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- -1 INSTITUIÇÃO DE SAÚDE GESTÃO E SUBJETIVIDADE - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1- Identificar os significados da função do gestor em instituições de saúde; 2- Reconhecer as vivências de prazer e sofrimento que a função impõe ao trabalhador; 3- Avaliar às particularidades da tarefa executada envolvendo a coordenação de diversos grupos profissionais; 4- Estabelecer diferentes pontos de vista e interesses. 1 Premissa Durante nosso curso, já realizamos o estudo de diversos tópicos relacionados com a gestão das instituições de saúde. Remontamos desde a construção histórica até as diversas configurações apresentadas na atualidade, ocupando diferentes espaços políticos, econômicos e sociais, fazendo as instituições abarcarem uma grande diversidade de profissionais envolvidos com as tarefas de prevenir, controlar ou combater doenças, visando à melhoria da qualidade de vida e o aumento progressivo da longevidade. Consideramos igualmente a natureza do trabalho desenvolvido por esses profissionais, que os coloca rotineiramente em contato com dramáticas situações de dor, sofrimento e morte, transformando o trabalho na área da saúde em uma fonte potencial de sofrimento e estresse para o próprio profissional podendo interferir tanto na sua qualidade de vida quanto na qualidade do trabalho prestado. Embora já tenhamos apresentado e discutido as habilidades necessárias ao gestor das instituições de saúde, tais como: habilidades sociais, mediação de conflitos, solução de problemas, tomada de decisão e gerenciamento do estresse, não discutimos ainda o impacto que este trabalho tem sobre a pessoa do gestor, ou seja, sobre você! Você já pensou a este respeito? O impacto que a função de gerir uma instituição tão particular terá sobre a sua subjetividade. 2 Subjetividade Para pensar a este respeito vamos primeiro apresentar o conceito de subjetividade. Como você explicaria a alguém o que é a subjetividade e, em especial, como é a sua subjetividade? - -3 Podemos entender a subjetividade humana como sendo a nossa forma prioritária e particular de perceber, sentir e reagir ao meio. Note que esta forma é relativamente padronizada constituindo-se na nossa maneira de ser, na nossa identidade pessoal, em nossas características prioritárias, pelas quais nos reconhecemos e pelas quais somos reconhecidos. Como construímos a subjetividade? Basicamente, ela é construída pela interação sociocultural durante o nosso processo de socialização, durante nossa história de vida. A forma como reagimos hoje e como nos posicionamos frente às demandas ambientais tem, em última instância, um forte reflexo das situações pelas quais já passamos. 3 Você já trabalha? Em caso afirmativo calcule quantas horas por semana passa em seu trabalho. Faça agora um quadro comparativo com todas as suas outras atividades (família, lazer, religião, estudo, descanso) e calcule as porcentagens dedicadas a cada uma das áreas da sua vida. Da mesma forma que é importante fazer uma de gastos para tentar equilibrar o orçamento seriaplanilha importante fazer uma planilha de tempo para equilibrar todas as atividades que exercemos em nossa vida. Ao fazer esta planilha facilmente observaremos que o trabalho ocupa um tempo substancial na vida do indivíduo o que nos permite notar o poder da influência dele sobre a subjetividade do trabalhador. Atenção Saiba mais Não podemos afirmar, entretanto que hoje, já adultos, temos a nossa subjetividade formada e acabada. Este é um processo contínuo permitindo uma constante adaptação do homem ao meio no qual está inserido e sobre o qual atua provocando modificações. Poderíamos aqui então assumir uma afirmação marxista de que o homem, ao mesmo tempo em que provoca modificações no meio, é também por ele modificado. Conclusão? Nota-se assim que há uma via de mão dupla entre homem e meio fazendo com que a transformação constante seja o resultado desta equação. Podemos colocar a atividade laboral - o trabalho - desenvolvido pelo indivíduo como importante influência ambiental. Esta é uma poderosa influência sobre a subjetividade. - -4 Desta forma, é importante pensarmos neste impacto que o trabalho executado pelo sujeito exerce na construção de sua subjetividade. Trabalho Você conhece a linda música do Gonzaguinha que, em um de seus versos, diz: O homem se humilha se castram seus sonhos Seu sonho é sua vida e vida é trabalho E sem o seu trabalho O homem não tem honra E sem a sua honra, se morre, se mata... Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz... Então, esta é uma forma poética de dizer o quanto o trabalho é constitutivo da subjetividade do ser humano e o quanto ele irá construir grande parte do que somos hoje. Se alguém lhe perguntasse quem você é, muito provavelmente, em sua resposta, você acabaria incluindo o que faz na vida, ou seja, seu trabalho. O trabalho mobiliza a inteligência, as emoções, envolve o corpo e apresenta reflexos sobre a capacidade de interpretar e reagir às situações cotidianas. Muitas vezes o trabalho também adoece - o que é bastante paradoxal, em especial quando estamos analisando o trabalho em instituições de saúde, dedicando-se exatamente à manutenção da saúde e à melhoria da qualidade de vida de seus usuários. Atenção Mas de forma muito interessante os trabalhadores não são considerados como objeto de atenção de sua própria proposta de atividade. A resposta às pressões diárias enfrentadas em seu trabalho faz com que o homem modifique gradativamente o seu modo de ser em função da atividade executada. 4 Associação ao trabalho Uma atividade laboral, um trabalho, envolve, normalmente, um " ", entretanto essas situaçõessaber fazer rotineiras são permeadas por acontecimentos inesperados, incidentes, incoerência organizacional, imprevistos provenientes tanto da matéria, das ferramentas e das máquinas, quanto dos outros trabalhadores, colegas, chefes, subordinados, equipe, hierarquia, usuários etc. Sempre existe uma discrepância entre o trabalho prescrito e a realidade concreta do trabalho diário. Essa diferença muitas vezes é vivida pelo trabalhador como incompetência sem que possa entender que é necessária - -5 uma adaptação à dinâmica do trabalho, consistindo também em inventar novas formas de se fazer a mesma atividade. É necessário compreender que o trabalho real não segue, na íntegra, os manuais com os quais estudamos e, por isso, exige flexibilidade do trabalhador. “O caminho a ser percorrido entre o prescrito e o real deve ser a cada momento, inventado ou descoberto pelo sujeito que trabalha.” Christophe Dejours Em função destas características podemos observar que o trabalho não é limitado ao tempo físico efetivamente passado na instituição; ele ultrapassa os limites da jornada de trabalho oficial e, por isso, mobiliza a personalidade por completo, tendo em vista que, mesmo após terminar o seu turno o trabalhador, em especial o gestor, leva consigo o seu trabalho em forma de preocupações e pensamentos que invadem sua vida profissional e, muitas vezes, os seus sonhos. As tarefas imateriais, isto é, quando não há mais produção de objetos materiais, tais como automóveis ou máquinas de lavar, ocorrem em particular na prestação de serviço, onde a parte mais importante do trabalho efetivo é invisível. “O trabalho, naquilo que ele tem de essencial, não pertence ao mundo do visível.” - -6 Christophe Dejours É inacessível à quantificação. Por isso grande parte do trabalho é imaterial, dificultando sua quantificação e controle. 5 Trabalho <-> Subjetividade O trabalho sempre exerce poderosa influência sobre a subjetividade, fazendo com que ela seja acrescentada, enaltecida, ou ao contrário, diminuída, mortificada. Trabalhar transforma a subjetividade do trabalhador. Segundo um importante autor chamado Chistophe Dejours, trabalhar não é somente produzir; é também, transformar a si mesmo e, no melhor dos casos, é uma ocasião oferecida à para se testar, até mesmo para se realizar.subjetividadeO trabalho não é simultaneamente uma atividade e uma forma de relação social, inserido em um mundo caracterizado por relações de desigualdade, de poder e de dominação. Essas relações podem claramente ser identificadas nas instituições de saúde onde as relações de poder e a estratificação do trabalho são ainda bastante visíveis e heranças da história social de tais instituições. “Trabalhar é engajar sua subjetividade em um mundo hierarquizado, ordenado e coercitivo, perpassado pela luta para a dominação.” Chistophe Dejours Vamos considerar a possibilidade de que você esteja gerenciando um hospital de médio porte, com cerca de 200 leitos. Quantos funcionários você imagina que estarão sob sua gestão? Vamos pegar uma média de 9 funcionários para o seu hospital de 200 leitos e veremos que você teria aproximadamente 1800 funcionários. Saiba mais Na função de gestor você irá se deparar diretamente com tais relações de poder que, necessariamente, devem ser gerenciadas a fim de possibilitar o desenrolar harmônico das atividades desenvolvidas. Neste gerenciamento também a sua subjetividade, sua forma de ser, interpretar e reagir às situações é utilizada como ferramenta de negociação e resolução de problemas. Vemos assim, que trabalhar não é unicamente produzir, é também viver junto. - -7 Notamos assim que trabalhar não é unicamente produzir, é também viver junto, e viver junto com muita gente! Seriam 1800 funcionários submetidos às pressões e ao desgaste típico das instituições de saúde que, com a evolução contemporânea das formas de organização do trabalho, de gestão e de administração passam a se apoiar sobre princípios que sugerem, muitas vezes, o sacrifício da subjetividade em nome da rentabilidade e da competitividade. E que efeito isso terá sobre a sua subjetividade? Quais os efeitos que estar submetido às pressões e às responsabilidades advindas do gerenciamento destas instituições, deste grupo de trabalhador e da natureza particular do trabalho exercido terá sobre a sua forma de ser e de se comportar? 6 Papel social Ocupar este lugar e desempenhar este papel tem um custo para o trabalhador e saber qual é este custo é fundamental para a manutenção do equilíbrio, da qualidade de vida, da saúde e para a realização de um trabalho de qualidade com o desenvolvimento pleno de seu potencial. O que se espera de um gestor hospitalar? Quais os efeitos que o seu trabalho e as expectativas que sobre ele incidem têm sobre sua subjetividade? Pensar sobre os papéis sociais que ocupamos é bastante interessante. Para que você possa analisar claramente os papéis sociais que desempenha hoje vamos fazer uma breve apresentação deste conceito antes de começar a avaliar quais são os papéis que hoje você desempenha na sua vida. Um papel social é um conjunto de normas que definem como as pessoas de uma determinada posição devem se comportar. Esta ideia já aparece na obra de Willian Shakespeare: “o mundo é um palco, E todos os homens e mulheres são apenas atores; Eles têm suas saídas e têm suas entradas; E um homem em seu tempo tem vários papéis.” - -8 6.1 Papel Social <-> Subjetividade Os papéis sociais têm efeitos poderosos sobre a subjetividade humana visto que tendemos a absorver nossos papéis incorporando-os. Quais são os papéis que você desempenha na sua vida hoje? Tente relacioná-los. Vamos enumerar alguns para ajudá-lo nesta tarefa: filho estudante marido (esposa) gestor pedestre ciclista homem (mulher) Esses papéis são muito influenciados pela cultura, entretanto a grande maioria dos grupos tem papéis bem definidos que são expectativas compartilhadas sobre como determinadas pessoas devem se comportar. - -9 Enquanto as normas especificam como todos os membros do grupo devem se comportar, os papéis determinam como deve ser o comportamento das pessoas que ocupam certas posições do grupo. Da mesma forma que as normas os papéis podem ser muito úteis, pois as pessoas sabem o que esperar uma das outras. Quando os membros de um grupo vivem um conjunto de papéis claramente definidos, tendem a se sentir satisfeitos e a ter bom desempenho. Em seu livro Psicologia Social, o psicólogo D. Myers cita o livro de George Orwell intitulado A revolução dos , no qual os animais derrubam seus donos e formam uma sociedade igualitária na qual todos os animaisbichos são iguais. À medida que a história se desenvolve, os porcos, assumindo o papel de administradores, logo se esquivam de determinadas tarefas e aceitam o conforto que consideram apropriados para o seu status. Todos os animais são iguais, proclamam, mas alguns animais seriam mais iguais do que os outros. Essa história mostra que não há como abrir mão dos papéis sociais, entretanto, eles envolvem dois custos potenciais. Em primeiro lugar, pode-se encarnar de tal maneira o papel que perdemos nossa identidade pessoal e nossa personalidade. Os papéis que assumimos podem moldar nosso comportamento de forma poderosa e inesperada e muitas vezes prejudicando todo o relacionamento social que deveria ser cultivado a fim - -10 de se atingir os objetivos propostos pela instituição na qual se está inserido. Em segundo lugar pagamos um preço quando agimos de modo que se choca com as expectativas associadas a eles. Exemplo! Temos um papel prescrito pela sociedade para o nosso gênero, ou seja, comportamentos que são considerados adequados e esperados em função de nossa condição de sermos do sexo masculino ou feminino. Imagine o que aconteceria se você se vestisse com roupas do sexo oposto para cumprir todo a sua agenda de atividades para o dia de amanhã. Certamente isso evocaria reações das pessoas a sua volta. Essas expectativas ligadas aos papéis criam ainda mais problemas quando arbitrárias ou injustas, o que deve sempre ser visto com um olhar crítico pelo indivíduo. O que vem na próxima aula Na próxima aula, você estudará sobre os seguintes assuntos: • Construção psicossocial do usuário das instituições de saúde; • Atendimento global de qualidade aos usuários dos serviços de saúde. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Compreendeu o custo do trabalho de gerir instituições de saúde; • Analisou as vivências de prazer e sofrimento que a função impõe ao trabalhador. • • • • Olá! 1 Premissa 2 Subjetividade 3 Você já trabalha? 4 Associação ao trabalho 5 Trabalho <-> Subjetividade 6 Papel social 6.1 Papel Social <-> Subjetividade O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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