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FUNDAMENTOS-DA-EDUCACAO-RELIGIOSA

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Sumário 
 
1 DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL E A EDUCAÇÃO .......................... 4 
1.1 Abordagens conceituais acerca de religião .................................................. 4 
1.2 Concepções históricas de Ensino Religioso no Brasil .................................. 8 
1.3 O ensino religioso na formação de valores ................................................. 12 
2 OS ASPECTOS JURÍDICO-LEGAIS ATINENTES A RELIGIÃO NO BRASIL 
E SUA PERTINÊNCIA COM O ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS .......... 17 
2.1 O panorama constitucional ......................................................................... 17 
2.2 A religião e o Estado laico .......................................................................... 20 
3 A QUESTÃO EDUCACIONAL: O CARÁTER DO ENSINO RELIGIOSO NAS 
ESCOLAS BRASILEIRAS ............................................................................... 22 
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é 
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase 
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao 
professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o 
tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos 
ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não 
hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de 
atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da 
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à 
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da 
semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1 DIVERSIDADE RELIGIOSA NO BRASIL E A EDUCAÇÃO 
1.1 Abordagens conceituais acerca de religião 
Desde o início, o ser humano busca respostas sobre como se deu sua 
existência no mundo, tentando entender o mistério que cerca essa questão. É algo 
que transcende o concreto, pois a vida é um segredo, assim como a morte, por isso a 
religião é muito importante nesse processo de compreensão, para encontrar o sentido 
da vida, como afirma (MOSCONI, 2011, p. 18). A busca do sentido levanta perguntas 
existenciais: que estou fazendo? Por que faço isso? Que rumo dar a minha vida? Com 
quais atitudes quero vivê-la? São perguntas fundamentais que vão à raiz da vida. Elas 
colocam a vida em primeiro lugar, acima das leis, das doutrinas, das religiões. 
Vivemos hoje em um valor esquecido, pois a sociedade é repleta de tantos 
distúrbios, comportamentos inadequados e violências nos mais diversos campos 
deixando de lado a religiosidade que proporciona ao ser humano o resgaste de valores 
sociais, e com isso se desconhece o que é a religião, qual seu valor e qual sua 
importância para a formação de um indivíduo capaz de se integrar a sociedade com 
sucesso. 
Segundo Nentwig (2013, p. 27) se a religião não tem mais a mesma influência, 
então outras forças têm um papel decisivo na determinação dos valores de uma 
pessoa. Existem muitos valores estabelecidos em torno de todos. O mundo social 
detém o poder institucional e formulou as regras do certo e do errado, do verdadeiro 
e do falso. 
Existem muitos valores estabelecidos em torno de todos. O mundo social detém 
o poder institucional e formulou as regras do certo e do errado, do verdadeiro e do 
falso, com tantas regras a serem cumpridas, que se fazem necessária para uma vida 
melhor, e com isso facilita esquecer dos valores que levarão o indivíduo a uma vida 
plena. 
De acordo com Silva (2004, p. 03), A maioria das pessoas entende o que é 
"religião". Esta definição é geralmente considerada como a crença em Deus, espírito, 
seres sobrenaturais ou vida após a morte. É possível pensar, ainda, esse conceito 
 
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como o nome de algumas das grandes religiões mundiais: Cristianismo, Hinduísmo, 
Budismo ou Islamismo. 
No contexto das reflexões acima, pode-se observar que a religião faz parte de 
todos, ela sempre existe no dia a dia. Em todas as situações que vivemos, sempre 
temos algo relacionado à religião, seja qual for-lhe, uma parte importante do 
desenvolvimento cultural e social. 
Na mesma linha de pensamento, Junqueira (2002) apud Kadlubitski (2012 
p.184) salienta que a religião pode ser considerada um comportamento instintivo, 
próprio do ser humano, ao longo do tempo. Diferentes culturas podem observar suas 
manifestações a partir da busca de compreensão de si e do mundo, considerando 
fatos inconsoláveis e desconhecidos. Portanto, a religião faz parte do comportamento 
humano e é exclusiva do ser humano. As pessoas podem julgar que tipo de pessoa 
se tornarão no futuro com base nas situações e tempos vividos por diferentes culturas. 
Entendemos que, desde os primeiros anos, a criança deve ser educada para 
reconhecer que haver outras ideias além das suas, que existem diferentes 
etnias e religiões, todas igualmente válidas e merecedoras de respeito. Assim 
estaremos colocando bases para a construção de uma convivência humana 
respeitosa e solidária, de uma vida cidadã, de um mundo de paz. (SENA, 
2013, p. 07). 
Nesse método, é importante enfatizar que a religião é a base para a 
compreensão do mundo, pois desde o primeiro entendimento da religião, é possível 
que a criança se torne um adulto com responsabilidade, capaz de perceber as 
mudanças que acontecem no seu cotidiano, e assim viver uma vida em que haja 
respeito, dignidade, solidariedade e tantos outros valores que farão com que se 
tornem adultos com uma mente capaz de transformar o mundo. 
Nesse sentido, é preciso aprender sobre as diferentes religiões nas escolas, 
estabelecer um conceito de respeito entre todas as pessoas e prevenir a intolerância 
religiosa e a violência entre os humanos. O ser humano tem diferentes pensamentos, 
estilos de vida e ideias, portanto, precisa respeitar e compreender essas diferenças 
de forma positiva e saber lidar com elas para atuar com igualdade na sociedade. 
Algumas definições globalizam ou restringem o conceito, como a definição 
que conta ser a religião “uma visão de mundo”, quando nem todas as visões 
de mundo são religiosas ou que a definem como “sagrado”, o que requer 
imediatamente a que se diga o que é sagrado e o que é profano, e as que 
dizem que religião é “acreditar em Deus”, e/ou que está relacionada ao 
 
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sobrenatural ou transcendental, sendo essa a definição mais abrangente 
por não ser comum a todas as culturas religiosas. (SOUZA, 2012, p. 14). 
Na opinião da autora, existem várias definições de religião, contudo a mais 
adequada é definir como acreditar em algo além do ser humano, uma resposta que 
explica o verdadeiro sentido da existência humana, seja qual for a religião. É 
importante ressaltar que para dar sentido à vida, o ser humano é obcecado por coisas 
sobrenaturais, o que explica por que faz parte de uma sociedade rodeada de tantas 
coisas, de tantas distrações, de tantas inovações. 
Corrêa (2008, p. 149) expressa que, a religião, como expressão cultural 
intangível, é considerada patrimônio cultural. Envolve a identidade dos grupos que 
compõem a sociedade brasileira, objetivada através de diferentes formas de 
expressão. Portanto, também pode-se dizer que a existência de crenças religiosas em 
nossa sociedade permite que sujeitos que tomam as crenças religiosas como princípio 
de vida a cultivem por meio de diferentes criações, comportamentos e estilos de vida. 
Nesse sentido, o autor destaca que as diversas formas de expressão na 
sociedade são muito
importantes, fazem parte da cultura brasileira porque contribuem 
para a verdadeira formação do ser humano, para buscarem o sentido da vida, porque 
vivemos numa sociedade cheia de negatividade, objetivando que o ser humano perca 
o verdadeiro sentido da vida. Assim sendo, as pessoas devem buscar uma 
compreensão do que não é compreendido na religião, e a religião de alguma forma 
explica tudo ao seu redor, ela ajuda a reviver os valores existentes na sociedade, de 
modo a buscar uma vida melhor e fazer com que as pessoas ao seu redor se sintam 
bem. 
A conceituação de religião é um sentimento que transcende a realidade ou 
humanidade, e é um dos significados sagrados. Como sistema, tem sua própria 
estrutura de participação, crenças, práticas, símbolos, valores e experiências. De fato, 
a essência da religião, partindo da etimologia da palavra que deriva do latim, pode 
significa religar, reler ou reeleger. Em todas estas está presente a ligação da 
humanidade com a divindade. 
Conforme se nota, a religião está ligada a humanidade, ela faz parte da 
natureza humana, é está representada em vários símbolos que dão o significado a 
religião. O homem está sempre procurando a resposta para sua existência, e a religião 
 
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permite que a humanidade entenda a transcendência e como aconteceu sua 
existência na terra. 
Os primeiros a realizarem a catequese foram os Jesuítas, que procuraram, 
através do catecismo, integrar os indígenas à sociedade para que pudessem contribuir 
com o seu trabalho. Portanto, pode-se perceber que a religião é uma forma de mudar 
as pessoas, de mostrar que a religião, apesar de todas as dificuldades que o cotidiano 
traz, é um meio importante para termos acesso ao mundo em que vivemos, marcado 
por fortes violências, onde se faz necessário buscar, seguir algo que transforme o ser 
humano dignos de viver em sociedade. 
Nessa abordagem, Kadlubitski (2010, p.185) defende os povos primitivos que 
viveram em solo brasileiro e possuíram sua cultura e religião há milhões de anos. Em 
1500 com a chegada dos portugueses, milhões desses povos foram dizimados. A 
cultura e a religião indígena foram afetadas imperativamente, visto que os 
colonizadores viam isso como uma manifestação de selvageria. Conquanto, é 
importante lembrar que os índios que vivem em solo brasileiro sempre viveram uma 
cultura e uma religião, e que com a chegada dos portugueses, a sua cultura e religião 
foram afetadas, pois se iniciou um processo de modificações, visando o mercado de 
trabalho, eles eram considerados como selvagens. 
O mundo de hoje está em uma fase de transformação social, a história da vida 
se atualiza a cada nova era, e novas mudanças aparecem e se espalham por todo o 
universo. Mudanças causadas por pessoas que buscam novos aprendizados, novas 
descobertas a cada dia, e essas mudanças irão alterar seus julgamentos e desejos 
individuais e coletivos, os seus modos de pensar e agir, tanto em relação às coisas, 
como as pessoas. Considerando esses aspectos, é preciso enfatizar que a partir 
dessas mudanças sociais e culturais, é importante refletir sobre o verdadeiro sentido 
da vida para que os valores não se percam em tantas inovações. 
Fleury (2013, p.184) fala que as religiões fazem parte da cultura humana, 
presentes na maioria dos povos, em diferentes contextos históricos. Em sociedades 
antigas que careciam da tradição oral de conhecimentos e tecnologias mais 
complexos, a religião era uma força muito poderosa para organizar a vida social: os 
elementos naturais eram divinizados, a exemplo do vento, água, terra, fogo, animais 
e dos astros, e as divindades eram simbolizadas por totens e fetiches. O autor defende 
a visão de que a religião faz parte da humanidade, desde o nascimento dos povos, 
 
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mas em um contexto diferente, mas é de grande importância para o crescimento da 
humanidade. A religião é uma poderosa aliada na vida social e explica o que não pode 
ser decifrada pela ciência. 
Na visão de Cavalcanti (2011, p. 178), a religião é uma das mais complexas 
manifestações culturais. Ao mesmo tempo que constitui um fenômeno universal, 
também se constitui concretamente de uma forma específica, corporificando uma 
modalidade de diversidade cultural. Segundo o autor, a religião apresenta diferentes 
expressões culturais e é um aspecto de todas as áreas da vida humana, e de forma 
particular ela se apresenta como algo prescindível, capaz de transformar o ser 
humano em um ser crítico, capaz de ver o mundo de forma a ter atitudes positivas 
perante a sociedade. 
A partir dessa compreensão, a religião não parece ser algo único, uma ideia 
só, mas engloba amplos aspectos da sociedade, a religião vai além do que pensamos. 
Nos leva a buscar uma compreensão do ser, da identidade, do sobrenatural. Portanto, 
existem muitas definições de religião, mas estão relacionadas à diversidade cultural, 
ou seja, a grande atuação que ocorre dentro da sociedade está relacionada à 
compreensão do mundo. 
1.2 Concepções históricas de Ensino Religioso no Brasil 
A história do Ensino Religioso nas escolas públicas brasileiras sempre teve 
como objetivo a confissão, que é uma religião típica, ministrada por denominações 
religiosas, definindo o conteúdo e escolhendo professores para lecionar no espaço 
disponibilizado pelo país. Atualmente, a diversidade cultural e religiosa tem vindo a 
surgir cada vez mais na sociedade. O espaço escolar é um local onde se reúnem 
pessoas de diferentes culturas tornando muito importante que se trabalhe questões 
religiosas, bem como a diversidade no âmbito escolar, visto que o ser humano é um 
ser que está em constantes relações com outros seres em diferentes espaços 
necessitando um apoio para uma vida melhor. 
Diante do exposto, é óbvio que a religião sempre existiu desde o período 
colonial e tem uma relação estreita com o país e com as doutrinas religiosas, naquela 
época o catolicismo era a religião oficial, tal contexto mudou quando o estado e a 
igreja foram separados, e então começou uma grande polêmica sobre o ensino 
 
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religioso nas escolas públicas, porque outros tipos de denominações religiosas já 
existiam. 
De acordo com Alves (2015, p. 02), a educação religiosa deve ser 
considerada algo muito necessário, para que possamos ajudar os alunos a se 
tornarem pessoas completas de alguma forma, ou seja, na sala de aula será um 
poderoso instrumento à disposição para formar mais os seres sociais com as 
diferenças, visto que este tipo de ensino é adequado como meio de promover um 
distanciamento de todo fundamentalismo religioso. 
Pelo exposto, pode-se perceber que a educação religiosa é de fundamental 
importância no ambiente escolar, pois contribui para a formação integral dos alunos, 
é uma referência para a sociedade, uma vez que promove uma qualidade de vida 
dentro do convívio social. O ensino religioso é uma disciplina que vai além do currículo 
escolar, precisa ser visto como algo que se reflete na sociedade e, quando não 
funciona bem, se reflete negativamente. 
Percebe-se por essa compressão que a educação religiosa não é apenas uma 
disciplina, mas também um contexto histórico, necessário para a formação do ser 
humano como um todo. E ela está além de um simples componente curricular em que 
os profissionais apenas o transmitam sem nenhuma preocupação de ir além, é uma 
disciplina capaz de transformar o ser humano. 
De acordo com Santos (2014, p.13), a história da educação religiosa no Brasil 
se confunde com a história do país, colonizado por Portugal, é um país com fortes 
tendências católicas romanas. Portanto, o ensino religioso dentro das escolas 
brasileiras faz parte da trajetória histórica da educação, primeiramente tratada pela 
relação que se estabelece entre o Estado e a Igreja Católica. Logo após, o 
descobrimento do Brasil, foi implantado por parte de Portugal, o regime do Padroado; 
acordo celebrado entre o monarca
e o Sumo Pontífice, no qual estavam confirmadas 
prerrogativas concedidas ao rei, tendo em vista a propagação da fé católica. 
Este regime perdurou durante os três primeiros séculos da história do Brasil. 
As origens históricas do padroado remontam ao século IV, quando o cristianismo 
não tinha permissão para realizar suas práticas religiosas livremente nos territórios do 
Império Romano. O padroado foi estabelecido através de um tratado entre a Igreja 
Católica e o Reino de Portugal e Espanha, a Igreja delegou a gestão e organização 
da Igreja Romana no seu território ao monarca do Reino Ibérico. O rei ordenou a 
 
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construção da igreja, nomeou padres e bispos, e posteriormente aprovada pelo papa. 
Para Padroado, muitas atividades características da igreja são, na verdade, funções 
de poder político. Além disso, foi por meio desse meio que surgiu a chamada primeira 
forma de ensino religioso no setor público brasileiro. 
No Brasil colonial, as doutrinas religiosas tornaram-se uma ferramenta para os 
colonos, cujo maior aliado era o padre jesuíta, que cooperava com a família real 
portuguesa na exploração das terras que permitissem a submissão de nativos e 
escravos ao mesmo tempo em que devastavam sua cultura e apagavam suas 
memórias históricas. O objetivo é a conquista da fé católica por meio da educação 
escolar, uma obra que alcançou grande proporção ao longo do tempo e tem uma clara 
representação na formação do povo brasileiro. No período Colonial, com o 
descobrimento do Brasil, a única religião existente era a Religião Católica que 
prevalecia e ditava as regras; os jesuítas criaram a primeira escola de letras. Com o 
passar do tempo, surgiu então a reforma protestante, que veio para rebater aquilo que 
a Igreja Católica colocava, isso aconteceu no século XVI, surgindo assim novas 
seitas. Antes do Marquês de Pombal no Brasil e de todo o Império Português chegar 
ao poder, as doutrinas religiosas eram dominantes, especialmente os jesuítas que 
controlavam o método de ensino, e a igreja começou a ser mantida pelo Estado. No 
ano de 1579, os jesuítas foram expulsos, rompendo-se o monopólio da educação, 
através de um ensino laico. 
Para Fleury (2013, p.193), na história da humanidade, sempre houve a 
diversidade religiosa derivada da elaboração cultural como forma de questionar o 
sentido da vida e a transcendência em relação a importantes questões humanas: de 
onde vim? Para onde vou? Nessa perspectiva, cada religião adota diferentes formas 
de crença, celebração, oração e conexão com as outras, e simboliza a experiência 
religiosa que as pessoas de cada cultura vivem de maneiras diferentes. 
Nessa linha de pensamento, Souza (2012, p. 20) relembra que, o artigo 5º da 
Constituição do Imperador determinava: "A religião católica apostólica romana 
continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas 
com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma 
exterior de Templo”. 
O Ensino Religioso durante o império colonial não mudou muito. Tudo porque 
o catolicismo romano era a religião oficial do império. O ensino religioso começou a 
 
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ser encoberto e entregue à metrópole como uma máquina ideológica, já que nessa 
época a igreja era dona de um ensino religioso para formação de valores, vasto 
patrimônio econômico e cultural e não conflitava com a corte, isso sem falar que a 
mesma trabalhava com a educação, mesmo sendo papel do estado. É importante 
notar que embora a igreja daquele período tivesse seus próprios interesses, esse era 
pregar o evangelho ou impor as doutrinas da Igreja Católica Romana. 
Vale destacar que durante o período imperial, não ocorreram muitas mudanças 
relacionadas ao ensino religioso, pois a Igreja Católica procurou incorporar sua 
religião à formação educacional por meio das escolas, fazendo com que o ser humano 
entendesse que a religião católica era a única que deveria fazer parte da sociedade, 
utilizando a catequese como uma forma de transmitir a religião. 
No regime Republicano, a Igreja Católica buscou apoio junto à burguesia 
agrária, que tinha um poder social significativo, aproximação esta que convinha 
também à classe senhorial: seus filhos estudavam em escolas católicas, onde 
recebiam uma educação em estilo europeu, e suas mulheres frequentavam as igrejas 
e participavam de atividades caritativas e de associações piedosas. Durante este 
período, um grupo de padres apoiou a república e a separação entre Igreja e Estado, 
defendendo a ideia de que a Igreja pode unir-se ao povo desta forma, assumir as 
questões sociais e confiar-lhe missões. A crise entre a igreja e a nova ideologia 
popular é um aspecto importante que precisa ser verificado na análise histórica do 
ensino religioso na educação pública brasileira. 
 
Na Constituição de 1937, o Ensino Religioso figurava na lei, mas não garantia 
a sua oferta como disciplina obrigatória dos horários das escolas. O Artigo 133 
estabelecia: “O ensino religioso poderá ser contemplado como matéria do 
curso ordinário das escolas primárias, normais e secundárias. Não poderá, 
porém, constituir objeto de obrigação dos mestres ou professores, nem de 
frequência compulsória por parte dos alunos” (SOUZA, 2012, p. 27). 
Segundo o autor, o ensino religioso já faz parte da legislação, mas não é uma 
disciplina obrigatória nas escolas, cabendo ao professor decidir se deseja incluí-la no 
currículo pedagógico, não sendo necessária a participação dos alunos na matéria da 
disciplina. De acordo com os Parâmetros Curriculares do Ensino Religioso, a reforma 
religiosa, como a reforma protestante, acelerou o processo reformador da Igreja 
Católica, a contrarreforma, com o relevante concílio de Trento, estabeleceu maior 
 
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subordinação dos povos em fase de colonização e contribuiu para influenciar com 
fortes convicções religiosas neste povo em construção. 
A atual LDB (9394/96) traz, no seu artigo 33, a seguinte redação: 
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da 
formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das 
escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade 
cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. 
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a 
definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para 
a habilitação e admissão dos professores. 
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes 
denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso. 
(BRASIL, 1996) 
Nessa perspectiva, pode-se perceber que a disciplina da educação religiosa é 
imprescindível na formação do ser humano, pois envolve diversidade, não apenas 
questões religiosas, mas trata do indivíduo como um todo, formando cidadãos críticos 
e reflexivos que saibam respeitar cada um, sabendo conviver de maneira digna na 
sociedade. 
De acordo com Paiva e Medeiros (2013, p. 06), o Santo Padre Pio XI, em sua 
encíclica “Divini Illius Magistri”, reconhece e enaltece a importância do ensino religioso 
voltado para a excelência da educação cristã. Em suas palavras, o Papa ensinou que 
a arte da educação não consiste apenas em preparar estudantes e pessoas comuns 
para os ideais terrenos, mas realizar a vontade elevada de Deus para o seu destino. 
Dessa forma, o autor enfatiza a importância da educação religiosa no currículo, bem 
como a preparação e a formação necessárias para que os alunos possam obter uma 
vida digna e possam adotar atitudes adequadas a si e aos outros. 
1.3 O ensino religioso na formação de valores 
Quando se trata de valores no ambiente escolar, esse problema é muito 
comum, pois envolve muitas famílias, e o processo de formação das pessoas deve 
partir de aspectos sociais, culturais e psicológicos. Diante disso, acredita-se
que a 
escola pode dar uma grande contribuição na formação de valores, principalmente 
quando a sociedade se encontra cheia de violência, indisciplina e jovens sem sentido, 
muitas pessoas perderam a verdadeira busca por valores: 
 
13 
 
É comum surgirem dúvidas quando se aborda o trabalho com valores na 
escola. Comumente associado unicamente à família, o processo de formação 
dos valores é complexo e demanda o desenvolvimento de aspectos sociais, 
culturais, psíquicos, políticos, afetivos, entre outros. Por isso, acreditamos 
que a escola tem muito a ajudar no processo de formação em valores das 
futuras gerações. Em tempos difíceis, de violência, indisciplina e falta de 
perspectiva para a juventude, a noção de valores adquire proporções 
crescentes nos debates entre a escola e a sociedade em geral. Diante disso, 
consideramos que é necessário voltarmos nossos olhares para a educação 
em valores, tarefa que julgamos indispensável para a construção da 
personalidade dos futuros cidadãos e cidadãs, comprometidos com a justiça, 
igualdade e valorização dos direitos humanos. (PÁTARO; ALVES, 2011, p. 
04). 
Porém, é necessário que as escolas voltem atenções para a educação baseada 
em valores, tarefa que pode parecer trivial, mas tem um peso muito importante na 
sociedade para os cidadãos que estão comprometidos com a justiça, a igualdade e os 
direitos humanos no futuro. 
Segundo Catão (1994) apud Silva (2014, p. 171), o ambiente educacional 
proporciona o processo de formação humana de uma forma mais potente. Nele, a 
criança adquire mais conteúdo e conceitos éticos, valores e princípios que vão reger 
sua vida. O ensino religioso se baseia na religiosidade, “um caminho para refletir sobre 
o sentido da vida e praticar a justiça, a unidade é condição suficiente para o ser 
humano exercer a liberdade; para a sociedade, é um ato de unidade de todos os 
homens. 
Nesse sentido, é importante destacar que o ambiente educacional é um espaço 
de formação de cidadãos para serem capazes de transformar o mundo, e um espaço 
de discussão de valores e princípios, fazendo com que haja uma grande necessidade 
de incluir nas disciplinas o ensino religioso, a fim de contribuir para que as crianças 
se tornem adultos responsáveis. 
Ter valores significa possuir um conjunto de hábitos de reflexão. Significa 
estar disposto a repetir comportamentos desejáveis, algo próximo das 
virtudes, mas, além disso, comportamentos desejáveis que o ser humano 
assume não apenas por tê-los aprendido, que seria apenas um hábito 
mecânico, mas porque necessita ter a convicção de que deve manifestá-los. 
Uma convicção de emoções que surge da consideração reflexiva de emoções 
e de razões que avalizam os hábitos de valor. (PÁTARO; ALVES, 2011 apud 
ARANTES, 2007, p. 110). 
Nessa perspectiva, é importante ressaltar que a escola é um espaço 
educacional onde se encontram pessoas de diferentes personalidades, onde cada 
uma traz consigo uma bagagem cultural diferente, valores que se mesclam e que 
 
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devem ser trabalhados no currículo escolar. A forma como as pessoas se tratam 
dentro do ambiente escolar deve ser facilitada, na falta dessa preocupação, o ser 
humano, adquirindo diferentes formas, atitudes que podem prejudicar o meio em que 
vive. 
Portanto, é muito importante que a escola opere com responsabilidade na 
disciplina de ensino religioso, e não em defesa de nenhuma das religiões, já que o 
Estado é laico. Mas no contexto histórico, para mostrar às pessoas a importância de 
aprender valores e poder adotar atitudes responsáveis na sociedade, infelizmente 
foram vistas cenas de violência doméstica, intolerâncias religiosas, suicídios, 
adolescentes que não estão preocupados com o futuro, gerando assim problemas 
graves para a sociedade. 
Hoje é preciso mostrar no campo da escola o quanto é importante respeitar o 
outro, ter atitudes simples, mas que façam a diferença na sociedade, uma vez que 
esses valores são esquecidos ocupando o lugar atitudes negativas. 
Nos Parâmetros, os temas transversais trazem um discurso que ressalta a 
pluralidade e o respeito às diferenças e desigualdades para se alcançar a 
igualdade. A proposição de respeito aos diversos costumes, origens e 
dogmas religiosos na valorização da alteridade, belas palavras que recheiam 
os Parâmetros, encobre o embate que restaura o que havia de mais 
autoritário e conservador na educação do período da ditadura militar. 
(VAIDERGORN, 2008, p. 408). 
É importante, portanto, enfatizar que a disciplina de educação religiosa se 
preocupa com a importância e o respeito às diferenças, as diferentes manifestações 
culturais, seus costumes, a busca pela igualdade e o respeito a todos. É por meio da 
disciplina do ensino religioso que os humanos podem amadurecer suas visões sobre 
diferentes culturas e diferentes temas sociais a partir do que adquiriram no ambiente 
familiar e a oportunidade de as escolas resgatarem os valores perdidos em meio a 
uma sociedade com tantos meios para se viver ao contrário de uma vida digna. 
Assim entende-se que a escola é uma instituição cultural construída para 
transmitir cultura e para socializar saberes produzidos e acumulados no 
tempo pelos diferentes povos. No entanto, ressalta-se que é na modernidade 
que a escola instaura-se, no período de afirmações universais, e, ainda, de 
políticas e práticas cunhadas no modelo europeu. É neste universo particular 
que a instituição escolar foi organizada para produzir a homogeneização 
cultural, difundindo e consolidando uma cultura comum de base ocidental e 
eurocêntrica. (FLEURY, 2011, p. 180). 
 
15 
 
É necessário trazer para educação um espírito de reverência às crenças 
alheias. Parte-se do pressuposto de que, na dinâmica da educação, os alunos 
desejam compreender a totalidade da vida e o mundo que os cerca, já que 
encontrarão de forma explícita nesta matriz curricular assuntos que tratarão das 
variadas formas de conhecimentos culturais advindas das várias religiões existentes 
no mundo. 
Nesse sentido, a educação religiosa tem dado uma grande contribuição para a 
compreensão da vida humana. A escola tem um papel fundamental na sociedade. A 
combinação das duas traz um bom aprendizado aos alunos uma vez que possibilita 
ao ser humano um entendimento da sociedade e tudo o que circunda na vida humana, 
facilitando a tomada de decisões mediante ao mundo em que se vive, pois é 
necessário fazer com que os mesmos cheguem ao reconhecimento da existência da 
diversidade religiosa. 
Portanto, a realização do ensino religioso nas escolas pode promover a reflexão 
individual e a integração dos conhecimentos básicos, bem como a formação integral 
dos alunos. Para que isso aconteça é mister superar o preconceito religioso, bem 
como respeitar a diversidade cultural e religiosa. 
Socialmente, as crianças participam de eventos familiares e escolares, os 
quais afirmam comportamentos e valores à personalidade. Estão envolvidas 
em um vasto campo de situações e de relações, no qual recebem forte 
influencia dos meios de comunicação. Assistem a diversos programas de TV, 
ouvem músicas, dançam, brincam, “ficam de mal e de bem”, choram, riem, 
são sinceras, tímidas e expansivas. Por outro lado, diante de uma dura e 
cruel realidade, muitos trabalham ajudando no sustento da família, e tantas 
outras presenciaram conflitos que marcam fortemente sua maturidade 
emocional. Gradativamente, as crianças realizam descobertas e, de modo 
peculiar, a religiosidade toma forma, manifesta tanto pelo seu imaginário 
quanto pelo que a família, a Igreja, a escola e os meios de comunicação têm 
a oferecer. (SOUZA, 2012, p.13). 
Em vista dessas premissas, a educação religiosa desempenha um papel 
importante na vida das crianças, especialmente no mundo de hoje, onde as crianças 
já não respeitam seus pais desde pequenas, são rebeldes dentro de casa, resultado 
de uma sociedade moderna em que não há mais como educar os filhos da mesma
forma em que se educava há tempos atrás. O tema do ensino religioso envolve 
questões como valores, respeito entre as pessoas, intolerância religiosa e 
compreensão do mundo. Dessa forma, vivenciamos uma sociedade em constante 
mudança, as crianças vivem diferentes tipos de personalidades e as escolas têm a 
 
16 
 
responsabilidade de ajudar a demonstrar a importância dos valores para um mundo 
melhor. 
No Brasil, desde a Lei de Diretrizes e Base na Educação nº 9.394/96, o ensino 
da rede pública de educação básica tem garantido que o Brasil respeite a diversidade 
religiosa e não se identifique com nenhuma religião. O ensino religioso teve um caráter 
não missionário, ou seja, não há interesse na fé, privilegiando o "valor" da religião, a 
cidadania, o conhecimento do bem e do mal e o conhecimento de Deus. 
Para essa consciência, é preciso questionar a importância dos valores nas 
escolas, a fim de buscar a transformação humana para vivenciar um mundo melhor 
visto que a sociedade está repleta de muitas distrações, de fatores que vão de 
encontro com os valores éticos e morais, cabendo a escola, proporcionar através do 
ensino religioso, a fundamentação dos valores nos indivíduos. “A proposta do Ensino 
Religioso é assegurar a formação de valores ao cidadão devendo ser concebido como 
atividade cientificamente neutra e ser interpretado como área de conhecimento, 
caracterizando, assim, a intencionalidade educativa”. (SILVA, 2014, p. 169) 
Segundo Silva (2014, p. 170), A finalidade do ensino religioso é proporcionar 
aos alunos as condições necessárias para o desenvolvimento da sua dimensão 
religiosa, porque se centra nos valores humanos básicos e proporciona "ciência, fé, 
cultura, maturidade da fé, na comunidade onde atua, respeito à crença dos outros, 
orientando-os para o bem comum e a se comprometerem na ação social e política”. 
A dimensão religiosa desempenha um papel importante na sociedade, seja qual 
for a religião, proporciona ao ser humano a exploração dos valores essenciais ao 
mundo e concorda com o compromisso de ação social, o que dará um contributo 
positivo para o mundo 
Porém, o ensino religioso é muito importante para a formação básica do ser 
humano, pois as características específicas de suas recomendações são: trabalho 
pedagógico sem inclinação a nenhuma religião, centrar na aprendizagem e não na 
religiosidade, buscando dentro do contexto educacional trabalhar o respeito, a 
diversidade, tornando o ser humano conhecedor de tantas religiões existentes no 
mundo, e assim proporcionando a todos uma opção respeitosa de sua escolha 
religiosa ou não. 
Nessa perspectiva, é importante enfatizar que cada religião tem sua 
particularidade, e expressa suas visões, realidades e crenças de diferentes formas 
 
17 
 
por meio de símbolos e fenômenos religiosos de acordo com a própria cultura. 
Portanto, não deve haver discriminação, nem imposição de religião ou cultura, mas 
uma forma de inserir verdadeiramente no ser humano as escolhas que lhes cabem, 
sendo importante que seja trabalhado a formação de cidadãos responsáveis. 
2 OS ASPECTOS JURÍDICO-LEGAIS ATINENTES A RELIGIÃO NO BRASIL E 
SUA PERTINÊNCIA COM O ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS 
2.1 O panorama constitucional 
Como já discutido, a religião representa a dependência humana e a ideia de 
coisas transcendentais que são indispensáveis na vida. Em outras palavras, a 
importância dos temas religiosos dentro da estrutura legal de nosso Estado 
Democrático de Direito tornou-se óbvia. 
Dada a sua importância o legislador percebe a necessidade de tratamento das 
questões religiosas em nosso país. A Constituição de 1988, presumida como marco 
de análise preliminar, reafirma, entre outras questões, a comunhão de seu propósito, 
que é o de estabelecer parâmetros favoráveis à defesa da não discriminação com 
base na fé; levando em consideração a importância individual e coletiva dos temas 
religiosos, para promover o livre desenvolvimento e disseminação das crenças 
religiosas em nosso território, bem como a diversidade de crenças vivenciadas no 
contexto pátrio. 
Portanto, vale a pena observar e analisar as disposições inaugurais da 
Constituição a respeito das crenças religiosas, vejamos: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
[...] 
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o 
livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção 
aos locais de culto e a suas liturgias; (BRASIL, 1988) 
 
18 
 
Com a premissa inaugural do art. 5º, VI da Constituição da República 
Federativa do Brasil (CRFB/88), pode-se inferir claramente a intenção de proteção 
estatal ao livre desenvolvimento das crenças, tidas como invioláveis em um Estado 
Democrático de Direito. 
Ressalte-se que as considerações do referido dispositivo resultam na 
necessidade de uma concepção de termos que se faz surgir por consequência, qual 
seja, a liberdade religiosa, que em muito compreenderá as noções do livre exercício 
de crença e cultos religiosos preconizados pela constituição. 
Essa conceituação resulta em uma dupla natureza: ao mesmo tempo, o Estado 
deve basear suas ações na não ingerência em questões religiosas, ou seja, deve 
permitir a liberdade de expressão; por outro lado, possui também uma segunda 
natureza, que não contradiz a primeira, que se baseia em agir de forma a garantir o 
livre exercício da própria crença, seja garantindo essa liberdade no seio da família ou 
até mesmo no ensino, como o citado exemplo nos trouxe. 
Desta forma, o Estado comporta-se de forma negativa e positiva em relação à 
religião; em primeiro lugar, deve abster-se de interferir no conteúdo religioso 
veiculado, enquanto, em segundo lugar, para garantir a eficácia do ideal não 
discriminatório, deve atuar por meio de medidas que permitam o pleno 
desenvolvimento das diferentes crenças no País 
Embora o ideal não discriminatório do inciso VI do art. 5º da CRFB/88, vale 
ressaltar que a proibição está expressa no mesmo artigo em seu inciso VIII, a saber, 
“ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção 
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos 
imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”. Embora seja 
possível extrair isso interpretativamente, o Brasil descreve seu laicismo com ainda 
mais clareza ao dizer que o gozo dos direitos deve ser respeitado independentemente 
da opção religiosa. 
Cumpre-nos agora destacar ainda as premissas do inciso VII, ainda do artigo 
5º da CRFBB/88 é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa 
nas entidades civis e militares de internação coletiva”; pois reflete 
exemplificativamente o intuito de propiciar o pleno desenvolvimento das crenças ao 
permitir a assistência religiosa em ambientes civis e militares. 
 
19 
 
Agora, para tratar da neutralidade exigida pelo Estado Laico como forma de 
garantir o livre desenvolvimento de crenças, propõe o disposto no artigo 19, inciso I 
da Constituição Federal: 
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes 
o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de 
dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de 
interesse público; (BRASIL, 1988) 
Na forma exposta percebe-se que é vedado o estabelecimento de alianças, 
entre o Estado e qualquer denominação religiosa, bem como também fica o País 
proibido de subvencionar ou causar embaraço ao funcionamento de qualquer forma 
de religião em nosso território. Contudo, existe a ressalva das possibilidades
referidas 
em caso de interesse público. 
Precisamente nesta possibilidade, que é suportada pelo interesse público, 
abre-se agora parênteses para análise, uma vez que ainda não foi promulgada lei 
específica para disciplinar essa cooperação. 
Outro ponto digno de nota, é que Constituição Federal no intuito de incentivar 
o pleno desenvolvimento das religiões em seu território fixou a imunidade tributária 
dos templos religiosos, em seu artigo 150VI, “b”. Contudo, limitou sua extensão a 
compreender a vedação da cobrança dos tributos apenas ao patrimônio, renda e 
serviços, destinados ao fim próprio da entidade religiosa, inteligência do §4º do mesmo 
artigo. 
Atualmente, para manter-se, no momento, o viés exemplificativo, vale ressaltar 
que a Constituição Federal concede ao casamento religioso efeito civil na forma da 
lei, conforme o disposto em seu artigo 226, §2º. 
Agora retornando um pouco na cronologia dos dispositivos constitucionais 
abre-se espaço para comentar-se a respeito das disposições do artigo 210, §1º da 
CRFB/88, logo abaixo transcrito: 
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de 
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais 
e artísticos, nacionais e regionais. 
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos 
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. (BRASIL, 
1988) 
 
20 
 
Nesse ponto, o panorama constitucional nacional mostra a preocupação com a 
educação religiosa na formação básica da humanidade. Assume uma visão de que o 
Estado Laico não se encontra impedido de inserir o ensino religioso dentro das 
escolas. 
2.2 A religião e o Estado laico 
Com o advento do Estado Secular, onde a questão da razão ganha espaço e 
as relações de governo não estão mais ligadas às religiões, O homem está 
começando a se desenvolver em um estágio sem precedentes, e a necessidade de 
proteger todas as crenças e garantir a não interferência religiosa nas questões de 
Estado é que faz eclodir o ideal de Estado Laico. 
Assim, a religião, como fenômeno inerente à natureza humana em um ambiente 
social, parece requerer tratamento pelos Estados Nações. 
A ideia de laico compreende a não discriminação religiosa, em outras palavras, 
a não diferenciação ou favorecimento de qualquer natureza por motivo de crença 
religiosa. Nesse tom, o Estado Laico se confirma em dois aspectos: primeiro, não 
discriminação com base na religião e, segundo, não ingerência do Estado no campo 
do conteúdo religioso. 
É necessário enfatizar que o conceito de Estado Laico não deve ser confundido 
com Estado ateu, pois o ateísmo também está incluído no direito à liberdade religiosa. 
Trata-se do direito de não acreditar na religião. A liberdade de crença inclui a liberdade 
de acreditar e a liberdade de não acreditar. Assim sendo, confundir Estado laico com 
Estado ateu é privilegiar esta crença (ou melhor, não crença) em detrimento das 
demais, o que afronta os princípios da igualdade e da liberdade. 
Portanto, em sentido estrito, é necessário observar que um Estado Laico, em 
suma, pode garantir a possibilidade de desenvolver qualquer religião em seu território 
sem qualquer discriminação ou fiscalização que afete sua existência. 
Assim, a ideia do sagrado legitimador é abandonada para reatribuir legitimidade 
no espaço democrático, para garantir a liberdade no contexto religioso e condições 
iguais para o seu desenvolvimento. 
No entanto, deve-se notar que a liberdade religiosa não está intimamente 
relacionada à não crença de um país em uma religião oficial. Em outras palavras, a 
 
21 
 
ausência de uma religião oficial em um determinado país não é um pré-requisito para 
garantir a liberdade religiosa. 
Neste sentido observem o que preleciona Maria Emília Corrêa: 
A ideia de laicidade ou separação entre Igreja e Estado, ainda que não seja 
pressuposto da liberdade religiosa, é elemento que fortalece a preservação 
desse direito fundamental. O próprio grau de liberdade religiosa em uma 
sociedade pode ser medido levando-se em conta, entre outras 
características, o tratamento dispensado pelo Estado às atividades religiosas 
e o grau de identificação entre as instituições governamentais e religiosas. 
(COSTA, 2008, p. 97) 
A declaração acima fornece uma ajuda preliminar valiosa porque claramente 
considera o secularismo como um pré-requisito para a liberdade religiosa, assim 
dizendo, mesmo que um país não seja laico, ele pode satisfazer plenamente todos os 
parâmetros da liberdade religiosa, que aqui lembra-se, em suma, compreendem uma 
atuação negativa do Estado, culminando na não interferência nos cultos e formas de 
representação religiosas, e uma atuação, positiva, no sentido de propiciar meios 
favoráveis a disseminação e proliferação das diversas crenças no território nacional. É 
verdade que com a ajuda do secularismo, a liberdade religiosa encontrou uma forma 
mais flexível de realizar suas premissas, mas como visto, esse fato não nega o efeito 
de separar a segunda da primeira premissa. 
Enriquecendo a temática e avançando nas análises, observem as 
considerações de Roberto Blancarte, a respeito de aspectos que circundam a 
discussão: 
O critério de separação entre os assuntos do Estado e os das Igrejas é 
confundido com o da laicidade, porque, na prática, os Estados laicos 
adotaram medidas de separação (...). Podem existir países formalmente 
laicos, mas que, no entanto, ainda estejam condicionados pelo apoio político 
proveniente de uma ou mais Igrejas majoritárias do país. E, de forma 
contrária, existem países que não são formalmente laicos, mas que, na 
prática, por razões relacionadas a um histórico de controle estatal sobre as 
Igrejas, não dependem da legitimidade proveniente das instituições 
religiosas. (BLANCARTE, 2008, p. 20) 
O trecho evidenciado, traz consigo a preocupação de dissociar a ideia de 
Estado Secular, aquele onde as esferas governamental/estatal e a religiosa não 
guardam interferência reciproca em seus assuntos peculiares, da ideia de Estado 
laico. Além disso, agrega uma riqueza de conteúdo analítico e, ao mesmo tempo, 
mostra claramente a possibilidade de um país que é laico na forma, mas mantém uma 
 
22 
 
relação de apoio político com instituições religiosas específicas. De mais a mais, no 
raciocínio inverso, mostra também que a não laicidade não é importante e que a 
legitimidade gerada pelas instituições religiosas é necessária para que o Estado 
promova suas ações. 
A interpretação da laicidade até agora e a síntese no parágrafo anterior ajudam 
a compreender melhor o verdadeiro significado dos termos analisados. Possibilitando 
no presente momento tecida uma reflexão, com maior propriedade, a respeito da 
problemática do caráter eleito para disciplina ensino religioso, ser ofensivo ou não a 
laicidade estatal. 
Para analisar as características educacionais do ensino religioso e os 
problemas enfrentados pelo laicismo nacional, pelo menos na fase inicial, a partir das 
características de confissão do ensino, por sofrer talvez as críticas mais ferrenhas, ao 
ser relacionado com uma doutrinação imposta em sala de aula pela esfera pública, 
em favor de uma vertente religiosa específica. 
Para uma melhor compreensão, é necessário estabelecer uma situação de 
reflexão justa, com base na estrutura de um país, pressupondo que se considere que 
esta se estabelece a seguir. Porém, na construção da estrutura, é necessário analisar 
os parâmetros antes do tema de ensino. 
3 A QUESTÃO EDUCACIONAL: O CARÁTER DO ENSINO RELIGIOSO NAS 
ESCOLAS BRASILEIRAS 
A Constituição Federal em seu artigo 210, §1º, estabelece as bases primárias 
do ensino religioso no Brasil. Relativamente à vertente pública deste ensino: 
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de 
maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais 
e artísticos,
nacionais e regionais. 
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos 
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. 
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, 
assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas 
maternas e processos próprios de aprendizagem. (BRASIL, 1988). 
O artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional também aduz: 
 
23 
 
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da 
formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das 
escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade 
cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. 
(BRASIL, 1996). 
Podemos observar a preocupação do legislador em preservar o exercício da 
liberdade religiosa, porém, muito se discutia acerca da definição do conteúdo da 
disciplina, e a interpretação da norma em relação a vedação do caráter confessional 
de ministração da matéria. 
Quando nos referimos ao ensino religioso confessional, estamos tratando de 
uma prática didática voltada para uma específica crença religiosa cujo objetivo é o de 
arregimentar fiéis para aquela crença religiosa. 
A questão da constitucionalidade do ensino religioso confessional nas escolas 
foi intensamente discutida e decidida pelo STF na ADI (Ação Direta de 
Inconstitucionalidade) 4439, em acirrada votação, por 6 a 5 restou decidido pela 
improcedência da ação direta de inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria-
Geral da República, e, portanto, não configurando inconstitucional a prática dessa 
matéria nas escolas, veja o conteúdo da ementa: 
ENSINO RELIGIOSO NAS ESCOLAS PÚBLICAS. CONTEÚDO 
CONFESSIONAL E MATRÍCULA FACULTATIVA. RESPEITO AO BINÔMIO 
LAICIDADE DO ESTADO/LIBERDADE RELIGIOSA. IGUALDADE DE 
ACESSO E TRATAMENTO A TODAS AS CONFISSÕES RELIGIOSAS. 
CONFORMIDADE COM ART. 210, §1°, DO TEXTO CONSTITUCIONAL. 
CONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 33, CAPUT E §§ 1º E 2º, DA LEI DE 
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL E DO ESTATUTO 
JURÍDICO DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL PROMULGADO PELO 
DECRETO 7.107/2010. AÇÃO DIRETA JULGADA IMPROCEDENTE. 1. A 
relação entre o Estado e as religiões, histórica, jurídica e culturalmente, é um 
dos mais importantes temas estruturais do Estado. A interpretação da Carta 
Magna brasileira, que, mantendo a nossa tradição republicana de ampla 
liberdade religiosa, consagrou a inviolabilidade de crença e cultos religiosos, 
deve ser realizada em sua dupla acepção: (a) proteger o indivíduo e as 
diversas confissões religiosas de quaisquer intervenções ou mandamentos 
estatais; (b) assegurar a laicidade do Estado, prevendo total liberdade de 
atuação estatal em relação aos dogmas e princípios religiosos. 2. A 
interdependência e complementariedade das noções de Estado Laico e 
Liberdade de Crença e de Culto são premissas básicas para a interpretação 
do ensino religioso de matrícula facultativa previsto na Constituição Federal, 
pois a matéria alcança a própria liberdade de expressão de pensamento sob 
a luz da tolerância e diversidade de opiniões. 3. A liberdade de expressão 
constitui um dos fundamentos essenciais de uma sociedade democrática e 
compreende não somente as informações consideradas como inofensivas, 
indiferentes ou favoráveis, mas também as que possam causar transtornos, 
resistência, inquietar pessoas, pois a Democracia somente existe baseada 
na consagração do pluralismo de ideias e pensamentos políticos, filosóficos, 
religiosos e da tolerância de opiniões e do espírito aberto ao diálogo. 4. A 
 
24 
 
singularidade da previsão constitucional de ensino religioso, de matrícula 
facultativa, observado o binômio Laicidade do Estado (CF, art. 19, I) 
/Consagração da Liberdade religiosa (CF, art. 5º, VI), implica regulamentação 
integral do cumprimento do preceito constitucional previsto no artigo 210, §1º, 
autorizando à rede pública o oferecimento, em igualdade de condições (CF, 
art. 5º, caput), de ensino confessional das diversas crenças. 5. A Constituição 
Federal garante aos alunos, que expressa e voluntariamente se matriculem, 
o pleno exercício de seu direito subjetivo ao ensino religioso como disciplina 
dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, ministrada 
de acordo com os princípios de sua confissão religiosa e baseada nos 
dogmas da fé, inconfundível com outros ramos do conhecimento científico, 
como história, filosofia ou ciência das religiões. 6. O binômio Laicidade do 
Estado/Consagração da Liberdade religiosa está presente na medida em que 
o texto constitucional (a) expressamente garante a voluntariedade da 
matrícula para o ensino religioso, consagrando, inclusive o dever do Estado 
de absoluto respeito aos agnósticos e ateus; (b) implicitamente impede que o 
Poder Público crie de modo artificial seu próprio ensino religioso, com um 
determinado conteúdo estatal para a disciplina; bem como proíbe o 
favorecimento ou hierarquização de interpretações bíblicas e religiosas de um 
ou mais grupos em detrimento dos demais. 7. Ação direta julgada 
improcedente, declarando-se a constitucionalidade dos artigos 33, caput e §§ 
1º e 2º, da Lei 9.394/1996, e do art. 11, § 1º, do Acordo entre o Governo da 
República Federativa do Brasil e a Santa Sé, relativo ao Estatuto Jurídico da 
Igreja Católica no Brasil, e afirmando-se a constitucionalidade do ensino 
religioso confessional como disciplina facultativa dos horários normais das 
escolas públicas de ensino fundamental. (BRASIL. Supremo Tribunal 
Federal. ADI 4439; Relator (a): Min. ROBERTO BARROSO; Redator (a) do 
acórdão: Min. ALEXANDRE DE MORAES; Julgamento: 27/09/2017; 
Publicação: 21/06/2018.) 
Apesar da discussão já ter sido decidida, é importante observar alguns 
argumentos apresentados por ambas as partes acerca do tema questionado: 
Primeiramente a ADI foi interposta pela Procuradoria-Geral da República 
basicamente sobre o argumento de que a única forma de compatibilizar o caráter laico 
do Estado brasileiro (CF/1988, art. 19, I) com o ensino religioso nas escolas públicas 
(CF/1988, art. 210, § 1º) consiste na adoção de modelo não-confessional. Nesse 
modelo, a disciplina deve ter como conteúdo programático a exposição das doutrinas, 
práticas, história e dimensões sociais das diferentes religiões, incluindo posições não-
religiosas, “sem qualquer tomada de partido por parte dos educadores”, e deve ser 
ministrada por professores regulares da rede pública de ensino, e não por “pessoas 
vinculadas às igrejas ou confissões religiosas”. 
Segundo a PGR, o princípio da laicidade é incompatível com os modelos: 
 Confessional, que tem como objetivo a promoção de uma ou mais confissões 
religiosas e é, preferencialmente, ministrado por representante da confissão; e 
 Interconfessional ou ecumênico, cujo objetivo é a promoção de valores e práticas 
religiosas, com base em um consenso entre as religiões dominantes na sociedade, 
 
25 
 
e pode ser ministrado tanto por representantes das comunidades religiosas, quanto 
por professores da rede pública, sem filiação religiosa declarada. 
Isso porque, de acordo com a PGR, ambos os modelos implicariam endosso 
ou subvenção estatal a crenças, não existindo a neutralidade estatal em matéria 
religiosa postulada pelo princípio da laicidade. Pelos mesmos motivos, a PGR defende 
que representantes das diferentes denominações religiosas não podem ser admitidos 
na condição de professores da disciplina. 
A Advocacia-Geral da União se manifestou sobre os seguintes argumentos: o 
art. 210, §1º, da Constituição evidencia que “o ensino religioso a ser ministrado nas 
escolas públicas não tem cunho aconfessional, pois, se possuísse essa natureza, não 
haveria razão para que fosse de matrícula facultativa aos alunos”. Assim, o caráter 
facultativo e a vedação ao proselitismo seriam suficientes para tornar o ensino 
religioso harmônico com os demais
princípios constitucionais envolvidos. A AGU 
defende que a contratação de professores é regida pelas disposições gerais de 
admissão no serviço público, incluindo a realização de concurso público, de modo que 
não seria compatível com o princípio da igualdade vedar que professores vinculados 
a instituições religiosas ingressem nas instituições estatais de ensino. Finalmente, 
quanto ao Acordo Brasil-Santa Sé, afirma que a norma não contraria o texto 
constitucional, pois prevê expressamente o respeito à diversidade cultural e religiosa 
do país. Por sua vez, o Procurador-Geral da República manifestou-se pelo 
conhecimento e pela procedência do pedido, reportando-se às razões deduzidas na 
inicial desta ação direta. (BRASIL; STF, 2018). 
Em síntese foram apresentados três principais fundamentos no voto do senhor 
Ministro Luís Roberto Barroso, são os seguintes: 
1. Não há nada mais violador da laicidade do Estado do que alguém poder perder seu 
cargo público por não ter mais o apoio de uma confissão religiosa. Logo, é um 
modelo absolutamente incompatível com o texto constitucional. Portanto, para dar 
cumprimento à instrução constitucional do ensino não confessional e facultativo, o 
MEC deve estabelecer parâmetros curriculares e conteúdos mínimos do ensino de 
religião, sob pena de, na prática real, violar-se gravemente o mandamento 
constitucional da laicidade. 
2. Sobre o tema da concretização dos mandamentos constitucionais é que em 
nenhuma hipótese a investidura e permanência de um professor no cargo público 
 
26 
 
de professor da rede pública pode depender de ato de vontade de uma confissão 
religiosa. 
3. Para assegurar a facultatividade do ensino religioso, como impõe a Constituição e 
a lei, impõe-se algumas salvaguardas, a saber: não se deve permitir a matrícula 
automática na disciplina de ensino religioso, é preciso que haja uma manifestação 
de vontade para se matricular nesta disciplina; segundo, os alunos que optarem por 
não ter ensino religioso devem ter assegurada uma atividade acadêmica 
correspondente no mesmo horário, já que o ensino religioso é no horário normal da 
escola, sob pena de ele ficar defasado no seu aprendizado e no número de horas 
mínimas que ele tem que preencher; terceiro, o ensino religioso deve ser ministrado 
em disciplina específica, e não transversalmente e muito menos confessionalmente 
ao longo de outras matérias, e os alunos devem poder se desligar da disciplina de 
ensino religioso quando lhes aprouver. 
Ao final de seu voto, o senhor Ministro propôs a seguinte tese: “O ensino 
religioso ministrado em escolas públicas deve ser de matrícula efetivamente 
facultativa e ter caráter não confessional, vedada a admissão de professores na 
qualidade de representantes das religiões para ministrá-lo.”. (BRASIL; STF, 2018, p. 
21). 
A senhora Ministra Cármen Lúcia argumenta que há a proibição de o Estado 
estabelecer ou subvencionar cultos religiosos ou igrejas e impedir ou embaraçar o seu 
funcionamento, no art. 19, inciso I da Constituição. Há a possibilidade de alistamento 
no serviço militar daqueles que alegarem imperativo de consciência, convicção 
religiosa, crença ou convicção política; há prestação, então, de serviço alternativo 
diverso das atividades essencialmente militares, no art. 143, a afirmar, portanto, o 
respeito às opções religiosas. Há imunidade tributária de templos de qualquer culto, 
no art. 150. E, até mesmo, no § 2º do art. 226, tinha-se a atribuição de efeitos civis a 
casamentos religiosos, hoje alterado. 
Todos esses dispositivos constitucionais mencionados foram repetidos por 
vários julgadores e reforçam a afirmação sobre o Estado brasileiro laico e não impediu 
o reconhecimento de que a liberdade religiosa impôs deveres ao Estado, um dos quais 
a oferta de ensino religioso com a facultatividade a ele inerente. (BRASIL; STF, 2018). 
Parece que a pluralidade de crenças, essa liberdade de opção, de escolha e a 
tolerância, base da convivência democrática, que é princípio fundamental da 
 
27 
 
República brasileira, combinam-se com a laicidade estatal, nos termos estabelecidos 
nos dispositivos que foram aqui questionados - §§ 1º e 2º do art. 33. 
Há a afirmação de que o sistema de ensino a ser regulamentado pelo Estado 
admite procedimentos para a definição de conteúdos de ensino religioso, sem 
embaraço que se tenha até mesmo o conteúdo confessional, uma vez que a não 
confessionalidade foi posta a partir do voto do Ministro-Relator como sendo 
compatível com o Estado leigo. 
De acordo com o ponto de vista da Ministra, a laicidade do Estado como posta 
na Constituição brasileira, com as vênias do Ministro-Relator e dos que o seguiram, 
combina-se com as normas constitucionais, pela referência tanto de imposição de 
vedações, quanto da imposição de uma série de providências a serem adotadas. 
Carmén Lúcia complementa e afirma não vislumbrar nas normas, autorização 
para o proselitismo, para o catequismo, para a imposição de apenas uma religião, 
qualquer seja ela. Mas também não observa, nos preceitos questionados, proibição 
de que se permita oferecer facultativamente ensino religioso cujo conteúdo se oriente 
segundo determinados princípios sem imposição, porque é facultativo; se não tivesse 
esse conteúdo, não haveria porque se dar a facultatividade. 
Não há imposição nas normas de sujeitar-se a determinado ensino religioso 
quem quer que seja. Nesse sentido, a Ministra acolheu parte do argumento 
apresentado pelo Ministro Roberto Barroso de que como sendo a proibição de sujeitar-
se alguém a ter de dizer que não aceita determinada religião ou que não vai frequentá-
la. Até porque isso leva, especialmente quando mais jovem uma pessoa, a uma 
situação de constrangimento, no mínimo, quando não para estigmatizá-la. Por isso 
mesmo, a facultatividade impõe que se escolha, que se possa dar livremente opção e 
apenas isso. (BRASIL; STF, 2018). Carmén Lúcia (BRASIL; STF, 2018, p. 290-291) 
ainda expõe: 
Em minha compreensão, não fosse o conteúdo específico de alguma religião 
- ou de várias -, não vejo porque seria facultativa essa disciplina. Porque, se 
fosse História das Religiões ou Filosofia, isso se teria como matéria que 
poderia perfeitamente - e o é muitas vezes - ser oferecida no ensino público; 
não no ensino obrigatório, mas no ensino público. 
Por isso, não vejo como opor a laicidade à opção do legislador e não vejo 
contrariedade aqui que pudesse me levar a considerar inconstitucionais as 
normas questionadas. 
 
28 
 
Entretanto, não vejo como se impor a contratação ou nomeação de 
determinado servidor para ministrar determinada matéria religiosa como 
representante de uma determinada igreja ou religião. Esse foi, 
expressamente, um dos pedidos feitos: "com proibição de admissão de 
professores na qualidade de representantes das confissões religiosas". 
Não vejo submissão do Estado a qualquer religião nas normas questionadas, 
porque a oferta de ensino religioso está prevista no § 1º do art. 210 e a oferta 
é condicionada à sua facultatividade. 
Por isso, não vejo como declarar inconstitucionais as normas e, com as 
vênias de estilo, reiterando os meus pedidos de escusas por não acompanhar 
o voto do Relator e dos que o seguiram, voto pela improcedência da ação, 
acompanhando a divergência iniciada pelo Ministro Alexandre de Moraes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
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