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Fatores determinantes da Migração

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UFJF - ICHL - Departamento de Geociências 
Demografia Econômica 
Profº Luiz Fernando Soares de Castro 
 
Migrações 
 
 1- Fatores determinantes da Migração 
 
 A migração de população é considerada como o resultado do processo 
de decisão, em função de expectativas de mudanças futuras, e da comparação de 
diferenças em utilidades, associadas a diferentes lugares. (Wolpert, Julian, 1965) 
 A migração, entretanto, não é somente função de vantagens 
comparativas entre o lugar de origem e o lugar potencial de destino, mas também 
são importantes os fatores intervenientes, isto é, a distância, o custo do transporte, 
dificuldades de locomoção, etc. Também os elementos psico-sociais, como 
orientação ou propensão a assumir riscos, frequentemente encontrados entre os 
imigrantes, agem como variáveis intervenientes, estando associados à idade e aos 
níveis educacional e ocupacional. 
 Dentre os fatores de repulsão, pode-se salientar a diminuição de 
oportunidades de empregos determinada: 
 a) pelo declínio da demanda externa aos produtos da região, devido à 
mudança de gostos ou estrutura de consumo, exaustão dos seus recursos naturais, 
ou substituição por produtos sintéticos ou similares; em síntese, pelo decréscimo 
das atividades básicas da região. 
 b) pela substituição de tarefas manuais, isto é, liberação de mão-de-obra 
devido a uma mecanização (não planejada?) 
 Além da estagnação e de mudanças em função do desenvolvimento de 
outras regiões, existem também os motivos familiares e fatores aleatórios, como 
condições climáticas, que atuam como forças de repulsão. 
 Dentre os fatores de atração, citam-se maiores oportunidades, maiores 
salários, melhores condições de estudo e lazer, etc. 
 Sintetizando, os fatores determinantes da migração, podem ser 
apresentados em quatro grupos: 
 a) fatores associados à área de origem; 
 b) fatores associados à área de destino; 
 c) fatores pessoais e 
 d) obstáculos intervenientes. 
 Vários são os estudos feitos sobre migração, tentando explicar o 
fenômeno através de um ou vários fatores, mas, em todos persistem determinados 
parâmetros que permanecem no tempo. No modelo gravitacional, o potencial de 
atração entre dois lugares, é função direta dos tamanhos das populações e 
inversa das distâncias entre eles. 
 
e = k Po Pi ou Mij = k Pi Pj 
 Doi (Dij) 
 
 sendo: 
 
 Pi e Pj = população das regiões i e j 
 Dij = distância entre as regiões i e j 
 Mij = fluxo migratório entre as regiões i e j 
 k = constante 
 Outro modelo , considera também as diferenças regionais de salários na 
indústria e oportunidades de emprego como fatores determinantes da migração. 
 As pessoas emigram de regiões de baixos salários para aquelas de 
maiores salários; de regiões onde há excesso de mão-de-obra para aquelas cujo 
estoque de mão-de-obra é baixo, e a condição de equilíbrio se verificará quando: 
 
 Wj = Wi Vj = Vi 
 
 W = salários reais das regiões i e j na indústria 
 V = desemprego (não agrícola) 
 
 Outro modelo semelhante tenta medir o fluxo de mão-de-obra de uma 
região para outra, considerando também o nível educacional. 
 Como o fenômeno migratório ocorre com certa regularidade e segue 
padrões e direções específicas, foram feitas algumas generalizações deduzidas 
por Ravenstein, como: 
 1 - migração e distância: grande parte dos imigrantes se deslocam a 
pequenas distâncias, e a maioria dos imigrantes procede de áreas próximas, 
deslocando-se em estágios progressivos; 
 2 - os deslocamentos, na maioria, se dão em direção aos centros 
manufatureiros e comerciais; 
 3 - existe tendência à predominância de mulheres nos fluxos migratórios 
a pequena distância; 
 4 - há predominância de motivos econômicos entre as causas de 
migração; 
 5 - os naturais das cidades emigram relativamente menos que os de áreas 
rurais; 
 6 - o desenvolvimento do sistema de transportes e comunicações tende a 
induzir o fluxo migratório, na medida em que atenua os obstáculos que impedem 
a livre circulação de informações e de pessoas; 
 7 - imigração e emigração não são fenômenos independentes, variando a 
propensão a migrar, em função das carcterísticas da região e do componente da 
população. 
 Essas leis não se aplicam a todos os casos, apresentando alguns pontos 
discutíveis. No caso brasileiro, por exemplo, dada a extensão do país e as 
disparidades regionais, nem todas se aplicam. Os fluxos dependem, 
principalmente, dos fatores de repulsão e atração, das características das regiões 
de origem e de destino, do estágio de desenvolvimento de cada uma e também da 
política governamental. Isto proque a propensão a migrar é diferente para cada 
grupo, em função de suas características sócio-econômicas e demográficas, isto é, 
a migração é seletiva porque as pessoas respondem diferentemente a um conjunto 
de fatores de atração ou repulsão, devido à idade, ao nível educacional e à 
qualidade profissional. 
 
 2 - Seletividade Migratória 
 
 2.1 - Características: 
 
 2.1.1 - Quanto à idade: Os jovens que atingem a idade de trabalhar tem 
alta propensão a migrar. Os fenômenos psico-sociais e econômicos justificam tal 
afirmativa, pois nesta faixa de idade, menores são as obrigações familiares e 
maior o inconformismo ou insatisfação com a comunidade local. Além disso, os 
jovens tem mais facilidade para conseguir empregos, são mais dinâmicos e tem 
maior propensão a enfrentar riscos. 
 
 2.1.2 - Quanto ao sexo: Estudos empíricos constataram que, a curtas 
distâncias, o contigente “feminino”, que migra é maior. A longas distâncias, ou 
quando o movimento migratório inclui “pioneirismo”, estabelecimento de novos 
povoados e explorações, onde os riscos são grandes, a proporção de homens 
tende a superar a de mulheres. 
 
 2.1.3 - Quanto à educação - C. Horace Hamilton elaborou inúmeras 
pesquisas sobre seletividade educacional da migração rural-urbana e encontrou 
dois aspectos diferentes: “entre os mais jovens a seletividade se verifica em 
relação aos que tem mais alto nível educacional, enquanto que entre os mais 
velhos, o fenômeno é contrário.. A despeito da seletividade, os jovens imigrantes 
tem, relativamente, nível educacional mais baixo do que a população urbana”. 
 
 2.1.3 - Quanto à ocupação - Vasta é a literatura que destaca a alta 
seletividade da migração quanto à ocupação. Aqueles que exercem atividades não 
manuais tem maior mobilidade espacial do que os manuais e, também, as pessoas 
que saíram recentemente das escolas, ou que estão à procura de melhores 
condições de estudo. 
 
 Essas características da seletividade devem, entretanto, serem 
consideradas com senso crítico, evitando-se generalizações, pois muitas variáveis 
a determinam. 
 
 2.2 - Assimilação 
 No fenômeno migratório, deve-se estudar, além da seletividade e da 
decisão de migrar, a assimilação do imigrante nos grandes centros, tendo-se em 
conta, não só os fatores econômicos de repulsão e atração, mas, também, as 
condições sócio-culturais nos lugares de origem e destino., distinguindo-se 
também o nível formativo ou psico-social. Esses devem ser considerados 
conjuntamente, porque os fatores não atuam num vazio, encontrando normas e 
valores que funcionam como variáveis intervenientes. Essas determinam a pauta 
de comportamento institucional que delimitam o marco dentro do qual os 
indivíduos avaliam e percebem as condições externas, e a probabilidade de que o 
imigrante faça o movimento rural-urbano está diretamente relacionada com o 
nível de diferenciação de sua comunidade de origem. - Nível de diferenciação da 
comunidade é o nível no qual a comunidade está integrada no sistema nacional, 
através de condições implícitas nos sistemas educativos e econômicos 
 Outro ítem que deve ser destacado no estudo do fenômeno migratório se 
refere aos seus efeitos, a curto ou longo prazo sobre as regiõesde origem e de 
destino e, as desigualdades inter-regionais de renda-per-capita, lembrando-se que 
estes efeitos dependerão do grau de desenvolvimento do país, da direção dos 
fluxos e das características de cada região. 
 
 3 - Repercussões a nível sócio-econômico e demográfico 
 A literatura sobre migração interna permite a identificação de duas 
correntes ou enfoques distintos para analisar as consequências do processo 
migratório no desenvolvimento econômico. Uma focaliza, quase que 
exclusivamente, os aspectos econômicos e, na outra, os aspectos sociais são 
enfatizados. 
 Podemos caracterizar a primeira como a que está preocupada com a 
quantificação e o estabelecimento das condições de equilíbrio e os seus modelos 
são, geralmente, calcados nas premissas da concorrência perfeita. Nesse caso, a 
migração surge como respostas às oportunidades econômicas, constituindo 
elemento positivo no processo de desenvolvimento econômico, sendo 
considerada, por alguns autores, como investimento. Investimento este que tende 
a aumentar a produtividade dos recursos humanos e implica em custos e retornos 
(que podem ser: monetários, não monetários ou psíquicos, privados e sociais). 
Além disso, devem ser consideradas a estrutura de mercado e a política do 
governo. 
 Vista em termos de realocação de fatores de produção, a migração rural-
urbana representa transferência de mão-de-obra da agricultura cuja participação 
no produto total tende a cair relativamente à da indústria e à dos serviços; o 
movimento é provocado, na maioria das vezes, pelas mudanças no sistema 
produtivo da economia. A migração inerna corresponde, também, a um 
mecanismo de redistribuição espacial da população, que se adapta ao rearranjo 
espacial das atividades econômicas. Os mecanismos de mercado, que orientam os 
fluxos de investimentos para as cidades, criam, ao mesmo tempo, incentivos para 
os deslocamentos da população em direção aos núcleos urbanos. 
 Alguns modelos econômicos enfatizam que a intensidade do fluxo 
migratório está diretamente relacionada com o deferencial de salário para o 
mesmo nível de qualificação entre a cidade e o lugar de origem, sendo que o hiato 
salarial decorre do mecanismo de mercado ou da intervenção governamental no 
mercado de trabalho. No meio urbano, o setor protegido pela legislação do salário 
mínimo é relativamente maior do que no setor rural, o que pode gerar 
deslocamento de mão-de-obra desse meio para aquele. A situação de equilíbrio 
seria atingida quando houvesse uma equiparação dos salários nas duas áreas, em 
função de maior oferta de mão-de-obra no setor urbano. Caso fosse mantido o 
diferencial de salário, o desemprego surgiria e a situação de equilíbrio não seria 
atingida. “A uma determinada taxa de desemprego desapareceria o atrativo à 
imigração correspondente a um dado diferencial de salário”. (Todaro, 1969) 
 Inúmeras projeções podem ser levantadas com relação a esses modelos: 
 a) o simples diferencial de salário não age sozinho provocando o 
processo migratório. Esse depende, substancialmente, das atitudes, dos valores, 
das percepções individuais, e também dos meios de comunicação e locomoção; 
 b) as diferenças nas taxas de fertilidade entre as áreas urbanas e rurais 
podem levar ao não atingimento do equilíbrio preconizado; 
 c) o fluxo para as zonas urbanas continua, mesmo quando o mercado de 
trabalho já está saturado; 
 
 A migração leva o indivíduo à mudanças de atitudes, gerando novas 
motivações e padrões de comportamento típicos da vida urbana. Assim, alguns 
autores alegam que migração interna contribui para o desenvolvimento, 
principalmente devido às características de seletividade e “detachment”, pois os 
imigrantes são provavelmente indivíduos pré-selecionados por sua capacidade de 
se desprender do tradicionalismo do ambiente em que viviam. 
 Entretanto, os aspectos positivos da seletividade e “detachment” devem 
ser considerados a longo prazo. A curto prazo, há que se distinguir a migração 
orientada para o consumo ou para produção. Esta, tende a diminuir as 
oportunidades dos residentes e gera altos ustos para a cidade de destino, pois o 
grande fluxo de pessoas, principalmente na faixa de idade entre 15-34 anos, para 
as áreas urbanas, aumenta a força de trabalho local, pressionando a criação de 
empregos em grande escala. A migração orientada para o consumo, na medida em 
que demanda melhores condições de lazer e facilidades escolares, também 
pressiona a necessidade de novos investimentos nos centros urbanos, mas a 
menores níveis. 
 A segunda corrente, partidária da marginalidade dos imigrantes nos 
grandes centros e dos efeitos negativos da migração, alega que a grande pressão 
demográfica nos centros urbanos gera inúmeros problemas tais como 
aparecimento de favelas e de população marginalizada que exigem no curto 
prazo, maiores investimentos sociais. 
 Os serviços pessoais, que absorvem grande parte da mão-de-obra 
imigrante, embora sejam mal remunerados, dão ao imigrante, pelo menos, uma 
limitada opção de melhoramentos e oportunidades esporádicas de emprego 
alternativo, o que não existe no meio rural. Neste, o problema da marginaldade é 
talvez maior do que no urbano e os próprios imigrantes consideram que suas 
condições melhoraram depois da mudança, conforme a maioria dos estudos 
empíricos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pesquisa de Fluxos Migratórios - Léa Melo da Silva - BH - 1979

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