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politica-social-contemporanea-a-familia-como-referencia-dl_54e3a1661838b5670b59b2b9a66ccfba

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Conselho Editorial daConselho Editorial da
área de Serviço Socialárea de Serviço Social
Ademir Alves da SilvaAdemir Alves da Silva
Dilséa Adeodata Bonetti (Conselheira Honorifica)Dilséa Adeodata Bonetti (Conselheira Honorifica)
Elaine Rosseffi BehririgElaine Rosseffi Behririg
Ivete SimionattoIvete Simionatto
Maria Lúcia Carvalho da SilvaMaria Lúcia Carvalho da Silva
Maria Lúcia Silva BarrocoMaria Lúcia Silva Barroco
Dados InternacionaDados Internacionais de Catalogação na Publicaçãis de Catalogação na Publicação o CIP)CIP)
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Familismo, direito e cidadania : contradições da política socialFamilismo, direito e cidadania : contradições da política social
Regina Célia Tamaso Mioto, Marta Silva Campos, Cássia MariaRegina Célia Tamaso Mioto, Marta Silva Campos, Cássia Maria
Carloto, (orgs.). - São Paulo : Cortez, 2015.Carloto, (orgs.). - São Paulo : Cortez, 2015.
Bibliografia.Bibliografia.
ISBN 978-85-249-2343-2ISBN 978-85-249-2343-2
1. Assistência social 2. Cidadania 3. Família 4. Proteção social1. Assistência social 2. Cidadania 3. Família 4. Proteção social
5. Política social I. Mioto, Regina Célia Tamaso. II. Campos, Marta5. Política social I. Mioto, Regina Célia Tamaso. II. Campos, Marta
Silva. ifi. Carloto, Cássia Maria.Silva. ifi. Carloto, Cássia Maria.
15-0221215-02212 DD-362.82DD-362.82
Índices para catálogo sistemático:Índices para catálogo sistemático:
1. Famílias: Proteção social: Bem-estar social 362.821. Famílias: Proteção social: Bem-estar social 362.82
] F A MI L I S MO] F A MI L I S MO
DIREITOS DIREITOS E E CID CID D D NINI
concon tradições da ptradições da p olítolítica socialica social
V ediçãoV edição
rr reimpressãoreimpressão
  
 CORTEZ CORTEZ
%. EDITORfl%. EDITORfl 211211
Política Social contemporânea:Política Social contemporânea:
a família a família como referênciacomo referência
para as Políticas Sociaispara as Políticas Sociais
e para o trabalho sociale para o trabalho social
Solange Solange aria aria TeixeiraTeixeira
1. INTRODUÇÃO1. INTRODUÇÃO
A família tem "ressurgido" no contexto das políticas sociaisA família tem "ressurgido" no contexto das políticas sociais
"pós-ajuste" como agente de proteção social informal dos seus"pós-ajuste" como agente de proteção social informal dos seus
membros. Pode-se dizer que a tendência atual na esfera das polí-membros. Pode-se dizer que a tendência atual na esfera das polí-
ticas sociais e econômicas nacionais e internacionais é a de ressaltarticas sociais e econômicas nacionais e internacionais é a de ressaltar
a centralidade da família como objeto, sujeito e instrumento dasa centralidade da família como objeto, sujeito e instrumento das
políticas públicas.políticas públicas.
Ressalta-se o contexto dessa re-emergência. De um lado, aRessalta-se o contexto dessa re-emergência. De um lado, acrise do Estado de Bem-Estar Social e crise do Estado de Bem-Estar Social e o avanço das reformas neo-o avanço das reformas neo-
liberais, com sua noção de liberais, com sua noção de Estado reduzido nas ações econômicasEstado reduzido nas ações econômicas
diretas e nos gastos sociais, e o retorno ao ideário liberal de que adiretas e nos gastos sociais, e o retorno ao ideário liberal de que a
questão social e as saídas das crises são responsabilidades de todos.questão social e as saídas das crises são responsabilidades de todos.
  
FAMILISMO FAMILISMO DIREITOS E CIDIREITOS E CIDADANIADADANIA 1313212212 IOTO CAMPOS CARLOTOIOTO CAMPOS CARLOTO
Foram os liberais que inicialmente defenderam as potencialidadesForam os liberais que inicialmente defenderam as potencialidades
da família para assumir algumas intervenções mais burocráticas'da família para assumir algumas intervenções mais burocráticas'
e custosas do Estado, como forma de lhe reduzir demandas e cus-e custosas do Estado, como forma de lhe reduzir demandas e cus-
tos e valorizar outros tos e valorizar outros provedoreprovedores de bs de bem-estar social, como a co-em-estar social, como a co-
munidade, as organizações não governamentais e munidade, as organizações não governamentais e o própo próprio Estado,rio Estado,
mas com ações focalizadas nos mais pobres.mas com ações focalizadas nos mais pobres.
De outro lado, destacam-se as lutas nacionais e De outro lado, destacam-se as lutas nacionais e internacionaisinternacionais
pela desinstitucionalização, desospitalização dos usuários da saú-pela desinstitucionalização, desospitalização dos usuários da saú-
de mental e da assistência social. O modelo asilar e dos hospitaisde mental e da assistência social. O modelo asilar e dos hospitais
psiquiátricos eram criticados pelas práticas de confinamento, se-psiquiátricos eram criticados pelas práticas de confinamento, se-
gregação social e violência institucional, prejudiciais ao desenvol-gregação social e violência institucional, prejudiciais ao desenvol-
vimento humano e cidadão, além de serem extremamente onerososvimento humano e cidadão, além de serem extremamente onerosos
aos cofres públicos.aos cofres públicos.
O modelo antagônico O modelo antagônico à institucionalização, o extra-hospitalar,à institucionalização, o extra-hospitalar,
valoriza o retorno à família e comunidade, reforçando o direito àvaloriza o retorno à família e comunidade, reforçando o direito à
convivência familiar e comunitária, a autonomia e cidadania dosconvivência familiar e comunitária, a autonomia e cidadania dos
sujeitos usuários das políticas sociais e sua inclusão na vida socialsujeitos usuários das políticas sociais e sua inclusão na vida social
mais ampla. Como destaca Rizzini et al. mais ampla. Como destaca Rizzini et al. (2006), em meados dos(2006), em meados dos
anos 1990 firma-se, por anos 1990 firma-se, por exemplo, uma posiçãexemplo, uma posição internacional o internacional opos-opos-
ta à institucionalização de crianças e adolescentes e ressalta-se-lheta à institucionalização de crianças e adolescentes e ressalta-se-lhe
o caráter excepcional na o caráter excepcional na Convenção das Nações Unidas pelos Di-Convenção das Nações Unidas pelos Di-
reitos de Crianças e Adolescentes. No plano nacional, esses direitosreitos de Crianças e Adolescentes. No plano nacional, esses direitos
são normatizados no Estatuto são normatizados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).da Criança e do Adolescente (ECA).
Em relação às lutas Em relação às lutas por desospitalização de pacientes psiquiátricos,por desospitalização de pacientes psiquiátricos,
essa década de essa década de 1990 é marcada pela adesão de vários países e a1990 é marcada pela adesão de vários países e a
adoção de medidas alternativas ao hospital.adoção de medidas alternativas ao hospital.
Assim, seja nas propostas neoliberais, seja dos movimentosAssim, seja nas propostas neoliberais, seja dos movimentos
pela desinstitucionalização de crianças e adolescentes, pela desinstitucionalização de crianças e adolescentes, idosos,idosos,
1. Dentre as 1. Dentre as ações burocráticas, compreendidas como ações com longos trâmites, comações burocráticas, compreendidas como ações com longos trâmites, com
necessidades de atestados, papeladas que comprovem necessidades, pareceres de profis-necessidades de atestados, papeladas que comprovem necessidades, pareceres de profis-
sionais, decisões de juízes que precedesionais, decisões de juízes que precedem a m a institucionalizinstitucionalização em asilos, abrigos ação em asilos, abrigos e outrose outros
expedientes que consomem grandes parcelas dos gastos públicos.expedientes que consomem grandes parcelas dos gastos públicos.
portadores de doenças mentais, mesmo em sentidos contrários,portadores de doenças mentais, mesmo em sentidos contrários,
elas valorizam as famílias e lhes ressaltam competências, papéis eelas valorizam as famílias e lhes ressaltam competências, papéis e
funções clássicas, como educação, socialização, guarda, apoiosfunções clássicas, como educação, socialização,guarda, apoios
principprincipalmente a de cuidado almente a de cuidado doméstico de dependentes doentesdoméstico de dependentes doentes
ou idosos.ou idosos.
No âmbito institucional e normativo e na implementação dasNo âmbito institucional e normativo e na implementação das
políticas públicas, a re-abordagem da família e das redes sociais épolíticas públicas, a re-abordagem da família e das redes sociais é
incorporada e defendida como estratégia mais adequada paraincorporada e defendida como estratégia mais adequada para
desenvolver políticas e programas sociais efetivos, eficientes edesenvolver políticas e programas sociais efetivos, eficientes e
eficazes para enfrentar e atender à pobreza. A relação custo/bene-eficazes para enfrentar e atender à pobreza. A relação custo/bene-
fício sobressai-se porque se pode contar com recursos dessas ins-fício sobressai-se porque se pode contar com recursos dessas ins-
tituições de proteção informais e com tituições de proteção informais e com ações mais próximas aoações mais próximas ao
ambiente natural das pessoas e do seu território de vivência.ambiente natural das pessoas e do seu território de vivência.
Essas novas formas de abordar e Essas novas formas de abordar e valorizar a família e ivalorizar a família e incluí-Iasncluí-Ias
nas políticas sociais geram expectativas e demandas por trabalhonas políticas sociais geram expectativas e demandas por trabalho
social com famílias em social com famílias em diversas dessas políticas, sejam as dirigidasdiversas dessas políticas, sejam as dirigidas
à família, sejam às endereçadas aos segmentos à família, sejam às endereçadas aos segmentos com ações dirigidascom ações dirigidas
às famílias. Nessa perspectiva, o objetivo desse artigo é retratar eàs famílias. Nessa perspectiva, o objetivo desse artigo é retratar e
problematproblematizar o modo como izar o modo como a família é tomada como a família é tomada como referênciareferência
nas políticas sociais e explicitar como se vem efetivando o trabalhonas políticas sociais e explicitar como se vem efetivando o trabalho
social com as famílias, no contexto dessas políticas, além de ressal-social com as famílias, no contexto dessas políticas, além de ressal-
tar as suas possibilidades, numa dimensão crítica. Essa problemati-tar as suas possibilidades, numa dimensão crítica. Essa problemati-
zação tem dirigido as pesquisas recentes que venho desenvolven-zação tem dirigido as pesquisas recentes que venho desenvolven-
do do em em especial a destes doespecial a destes dois últimos anos is últimos anos que que discute adiscute a
centralidade da família nas políticas sociais.centralidade da família nas políticas sociais.
2. CENTRALIDADE DA FAMÍLIA 2. CENTRALIDADE DA FAMÍLIA NAS POLÍTICASNAS POLÍTICAS
SOCIAIS CONTEMPORÂNEASSOCIAIS CONTEMPORÂNEAS
No contexto brasileiro, destacam-se as políticas de saúde, deNo contexto brasileiro, destacam-se as políticas de saúde, de
assistência social, a crianças e adolescentes e aos idosos, dentreassistência social, a crianças e adolescentes e aos idosos, dentre
  
214214 IOTO CAMPOS CARLOTOIOTO CAMPOS CARLOTO FAMILISMO FAMILISMO DIREITOS E DIREITOS E CIDADANIACIDADANIA 1515
outras que adotam a centralidade outras que adotam a centralidade da família na sua da família na sua formulação,formulação,
condução e implementação.condução e implementação.
Na política de saúde, em especial na atenção básica, destaca-seNa política de saúde, em especial na atenção básica, destaca-se
a Estratégia Saúde da Família - ESF, que visa substituir o modeloa Estratégia Saúde da Família - ESF, que visa substituir o modelo
tradicional de atenção (centrado no médico, no indivíduo doente,tradicional de atenção (centrado no médico, no indivíduo doente,
no hospital e em ações curativas), cujas ações alternativas centram-no hospital e em ações curativas), cujas ações alternativas centram-
-se no trabalho em equipe, na família como objeto de trabalho em-se no trabalho em equipe, na família como objeto de trabalho em
ações de promoção, prevenção e proteção. Dentre os objetivos daações de promoção, prevenção e proteção. Dentre os objetivos da
ESF, destacamos o de "eleger a família e seu espaço social comoESF, destacamos o de "eleger a família e seu espaço social como
núcleo básico de abordagem no núcleo básico de abordagem no atendimento à saúde; humanizaratendimento à saúde; humanizar
as práticas de saúde através do estabelecimento de um vínculoas práticas de saúde através do estabelecimento de um vínculo
entre os profissionais de saúde e a população" (Brasil, 1997, p. 10).entre os profissionais de saúde e a população" (Brasil, 1997, p. 10).
Em que pese os avanços e atendimento de parte das reivindi-Em que pese os avanços e atendimento de parte das reivindi-
cações dos movimentos sociais na saúde, com a priorização dacações dos movimentos sociais na saúde, com a priorização da
atenção básica não mercantil, o Programa é focalizado nas famíliasatenção básica não mercantil, o Programa é focalizado nas famílias
pobres em situação de risco ou vulnerabilidade, sendo contráriopobres em situação de risco ou vulnerabilidade, sendo contrário
ao princípio da universalização do serviço. Além disso, ao princípio da universalização do serviço. Além disso, o enfoqueo enfoque
na família pode limitar-se à transmissão de conhecimentos, com-na família pode limitar-se à transmissão de conhecimentos, com-
portamentos e atitudes esperadas para o controle das portamentos e atitudes esperadas para o controle das doenças e osdoenças e os
cuidados necessários a serem desenvolvidos no ambiente domés-cuidados necessários a serem desenvolvidos no ambiente domés-tico pela própria família, restringindo a participação pública e atico pela própria família, restringindo a participação pública e a
noção de promoção à de capacitação da família para desempenharnoção de promoção à de capacitação da família para desempenhar
as funções de prevenção e de cuidados.as funções de prevenção e de cuidados.
De acordo com Rosado (2011, p. 4), para evitar cair na respon-De acordo com Rosado (2011, p. 4), para evitar cair na respon-
sabilização familiar, a atenção básica deve "ocorrer sabilização familiar, a atenção básica deve "ocorrer associada àassociada à
disponibilização de serviços das demais unidades de atenção nodisponibilização de serviços das demais unidades de atenção no
SUS", o que exige reordenação dos serviços de saúde e de recursosSUS", o que exige reordenação dos serviços de saúde e de recursos
disponívedisponíveis, em articulação com is, em articulação com outros serviços sociais outros serviços sociais e instituiçõese instituições
da sociedade.da sociedade.
Na política de saúde mental tem-se valorizado os serviçosNa política de saúde mental tem-se valorizado os serviços
alternativos no tratamento do portador de transtorno mental e aalternativos no tratamento do portador de transtorno mental e a
participação da família no cuidado doméstico, no modelo extra-participação da família no cuidado doméstico, no modelo extra-
-hospitalar. Muitos estudiosos da temática (Furegato, 2002; Meiman,-hospitalar. Muitos estudiosos da temática (Furegato, 2002; Meiman,
2001) defendem a importância da inclusão da família na assistência2001) defendem a importância da inclusão da família na assistência
ao tratamento do portador de transtorno mental, por considerarem-ao tratamento do portador de transtorno mental, por considerarem-
-na a unidade básica de atenção à saúde e, portanto, do cuidado,-na a unidade básica de atenção à saúde e, portanto, do cuidado,
"pois é nesse contexto social que se mantém a saúde e se lida "pois é nesse contexto social que se mantém a saúde e se lida comcom
as doenças" (Brasil et ai., 2011). Reconhecem, entretanto, que "faz-as doenças" (Brasil et ai., 2011). Reconhecem, entretanto, que "faz-
-se necessário uma assistência familiar, um suporte de apoio para-se necessário uma assistência familiar, um suporte de apoio para
que ela sejauma grupaiidade capaz de responder aos cuidados queque ela seja uma grupaiidade capaz de responder aos cuidados que
seu familiar com transtorno mental demanda, para além das con-seu familiar com transtorno mental demanda, para além das con-
dições materiais, em seu cotidiano" (Nogueira e Costa, 2011).dições materiais, em seu cotidiano" (Nogueira e Costa, 2011).
Nessa perspectiva, reconhecem que o sistema de saúde nãoNessa perspectiva, reconhecem que o sistema de saúde não
está preparado para receber e dar suporte à família e às equipes,está preparado para receber e dar suporte à família e às equipes,
por carência de serviços institucionais efetivos, más condições depor carência de serviços institucionais efetivos, más condições de
trabalho, falta de adesão (negam-se, por exemplo, a trabalhar atrabalho, falta de adesão (negam-se, por exemplo, a trabalhar a
subjetividade e objetividade do cuidado com o portador de trans-subjetividade e objetividade do cuidado com o portador de trans-
torno mental, exigindo-se que a família aceite e lide com a torno mental, exigindo-se que a família aceite e lide com a doençadoença
sem lhe oferecer sem lhe oferecer suporte e orientação). Fica explísuporte e orientação). Fica explícito que, se a cito que, se a fa-fa-
mília for capacitada, orientada e conduzida, eia mília for capacitada, orientada e conduzida, eia poderá cuidar dopoderá cuidar do
seu doente sem o seu doente sem o auxílio dos serviços institucionais.auxílio dos serviços institucionais.
As legislações como ECA e a Política Nacional do Idoso ins-As legislações como ECA e a Política Nacional do Idoso ins-
tituem formalmente o direito à tituem formalmente o direito à convivência familiar e comunitáriaconvivência familiar e comunitária
quando afirmam que "toda criança e adolescente tem direito a serquando afirmam que "toda criança e adolescente tem direito a ser
criada e educada no criada e educada no seio de sua seio de sua família e, excepcionalmente, emfamília e, excepcionalmente, em
família substituta, assegurando a convivência familiar e comuni-família substituta, assegurando a convivência familiar e comuni-
tária tária [ ..[ ... } . } (Brasil, 1990,(Brasil, 1990, p.p. 20). Ou, ainda, quando asseveram "prio-20). Ou, ainda, quando asseveram "prio-
rização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias,rização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias,
em detrimento do atendimento em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos queasilar, à exceção dos idosos que
não possuam condições que garantam sua própria subsistência"não possuam condições que garantam sua própria subsistência"(Brasil, 1994, p. 7).(Brasil, 1994, p. 7).
Como destaca Steffenon (2011), há, nas entrelinhas dessas le-Como destaca Steffenon (2011), há, nas entrelinhas dessas le-
gislações, uma tendência de apontar a família como responsávelgislações, uma tendência de apontar a família como responsável
por seus dependentes, incluindo os idosos, sendo chamada a por seus dependentes, incluindo os idosos, sendo chamada a assu-assu-
  
FAMILISMO DIREITOS E CIDADANIAFAMILISMO DIREITOS E CIDADANIA 17171616 IOTO CAMPOS CARLOTOIOTO CAMPOS CARLOTO
mir esses e novos encargos, independentemente de laços afetivosmir esses e novos encargos, independentemente de laços afetivos
e de condições para cumpri-los.e de condições para cumpri-los.
Nesses casos, teóricos como Rizzini et Nesses casos, teóricos como Rizzini et ai. (2006, p. 21) defendemai. (2006, p. 21) defendemque "há que se criar outras formas de suporte básico à família paraque "há que se criar outras formas de suporte básico à família para
apoiá-la no cuidado dos filhos", destacando ainda que, entre osapoiá-la no cuidado dos filhos", destacando ainda que, entre os
fatores que dificultam a fatores que dificultam a permanêpermanência da criança com a ncia da criança com a família,família,
estão a insuficiência ou inexistência das estão a insuficiência ou inexistência das políticas públicas, a faltapolíticas públicas, a falta
de suporte à família no cuidado aos filhos, as dificuldades de gerarde suporte à família no cuidado aos filhos, as dificuldades de gerar
renda e inserção no mercado de trabalho, a carência de creches erenda e inserção no mercado de trabalho, a carência de creches e
escolas públicas de qualidade, em horário integral, dentre outros.escolas públicas de qualidade, em horário integral, dentre outros.
Na Política de Assistência Social, a Na Política de Assistência Social, a matricialidade sociofamiliarmatricialidade sociofamiliar
constitui um dos princípios fundantes, em especial na proteçãoconstitui um dos princípios fundantes, em especial na proteção
social básica, que visa fortalecer vínculos familiares e comunitários.social básica, que visa fortalecer vínculos familiares e comunitários.
Mas seu desenho padece de contradições, pois, de um lado, tomaMas seu desenho padece de contradições, pois, de um lado, toma
a família como central para concepção e implementação dos bene-a família como central para concepção e implementação dos bene-
fícios, serviços, programas e projetos, o lhe que reforça a dimensãofícios, serviços, programas e projetos, o lhe que reforça a dimensão
como sujeito de direitos à proteção social e lhe põem suas deman-como sujeito de direitos à proteção social e lhe põem suas deman-
das como matrizes de organização e oferta de serviços pela rededas como matrizes de organização e oferta de serviços pela rede
de proteção social. Por outro lado, reconhece e visa potencializarde proteção social. Por outro lado, reconhece e visa potencializar
os papéis familiares na prevenção, pois são suas funções básicasos papéis familiares na prevenção, pois são suas funções básicas
"prover a proteção e a socialização dos seus membros; converter-se"prover a proteção e a socialização dos seus membros; converter-se
como referências morais, de vínculos afetivos e sociais; identidadecomo referências morais, de vínculos afetivos e sociais; identidade
grupal [ grupal [ ... ] ... ] (Brasil, 2004, p. (Brasil, 2004, p. 35).35).
A PNAS (Brasil, 2004,A PNAS (Brasil, 2004, p.p. 41) destaca ainda que o enfoque na41) destaca ainda que o enfoque na
centralidade da centralidade da família está no "pressuposto de que para a famíliafamília está no "pressuposto de que para a família
prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário,prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário,
em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal".em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal".
Estudiosos das diversas políticas, entre eles Rizzini et ai. (2006),Estudiosos das diversas políticas, entre eles Rizzini et ai. (2006),
reconhecem um descompasso entre a importância atribuída aoreconhecem um descompasso entre a importância atribuída ao
papel da família e a falta de condições mínimas de vida digna e depapel da família e a falta de condições mínimas de vida digna e de
suporte e serviços familiares ofertados suporte e serviços familiares ofertados pelo poder público, o quepelo poder público, o que
mostra que na prática ocorre mostra que na prática ocorre mesmo é uma responsabilização damesmo é uma responsabilização da
família pela proteçfamília pela proteção social de seus ão social de seus membros. A autora destacamembros. A autora destaca
ainda a tendência de se reduzirem os recursos para as formas ins-ainda a tendência de se reduzirem os recursos para as formas ins-
titucionalizadas e a contínua demanda por esse tipo de serviços,titucionalizadas e a contínua demanda por esse tipo de serviços,
porquporque faltam e faltam serviços de inclusão da serviços de inclusão da família que promovam mu-família que promovam mu-
danças nas condições devida, aliados aos serviços socioeducativos.danças nas condições devida, aliados aos serviços socioeducativos.
Em todas essas passagens de legislações e posicionamento deEm todas essas passagens de legislações e posicionamentode
teóricos é visível a adoção de um novo paradigma: o de que a famí-teóricos é visível a adoção de um novo paradigma: o de que a famí-
lia deve ser lia deve ser apoiada, prapoiada, protegida e otegida e capacitada para pcapacitada para proteger e roteger e cuidarcuidar
de seus membros dependentes. Complementando essa premissa,de seus membros dependentes. Complementando essa premissa,
há a de que não é possível fazer políticas públicas sem as parcerias,há a de que não é possível fazer políticas públicas sem as parcerias,
sem a gestão sem a gestão em redes com entidades públicas e em redes com entidades públicas e privadasprivadas..
O que se percebe, entretanto, em relação ao sistema de prote-O que se percebe, entretanto, em relação ao sistema de prote-
ção social, é a visível adoção do princípio da subsidiariedade dação social, é a visível adoção do princípio da subsidiariedade da
intervenção do Estado que, nunca exclusivamente estatal, e sóintervenção do Estado que, nunca exclusivamente estatal, e só
aparece quando a família falha na proteção e cuidados. Sua inter-aparece quando a família falha na proteção e cuidados. Sua inter-
venção em nível de proteção social básica, preventiva e promocio-venção em nível de proteção social básica, preventiva e promocio-
nal é nal é sempre psempre para potencializar e valorizar ara potencializar e valorizar as funções pas funções protetivas erotetivas e
de cuidado na família, para que a assistência seja realizada na ede cuidado na família, para que a assistência seja realizada na e
pela própria. Trata-se, de condicionalidades, explícitas ou implíci-pela própria. Trata-se, de condicionalidades, explícitas ou implíci-
tas, para a família se constituir em sujeito de direitos, não sendotas, para a família se constituir em sujeito de direitos, não sendo
um direito incondicional advindo apenas da condição de cidadaniaum direito incondicional advindo apenas da condição de cidadania
e do direito das pessoas de serem criadas, desenvolverem-se ee do direito das pessoas de serem criadas, desenvolverem-se e
permanecerem no grupo familiar.permanecerem no grupo familiar.
A noção de parceria com a família sobressai-se como parte daA noção de parceria com a família sobressai-se como parte da
rede de proteção social, que também conta com outros provedoresrede de proteção social, que também conta com outros provedores
de bem-estar social, cabendo ao Estado de bem-estar social, cabendo ao Estado a coordenaçãoa coordenação, o financia-, o financia-
mento, a capacitação das famílias para o cuidado no domicilio e omento, a capacitação das famílias para o cuidado no domicilio e o
oferecimento de serviços alternativos. Todavia, a noção de parceriaoferecimento de serviços alternativos. Todavia, a noção de parceria
não é uma novidade: mesmo em fase de maior intervenção donão é uma novidade: mesmo em fase de maior intervenção doEstado, a família Estado, a família sempre permsempre permaneceu como parceira, e em aneceu como parceira, e em muitosmuitos
países, com mercados pouco estruturados e inclusivos e de sistemaspaíses, com mercados pouco estruturados e inclusivos e de sistemas
de proteção social subdesenvolvidos, ela se constituiu na principalde proteção social subdesenvolvidos, ela se constituiu na principal
fonte de proteção social.fonte de proteção social.
  
218218 IOTO CAMPOS CARL0TQIOTO CAMPOS CARL0TQ FAMILISMO DIREITOS E CIDADANIAFAMILISMO DIREITOS E CIDADANIA 1919
A novidade na conformação atual dos sistemas de proteçãoA novidade na conformação atual dos sistemas de proteção
social é a legitimação e legalização da responsabilidade familiar. Osocial é a legitimação e legalização da responsabilidade familiar. O
que já ocorria na esfera informal, movida pelos laços afetivos deque já ocorria na esfera informal, movida pelos laços afetivos de
solidariedade e solidariedade e cooperaçcooperação viraram obão viraram obrigações formais, passírigações formais, passíveisveis
de ser reclamada judicialmente, com punição às famílias. Mas quemde ser reclamada judicialmente, com punição às famílias. Mas quem
pune o poder público por não garantir condições dignas e às vezespune o poder público por não garantir condições dignas e às vezes
mínimas de vida capazes de evitar as rupturas familiares, as vio-mínimas de vida capazes de evitar as rupturas familiares, as vio-
lações de direitos e as violências?lações de direitos e as violências?
Esse processo de instauração e legitimação de um pluralismoEsse processo de instauração e legitimação de um pluralismo
de bem-estar social é um retrocesso e uma despolitização da ques-de bem-estar social é um retrocesso e uma despolitização da ques-
tão social e de suas formas de enfrentamento. Na verdade, o reco-tão social e de suas formas de enfrentamento. Na verdade, o reco-
flhecimento da questão social implicou a responsabilização coleti-flhecimento da questão social implicou a responsabilização coleti-
va da sociedade pelos problemas que extrapolavam a esferava da sociedade pelos problemas que extrapolavam a esfera
individual e familiar, levando ao financiamento público e àindividual e familiar, levando ao financiamento público e à
administração pelo Estado das ações contra esses problemas eadministração pelo Estado das ações contra esses problemas e
mazelas sociais. O modelo atual do funcionamento das políticasmazelas sociais. O modelo atual do funcionamento das políticas
sociais em rede, em parcerias, incluindo a família, a comunidade,sociais em rede, em parcerias, incluindo a família, a comunidade,
as ONGs, o mercado e o Estado, o financiamento continua público,as ONGs, o mercado e o Estado, o financiamento continua público,
agora apenas intermediado agora apenas intermediado pelas instituiçõpelas instituições, com execução daes, com execução da
responsabilidade de todos.responsabilidade de todos.
Sem dúvida, é importantíssima a centralidade da família nasSem dúvida, é importantíssima a centralidade da família nas
políticas sociais, mas na direção da inclusão social (e não de reforpolíticas sociais, mas na direção da inclusão social (e não de refor
ço de papéis clássicos, histórica e culturalmente divididos porço de papéis clássicos, histórica e culturalmente divididos por
gêneros) e da oferta de uma rede intersetorial de serviços paragêneros) e da oferta de uma rede intersetorial de serviços para
atender suas necessidades e demandas que de fato possa garantiratender suas necessidades e demandas que de fato possa garantir
a vida familiar e evitar as rupturas e violações de direitos. Paraa vida familiar e evitar as rupturas e violações de direitos. Para
isso, a política social deve ser isso, a política social deve ser desfamiliarizante ou familiar ativa,desfamiliarizante ou familiar ativa,
no sentido utilizado por Esping-Andersen (1999), que desrespon-no sentido utilizado por Esping-Andersen (1999), que desrespon-
sabiizam o sabiizam o grupo familiar da grupo familiar da função principfunção principal de al de responsávresponsável pelael pela
provisão de bem-estar aos seus. Isso implica a oferta universal deprovisão de bem-estar aos seus. Isso implica a oferta universal de
serviços dirigidos à família, como suporte, apoio, cuidados domi-serviços dirigidos à família, como suporte, apoio, cuidados domi-
ciliares e serviços alternativos diurnos para os membros depen-ciliares e serviços alternativos diurnos para os membros depen-
dentes, por idade, problemas de saúde, desemprego, falta dedentes, por idade, problemas de saúde, desemprego, falta de
qualificação e para ocupação do tempo livre de idosos, adolescen-qualificação e para ocupação do tempo livre de idosos, adolescen-
tes e crianças com atividades socializadoras, esportivas e educati-tes e crianças com atividades socializadoras, esportivas e educati-
vas, dentre outras.vas, dentre outras.
Trata-se de políticas que assumem coletivamente as necessi-Trata-se de políticas que assumem coletivamente as necessi-
dades familiares, liberam asmulheres para o trabalho e as permitamdades familiares, liberam as mulheres para o trabalho e as permitam
conciliar família e trabalho para que possam criar estratégias sus-conciliar família e trabalho para que possam criar estratégias sus-
tentáveis de superação da pobreza. O oposto dessa tendência é otentáveis de superação da pobreza. O oposto dessa tendência é o
familismo,familismo,   que reforça a família como a que reforça a família como a principprincipal provedora deal provedora de
bem-estar, o que se dá pela escassez de serviços e benefícios, pelobem-estar, o que se dá pela escassez de serviços e benefícios, pelo
seu caráter seletivo e seu caráter seletivo e focalizado, pelafocalizado, pelas condicionalidades que en-s condicionalidades que en-
fatizam os cuidados no âmbito doméstico, numa reafirmação dosfatizam os cuidados no âmbito doméstico, numa reafirmação dos
papéis tradicionais que sobrecarregam as mulheres.papéis tradicionais que sobrecarregam as mulheres.
Ao contrário do que defendem alguns teóricos (Fonseca, 2006;Ao contrário do que defendem alguns teóricos (Fonseca, 2006;
Carvalho, 1998), a revalorização da família tem signifCarvalho, 1998), a revalorização da família tem significado umicado um
recuo das responsabilidades do Estado, recuo das responsabilidades do Estado, considerando que a priva-considerando que a priva-
tização não ocorre apenas pela venda direta do patrimônio público,tização não ocorre apenas pela venda direta do patrimônio público,
mas também pela falta mas também pela falta de investimentos, que promove a precarie-de investimentos, que promove a precarie-
dade dos serviços e favorece sua oferta no setor privado ou nãodade dos serviços e favorece sua oferta no setor privado ou não
governamental. Nessa perspectiva, a redução do gasto social afetagovernamental. Nessa perspectiva, a redução do gasto social afeta
as condições de trabalho das equipes de profissionais, marcadasas condições de trabalho das equipes de profissionais, marcadas
pela precariedade, ausêpela precariedade, ausência de ncia de serviços alternativos à instituciona-serviços alternativos à instituciona-
lização, e de uma rede em que o poder público ofereça serviços àlização, e de uma rede em que o poder público ofereça serviços à
família, sem dizer da família, sem dizer da elevada populaçelevada população adstrita por equipes noão adstrita por equipes no
ESF, nos CRAS e Creas, dentre outros.ESF, nos CRAS e Creas, dentre outros.
Nesses termos, um projeto político comprometido com a Nesses termos, um projeto político comprometido com a jus-jus-
tiça social, a cidadania e a redistributividade dos recursos sociaistiça social, a cidadania e a redistributividade dos recursos sociais
2. Termo utilizado por Saraceno (1992) e Esping-Andersen (1999) para tratarem da2. Termo utilizado por Saraceno (1992) e Esping-Andersen (1999) para tratarem da
orientação das políticas sociais que responsabilizam as famílias por grande parte da orientação das políticas sociais que responsabilizam as famílias por grande parte da prote-prote-
ção social, considerando o princípio de que o Estadoção social, considerando o princípio de que o Estado sósó deve intervir, quando elas nãodeve intervir, quando elas não
conseguem resolver os problemas. A consequência é um subdesenvolvido sistema de serconseguem resolver os problemas. A consequência é um subdesenvolvido sistema de ser --
viços para as famílias.viços para as famílias.
  
2 2 02 2 0 IOT O CAMPOS .CARL OT OIOT O CAMPOS .CARL OT O FAMILISMO DIREITOS E CIDADANIAFAMILISMO DIREITOS E CIDADANIA 2121
é antagônica ao pluralismo de bem-estar social, às ações focalizadasé antagônica ao pluralismo de bem-estar social, às ações focalizadas
e ao retorno da família como agente e ao retorno da família como agente principprincipal de bem-estar social.al de bem-estar social.
Defendemos que quanto mais sobrecarregada é a família, quantoDefendemos que quanto mais sobrecarregada é a família, quanto
mais se aposta no fortalecimento e valorização de papéis clássicosmais se aposta no fortalecimento e valorização de papéis clássicos
e ideais, menos equidade de gênero se promove e mais se gerame ideais, menos equidade de gênero se promove e mais se geram
sofrimentos, culpabilizações, sentimentos de impotência, conflitossofrimentos, culpabilizações, sentimentos de impotência, conflitos
e até rupturas, o que ocorre pela incapacidade de cumpri-los e pelae até rupturas, o que ocorre pela incapacidade de cumpri-los e pela
menor capacidade de lidar com as transformações familiares, emmenor capacidade de lidar com as transformações familiares, em
suas novas configurações.suas novas configurações.
Os problemas mais frequentes na condução familista da polí-Os problemas mais frequentes na condução familista da polí-
tica social, a mais adotada, são falta de cuidadores em tempo integral,tica social, a mais adotada, são falta de cuidadores em tempo integral,
redução da família e das redes de apoios informais, empecilho àredução da família e das redes de apoios informais, empecilho à
revolução feminina e à inserção plena das mulheres no mercado derevolução feminina e à inserção plena das mulheres no mercado de
trabalho em condições de igualdade, descompasso com a novatrabalho em condições de igualdade, descompasso com a nova
realidade de parte significativa de famílias em que mulheres traba-realidade de parte significativa de famílias em que mulheres traba-
lham fora de casa, de famílias monoparentais e de famílias chefiadaslham fora de casa, de famílias monoparentais e de famílias chefiadas
por mulheres. A grande dificuldade de diagnóstico dessa tendênciapor mulheres. A grande dificuldade de diagnóstico dessa tendência
das políticas sociais se dá em razão de seus atuais objetivos e das políticas sociais se dá em razão de seus atuais objetivos e dasdas
formas de trabalho social com as famílias que preconizam, geral-formas de trabalho social com as famílias que preconizam, geral-
mente, valores de cidadania, de sujeito de direitos e de mente, valores de cidadania, de sujeito de direitos e de autonomia,autonomia,dentre outros que camuflam suas tendências conservadoras.dentre outros que camuflam suas tendências conservadoras.
A condução familista da política social contemporânea ganhaA condução familista da política social contemporânea ganha
contornos de modernidade quando se soma às novas formas decontornos de modernidade quando se soma às novas formas de
intervençintervenção social em ão social em redes, como alternativa aos modelos tradi-redes, como alternativa aos modelos tradi-
cionais de intervenção social.cionais de intervenção social.
3 3 INTERVENÇÃO EM RINTERVENÇÃO EM REDES: A FAMÍLIA EDES: A FAMÍLIA COMOCOMOP RCEIR P RCEIR N N PROTEÇÃO PROTEÇÃO SOCI LSOCI L
Vale ressaltar que o modelo de intervenção ou gestão em redesVale ressaltar que o modelo de intervenção ou gestão em redes
emerge no contexto das empresas reestruturadas e globalizadas,emerge no contexto das empresas reestruturadas e globalizadas,
logo, da crise capitalista e das saídas da crise, tais como a reestru-logo, da crise capitalista e das saídas da crise, tais como a reestru-
turação capitalista e superestrutura neoliberal que a sustenta eturação capitalista e superestrutura neoliberal que a sustenta e
move, gerando novas formas de regulação estatal. Nesse contextomove, gerando novas formas de regulação estatal. Nesse contextoas empresas tendem a lançar mão da estrutura de rede, "comoas empresas tendem a lançar mão da estrutura de rede, "como
parte de um conjunto de estratégias destinadas a minimizar custosparte de um conjunto de estratégias destinadas a minimizar custos
e capital imobilizado, adquirir competência tecnológica de van-e capital imobilizado, adquirir competência tecnológica de van-
guarda e compartilhar recursos e informações" (Minhoto e Martins,guarda e compartilhar recursos e informações" (Minhoto e Martins,
2001, p. 83).2001, p. 83).
Para os autores nasPara os autores nas novas estruturas empresariais descentra-novas estruturas empresariais descentra-
lizadas tende a prevalecer a noção de cooperação, integração,lizadas tende a prevalecer a noção de cooperação, integração,
parcerias sob a forma de redes de locação, subempreitadas e con-parcerias sob a forma de redes de locação, subempreitadas e con-
tratação de terceirizadas, com os setores de montagem e com em-tratação de terceirizadas, com os setores de montagem e com em-
presas de países em desenvolvimento formando redes interorga-presas de países em desenvolvimento formando redes interorga-
nizacionais com empresas colaboradoras.nizacionais com empresas colaboradoras.
Esse modelo de redes se expande para outras organizações,Esse modelo de redes se expande para outras organizações,
inclusive para a gestão pública. Embora os teóricos tenham deli-inclusive para a gestão pública. Embora os teóricos tenham deli-
mitado que nas redes empresariais prevalece a razão instrumental,mitado que nas redes empresariais prevalece a razão instrumental,
econômica e nas redes de organizações públicas e não estatais oueconômica e nas redes de organizações públicas e não estatais ou
comunitárcomunitárias prevaleça o interesse coletivo e ias prevaleça o interesse coletivo e a noção de solidarie-a noção de solidarie-
dade. Todavia, essa estratégia vem sendo utilizada no mesmodade. Todavia, essa estratégia vem sendo utilizada no mesmo
sentido da primeira, como saída em contexto de redução de gastossentido da primeira, como saída em contexto de redução de gastos
sociais e ampliação das demandas, para reduzir, a demanda dosociais e ampliação das demandas, para reduzir, a demanda do
Estado, maximizar a proteção oferecida somando-se aos recursosEstado, maximizar a proteção oferecida somando-se aos recursos
dos parceiros, a sua infraestrutura, a sua tendência espontânea dedos parceiros, a sua infraestrutura, a sua tendência espontânea de
proteção social, dentre outras. Além de fundar-se na lógica de re-proteção social, dentre outras. Além de fundar-se na lógica de re-
dução de custos e maximização dos benefícios.dução de custos e maximização dos benefícios.
Entre as vantagens da intervenção em redes na gestão dasEntre as vantagens da intervenção em redes na gestão das
políticas sociais públicas ou das políticas sociais públicas ou das empresas estão as noções de au-empresas estão as noções de au-
sência de relações hierárquicas, a que se deve a pretendida hori-sência de relações hierárquicas, a que se deve a pretendida hori-
zontalidade entre os parceiros, "à necessidade de resguardar azontalidade entre os parceiros, "à necessidade de resguardar a
autonomia de seus participantes e ao autonomia de seus participantes e ao compartilhamento de infor-compartilhamento de infor-
emerge no contexto das empresas reestruturadas e globalizadas,emerge no contexto das empresas reestruturadas e globalizadas, mações, recursos e atribuições de que dependeria, no final dasmações, recursos e atribuições de que dependeria, no final das
  
222222 IOTO CAMPOS CARLOTOIOTO CAMPOS CARLOTO AMILISMO DIREITOS E CIDADANIAAMILISMO DIREITOS E CIDADANIA
2323
contas, a própria viabilidade e o sucesso da rede" (Castelis, 1998;contas, a própria viabilidade e o sucesso da rede" (Castelis, 1998;
Najmonovich, 1995 apud Minhoto; Marfins, 2001, p. 86).Najmonovich, 1995 apud Minhoto; Marfins, 2001, p. 86).
A novidade da proposta de gestão em rede se coloca como aA novidade da proposta de gestão em rede se coloca como a
necessidade de romper com os modelos necessidade de romper com os modelos hierárquicos e centraliza-hierárquicos e centraliza-
dos de organização, para um modelo descentralizado, flexível edos de organização, para um modelo descentralizado, flexível e
horizontal de organização da proteção social, contando e articulan-horizontal de organização da proteção social, contando e articulan-
do a contribuição e os recursos de cada agente dessa proteção.do a contribuição e os recursos de cada agente dessa proteção.
Mas, subjacente a essa noção de rede e de intervenção e gestãoMas, subjacente a essa noção de rede e de intervenção e gestão
em rede estão três fenômenos: o primeiro é a legitimação do plu-em rede estão três fenômenos: o primeiro é a legitimação do plu-
ralismo de bem-estar social e como ele a legitimidade e viabilidadéralismo de bem-estar social e como ele a legitimidade e viabilidadé
dos novos sujeitos do "fazer social": o Estado,o mercado, organi-dos novos sujeitos do "fazer social": o Estado,o mercado, organi-
zações não governamentais, a comunidade e o próprio público alvozações não governamentais, a comunidade e o próprio público alvo
da ação políticas, tais como o indivíduo e a família.da ação políticas, tais como o indivíduo e a família.
O segundo, a legitimidade e difusão de uma nova visão doO segundo, a legitimidade e difusão de uma nova visão do
Estado e Estado e de suas funçõde suas funções. Como destaca Brant es. Como destaca Brant de Carvalho (2008,de Carvalho (2008,
p. 2), "advoga-se a presença de um Estado forte na regulação,p. 2), "advoga-se a presença de um Estado forte na regulação,
sem, contudo eliminar ou esvaziar a riqueza democrática de par-sem, contudo eliminar ou esvaziar a riqueza democrática de par-
cenas com outros atores sociais". Portanto, um Estado como re-cenas com outros atores sociais". Portanto, um Estado como re-
gulador importante, mas externo, coordenador da rede, um Es-gulador importante, mas externo, coordenador da rede, um Es-
tado descentralizado, flexível que visa fortalecer a sociedade civiltado descentralizado, flexível que visa fortalecer a sociedade civil
e compor um novo pacto e condições de governabilidade. Logo,e compor um novo pacto e condições de governabilidade. Logo,
uma concepção próxima à visão liberal do Estado que responsá-uma concepção próxima à visão liberal do Estado que responsá-
biliza a sociedade civil pela implementação ou execução dasbiliza a sociedade civil pela implementação ou execução das
políticas sociais.políticas sociais.
A ideia-chave é de que a sociedade civil e iniciativa privadaA ideia-chave é de que a sociedade civil e iniciativa privada
são corresponsáveis pelo bem comum, pelo coletivo. Possuemsão corresponsáveis pelo bem comum, pelo coletivo. Possuem
deveres numa sociedade democrática e de direitos "devem partilhardeveres numa sociedade democrática e de direitos "devem partilhar
o compromisso com o bem comum e com a necessária tarefa deo compromisso com o bem comum e com a necessária tarefa de
promover equidade e justiça social" (Brarit de Carvalho,' 2008, p. 3).promover equidade e justiça social" (Brarit de Carvalho,' 2008, p. 3).
Portanto, um deslocamento do Estado como garantidor dos direi-Portanto, um deslocamento do Estado como garantidor dos direi-
tos sociais, para a sociedade. O que significa desvirtuamento datos sociais, para a sociedade. O que significa desvirtuamento da
deslegitimidade desses como responsabilidade do Estado deslegitimidade desses como responsabilidade do Estado Demo-Demo-
crático de Direitos.crático de Direitos.
O terceiro, o pressuposto que somente a articulação, combina-O terceiro, o pressuposto que somente a articulação, combina-
ção de ações - entre políticas, intersetorial, intergovernamental eção de ações - entre políticas, intersetorial, intergovernamental e
entre agentes sociais - potencializa o desempenho da políticaentre agentes sociais - potencializa o desempenho da política
social pública. Assim, o pluralismo de bem-estar social torna-sesocial pública. Assim, o pluralismo de bem-estar social torna-se
parte doparte do metier,metier, do modo de fazer do modo de fazer política social na contempora-política social na contempora-
neidade, como um processo naturalizado.neidade, como um processo naturalizado.
Nas tipologias das redes essas são classificadas de primárias ouNas tipologias das redes essas são classificadas de primárias ou
secundárias. De acordo com Gonçalvese Guará (2010, p. 20-22) assecundárias. De acordo com Gonçalves e Guará (2010, p. 20-22) as
redes primárias ou de proteção espontâneas são aquelas que se or-redes primárias ou de proteção espontâneas são aquelas que se or-
ganizam na perspectiva do apoio mútuo e solidariedade, como nasganizam na perspectiva do apoio mútuo e solidariedade, como nas
relações afetivas, de parentesco, de proximidade com amigos, vizi-relações afetivas, de parentesco, de proximidade com amigos, vizi-
nhos e nas relações entre os indivíduos de uma mesma comunidade.nhos e nas relações entre os indivíduos de uma mesma comunidade.
Elas são informais e "tecem a partir do espaço doméstico, da família,Elas são informais e "tecem a partir do espaço doméstico, da família,
da vizinhança; da rua, do da vizinhança; da rua, do quarteirão; da pequena comunidade".quarteirão; da pequena comunidade".
As redes formais As redes formais ou secundárias se ou secundárias se organizam por princípiosorganizam por princípios
variados e podem ser tipificadvariados e podem ser tipificadas em estatais, de terceiro setor as em estatais, de terceiro setor e dee de
mercado. Segundo Marcondi e Soares (2010) as redes formais sãomercado. Segundo Marcondi e Soares (2010) as redes formais são
constituídas por instituições sociais de existência oficial e estrutu-constituídas por instituições sociais de existência oficial e estrutu-
ração precisa que desenvolvem funções e serviços específicos eração precisa que desenvolvem funções e serviços específicos e
especializados.especializados.
Segundo Sanicola (2008, p. 62), as redes formais estatais sãoSegundo Sanicola (2008, p. 62), as redes formais estatais são
constituídas pelo conjunto das instituições estatais que formam oconstituídas pelo conjunto das instituições estatais que formam o
sistema de bem-estar social da população. Fundamentadas no prin-sistema de bem-estar social da população. Fundamentadas no prin-
cípio da igualdade, do direito e da cidadania. "[...J utilizam a redis-cípio da igualdade, do direito e da cidadania. "[...J utilizam a redis-
tribuição, como método, e a lei, como meio [...]. A relação social étribuição, como método, e a lei, como meio [...]. A relação social é
caracterizada pelo fato de caracterizada pelo fato de poderem ser exigidas por seus usuáriospoderem ser exigidas por seus usuários
(exigibilidade). Essas redes fazem parte do sistema normativo e, em(exigibilidade). Essas redes fazem parte do sistema normativo e, em
geral, constituem uma obrigação para a realidade social".geral, constituem uma obrigação para a realidade social".
As redes públicas foram historicamente marcadas pela setoria-As redes públicas foram historicamente marcadas pela setoria-
lidade, hierarquizada e verticalizada, cujas lidade, hierarquizada e verticalizada, cujas alteraçõalterações são recenteses são recentes
noção de direitos sociais, seu esvaziamento, desmantelamento enoção de direitos sociais, seu esvaziamento, desmantelamento e
  
224224 MIOTO CAMPOS CARLOTOMIOTO CAMPOS CARLOTO
FAMILISMO FAMILISMO DIREITOS E DIREITOS E CIDADANIACIDADANIA 2525
e instauradas pela Constituição Federal de 1988 que alteram ase instauradas pela Constituição Federal de 1988 que alteram as
características do sistema de proteção social instaurando a descen-características do sistema de proteção social instaurando a descen-
tralização, a intersetorialidade, o controle social, dentre outras.tralização, a intersetorialidade, o controle social, dentre outras.
As redes do terceiro setor são aquelas que prestam serviçosAs redes do terceiro setor são aquelas que prestam serviços
sociais sem fins lucrativos. São as sociais sem fins lucrativos. São as cooperativas sociais, as organi-cooperativas sociais, as organi-
zações, associações de voluntários e as fundações, também deno-zações, associações de voluntários e as fundações, também deno-
minadas de minadas de redes sociocomunitárias.redes sociocomunitárias.
As redes secundárias de mercado referem-se às atividades ouAs redes secundárias de mercado referem-se às atividades ou
produção de bens e serviços rentáveis que visam lucros para asprodução de bens e serviços rentáveis que visam lucros para as
empresas que prestam os serviços ao público.empresas que prestam os serviços ao público.
Merece destaque as redes sociais movimentistas que se colocamMerece destaque as redes sociais movimentistas que se colocam
entre as redes primárias e secundárias. Como destacam Gonçalvesentre as redes primárias e secundárias. Como destacam Gonçalves
e Guará (2010,e Guará (2010, p.p. 25) essas redes oxigenam todas as 25) essas redes oxigenam todas as demais redesdemais redes
nascidas na comunidade/ sociedade, cnascidas na comunidade/ sociedade, conformando-se como movi-onformando-se como movi-
mentos sociais de defesa de direitos, de vigilância e luta por me-mentos sociais de defesa de direitos, de vigilância e luta por me-
lhores índices de qualidade de vida.lhores índices de qualidade de vida.
Essas redes sempre funcionaram de modo paralelo e Essas redes sempre funcionaram de modo paralelo e comple-comple-
mentar ao Estado. Nesse novo modelo de proteção social elasmentar ao Estado. Nesse novo modelo de proteção social elas
atuam de modo coordenado e atuam de modo coordenado e incentivado como forma legítima deincentivado como forma legítima de
dar resposta às refrações da questão social, logo, um processo dedar resposta às refrações da questão social, logo, um processo de
reprivatizaçreprivatização do ão do trato da trato da questão social, de questão social, de desresponsabilizaçdesresponsabilizaçãoão
do Estado e redução de suas demandas.do Estado e redução de suas demandas.
Nesse contexto de redução do Estado e reenvio das demandasNesse contexto de redução do Estado e reenvio das demandas
para outros agentes sociais da para outros agentes sociais da rede, "paralelamente, vem sendorede, "paralelamente, vem sendo
aumentada a relevância das redes de serviços do voluntariadoaumentada a relevância das redes de serviços do voluntariado ee
reforçada a ideias de solidariedade familiar" (Saraceno, 1998;reforçada a ideias de solidariedade familiar" (Saraceno, 1998;
Faleiros, 1999 apud Mioto, 2002, p. 55).Faleiros, 1999 apud Mioto, 2002, p. 55).
Ainda de acordo com Mioto (2002), as redes primárias ouAinda de acordo com Mioto (2002), as redes primárias ou asas
famílias e os próprios beneficiários ressurgem nesse cenário comofamílias e os próprios beneficiários ressurgem nesse cenário como
agentes de proteção social e não apenas como sujeito a ser prote-agentes de proteção social e não apenas como sujeito a ser prote-
gido. Em relação à família esse ressurgimento está vinculado aogido. Em relação à família esse ressurgimento está vinculado ao
objetivas de cumprirem as expectativas sociais e de sua situaçãoobjetivas de cumprirem as expectativas sociais e de sua situação
de vulnerabilidade social.de vulnerabilidade social.
A participação da família como estratégia de proteção social eA participação da família como estratégia de proteção social e
como agente dessa proteção é constantemente acionada pelas polí-como agente dessa proteção é constantemente acionada pelas polí-
ticas sociais que visam potencializar essa sua ticas sociais que visam potencializar essa sua função protetiva. Comofunção protetiva. Como
destacam Marcondi e Soares (2010) essa nova perspectiva centra-sedestacam Marcondi e Soares (2010) essa nova perspectiva centra-se
no que a família tem como recurso, em lugar do que lhe falta.no que a família tem como recurso, em lugar do que lhe falta.
Essa leitura tem implicações diretas no trabalho social comEssa leitura tem implicações diretas no trabalho social com
famílias, pois, como destacam: "esse modo de ver e agir com famí-famílias, pois, como destacam: "esse modo de ver e agir com famí-
lias significa ajudá-las a lias significa ajudá-las a reconhecer a existência de seu patrimônioreconhecer a existência de seu patrimônio
para, depois,estimular seu uso e seu fortalecimento" (Marcondi para, depois, estimular seu uso e seu fortalecimento" (Marcondi ee
Soares, 2010, p. 74). Nessa perspectiva, os problemas sociais queSoares, 2010, p. 74). Nessa perspectiva, os problemas sociais que
sofrem são tratados de forma limitada aos seus recursos, aos murossofrem são tratados de forma limitada aos seus recursos, aos muros
internos da família, reproduzindo a ditadura da intimidade, dainternos da família, reproduzindo a ditadura da intimidade, da
privacidade dos assuntos ou casos de família.privacidade dos assuntos ou casos de família.
Essa perspectiva parte do pressuposto de que de sua redeEssa perspectiva parte do pressuposto de que de sua rede
social, a pessoa ou família recebe sustento, ajuda material, emocio-social, a pessoa ou família recebe sustento, ajuda material, emocio-
nal, serviços de cuidados, anal, serviços de cuidados, assistência diversa, informaçõssistência diversa, informações etc.,es etc.,
independente das vicissitudes sociais e da convivência, e que seindependente das vicissitudes sociais e da convivência, e que se
for bem informada, habilitada e treinada poderá ser um importan-for bem informada, habilitada e treinada poderá ser um importan-
te elemento para a inclusão social e de prevenção dos riscos sociais.te elemento para a inclusão social e de prevenção dos riscos sociais.
Uma visão conservadora e Uma visão conservadora e inadequada para prevenir problemasinadequada para prevenir problemas
sociais que reforça a responsabilização da família por situações esociais que reforça a responsabilização da família por situações e
problemas que ultrapassam sua capacidade de problemas que ultrapassam sua capacidade de resposta.resposta.
Essa responsabilização da família é expressa de Essa responsabilização da família é expressa de forma claraforma clara
nos discursos de teóricos:nos discursos de teóricos:
Defendemos a potencialidade das redes Defendemos a potencialidade das redes primárias de proteção socialprimárias de proteção social
espontânea como abordagem importante na construção ou resgateespontânea como abordagem importante na construção ou resgate
dos vínculos de afeto e dos vínculos de afeto e cuidado no âmbito familiar ampliado. Sãocuidado no âmbito familiar ampliado. São
as pequenas redes pessoais de apoio que todos têm e as pequenas redes pessoais de apoio que todos têm e que, no casoque, no caso
de crianças e adolescentes em de crianças e adolescentes em maior vulnerabilidade, são fundamen-maior vulnerabilidade, são fundamen-
apelo moral sobre suas funções, do que sobre as possibilidadesapelo moral sobre suas funções, do que sobre as possibilidades tais para sua inclusão social tais para sua inclusão social e afetiva e afetiva (Guará, 2010, p. 50).(Guará, 2010, p. 50).
  
2 2 62 2 6 MIOTO. CAMPOS. CARLOTOMIOTO. CAMPOS. CARLOTO FAMILISMO DIREITOS E CIDADANIAFAMILISMO DIREITOS E CIDADANIA 2727
Mas também está expressa no desenho das Mas também está expressa no desenho das políticas sociais,políticas sociais,
em normas operacionais, em programas, e em outros mecanismosem normas operacionais, em programas, e em outros mecanismos
de implementaçãde implementação das políticas sociais. o das políticas sociais. A título de exemplo, umA título de exemplo, um
dos objetivos do serviço de proteção integral às famílias - PAIFdos objetivos do serviço de proteção integral às famílias - PAIF
é: "Fortalecer a função protetiva na família e prevenir a rupturaé: "Fortalecer a função protetiva na família e prevenir a ruptura
dos seus vínculos, sejam estes familiares ou dos seus vínculos, sejam estes familiares ou comunitários, contri-comunitários, contri-
buindo para melhoria da qualidade de vida buindo para melhoria da qualidade de vida nos territórios" (Brasil,nos territórios" (Brasil,
2012,2012, p.p. 15)15)
Assim, a questão da convivência familiar e comunitária nasAssim, a questão da convivência familiar e comunitária nas
várias políticavárias políticas, entre elas a s, entre elas a de assistência social define escolhas ede assistência social define escolhas e
modos de tomar a família com referência, como matricialidade. Émodos de tomar a família com referência, como matricialidade. É
uma escolha que uma escolha que se contrapõe a institucionalização presente nase contrapõe a institucionalização presente na
história dos serviços sociais, que toma a história dos serviços sociais, que toma a família como parceira defamília como parceira de
uma rede de proteção social mista, envolvendo organizações gover-uma rede de proteção social mista, envolvendo organizações gover-
namentais, não governamentais, família e comunidade, que distri-namentais, não governamentais, família e comunidade, que distri-
bui responsabilidades e diminui responsabilidades públicas estatais.bui responsabilidades e diminui responsabilidades públicas estatais.
Uma das leituras dessa centralidade da família na política deUma das leituras dessa centralidade da família na política de
assistência social e suas repercussões no trabalho social assistência social e suas repercussões no trabalho social com essecom esse
público, expressa bem essa tendência: "o trabalho com as famílias,público, expressa bem essa tendência: "o trabalho com as famílias,
como indica o Sistema Único de Assistência Social (Suas), torna-secomo indica o Sistema Único de Assistência Social (Suas), torna-sebasilar para que ela possa oferecer proteção e cuidados adequadosbasilar para que ela possa oferecer proteção e cuidados adequados
ao bom desenvolvimento de seus filhos" (Guará, 2010, p. 52). Aao bom desenvolvimento de seus filhos" (Guará, 2010, p. 52). A
política não é vista como suporte, como ações de cuidados, de apoiopolítica não é vista como suporte, como ações de cuidados, de apoio
às famílias, mas como mecanismo que despertará e habilitará,às famílias, mas como mecanismo que despertará e habilitará,
através do trabalho com famílias, suas funções de proteção social.através do trabalho com famílias, suas funções de proteção social.
Essa perspectiva continua julgando as famílias vulneráveisEssa perspectiva continua julgando as famílias vulneráveis
como incapazes, incompetentes para criar seus filhos, como res-como incapazes, incompetentes para criar seus filhos, como res-
ponsáveis pelos problemas que seus membros enfrentam. Mas, componsáveis pelos problemas que seus membros enfrentam. Mas, com
potencialidades de proteção social, desde que conscientizadas,potencialidades de proteção social, desde que conscientizadas,
educadas e habilitadas para tal. Como se a família vulnerável, comoeducadas e habilitadas para tal. Como se a família vulnerável, como
qualquer outra já não mobilizasse todos os qualquer outra já não mobilizasse todos os seus recursos e capaci-seus recursos e capaci-
dades para sanar os problemas, tanto nas redes de parentesco, comodades para sanar os problemas, tanto nas redes de parentesco, como
a falta a falta de condiçõde condições objetivas e es objetivas e muitas vezes subjetivas que viabi-muitas vezes subjetivas que viabi-
lize esse enfrentamento, necessitando do suporte do poder públicolize esse enfrentamento, necessitando do suporte do poder público
para garantir o direito para garantir o direito à convivência familiar e comunitária.à convivência familiar e comunitária.
Um trabalho social inovador com famílias, que ultrapasse aUm trabalho social inovador com famílias, que ultrapasse a
perspperspectiva normativa, ectiva normativa, disciplinadora, centrado nos disciplinadora, centrado nos pappapéis sociaiséis sociais
para mães e pais, deve se fundamentar numa para mães e pais, deve se fundamentar numa perspperspectiva analíticaectiva analítica
que compreenda a família inserida num contexto social mais amplo,que compreenda a família inserida num contexto social mais amplo,
e a natureza social de suas necessidades.e a natureza social de suas necessidades.
4. TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS NAS POLÍTICAS4. TRABALHO SOCIALCOM FAMÍLIAS NAS POLÍTICASSOCIAIS: TRAJETÓRIA HISTÓRICASOCIAIS: TRAJETÓRIA HISTÓRICA
O modo com a família é incorporada à política pública refleteO modo com a família é incorporada à política pública reflete
na organização dos serviços e na proposiçãna organização dos serviços e na proposição e orgo e organização do tra-anização do tra-
balho com ela no cotidiano dos serviços, projetos e programasbalho com ela no cotidiano dos serviços, projetos e programas
(Mioto, 2006).(Mioto, 2006).
Na organização das políticas sociais brasileiras, no período deNa organização das políticas sociais brasileiras, no período de
1930 a 1980, a família ocupou um espaço secundário na conforma-1930 a 1980, a família ocupou um espaço secundário na conforma-
ção do Sistema de Proteção Social. Considerando que as ção do Sistema de Proteção Social. Considerando que as políticaspolíticas
estavam orientadas para indivíduos, categorias combativasestavam orientadas para indivíduos, categorias combativas 33 ee
segmentossegmentos   fragmentados em problemáticas, como no caso da as-fragmentados em problemáticas, como no caso da as-
sistência social, na qual os serviços foram dispostos a partir desistência social, na qual os serviços foram dispostos a partir de
"indivíduos-"indivíduos-problemas" e problemas" e "situaçõe"situações s específicas"específicas", como , como trabalhotrabalho
infantil, abandono, exploração sexual, delinquência, idade ou sexo,infantil, abandono, exploração sexual, delinquência, idade ou sexo,
bem como para crianças e adolescentes, mulheres e idosos, dentrebem como para crianças e adolescentes, mulheres e idosos, dentre
outros. Isso não contemplava a família como uma totalidade.outros. Isso não contemplava a família como uma totalidade.
3.3. Entre as categorias combativas; destacam-se, na emergência do sistema de proteçãoEntre as categorias combativas; destacam-se, na emergência do sistema de proteção
social, ferroviários, bancários, comerciários e várias profissões inseridas no sistema públicosocial, ferroviários, bancários, comerciários e várias profissões inseridas no sistema público
e na esfera e na esfera privada que pressionavam por mais benefícios.privada que pressionavam por mais benefícios.
4.4. Entre os segmentos destacam-se as Entre os segmentos destacam-se as crianças, adolescentes, idosos, deficientes e lac-crianças, adolescentes, idosos, deficientes e lac-
de vizde vizinhaninhan a e ama e amizade. Cizade. Como somo se o e o ue a ue a caracterizascaracterizasse não se não fossefosse tantes atendidos pela assistência social.tantes atendidos pela assistência social.
  
228228 IOTO. CAMPOS. CARLOtOIOTO. CAMPOS. CARLOtO FAMILISMO, DIREITOS E CIDADANIAFAMILISMO, DIREITOS E CIDADANIA 2929
Em relação aos pobres, subjacente à lógica da Em relação aos pobres, subjacente à lógica da assistência socialassistência social a)a) Concepções estereotipadas de famílias e papéis familiares,Concepções estereotipadas de famílias e papéis familiares,
estava a ideia de que essas famílias eram constitutivas do problemaestava a ideia de que essas famílias eram constitutivas do problema centradas na noção de família padrão e as demais comocentradas na noção de família padrão e as demais como
social e seus responsáveis não tinham capacidade de criar, educarsocial e seus responsáveis não tinham capacidade de criar, educar "desviantes", "desestruturadas', com expectativas das"desviantes", "desestruturadas', com expectativas dase proteger seus membros. Imperava, da emergência do sistemae proteger seus membros. Imperava, da emergência do sistema ee clássicas funções alicerçadas nos papéis atribuídos por sexoclássicas funções alicerçadas nos papéis atribuídos por sexo
proteção social até a década de 1980, o paradigma da incapacidadeproteção social até a década de 1980, o paradigma da incapacidade e lugar nos espaços público e privado.e lugar nos espaços público e privado.
familiar e da institucionalização dos seus membros, como crianças,familiar e da institucionalização dos seus membros, como crianças, b)b) Prevalência de propostas residuais, para determinadosPrevalência de propostas residuais, para determinados
adolescentes, idosos, portadores de doenças mentais, dentre outrom.,adolescentes, idosos, portadores de doenças mentais, dentre outrom., problemas, segmentados e fragmentados da totalidadeproblemas, segmentados e fragmentados da totalidade
considerados uma ameaça para a sociedade pelos problemasconsiderados uma ameaça para a sociedade pelos problemas dodo social e tomados como "desviantes", "patológicos" e su-social e tomados como "desviantes", "patológicos" e su-
que eram portadores.que eram portadores. jeitos ao trabalho psicossocial individualizante e terapêu-jeitos ao trabalho psicossocial individualizante e terapêu-
Essas famílias são consideradas incapazes por suas debilidaEssas famílias são consideradas incapazes por suas debilida
;; tico, para cujo diagnóstico e solução envolve-se a família,tico, para cujo diagnóstico e solução envolve-se a família,
des, desagregação conjugal e pobreza, dentre outros fatores, caben-des, desagregação conjugal e pobreza, dentre outros fatores, caben- responsabilizada pelo fracasso na socialização, educaçãoresponsabilizada pelo fracasso na socialização, educação
do ao Estado, nessas situações-limite, livrar seus membros dependo ao Estado, nessas situações-limite, livrar seus membros depen e cuidados de seus membros.e cuidados de seus membros.
dentes dos riscos por via da institucionalização, do afastamentodentes dos riscos por via da institucionalização, do afastamento c)c) FocalizaçFocalização nas ão nas famílias em sifamílias em situaçãotuação m especial nasm especial nas
ambiente familiar, "legitimando ambiente familiar, "legitimando as internações, as reclusõas internações, as reclusões,es, osos "mais derrotadas", "incapazes" e "fracassadas", e não em"mais derrotadas", "incapazes" e "fracassadas", e não em
asilamentos, tomados também como medidas de asilamentos, tomados também como medidas de segurançasegurança iDiD    IilIil situações cotidianas da vida familiar, com ações preventivassituações cotidianas da vida familiar, com ações preventivas
a família e sociedade" (Fontenele, 2007,a família e sociedade" (Fontenele, 2007, P.P. 49).49). e oferta de serviços que lhe deem sustentabilidade.e oferta de serviços que lhe deem sustentabilidade.
Como destaca Fonseca (2006), nesse período e ainda hoje açõesComo destaca Fonseca (2006), nesse período e ainda hoje ações
dirigidas às famílias instalam ou aprofundam a vivência do paradirigidas às famílias instalam ou aprofundam a vivência do para Nessa perspNessa perspectiva, esse trabalho ectiva, esse trabalho social dirigiu-se às chamadassocial dirigiu-se às chamadas
doxo entre a família idealizada e reconhecida formal ejuridicamendoxo entre a família idealizada e reconhecida formal ejuridicamen famílias "desestruturadas" e "incapazes", sob o paradigma dafamílias "desestruturadas" e "incapazes", sob o paradigma da
te como a te como a confirmação saudáconfirmação saudável e legítima (a vel e legítima (a "normal", ou "n"normal", ou "n U'U' patologia social e com os recursos terapêuticos do trabalho psicos-patologia social e com os recursos terapêuticos do trabalho psicos-
clear", heterossexual, monogâmica e patriarcal) e a família realclear", heterossexual, monogâmica e patriarcal) e a família real social individualizante. As práticas socioeducativas com essessocial individualizante. As práticas socioeducativas com esses
efetivamente vivida pelos pobres e que os profissionais desqua 1efetivamente vivida pelos pobres e que os profissionais desqua 1 grupos de família dos segmentos atendidos, quando não institu-grupos de família dos segmentos atendidos, quando não institu-
ficavam como "desestruturadas" ou "irregulares". Seu funciona-ficavam como "desestruturadas" ou "irregulares". Seu funciona- cionalizados ou retirados do convívio familiar, eram desenvolvidascionalizados ou retirados do convívio familiar,eram desenvolvidas
mento em redes de mento em redes de apoios, que extrapapoios, que extrapolavam a residência olavam a residência e os le os laçosaços numa dimensão normatizadora e disciplinadora (dimensão moralnuma dimensão normatizadora e disciplinadora (dimensão moral
de parentescos, para incluir a de compadrio e amizade, era inter-de parentescos, para incluir a de compadrio e amizade, era inter- e doméstica, geralmente e doméstica, geralmente dirigidas às mulheres). Nesses casos, comodirigidas às mulheres). Nesses casos, como
pretado como uma ameaça aos sujeitos dependentes de cuidados,pretado como uma ameaça aos sujeitos dependentes de cuidados, destaca Mioto (2006), a família é tomada como destaca Mioto (2006), a família é tomada como parte do problema,parte do problema,
Ainda como ressalta Fonseca (2006,Ainda como ressalta Fonseca (2006, p.p. 7), essa é uma com-7), essa é uma com- cuja solução e dificuldades estavam centradas nela própria, o quecuja solução e dificuldades estavam centradas nela própria, o que
preensão suportada por uma lógica que naturaliza e despolitiza apreensão suportada por uma lógica que naturaliza e despolitiza a fortalece, direita ou indiretamente, uma visão dela como produto-fortalece, direita ou indiretamente, uma visão dela como produto-
pobreza e a inibe de pobreza e a inibe de respeirespeitar política e ideologicamente as dife-tar política e ideologicamente as dife- ra de patologias.ra de patologias.
renças presentes nos núcleos familiares.renças presentes nos núcleos familiares. Na contemporaneidade, como já destacado, a família assumeNa contemporaneidade, como já destacado, a família assume
Mioto (2004; 200Mioto (2004; 2006) sintetiza o 6) sintetiza o trabalho social com família,trabalho social com família, centralidade nas políticas sociais, seja como objeto, seja comocentralidade nas políticas sociais, seja como objeto, seja como
anteriormente e ainda na atualidade, como baseado em:anteriormente e ainda na atualidade, como baseado em: -- instrumento ou estratégia dessas instrumento ou estratégia dessas políticas, seja como sujeitos.políticas, seja como sujeitos.
  
FAMILISMO DIREITOS E CIDADANIAFAMILISMO DIREITOS E CIDADANIA 3333232232 IOTO CAMPOS CARLOTOIOTO CAMPOS CARLOTO
cuidado doméstico, reforçando, a partir dos cuidado doméstico, reforçando, a partir dos novos conhecimen-novos conhecimen-
tos adquiridos, da discussão e reflexão do seu cotidiano ou datos adquiridos, da discussão e reflexão do seu cotidiano ou da
resolução de conflitos familiares, intergeracionais e de gênero,resolução de conflitos familiares, intergeracionais e de gênero,
as responsabilidades das famílias.as responsabilidades das famílias.
Essas práticas são herdeiras da educação disciplinadora eEssas práticas são herdeiras da educação disciplinadora e
normatizadora da família, que normatizadora da família, que assumem versões modernizadorasassumem versões modernizadoras
que lhe escamoteiam a dimensão normativa dos papéis sociais, dosque lhe escamoteiam a dimensão normativa dos papéis sociais, dos
comportamentos esperados para pai e mãe, em nome de processoscomportamentos esperados para pai e mãe, em nome de processos
educativos que visam potencializar o grupo familiar e geducativos que visam potencializar o grupo familiar e gerar suaerar sua
autonomia. Tais formas de conduzir o trabalho com famílias sãoautonomia. Tais formas de conduzir o trabalho com famílias são
compatíveis como a PNAS, ECA e PNI, dado que essas legislaçõescompatíveis como a PNAS, ECA e PNI, dado que essas legislações
contribuem para a valorização do papel social da família e contribuem para a valorização do papel social da família e do seudo seu
lugar na produção de bem-estar dos seus membros.lugar na produção de bem-estar dos seus membros.
Mas, como destaca Campos (2008), essa responsabilização daMas, como destaca Campos (2008), essa responsabilização da
família, nos cuidados de seus membros é sustentada cultural efamília, nos cuidados de seus membros é sustentada cultural e
socialmente por concepções do adequado desempenho de papéissocialmente por concepções do adequado desempenho de papéis
dos seus membros responsáveis, em especial a mulher, sobre quemdos seus membros responsáveis, em especial a mulher, sobre quem
recai grande parte recai grande parte dessas responsabilidadedessas responsabilidades e s e expectativaexpectativas.s.
Apesar dos objetivos do trabalho social na proteção básicaApesar dos objetivos do trabalho social na proteção básica
serem inovadores (fortalecer os vínculos familiares antes de suaserem inovadores (fortalecer os vínculos familiares antes de sua
dissolução, atuar de forma preventiva para evitar riscos e violaçõesdissolução, atuar de forma preventiva para evitar riscos e violações
de direitos através de benefícios e serviços socioeducativo) é pre-de direitos através de benefícios e serviços socioeducativo) é pre-
ciso superar a noção de autonomia, protagonismo e empoderamen-ciso superar a noção de autonomia, protagonismo e empoderamen-
to tomados no aspecto individual e liberal dos termos, que seto tomados no aspecto individual e liberal dos termos, que se
constroem pelo aconselhamento individual ou grupal, centradosconstroem pelo aconselhamento individual ou grupal, centrados
na mudança da subjetividade dos usuários dos serviços, comona mudança da subjetividade dos usuários dos serviços, como
forma de libertá-los da dependência dos benefícios sociais e ensiná-forma de libertá-los da dependência dos benefícios sociais e ensiná-
-los a "andar com as -los a "andar com as próppróprias pernas", cuidar sozinhos dos filrias pernas", cuidar sozinhos dos filhoshos
e outros dependentes, resolver os conflitos familiares mediantee outros dependentes, resolver os conflitos familiares mediante
processos profissionais que fortalecem a autoestima e prepare paraprocessos profissionais que fortalecem a autoestima e prepare para
o cuidado e responsabilidade familiares e melhore a capacidadeo cuidado e responsabilidade familiares e melhore a capacidade
ausência de trabalho se devesse apenas à não capacitação ou àausência de trabalho se devesse apenas à não capacitação ou à
falta de vontade e de crença nas suas potencialidades.falta de vontade e de crença nas suas potencialidades.
A noção de autonomia e a capacidade de cada sujeito de "darA noção de autonomia e a capacidade de cada sujeito de "dar
conta de sua vida" e dos cuidados necessários para que caminheconta de sua vida" e dos cuidados necessários para que caminhe
sem a necessidade de benefícios sociais, aconselhamento e acom-sem a necessidade de benefícios sociais, aconselhamento e acom-
panhamentos, podem induzi-lo a buscar saídas nele panhamentos, podem induzi-lo a buscar saídas nele mesmo, emmesmo, em
suas potencialidades, inclusive no reforço de suas responsabilida-suas potencialidades, inclusive no reforço de suas responsabilida-
des familiares e individuais, e não na luta pelo benefício como umdes familiares e individuais, e não na luta pelo benefício como um
direito universal e como dever do Estado de prover certo padrãodireito universal e como dever do Estado de prover certo padrão
digno de vida a todo cidadão cujas condições decorrem de desi-digno de vida a todo cidadão cujas condições decorrem de desi-
gualdades que afetam as gualdades que afetam as relaçõrelações na família.es na família.
Cabe direcionar o trabalho socioeducativo com famílias paraCabe direcionar o trabalho socioeducativo com famílias para
além dessa dimensão liberal, individual e subjetivista de autono-além dessa dimensão liberal, individual e subjetivista de autono-
mia, no sentido de articular significados e práticas, partindo-semia, no sentido de articular significados e práticas, partindo-se
da compreensão de que as subjetividades se alteram pelas práti-da compreensão de que as subjetividades se alteram pelas práti-
cas sociais e não por simples conscientização, daí ser fundamen-cas sociais e não por simples conscientização,

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