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2017 Logística do agronegócio Prof. Pablo Rodrigo Bes Oliveira Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Prof. Pablo Rodrigo Bes Oliveira Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 658.71 O48lOliveira, Pablo Rodrigo Bes Logística do agronegócio / Pablo Rodrigo Bes Oliveira: UNIASSELVI, 2017. 187 p. : il. ISBN 978-85-515-0094-1 1.Logística Empresarial. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Impresso por: III apresentação Queridos acadêmicos e acadêmicas, gostaria de comentar que este livro didático foi construído baseado nas obras clássicas que hoje tratam da Logística Empresarial e da Gestão das Cadeias de Abastecimento, escritas por autores nacionais e internacionais que se dedicam aos assuntos em questão. De antemão, já chamamos a atenção para o fato das transformações ocorridas em nível mundial nas últimas décadas, sobretudo resultantes das mudanças econômicas, políticas e culturais propiciadas pela globalização. Mudanças estas que afetam sobremaneira a forma como vivemos, e incidem diretamente no modo como as empresas executam suas operações. Percebe-se um grande aumento nas exigências dos clientes, o que faz com que a concorrência se torne mais agressiva. As empresas, de modo geral, trabalhando com padrões de qualidade muito próximos umas das outras, necessitam aprimorar seus processos de forma a buscar vantagem competitiva, o que muitas vezes ocorre através da liderança em custos, ou seja, quanto menor for o custo em operações intermediárias envolvidas com o processo produtivo, e no decorrer de toda a cadeia de abastecimento utilizada, maior a vantagem frente aos concorrentes. Neste contexto, as atividades que envolvem o produto e serviço logísticos são imprescindíveis. Focando ainda mais nas atividades relacionadas ao agronegócio, percebemos que as operações que envolvem o transporte, armazenamento e distribuição dos produtos agrícolas, pecuários, agroindustriais e todos os que compõem o agronegócio, da mesma maneira apresentam as mesmas exigências. Desta forma, nosso Livro Didático de Logística no Agronegócio foi estruturado em três unidades com as quais se acredita estar disponibilizando o conhecimento básico sobre a logística empresarial, tão necessária nas atividades organizacionais. Assim sendo, nossa primeira unidade irá contextualizar um pouco sobre o surgimento da logística, seu conceito e os principais processos que a envolvem, bem como as principais áreas de operação da mesma. Na segunda unidade veremos como a informação se faz importante para a logística, estudaremos seus principais sistemas de informação, discorreremos sobre o transporte e a logística reversa. Na terceira unidade iremos fechar nossos estudos sobre o assunto, conhecendo como a legislação/políticas públicas aplicadas ao agronegócio incidem sobre a logística e os impactos específicos dessa atividade no agronegócio. Nesta unidade final também iremos reforçar os conceitos que dizem respeito ao gerenciamento da cadeia de abastecimento, que abrange, normalmente, as atividades logísticas. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! Desejo a todos um ótimo aprendizado e que as teorias selecionadas, aliadas às nossas problematizações, bem como os esquemas, gráfico, tabelas, imagens, textos e leituras complementares possam estimular e proporcionar uma aprendizagem significativa a todos. O autor. NOTA V Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII UNIDADE I – A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL ...................................... 1 TÓPICO I – CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL ................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 3 2 CONCEITUANDO A LOGÍSTICA ............................................................................................... 3 2.1 GERANDO VALOR LOGÍSTICO .............................................................................................. 8 2.2 O FUNCIONAMENTO DA LOGÍSTICA ................................................................................. 9 2.2.1 Processamento de pedidos ................................................................................................. 11 2.2.2 Estoques ................................................................................................................................ 11 2.2.3 Transportes ........................................................................................................................... 13 2.2.4 Armazenagem, manuseio de materiais e embalagem .................................................... 14 2.2.5 Projeto da Rede de Instalações ........................................................................................... 15 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 16 RESUMO DO TÓPICO 1 ..................................................................................................................... 20 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 21 TÓPICO 2 – O PRODUTO LOGÍSTICO ......................................................................................... 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23 2 CONHECENDO O PRODUTO LOGÍSTICO .............................................................................. 23 2.1 O CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS ...................................................................................... 26 2.2 CARACTERÍSTICAS DOS PRODUTOS ....................................................................................27 2.2.1 Quociente peso-volume ...................................................................................................... 28 2.2.2 Quociente valor-peso .......................................................................................................... 28 2.2.3 Substituibilidade .................................................................................................................. 29 2.2.4 Características de risco ........................................................................................................ 29 2.3 EMBALAGEM DOS PRODUTOS .............................................................................................. 30 2.4 PRECIFICAÇÃO DOS PRODUTOS ........................................................................................... 31 2.4.1 Precificação FOB .................................................................................................................. 31 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 35 RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................................................................... 37 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 38 TÓPICO 3 – SUPRIMENTO, ARMAZENAGEM E MOVIMENTAÇÃO DE MATERIAIS .................................................................................................................... 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 39 2 CONTEXTUALIZANDO .................................................................................................................. 39 2.1 SUPRIMENTOS ............................................................................................................................. 40 2.1.1 Just in time ............................................................................................................................. 42 2.1.2 Aquisição de serviços de logística (terceirização) .......................................................... 43 2.1.3. Logística baseada no desempenho ................................................................................... 44 2.2 ARMAZENAGEM ........................................................................................................................ 44 2.2.1 Tipos de armazéns ou estoques ........................................................................................ 48 2.3 MOVIMENTAÇÃO DE MATERIAIS ......................................................................................... 50 2.3.1 Equipamentos e tecnologia de armazenagem e movimentação .................................... 52 sumário VIII 2.3.1.1 Sistemas Mecanizados ...................................................................................................... 53 2.3.1.2 Sistemas Semiautomatizados .......................................................................................... 58 2.3.1.3 Sistemas Automatizados .................................................................................................. 59 2.3.1.4 Sistemas Orientados pela Informação ........................................................................... 63 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 64 RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................................................................... 66 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 67 UNIDADE 2 – APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS SOBRE OS SISTEMAS LOGÍSTICOS .............................................................................................................. 69 TÓPICO 1 – OS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES LOGÍSTICAS ............................................. 71 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 71 2 CONCEITUANDO O SISTEMA DE INFORMAÇÕES LOGÍSTICAS .................................. 71 2.1 ALIANDO A INFORMAÇÃO E AS ESTRATÉGIAS DO NEGÓCIO ................................... 72 2.2 CONCEITOS INICIAIS: DADO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO ............................ 75 2.3 O SISTEMA DE INFORMAÇÃO ................................................................................................ 77 2.4 OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO APLICADOS À LOGÍSTICA ........................................ 78 2.4.1 O Sistema de Gerenciamento de Pedidos ......................................................................... 80 2.4.2 Sistema de Gerenciamento de Armazéns ......................................................................... 81 2.4.3 Sistema de Gerenciamento de Transportes ...................................................................... 85 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 88 RESUMO DO TÓPICO 1 ..................................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 92 TÓPICO 2 – SISTEMAS DE TRANSPORTE E ADMINISTRAÇÃO DE TRÁFEGO ............. 93 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 93 2 A IMPORTÂNCIA DO TRANSPORTE PARA A LOGÍSTICA ............................................... 93 2.1 OS PARTICIPANTES DO TRANSPORTE ................................................................................. 95 2.2 OPÇÕES DE SERVIÇOS DE TRANSPORTES E SUAS CARACTERÍSTICAS ..................... 96 2.3 OS CINCO MODAIS LOGÍSTICOS BÁSICOS ......................................................................... 99 2.3.1 Ferroviário ............................................................................................................................ 99 2.3.2 Aéreo ...................................................................................................................................... 100 2.3.3 Rodoviário ............................................................................................................................ 102 2.3.4 Aquaviário ou hidroviário .................................................................................................. 103 2.3.5 Dutoviário ............................................................................................................................. 105 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 106 RESUMO DO TÓPICO 2 ..................................................................................................................... 109 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 110 TÓPICO 3 – A LOGÍSTICA REVERSA ............................................................................................ 111 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 111 2 CONCEITUANDO A LOGÍSTICA REVERSA ............................................................................ 111 2.1 SENSIBILIDADE ECOLÓGICA E A LOGÍSTICA REVERSA ................................................ 114 2.2 A LOGÍSTICA REVERSA DE PÓS-CONSUMO ......................................................................116 2.3 A LOGÍSTICA REVERSA DE PÓS-VENDA ............................................................................. 121 2.4 RETORNOS COMERCIAIS ......................................................................................................... 123 2.5 RETORNO POR GARANTIA/QUALIDADE ........................................................................... 124 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 125 RESUMO DO TÓPICO 3 ..................................................................................................................... 127 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 128 IX UNIDADE 3 – CADEIA DE SUPRIMENTOS, POLÍTICAS E INOVAÇÕES LOGÍSTICAS ............................................................................................................. 129 TÓPICO 1 – A GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS ...................................................... 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 131 2 CONCEITUANDO A CADEIA DE SUPRIMENTOS ................................................................ 131 2.1 OBJETIVO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS ......................................................................... 133 2.2 DECISÕES NA CADEIA DE SUPRIMENTOS ........................................................................ 134 2.3 VISÕES SOBRE A CADEIA DE SUPRIMENTOS ................................................................... 135 2.3.1 Ciclo de pedido do cliente ................................................................................................. 136 2.3.2 Ciclo de reabastecimento ................................................................................................... 137 2.3.3 Ciclo de fabricação .............................................................................................................. 138 2.3.4 Ciclo de suprimentos .......................................................................................................... 139 2.3.5 Visão push/pull da cadeia de suprimentos ....................................................................... 140 2.4 A CADEIA DE SUPRIMENTOS E AS ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS ............................ 141 2.4.1 A Responsividade da cadeia de suprimentos ................................................................ 143 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 144 RESUMO DO TÓPICO 1 .................................................................................................................... 147 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 148 TÓPICO 2 – AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A LOGÍSTICA ............................................... 149 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 149 2 O PLANO NACIONAL DE LOGÍSTICA E TRANSPORTE .................................................... 149 2.1 O SISTEMA NACIONAL DE VIAÇÃO ............................................................................. 151 2.2 O PLANO DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO – PAC .......................................... 157 2.3 POLÍTICAS DE INCENTIVO À EXPORTAÇÃO .............................................................. 161 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 165 RESUMO DO TÓPICO 2 .................................................................................................................... 167 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 168 TÓPICO 3 – INOVAÇÕES E IMPACTOS DA LOGÍSTICA NO AGRONEGÓCIO ............. 169 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 169 2 PROJEÇÕES DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO ................................................................... 170 3 MODERNIZANDO O AGRONEGÓCIO .................................................................................... 173 4 INOVAÇÕES NA LOGÍSTICA DO AGRONEGÓCIO ............................................................ 174 4.1 A LOGÍSTICA COLABORATIVA .............................................................................................. 175 4.1.1 O transporte colaborativo .................................................................................................. 176 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................................... 178 RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................................................... 180 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................. 181 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 183 X 1 UNIDADE 1 A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de: • compreender os principais conceitos da logística, sua importância e rele- vância para as empresas na atualidade; • conhecer os principais produtos logísticos, suas características e particula- ridades; • compreender os fatores que envolvem o suprimento, a armazenagem e a movimentação de materiais no interior das empresas. Caro acadêmico! Esta unidade de estudos encontra-se dividida em três tópicos de conteúdos. Ao longo de cada um deles, você encontrará sugestões e dicas que visam potencializar os temas abordados, e ao final de cada um estão disponíveis resumos e autoatividades que visam fixar os temas estudados. TÓPICO 1 – CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL TÓPICO 2 – O PRODUTO LOGÍSTICO TÓPICO 3 – SUPRIMENTO, ARMAZENAGEM E MOVIMENTAÇÃO DE MATERIAIS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL 1 INTRODUÇÃO Queridos acadêmicos e acadêmicas, estaremos explorando, nesta unidade, conceitos iniciais acerca da área da logística empresarial que, dentro do entendimento contemporâneo, se reveste de grande importância e aplicabilidade a todos os níveis/tipos de organizações, inclusive as relativas ao agronegócio. Estes conceitos iniciais têm a finalidade de preparar o ambiente de aprendizagem para conceitos um pouco mais complexos, que virão em outras unidades deste livro didático, principalmente quando nos referirmos ao gerenciamento de cadeias de abastecimento e logística reversa. A primeira ideia que gostaríamos de marcar é que as atividades logísticas, hoje, são vistas como essenciais para a otimização dos custos totais que as empresas possuem, sobretudo nas operações relacionadas à produção, armazenamento e distribuição de seus produtos. Logo, possuir uma logística eficaz significa diretamente maiores lucros para a organização, o que reforça a sua importância numa época de intensa competitividade no mercado. A segunda ideia, tão importante quanto a primeira, é a de que as operações envolvidas na logística devem funcionar de forma integrada, ou seja, é necessário que o gestor consiga ter uma visão sistêmica de como todos os processos são interdependentes, e precisam ser organizados/planejados com esse olhar para que possam surtir efeito. Desta forma, desejamos que todos possam ter um bom proveito e um aprendizadointenso por meio do estudo destes tópicos que selecionamos como mais apropriados para esta primeira unidade de estudos. 2 CONCEITUANDO A LOGÍSTICA É importante começarmos entendendo que já existiam, há muito tempo, processos semelhantes ao que hoje conhecemos como logística, remontando aos primórdios das civilizações antigas, aqui compreendendo o Egito, a Grécia, a China e a Mesopotâmia. Se começarmos a refletir sobre todas as áreas que aprendemos durante nossa vida escolarizada e também nas relações com inúmeros campos sociais em que nos envolvemos durante a vida, iremos identificar algumas conexões com alguns pontos que remetem ao conceito de logística. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 4 Citando somente alguns, podemos pensar sobre como foram construídas as pirâmides do Egito, como a grande muralha da China foi erguida, ou ainda, olhando por um viés religioso, temos na própria Bíblia relatos em que se evidenciam esforços de armazenagem de grãos e distribuição de alimentos em períodos de seca, não é mesmo? Essa é a primeira provocação que gostaríamos de fazer antes ainda de entrar no conceito propriamente dito da logística como hoje é conhecida. Para complementar esta ideia, vamos conhecer o que nos diz Hara (2011, p. 13): A logística já existia desde o início da civilização, tendo surtos de desenvolvimento na Idade Antiga, em especial no Egito, Grécia, China e Mesopotâmia. Fabulosas obras, tais quais as pirâmides do Egito e as muralhas da China, só para exemplificar, ainda trazem alguns enigmas não decifrados pelos experts, quanto à operacionalização dos processos construtivos. Claro que a própria evolução do conceito de logística se deve ao acompanhamento das formas como a sociedade evolui e como as relações comerciais/empresariais vão se reconfigurando e se adaptando aos novos formatos sociais, sobretudo nos aspectos econômicos. Para entendermos melhor como ocorre essa evolução e chegarmos ao conceito do que consideramos como logística atualmente, vamos acompanhar o que nos diz um dos grandes experts internacionais do assunto, Ronald H. Ballou, sobre os primórdios desta área: Nas épocas mais antigas da História documentada da humanidade, as mercadorias mais necessárias não eram feitas perto dos lugares nos quais eram mais consumidas, nem estavam disponíveis nas épocas de maior procura. Alimentos e outras commodities eram espalhados pelas regiões mais distantes, sendo abundantes e acessíveis apenas em determinadas ocasiões do ano. Os povos mais antigos consumiam os produtos em seus lugares de origem ou os levavam para algum lugar profundo ou armazenando-os para utilização posterior. Contudo, devido à inexistência de sistemas desenvolvidos de transporte e armazenamento, o movimento das mercadorias limitava-se àquilo que a pessoa conseguia fazer por suas próprias forças, e os bens perecíveis só podiam permanecer guardados por prazos muito curtos. Todo esse limitado sistema de transporte-armazenagem normalmente obrigava as pessoas a viver perto das fontes de produção e as limitava ao consumo de uma escassa gama de mercadorias (BALLOU, 2006, p. 25). Acompanhando as ideias do autor, podemos refletir que, ainda hoje, em meio à globalização e abertura do mercado internacional, existem algumas nações, sobretudo em desenvolvimento, que apresentam parte de suas populações vivendo quase que na totalidade daquilo que produzem em seus territórios. TÓPICO 1 | CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL 5 Podemos destacar, rapidamente, outros movimentos históricos que acabam influenciando a logística, ou nos farão chegar ao entendimento do que a logística é hoje. Temos a influência das atividades militares, destacando a 2ª Grande Guerra Mundial e, mais recentemente, na década de 1990, com o advento da globalização, temos o que é considerado como o grande boom da logística integrada empresarial. Ressaltamos que este conceito tão importante e potente hoje para o sucesso das organizações empresariais é um conceito recente, tendo em torno de duas décadas, sobretudo no Brasil. Antes disto, eram ensinados/aprendidos conceitos sobre estoques, materiais e transportes de forma isolada e, normalmente, de forma equivocada, a logística era associada somente ao transporte, o que sabemos hoje ser um grande erro, pois reduz em muito a grandiosidade de processos que envolvem a logística. NOTA Por globalização entendemos o fenômeno mundial que propicia mudanças em várias áreas nas nações mundiais, propondo a criação de blocos econômicos, quebra de barreiras comerciais, livre trânsito entre países, e traz consigo, fortemente enraizada, a ideia de que o desenvolvimento econômico erradicaria grandes problemas da humanidade, como a pobreza, fome ou distribuição de renda, o que na verdade não se efetivou. O fato, porém, a ser analisado, é que a globalização modifica a forma de como a sociedade vive e se relaciona com o mercado de trabalho, e proporciona, através do advento de novas tecnologias e da comunicação via web, um grande sucesso a muitas empresas que operam nacional e internacionalmente. O primeiro movimento que faremos para entender plenamente o conceito de logística diz respeito a pensar a empresa de forma integrada, ou seja, entender a gestão de algumas áreas, anteriormente analisadas de forma isolada, como: produção, estoques (e suas divisões), comercial, marketing, financeira, transportes etc., como pertencentes à mesma finalidade. FIGURA 1 – GRANDES OBJETIVOS EMPRESARIAIS FONTE: Adaptado de Bertaglia (2003) UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 6 Entendendo que a grande maioria das empresas busca o lucro como finalidade principal de seus negócios, fica evidente a importância de conhecer e investir na logística empresarial, pois através dela pode-se trabalhar na redução dos custos, tão perseguida pelos empresários. Vamos acompanhar o esquema que representa a questão da visão integrada que deve ser perseguida através da logística empresarial. Tendo uma ideia do que significa uma empresa integrada, fica mais fácil entender a logística integrada. FIGURA 2 – A EMPRESA INTEGRADA FONTE: Adaptado de Bowersox et al. (2014) Ao olharmos para a figura que trata do conceito de empresa integrada, percebemos que as operações do suprimento de insumos e matérias-primas para a produção, a própria manufatura (produção em si) e o atendimento ao cliente são atividades essenciais para o sucesso da empresa, e que se não forem consideradas de forma integrada podem, certamente, comprometer o negócio da empresa. Exemplificando, de nada adianta atender bem ao cliente, se na hora da entrega do produto isso não ocorra no prazo combinado, não é mesmo? Da mesma forma, de nada adianta atender bem, entregar no dia combinado e o produto chegar com defeito (não ter sido adequadamente produzido). Desta forma, esperamos ter deixado claro que o estudo dos componentes que fazem parte da chamada cadeia logística, de forma separada, servem somente para efeito didático, uma vez que sua interação/integração é essencial dentro do chamado supply chain (cadeia de abastecimento), que conheceremos na próxima unidade de estudos. Veremos agora alguns conceitos de logística: TÓPICO 1 | CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL 7 Logística é o processo de planejamento, implantação e controle do fluxo eficiente e eficaz de mercadorias, serviços e das informações relativas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes (BALLOU, 2006, p. 27). É interessante notar que este conceito considera o fluxo que se realiza desde as matérias-primas, elaboração/processamento/produção das mesmas, até o ponto onde serão consumidas. Entendendo o conceito desta maneira, iremos perceber que se trata de um processo que faz parte de algo maior, ou seja, faz parte da cadeia de suprimentos, porém não pode ser vista como o processo inteiro. O gerenciamento da cadeia de suprimentosirá mais além da logística, apresentando outras integrações importantes com áreas que na logística não se evidenciam. Outros autores irão definir a logística posicionando-a como parte importante dentro da gestão de uma cadeia de suprimentos, conforme veremos a seguir: Dentro da gestão da cadeia de suprimentos de uma empresa, logística é a função necessária para transportar e posicionar geograficamente o estoque. Dessa forma, a logística é um subconjunto de atividades e ocorre dentro do quadro mais abrangente da cadeia. Ela é o processo que cria valor pela gestão e pelo posicionamento do estoque e combina o gerenciamento de pedidos, do estoque, do transporte, do depósito, do manuseio de materiais e da embalagem, integrados por meio de uma rede de instalações (BOWERSOX et al., 2014, p. 4). NOTA Você sabe o que são materiais? O termo materiais envolve todos os insumos (que serão processados na empresa), bem como as matérias-primas utilizadas para atender às linhas de produção das organizações. O setor da Administração de Materiais tem fundamental importância na seleção de fornecedores e acompanhamento da qualidade e das especificações dos materiais que a empresa irá utilizar. Dessa forma, parafraseando Hara (2011), poderíamos definir o escopo da logística como a gestão de materiais e mercadorias em repouso e em movimento, sendo sua missão dispor a mercadoria ou o serviço certo, no lugar certo, no tempo certo e nas condições desejadas, com a maior contribuição possível de valores à empresa. Finalizando nossa busca por uma conceituação inicial de logística, vamos acompanhar o que definiu Kotler (2002, p. 558): “o planejamento, a implementação e o controle dos fluxos físicos de materiais e de produtos finais entre os pontos de origem e os pontos de uso, com o objetivo de atender às exigências dos clientes e de lucrar com este atendimento”. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 8 2.1 GERANDO VALOR LOGÍSTICO Entendemos que a logística, vista de forma integrada, é essencial para as organizações que desenvolvem suas atividades comerciais nos tempos atuais, altamente competitivos e que exigem constante aprimoramento de seus processos em busca de otimização de suas atividades, redução de custos e maximização de lucros. Dessa forma, uma logística bem conduzida pode agregar/gerar VALOR. Valor este dimensionado justamente pela busca da satisfação do cliente pelo menor custo total. Podemos destacar que a logística tem sua importância e relevância, e conheceremos agora os itens que fazem parte dessa geração de valor: • benefícios dos serviços; • minimização de custos; • geração de valor logístico. Benefícios dos serviços: seguindo a lógica da economia, em que as organizações empresariais estão vivenciando/praticando a busca pela redução de custos e maximização dos lucros frente aos seus concorrentes, a logística apresenta uma série de benefícios. Segundo Bowersox et al. (2014, p. 33), “no ambiente operacional de hoje, o fator limitador é econômico, e não tecnológico”. Pensando na citação dos autores, entendemos que, por exemplo, a empresa pode tomar decisões quanto ao local em que irá manter um estoque ou mesmo centro de distribuição de seus produtos, considerando a proximidade geográfica de seus clientes principais, mantendo-se em prontidão para realizar um entrega imediata, o que se constitui num diferencial atrativo perante os concorrentes. Outra estratégia possível de ser utilizada é a opção de consignar estoques dentro das próprias instalações do cliente, eliminando boa parte das operações logísticas. A questão estratégica fundamental é como ter um desempenho melhor que o dos concorrentes, como uma boa relação custo-benefício. Se uma matéria-prima específica não estiver disponível no momento em que é necessária na produção, pode causar a paralisação de uma fábrica, resultando em um custo significativo, na perda de vendas potenciais e até na perda de negócios com um cliente importante. O impacto de tais falhas sobre o lucro pode ser expressivo. Em contrapartida, o impacto de um atraso inesperado de um ou dois dias na entrega de produtos para reposição de estoque pode ser mínimo ou mesmo insignificante em termos de impacto sobre o desempenho operacional total (BOWERSOX et al., 2014, p. 34). O benefício dos serviços alia-se à busca pelo desempenho operacional das empresas, procurando minimizar falhas no processo logístico e garantir a confiabilidade e qualidade da logística prestada/desenvolvida. TÓPICO 1 | CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL 9 Minimização de custos: a ideia da geração de valor através da logística relaciona-se à evolução dos conceitos de gestão de custos no interior das organizações, entendendo que sua otimização incide diretamente numa melhor composição do custo total da atividade produtiva. Bowersox et al. (2014, p. 35) comenta que “a prática administrativa predominante, reforçada pelo contábil e financeiro, era concentrar-se em alcançar o menor custo possível para cada função individual da logística, com pouca ou nenhuma atenção aos trade-offs do custo total integrado”. Os administradores focavam-se em minimizar custos funcionais isolados, por exemplo, o de transporte, imaginando que assim iriam conseguir custos combinados mais baixos no futuro, o que, porém, não ocorria. Com a utilização do conceito de custo total, todos os custos funcionais são mapeados e suas inter- relações também, o que garante mais eficácia na sua diminuição. “No entanto, a implementação do processo logístico eficaz continua sendo um desafio no século XXI. Diversas práticas antigas de contabilidade, ainda em uso, constituem barreiras à implementação completa de soluções logísticas de custo total” (BOWERSOX et al., 2014, p. 35). Geração de valor logístico: a chave para alcançar a liderança logística pode ser entendida seguindo a combinação dos elementos da figura abaixo: FIGURA 3 – EM BUSCA DA LIDERANÇA LOGÍSTICA FONTE: Adaptado de Bowersox et al. (2014) Da imagem acima podemos estabelecer, claramente, que quando a empresa consegue aliar este compromisso com o cliente, com uma estrutura de custos exata, é onde ocorre a proposição do valor logístico. Esta deve ser a meta de todas as organizações nos tempos atuais. 2.2 O FUNCIONAMENTO DA LOGÍSTICA Dentro da ideia que trabalhamos anteriormente, em que a logística deve operar de forma integrada no contexto da gestão da cadeia de suprimentos, iremos entender agora como ela funciona, quais são os principais processos envolvidos e como se articulam e mantêm suas relações. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 10 FIGURA 4 – O INTER-RELACIONAMENTO DAS ÁREAS DA LOGÍSTICA FONTE: Adaptado de Bowersox et al. (2014) Vamos agora nos deter em conhecer as principais características que compõe cada uma dessas áreas da chamada logística empresarial. A logística existe para transportar e posicionar estoques com o objetivo de conquistar benefícios relacionados ao tempo, ao local e à propriedade desejados pelo menor custo total. O estoque tem valor limitado até que esteja posicionado no momento e no local certos para apoiar a transferência de propriedade ou a criação de valor agregado. Se uma empresa não satisfaz consistentemente aos requisitos de tempo e de local, ela não tem nada para vender (BOWERSOX et al., 2014, p. 36). Veremos que para cumprir com as várias áreas e operações em que a logística se encarrega, iremos analisá-la, dividindo em cinco as áreas do trabalho: 1 - processamento de pedidos; 2 - estoques; 3 - transportes; 4 - armazenamento, manuseio de materiais e embalagens, e; 5 - rede de instalações. Mais uma vez reforçamos a ideia de que estas cinco áreas devem ser vistas operando de forma integrada e inter-relacionada para o cumprimento de suas atividades, conforme visualizamos na imagem a seguir: TÓPICO 1 | CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL 11 2.2.1 Processamento de pedidos As informações são essenciais para as operaçõeslogísticas e é no processamento dos pedidos que essa necessidade de qualidade na informação se evidencia com maior importância. Segundo Bowersox et al. (2014, p. 36), o benefício do rápido fluxo de informações está diretamente relacionado ao equilíbrio do trabalho. “Logo, não faz muito sentido uma empresa acumular pedidos em um escritório de vendas local durante uma semana, enviá-los ao escritório regional, processar os pedidos em lote, designá-los a um depósito de distribuição e depois enviá-los por frete aéreo para obter uma entrega rápida”. É preciso maximizar esse processamento, minimizando etapas, que correspondem a tempo e favorecem a finalidade do negócio. Por outro lado, a comunicação via internet de pedidos diretamente do cliente, combinada com transporte mais lento e menos dispendioso da terra, pode gerar um serviço de entrega mais rápido e constante por um custo total mais baixo. O objetivo principal é equilibrar os componentes do sistema logístico (BOWERSOX et al., 2014, p. 37). A citação dos autores destaca um aspecto importante da sociedade atual, que é a comunicação via rede, disponibilizada através da internet, que da mesma forma como afeta nossas vidas pessoais, também é altamente utilizada nos processos empresariais. Como vimos até aqui, as solicitações dos clientes, transmitidas através de seus pedidos, são muito importantes. Normalmente a administração dessas solicitações segue um fluxo, como o da figura abaixo: FIGURA 5 – FLUXO DO PROCESSAMENTO DE PEDIDOS FONTE: Adaptado de Bowersox et al. (2014) A imagem demonstra que o fluxo do processamento de um pedido vai muito além da simples venda realizada, compreendendo também a entrega e as ações financeiras que compõem o faturamento desta venda e a cobrança necessária. 2.2.2 Estoques A quantidade/necessidade de estoques de uma empresa está diretamente relacionada à rede de instalações que esta possui e ao nível de serviço que se deseja para este cliente. Não é comum uma empresa estocar todos os seus possíveis produtos a serem vendidos junto a cada unidade de comercialização, pois isso aumentaria em muito o custo de tal operação. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 12 FIGURA 6 – REGRA DE PARETO FONTE: O autor Sobre esta regra ou Lei de Pareto, associada à área da logística, vamos acompanhar as ideias de Bowersox et al. (2014, p. 38): A maioria das empresas passa por uma variação substancial no volume e na lucratividade das diversas linhas de produtos. Se nenhuma restrição for aplicada, uma empresa pode descobrir que menos de 20% de todos os produtos comercializados são responsáveis por mais de 80% do lucro total. Embora a regra conhecida como regra dos 80/20 – ou Princípio de Pareto – seja comum nos negócios, os administradores devem evitar tais resultados implementando estratégias de estoque baseadas na classificação ABC. O objetivo de uma estratégia de estoques é conseguir o desejado serviço ao cliente com o mínimo de comprometimento do estoque. O excesso de estoque pode compensar deficiências no projeto básico de um sistema logístico, mas acabará resultando num custo logístico mais alto que o necessário (BOWERSOX et al., 2014, p. 37). Também, ao falarmos de estoque, a máxima é que estoques desnecessários representam aumento nos custos operacionais, o que deve ser evitado. Deve- se buscar a satisfação das expectativas dos clientes com o mínimo de tempo de estocagem, neste caso. É importante que conheçamos, neste momento, a regra ou Princípio de Pareto, que também pode ser aplicada aos estoques. TÓPICO 1 | CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL 13 NOTA Segundo Bertaglia (2003), uma das técnicas de administração dos estoques é conhecida por ABC e consiste em separar os itens do estoque em três classes A, B e C. Onde os itens classificados como A referem-se aos produtos vistos como mais importantes, uma vez que consomem um volume bastante alto de capital, exigindo maior atenção por parte da administração e no controle do estoque em relação a estimativas e perdas em qualquer etapa da cadeia de abastecimento, seja transporte, produção ou armazenagem. Já os itens B recebem atenção média, com enfoque rotineiro. Os itens classificados como C recebem um esforço pequeno no momento das estimativas. No entanto, itens estratégicos, mesmo que classificados como C, devem receber maior cuidado. Nesse caso, uma boa alternativa é manter ou elevar o estoque de segurança. Um exemplo seriam os componentes que, mesmo com valor inferior aos classificados como A ou B, são capazes de parar a produção e ocasionar atrasos nas entregas. 2.2.3 Transportes Hoje é comum que todas as empresas, grandes ou pequenas, possuam algum gestor responsável pelo transporte, uma vez que, segundo Bowersox et al. (2014, p. 39), “o transporte é uma área essencial da logística, responsável pela movimentação e por posicionar geograficamente o estoque das empresas”. Dentro da logística podemos destacar três fatores fundamentais para o bom desempenho dos transportes: FIGURA 7 – FATORES PARA O BOM DESEMPENHO DOS TRANSPORTES FONTE: Adaptado de Bowersox et al. (2014) Nós teremos oportunidade de nos aprofundar na Unidade 2, deste livro didático, sobre as especificidades que envolvem o transporte e seus inúmeros fatores envolvidos que se referem aos custos, velocidade e consistência/ composição das cargas e fretes. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 14 Segundo Bowersox et al. (2014, p. 39), “o custo do transporte é o pagamento entre duas localizações geográficas e as despesas de manter o estoque em trânsito. Já a velocidade do transporte é o tempo necessário para completar uma movimentação específica”. A velocidade e o custo se relacionam de duas maneiras: primeiro, empresas que transportam mais rapidamente podem cobrar um preço mais alto pelo transporte, e em segundo, quanto mais rápido o serviço de transporte, menor o tempo do produto armazenado em estoque. Já a consistência do transporte se remete às variações durante as movimentações, refletindo na confiabilidade expressa pelas empresas que executam o serviço. “Quando o transporte não é consistente, é necessário fazer estoques de segurança para se proteger contra interrupções dos serviços, o que irá impactar diretamente nos estoques do comprador e do vendedor” (BOWERSOX et al., 2014, p. 39). Dentro do complexo sistema logístico deve-se perseguir o equilíbrio entre o custo do transporte e a qualidade do serviço prestado, o que é influenciado pelo modal escolhido, que pode ser mais lento ou mais rápido, com maior ou menor custo. NOTA Você sabe o que é um modal? Chamamos de modal um método ou forma de transporte básico utilizado para o transporte de cargas. Os cinco modais básicos de transporte são: ferroviário, rodoviário, hidroviário, dutoviário e aéreo. Cada um deles possui suas particularidades, vantagens e desvantagens, e repercutem diretamente no custo da atividade logística. 2.2.4 Armazenagem, manuseio de materiais e embalagem O armazenamento, o manuseio de materiais e a embalagem são parte integrante da solução operacional da logística, porém não têm o status independente das demais áreas que vimos anteriormente, pois são partes que integram outras áreas da logística. Por exemplo, o estoque normalmente precisa ser armazenado em momentos específicos ao longo do processo logístico. Veículos de transporte exigem o manuseio do material para uma carga e descarga eficiente. Por fim, os produtos são manuseados com mais eficiência quando embalados em caixas para transporte ou outros tipos de carregamentos (BOWERSOX et al., 2014, p. 40). Da mesma forma, dentro dos depósitos, o manuseio de materiais é importante. Produtos são recebidos, movimentados, armazenados, classificados e montados para atender aos requisitos que foram pedidos pelos clientes. TÓPICO 1 | CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL 15 Segundo Bowersox et al. (2014, p. 40), “quando integrados de maneira eficaz àsoperações logísticas de uma empresa, o armazenamento, o manuseio de materiais e as embalagens facilitam a velocidade e a facilidade geral do fluxo dos produtos pelo sistema logístico”. 2.2.5 Projeto da Rede de Instalações Na lógica de análise das operações de negócios contemporânea, o número, tamanho e a relação geográfica das instalações utilizadas pelas empresas para atenderem as suas operações é essencial para o sucesso dos seus negócios, independentemente do segmento a que possamos nos referir. Otimizar o uso dos espaços se faz essencial para as organizações. Dessa forma, “o projeto de rede de instalações é uma importante responsabilidade da administração logística, visto que a estrutura de instalações de uma empresa é usada para enviar produtos e materiais aos clientes. Instalações logísticas típicas são fábricas, depósitos, operações de cross-docking e lojas (BOWERSOX et al., 2014, p. 41). O projeto de uma rede de instalações deve conter as informações de quantidade e localização das instalações necessárias ao trabalho logístico; o que e quanto será estocado em cada local destes; quais clientes serão atendidos nestes locais. O projeto de uma rede de instalações logísticas exige uma análise cuidadosa da variação geográfica [...]. A importância de se modificar continuamente a rede de instalações para se ajustar às alterações nas infraestruturas de demanda e oferta não pode ser ignorada. Os requisitos de variedade de produtos, de clientes, de fornecedores e de produção estão em constante mudança em um ambiente competitivo dinâmico. A escolha de uma rede de localização superior pode representar um passo significativo em direção à conquista de vantagem competitiva (BOWERSOX et al., 2014, p. 41). E como vantagem competitiva se traduz em maior número de negócios, logo, maiores lucros, é a lógica perseguida no ambiente empresarial. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 16 LEITURA COMPLEMENTAR INTRODUÇÃO À LOGÍSTICA – Conceitos básicos Luciel Henrique de Oliveira Poucas áreas de estudo têm um impacto tão significante no padrão de vida da sociedade como a logística. Praticamente todas as áreas da atividade humana são afetadas, direta ou indiretamente, pelo processo logístico. Tente imaginar uma campanha publicitária de vários milhões de dólares e, quando o comprador vai procurar o produto, ele não o encontra na loja. Como seria possível comprar uma camisa de seda feita na China em uma loja em São Paulo? Por que um quilo de tomate é tão barato no campo e custa tão caro no supermercado? Qual deve ser a embalagem ideal para um iogurte? E para uma bijuteria? Por que o transporte de carga aérea, muito mais cara que os outros modais, está tendo um crescimento tão grande no Brasil e no mundo? As dúvidas e perguntas acima, assim como muitas outras, exemplificam a influência da logística no nosso dia a dia, e por isso é tão importante o nosso entendimento do processo logístico. Algumas pessoas costumam alegar que a logística é importante apenas nas operações industriais, caindo de importância nas operações comerciais e tornando-se pouco importante na área de prestação de serviços. Para esta última afirmação podemos analisar, por exemplo, a operação de um banco tradicional. Normalmente costumamos concentrar a nossa atenção na prestação de serviços em si e esquecemos que os equipamentos e instalações têm que ser armazenados e transportados; os formulários, talões de cheques, documentos, dinheiro (papel-moeda) também, e assim por diante. Com a globalização da economia, a logística ganhou uma maior importância numa escala global. Na economia mundial, sistemas logísticos eficientes formam a base para o comércio e a manutenção do padrão de vida na maioria dos países. Custos logísticos são um fator-chave para estimular o comércio. O comércio entre países e regiões de um mesmo país é frequentemente determinado pelo fato de que diferenças nos custos de produção podem mais do que compensar os custos logísticos necessários para o transporte entre regiões. Enquanto os Estados Unidos, o Japão e os membros da Comunidade Econômica Europeia gozam de alto padrão de vida e trocam mercadorias livremente devido à eficiência de seus sistemas logísticos, muitas porções do mundo, como as partes do Sudoeste Asiático, África, China e América do Sul, ainda apresentam sistemas de transporte e armazenagem inadequados para apoiar um comércio extensivo. Por isso, estes povos são forçados a uma autossuficiência localizada e um padrão de vida relativamente baixo. Uma diferença crítica entre essas duas situações é o ponto no qual se situa o desenvolvimento de seus sistemas logísticos. Quanto mais sofisticado for o seu desenvolvimento e quanto mais baratas forem suas movimentações e armazenagens, mais livre será a troca de mercadorias e maior será a especialização do trabalho. Se analisarmos, por exemplo, a malha rodoviária brasileira, que cobre precariamente apenas parte da região central, a região sul e litorânea do Brasil e verificarmos as diferenças de padrão de vida entre as regiões melhores supridas em termos logísticos e as outras, podemos entender facilmente esta afirmação. TÓPICO 1 | CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL 17 DEFINIÇÃO DE LOGÍSTICA Existem algumas versões para a origem da palavra logística: alguns autores afirmam que ela é originária da palavra francesa “loger”, que significa “acomodar”, “alojar”, enquanto que outros autores afirmam que é derivada do grego “logos” (razão), que significa “a arte de calcular” ou “manutenção de detalhes de uma operação”. A palavra logística é utilizada na área militar para representar a aquisição, manutenção, transporte de materiais, facilidades e pessoal, enquanto que na área comercial é usada para expressar o planejamento e a gestão dos serviços relativos a documentação, manuseio, armazenagem e transferência dos bens, objetos de uma operação de comércio nacional ou internacional. No passado, o comércio e a literatura acadêmica deram à logística uma grande variedade de nomes, tais como: Distribuição Física, Gerenciamento de Materiais, Engenharia de Distribuição, Gerenciamento Logístico de Materiais, Logística Empresarial, Gerenciamento de Cadeia de Distribuição, Logística de Distribuição, Logística Industrial, Logística de Marketing, Logística de Transporte. De um modo ou outro, todos os nomes acima essencialmente significam a mesma coisa: o gerenciamento do fluxo de materiais do ponto de origem ao ponto de consumo. Segundo o Counsil of Logistics Management, entidade que agrega milhares de associados nos Estados Unidos e outros milhares em todo o mundo, a palavra logística pode ser definida como sendo: o processo de planejar, implementar e controlar eficientemente o custo correto, o fluxo e armazenagem de matérias-primas, estoques durante a produção e produtos acabados, e as informações relativas a essas atividades, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender aos requisitos do cliente. EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS As empresas vêm executando logística há vários séculos. Os fenícios sabiam muito bem que um produto barato em um lugar podia ser vendido mais caro em outro lugar onde era necessário e escasso, isto é, conheciam empiricamente o conceito de valor agregado, de tempo e de lugar. Tradicionalmente, logística é a área da administração que cuida do transporte e armazenamento das mercadorias. Logística é definida como sendo o conjunto de Planejamento, Operação e Controle do Fluxo de Materiais, Mercadorias, Serviços e Informações da Empresa, integrando e racionalizando as funções sistêmicas desde a Produção até a Entrega, assegurando vantagens competitivas na Cadeia de abastecimento e a consequente satisfação dos clientes. A Atividade Logística é regida pelos Fatores de Direcionamento (Logistic Drivers) para níveis maiores de Complexidade Operacional, por exemplo, histórico de demanda dos produtos ou serviços, histórico da frequência dospedidos, histórico das quantidades por pedido, custos envolvidos na operação, tempo de entrega (lead-time), pedido mínimo, rupturas de abastecimento, prazos de entrega, períodos promocionais e frequência de sazonalidades, políticas de estoque (evitando faltas ou excessos), planejamento da produção, políticas de fretes, políticas de gestão dos pedidos (orders), análise dos modelos de canais de distribuição, entre outros. Em linhas gerais, pode-se dizer que a Logística está presente em todas as atividades de uma organização. A Logística começa pela necessidade do cliente. Sem essa necessidade, não há movimento de produção UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 18 e entrega. As novas exigências para a atividade logística no Brasil e no mundo passam pelo maior controle e identificação de oportunidades de redução de custos, redução nos prazos de entrega e aumento da qualidade no cumprimento do prazo, disponibilidade constante dos produtos, programação das entregas, facilidade na gestão dos pedidos e flexibilização da fabricação, análises de longo prazo com incrementos em inovação tecnológica, novas metodologias de custeio, novas ferramentas para redefinição de processos e adequação dos negócios (exemplo: Resposta Eficiente ao Consumidor - Efficient Consumer Response), entre outros. Isto tem feito a área de logística ser muito mais valorizada e criar interfaces com outras áreas, como Marketing, Finanças e Estratégia. ATIVIDADES PRIMÁRIAS DA LOGÍSTICA Identifica aquelas atividades que são de importância primária para o atingimento dos objetivos logísticos de custo e nível de serviço. Estas atividades são: Transportes, Manutenção de estoques, Processamento de pedidos. Essas atividades são consideradas primárias porque ou elas contribuem com a maior parcela dos custos total ou elas são essenciais para a coordenação e o cumprimento da tarefa logística. Transportes, para a maioria das firmas, é a atividade mais importante, simplesmente porque ela é a mais visível e também porque é essencial. Nenhuma firma pode operar sem providenciar a movimentação de suas matérias-primas ou de seus produtos acabados. “Transportes” refere-se aos vários métodos para se movimentar produtos. A administração da atividade de transporte geralmente envolve decidir-se quanto ao método de transporte, aos roteiros e à utilização da capacidade dos veículos. MANUTENÇÃO DE ESTOQUES Muitas vezes, não é possível entregar o produto ao cliente assim que acaba sua fabricação. Da mesma forma, não é possível receber todos os suprimentos no exato momento em que eles são necessários na produção, embora muito se tenha feito dentro dos conceitos de “just in time”. A armazenagem torna-se necessária quando, por alguma razão, temos que guardar uma matéria-prima, componente ou produto acabado até a sua utilização. Os estoques agem então como amortecedores entre a oferta e a demanda. A manutenção dos estoques pode atingir de um a dois terços dos custos logísticos, o que torna a manutenção de estoques uma atividade-chave da logística. Enquanto o transporte adiciona valor de lugar ao produto, o estoque agrega valor de tempo. Para agregar este valor, o estoque deve ser posicionado próximo aos consumidores ou aos pontos de manufatura. A administração de estoques envolve manter seus níveis tão baixos quanto possível, ao mesmo tempo em que provê a disponibilidade desejada pelos clientes. Os custos de processamentos de pedidos tendem a ser pequenos quando comparados aos custos de transporte ou de manutenção de estoques. Contudo, o processamento de pedidos é uma atividade logística primária. Sua importância deriva do fato de ser um elemento crítico em termos do tempo necessário para levar bens e serviços aos clientes. É também uma atividade primária que inicializa a movimentação de produtos e a entrega de serviços. TÓPICO 1 | CONHECENDO A LOGÍSTICA EMPRESARIAL 19 ATIVIDADES DE APOIO À LOGÍSTICA Apesar de transportes, manutenção de estoques e processamento de pedidos serem os principais ingredientes que contribuem para a disponibilidade e a condição física de bens e serviços, há uma série de atividades que apoiam essas atividades primárias. São elas: Armazenagem, Movimentação de materiais, Embalagens de transporte, Suprimentos, Programação da produção e Manuseio de informações. FONTE: Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/introducao-a- logistica/11946/>. Acesso em: 22 jun. 2017. 20 Neste tópico, você viu que: • Já existiam atividades semelhantes à logística desde a época das civilizações mais antigas do mundo. • A logística vem a sofrer influência também das atividades militares, com destaque para a 2ª Grande Guerra Mundial, onde estudos sobre a movimentação de tropas e materiais bélicos fica evidente. • A globalização, da mesma forma, ao incrementar as atividades comerciais, propondo a eliminação ou diminuição de barreiras entre os países ou blocos econômicos, irá acirrar a concorrência das empresas, que agora enxergam na logística uma forma de diminuição de seus custos e aumento, consequentemente, de seus lucros. Com o advento da globalização, devemos destacar que as novas tecnologias da informação serão muito importantes para as atividades logísticas. • As principais áreas da logística são o processamento de pedidos, gerenciamento de estoques, armazenamento, manuseio de materiais e o projeto de redes de instalações, que devem ser vistas de forma integrada e inter-relacionada para que apresentem sua maior eficácia. • O gerenciamento de estoques é muito importante, uma vez que estoque de produtos prontos, parado, sem terem sido vendidos, representa custo em sua manutenção. Logo, quanto menor o estoque para atender às necessidades do cliente, melhor. • As empresas devem considerar, ao planejar suas redes de operações logísticas, o tamanho de sua estrutura geral, número de unidades que serão atendidas, extensão territorial de seus produtos dentro do mercado, vias de acesso, posicionamento da concorrência, entre outros aspectos relacionados ao atendimento aos clientes em tempo hábil, para que possam prestar um atendimento mais eficaz. RESUMO DO TÓPICO 1 21 Caro acadêmico! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu livro didático. Bom trabalho! 1 A Logística apresenta algumas características bem específicas que compõem o seu conceito. Analise as afirmativas a seguir: I. O advento da globalização, na década de 1990, é considerado como o grande boom da logística. II. Nunca houve nenhum tipo de atividade logística nas civilizações antigas. III. O planejamento, a implementação e o controle dos fluxos físicos de materiais e de produtos finais entre os pontos de origem e os pontos de uso, com o objetivo de atender às exigências dos clientes e de lucrar com este atendimento, é um dos conceitos da Logística. IV. Não existe a necessidade de entender a logística de forma integrada. V. O transporte não faz parte das atividades logísticas. É correto o que se afirma em: a) As assertivas I e III apenas. b) As assertivas I, II, III e V apenas. c) As assertivas I, II e III apenas. d) As assertivas I e V apenas. e) A assertiva I apenas. 2 Explique o que significa a expressão “gerar valor logístico”. AUTOATIVIDADE 22 23 TÓPICO 2 O PRODUTO LOGÍSTICO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caros alunos! Neste tópico iremos explorar o que chamamos de produto logístico. Este produto envolve as operações logísticas e também os serviços sobre os quais elas se referem. Conhecer o que compõe o produto logístico é essencial para que as organizações possam melhor gerir o mesmo e adequar suas estruturas para um melhor atendimento de seus clientes. Também é essencial para o relacionamento estabelecido entre os fornecedores e empresas parceiras nos processos de entrega/ distribuição dos produtos que compõem o mix das empresas. Os produtos possuem característicasparticulares, que irão variar muito de organização a organização, principalmente em relação ao seu ciclo de vida, peso, densidade, necessidade de cuidados especiais de armazenamento e transporte, que repercutem diretamente sobre os serviços logísticos. Logo, o chamado produto logístico envolve desde as características deste mix de produtos comercializados pela empresa, até os serviços próprios ou terceirizados, que se encarregarão de seu manuseio, armazenagem e transporte. Sendo assim, iremos estudar neste tópico muitos dos aspectos que se relacionam com os produtos e serviços relativos às atividades logísticas empresariais, e que, se bem administrados, podem garantir uma eficácia nos negócios. Dentro do agronegócio, sobremaneira, também destacamos a importância destes cuidados relacionados aos produtos, uma vez que podemos ter questões como a perecibilidade e a própria sazonalidade, que repercutirão diretamente nestas operações. Vamos imaginar, por exemplo, o transporte de flores pelo Brasil afora, que necessita, na maioria das vezes, de um veículo refrigerado para esta finalidade. Estas questões compõem o planejamento das operações logísticas e devem ser dimensionadas. 2 CONHECENDO O PRODUTO LOGÍSTICO O produto deve ser o centro do foco num projeto de sistema logístico, pois é ele que irá gerar receitas para a empresa. Na mesma proporção em que as características do produto forem sendo moldadas e readaptadas com a consequente melhoria de posicionamento no mercado, se estará então criando uma vantagem competitiva. Os clientes reagirão a isso dando preferência ao público- alvo de todas essas atenções (BALLOU, 2006, p. 73). UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 24 Mas como podemos definir produto? Segundo Juran (1989 apud BALLOU, 2006, p.73), ”um produto é o fruto, ou resultado, de qualquer atividade ou processo. O produto é composto por uma parte tangível e outra intangível, que juntas completam a oferta total de produtos de uma empresa”. Na parte física (tangível) se encontram as características como peso, volume e durabilidade. Já na intangível da oferta de produtos podemos considerar o suporte pós-vendas, a reputação da empresa, a comunicação destinada a proporcionar informação correta e atualizada (por exemplo, rastreamento de uma encomenda). Nesta lógica, a oferta total de produtos de uma empresa pode ser definida como um misto de características físicas e de serviços. FIGURA 8 – O PRODUTO LOGÍSTICO FONTE: O autor A imagem representa como o produto logístico se configura, no somatório dos produtos de fato manufaturados/produzidos, e compõe o mix das empresas, somado aos serviços necessários ao seu armazenamento, transporte e distribuição dentro da cadeia de abastecimento da organização. Os produtos podem ser classificados para facilitar as operações logísticas, sendo a forma mais tradicional de classificação aquela que os divide entre produtos de consumo e produtos industriais. Os produtos de consumo são aqueles dirigidos diretamente aos usuários finais. Segundo Ballou (2006, p. 74), “os especialistas em marketing há muito tempo entenderam as diferenças básicas no comportamento dos clientes que os levam a optar entre diferentes bens e serviços, e também entre os locais que os vendem”. Os especialistas em marketing normalmente têm utilizado uma classificação dos produtos de consumo em outras três divisões: produtos de conveniência, produtos de concorrência e especialidades. Acompanhe a tabela abaixo e entenda as diferenças e particularidades de cada uma dessas classificações: TÓPICO 2 | O PRODUTO LOGÍSTICO 25 QUADRO 1 – CLASSIFICANDO OS PRODUTOS DE CONSUMO Produtos de Conveniência Produtos de Concorrência Especialidades São bens e serviços adquiridos rotineiramente. Bens e serviços onde o consumidor pesquisa e compara antes da compra. São aqueles que o cliente se dispõe a fazer sacrifícios e inclusive esperar o tempo necessário para fazer a compra. São adquiridos com frequência. É levado em conta a localização, preços e qualidade antes da compra. Existe uma forte relação e insistência sobre a marca. Não são feitas grandes comparações para sua compra. Somente é realizada a compra após cuidadosa deliberação. Os custos da distribuição física são menores que as demais categorias de produtos. Dependem de ampla distribuição e pontos de venda. O número dos pontos de estocagem é menor do que os de conveniência. A distribuição não precisa ser tão ampla. A distribuição é menos exigida que os de conveniência e concorrência. Exemplos: serviços bancários, cigarros e inúmeros produtos alimentícios. Exemplos: automóveis, roupas de alta costura, móveis residenciais e planos de saúde. Exemplos: desde raridades culinárias até automóveis sob encomenda e consultorias especializadas em gestão. FONTE: Adaptada de Ballou (2006) Além desta classificação que analisamos no quadro acima, comparando os produtos prontos entre conveniência, concorrência e especialidades, temos também os produtos industriais, definidos por Ballou (2006, p. 75) como: Já os produtos e serviços industriais são aqueles dirigidos para indivíduos ou organizações que deles fazem uso na elaboração de outros bens ou serviços. É uma classificação muito diferente da de produtos de consumo. Como são vendedores que normalmente procuram os compradores, não seria aqui relevante uma classificação baseada em padrões de compra, ou escolha. Os produtos industriais seguem outras regras para sua classificação, que relaciona-se com o momento de sua entrada no processo produtivo. Assim, existem produtos que farão parte do produto final, como matérias- primas e componentes; aqueles usados no processo de fabricação, instalações e equipamentos; e os que não entram diretamente no processo de fabricação, como serviços de negócios e suprimentos. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 26 2.1 O CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS O ciclo de vida dos produtos é outra referência amplamente utilizada pelos gestores ao operarem dentro dos mercados em que atuam. Sabemos que os produtos não geram imediatamente o seu maior volume de vendas tão logo são lançados no mercado, e que sua comercialização oscila durante o período, apresentando inúmeros picos de venda. Podemos imaginar o ciclo de vida de um produto observando a figura abaixo: FIGURA 9 – CICLO DE VIDA DO PRODUTO FONTE: Disponível em: <http://marketingfuturo.com/ciclo-de-vida-do- produto-introducao-crescimento-maturidade-declinio/>. Acesso em: 23 jun. 2017. Na figura acima podemos considerar a introdução do produto no mercado como sinônimo de seu lançamento. “As vendas não estão no seu nível elevado porque a aceitação do produto ainda não é generalizada. A estratégia típica de distribuição física é cautelosa, com os estoques restritos a um número relativamente pequeno de locais. A disponibilidade do produto é limitada” (BALLOU, 2006, p. 75). Comparando as demais fases, podemos perceber como a relação com os sistemas logísticos vai se reconfigurando, visando acompanhar as novas fases e atender às exigências específicas de cada uma delas. Ou seja, sendo o produto bem aceito pelo mercado, entra em crescimento de suas vendas, o que pode acontecer de forma muito rápida, exigindo um planejamento em termos logísticos, pois os produtos comercializados precisam ser entregues e não se pode perder este timing do processo comercial. Porém, muitas vezes, não possuindo um bom sistema de informações na empresa, estes registros relativos às vendas acabam se perdendo, o que poderia ser utilizado para planejamentos futuros. Sobre esta questão, vamos acompanhar a reflexão de Ballou (2006, p. 75) sobre o assunto: TÓPICO 2 | O PRODUTO LOGÍSTICO 27 É comum não se dispor de um histórico de vendas pelo qual orientar o melhor nível de estocagem em determinados pontos, muito menos o número de locais de estocagem a serem utilizados. A distribuição fica frequentementena dependência da opinião e sob controle da administração neste estágio de expansão. Contudo, a disponibilidade do produto vai também aumentando rapidamente numa ampla área geográfica para corresponder ao interesse do cliente pelos produtos. Da afirmação acima, percebemos ainda mais a importância e correlação da logística com as fases que correspondem ao ciclo de vida dos produtos que a empresa comercializa e expõe ao mercado. O estágio de crescimento de alguns produtos é bem rápido e logo segue o seu período de maturação, onde o aumento das vendas pode mostrar-se lento e atingir o seu pico. Nesta fase, a produção já consegue mensurar com maior exatidão o que deverá produzir e em que quantidades para atender às necessidades dos seus clientes. Referindo-se ao último estágio do ciclo de vida do produto, o declínio, Ballou (2006, p. 76) comenta que: Um dia o volume de vendas diminui para a maioria dos produtos, como resultado de avanços tecnológicos, da concorrência ou do esgotamento do interesse dos clientes. A fim de manter uma distribuição eficiente, surge a necessidade do ajustamento dos padrões de movimentação do produto e alocação de estoques. O número de pontos de estocagem provavelmente terá uma redução, com o número de locais de estocagem tornando-se menor, porém, mais centralizados. É muito comum, dentro do ambiente organizacional, que os produtos cheguem a um declínio de suas vendas, até mesmo ao momento em que seja decidida a sua retirada do mix de produtos que compõe a empresa. Dentro desta lógica de declínio nas vendas, também os estoques e a movimentação de cargas (fretes) devem ser ajustados. 2.2 CARACTERÍSTICAS DOS PRODUTOS As características dos produtos que possuem maior influência direta sobre a logística e suas estratégias são as relacionadas aos seus atributos naturais: peso, volume, valor, perecibilidade, inflamabilidade e substituibilidade. “Quando observadas em combinações variadas, essas características são um indicativo da necessidade de armazenagem, estocagem, transporte, manuseio do material e processamento dos pedidos” (BALLOU, 2006, p. 79). Vamos analisar estes atributos dividindo-os em quatro categorias: quociente peso-volume, quociente valor-peso, substituibilidade e características de risco. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 28 2.2.1 Quociente peso-volume O quociente peso-volume relaciona-se diretamente aos custos de transporte e armazenagem. Produtos que são densos, isto é, que têm alto quociente peso-volume (por exemplo, aço laminado, materiais de impressão e alimentos enlatados), mostram uma boa utilização do equipamento de transporte e instalações de armazenagem, com ambos os custos tendendo a ser baixos. Contudo, para produtos de baixa densidade (por exemplo, bolas de praia infladas, barcos, batatas fritas e abajures), o volume de capacidade do equipamento de transporte é totalmente utilizado antes que se atinja o limite de peso transportável. Da mesma forma, os custos de manuseio e de espaço, baseados no peso, tendem a ser elevados em relação ao preço de venda dos produtos (BALLOU, 2006, p. 80). Então, podemos concluir que à medida que a densidade do produto aumenta, tanto os custos de armazenagem quanto os de transporte tendem a diminuir no percentual do preço de venda. Vamos imaginar no setor do agronegócio, por exemplo, o transporte e movimentação de grãos em comparação com o algodão e suas repercussões em relação ao peso e densidade das cargas e espaços de estocagem necessários. 2.2.2 Quociente valor-peso O valor financeiro da movimentação e armazenagem dos produtos também é importante ao medir os custos desta armazenagem. É uma tendência lógica que as organizações não pretendam estocar produtos com alto valor-peso. Produtos com baixo quociente valor-peso (por exemplo, carvão, minério de ferro, bauxita e areia) têm também custos baixos de armazenagem, mas custos elevados de movimentação em termos de percentagem dos seus preços de venda. Os custos de movimentação de estoque são computados como uma fração do valor do produto. Baixo valor do produto significa baixo custo de armazenagem, uma vez que o custo de movimentação do estoque é o fator dominante dos custos de armazenagem. Os custos de transporte, no entanto, são diretamente relacionados ao peso. Quando o valor do produto é baixo, os custos de transporte representam alta proporção do preço de venda (BALLOU, 2006, p. 80). Podemos concluir, a partir da explicação acima, que produtos que apresentarem um alto quociente valor-peso (equipamentos eletrônicos, joias, instrumentos musicais) funcionam ao contrário, com altos custos de armazenagem e menores custos em seu transporte. Logo, as empresas procuram minimizar os estoques de produtos com alto valor-peso. TÓPICO 2 | O PRODUTO LOGÍSTICO 29 2.2.3 Substituibilidade Produtos são considerados altamente substituíveis quando os clientes podem facilmente estabelecer comparações entre as empresas concorrentes e optar facilmente entre as marcas oferecidas. Ou seja, conforme Ballou (2006, p. 81), “o cliente muito facilmente se disporá a comprar uma marca secundária quando não houver disponibilidade imediata daquela que é a sua primeira escolha”. A substituibilidade é muito percebida nos produtos do varejo, e sobretudo na área da alimentação, onde existe a incidência de produtos oriundos do agronegócio. Este fator é percebido na existência de inúmeras marcas ofertadas com produtos muito semelhantes no interior de grandes redes de supermercados. O profissional de logística não tem, em grande parte, controle sobre a substituibilidade de um produto, mas, apesar de tudo, deve sempre planejar sua distribuição com altos graus de substituibilidade. Esta pode ser vista em termos de perdas de venda para o fornecedor. Em altos índices, ela normalmente significa maior possibilidade de que o cliente venha a optar por um produto concorrente, o que acarreta prejuízos para o fornecedor. O profissional de logística normalmente enfrenta a questão da perda de vendas lançando mão de opções de transporte e/ou armazenagem (BALLOU, 2006, p. 81). Podemos afirmar que, ao melhorar o transporte, as empresas podem reduzir as perdas em vendas, neste caso, uma vez que o produto se torna mais acessível ao cliente. 2.2.4 Características de risco Segundo Ballou (2006, p. 82), “as características de risco do produto são, entre outras: perecibilidade, inflamabilidade, valor, tendência a explodir e facilidade de ser roubado”. Quando um produto qualquer mostra alto risco em qualquer um destes itens, irão se impor algumas restrições sobre o sistema de distribuição, o que eleva os custos de transporte e armazenagem, consequentemente. Estas características que podem gerar danos e prejuízos para as empresas repercutirão diretamente no sucesso ou fracasso das operações logísticas. Vamos tomar, como exemplo, os custos que estão associados à estocagem de tintas e solventes altamente inflamáveis, a exigência de espaços específicos dentro dos armazéns (estoques) e dos cuidados relativos ao seu manuseio no interior destes galpões e no seu transporte. Bowersox et al. (2014), ao referir-se ao risco, o considera relacionado às características dos produtos que podem levar ao dano. Lembra que as empresas transportadoras podem associar apólices de seguros para minimizar estes danos em seus transportes. UNIDADE 1 | A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL 30 Tomem-se produtos como canetas, relógios ou cigarros, que apresentam alto risco de roubo. Cuidados especiais devem ser adotados no seu manuseio e transporte. No interior dos depósitos, áreas especiais cercadas e cadeadas precisam ser criadas para cuidar desses produtos e similares. Produtos altamente perecíveis (por exemplo, frutas frescas e sangue) precisam de estocagem e transporte refrigerados, e produtos capazes de contaminar alimentos perecíveis, como pneus de automóveis, não podem ser armazenados perto daqueles
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