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CIÊNCIAS SOCIAIS PROF. ME. MARCOS EDUARDO PINTINHA Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Camila Adão barbosa Camila Cristiane Moreschi Fernando Sachetti Bomfim Patrícia Garcia Costa Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Cristiane Alves © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR UNIDADE 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................4 1 - CONTEXTO HISTÓRICO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS ............................................................................................5 1.1. PARA COMPREENDER AS CIÊNCIAS SOCIAIS ...............................................................................................8 2 - ÉMILE DURKHEIM E O SUICÍDIO .................................................................................................................... 10 3 - NÃO SOMOS IGUAIS: DIVERSIDADE CULTURAL ............................................................................................ 16 3.1. METODOLOGIA: IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA ............................................................................................... 17 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 21 FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS PROF. ME. MARCOS EDUARDO PINTINHA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CIÊNCIAS SOCIAIS 4WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO “De tudo que existe, nada é tão estranho como as relações humanas, com suas mudanças, sua extraordinária irracionalidade” (Virginia Woolf). As “Ciências Sociais” revelam-se em toda parte, principalmente nas relações sociais que estabelecemos com os outros seres humanos para garantir nossa sobrevivência. A� rmamos que cada ser humano é produto e produtor da sua vida social, está inserido em uma determinada realidade, in� uenciado por ela. E, embora não aceite, deve reconhecer que não é tão livre como gostaria de ser. As Ciências Sociais promovem a solidariedade e o entendimento entre todos os seres humanos, baseada na compreensão, no respeito às diferenças e na liberdade de todas as pessoas. Funciona como uma ferramenta re� exiva, que pode ser aplicada em nossa vida, representa um corpo de conhecimentos e de práticas de investigação sobre as ações humanas, bem como revela as evidências históricas e busca interpretá-las. Assim, o exercício em pensar socialmente nos faz entender a vida de um modo mais completo, in� uencia e oferece soluções para os problemas e con� itos sociais. O estudo das Ciências Sociais é um bom guia na luta contra os preconceitos, contra o racismo e falta de diálogo entre os grupos culturais, en� m, pode ajudar a resgatar nossa humanidade e promover a construção de uma sociedade ética e cidadã. O objetivo da primeira unidade é aproximar os acadêmicos do estudo das Ciências Sociais e dos primeiros pensadores, a � m de perceber suas contribuições para o entendimento das ações humanas sobre o planeta terra... A casa onde todos os seres humanos devem aprender a conviver de forma pací� ca e fraterna. 5WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - CONTEXTO HISTÓRICO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS A arte de pensar sociologicamente consiste em ampliar o alcance e a efetividade prática da liberdade. Quanto mais disso aprender, mais o indivíduo será � exível diante da opressão e do controle, e, portanto, menos sujeito a manipulação (BAUMAN; MAY, 2010, p. 27). As Ciências Sociais surgem no momento de transformação e ebulição dos acontecimentos políticos, econômicos e culturais. No � nal do século XVIII e segunda metade do século XIX, período histórico da crise do Feudalismo, o � m do Antigo Regime e nascimento do modo de produção Capitalista. Para entender os aspectos principais desse processo histórico é preciso contextualizar e diferenciar os dois modelos: as comunidades antigas, em que a posse da terra era coletiva e o senhor da terra estabelecia uma relação de suserania e vassalagem, característica dos códigos de honra medievais, ou seja, pela coerção jurídica ou pela pura violência satisfazia seus desejos e necessidades econômicas. O outro modelo é o modo de produção capitalista, que todos nós conhecemos: voltado para o trabalho, a produção de mercadorias, a comercialização e o consumo de bens. O Feudalismo pode ser entendido como um regime de servidão, que resultava na satisfação das exigências econômicas do senhor feudal: [...] uma obrigação, imposta ao produtor pela força e independentemente de um seu ato de vontade, de satisfazer determinadas exigências econômicas de um dominus, quer essas exigências assumam a forma de serviços a prestar, quer de tributos a pagar em dinheiro ou em géneros [..] A força mediante a qual tem lugar a coerção poderá ser a do domínio militar do senhor feudal, a da tradição, apoiada num processo jurídico de qualquer tipo, ou � nalmente, a força da lei (CONTE, 1984, p. 15-16). As mudanças na vida socioeconômica e a contribuição de alguns pensadores foram fundamentais para a formação das Ciências Sociais, sobretudo na França, nos séculos XVII e XVIII, que diante das péssimas condições de vida ocasionaram a Revolução Francesa, em 1789. A sociedade francesa era fortemente aristocrática e hierarquizada, o poder gravitava em torno da � gura do rei, o “rei-sol”, mas com o agravamento da miséria da população, o con� ito político multiplicou o número de manifestações e de pan� etos e livros contra o absolutismo monárquico. O choque provocado por essas novas concepções foi ainda mais forte quando sua difusão encontrou na Enciclopédia, um veículo adequado e revolucionário, ela teve início em 1751 e alcançou “[...] 36 volumes, dos quais oito de ilustrações, num total de 71.818 verbetes, até o ano de sua conclusão, em 1772” (GRESPAN, 2014, p. 49). Os pensadores da Enciclopédia propunham um espaço de produção do saber, através do debate e da crítica e defendiam que todos deveriam possuir os direitos básicos em igualdade de condições. 6WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 1 - Revolução Francesa. Fonte: Ferdinand Victor Eugène Delacroix (1830). O mundo, em 1789, era muito diferente, a Europa era essencialmente rural, existia uma linha divisória que separava as pessoas, separava o campo da cidade. A aparência das pessoas que moravam nas cidades era � sicamente diferente dos homens do campo. Esses vestiam roupas diferentes, as atividades eram bem marcadas e as pessoas do campo eram ridicularizadas pelos moradores das cidades e tratadas como “caipiras da roça”. Figura 2 - Pensadores do iluminismo. Fonte: Simple � eme (2018). 7WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA O Iluminismo foi uma ideologia revolucionária, a convicção no progresso do conhecimento humano, na racionalidade, na riqueza e no controle sobre a natureza. Denominado de “séculos das luzes”, o Iluminismo visava a luta da razão contra o absolutismo monárquico. Foi um movimento eclético, interpretado de forma prática e utilitarista, em que o sucesso das ciências experimentais alimentava a ideia de que o método racional analítico poderia desenvolver o progresso em todas as outras áreas da vida. Assim, o iluminista podia ser considerado como uma pessoa “esclarecida”, um racionalista, um progressista que tinha con� ança na capacidade do homem em progredir para uma era melhor, um verdadeiro apaixonado pela [...] crença no progresso que professava o típico pensador do iluminismo re� etia os aumentos visíveis no conhecimento e na técnica, na riqueza, no bem-estar e na civilização que podia ver em toda a sua volta e que, com certa justiça, atribuía ao avanço crescente de suas ideias. No começo do século, as bruxas ainda eram queimadas; no � nal, os governos do iluminismo, como o austríaco, já tinham abolido não só a tortura judicial, mas também a escravidão (HOBSBAWM, 2003, p. 37-38). Observe que o pensamento liberal e o lema da Revolução Francesa – “liberdade, igualdade e fraternidade” – está presente na Declaração dos Direitos Humanos e, hoje, é aceito em muitos países como direitos pertencentes à natureza humana. O que signi� ca que a felicidade só deveria ser pensada como um projeto de sociedade para todos. Assim, “liberdade, igualdade e fraternidade”, passaram a ser considerados como direitos do novo cidadão, frutos da revolução que promoveu profundas transformações e nos permite ler, no primeiro artigo da Declaração dos Direitos dos Homens e Cidadãos, que todos os homens nascem livres e iguais em direitos. A sociedade passou por um processo de transformação em todos os níveis em um curto período de tempo, afetando toda organização social e provocando mudanças que nos colocaram em um mundo extremamente tecnológico e interligado pelos meios de comunicação e redes sociais. Diversos acontecimentos que marcaram a vida política e econômica mudaram profundamente as relações sociais e o modo como produzimos a nossa sobrevivência. Segundo Martins (2010, p. 10) “[...] as ciências sociais não são somente produto da re� exão de alguns pensadores, mas o resultado de certas circunstâncias históricas e de algumas necessidades materiais e sociais”. Após o período do Renascimento e da Revolução Francesa, a ciência foi dominando cada vez mais a cultura e a história da humanidade, surgiu uma verdadeira Revolução Cientí� ca e a sociedade se tornou cada vez mais racionalista e empirista, o que signi� cou que a ciência passou a ter “[...] com critérios a objetividade e a cienti� cidade, nos moldes da matemática, e não mais da � loso� a [...] a ciência buscou novos modelos e métodos” (CHINAZZO, 2013, p. 166). Figura 3 - Charlie Chaplin: Tempos Modernos. Fonte: CineVest (2018). 8WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A Revolução Industrial não é um acontecimento histórico que podemos determinar que tivesse princípio e � m, ela ainda prossegue, mas, com certeza, esse foi o acontecimento mais importante na história do mundo. Na década de 1780, pela primeira vez na história da humanidade foi intensi� cado o poder produtivo, agora os seres humanos eram capazes de multiplicação rápida, constante e ilimitada, capazes de produzir mercadorias e serviços para toda a sociedade, foi o salto para “o crescimento autossustentável”. A ciência, hoje, tem um olhar mais especí� co para cada cultura, cada grupo e cada indivíduo, rejeitando a antiga concepção de universalidade da história da humanidade. Consequentemente, as soluções não serão as mesmas, nem mesmo as soluções técnicas. Surge uma nova visão da história, um novo discurso que origina outras formas de códigos e de mundo, admitindo uma grande heterogeneidade (CHINAZZO, 2013, p. 170). No início, todos os estudos e descobertas feitas pelas Ciências Sociais estavam concentrados na Sociologia. Naquela época, era considerada uma “ciência enciclopédica, evolucionista e positiva”, que se ocupava da totalidade da vida social e buscava formular as leis gerais da evolução social da humanidade. Mas com o passar do tempo e devido à complexidade da sociedade moderna, a Sociologia, Antropologia, Economia e Política vão desenvolvendo metodologias próprias e estudos cada vez mais especí� cos (MARCELINO, 2013). 1.1. Para Compreender as Ciências Sociais Existem vários elementos que compõem a sociedade, estudar as Ciências Sociais é fazer uma bricolagem (conjunto de teorias e conceitos para formatar uma ideia) de várias áreas para, assim, termos condições de compreendê-las. Dentre as rami� cações desta ciência apontamos alguns conceitos e autores principais: • ANTROPOLOGIA: a terminologia surgida no século XVIII e consolidada no século XIX como ciência tem como estudo o comportamento do homem. Dentre esses estudos estão: crenças, costumes, hábitos, aspectos físicos, ou seja, a cultura, de modo geral, de diferentes povos. Os principais Antropólogos são: ➢ Bronislaw Malinowski (1884-1942). ➢ Franz Boas (1858-1942). ➢ Claude Levi-Strauss (1908-2009). • CIÊNCIAS POLÍTICAS: a ideia de política está presente desde a Grécia Antiga, porém, estaremos conceituando no viés da História Moderna. Podemos dizer que as Ciências Políticas têm como prerrogativa se dedicar às ações políticas presentes nas organizações sociais, ou seja, ver a política como poder, Estado, gestão pública, formas de governo, processos eleitorais, partidos políticos, entre outros. Dentre os clássicos das políticas estão: ➢ Nicolau Maquiavel (1469-1527). ➢ � omas Hobbes (1588-1679). ➢ John Locke (1632-1704). ➢ Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). ➢ Immanuel Kant (1724-1804). ➢ Georg Wihlm Friedrich Hegel (1770-1831). ➢ Karl Marx (1818-1883). 9WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA • CIÊNCIAS ECONÔMICAS: entendemos este conceito como processo do homem inserido nos meios e modos de produção, consumo, bens e serviços, mercado, sistemas econômicos, trocas ou escolhas, ou seja, toda e qualquer forma de relações sociais que condicionam � ns e meios de algum bem ou serviço. Principais pensadores das Ciências Econômicas: ➢ Adam Smith (1766-1834). ➢ � omas Malthus (1766-1834). ➢ David Ricardo (1772-1823). ➢ John Stuart Mill (1806-1873). ➢ Alfred Marshall (1842-1924). ➢ John Maynard Keynes (1883-1946). • SOCIOLOGIA: está relacionada a uma ciência que aprofunda os conceitos da vida humana, grupos sociais, sociedades, indivíduos, relações sociais e estruturas sociais. Principais pensadores da Sociologia: ➢ Augusto Comte (1798-1857). ➢ Émile Durkheim (1858-1917). ➢ Karl Marx (1818-1883). ➢ Max Weber (1864-1920). ➢ Zigmunt Bauman (1925-2017). É comum no campo das Ciências Sociais um mesmo pensador estar em categorias diferentes, já que suas teorias podem ser utilizadas tanto em uma linha teórica como em outra. Essas linhas que constituem as Ciências Sociais são fundamentais para compreender e analisar a sociedade como um todo, ou seja, utilizar de todos os conceitos possíveis para chegar a uma possível explicação. A Sociologia pode ser considerada uma ciência da modernidade, uma resposta intelectual às condições geradas pela Revolução Industrial, como a renúncia da visão sobrenatural e aplicação da observação e experimentação, o emprego sistemático da razão, estabelecendo um método cientí� co para a explicação dos fenômenos da natureza e da cultura (MARTINS, 2010). As consequências da rápida industrialização e urbanização levadas a cabo pelo sistema capitalista foram tão visíveis quanto trágicas: aumento assustador da prostituição, do suicídio, da criminalidade, da violência, de surtos de epidemia de tifo e cólera que dizimaram parte da população etc. É evidente que a situação de miséria também atingia o campo, principalmente os trabalhadores assalariados, mas o seu epicentro � cava, sem dúvida, nas cidades industriais (MARTINS, 2010, p. 13-14). O primeiro pensador, Claude Henri de Rouvroy, mais conhecido como o Conde de Saint-Simon (1760-1825), era oriundo da nobreza francesa. Ele descobriu muito tarde a carreira de estudioso da física e da política, só aos 40 anos, dedicando os seus esforços na criação da sociedade que ele chamou de “sistema industrial”. 10WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 4 – Saint-Simon (1760-1825) Fonte: 123RF Royal Free (2019). Saint-Simon (1760-1825) é considerado o iniciador do positivismo e o verdadeiro pai da Sociologia, tendo sido altamente in� uenciado pelas ideias revolucionárias, principalmente dos � lósofos iluministas. Vivenciou a sociedade francesa pós-revolucionária, que se encontrava em estado de desorganização geral, e acreditava que o industrialismo trazia consigo a possibilidade de satisfazer as necessidades da população, e que a ordem e a paz, na nova sociedade poderiam ser proporcionadas pelo progresso econômico. Para Saint- Simon a elite, formada pelos industriais e cientistas, deveria fornecer melhores condições de vida à classe trabalhadora, elaborar normas de comportamento para atenuação dos con� itos existentes entre as classes sociais e propiciar a “ordem, paz e progresso”, através de um processo de acomodação (MARCELNO, 2013, p. 28, grifo nosso). Saint-Simon desenvolveu os estudos sobre a lei dos três estados e defendeu que o objetivo político do Estado deveria garantir o desenvolvimento da industrialização. Para ele, a sociedade era um sistema de elementos interdependentes, ideias que irão aparecer nos trabalhos dos seus discípulos, em especial nas obras de Augusto Comte. 2 - ÉMILE DURKHEIM E O SUICÍDIO “O maior obstáculo à descoberta não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento” (Daniel Boorstin). Émile Durkheim nasceu em Épinal, Departamento de Vosges, que � ca exatamente entre a Alsácia e a Lorena, a 15 de abril de 1858, e morreu em 1917. Ele foi indicado para ministrar aulas de Pedagogia e Ciência Social na Faculdade de Letras de Bordeaux, de 1887 a 1902, onde organizou o primeiro curso de Sociologia em uma universidade francesa. Mas foi só em 1910 que consegue transformá-la em cátedra de Sociologia. As suas aulas na Sorbonne exigiam um grande an� teatro para atender o grande número de alunos. Ele foi o primeiro sociólogo moderno a explicar o comportamento humano baseado no contexto social das pessoas. 11WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 5 - Émile Durkheim. Fonte: Abril Cultural (s/d). Para Durkheim, os fatos sociais devem ser estudados como coisas. Eles são fenômenos, propriedades, são acessíveis pela observação e externos, que podem ser medidos de forma objetiva. A proposição segundo a qual os fatos sociais devem ser tratados como coisas – proposição que está na base de nosso método – é das que mais têm provocado contradições. Consideraram paradoxal e escandaloso que assimilássemos às realidades do mundo exterior as do mundo social. Era equivocar-se singularmente sobre o sentido e o alcance dessa assimilação, cujo objeto não é rebaixar as formas superiores do ser às formas inferiores, mas, ao contrário, reivindicar para as primeiras um grau de realidade pelo menos igual ao que todos reconhecem nas segundas. Não dizemos, com efeito, que os fatos sociais são coisas materiais, e sim que são coisas tanto quanto as coisas materiais, embora de outra maneira (DURKHEIM, 2007, p. 27). Os fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir, com as três características seguintes: exterioridade, coercitividade e generalidade. • EXTERIORIDADE: são exteriores às consciências individuais, existe independente da vontade do indivíduo. • COERCITIVIDADE: os indivíduos são obrigados a seguir um comportamento pré- determinado, independentemente de sua vontade. Há uma força coercitiva que faz com que ele siga determinadas regras e que ele deve fazer se submeter. • GENERALIDADE: é comum a todos os membros de um grupo ou a sua maioria. É o consenso social e a vontade coletiva. Em relação às condições de vida de cada grupo apresentar diferenças culturais, elas não são de qualidade nem de nível, mas são próprias das condições de vida de cada sociedade. Ou seja, não podem ser comparadas como superiores ou inferiores, todas são igualmente importantes, Se certas sociedades não criaram o alfabeto e a linguagem grá� ca, é porque o modo de vida de tais indivíduos não lhes despertou tal necessidade, não porque sua capacidade mental fosse “inferior”. A capacidade simbólica e os padrões de todas as culturas humanas são igualmente abstratos, signi� cativos e dão respostas úteis aos problemas de compreensão do mundo (COSTA, 2005, p. 5). 12WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Durkheim era discípulo do pensador francês Auguste Comte (1798-1857), que inventou a palavra sociologia, na perspectiva de desenvolver o estudo da sociedade sobre bases cientí� cas. Comte nasceu na França, era � lho de uma família católica monarquista. Viveu a infância na época da França napoleônica, estudou na Escola Politécnica e tornou-se discípulo de Saint-Simon, sofrendo grande in� uência desse pensador. Desenvolveu os estudos da � loso� a positivista, considerada por ele uma religião e, segundo sua � loso� a política, a� rmava que a história do desenvolvimento da humanidade passou por apenas três estágios. Figura 6 – Augusto Comte. Fonte: Lapham’s Quarterly (s/d). A lei dos três estágios de Comte assinala que as tentativas humanas de entender o mundo passam por estágios teológicos, metafísicos e positivos. No estágio teológico, o pensamento era guiado por ideias religiosas e pela crença de que a sociedade era expressão da vontade divina. No estágio metafísico, que tomou frente por volta da época da Renascença, a sociedade passou a ser vista em termos naturais, e não sobrenaturais. O estágio positivo, anunciado pelas descobertas e realizações de Copérnico, Galileu e Newton, estimulou a aplicação de técnicas cientí� cas ao mundo social. De acordo com essa visão, Comte considerava a sociologia como a última ciência a se desenvolver – com base na física, na química e na biologia – mas também como a mais signi� cativa e complexa de todas as ciências. Comte queria desenvolver uma ciência da sociedade que pudesse explicar as leis do mundo social, controlar e prever os acontecimentos sociais, e assim, ajudar a moldar o nosso destino e melhorar o bem-estar da humanidade. A visão de Comte para a sociologia era de que ela se tornasse uma “ciência positiva”. Ele queria que a sociologia aplicasse os mesmos métodos cientí� cos rigorosos ao estudo da sociedade que os físicos e químicos usam para estudar o mundo físico. O positivismo sustenta que a ciência deve se preocupar apenas com entidades observáveis que sejam conhecidas pela experiência direta. Com base em observações cuidadosas, pode-se inferir leis que expliquem a relação entre os fenômenos observados. Compreendendo as relações causais entre os fatos, os cientistas podem então prever como serão os acontecimentos futuros. Uma abordagem positivista à sociologia visa a produção de conhecimento sobre a sociedade com base em evidências empíricas obtidas com observação, comparação e experimentação (GIDDENS, 2012, p. 24). 13WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Entretanto, apesar de Comte defender a aplicação de um método cientí� co para o estudo da sociedade, foi Durkheim que desenvolveu e aplicou em suas obras essa metodologia, defendendo o princípio de avaliar os fatos sociais como coisas, utilizando o mesmo rigor cientí� co aplicado pelas outras ciências na sociologia. A obra de Durkheim, Regras para o método sociológico (1895), foi à primeira obra exclusivamente metodológica e voltada para a investigação sistemática. E foi na obra O Suicídio: estudo de sociologia que Durkheim manipulou as variáveis e dados empíricos utilizando a estatística como instrumento de análise, tornando sua obra um modelo no campo das ciências sociais e uma demonstração cientí� ca de como fazer um estudo sociológico. Para Durkheim, a principal preocupação intelectual da sociologia é o estudo dos fatos sociais, os aspectos da vida social que moldam nossas ações como indivíduos, sendo que cada sociedade têm uma realidade própria, um modo de agir, pensar ou sentir. Os fatos sociais exercem um caráter condicionante sobre as pessoas, elas seguem os fatos sociais livremente e acreditando que, desse modo, estão agindo por escolha própria. O fato social é reconhecível pelo poder de coerção externa que exerce ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a presença deste poder é reconhecível, por sua vez, seja pela existência de alguma sanção determinada, seja pela resistência que o fato opõe a qualquer empreendimento individual que tenda a violenta-lo. Todavia, podemos de� ni-lo também pela difusão que apresenta no interior do grupo, desde que, de acordo com as precedentes observações, se tenha o cuidado de acrescentar como característica segunda e essencial que ele existe independentemente das formas individuais que toma ao se difundir. Nalguns casos, este último critério é até mesmo mais fácil de aplicar do que o anterior. Com efeito, a coerção é fácil de constatar quando ela se traduz no exterior por qualquer reação direta da sociedade, como é o caso em se tratando do direito, da moral, das crenças, dos usos, e até das modas. Mas, quando não é senão direta, como a que exerce uma organização econômica, não se deixa observar com tanta facilidade (RODRIGUES, 2002, p. 49). Para Durkheim os fatos sociais são difíceis de estudar, para tanto, é preciso abandonar os preconceitos e ideologias, ter uma mente aberta às evidências e livre das ideias preconcebidas. Para ele, deveríamos observar os fatos como eles realmente são, e buscar desenvolver os conceitos e valores que expressam a natureza da vida social. A obra de Durkheim, O suicídio: estudo de sociologia (1952), de� ne o suicídio como um fato social que só poderia ser explicado por outros fatos sociais. E, embora essas pessoas sejam consideradas como indivíduos que estão exercendo o livre arbítrio, elas são in� uenciadas e seguem os modelos e padrões sociais da sociedade em que estão inseridas. O suicídio é uma das principais causas de morte no mundo, com um milhão de óbitos por ano, cerca de 16 óbitos por 100.000 habitantes, tornando-se um importante problema de saúde pública. Desde 1960, as taxas de suicídio no Brasil têm contribuído com a situação epidemiológica, sendo registrada como a terceira causa de óbito por fatores externos identi� cados: homicídio (36,4%), óbitos relacionados ao trânsito (29,3%) e suicídio (6,8%) (MACHADO; SANTOS, 2015). No Brasil, o suicídio é um problema de saúde pública, as maiores causas de suicídio são enforcamento, lesão por armas de fogo e autointoxicação intencional por pesticidas, equivalente a 80% dos casos aproximadamente. A mortalidade mais elevada se encontra na região Sul e o maior crescimento percentual da taxa se encontra na região Nordeste, seguindo a tendência mundial de que os homens são três vezes mais propensos do que as mulheres a cometer suicídio (MACHADO; SANTOS, 2015). 14WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 7 – Suicídio no Brasil. Fonte: Fiocruz/MS (2016). 15WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA TEORIA DO DESVIO DE DURKHEIM Durkheim, nos seus estudos, argumentou que não existe nada inerentemente des- viante ou criminoso em qualquer ato. Para entender como a sociedade responde ao ato praticado: “Não podemos dizer que uma ação abala a consciência comum porque é criminosa, e sim que é criminosa porque abala a consciência comum”. Ou seja, nada é criminoso ou digno de condenação, a menos que decidamos que é. pre haverá alguns que cruzam os limites e sofrerão sanções dentro do grupo, para o bem da sociedade. Entretanto, Durkheim introduziu um novo conceito: anomia, um estado de ausência de normas, que pode ocorrer em momentos de revolução ou desordens sociais. Anomia leia o texto e assista ao vídeo do professor das Neves Bodart, dou- O estudo de Durkheim sobre as taxas de suicídio certas categorias de pessoas eram mais prováveis de cometer suicídio do que outras. Ele descobriu, por exemplo, que havia mais suicídios entre os homens do que entre as mulheres, mais protestantes do que católicos, mais ricos do que po- bres e mais pessoas solteiras do que casadas. Durkheim também observou que as taxas de suicídio tendiam a ser mais baixas em tempos de guerra e mais altas em épocas de mudança ou instabilidade econômica. Por que isso ocorre? A visão de Durkheim Essas observações levaram Durkheim a concluir que existem forças sociais exter- nas ao indivíduo que afetam as taxas de suicídio. Ele relacionou a sua explicação à ideia de solidariedade social e a dois tipos de vínculos dentro da sociedade – integração social e regulação social. Durkheim argumentava que as pessoas que eram bastante integradas em grupos sociais e cujos desejos e aspirações eram regulados por normas sociais, eram menos prováveis de cometer suicídio. de integração e regulação. Os suicídios egoístas são marcados por pouca integração na sociedade e ocor- rem quando o indivíduo está isolado ou quando seus laços com o grupo estão enfraquecidos ou rompidos. Por exemplo, as baixas taxas de suicídio entre os católicos podem ser explicadas pela força da sua comunidade social, ao passo perante Deus. 16WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA O casamento protege contra o suicídio, integrando o indivíduo em uma relação so- cial estável, enquanto as pessoas solteiras permanecem mais isoladas na socie- dade. A baixa taxa de suicídio durante os períodos de guerra, segundo Durkheim, pode ser considerada um sinal de maior integração social ante um inimigo exter- no. O suicídio anômico é causado pela falta de regulação social. Com isso, Durkheim “sem normas” como resultado de mudanças rápidas ou instabilidade na socie- épocas de turbulência econômica ou em disputas pessoais, como o divórcio – pode desestabilizar todo o equilíbrio entre as circunstâncias das pessoas e seus desejos. O suicídio altruísta ocorre quando um indivíduo está “integrado demais” – os la- ços sociais são fortes demais – e valoriza a sociedade mais do que a si mesmo. Nesse caso, o suicídio se torna um sacrifício pelo “bem-maior”. Os pilotos kami- kazes japoneses ou “homens-bomba” islâmicos são exemplos de suicídios altru- ístas. Durkheim considerava isso característico de sociedades tradicionais, onde prevalece a solidariedade mecânica. O último tipo de suicídio é o suicídio fatalista. Embora Durkheim considerasse esse tipo de pouca relevância contemporânea, ele acreditava que resulta quando o indivíduo é regulado excessivamente pela sociedade. A opressão do indivíduo resulta em um sentimento de impotência ante o destino ou a sociedade. As taxas de suicídio variam entre as sociedades, mas apresentam padrões regulares den- tro das sociedades ao longo do tempo. Durkheim entendia isso como evidência 3 - NÃO SOMOS IGUAIS: DIVERSIDADE CULTURAL “Sempre que você estiver no lado da maioria, é hora de parar e re� etir” (Mark Twain). Você já parou para observar as pessoas que estão ao nosso redor? Na sala de aula ou andando nas ruas, qual a primeira ideia que vem à cabeça? “Como elas são diferentes”. Cada pessoa tem uma aparência única, um modo de falar, os seus gestos próprios, uma maneira de vestir e andar, é um “tipo diferente de ser”. Para entender a sociedade e as pessoas com quem convivemos, temos que estudar Sociologia, uma ciência que pode fornecer preciosas informações, ajudar a desenvolver um novo entendimento sobre a sociedade e as pessoas. Esta ciência tem por objetivo estudar a interação social dos seres vivos e diferentes níveis de organização da vida. 17WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Para todos aqueles que acham que viver a vida de maneira mais consciente vale a pena, a sociologia é um guia bem-vindo. Embora repouse em constante e intima conversação com o senso comum, ela procura ultrapassar suas limitações abrindo possibilidades que poderiam facilmente ser ignoradas. Quando aborda e desa� a nosso conhecimento partilhado, a sociologia nos incita e encoraja a reacessar nossas experiências, a descobrir novas possibilidades e a nos tornar, a� nal, mais abertos e menos acomodados à ideia de que aprender sobre nós mesmos e os outros leva a um ponto � nal, em lugar de constituir um processo dinâmico e estimulante cujo objetivo é a maior compreensão. Pensar sociologicamente pode nos tornar mais sensíveis e tolerantes em relação à diversidade, daí decorrendo sentidos a� ados e olhos abertos para novos horizontes além das experiências imediatas, a � m de que possamos explorar condições humanas até então relativamente invisíveis (BAUMANN; MAY, 2010, p. 25). O primeiro passo é o mais desa� ador: olhar as pessoas sem estabelecer rótulos, preconceitos ou criar estereótipos. Para isso, a sociologia desenvolveu formas de investigação, um guia para a imaginação sociológica que pode promover uma maior compreensão dos outros. “Praticar a sociologia” é fazer um exercício de observação, uma re� exão sobre a vida, que pode transformar as pessoas e torná-las mais sensíveis e tolerantes em relação à diversidade cultural. 3.1. Metodologia: Imaginação Sociológica Como utilizar a imaginação sociológica? A imaginação sociológica é uma maneira de analisar a sociedade, foi desenvolvido pelo sociólogo norte americano Charles Wright Mills (1916-1962). O ponto de partida desta “imaginação” é a ideia que o indivíduo só pode entender sua própria experiência e avaliar o seu destino quando consegue se localizar no seu contexto histórico e cultural. Isto signi� ca desenvolver uma visão total da sociedade e de todos os elementos que fazem parte do cotidiano. Desta maneira, a imaginação sociológica obriga a olhar para as pessoas ou situações do dia a dia de uma maneira diferente daquela sair do habitual e observar, precisamos constituir um novo olhar, uma perspectiva mais ampla. Aprender a pensar de maneira sociológica, segundo Giddens (2012), é se libertar das circunstâncias pessoais, o que exige o afastamento dos nossos pensamentos e rotinas. A imaginação sociológica nos permite ver que muitos fatos que parecem dizer respeito apenas ao indivíduo na verdade re� etem questões mais amplas. O divórcio, por exemplo, pode ser um processo muito difícil para alguém que passa por um - o que Mills chama de um “problema pessoal”. Porém, o divórcio também é uma “questão pública” importante em muitas sociedades ao redor do mundo. Na Grã-Bretanha, mais de um terço de todos os casamentos acaba em divórcio dentro de 10 anos. O desemprego, para usar mais um exemplo, pode ser uma tragédia pessoal para alguém que perde o emprego e não consegue encontrar outro. Ainda assim, ele vai muito além da questão do desemprego privado quando milhões de pessoas em uma sociedade se encontram na mesma situação: é uma questão pública que expressa grandes tendências sociais (GIDDENS, 2012, p. 21). Conforme os dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geogra� a e Estatística (IBGE, 2014), o divórcio cresceu mais de 160% em 10 anos no Brasil. Isto gera uma temática de investigação em que os sociólogos buscam entender e dar respostas sobre esse fenômeno social, que atinge as famílias e a organização social brasileira. 18WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 8 – Divórcio no Brasil. Fonte: IBGE (2010). Os casamentos diminuem e os divórcios aumentam, o que acaba contribuindo para a redução nacional de nascimentos. Os dados do censo do IBGE informam que os registros de nascimento caíram pela primeira vez desde 2010. 19WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 9 – Nascimentos no Brasil. Fonte: AGÊNCIAIBGE (2017). Mills (1975) alerta que as nossas escolhas são moldadas pela nossa vivência cotidiana com os familiares e amigos. Somos in� uenciados pelas nossas rotinas e, muitas vezes, temos a sensação de estarmos aprisionados a elas. Por isso utilizarmos as ferramentas das Ciências Sociais, a sociologia para entendermos as transformações sociais e responder às perguntas sobre a sociedade em que vivemos. A partir dos questionamentos e investigações propostas pelas Ciências Sociais desenvolveremos uma re� exão crítica e um olhar plural em relação à sociedade em que vivemos. Não temos todas as respostas, nos faltam muitas informações e, conforme os resultados apresentados pelos sociólogos, somos in� uenciados por nossa cultura e valores pessoais, como a� rma Mills: É por isso, em suma, que por meio da imaginação sociológica os homens esperam, hoje, perceber o que está acontecendo no mundo, e compreender o que está acontecendo com eles, como minúsculos pontos de cruzamento da biogra� a e da história, dentro da sociedade. Em grande parte, a visão autoconsciente que o homem contemporâneo tem de si, considerando-se pelo menos um forasteiro, quando não um estrangeiro permanente, baseia-se na compreensão da relatividade social e da capacidade transformadora da história. A imaginação sociológica é a forma mais frutífera dessa consciência. Usando-a, homens cujas mentalidades descreviam apenas uma série de órbitas limitadas passam a sentir- se como se subitamente acordassem numa casa que apenas aparentemente conheciam. Certo ou não, com frequência passam a sentir que não podem proporcionar-se súmulas adequadas, análises coesas, orientações gerais. As decisões anteriores, que pareciam sólidas, passam a ser, então, como produtos de uma mente inexplicavelmente fechada. Sua capacidade de surpresa volta a existir. Adquirem uma nova forma de pensar, experimentam uma transavaliação de valores: numa palavra, pela sua re� exão e pela sua sensibilidade, compreendem o sentido cultural das Ciências Sociais (MILLS, 1975, p. 14). 20WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A compreensão da realidade social e dos con� itos que enfrentamos é a condição necessária para se situar e entender também a humanidade. Para isso, precisamos estudar a história do desenvolvimento do pensamento sociológico, desde o seu início e, assim, conferir sentido aos fatos sociais que observamos. Na prática, é aplicar a imaginação sociológica, perguntando: quais foram às primeiras perguntas e temas investigados pelos sociólogos? O que eles descobriram e qual foi o impacto social das suas investigações na transformação ou melhorias alcançadas pela sociedade? A VIDA É MUITO MAIS QUE A CIÊNCIA E perguntou “O que é isso?”. A meninada respondeu, ansiosa por mostrar o que sabia: “É água”. Aí o professor escreveu a mesma fórmula numa folha de papel, colocou dentro de um copo e lhes ofereceu, dizendo: “Então bebam...”. só lida com coisas faladas e escritas, hipóteses, teorias, modelos, que a nossa ra- sobre elas. A vida é muito mais que a ciência. Ciência é uma coisa entre outras, que empre- gamos na aventura de viver, que é a única coisa que importa. É por isso que, além da ciência, é preciso a sapiência, ciência saborosa, sabedoria, que tem a ver com a arte de viver. Porque toda ciência seria inútil se, por detrás de tudo aquilo que faz os homens conhecerem, eles não se tornassem mais sábios, mais tolerantes, mais mansos, mais felizes, mais bonitos... Ciência: brincadeira que pode dar pra- zer, que pode dar saber, que pode dar poder. SOCIOLOGIA CLÍNICA A sociologia aplicada visa produzir mudanças práticas na organização social e no comportamento humano, ela busca encontrar soluções para os problemas so- ciais, como a violência urbana e a criminalidade. O que levou os sociólogos a cria- siderando as dimensões afetiva e existencial, se propõe a intervir em situações para promover melhorias na qualidade de vida e transformar a maneira como os sujeitos se relacionam com as condições objetivas e com o peso de suas histórias pessoais. Para saber mais acesse o artigo: A sociologia clínica no Brasil 21WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA faz uma crítica aos modos de produção da socie- dade industrial, em que as máquinas começam trabalho ou com a mercadoria que ele produzia, fazendo que os homens tivessem que se ajustar ao novo ritmo, trabalhando mais horas a uma ve- locidade cada vez maior. O personagem de Carlitos vive a condição do ope- rário que tenta se adaptar, ele se depara com a esteira de produção que aumenta o ritmo de pro- relação de produção entre homem-máquina, ele acaba sendo engolido pela máquina e, quando volta, é na condição de insanidade, sabotando a produção e insurgindo contra o patrão, até ser in- ternado e considerado um louco. Figura 10 Fonte: Adorocine- 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS As Ciências Socias precisam continuar a serem éticas e desenvolverem pesquisas voltadas às necessidades da humanidade, privilegiando o diálogo e a comunicação. Nossa responsabilidade moral é não fechar os olhos para as situações con� ituosas, mas, sim, buscar soluções para todos os con� itos. Por isso, o estudo das Ciências Sociais é fundamental para o entendimento e a solução de todas as contendas. Ela é uma contribuição à civilização, oferecendo orientação nas nossas escolhas, na nossa jornada. Para isso, precisamos estar prontos para o diálogo permanente, saber aplicar a imaginação sociológica com as experiências e contatos que estabelecemos no nosso cotidiano, sempre olhar os “outros” de forma respeitosa e amigável. A sua função principal é continuar estabelecendo o diálogo, manter o intercâmbio contínuo entre as experiências humanas, o senso comum e as pesquisas desenvolvidas. Temas que serão melhor abordados na próxima unidade. Bons estudos! 2222WWW.UNINGA.BR UNIDADE 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................23 1 - SOCIEDADE E CULTURA ....................................................................................................................................24 2 - O ETNOCENTRISMO ..........................................................................................................................................26 2.1. PRECONCEITO E RACISMO NO BRASIL ........................................................................................................27 3 - OS DIREITOS HUMANOS ..................................................................................................................................30 4 - CONSIDERAÇÕES .............................................................................................................................................35 SOCIEDADE E CULTURA PROF. ME. MARCOS EDUARDO PINTINHA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CIÊNCIAS SOCIAIS 23WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO “A função da sociologia, como de todas as ciências, é revelar o que está oculto” (Pierre Bourdieu). Hoje, existem vários signi� cados e conceitos sobre cultura, a nossa re� exão principal, nesta unidade, é entender a diversidade cultural, algo que não passa só pela aparência. Ao olharmos para a cultura do “outro”, o que identi� co como diferente pode chamar a minha atenção e causar “estranhamento”, não possibilitando a compreensão da cultura do “outro” que aparenta ser tão diferente da minha! Quando questionamos os elementos culturais de uma determinada sociedade, descobrimos que não existe um padrão único que de� ne o que é certo ou errado, melhor ou pior para cada grupo, como Rocha (1993) esclarece: a verdade está mais no olhar de quem observa, do que a cultura que está sendo observada. Isso porque cada grupo tem elementos intrínsecos à sua formação, escolhendo e organizando variados formatos para a vida social. Assim, a cultura pode ser apresentada como “[...] uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas” (LARAIA, 2015, p. 67). Dependendo da cultura na qual estamos inseridos, aprendendo e nos adaptando, essa será a maneira de nos comportarmos, o modo de vida, a forma de comunicação, os alimentos que utilizamos no dia a dia e até a forma que expressamos os nossos sentimentos e valores, tudo será normal e natural. Pouco a pouco, passamos por um processo de socialização, ajustando cada vez mais o nosso comportamento aos padrões culturais da sociedade em que estamos inseridos. Desde a nossa origem e por toda a vida, incorporamos os elementos culturais do nosso grupo e assumindo como válidos para nossa sobrevivência. 24WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - SOCIEDADE E CULTURA “Não pode haver paz enquanto houver pobreza opressiva, injustiça social, desigualdade, opressão, degradação ambiental e enquanto os fracos e os pequenos continuam a ser pisoteados pelos fortes e poderosos” (Dalai Lama). Quando nascemos, não somos nós que escolhemos os valores culturais que incorporamos. A partir do momento que crescemos, aprendemos o idioma, a alimentação e, sozinhos, tomamos conta da nossa higiene. Estamos agindo conforme as regras e valores estabelecidos como válidos para nosso grupo. A criança recebe a educação dos pais, ela é moldada conforme as características culturais do grupo que vive, na família, na escola, e acontece o processo de endoculturação, que pode ser muito lento, mas se estende por toda a vida (MELLO, 2000). Pensar o nosso dia a dia, a nossa atitude mais simples, é descobrir que desde o momento em que acordamos, os nossos gestos e comportamentos são os re� exos, a verdade do nosso grupo: nós tomamos banho e escovamos os dentes, nos vestimos e tomamos o café e saímos para trabalhar ou estudar... Todos esses elementos culturais fazem parte da nossa vida, mas podem ser considerados muito estranhos para o grupo dos “outros”. Ocorre um processo de aprendizagem, desde o nascimento sofremos os impactos da endoculturação, veja o exemplo: Tomemos um bebê francês, nascido na França, de pais franceses, descendentes estes, através de numerosas gerações, de ancestrais que falavam francês. Con� emos esse bebê, imediatamente depois de nascer, a uma pajem muda, com instruções para que não permita que ninguém fale com a criança ou mesmo veja durante a viagem que a levará pelo caminho mais direto ao interior da China, Lá chegando, entrega ela o bebê a um casal de chineses, que o adotam legalmente, e o criam como seu próprio � lho. Suponhamos agora que se passem três, dez ou trinta anos. Será necessário debater sobre que língua falará o jovem ou adulto francês? Nem uma só palavra de francês, mas o puro chinês, sem um vestígio de sotaque, e com � uência chinesa e nada mais (KROEBER, 1949, apud LARAIA, 2015, p. 43). Ao re� etir sobre a diversidade cultural, Laraia (2015) chama a nossa atenção para o determinismo biológico (ou genético) e o determinismo geográ� co (ou ambiental). Ainda hoje é comum encontrar, na sociedade, pessoas que atribuem capacidades inatas aos grupos humanos, sendo que, o que descobrimos é que qualquer criança normal pode ser educada em qualquer sociedade, se for colocada desde o início, como o exemplo que foi apresentado, no caso da criança francesa. Sobre o determinismo biológico (ou genético) ele a� rma que “[...] um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada” (LARAIA, 2015, p. 20). Isso é perceptível logo no início da vida, no caso dos brinquedos já separados entre aqueles que são de meninas, como bonecas e casinhas, e aqueles que são para os meninos, como a bola e o carrinho. No período das grandes navegações e conquista das Américas, foi o determinismo geográ� co (ou ambiental) que fundamentou as observações sobre a diversidade cultural, eles explicavam que as diferenças do ambiente físico condicionavam a semelhança ou diversidade cultural. Teoria esta que foi abandonada a partir do trabalho de campo dos estudiosos, pois descobriram que era possível existir diferenças culturais entre grupos, os quais compartilhavam o mesmo ambiente físico. 25WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA O exemplo de diferença cultural existe entre os grupos humanos dos esquimós e dos lapões, os dois vivem na calota polar e enfrentam o inverno rigoroso. Entretanto, cada grupo vive de forma distinta, enquanto os esquimós constroem suas casas com iglus, cortando blocos de neve em formato de colmeia, os lapões vivem em tendas de peles de rena e quando desejam mudar, levam todos seus pertences junto com suas casas. E os esquimós quando mudam abandonam suas casas, os iglus, levando apenas os seus pertences pessoais (LARAIA, 2015). uns dos outros, para elaborar costumes, línguas, modos de conhecimento, instituições, jogos profundamente diversos: pois se há algo natural nessa espécie particular que é a espécie humana, é sua aptidão à variação cultural (LAPLANTINE, 2005, p. 22). Outra característica importante dos seres humanos é a capacidade de adaptação nas mais diversas regiões, o que podemos chamar de aptidão a variação cultural, ou seja, qualquer pessoa pode mudar de uma região para outra e conseguir se adaptar a outra cultura, diferente da sua, passando por um processo de socialização. Nós precisamos da cultura para sobreviver. É a cultura compartilhada que faz a mediação entre os indivíduos e a natureza e nos permite trabalhar juntos, [...] consiste em tudo o que nós, seres humanos, criamos ao estabelecer nossas relações com a natureza e os outros. Ela inclui linguagem, conhecimento, criações materiais e regras de comportamento. Em outras palavras, ela engloba tudo o que dizemos, sabemos, produzimos e fazemos em nossos esforços para sobreviver e prosperar (WITT, 2016, p. 48). É importante destacar que a sociedade normalmente estabelece um padrão de comportamento e interação social, o que signi� ca que ela restringe o tipo de cultura que construímos. Na prática, veri� camos que algumas maneiras de agir são mais aceitáveis do que outras, a sociedade estabelece uma regra como válida, a ponto de ser aceita por uma maioria e poder ser imposta como uma lei, uma regra válida para todos os membros do grupo social. Outra forma de perceber a diversidade cultural é quando viajamos e nos defrontamos com a cultura de outro país. Pode ser considerada exótica e muito diferente da nossa. O que nos leva a perceber que as escolhas culturais variam muito, entre cada sociedade. Métodos de ensino, cerimônias de casamento, doutrinas religiosas e outros aspectos da cultura são aprendidos e transmitidos pela interação humana dentro de sociedades especí� cas. Na Índia, os pais estão acostumados a arranjar o casamento para seus � lhos; no Brasil, eles normalmente deixam as decisões conjugais para os � lhos. Quem morou a vida inteira no Cairo considera natural falar árabe; quem morou em Bueno Aires se sente da mesma forma com relação ao espanhol (WITT, 2016, p. 49). Devemos valorizar a diversidade, respeitar e interagir com as outras culturas abertamente, para que todas as pessoas na sociedade tenham os seus direitos respeitados. O que só será possível se garantirmos o debate e o diálogo aberto, entre todos os diferentes grupos culturais, evitando, assim, a atitude etnocêntrica, o agir de forma intolerante e preconceituosa. 26WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA diferente, sobre todas as coisas e o seu próprio futuro. Não é mais aceita uma explicação única ou “verdade acabada” sobre os acontecimentos e fatos sociais. Agora, o que existe são várias formas de representação ou tentativas de explicar sobre cada cultura, cada grupo e cada indivíduo, e obriga todos nós a questionar- mos cada vez mais aquela “explicação universal e europeia” que aprendemos na escola sobre à história da humanidade. 2 - O ETNOCENTRISMO “Você nunca entende realmente uma pessoa até considerar as coisas do ponto de vista dela... até entrar na pele dela e andar por aí nessa pele” (Harper Lee). Para Everardo Rocha (1993), o etnocentrismo é uma visão de mundo em que o nosso próprio grupo, o grupo do “EU”, é tomado como centro de tudo, e todos os outros, que são diferentes do nosso grupo, acabam sendo pensados e sentidos através dos nossos valores, modelos e de� nições do que valorizamos para a nossa existência. A atitude etnocêntrica é uma constatação da nossa di� culdade, tanto emocional como intelectual, de pensarmos as nossas diferenças, causando uma reação de estranheza, medo e hostilidade entre os grupos que possuem culturas e valores muitos diferentes. Como uma espécie de pano de fundo da questão etnocêntrica temos a experiência de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida signi� cados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então de repente, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe. Este choque gerador do etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças. Grosso modo, um mal-entendido sociológico. A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural (ROCHA, 1993, p. 8-9). Ocorre um julgamento pré-concebido do valor da cultura do “outro” nos termos da cultura do grupo do “eu”, o que signi� ca que o “outro” é humilhado e ridicularizado por ser diferente. Apesar das grandes diferenças culturais entre os grupos humanos, hoje em dia, a maioria dos cientistas defendem a existência de uma única espécie humana, em que estão agrupados todos os seres humanos. 27WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 1 – O olhar etnocêntrico do “outro”. Fonte: Learning Journal (2012). Apesar dos con� itos que separam as pessoas, nós devemos optar sempre por buscar elementos que possam contribuir para a tolerância, respeitar os outros e evitar julgar e rotular as pessoas. Para contrapor a atitude etnocêntrica podemos utilizar a ideia da relativização, signi� ca compreender a cultura do outro a partir dos seus próprios valores e não os nossos. “Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença” (ROCHA, 1993, p. 20). Estas mudanças começam através do nosso modo de olhar o mundo e as outras pessoas, enxergar os outros de forma respeitosa, eliminando todas as rixas e preconceitos. Não podemos acreditar que a nossa cultura é o centro do universo, o único pensamento válido. Essa crença impede o contato e afasta os outros, para entendermos a nossa cultura precisamos nos espiar, fazer o exercício de enxergar os nossos gestos mais comuns. Começamos, então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar. O conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única (LAPLANTINE, 1988, p. 21). O que signi� ca que não existe uma cultura melhor ou pior que a outra, uma superior e outra inferior, mas simplesmente que elas são diferentes umas das outras. Essa “revolução do olhar” (LAPLANTINE, 1988, p. 22) nos faz entender que as diferenças não são apenas diferenças, mas uma escolha de viver de certa maneira. 2.1. Preconceito e Racismo no Brasil Como diz o provérbio popular: “há um pouco de navio negreiro em cada camburão”. É só lembrar a história do Brasil e resgatar as informações sobre as formas de violência e punições aplicadas no tratamento aos indígenas e negros, a partir do século XV na época da colonização portuguesa, isso deveria nos fazer re� etir sobre o preconceito e o racismo no Brasil. 28WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Entretanto, ainda hoje, muitos acreditam que “não existe racismo no Brasil”. A temática racial, no Brasil, apresenta uma grande complexidade, ocorre de forma velada, onde os indígenas e os negros aparecem de forma delimitada na história, apenas no período colonial da conquista portuguesa e escravidão do Brasil. Figura 2 - Atlas da violência 2018. Fonte: SOS Corpo (2018). Não é possível imaginar que ainda existem pessoas que acreditam que o lugar de negro é só no samba e no futebol. Isso é uma atitude etnocêntrica, quando desquali� camos o grupo dos “outros” por causa da sua aparência ou das diferenças culturais. O racismo “à brasileira” está repleto de ambiguidades, podemos veri� car que ele se a� rma na negação. “Em outras palavras: uma estratégia de dominação racial que foi hegemônica no Brasil era a a� rmação de que não existiria racismo no país” (SILVA; ARAÚJO, 2011, p. 489). As representações sobre a formação cultural brasileira se cristalizaram no imaginário popular, reproduzindo imagens falsas sobre os grupos humanos, atribuindo valores a alguns e desquali� cando outros. São velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades especí� cas inatas a “raças” ou a outros grupos humanos. Muita gente ainda acredita que os nórdicos são mais inteligentes do que os negros; que os alemães têm mais habilidade para a mecânica; que os judeus são avarentos e negociantes; que os norte-americanos são empreendedores e interesseiros; que os portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades por instinto; e, � nalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses (LARAIA, 2015, p. 17). 29WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Esse pensamento já foi superado pela ciência há muito tempo. Os pesquisadores a� rmam que o comportamento dos indivíduos depende do aprendizado, de um processo que podemos chamar de endoculturação. Não é pela cor da pele ou pela cor do cabelo que podemos explicar as diferenças de comportamento ou a capacidade intelectual das pessoas. Como exemplo, na televisão é comum as piadas e quadros humorísticos que apresentam o estereótipo da mulher como “loira burra”. As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insigni� cante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura (LARAIA, 2015, p. 24). Quando usamos o termo “raça” para de� nir grupos de indivíduos que são diferentes entre si, estamos partindo da tradição cientí� ca in� uenciada pela biologia e não pelas ciências sociais. Foi no século XIX que os cientistas começaram investigar a ideia de que haveria deferentes “raças humanas” por causa das aparências diferentes: da corda pele, do tipo de cabelo, cor dos olhos e da estatura. Entretanto, essa teoria evolucionista foi sendo questionada e desconstruída com o passar do tempo, Tais traços só têm signi� cado no interior de uma ideologia preexistente (para ser preciso: de uma ideologia que cria os fatos, ao relacioná-los uns aos outros), e apenas por causa disso funcionam como critérios e marcas classi� catórios. Em suma, alguém só pode ter cor e ser classi� cada num grupo de cor se existir uma ideologia em que a cor das pessoas tenha algum signi� cado. Isto é, as pessoas têm cor apenas no interior das ideologias raciais (GUIMARÃES, 2009, p. 47. Grifo nosso). No Brasil, essa construção ideológica � cou conhecida como o “mito da democracia racial”, transmitida nas salas de aula e que faz parte da educação brasileira, prática que procura amenizar e ocultar a violência do preconceito e das desigualdades sociais. Passando à ideia que os três grupos étnico-raciais (indígenas, negros e brancos) se miscigenaram e convivem de forma pací� ca e harmoniosa, desde a época da colonização até hoje. O princípio que embasa os Direitos Humanos é aquele em que todos os indivíduos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. O contrário é a discriminação e perseguição pautadas na raça ou na etnia, que são violações desse princípio. Cada indivíduo é único e exclusivo, não possui valor de substituição ou preço, o que signi� ca que a noção de igualdade construída pela sociedade brasileira é abstrata e deve ser superada. 30WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA SER NEGRO NO BRASIL: ALCANCES E LIMITES O artigo apresenta breves considerações sobre os conceitos de raça e de etnia no Brasil. Esclarece que ser negro é quem se autodeclara preto ou pardo e, para Ser negro no Brasil 3 - OS DIREITOS HUMANOS “Não quero que a minha casa seja cercada de muros por todos os lados, nem que as minhas janelas sejam tapadas. Quero que as culturas de todas as terras sejam sopradas para dentro da minha casa, o mais livremente possível. Mas recuso-me a ser desapossado da minha por qualquer outra” (Mahatma Gandhi). Como veri� camos anteriormente, as relações entre os grupos sociais podem ser de aceitação e tolerância ou de con� ito e rejeição. Vivemos em um mundo marcado por uma globalização excludente, resultado não de uma fatalidade econômica, mas de uma política consciente e proposital que busca liberar os determinismos econômicos de todo controle e submeter governos e cidadãos às forças assim liberadas. Esse processo constitui [...] a máscara justi� cadora de uma política que visa universalizar os interesses e a tradição particulares das potências econômicas e politicamente dominantes, sobretudo os Estados Unidos, e estender ao conjunto do mundo o modelo econômico e cultural mais favorável a essas potências, apresentando-o ao mesmo tempo como norma, um tem-que ser e um fatalismo, destino universal, de modo a obter adesão ou, pelo menos resignação universais (BOURDIEU, 2001, p. 90). Para Bobbio (2004) pode haver direito sem democracia, mas não há democracia sem direito. Os homens não nascem livres nem iguais, a liberdade e a igualdade não são um dado de fato, mas um ideal a conquistar. Por isso, ele alerta que o problema dos direitos humanos [...] não é � losó� co, mas jurídico e, num sentido mais amplo, político. Não se trata de saber quais e quantos são esses direitos, qual é a sua natureza e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados (BOBBIO, 2004, p. 25). Os direitos humanos pertencem a todos os seres humanos, não importa se mulher ou homem. Na lei brasileira existe o princípio da igualdade, garantindo os direitos das mulheres, não permitindo que ocorra qualquer tipo de diferenciação entre as mulheres e os homens. Entretanto não é o que acontece no dia a dia, existe uma discriminação oculta contra as mulheres. 31WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Na história da humanidade, em várias partes do mundo, as mulheres chegaram a ser vista como coisa e instrumento de deleite masculino. No Brasil, em passado não muito distante, [...] a mulher não possuía sequer capacidade jurídica plena, tampouco o reconhecimento da igualdade para com os homens. Isso porque, até pouco tempo atrás, a ordem jurídica brasileira não reconhecia a mulher como sujeito de direito plenamente capaz, fato que somente ocorreu com a Lei n. 4.121, de 27 de agosto de 1962. O “Estatuto da Mulher Casada” estabeleceu na época algumas conquistas para a mulher, tais como: a determinação de que ela não precisava mais de autorização do marido para trabalhar fora de casa; que poderia receber herança; comprar ou vender imóveis; assinar documentos e mesmo viajar (GUERRA, 2013, p. 228). Pensar os Direitos Humanos e dizer que tudo gira, assim, em torno do homem e sua eminente posição no mundo. O que foi fundamentado pela justi� cativa cientí� ca da dignidade humana, ela sobreveio com a descoberta do processo de evolução dos seres vivos, na obra de Charles Darwin, Figura 4 - Direitos Humanos. Fonte: Ziraldo (2008). O primeiro regime de seguro social surgiu no � nal do século XIX, na Alemanha do período Bismark, para proteger os funcionários do Estado, porém, contava com a participação contributiva de trabalhadores, empregadores e do próprio Estado. Já na primeira metade do século XX, a reforma social inglesa, baseada no Relatório Beveridge de 1942, “[...] estabeleceu políticas integradas de proteção sociais públicas e universais, isto é, � nanciadas pelo Estado e aplicáveis a todos os cidadãos, independentemente da sua inserção pro� ssional ou laboral” (CASTRO; RIBEIRO, 2006, p. 21). 32WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Em A Era Dos Direitos, Bobbio (2004, p. 25) assinala a importância de se tratar os direitos humanos como construções históricas, que nascem em determinadas circunstâncias e, por isso, não surgem “todos de uma vez e nem de uma vez por todas”. Coadunando-se às ideias de Silva (2009, p. 6), também é necessário que haja um equilíbrio entre o estudo dos direitos humanos nos âmbitos nacional e internacional, ao invés de dar primazia à ótica do direito internacional, “[...] porque o sistema internacional de proteção carece de sistemas nacionais e� cazes e adequados, até como uma das estratégias de prevenção de violação destes direitos”. Logo, os direitos humanos necessitam reformular suas teorias e conceitos, constantemente, para acompanhar as mudanças que a sociedade impõe. Bobbio (2004, p. 88-89) a� rma que [...] a doutrina dos direitos do homem nasceu da � loso� a jusnaturalista, a qual – para justi� car a existência de direitos pertencentes ao homem enquanto tal, independente do Estado – partira da hipótese de um estado de natureza, onde os direitos do homem são poucos e essenciais: o direito à vida e à sobrevivência, que inclui também o direito à propriedade; e o direito à liberdade, que compreende algumas liberdades essencialmente negativas. [...] A hipótese do estado de natureza era uma tentativa de justi� car racionalmente, ou de racionalizar, determinadas exigências que se iam ampliando cada vez mais; num primeiro momento, durante as guerras de religião, surgiu a exigência da liberdade de consciência contra toda forma de imposição de uma crença; e, num segundo momento, na época que vai da Revolução Inglesa à Norte Americana e à Francesa, houve a demanda de liberdades civis contra toda forma de despotismo. O estado de natureza era uma � cção doutrinária, que devia servir para justi� car, como direitos inerentes à própria natureza do homem, exigências de liberdade provenientes dos que lutavam contra o dogmatismo das Igrejas e contra o autoritarismo dos Estados. Os direitos sociais, na categoria de direitos humanos, é ideia que se desenvolveu em torno da noção de responsabilidade do Estado, somado ao princípio de solidariedade, que resulta nas políticas públicas, entre elas as políticas sociais. Desta forma, os Direitos Humanos são criações humanas e históricas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos trouxe para o âmbito o� cial a necessidade de se pensar sempre nos menos afortunados, o que in� uenciou a legislação de vários países. O Welfare State, ou Estado de Bem-Estar Social, foi o modelo econômico que mais expandiu no momento pós Segunda Guerra Mundial (pós-1945) sendo, porém, mais efetivo em países desenvolvidos. Incentivado pela industrialização, marcado pela forte capacidade redistributiva e compensatória, capacidade esta que possibilitou o Estado a responder às demandas da classe trabalhadora. O número de políticas sociais neste período aumentou, porém, eram mais voltadas para a “proteção” dos trabalhadores, de forma que estes estivessem adequados para corresponder às exigências do mercado emergente (CARINHATO, 2008). [...] Estado de bem-estar signi� caria, então, uma proposta institucional nova de um Estado que pudesse implementar e � nanciar programas e planos de ação destinados a promover os interesses sociais coletivos dos membros de uma determinada sociedade (GOMES, 2006, p. 204). Bauman (1998, p. 51) diz que o Estado de Bem-Estar foi criado como instrumento do Estado para arcar com as responsabilidades que o sistema capitalista não assumia durante sua corrida pelo lucro e “[...] não era concebido como uma caridade, mas como um direito do cidadão, e não como o fornecimento de donativos individuais, mas como uma forma de seguro coletivo”. 33WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Com a crise do capital, iniciada nos anos 1970, este modelo econômico entrou em declínio com a reação burguesa que fazia pressões para recon� gurar o papel do Estado capitalista, nos anos 1980 e 1990, tendo impacto direto nas políticas sociais. O sistema brasileiro de proteção social foi radicalmente redesenhado com a Constituição de 1988. No campo das políticas sociais, a nova Constituição trouxe, no Art. 194, o conceito de Seguridade Social, oferecendo uma rede de proteção aos riscos sociais referentes ao ciclo da vida, à trajetória laboral e à insu� ciência de renda. Tendo como base o tripé das políticas de saúde, previdência e assistência social com amplas bases de � nanciamento (CASTRO; RIBEIRO, 2006, p. 28). Porém, não basta constar na Constituição para que um direito seja efetivado de fato, mas é necessário a sua regulamentação por meio de leis que possibilitem o acesso a tais direitos. Em um contexto de crise econômica, agravamento do quadro de pobreza e desigualdade, e propostas no cenário internacional hegemonicamente contrárias ao “[…] formato social-democrata com mais de 40 anos de atraso […]”, a Constituição Cidadã enfrentou e ainda enfrenta várias barreiras para sua efetivação. (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 147). GARANTIR OS DIREITOS DE CADA CRIANÇA E ADOLESCENTE missão assegurar que cada criança e cada adolescente tenham seus direitos cum- assegurar que cada criança e cada adolescente negro e indígena tenham todos os seus direitos protegidos e garantidos nas políticas públicas. Esse objetivo tem como referência nacional e internacional os marcos jurídico-legais do Estatuto da Criança e do Adolescente, da Convenção sobre os Direitos da Criança, da Conven- ração e do Programa de Ação de Durban. No setor educacional, crianças negras, na idade de frequentar o ensino fundamen- crianças brancas e quatro vezes mais de não estudar que as crianças indígenas. Adolescentes indígenas e negros também estão vulneráveis à violência. No caso dos indígenas, a tragédia vem com o suicídio. Entre os adolescentes negros com o são negros e um, branco. 34WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA movimentos negro e indígena e setor privado, para dar voz a essas crianças e visi- e de gênero em todas as áreas programáticas da cooperação; produzir conheci- bola, gerando produtos concretos, como os programas de educação bilíngue para crianças indígenas; e contribuir para alterar práticas e comportamentos discrimi- natórios na escola e na mídia que tenham impacto na autoestima e na identidade da criança. GARANTIR OS DI- REITOS DE CADA CRIANÇA E ADOLESCENTE Figura 5 Fonte: Adoro DISTRITO 9 A história é simples. Os alienígenas vivem metrópole e é objeto de profundo preconcei- to. Diante da situação, os humanos que de- têm o poder resolvem promover uma ação de despejo em massa para uma região mais distante. Contudo, um acidente durante a operação provoca uma reviravolta, transfor- mando o algoz em vítima do próprio siste- com uma narrativa em tom de documentá- tos de personalidades sobre a presença de alienígenas no planeta Terra. Daí em diante você entra em contato com uma realidade há anos imaginada pelo homem, mas nunca vivenciada, diga-se de passagem, com se- res de outro planeta. Porque com humanos, a experiência já existiu, existe e – infeliz- mente – continuará existindo. 35WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA O Que É Racismo? “A raça negra tem comportamento psico- lógico instável e, por isso, não cria civiliza- ção”. Alguns tentam provar que as diferen- ças sociais são determinadas por fatores biológicos. Outros explicam que o racismo da natureza humana? Neste livro, os pri- meiros passos para a compreensão deste fenômeno universal, suas modalidades e suas implicações sociais. Figura 6 Fonte: 4 - CONSIDERAÇÕES Essa unidade procurou desenvolver a re� exão crítica sobre “sociedade e cultura”. Para isso, aplicou-se a desnaturalização do olhar, acompanhada pela atitude do estranhamento desenvolvida pela Antropologia Cultural. Foram apresentados os principais enfoques nas Ciências Sociais sobre as relações étnico raciais e os fenômenos do preconceito e racismo no Brasil A partir dessa re� exão podemos perceber o papel de destaque da Sociologia e Antropologia, como permite desenvolver um novo olhar sobre o racismo e as desigualdades sociais, considerando que nossas opiniões e ações. Nossos hábitos e costumes são construções sociais, que nos fazem enxergar que tudo depende do nosso “lugar de fala”, da nossa educação, da cultura que nós assumimos como válida do nosso grupo. 3636WWW.UNINGA.BR UNIDADE 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................37 1. KARL MARX E A TEORIA DO CONFLITO ............................................................................................................38 2. MAX WEBER E A CIÊNCIA INTERPRETATIVA ..................................................................................................43 3. POLÍTICAS PÚBLICAS.........................................................................................................................................47 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................................49 SOCIEDADE DO TRABALHO E POLÍTICAS PÚBLICAS PROF. ME. MARCOS EDUARDO PINTINHA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CIÊNCIAS SOCIAIS 37WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A mudança do pensamento teocêntrico para o antropocêntrico provocou transformações na � loso� a, na política e na economia do mundo moderno. Os pesquisadores das Ciências Sociais discutem, cada vez mais, temas sobre a exclusão social, violência, desemprego e todos os fenômenos presentes na sociedade capitalista. Entre os pensadores, Karl Marx (1818-1883), pensador revolucionário da Teoria do Con� ito, critica o trabalho humano produtor das mercadorias, resultado de uma relação coisi� cada, de luta pela sobrevivência que se esconde sobre a aparência das coisas. Na sua análise, ele utilizou o método do materialismo histórico e dialético. Leva os trabalhadores a perderem o controle sobre o processo de produção, que vivem alienados, não produzem para si, mas para o capital. Assim, as relações sociais são marcadas pelos antagonismos das classes, pela dominação e interesses divergentes. Para Max Weber (1864-1920), os con� itos nascem da contraposição dos interesses econômicos, das relações estabelecidas no mercado e na dinâmica da oferta e demanda das mercadorias. Entretanto, as explicações dos con� itos sociais e da luta de classe não se esgotam apenas pela análise econômica, sendo necessário tratar dos temas ligados à política, ao direito, à religião. Para ele, o estudo dos con� itos e classes sociais é complexo e caótico e foge ao controle. A Sociologia é uma ciência interpretativa da sociedade, por isso propõe o método da compreensão. Os resultados obtidos pelas investigações das Ciências Sociais balizam as ações propostas pelos governos, as políticas públicas procuram modi� car os efeitos nocivos da sociedade capitalista, preservando os direitos e promovendo o diálogo entre as populações em situação de vulnerabilidade social e que precisa das ações estatais para amenizar os seus sofrimentos. 38WWW.UNINGA.BR CI ÊN CI AS S OC IA IS | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 1. KARL MARX E A TEORIA DO CONFLITO “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” (Karl Marx). A sociedade capitalista está assentada na propriedade privada dos meios de produção, como algumas classes sociais se apropriam e geram riquezas, e outras não, e são atingidas pela desigualdade social. Indivíduos que acabam � cando à margem da sociedade e do consumo dos bens, serviços e direitos oferecidos pela sociedade capitalista. Na segunda metade do século XVIII, na Grã-Bretanha temos o início de uma grande transformação social e econômica que atingiu toda a humanidade, ela � cou conhecida como Revolução Industrial. Diversas mudanças foram ocorrendo, inclusive na própria sociologia. À medida que a sociedade se complexi� ca, o campo de conhecimento da sociologia se amplia e novos objetivos de estudos vão se delineando. São frutos da multiplicação de paradigmas e das diversas abordagens metodológicas; eis algumas sociologias: do consumo, do desenvolvimento, do trabalho, política, das organizações, urbana, rural, do meio ambiente, do gênero, do direito, da educação, do lazer, da saúde, da religião, do conhecimento, da comunicação, da cultura, econômica, da linguagem, das relações étnicas e raciais. Essa fragmentação em sociologias não as impede de terem sua autonomia e sua própria história e ainda se manterem entrelaçados (ARAÚJO; BRIDI; MOTIM, 2009, p. 38). Karl Marx (1818-1883) nasceu em Trier na Renânia, região da Alemanha. Sua família era de origem judaica convertida
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