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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL SUMÁRIO 1. Jurisdição ......................................................................................................................................... 02 2. Ação .................................................................................................................................................. 06 3. O juiz: atuação e poderes ............................................................................................................... 16 4. Partes e litisconsórcio ..................................................................................................................... 19 5. Intervenção de terceiros ................................................................................................................ 23 6. Ministério público, defensoria pública e advocacia pública e privada .................................... 29 7. Formas dos atos processuais ..................................................................................................... 33 8. Tutela de conhecimento (processo de conhecimento) ............................................................... 44 9. Formação, suspensão e extinção do processo ............................................................................. 44 10. Procedimento Comum ................................................................................................................... 51 DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 2 DIREITO PROCESSUAL CIVIL JURISDIÇÃO A Jurisdição pode ser caracterizada como o Poder de dizer o Direito. Em verdade, em nível doutrinário, várias teorias buscam conceituar a jurisdição, apresentando teses divergentes acerca do tema. Ocorre que, além de estar caracterizada como um poder, a jurisdição poderá ser entendida como uma função, uma atividade derivada diretamente da soberania estatal. Uma primeira teoria classifica a Jurisdição como atuação da vontade da Lei. É a chamada Teoria Objetiva. Para parte da doutrina, a jurisdição seria a função do Estado de fazer atuar a vontade da lei. A função de fazer atuar a vontade concreta do direito objetivo. Seria a aplicação do direito objetivo no caso concreto. Chiovenda afirma que a atuação da vontade da lei, no caso de jurisdição, se dará pela participação do juiz, típica jurisdição, atividade substitutiva. Muito bem conceituam esta tese os doutrinadores Antonio Carlos de Araujo Cintra, Ada Pelegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, a saber: “E assim, através do exercício da função jurisdicional, o que busca o Estado é fazer com que se atinjam, em cada caso concreto, os objetivos das normas de direito substancial. Em outras palavras, o escopo jurídico da jurisdição é a atuação (cumprimento, realização) das normas de direito substancial (direito objetivo)” (Teoria Geral do Processo, 24ª edição, pg. 149) De outra banda, alguns doutrinadores sustentam a teoria de que a Jurisdição é a fonte produtora de Coisa Julgada. Adeptos a esta visão, Allorio, Liebman e Calamandrei. A crítica a esta teoria reside no fato de que não seria todo ato jurisdicional capaz de gerar coisa julgada, como a tutelar cautelar, os procedimentos de jurisdição voluntária, entre outros. Para uma terceira corrente, a Jurisdição é a função do Estado de justa composição da lide, visão sustentada por Carnelutti. Nesta linha, a jurisdição pressupõe um embate, a pretensão resistida, a lide propriamente dita. Na clássica lição de Carnelutti – para a existência de lide ou litígio é necessário que ocorra “um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”. “A função jurisdicional só atua diante de casos concretos de conflitos de interesses (lide ou litígio) e sempre na dependência da invocação dos interessados, por que são devedores primários destes à ordem jurídica e a aplicação voluntária de suas normas nos negócios jurídicos praticados.” (Citação de Humberto Theodor Junior, Curso de Direito Processual Civil, Volume I, Editora Forense, p. 39) Importa colacionar a visão de Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery que afirmam em sua obra Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, 11ª edição, pg. 176, que “Embora seja atividade típica do Poder Judiciário, a jurisdição pode, excepcionalmente, ser exercida pelo Poder Legislativo”, nos termos do art. 52, I e II da CF, quando da competência do Senado Federal para o julgamento do Presidente e do Vice-Presidente nos crimes de responsabilidade. Seria uma excepcional função jurisdicional afeta ao Poder Legislativo. Nos primórdios do desenvolvimento social, a justiça de mão própria, a vingança privada, a denominada ‘autotutela’, caracterizava-se como o meio de solução de conflitos de interesse. Com o desenvolvimento do conceito de Estado e a atração de diversos monopólios para este, a soberania estatal atraiu para si o monopólio da criação, aplicação e interpretação do direito. Desta feita, com a vedação da autotutela, surge o conceito da tutela jurisdicional, ‘o poder de dizer o direito com DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 3 DIREITO PROCESSUAL CIVIL definitividade em substituição à vontade das partes’, própria da soberania estatal. Cumpre salientar que com a atração deste monopólio da tutela jurisdicional, o Estado nem sempre foi eficiente na solução dos conflitos, em razão de sua morosidade. Nesta linha, começou, nos últimos anos, um incentivo muito grande aos chamados mecanismos de autocomposição, com a aproximação das partes, objetivando a solução dos conflitos de uma maneira célere e efetiva, inserindo-se a mediação como uma de suas principais técnicas. Neste diapasão, de igual forma, surge a arbitragem, apresentando na doutrina grande divergência acerca de sua natureza jurisdicional. A arbitragem é regulamentada pela Lei Federal 9.307/96. O principal questionamento reside no ponto de ter a arbitragem natureza jurisdicional ou contratual – cláusula compromissória e compromisso arbitral. Para uma teoria, a arbitragem é jurisdição, exercida por particulares com a autorização do Estado. Para outra tese, a arbitragem não é jurisdição, uma vez que pode ocorrer controle por parte do Poder Judiciário, por exemplo, na hipótese de nulidade da sentença arbitral, bem como a execução forçada, de igual forma, necessitaria da participação do Poder Judiciário. A jurisdição somente poderia ser exercida por pessoa investida na autoridade de juiz – juiz natural –, sendo a jurisdição indelegável. Predomina em nosso sistema jurídico a natureza contratual da arbitragem, seria, portanto, um equivalente jurisdicional. 1.1. CARACTERÍSTICAS Podem ser citadas como características da jurisdição, além da chamada unidade ou unicidade do poder jurisdicional, outras virtudes que acabam por delinear o caminho da jurisdição, senão vejamos: 1.1.1 INÉRCIA A jurisdição é inerte e necessita ser provocada. A prestação jurisdicional é efetiva somente quando solicitada. Nesta linha, a jurisdição necessita ser ‘provocada’, sendo do cidadão, e não do juiz, a iniciativa de movimentar ou não movimentar o Poder Judiciário. Esta inércia derivando no princípio da congruência restou solidificada no Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015) que assim preceitua: CPC/2015: Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.Exceção a ser considerada, resta positivada nos artigos abaixo indicados do CPC/2015: art.738 (herança jacente – o juiz procederá; art. 744 (arrecadação de bens do ausente - o juiz mandará) O Novo Código de Processo Civil insere no sistema uma “política pública de solução de conflitos”, ao fomentar a conciliação, a mediação e a autocomoposição, vejamos: Art. 3º (...) § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. Política Pública de Solução de Conflitos § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: (...) III - homologar: a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; b) a transação; DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 4 DIREITO PROCESSUAL CIVIL c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, em sua obra “Novo Código de Processo Civil Comentado”, Revista dos Tribunais, p. 96-97, assim referem: “O novo Código tem como compromisso promover a solução consensual do litígio, sendo uma das suas marcas a viabilização de significativa abertura para a autonomia privada das partes – o que se manifesta não só no estímulo a que o resultado do processo seja fruto de um consenso das partes (art. 3º, §§ 2º e 3º, CPC), mas também na possibilidade de estruturação contratual de determinados aspectos do processo (negócios processuais, art. 190, CPC, e calendário processual, art. 191, CPC)”. Tipificação do que já restava estabelecido na Resolução n. 125 do CNJ. Estruturação do CPC tendente à conciliação, estímulo à autocomposição. 1.1.2 SECUNDÁRIA E SUBSTITUTIVA A jurisdição não é originária, não é original, mas secundária. Atua em um segundo momento, diante de casos concretos de conflitos de interesses. Nesta linha, impõe ao autor o dever de provar o seu interesse de agir, a necessidade e utilidade de recorrer ao Poder Judiciário. Neste mesmo sentido, diz-se a jurisdição como substitutiva, pois estaria substituindo a vontade das partes e aplicando no caso concreto a vontade da lei. O artigo 501 do Código de Processo Civil de revela de plano esta característica, vejamos: Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida. Por fim, algumas outras características seriam agregadas à jurisdição, tais como indivisibilidade, indelegabilidade, declaratória de direitos, imparcialidade, entre outras, que fundamentam o conceito doutrinário de jurisdição. Ressalte-se que, pela letra da lei, não há conceituação e sequer elenco de características postos no Código de Processo Civil. 1.2. MODALIDADES DE JURISDIÇÃO Acerca das modalidades da jurisdição, restam evidentes duas modalidades: a jurisdição contenciosa e a jurisdição voluntária. A Jurisdição Voluntária está prevista do art. 719 ao 770 do Código de Processo Civil. Pela teoria clássica (dominante), na jurisdição voluntária, o juiz realiza a gestão pública de interesses privados. Não há lide, mas negócio jurídico que necessita a chancela do Estado por meio de sua jurisdição. Torna eficaz o negócio desejado pelos interessados, sendo correta a denominação de ‘procedimento de jurisdição voluntária’. Ex.: nomeação de tutores, nas alienações de bens de incapazes, entres outros (conforme Humberto Theodoro Junior, Curso de Direito Processual Civil, Volume I, Editora Forense). Ainda, Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery afirmam em sua obra Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, 11ª edição, pg. 176: “É jurisdição somente na forma. Não é jurisdição pura porque o juiz não diz o direito substituindo a vontade das partes, mas pratica atividade integrativa do negócio jurídico privado administrado pelo Poder Judiciário. Esse negócio jurídico, contudo, não tem validade se não integrado pelo juiz, donde é lícito concluir não ser voluntária esta jurisdição, mas sim forçada. Nela não há processo, mas procedimento; não há lide, mas controvérsia; não há DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 5 DIREITO PROCESSUAL CIVIL partes, mas interessados; não incide o princípio dispositivo, mas sim o inquisitório; não há legalidade estrita, pois pode o juiz decidir por equidade”. Na Jurisdição Contenciosa a atividade é jurisdicional, há a presença de lide (controvertido), chama-se de processo, há a presença de partes, produz coisa julgada e tem como critério de julgamento a legalidade. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 6 DIREITO PROCESSUAL CIVIL AÇÃO Com o Novo Código de Processo Civil, uma das maiores discussões doutrinárias diz respeito exatamente à questão da teoria da ação que foi adotada, o que impacta diretamente na continuidade ou não das chamadas “condições da ação” no sistema processual. A ação é um instituto de vital relevância para o direito processual civil. Para definir o significado de ação, surgiram diversas teorias, desenvolvidas ao longo do tempo por renomados processualistas. Diversas teorias se propõem a explicar o significado de ação, as quais contribuíram em grande medida para o desenvolvimento do instituto. Abaixo, faz-se um estudo das principais teorias da ação. 2.1. TEORIA CIVILISTA (OU TEORIA IMANENTISTA) A ação é o próprio direito material que, sendo violado, vai a juízo pedir proteção. É também chamada de Teoria Imanentista da Ação. Savigny foi quem inicialmente desenvolveu essa teoria1. 2.1.1 TEORIA CONCRETA É também conhecida como Teoria Concretista da Ação ou Teoria do Direito Concreto de Ação. Segundo essa teoria, a ação é o direito a um provimento jurisdicional favorável. A ação é autônoma, mas acessória ao direito material. Foi inicialmente desenvolvida por Adolf Wach. Teve a grande contribuição de ser a primeira a afirmar a autonomia da ação em relação ao direito material2. 2.1.2 TEORIA DO DIREITO POTESTATIVO DE AGIR É uma variação da Teoria Concreta, desenvolvida com a particular concepção de Giuseppe Chiovenda.3 Segundo Chiovenda, a ação é “o poder jurídico de dar vida à condição para a atuação da vontade concreta da lei”.4 1 SILVA, Ovídio A. Baptista da. GOMES, Fábio Luiz. Teoria geral do processo civil. 4. ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2006. p. 94. 2 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. (trad. Paolo Capitanio). v. 1. 3. ed. Campinas : Bookseller, 2002. p. 42. 3 Observe-se que Chiovenda continua tendo uma concepção concretista. 4 Nesse sentido: CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. (trad. Paolo Capitanio). v. 1. 3. ed. Campinas : Bookseller, 2002. p. 39. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 7 DIREITO PROCESSUAL CIVIL Os direitos subjetivos em sentido amplo (direitos que a pessoa pode ter) são classificados em direitos subjetivos em sentido estrito e direitos potestativos. Direito subjetivo é o direito a uma prestação; a esse direito, corresponde um dever de prestar da outra parte. Os direitos subjetivos podem ser violados, gerando para o seu titular o direito de exigir que a outra parte cumpra determinada prestação. O direito potestativo é o direito à formação de uma nova situação jurídica. Ao direito potestativo, corresponde uma sujeição da outra parte, ou seja, o seu titular pode ingressar na esfera jurídica de outrem sem que este nada possa fazer.Sob essas premissas, Chiovenda desenvolveu a sua Teoria. Ele concebe a ação com uma visão concretista (na forma preconizada por Wach), mas acrescenta que ela é um direito potestativo.5 Assim, para Chiovenda, “a ação é um poder que nos assiste em face do adversário em relação a quem se produz o efeito jurídico da atuação da lei. O adversário não é obrigado a coisa nenhuma diante desse poder: simplesmente lhe está sujeito”. 6 Assim, ao direito de ação, corresponde uma sujeição da outra parte ao provimento jurisdicional do Estado. Contudo, a Teoria do Direito Potestativo de Agir tem nitidamente uma concepção concretista, uma vez que entende a ação como o direito a um pronunciamento judicial favorável. 2.1.3 TEORIA ABSTRATA DA AÇÃO A Teoria Abstrata é também conhecida como Teoria do Direito Abstrato de Agir. Tem como objetivo se opor à Teoria Concreta. A Teoria Abstrata defende que ação é “o direito subjetivo público que se exerce contra o Estado e em razão do qual sempre se pode obrigar o réu a comparecer em juízo. É o direito de agir, decorrente da própria personalidade, nada tendo em comum com o direito privado arguido pelo autor”7. Vale dizer, a ação é o direito de se obter um pronunciamento jurisdicional, independentemente de ser favorável ou desfavorável. Assim, para essa Teoria, há ação mesmo que o direito material não exista. Segundo a Teoria Abstrata, a Teoria Concreta não explica satisfatoriamente a improcedência da ação, pois esta não consegue justificar como o autor chega até o final da ação (improcedente) sem que o autor tivesse direito de ação. 2.1.4 TEORIA ECLÉTICA DA AÇÃO Foi desenvolvida por Enrico Tullio Liebman. 5 “Quanto a mim, que comecei a ocupar-me desses problemas quando a categoria dos direitos potestativos estava já largamente estudada na doutrina, não tive dificuldade, com o subsídio de semelhantes estudos, em ser o primeiro a inscrever a ação naquela categoria: reconhecendo a parte substancial da teoria de WACH, defini ação como um ‘direito potestativo’ (1093).” (CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. (trad. Paolo Capitanio). v. 1. 3. ed. Campinas : Bookseller, 2002. p. 41) 6 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. (trad. Paolo Capitanio). v. 1. 3. ed. Campinas : Bookseller, 2002. p. 42. 7 SILVA, Ovídio A. Baptista; GOMES, Fábio Luiz. Teoria geral do processo civil. 4. ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2006. p. 109. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 8 DIREITO PROCESSUAL CIVIL Para Liebman, a ação é o direito de ir a juízo e obter um provimento de mérito (tem concepção abstrata), mas esse direito é condicionado. A esses requisitos para exercer a ação, dá-se o nome de condições da ação. A doutrina majoritária brasileira adota majoritariamente a Teoria Eclética da Ação. Como é cediço, Liebman teve grande influência na Escola Paulista de Processo Civil, tendo como discípulos Alfredo Buzaid e José Frederico Marques, dentre outros. Como Buzaid foi o autor do anteprojeto do CPC de 1973, o seu texto reflete claramente a adoção da Teoria Eclética, sobretudo quando disciplinava expressamente as condições da ação. O Novo Código de Processo Civil não traz expressamente a nomenclatura condições da ação, como fazia o CPC de 1973. Então, cabe perquirir o que significa tal categoria jurídica, bem como se ela permanece no direito processual civil brasileiro após a vigência do Novo CPC. 2.2. AS CONDIÇÕES DA AÇÃO 2.2.1 NOVO CPC: AS CONDIÇÕES DA AÇÃO E A POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO CONTINUAM PRESENTES NO SISTEMA PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO? De acordo com a Teoria Eclética da Ação, de Liebman, na sua formulação original, eram três as condições da ação: legitimidade, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. Entretanto, o próprio Liebman reformulou a sua teoria original, passando a entender que possibilidade jurídica do pedido estaria, na verdade, contida no interesse de agir. Assim, para Liebman, ao final, as condições da ação eram apenas duas: legitimidade e interesse de agir. O CPC/1973 previa expressamente a nomenclatura “condições da ação”. Além disso, no sistema processual brasileiro antes do Novo CPC, a possibilidade jurídica do pedido continuava em vigor no art. 267, inc. VI, do CPC/1973, que previa que deveria ocorrer a extinção do processo sem resolução do mérito “quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual”. No âmbito da jurisprudência, a possibilidade jurídica do pedido continuava sendo utilizada como condição autônoma da ação, ou seja, sem que se considerasse que ela estava dentro do interesse processual. O Novo Código de Processo Civil, por sua vez, não fala em nenhum dispositivo das condições da ação. Contudo, no seu art. 17, estabelece que “para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”. Além disso, o art. 485, inc. VI, do Novo CPC prevê que “o juiz não resolverá o mérito quando [...] verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual”. Portanto, a legitimidade e o interesse processual continuam no Novo CPC como condições ou requisitos para que a ação tenha o seu mérito julgado. Com base em tais premissas, alguns renomados processualistas, tais como Fredie Didier Jr., afirmam que a categoria jurídica condições da ação não existe mais na sistemática do direito processual civil brasileiro, razão pela qual legitimidade e interesse processual passaram a integrar a categoria pressupostos processuais.8 8 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 17. ed. Salvador: Jus Podivm, 2015. p. 306. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 9 DIREITO PROCESSUAL CIVIL Outros, contudo, entendem que a categoria jurídica condições da ação continua presente, haja vista que interesse processual e legitimidade não podem ser enquadrados em outra categoria que não seja condições da ação. Nesse sentido, por exemplo, Daniel Neves.9 De outro lado, José Garcia Medina, que integrou a Comissão do Anteprojeto do Novo CPC, afirma que, na Comissão, a retirada da categoria condições da ação do Novo CPC não ocorreu porque ela foi extinta, senão porque a legislação não pode prever expressamente uma teoria. Com efeito, as teorias devem ser desenvolvidas fora da legislação. Sobre isso, Medina ensina que: Essa opção do projeto, tomada, desde o início, pela comissão que elaborou o anteprojeto do novo CPC, nos parece a mais acertada. A lei, em princípio, não deve adotar um determinado conceito ou concepção doutrinária. O projeto, em outros casos, opta por “definir” institutos jurídico-processuais, aparentemente seguindo determinada concepção doutrinária, algo que não nos parece correto. Restará à doutrina e à jurisprudência definir se, à luz do NCPC, fará, ainda, sentido falar em “condições da ação”, ou se legitimidade e interesse processual seriam matérias que poderiam se inserir entre os pressupostos processuais ou no mérito. Desse modo, fica claro que a opção do Novo Código em não mencionar expressamente o termo condições da ação não tem por objetivo extinguir tal categoria jurídica, senão deixar de impor opções teóricas pelo texto legal. Nesse sentido, trata-se de inovação importante do Novo CPC. Tanto nas decisões judiciais vinculantes, quanto na legislação – ou seja, em decisões e normas que possuem caráter geral e abstrato –, são importantes os chamados “acordos teóricos incompletos”.10 Vale dizer, se determinada decisão ou norma com caráter vinculante, geral e abstrato assumir expressamente determinada teoria, obstaculiza em grande medida o surgimento de novas teorias, e isso é problemático, na medida em que asinovações teóricas são o aporte necessário para a mudança e a “evolução” da doutrina, da jurisprudência e da legislação. Sem as novas teorias, fica mais difícil repensar os dogmas, pois eles comumente não são superados a partir de uma crítica interna. As teorias proporcionam uma análise crítica externa, que permite questionar os dogmas e, por conseguinte, são fundamentais para a doutrina, a jurisprudência e a legislação. Portanto, não se deve incluir na legislação uma teoria como dever-ser. Assim, a não inclusão das chamadas condições da ação no Novo CPC constitui-se em providência adequada, embora elas continuem a existir no sistema processual civil brasileiro, enquanto for adotada, no plano da dogmática, a Teoria Eclética de Liebman. Independentemente da concepção teórica que se adote, o fato é que legitimidade e interesse processual continuam presentes no Novo CPC como requisitos para o julgamento de mérito. Além disso, tais categorias são extremamente úteis, pois, se não estiverem presentes no caso concreto, é possível ao juiz extinguir o processo sem precisar analisar todo o conjunto probatório. Isto é, se tais condições ou requisitos não estiverem presentes no exercício de determinada ação, não é preciso 9 “Como a legitimidade e o interesse dificilmente podem ser enquadrados no conceito de pressupostos processuais, por demandarem análise da relação jurídica de direito material alegada pelo autor, concluo que continuaos a ter no sistema processual as condições da ação.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 49) 10 A esse respeito, existe aqui a mesma preocupação de Cass Sunstein com os acordos teóricos completos, na institucionalização de direitos: “Um julgamento teorizado de modo completo seria incapaz de acomodar mudanças em fatos ou valores. Se uma cultura realmente atingisse um teórico estágio final, tornar-se-ia rígida e calcificada; saberíamos o que pensar sobre tudo. A menos que a teorização completa fosse livre de erros, prejudicaria a posteridade. Portanto, decisões políticas teorizadas de modo incompleto são a chave para debates sobre igualdade no Direito e na política, com questões a serem salientadas sobre discriminação em função de orientação sexual, idade, deficiência e outros análogos à discriminação em função de raça; tais decisões políticas têm a importante vantagem de permitir um vasto grau de abertura a novos fatos e novas perspectivas.” (SUNSTEIN, Cass R.; Decisões políticas teorizadas de modo incompleto no direito constitucional. (trad. Letícia Borges Thomas). In: TEIXEIRA, Anderson Vichinkeski; OLIVEIRA, Elton Somensi de. (Org.). Correntes contemporâneas do pensamento jurídico. Barueri, SP : Manole, 2009. p. 294-317. p. 309) DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 10 DIREITO PROCESSUAL CIVIL que haja todo o gasto de atividade processual para, ao final, se dizer que a parte autora não tem o direito pretendido. Por todas essas razões, legitimidade e interesse processual podem ser enquadrados dentro da categoria jurídica condições da ação. Além disso, não parece que possam ser qualificados como pressupostos processuais, pois nada tem a ver com o processo, já que a sua relação é com o direito material invocado. Além disso, observe-se que o Novo CPC previu em outro dispositivo os pressupostos processuais como causa que leva o juiz a proferir sentença sem apreciar o mérito (art. 485, inc. IV), ou seja, em dispositivo diverso da legitimidade e do interesse processual (art. 485, inc. VI), assim como fazia o CPC/1973. De outro lado, a possibilidade jurídica do pedido não foi prevista no Novo CPC, o que tem levado alguns doutrinadores a dizer que ela estaria dentro de interesse processual. Outros, contudo, entendem que, no Novo CPC, seria uma causa de julgamento de improcedência liminar. No âmbito da Comissão que elaborou o Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil, a justificativa para exclusão da possibilidade jurídica do pedido, no entanto, foi outra. Segundo a exposição de motivos do Anteprojeto, o objetivo da retirada da possibilidade jurídica do pedido como condição da ação foi incluir a circunstância fática que a determina como causa de julgamento liminar de improcedência, a fim de se resolver definitivamente a controvérsia. Observe-se o teor do trecho em referência da exposição de motivos do Anteprojeto do Novo CPC: O novo sistema permite que cada processo tenha maior rendimento possível. Assim, e por isso, estendeu-se a autoridade da coisa julgada às questões prejudiciais. Com o objetivo de se dar maior rendimento a cada processo, individualmente considerado, e, atendendo a críticas tradicionais da doutrina, deixou, a possibilidade jurídica do pedido, de ser condição da ação. A sentença que, à luz da lei revogada seria de carência da ação, à luz do Novo CPC é de improcedência e resolve definitivamente a controvérsia.11 Ocorre que o Novo CPC, na redação original que tratava da improcedência liminar do pedido, contemplava a hipótese da “impossibilidade jurídica do pedido” quando previa, como causa de improcedência liminar, a hipótese em que fosse “manifestamente improcedente o pedido” (art. 317, inc. I, do Anteprojeto do Novo CPC). No entanto, na redação final do Novo CPC (art. 332)12 , tal hipótese não foi contemplada como causa de “improcedência liminar do pedido. A esse respeito, observe-se o teor da regra no Anteprojeto e na versão final do Novo CPC: ANTEPROJETO DO NCPC NOVO CPC Art. 317. Independentemente de citação do réu, o juiz rejeitará liminarmente a demanda se: I – manifestamente improcedente o Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o 11 BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil. Brasília : Senado Federal, Presidência, 2010. pp. 28/29. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf>. Acesso em: 16/9/2015. 12 Novo CPC: “Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. § 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.” DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 11 DIREITO PROCESSUAL CIVIL pedido, desde que a decisão proferida não contrarie entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, sumulado ou adotado em julgamento de casos repetitivos; II – o pedido contrariar entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, sumulado ou adotado em julgamento de casos repetitivos; III – verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição. pedido que contrariar: I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. § 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedenteo pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição. Portanto, caberia perquirir se a (im)possibilidade jurídica do pedido continuaria presente no sistema processual civil brasileiro. A pergunta, contudo, deve assumir um caráter funcional. Durante a vigência do CPC/1973, a possibilidade jurídica do pedido era utilizada pelos tribunais pátrios como condição da ação. Assim, seria possível juridicamente um pedido quando não contrariasse expressamente o ordenamento jurídico. Ocorre que, de acordo com a nova sistemática do CPC/2015, a impossibilidade jurídica do pedido deve ser tratada como hipótese atípica de julgamento liminar de improcedência, com base nos princípios da boa-fé processual, da instrumentalidade, da efetividade e da tempestividade da jurisdição. Isso porque não deve se admitir que uma demanda manifestamente improcedente (vedada pelo ordenamento jurídico) tenha prosseguimento.13 Portanto, pode se dizer que legitimidade para agir e interesse processual continuam presentes no Novo CPC, bem como que pertencem à categoria jurídica processual condições da ação. Além disso, a (im)possibilidade jurídica do pedido deixou de existir no Novo CPC como condição da ação, mas permanecesse no sistema como hipótese atípica de julgamento liminar de improcedência. Sobre o julgamento liminar de improcedência, e suas hipóteses típicas e atípicas de cabimento, se abordará em item próprio, a seguir. 2.2.2 LEGITIMIDADE DAS PARTES A legitimidade das partes, também conhecida pela sua designação do latim legitimatio ad causa, ou, ainda, pertinência subjetiva, é a aptidão específica para ser parte em determinada demanda, ou seja, para ser demandante ou demandado. 13 Também nesse sentido: DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 17. ed. Salvador: Jus Podivm, 2015. pp. 604/605. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 12 DIREITO PROCESSUAL CIVIL A legitimidade para agir pode ser classificada em legitimidade ordinária e legitimidade extraordinária: a) Legitimidade ordinária: tem legitimidade aquele que tem um direito seu discutido no processo, isto é, aquele que faz parte da relação jurídica de direito material deduzida no processo. b) Legitimidade extraordinária: excepcionalmente, a lei pode conferir legitimidade a alguém que não tem um direito seu discutido no processo (art. 6º do CPC). Alguns doutrinadores tratam de forma indistinta legitimidade extraordinária e substituição processual. Outros entendem que legitimação extraordinária estaria ligada aos direitos difusos e coletivos, enquanto a substituição processual estaria ligada a direitos individuais. Uma terceira corrente ensina que a substituição processual é o exercício da legitimação extraordinária, que seria a aptidão genérica. São exemplos de legitimidade extraordinária: a legitimidade do Ministério Público para propor ação de investigação de paternidade; a legitimidade do partido político com representação no Congresso Nacional para propor mandado de segurança coletivo (art. 5º, inc. LXX, da CF); etc. A legitimidade de determinadas instituições para propor ações representando interesses cuja proteção consiste em função institucional é chamada de legitimidade autônoma ou legitimidade extraordinária autônoma. Por exemplo, é função institucional do Ministério Público a proteção do meio ambiente (art. 129, III, CF) e da Defensoria Pública a proteção dos necessitados economicamente (art. 134, CF). Por conseguinte, quando o Ministério Público propõe ação civil pública para proteção do meio ambiente ou a Defensoria Pública ajuíza essa ação em favor dos necessitados, estariam atuando como legitimados autônomos, na medida em que a legitimidade para a propositura de tais ações decorre das suas funções institucionais previstas na Constituição e em leis infraconstitucionais. 2.2.2.1 QUESTÕES SUMULADAS SOBRE LEGITIMIDADE DAS PARTES Sobre a temática legitimidade das partes, é imperioso citar os seguintes entendimentos sumulados do STF e do STJ: Súmula 643 do STF: “O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidades escolares.” Súmula 630 do STF: “A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.” Súmula 629 do STF: “A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes.” Súmula 365 do STF: “Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.” Súmula 254 do STJ: “A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser reexaminada no Juízo Estadual.” Súmula 329 do STJ: “O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do patrimônio público.” Súmula 447 do STJ: “Os Estados e o Distrito Federal são partes legítimas na ação de restituição de imposto de renda retido na fonte proposta por seus servidores.” DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 13 DIREITO PROCESSUAL CIVIL 5.2.3 INTERESSE EM AGIR (OU INTERESSE PROCESSUAL) Para alguém propor uma demanda, é necessário que possua interesse (art. 17, NCPC). O interesse processual tem três requisitos, conforme a maioria da doutrina, quais sejam, necessidade, utilidade e adequação. Para haver utilidade, o processo tem que trazer alguma situação de vantagem para aquele que propõe a demanda. A necessidade (interesse-necessidade) constitui-se na impossibilidade de se obter a satisfação do direito alegado sem a intervenção do Estado-juiz, ou seja, somente haverá interesse em se propor uma demanda quando o conflito não puder ser legitimamente resolvido extrajudicialmente. Enfim, haverá necessidade se houver resistência à pretensão; se não houve resistência pelo obrigado a uma determinada prestação em cumpri-la, não há necessidade do processo e, por conseguinte, faltará interesse processual. Nesse ínterim, é preciso salientar a existência das denominadas ações necessárias, isto é, aquelas que são necessárias por sua própria natureza, pois a satisfação do direito somente ocorre com a vontade integrativa do Estado-juiz. É o caso, por exemplo, da ação de anulação de contrato; da ação rescisória da sentença; etc. De outro lado, é pacífico o entendimento de que, como regra, não é exigível o prévio exaurimento da via administrativa para que a parte ajuíze a ação contra o Estado, em razão do princípio fundamental da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, inc. XXXV, CF). São exceções a essa regra o habeas data e a Justiça Desportiva. A Lei 9.507/1997 determina que somente poderá ser impetrado o habeas data se a petição inicial for acompanhada de comprovante da recusa da prestação de informações pelo órgão ou entidade depositária do banco de dados. A esse respeito, a Súmula 2 do STJ dispõe que “não cabe o habeas data (CF, art. 5º, LXXII, letra "a") se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa”. Sobre a Justiça Desportiva, o § 1º do art. 217 da Constituição Federal determina que “o Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei”. A adequação (interesse-adequação) significa a aptidão da via processual eleita para que o Estado-juiz possa tutelar o direito subjetivo alegado. Por exemplo, o autor não pode obter o despejo do imóvel locado propondo uma ação de reintegração de posse; da mesma forma, não pode pleitear o divórcio propondo uma ação anulatória do casamento. Contudo, estamos com aqueles doutrinadores que entendem que adequação não está ligada ao interesse processual, mas se trata de um pressupostoprocessual de validade.14 Com efeito, o problema da falta de adequação diz respeito ao processo e ao procedimento, e não à ação. Quando se está diante da inadequação da via eleita, deve se analisar a possibilidade de converter o procedimento errado ou inadequado no procedimento correto ou adequado. Portanto, a adequação não diz respeito ao interesse processual (condição da ação), pois se trata de um pressuposto processual objetivo intrínseco de validade. 2.3. CONSEQUÊNCIAS DA AUSÊNCIA DE UMA DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO A ausência de alguma das condições da ação é denominada de carência de ação. A consequência da carência de ação é a extinção do processo sem resolução do mérito, na forma do art. 485, inc. VI, do Novo CPC. 14 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 7. ed. Salvador : Juspodivm, 2007. p. 178/179. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 14 DIREITO PROCESSUAL CIVIL A parte pode alegar a carência de ação em preliminar de contestação ou a qualquer momento no curso do processo. O juiz pode conhecer de ofício a ausência de qualquer das condições da ação.15 2.4. TEORIA DA ASSERÇÃO (OU PROSPETTAZIONE) “Asserção” significa afirmação, sustentação. Segundo a Teoria da Asserção, a verificação das condições da ação deve ser feita in statu assertionis, vale dizer, com base na simples afirmação do autor feita na petição inicial. Se precisar analisar as provas, não será mais aferição de condição da ação, senão análise de mérito, sob pena de estar se utilizando a Teoria Concretista da Ação. A Teoria da Asserção também é conhecida como Teoria da Prospettazione. Grande parte da doutrina e da jurisprudência brasileiras adota a Teoria da Asserção, para a análise das condições da ação. 2.5. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES SEGUNDO A TEORIA QUINÁRIA DE PONTES DE MIRANDA Para Pontes de Miranda, as ações podem ter cinco cargas de eficácia. Segundo a eficácia predominante, as ações podem ser classificadas em ação declaratória, ação constitutiva, ação condenatória, ação mandamental e ação executiva. 2.5.1 AÇÃO DECLARATÓRIA É também conhecida como ação puramente declaratória ou meramente declaratória. Trata-se da ação em que se pleiteia apenas a certificação ou a declaração. No direito brasileiro, é possível postular a certificação de existência ou inexistência de uma relação jurídica ou a autenticidade ou falsidade de um documento. Com efeito, o art. 19 do Novo CPC prevê expressamente que o interesse do autor deve se limitar à declaração de existência, inexistência ou modo de ser de uma relação jurídica, ou ao reconhecimento da autenticidade ou falsidade de documento. Assim, como regra, não cabe ação declaratória para dar interpretação a texto de lei, ou para declarar um fato, salvo se esse fato for a autenticidade ou falsidade de determinado documento. De outro lado, o art. 20 prevê que “é admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito”. Desse modo, por exemplo, num acidente de trânsito, um dos condutores pode propor ação declaratória com o objetivo de reconhecer que o outro é o culpado pelo acidente, sem que precise formular pedido condenatório (o pedido condenatório pode não lhe ser conveniente, porque, p. ex., o réu é pobre, ou porque o prejuízo do autor foi muito pequeno). De outro lado, a Súmula 181 do STJ estabelece que “é admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto à exata interpretação de cláusula contratual”. A Súmula 242 do STJ dispõe que “cabe ação declaratória para reconhecimento de tempo de serviço para fins previdenciários”. 15 “[...] AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR E DE LEGITIMIDADE ATIVA. TEORIA DA ASSERÇÃO. PRECEDENTE. CARÊNCIA DE AÇÃO NÃO CARACTERIZADA. [...] 1. A jurisprudência do STJ acolhe a teoria da asserção, segundo a qual a presença das condições da ação deve ser aferida a partir das afirmações deduzidas na petição inicial, dispensando-se qualquer atividade instrutória. [...]” (STJ, AgRg no AREsp 741.229/DF, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 15/10/2015, DJe 23/10/201 DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 15 DIREITO PROCESSUAL CIVIL São exemplos de ações declaratórias: a ação consignatória; a ação de usucapião; a ação declaratória de existência de sociedade de fato; a ação declaratória de união estável; a ação declaratória de nulidade (não de anulação) de negócio jurídico; a ação declaratória de inexistência de dívida. 2.5.2 AÇÃO CONSTITUTIVA Trata-se de ação em que se postula a criação, a modificação ou a extinção de uma relação jurídica. São exemplos de ações constitutivas: divórcio; anulação de casamento; ação de anulação de negócio jurídico; regulamentação de visitas; ação de guarda; ação de suspensão e destituição do pátrio poder; ação de adoção; ação renovatória e revisional de locação; ação de desapropriação; ação popular; ação de divisão de terras; ação de extinção de condomínio. 2.5.3 AÇÃO CONDENATÓRIA Trata-se da ação em que o autor busca a condenação do réu a uma prestação de pagar quantia, de entregar coisa, de fazer ou de não fazer. Pode-se citar, como exemplos de ações condenatórias, a ação de indenização; a ação de reparação; a ação de perdas e danos; a ação de ressarcimento; a ação de locupletamento; a ação de alimentos. 2.5.4 AÇÃO MANDAMENTAL Há autores que não reconhecem a autonomia da ação mandamental e da ação executiva, fundamentando que estariam dentro da ação condenatória. No entanto, de acordo com a Teoria Quinária de Pontes de Miranda e os doutrinadores que a seguem, tais ações (mandamental e executiva) possuem autonomia classificatória, razão pela qual são assim tratadas aqui. A ação mandamental é aquela em que se pede a imposição de um dever e o seu cumprimento por meio de coerção indireta. A coerção é indireta porque atua na esfera psicológica daquele a quem se impõe a obrigação, a fim de que a cumpra, mas o Estado-juiz não consegue diretamente efetivar aquela obrigação. Por exemplo, num mandado de segurança em que se concede a implantação de determinado benefício a servidor público, o Estado-juiz não consegue entrar no sistema de recursos humanos do órgão pagador para incluir o benefício na folha de pagamento. Então, precisa-se de uma coerção indireta para que o órgão responsável tome essa providência que foi determinada judicialmente. São exemplos de ações mandamentais o mandado de segurança; o mandado de injunção; o habeas data; o interdito proibitório; os embargos de terceiro; a ação de depósito. 2.5.5 AÇÃO EXECUTIVA Trata-se de ação em que se pede a imposição de um dever e o seu cumprimento por meio de coerção direta. Vale dizer, o Estado-juiz impõe uma obrigação e atua diretamente para o seu DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 16 DIREITO PROCESSUAL CIVIL cumprimento. A ordem não satisfeita pelo demandado é cumprida pela coerção direta do Estado- juiz. Por exemplo, numa ação de despejo, a ordem de desocupação, caso não cumprida pelo locatário, será efetivada diretamente pelo oficial de justiça, inclusive com o auxílio de força policial. São exemplos de ações executivas: a ação reivindicatória; a ação de imissão de posse; a ação de reintegração de posse; a ação de petição de herança; a ação de adjudicação compulsória; a ação de busca e apreensão (Decreto-Lei 911/69); a ação de despejo. O JUIZ: ATUAÇÃO E PODERES Todo juízo, independentemente do seu grau de jurisdição, é composto pelo juiz e pelos órgãos auxiliares, que são formados pelos serventuários (escrivães, oficiais de justiça, escreventes, técnicos e etc). 3.1. O JUIZ: PODERES, DEVERES E RESPONSABILIDADES Ao juiz cabe o importante papel de dirigir o processo; ojuiz como diretor do processo. A direção deve ser exercida com segurança, firmeza, imparcialidade, urbanidade, prudência e humildade. O papel do diretor do processo não confere ao juiz poder hierárquico sobre o advogado e o membro do Ministério Público. Juiz, advogado e Ministério Público têm, no processo, independência entre si e devem tratar-se reciprocamente com urbanidade. Aqui vigora o princípio da cooperação, estabelecido no art. 6º do Código de Processo Civil, vejamos: Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. O juiz possui o dever de buscar a rápida e justa solução da lide, se possível com a conciliação, bem como de coibir qualquer ato contrário à dignidade da justiça. Outro importante princípio norteador da atuação do juiz é o da inércia do poder judiciário, assim sendo, salvo situações excepcionais, o juiz deverá decidir a lide nos limites em que foi proposta, não sendo possível conhecer de questões que à parte incumbia suscitar e não o fez. Assim estabelece o Código de Processo Civil, com destaque nas principais inovações, abaixo indicadas: Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento; II - velar pela duração razoável do processo; III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias; IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub- rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária; V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais; VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito; VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial, além da segurança interna dos fóruns e tribunais; DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 17 DIREITO PROCESSUAL CIVIL VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso; IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais; X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva. Parágrafo único. A dilação de prazos prevista no inciso VI somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular. A responsabilidade civil do juiz, restou, igualmente, prevista no Código de Processo Civil, exigindo-se por parte deste o dolo ou fraude, ou, ainda, quando o magistrado recuse, omita ou retarde, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte, senão vejamos a previsão do art. 143: Art. 143. O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando: I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude; II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte. Parágrafo único. As hipóteses previstas no inciso II somente serão verificadas depois que a parte requerer ao juiz que determine a providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10 (dez) dias. 3.2. IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO Impedimento e suspeição representam situações distintas, geradoras de consequências igualmente distintas. De acordo com Hélio Tornaghi, o impedimento “é a circunstância que priva o juiz do exercício de suas funções em determinado caso, dada a sua relação com o objeto da causa”, enquanto a suspeição, por sua vez, “é a desconfiança, a dúvida, o receio de que o juiz, ainda quando honesto e probo, não terá condições psicológicas de julgar com isenção dada a sua relação com qualquer das partes”16. O impedimento se apresenta como verdadeira proibição, imposta ao juiz, de oficiar no processo em que se encontre presente qualquer das circunstâncias apontadas no artigo 144 do Código de Processo Civil. As principais inovações no texto de 2015, restam abaixo destacadas: Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes; VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; 16 TORNAGHI, Hélio. Comentários ao Código de Processo Civil, vol. I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1974. p. 416-417. http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L7347orig.htm#art5 http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L8078.htm#art82 http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L8078.htm#art82 DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 18 DIREITO PROCESSUAL CIVIL VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. § 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz. § 2º É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz. § 3º O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo. O impedimento tem natureza de objeção processual, na medida em que pode ser alegado a qualquer tempo pela parte e deve, mesmo, ser reconhecido de ofício pelo juiz. Representa, portanto, obstáculo absoluto, intransponível ao exercício da função jurisdicional pelo juiz assim incompatibilizado, invalidando a sentença por ele proferida, conforme art. 966, II do NCPC. A suspeição, por sua vez, recomenda ao juiz o afastamento da presidência do processo sempre que se verificarem quaisquer dos motivos arrolados pelo artigo 145, com as principas inovações abaixo destacadas: Art. 145. Há suspeição do juiz: I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio; III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiroou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes. § 1º Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões. § 2º Será ilegítima a alegação de suspeição quando: I - houver sido provocada por quem a alega; II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do arguido. Por fim, é imprescindível lembrar que os casos de impedimento e de suspeição não se aplicam tão-somente ao juiz, conforme previsão do art. 148: Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição: I - ao membro do Ministério Público; II - aos auxiliares da justiça; III - aos demais sujeitos imparciais do processo. § 1o A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos. § 2º O juiz mandará processar o incidente em separado e sem suspensão do processo, ouvindo o arguido no prazo de 15 (quinze) dias e facultando a produção de prova, quando necessária. § 3º Nos tribunais, a arguição a que se refere o § 1o será disciplinada pelo regimento interno. § 4º O disposto nos §§ 1o e 2o não se aplica à arguição de impedimento ou de suspeição de testemunha. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 19 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PARTES E LITISCONSÓRCIO Segundo Humberto Theodoro Júnior, “pode-se definir a parte para o direito processual como a pessoa que pede ou perante a qual se pede, em nome próprio, a tutela jurisdicional.” Nesse contexto, o autor ou demandante é aquele que invoca a tutela jurisdicional, tomando a posição ativa de instaurar a relação processual. E o réu ou demandado é aquele que fica na posição passiva, sujeito à relação processual instaurada pelo autor. São capazes para estar em juízo aqueles que têm personalidade jurídica, tanto pessoas físicas (cuja personalidade jurídica começa com o nascimento com vida, nos termos do art. 2º do CC) como pessoas jurídicas (cuja personalidade jurídica inicia com o registro de seus atos constitutivos na repartição competente e na forma da lei, consoante caput do art. 45 do CC). 4.1. PARTES 4.1.1 REPRESENTAÇÃO E ASSISTÊNCIA Conforme preceitua o art. 70 do NCPC, toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo. Caso a parte não tenha capacidade para estar em juízo, necessita ser representada ou assistida. 4.1.2 CURADOR ESPECIAL O curador especial é um representante legal nomeado ao incapaz somente para determinado processo. Ou seja, não se deve confundir curador especial com curador (nomeado para representar o incapaz num processo de interdição). O curador especial, diferentemente do curador, não se torna representante legal para todo e qualquer ato da vida civil, tampouco para outros processos para os quais não foi nomeado. Trata-se de um curador “ad hoc” somente para o processo específico em que foi nomeado. Será nomeado curador especial nas seguintes hipóteses: a) ao incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade; b) ao réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado. A curadoria especial é uma das funções institucionais da Defensoria Pública (art. 4º, inc. XVI, da Lei Complementar 80/94)17, bem como resta definido no art. 72, parágrafo único do NCPC. Se o executado for citado por edital ou por hora certa, e permanecer revel, o curador especial nomeado terá legitimidade para apresentação de embargos, conforme súmula 196 do STJ, que assim 17 “Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: (...) XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei;” DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 20 DIREITO PROCESSUAL CIVIL prevê: “Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de embargos”. 4.1.3 SUCESSÃO PROCESSUAL A sucessão processual ocorre quando, voluntariamente e nos casos permitidos em lei, há a entrada de uma parte no processo no lugar de outra, a qual é excluída do processo. O art. 109, caput, do NCPC prevê que a alienação do direito ou coisa litigiosa, no curso do processo, não altera a legitimidade das partes. Isso quer dizer que o alienante (que é parte no processo) passa a atuar no processo como substituto processual do adquirente, pois passa a defender em nome próprio o direito material alheio (do adquirente). O § 1º do art. 109 do NCPC prevê que o adquirente ou o cessionário do direito ou coisa litigiosa somente poderá ingressar no lugar da parte se houver o consentimento da parte contrária e do alienante ou cedente. Nesse tocante, é importante ressaltar que, consoante entendimento pacífico da doutrina, quando o adquirente entra no lugar do alienante, ocorre a sucessão processual (ingresso de alguém no lugar da parte do processo, excluindo-se esta). De outro lado, se a parte contrária não consentir, o adquirente ou o cessionário poderá intervir no processo como assistente do alienante ou do cedente (§ 2º). Neste caso em que o alienante ou o cedente continuam no processo, passam a atuar em nome próprio defendendo direito alheio (do adquirente ou cessionário), razão pela qual passam a ser substitutos processuais. Outro típico exemplo de sucessão processual é aquele que ocorre quando uma das partes do processo vem a falecer. Neste caso, haverá o ingresso do espólio ou dos herdeiros do falecido no seu lugar. Assim, ocorre a sucessão processual, conforme o art. 110 do NCPC. 4.1.4 AUTORIZAÇÃO OU CONSENTIMENTO Trata-se da forma prevista em lei para que um cônjuge manifeste o seu consentimento a fim de que o outro proponha ação real imobiliária, ou ação possessória, quando exigido legalmente, conforme preceitua o art. 73, in verbis: Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. § 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges. § 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado. § 3o Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos. A consequência legal para a ausência de autorização é a invalidade do processo. No entanto, se a petição inicial não vier acompanhada da autorização do cônjuge para propor a ação, o juiz não deverá de plano extinguir o processo sem resolução de mérito (indeferir a petição inicial), senão intimar a parte para juntá-la aos autos.18 4.2. LITISCONSÓRCIO Quando se tem dois ou mais autores e/ou dois ou mais réus, está-se diante de uma situação de 18 TJDFT, 20100020021382AGI, Relator CRUZ MACEDO, 4ª Turma Cível, julgado em 05/05/2010, DJ 25/05/2010 p. 114. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 21 DIREITO PROCESSUAL CIVIL litisconsórcio. Litisconsórcio não é a pluralidade de partes, mas a pluralidade de sujeitos parciais em um dos polos, ou seja, mais de um autor ou mais de um réu em um dos polos. Umautor e um réu, cada um no seu respectivo polo, configura pluralidade de partes, e não litisconsórcio. O litisconsórcio, portanto, é a pluralidade de sujeitos ativos ou passivos no processo, e não a pluralidade de partes. A doutrina adota quatro critérios de classificação de litisconsórcio, quais sejam: a) quanto à posição; b) quanto ao momento da formação; c) quanto à obrigatoriedade e d) quanto à sorte no plano material. Resumidamente, por conseguinte, o litisconsórcio consiste na pluralidade de sujeitos integrando um ou ambos os pólos de uma relação processual (ativo e passivo). Pelo mesmo motivo, cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo e todos devem ser intimados dos respectivos atos. Passe-se à análise dos quatro critérios referidos anteriormente. 4.2.1 QUANTO À POSIÇÃO DOS LITISCONSORTES a) Há litisconsórcio ativo quando a pluralidade de sujeitos se encontra no pólo ativo da relação processual, ou seja, quando temos pluralidade de autores. b) Há litisconsórcio passivo quando a pluralidade de sujeitos se dá no pólo passivo da relação processual, ou seja, no caso de pluralidade de réus. c) Há litisconsórcio misto ou recíproco quando a pluralidade de sujeitos se verifica em ambos os pólos. 4.2.2 QUANTO AO MOMENTO PROCESSUAL O litisconsórcio pode ser inicial ou ulterior. O inicial é aquele que se forma no início do processo, desde a petição inicial. Em contrapartida, o litisconsórcio ulterior se forma depois do início do processo, isto é, no decorrer do processo. 4.2.3 QUANTO À FORMAÇÃO O litisconsórcio pode ser facultativo ou necessário. a) No litisconsórcio facultativo temos a pluralidade de sujeitos em virtude de afinidade de interesses, sendo opção dos litisconsortes que poderiam, se assim desejassem, ingressar com ações autônomas. b) No litisconsórcio necessário, por sua vez, a liame que une os sujeitos existe em decorrência de disposição legal, sendo obrigatória a participação destes no processo para que haja eficácia da sentença. O novo texto do CPC corrige a imprecisão do CPC/1973 na parte conceitual, que confundia litisconsórcio necessário e unitário. CPC/1973, conforme verifica-se: Art. 47, CPC/73. Há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os litisconsortes no processo Art. 114, NCPC O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 22 DIREITO PROCESSUAL CIVIL Art. 115, NCPC. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será: I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o processo; II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados. 4.2.4 QUANTO À DECISÃO a) O litisconsórcio diz-se unitário quando o juiz deve, obrigatoriamente, proferir sentença igual para todos os litisconsortes (artigos 116 e 117 do NCPC). b) O litisconsórcio será simples quando o juiz pode optar por dar decisões diferentes às partes integrantes de um mesmo pólo da relação jurídica. 4.2.5 LITISCONSÓRCIO MULTITUDINÁRIO O instituto do litisconsórcio tem por finalidade assegurar a economia processual e a razoável duração do processo, permitindo, assim, o ajuizamento de uma única ação, com diversos sujeitos e evitando-se excessiva demora ou decisões incompatíveis. É possível, entretanto, que o processo conte com um excessivo número de sujeitos, o que, por certo, acaba por tumultuar a lide, não se realizando a finalidade do instituto. Ao litisconsórcio facultativo, que conta com excesso de sujeitos em um dos pólos, chamamos multitudinário. Nestes casos, é facultado ao juiz reduzir o número de litisconsortes na ação, desmembrando-a. Frise-se que o novo texto do Código de Processo Civil traz limitação ao litisconsórcio multitudinário, conforme preceitua o art. 113, §1º e §2º, in verbis: Art. 113. § 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. § 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 23 DIREITO PROCESSUAL CIVIL INTERVENÇÃO DE TERCEIROS Em princípio, a sentença só produz efeito entre as partes. Às vezes, porém, ainda que de modo indireto, esse efeito pode recair sobre os interesses de pessoas estranhas ao processo. A intervenção em processo alheio só é possível mediante expressa permissão legal, porque a regra continua a ser, no Direito brasileiro, a da singularidade do processo e da jurisdição. A legitimação para intervir, portanto, decorre da lei e depende de previsão do Código. Isto quer dizer que não é possível o ingresso de um terceiro em processo alheio sem que se apoie em algum permissivo legal, não se admitindo, por conseguinte, figuras que não tenham base na norma jurídica expressa. Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre. Art. 120. Não havendo impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o pedido do assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar. Parágrafo único. Se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo. 5.1. ALTERAÇÕES TRAZIDAS NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL É importante notar que houve uma considerável alteração no tocante à intervenção de terceiros ao longo do Novo Código de Processo Civil. Percebe-se que a intervenção de terceiros no CPC/1973 poderia ser dividida em: 1. Assistência 2. Oposição 3. Nomeação à autoria 4. Denunciação da lide 5. Chamamento ao processo intervenção de terceiros Atualmente, conforme preceitua o NCPC, melhor divisão ocorre da seguinte maneira: 1. Assistência – assistência simples e litisconsorcial 2. Denunciação da lide 3. Chamamento ao processo 4. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica 5. Amicus curiae 6. A oposição no NCPC não é intervenção de terceiro, mas procedimento especial (arts. 682 a 686), sem grandes alterações em relação aos dispositivos ainda vigentes: DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 24 DIREITO PROCESSUAL CIVIL “Fez-se bem em não mais tratar a oposição como modalidade de intervenção, porque é, em verdade, manifestação do exercício do direito de ação. Mas, por outro lado, não há razão para que a oposição esteja entre os procedimentos especiais, uma vez que inexiste peculiaridade procedimental alguma que a particularize.19” As alterações quedam-se facilmente visíveis com a utilização do seguinte quadro de correspondência20: 5.2. ASSISTÊNCIA – ASSISTÊNCIA SIMPLES E LITISCONSORCIAL Duas são as espécies de assistência: a) simples . b) litisconsorcial. O novo CPC efetiva a divisão e conceituação da assistência simples e litisconsorcial, conforme artigos 121 e 124. A assistência será prestada e admitida a partir da existência do interesse jurídico. Interesse jurídico não seriainteresse meramente moral, religioso, científico, entre outros. 5.2.1 ASSISTÊNCIA SIMPLES Nesta hipótese o assistente simples auxilia na defesa de direito de titularidade do assistido, ou seja, o terceiro possui interesse jurídico na realização de direito alheio. Podemos citar, por exemplo, a assistência prestada pelo sublocatário ao locatário em ação de despejo. A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos. Uma vez transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e 19 Teresa Arruda Alvim WAMBIER, Maria Lúcia Lins CONCEIÇÃO, Leonardo Ferres da Silva RIBEIRO e Rogerio Licastro Torres de MELLO, Primeiros comentários ao novo código de processo civil, São Paulo: RT, 2015, p. 1018. 20 Alvim, Rafael. Instituto de Direito Contemporâneo. Disponível em http://www.cpcnovo.com.br/blog/2015/09/17/intervencao-de-terceiros-no-novo-cpc/. Acesso em 21.02.2016 DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 25 DIREITO PROCESSUAL CIVIL provar que pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença; desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. Art. 121. O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido. Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto processual. Art. 122. A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos. Art. 123. Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que: I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença; II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. 5.2.2 ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL Neste caso, haveria interesse jurídico e titularidade do direito. O direito em litígio é de titularidade não só do assistido, mas também do assistente. Marinoni, Arenhart e Mitidiero, assim referem: “Em certas situações, aquele que é titular do direito material discutido em juízo pode ingressar ulteriormente no processo e aderir à posição de uma das partes para ‘assisti-la’ frente ao embate que trava com o adversário que lhes é comum. É exatamente essa a forma de intervenção que é consentida a título de assistência litisconsorcial: o assistente litisconsorcial é o titular do direito discutido em juízo – e, dessa forma, será atingido pela coisa julgada – que ingressa ulteriormente no processo. Daí a razão pela qual não se trata propriamente de espécie de assistência. Trata-se de uma verdadeira intervenção litisconsorcial ulterior.” Art. 124. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido. 5.3. DENUNCIAÇÃO DA LIDE O Novo Código de Processo Civil retira do texto legal a obrigatoriedade da utilização de denunciação da lide, restando prevista, agora, em duas circunstâncias: a) ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam; b) àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. A denunciação da lide tem por justificativa a economia processual, porquanto encerra, num mesmo processo, duas ações (a principal e a incidente, de garantia), e a própria exigência de justiça, porque evita sentenças contraditórias (p. ex., poderia ser procedente a primeira e improcedente a de regresso por motivo que, se levado à primeira, também a levaria à improcedência). Assim, ocorrendo a denunciação, o processo se amplia objetiva e subjetivamente. Subjetivamente porque ingressa o denunciado, o qual passará a demandar juntamente com o autor se o denunciante for o autor, e juntamente com o réu se o denunciante for o réu. Objetivamente, DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 26 DIREITO PROCESSUAL CIVIL porque se insere uma demanda implícita do denunciante contra o de denunciado, de indenização por perdas e danos. Seguem os artigos relativos à denunciação da lide, com destaque para as principais inovações: Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam; II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. § 1o O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida. § 2o Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma. Art. 126. A citação do denunciado será requerida na petição inicial, se o denunciante for autor, ou na contestação, se o denunciante for réu, devendo ser realizada na forma e nos prazos previstos no art. 131. Art. 127. Feita a denunciação pelo autor, o denunciado poderá assumir a posição de litisconsorte do denunciante e acrescentar novos argumentos à petição inicial, procedendo- se em seguida à citação do réu. Art. 128. Feita a denunciação pelo réu: I - se o denunciado contestar o pedido formulado pelo autor, o processo prosseguirá tendo, na ação principal, em litisconsórcio, denunciante e denunciado; II - se o denunciado for revel, o denunciante pode deixar de prosseguir com sua defesa, eventualmente oferecida, e abster-se de recorrer, restringindo sua atuação à ação regressiva; III - se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor na ação principal, o denunciante poderá prosseguir com sua defesa ou, aderindo a tal reconhecimento, pedir apenas a procedência da ação de regresso. Parágrafo único. Procedente o pedido da ação principal, pode o autor, se for o caso, requerer o cumprimento da sentença também contra o denunciado, nos limites da condenação deste na ação regressiva. Art. 129. Se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento da denunciação da lide. Parágrafo único. Se o denunciante for vencedor, a ação de denunciação não terá o seu pedido examinado, sem prejuízo da condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado. 5.4. CHAMAMENTO AO PROCESSO O instituto do chamamento ao processo é a penúltima modalidade de intervenção de terceiros prevista no NCPC, restando aquie presentes as figuras do fiador, do afiançado e do devedor solidário. A rigor, o instituto do chamamento ao processo revela uma pequena exceção ao princípio da “proibição do julgamento fora do pedido” (ne procedat iudex ex officio), isto é, ao princípio da iniciativa da parte, porque alguém, nas hipóteses legais, é convocado a participar do processo pelo réu e não
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