eventual constrangimento e criando um sentimento de acolhimento, pertencimento e reconhecimento. Essas atitudes contribuem para afastar os julgamentos, a culpa, castigo, o pensamento de verdade absoluta e de mensagens negativas. Todas essas habilidades citadas junto com a técnica de escuta ativa colaboram para a criação da comunicação construtiva; a técnica da Pergunta Aberta é utilizada para que todas as partes relatem os fatos sem pré-julgamentoou manipulação do mediador, a fim de que mediador e mediando elaborem juntos a resposta, e que esta seja de inteira responsabilidade do mediando. Ela somente serve para esclarecimento e detalhamento. Por exemplo: o que você entende sobre isso? Qual a importância disso para você? O que você tem a dizer sobre isso? Recomenda-se que essas perguntas sejam circulares, de modo que vinculem a narrativa anterior para as falas se retroalimentarem. Esse método ajuda os medianos a esclarecer, contextualizar, refletir e compreender. Outro elemento relevante é a Reciprocidade de Escuta-fala: é importante deixar claro que todos vão ter o seu momento de fala, e enquanto isso acontece os demais devem escutar e não interromper, alguns adotam a dinâmica de introduzir um objeto nas reuniões, aonde ele vai passando de mão em mão, só quem estiver com o objetivo tem a sua oportunidade de fala, assim de forma indireta coloca uma regra e uma responsabilidade de escutar e respeitar a vez do mediano. É recomendado que essa combinação seja reproduzida no Termo Inicial da mediação. A linguagem de ponto de vista pessoal também deve ser utilizada, para não ofender os demais; é necessário orientar e reformular sempre que isso ocorrer para que então a narrativa seja sempre em primeira pessoa, assim ela consegue dizer o que quer sem ofender a atitude da outra. Exemplo: “Eu penso que isto poderia ter sido feito da seguinte forma”. Além disso, o mediador deve ser assertivo, para não contribuir com a violência, mas cuidando para não ser de forma alguma impositivo. O mediador deve constatar a Prioridade à questão relacional, isto é, o problema em si normalmente influenciado por ressentimentos, então o papel do mediador, nesse momento, é desembaralhar a questão relacional para então conseguir dar ênfase no conflito material. Poderá ocorrer também ameaça de forma opressiva ao invés de um acordo onde todos ganham (situação ganha-ganha) focando somente no “ganha-perde”, por essa razão todos devem estar cientes da orientação anterior sobre a reciprocidade de escuta-fala a fim de evitar esse tipo de interação. 5 A Troca de papéis se traduz em instigar a empatia entre as partes por orientação do mediador para que cada uma observe a questão pelo olhar do outro. Já o Parafraseamento ou reflexão, é a recontextualização da mensagem que foi recebida, sem tirar o sentido original da frase e filtrando os componentes negativos e agressivos colocando de forma positiva, para que os mediandos compreendam melhor os reais interesses do outro, exemplo: “Pelo que entendi o senhor se sente prejudicado e gostaria de receber um tratamento diferente do Sr. João. É isto?”. A audição de propostas implícitas são as partes que indicam soluções sem perceber. O mediador identifica o que está escondido na fala das partes. Tendo em vista a informalidade dos procedimentos de mediação as técnicas não precisam ser rígidas, elas são sugestivas para elevar as chances de sucesso, vai haver variações de acordo com a complexidade do caso, do grau de relacionamento das partes, da habilidade do mediador e dos fatores externos que podem atuar na evolução da mediação. Por fim, a Constelação Familiar, que vem sendo utilizada em questões mais sensíveis e voltada preponderantemente ao direito de família. Com a evolução do olhar jurídico sobre as questões mais sensíveis, começou a ser aplicada a constelação familiar, esse método foi desenvolvido pelo terapeuta filósofo alemão Bert Hellinger, que ao observar que os componentes de uma família são interligados por linhas utópicas conhecidas como linhas sistêmicas que pautam a relação harmônica dentro de um contexto familiar, sendo elas: pertencimento, equilíbrio e ordem. Hellinger concluiu que os indivíduos tem a necessidade de serem orientados por leis, pois sem lei há a desordem, todavia, as existências das leis ocultas do ser humano devem guia-lo para que a harmonia e o equilíbrio reinem no sistema familiar. No Brasil o juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, Sami Storch teve grande influência em introduzir a aplicação da técnica de constelações familiares no sistema jurídico brasileiro. Obteve grandes índices de efetividade para solução de conflitos na justiça considerados extremamente difíceis nas áreas de família e sucessões, infância e juventude e área criminal. Em razão das dificuldades da vida, as relações familiares por vezes são conturbadas, causando profundas magoas nos personagens embora não se possa ignorar a conexão sanguínea, as partes no fundo têm desejo de desobstruir a relação e selar a paz. Nessa linha entra a constelação familiar com o objetivo de olhar os vínculos sobre outra perspectiva, despertar a empatia pelas partes, identificar demandas mal resolvidas na história familiar, como mortes precoces, perdas e rupturas que seriam capazes de motivar comportamentos futuros inconscientes. Normalmente a técnica de constelação familiar é aplicada através de reuniões em grupos, no qual são convidadas pessoas a interpretar os causadores do problema que são posicionadas umas em relação às outras para que se sintam as próprias pessoas representadas, é possível, que sejam feitas dramatizações e encenações para visualizar melhor o cenário do conflito. Muitas vezes as controversas levadas ao judiciário não são resolvidas, somente procrastinadas, pois o real problema é o sentimento de incompreensão das partes, de injustiça, de não pertencimento, de não reconhecerem seu lugar na posição sistêmica familiar ou redes de apoio. O prognostico dessa técnica tem como base a redução dos conflitos na comunidade e no âmbito familiar, 6 consequentemente fazendo ser cada vez mais desnecessário o litigio no poder judiciário. A forma rígida do sistema jurídico está cada vez mais se tornando obsoleta, uma vez que se pauta somente no paradigma “ganhar e perder” reduzindo as possibilidades da mente humana de argumentar e avaliar as situações comportamentais, muito além do raciocínio lógico do direito. Esses diferentes métodos de resolução de conflitos estão ganhando evidência nas controvérsias, trazendo mais humanidade à justiça, e no futuro, possivelmente serão os métodos mais requisitados na sociedade. 7 REFERÊNCIAS VEZZULLA, Juan Carlos. A mediação de conflitos com adolescentes autores de ato infracional. Florianópolis: Habitus, 2006. CONIMA. Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem. - Disponível em: <https://conima.org.br/mediacao/regulamento-modelo-mediacao/ >Acesso: 07/05/21. WARAT, Luis Alberto. O ofício do mediador. Florianópolis: Habitus, 2001. AZEVEDO, André Gomma de. Autocomposição e processos construtivos: uma breve análise de projetos piloto na mediação forense e alguns de seus resultados. In: AZEVEDO, André Gomma de (Org). Estudos em arbitragem, mediação e negociação. Brasília: Brasília Jurídica, 2002. DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. VASCONCELOS, Carlos Eduardo de. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. - 7. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020. GUILHERME, Luiz Fernando do Vale Almeida. Manual de Arbitragem e Mediação - 5.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. SILVA, Luciana Aboim Machado Gonçalves, organizadora. Mediação de conflitos - São Paulo: Atlas, 2013. MARTINS, Alessandra Negrão Elias. Mediação familiar para idosos em situação de risco - São paulo. Blucher, 2017. STORCH, Sami. Direito sistêmico é uma luz no campo dos meios adequados de solução de conflitos. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-jun-20/sami- storch-direito-sistemico-euma-luz-solucao-conflitos>. Acesso em 07/05/21. 8 HELLINGER, Bert. Ordens do amor: um guia para o trabalho com constelações familiares. São Paulo:2003, 1ª Ed. Cultrix. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU
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