Passagens-Jardim-Ângela_relatório-final-geral

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RELATÓRIO 
FINAL
DEZEMBRO 2015
O PROJETO PASSAGENS 
JARDIM ÂNGELA: POR 
UMA NOVA ABORDAGEM 
DO BRT
A cidade de São Paulo está comprometida com um 
grande programa de desenvolvimento de novas 
linhas e extensões de BRT, implantando grandes 
infraestruturas, estações e terminais de ônibus 
destinados a se tornarem estações intermodais que 
também englobam certas linhas de metrô. Esta é 
igualmente uma oportunidade para a cidade: a de 
contribuir para a criação de um modelo renovado 
de corredores de transporte rápido por ônibus (aqui 
resumidos como BRT) que equilibre a eficiência 
das grandes artérias da metrópole com as questões 
de acessibilidade e urbanidade em bairros mais 
desfavorecidos. De fato, grandes investimentos 
em infraestrutura, em sistemas de integração e em 
centros multimodais também são a ocasião de gerar 
novos espaços que possibilitem a coexistência 
entre mobilidade rápida e especializada e as 
áreas afetadas por essas estruturas, permitindo a 
acessibilidade com qualidade da rua para pedestres 
e ciclistas.
Atualmente, porém, grande parte destes 
empreendimentos de corredores e estações é 
concebida quase exclusivamente em termos 
técnicos e produzem impactos ambientais muito 
negativos. As abordagens destas vias ou as estações 
muitas vezes resultam na «esterilização» dos 
arredores, com instalações que não levam em conta 
as práticas e percursos de moradores e passageiros.
A criação de corredores de BRT, que são uma 
barreira física, mas ao mesmo tempo simbólica, 
deve ser vista também como uma situação 
favorável para o desenvolvimento de novos espaços 
públicos que facilitem o movimento e também 
acolham atividades sociais e econômicas. Deve 
haver uma articulação eficaz para melhorar a 
urbanidade vigente e inventar novos modelos de 
mobilidade urbana, onde as estações deixem de ser 
apenas “estações” para se tornarem verdadeiros 
pontos de encontro na cidade.
A abordagem por meio do projeto «Passagens» 
ao longo do caminho até ou a partir do BRT pode 
contribuir para a melhoria da qualidade cívica e 
urbana da cidade. 
3
O programa desenvolvido pelo IVM, no Brasil e 
no resto do mundo, tem como objetivo aumentar 
o debate entre especialistas, técnicos, políticos e 
cidadãos sobre os desafios da integração urbana das 
grandes redes e a busca por qualidade dos espaços 
públicos de mobilidade. Essa busca seria uma 
condição de sucesso destes grandes investimentos, a 
médio e longo prazo.
Em São Paulo, o desafio é maximizar a eficiência 
dessas áreas de cruzamento para transformá-las em 
espaço de urbanidade, como zonas francas.
As «passagens» simbolizam as polaridades da 
metrópole e devem ser abordadas como lugares de 
identificação (funcional, social e afetiva). 
Esta é a visão do IVM para que os BRT deixem 
de ser um canal de ruptura e isolamento e passem 
a constituir uma infraestrutura de hiperconexão, 
ligando informação, diferentes meios de transporte, 
eventos e paisagens, ou seja: espaços públicos 
ampliados pela multiplicidade de suas funções.
A escolha da área do Jardim Ângela para o primeiro 
projeto “Passagens” em São Paulo foi direcionada 
pela previsão de implantação do corredor do BRT 
projetado ao longo da avenida M’Boi Mirim, artéria 
principal que conecta o distrito ao centro da cidade. 
Acompanhando esse planejamento viário, um 
novo grande terminal de ônibus será implantado 
em frente à avenida, próximo ao recente Hospital 
Municipal Dr. Moysés Deutsch, construído em 
2008. 
Mapa do contexto urbano geral da pesquisa (IVM)
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PARANAPANEMA
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MACHADO
E.E. PASTOR 
CÍCERO DE LIMA
EMEF PROF.
C. PASTORE
SOCIEDADE
STO. MARTIRES
O Jardim Ângela era há apenas 30 anos atrás 
um território agrícola, onde pequenas chácaras 
pontuavam a paisagem ainda preservada da área de 
mananciais ao sul da cidade de São Paulo. Iniciada 
nos anos 1970, a migração gerou um crescimento 
populacional extremamente acelerado a partir 
dos anos 90. Logo depois, em menos de quinze 
anos, o distrito passou por um aumento de 22% 
da população, passando de 245 000 a 300 000 
habitantes atualmente. Este crescimento se deu 3 
vezes mais rápido do que a taxa de crescimento 
geral da metrópole de São Paulo. 
Inserido em um contexto geográfico complexo, 
o Jardim Ângela apresenta características 
contraditórias com uma urbanização muito densa de 
edificações de gabarito baixo sobre parte da APM 
(Área de Proteção aos Mananciais), um território 
frágil e protegido por lei, que constitui a principal 
bacia de reserva de água da zona sul da cidade. 
A explosão demográfica gerou um alto crescimento 
das ocupações irregulares que hoje constituem 
17% das edificações do distrito e que são 
implantadas principalmente nas áreas de riscos 
geomorfológicos, nos lugares mais íngremes e 
inacessíveis do território. 
Essa dualidade concentra a principal problemática 
da política de planejamento a ser considerada pelas 
entidades públicas: como abastecer uma região que 
conta com 300 000 habitantes com infraestruturas 
de transportes adequadas, levando em conta as 
prioridades ambientais geradas pelas áreas de 
proteção já ameaçadas, onde a ocupação de terrenos 
disponíveis é congelada e há dificuldade de diálogo 
entre as diferentes secretarias do município. 
TENSÕES DEMOGRÁFICAS
E AMBIENTAIS
° 1:6 000
Legenda
Recorte pesquisa
Favela
Curvas de nivel 2m
Alturas edificações
0.0 - 4.0
4.0 - 8.0
8.0 - 15.0
15.0 - 23.0
23.0 - 57.0
Jardim Ângela 
Altura das edificações 
Mapa das alturas das edificações (IVM), fonte prefeitura de SP
7
Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) - Censos Demográficos / IMP-SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de 
Dados)
SÃO PAULO*: aumento de 10,35%
2000, população de 10.434.252hab.
2014, população de 11.513.836hab.
JARDIM ÂNGELA: aumento de 
27,34% 
2000, população de 245.805hab
2014, população de 313.015hab.
JA cresceu proporcionalmente 2,65x 
mais rápido do que a cidade de SP
* Município de São Paulo.
Aumento da população
Fonte: SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados)
Índice Paulista de Vulnerabilidade Social de São Paulo (IPVS): “é classificado cada 
território da geografia da cidade a partir dos diferentes graus de privação sócio-
econômica e dos diferentes graus de acesso a bens e serviços públicos.”
A vulnerabilidade Social no Jardim Ângela
Em 2004, o JA possuia a maior parte do território 
com IPVS 4 a 6, isto é, entre média e muito alta 
vulnerabilidade social. 
Em 2010, os territórios das subprefeituras 
M’Boi Mirim, Capela do Socorro e Campo 
Limpo representaram juntos 26% da população 
vulnerável do município de São Paulo
Capela do 
Socorro
M’Boi 
Mirim
Jd. 
Ângela
Campo 
LimpoVulnerabilidade Social é “uma combinação entre elementos de privação socioeconômica e características demográficasdas famílias”. Verifica-se uma 
alta concentração de população vulnerável quando existem “situações de privação 
expressadas por baixos níveis de renda e escolaridade aliados a determinados 
perfis demográficos – como, por exemplo, a elevada presença de crianças ou de 
idosos, a expressiva presença de mulheres com baixa escolaridade ou de pessoas 
muito jovens na condição de chefes de família”.
Fonte: SEHAB (Secretaria de Habitação)/IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Censo 2010)
“A infraestrutura corre atrás da urbanização.”
Maria Brasil (assessora de comunicação da Subprefeitura do M’Boi 
Mirim)
*Ocupação irregular, segundo o IBGE “é um conjunto 
constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais 
(barracos, casas...) carentes, em sua maioria de serviços 
públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período 
recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) 
e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa.”
Crescimento desordenado
17%
Jd. 
Ângela
27%
26%
24%
49%
Vila 
Andrade
Jd. São
Luís
Percentual de domicílios em ocupação irregular* 
sobre o total de domicílios regulares no distrito
Essa taxa é de 10,8% no município de 
SP
Campo 
Limpo
Capão 
Redondo
° 1:6 000
Legenda
Distrito JA
Recorte pesquisa
Edificações
Viario principal e secundario
Curvas de nivel 2m
Areas de risco com
assentamentos precários
Jardim Ângela 
Areas de risco morfológico
e assentamentos 
precários 
9
Mapa das areas de risco (IVM), fonte prefeitura de SP
O Jardim Ângela, que concentra mais de 2,5 % dos 
habitantes do município, acolhe apenas 0,26% das 
vagas de emprego, cuja a maioria fica concentrada 
no centro expandido da cidade. A consequência 
direta desse desequilíbrio territorial reside nos 
importantes fluxos pendulares domicílio-trabalho 
que geram tempo de deslocamento diário médio 
superior a duas horas de viagem. 
A avenida M’Boi Mirim, única artéria viária 
principal de conexão da região com o Centro da 
cidade, constitui uma ligação precária e totalmente 
saturada apesar da implantação dos corredores de 
ônibus do terminal existente Jardim Ângela até 
Santo Amaro. 
O grande projeto da rede de BRT Sistema Viário 
Sul concebido pela SP Obras prevê um alívio dos 
fluxos concentrados na M’Boi Mirim pela abertura 
da Avenida Carlos Caldeira Filho, que assume uma 
conexão direta com o Jardim Ângela e o metrô 
Capão Redondo. Em conjunto com as obras de 
ônibus, a própria Linha 5-Lilás de metrô prevê um 
prolongamento até o terminal existente do Jardim 
Ângela. 
No entanto, a implantação dessas duas grandes 
infraestruturas incide em uma mudança das 
condições de viagem a longo prazo, mas não 
resolve a situação atual do distrito e das regiões 
mais para o sul, dependentes do viário existente 
como única via de acesso para o centro da cidade. 
As entrevistas que foram feitas pela nossa equipe 
com uma amostra de 90 viajantes no terminal 
atual do Jardim Ângela revelaram que a origem 
das viagens de muitos entrevistados ia bem 
além do distrito, usando o terminal como ponto 
intermediário do trajeto domicílio-trabalho. Isto 
impacta na taxa de frequentação do terminal, 
que, segundo a SP Obras, atende uma área de 
abrangência de até 1,5 milhões de habitantes. 
UMA REGIÃO 
ISOLADA
11
Oferta de emprego e habitação no Jardim Ângela
Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e Ministério do Trabalho e Emprego/RAIS (Relação 
Anual de Informações Sociais)/Elaboração: SMDU/Dipro, 2012.
Menos de 
12.180 
empregos
Quase 
300.000
habitantes
E o trabalho informal?
JA está entre os 4 piores distritos, 
com apenas 0,26% das vagas de 
emprego do município
JA concentra 2,65% dos 
habitantes do município
Emprego Habitação
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego. Relação Anual de Informações Sociais - Rais - Elaboração: SMDU/Dipro, 2012.
Emprego Habitação
* O Centro Expandido corresponde a 07 subprefeituras. ** 25 subprefeituras.
Oferta de emprego e habitação
Demais 
subprefeituras** 
concentram 
82,9% dos 
habitantes do 
município
Centro 
Expandido* 
concentra 
64,1% das 
vagas de emprego 
do município
Demais 
subprefeituras 
oferecem 
35,9% dos 
empregos
Centro 
Expandido 
concentra 
17,1% dos 
habitantes
A densidade do tecido existente, a precariedade 
do estado das calçadas ao longo da avenida M’Boi 
Mirim e a intensidade do tráfico de automóvel 
colocam a avenida como o terceiro eixo viário mais 
perigoso do município. Esses elementos conduzem 
a uma situação de conflito preexistente à futura 
chegada do terminal. 
Além disso, a situação atual desse trecho da 
avenida apresenta zonas de travessias precárias, 
inadequadas para idosos e deficientes e com 
tempo de espera desmesurado. Os próprios dados 
de atropelamento fornecidos pela CET revelam 
áreas de perigo nas proximidades dos grandes 
equipamentos: o hospital, o terminal existente e 
o futuro, e cruzamento da padaria Menininha. O 
estreitamento das calçadas e a frequente ocupação 
delas por parte dos comércios limítrofes à avenida 
dificultam ainda mais o importante fluxo de 
pedestres que circulam até os terminais. 
Passagem obrigatória para interligar o bairro 
com o restante da cidade, a M’Boi revela uma 
desarticulação constante entre a grande escala 
metropolitana conectada através do corredor do 
BRT e a escala local dos lineares comerciais e dos 
equipamentos implantados nas suas bordas, não 
oferecendo um espaço seguro disponível para os 
pedestres. 
O Retrato da M’Boi 
Mirim
HOSPITAL
M’BOI MIRIM
TERMINAL
FUTURO
TERMINAL
ME
NIN
INH
A
TERMINAL JD. ÂNGELA
CEMEI 
TIQUIRA
E.E. O. PEREIRA 
MACHADO
1
13
HOSPITAL
M’BOI MIRIM
TERMINAL
FUTURO
TERMINAL
ME
NIN
INH
A
TERMINAL JD. ÂNGELA
CEMEI 
TIQUIRA
E.E. O. PEREIRA 
MACHADO
EQUIPAMENTOS
OCUPAÇÃO INFORMAL
FOCOS DE ACIDENTES
NOVO TERMINAL
ESCADARIAS
N
CORTE ESQUEMÁTICO 1
CORTE ESQUEMÁTICO 2
2
Planta esquematica do trecho analizado da avenida 
M’BOi Mirim e cortes transversais (IVM)
RETRATO DA 
JUVENTUDE E DAS 
MULHERES DO 
JARDIM ÂNGELA
O território do Jardim Ângela conta mais de 165 
000 pessoas na faixa etária dos 0-29 anos, ou 
seja, mais da metade da população total. Essa 
juventude se encontra, no entanto, em uma situação 
de vulnerabilidade, considerando a situação de 
violência ainda está presente na área e o déficit de 
atendimento escolar que gera uma forte taxa de 
abandono. 
O Jardim Ângela se tornou tristemente famoso 
quando foi qualificado nos anos 2000 como a 
região mais violenta do mundo pela ONU. O 
distrito atingia uma taxa de mais de 82 óbitos por 
homicídio por 100 000 habitantes (PRO-AIM), 
refletindo a situação geral das áreas periféricas 
da metrópole de São Paulo. Os dados mais 
recentes comunicados pela prefeitura de São 
Paulo apresentam, em 2011, uma consequente 
queda desses números, com uma taxa abaixo de 
19 homicídios por 100 000 habitantes, e 7,5 para 
o município. Mas a população dos jovens ainda é 
o principal alvo da violência na região, com um 
valor que culmina em 72 homicídios por 100 000 
habitantes na faixa etária masculina de 15 a 29 
anos, revelando a situação de emergência dentro da 
qual se encontra a juventude do Jardim Ângela.
Além disso, os jovens sofrem de uma carência de 
atendimento escolar quando se observa a taxa de 
abandono que chega a 10,50% no ensino médio, 
ou seja, duas vezes mais que a média municipal. 
Vinculado por parte à falta de professores e à 
superlotação das classes, o abandono revela 
condições de aprendizagem dificultadas que 
desembocam na situação de distorção escolar (que 
envolve 26 % dos alunos do ensino médio total, 
público e privado – SME, 2011) e, às vezes, até 
no abandono. 
Ademais, as próprias condições do ensino de 
meio período fomenta a situação de desocupação 
das crianças e dos adolescentes em uma região 
fortemente carente de equipamentos periescolares. 
15
Fonte: Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de 
São Paulo)/SMS(Secretaria Municipal de Saúde) - (2011 atualizado em 30 de agosto de 2012)
Homicídio juvenil no Jardim Ângela
2011 São Paulo: 26,52
Jardim Ângela: 71,68
JA está entre os 10 piores distritos 
com alto índice de homicídio juvenil.
Número de óbitos por homicídio de jovens do sexo masculino de 
15 a 29 anos, por cem mil habitantes dessa faixa etária e sexo.
JA possui 
2,95% da 
população de 15 
a 29 anos do 
município
JA concentra 
8% dos 
homicídios 
dos jovens 
(15 a 29 anos) 
do município
2,95% da população jovem e 8% de 
homicídios juvenis é uma relação de 2,7x.
Fonte: Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de 
São Paulo)/SMS (Secretaria Municipal de Saúde) - (2011 atualizado em 30 de agosto de 2012)
Homicídios no Jardim Ângela
Das 10 subprefeituras com as maiores populações residentes 
em setores censitários de alta e muito alta vulnerabilidade 
social na cidade de São Paulo, 08 delas são as subprefeituras 
com o maior número de óbitos por homicídio.
2011 São Paulo: 7,52
JA está entre os piores índices de morte por homicídio, 
junto a outros 04 distritos: J. São Luís, Campo Limpo, 
Pedreira e Parrelheiros.
Jardim Ângela: 15,68
Número de óbitos por homicídio 
por 100.000 hab. no JA
2003: 82,24 
2004: 57,70 
2005: 41,75 
2006: 32,59 
2007: 24,06 
2008: 25,29 
2009: 14,27 
2010: 18,62 
Houve uma redução importante 
da violência, mas a taxa ainda 
é o dobro da taxa do município
de abandono das mães de 10 a 14 anos atinge 53 
% do ensino fundamental e 39 % das 15 a 19 anos 
para o ensino médio (Gestação na adolescência no 
município de São Paulo –Março 2015). 
As mulheres no Jardim Ângela revelam também 
uma taxa de violência conjugal ainda muita mais 
alta do que a média municipal. O distrito apresenta 
um valor de 13,6 internamentos consecutivos à 
violência para cada 100 000 mulheres, um índice 
que melhorou fortemente desde os últimos cinco 
anos, mas que ainda mantém o distrito entre os 
quinze mais violentos do município. Essa melhoria 
se deu em parte pelas numerosas mobilizações 
locais feitas pelas associações da região, que 
também implantaram estruturas de atendimento 
às mulheres prejudicadas, como a Casa Sofia da 
Sociedade Santo Mártires, com acompanhamento 
psicológico das vítimas. 
Quanto às mulheres do Jardim Ângela, 
elas apresentam também uma situação de 
vulnerabilidade que freia o acesso ao ensino 
superior e à estabilidade professional. Primeiras 
vítimas do desemprego (32% a mais do que os 
homens - SEADE, 2012), as mulheres sofrem 
diretamente com o deslocamento para os polos de 
emprego que tem impacto negativo sobre o tempo 
dedicado à família e ao cuidado com as crianças. 
Em uma região de alta taxa de natalidade, o oferta 
de creches é insuficiente frente às numerosas 
demandas (30% das demandas atendidas- SME 
2015). Essa situação afeta na organização das mães, 
que são forçadas a deixar as crianças em creches 
informais cujo quadro não professional gera 
sérios problemas de cuidado infantil, segundo as 
associações locais que tentam vigiar esse fenômeno 
e propor estruturas de creches de melhor qualidade. 
Outra consequência da carência de equipamento é 
a responsabilidade voltada às crianças maiores da 
família, frequentemente encarregadas de cuidar dos 
irmãos menores depois do meio período escolar. 
Já no caso de gravidez na adolescência, que 
impacta 35% das mulheres de 19 anos ou menos, 
as mães jovens estão diretamente enfraquecidas 
no que diz respeito ao acesso à educação. A taxa 
17
Fonte: e-CEINFO / Gestação na adolescência no município de São Paulo - Março 2015 Ano 6, n°2
Alta taxa de mães adolescentes
Taxa de fecundidade: refere-se ao quociente, em um 
determinado ano, entre o número de nascidos vivos de 
mulheres de 10 a 19 anos, dividido pelo número de mulheres 
nesta faixa etária, multiplicado por 1000.
Adolescentes de 10 a 14 anos
2013
Total (de 10 a 19 anos)Adolescentes de 15 a 19 anos
São Paulo: 2,2
São Paulo: 28,6
M’Boi Mirim: 2,4
M’Boi Mirim: 34,1
São Paulo: 52,8
M’Boi Mirim: 63,7
Foto de um Forum de discussão da paroquia Santo Martires que acolha a Casa Sofia (C Bianchi)
Os dados dos equipamentos públicos fornecidos 
pela prefeitura evidenciam uma grande carência de 
implantação de uma estrutura cultural e esportiva 
na região do Jardim Ângela. No entanto, a 
aproximação às redes sociais no trabalho de campo 
demostrou a existência de uma organização cuja 
implantação territorial revela uma riqueza cultural 
alternativa inegável. 
Apesar da ausência de espaços públicos no 
território, pôde-se observar o aproveitamento de 
cada pequeno respiro espacial como espaço de lazer 
espontâneo. Micro quadra de esporte em frente à 
avenida M’Boi Mirim, bancos de conversas em 
frente à parada de ônibus onde todas as tardes 
se instala um vendedor de churrasco, rua que 
vira campo de futebol, teto de uma casa como 
quadra de capoeira, estes são alguns exemplos 
de aproveitamento dado pelos moradores para as 
menores oportunidades espaciais, buscando gerar 
um suporte de convívio. 
A CULTURA E O 
ESPORTE
!
!
!
!!
!
!
!
!!
° 1:6 000
Legenda
!
Equipamentos publicos
esportivos
! lugares informais esportivos
Recorte pesquisa
Edificações
Viario principal e secundario
Distrito JA
Curvas de nivel 2m
Jardim Ângela 
Equipamentos esportivos 
publicos e informais 
19
Mapa dos equipamentos esportivos (IVM), fonte prefeitura de SP e levantamento no campo
Fotos de uma quadra de capoeira em cima de uma casa e no patio de uma associação (C Bianchi)
Ainda mais imperceptível, a rede de espaços de 
cultura demostrou uma grande capacidade em 
se espalhar no território e desafiar a carência de 
equipamentos adequados. Essa “ginga” cultural 
fomentou uma sinergia própria, cada vez mais 
densa e mais impactante, usando a passagem como 
plataforma lúdica de expressões culturais que 
superam o papel inicial da rua, viela estreita ou 
escadaria. 
Assistimos a algumas dessas manifestações que 
hoje constituem landmarks sociais no coração das 
comunidades, bem além do impacto que poderia 
ter um centro cultural qualquer. Nascidos da 
energia dos próprios moradores, vários eventos 
permanecem e crescem por serem aceitos 
pela comunidade como um todo e por serem 
desenvolvidos conjuntamente. O exemplo do Cine 
Degrau no Jardim Guarujá, onde escadarias são 
ocupadas para sessões de cinema, ou do Samba da 
Rua 2 no Jardim Nakamura, ilustra perfeitamente 
a apropriação de territórios antes indesejáveis 
(escadarias notórias pelos assaltos e a Rua 2 
conhecida antigamente por ser o depósito frequente 
de cadáveres), tornando-os o palco principal da 
cultura na favela. 
!
!
!
!
!
!
° 1:6 000
Legenda
!
Equipamentos publicos de
cultura
! Lugares informais de cultura
Recorte pesquisa
Edificações
Viario principal e secundario
Distrito JA
Curvas de nivel 2m
Jardim Ângela 
Equipamentos de cultura
publicos e informais 
Mapa dos equipamentos de cultura IVM), fonte prefeitura de SP e levantamento no campo
21
Fotos das escadarias do Cine Degrau com grafiteira, do Samba da Rua 2 
e da sala de desenho do CCA Guaruja (C Bianchi)
ACESSO AO 
TERRITÓRIO
A topografia do Jardim Ângela revela a grande 
dificuldade de acesso para os pedestres e para as 
mobilidades leves / não motorizadas às áreas mais 
afastadas da avenida M’Boi Mirim, eixo chave 
de conexão viária entre a região e o centro da 
cidade. Fortemente acidentado, o relevo apresenta 
variações de mais de 100m entre o Morro do Índio, 
passando pelo espigão da avenida, até o fundo de 
vale, onde fica a comunidade do Jardim Nakamura, 
parte do foco de estudo da pesquisa. 
A malha viária primária e secundária revela-se 
insuficiente para garantir um acesso isotrópico 
nesse território de grande amplitude topográfica, 
onde a questão da mobilidade até o “último 
quilômetro” constitui uma prioridade. Essa malha 
alternativa reside por parte nas passagens e vias de 
acesso informal através das escadarias. Ausente nos 
mapeamentosdo viário oficial, a escadaria constitui 
geralmente o único modo de acesso a lugares mais 
afastados do bairro e tem que ser reconsiderada 
como unidade de mobilidade em si. 
A pesquisa aprofundada no projeto Olhe O Degrau 
do Cidade Ativa a respeito das escadarias da região 
apresenta de forma detalhada a complexidade 
deste tipo de passagens que, apesar de ser bem 
distribuído no território, não garante um acesso 
suficientemente seguro e prático aos bairros, tanto 
pelas suas configurações físicas quanto pelo tipo 
de ocupações que elas recebem (tráfico de droga 
entre outros). A carência de manutenção e de 
planejamento das escadarias revela uma dupla 
dificuldade de integração deste tipo de passagens: 
dificuldade de leitura, pela não integração das 
° 1:10 000
Legenda
Distrito JA
Recorte pesquisa
Viario principal e secundario
Curvas de nivel 2m
Alturas topograficas principais
717-735
735-753
753-770
770-788
788-806
806-823
823-841
841-859
859-877
Jardim Ângela 
Topografia principal e 
implantação do viario
° 1:6 000
Legenda
Recorte pesquisa
Edificações
Viario principal e secundario
Escadarias
Distrito JA
Curvas de nivel 2m
Jardim Ângela 
Viario e escadarias 
Mapa das escadarias e topografia da area IVM), 
fonte prefeitura de SP e levantamento no campo
23
escadarias no projeto global de mobilidade e 
transporte público da área, e dificuldade de uso, 
pelos próprios moradores, com receio frente à 
pouca praticidade e ao perigo que elas apresentam 
geralmente. 
Levantamos a necessidade de reconsiderar essas 
unidades de mobilidade como prioritárias e 
de inclui-las dentro do projeto de mobilidade 
multiescalar, em conjunto com a rede de transporte 
de grande escala para garantir uma capilaridade de 
acesso eficiente e segura. 
Para destacar a potencialidade dessa rede 
alternativa, foram elaboradas análises crono-
morfológicas a partir de simulações do acesso ao 
território a pé (velocidade média de 3,5km/hora) 
em 5, 10 e 15 minutos, com e sem escadarias. Os 
trajetos foram simulados partindo de três pontos 
específicos da área: o Hospital Municipal Dr. 
Moysés Deutsch, o local de implantação do futuro 
terminal de ônibus e a escola Pereira Machado, no 
fundo de vale do Jardim Nakamura. As projeções 
com escadarias revelam claramente uma área de 
abrangência de acesso superior e confirmam a 
necessidade de considerar essa malha informal no 
âmbito da questão da acessibilidade geral. 
° 1:6 000
Legenda
Viario principal e secundario
Escadarias
! Hospital Municipal M'Boi Mirim
Vias usadas
Tempo de acesso
5 minutos
10 minutos
15 minutos
Recorte da area de pesquisa
Limite distrito Jardim Ângela
Edificações
Favela
Curvas de nivel 2m
Jardim Ângela 
Raio de acesso a pé a partir 
do Hospital Moysés Deutsch
COM escadaria
° 1:6 000
Legenda
Viario principal e secundario
! Hospital Municipal M'Boi Mirim
Vias usadas
Tempo de acesso
5 minutos
10 minutos
15 minutos
Recorte da area de pesquisa
Limite distrito Jardim Ângela
Edificações
Favela
Curvas de nivel 2m
Jardim Ângela 
Raio de acesso a pé a partir 
do Hospital Moysés Deutsch
SEM escadaria
Mapa de simulação de acesso com ferramenta de geoprocessamento (IVM)
25
° 1:6 000
Legenda
Viario principal e secundario
Escadarias
! Futuro terminal de ônibus
Vias usadas
Tempo de acesso
5 minutos
10 minutos
15 minutos
Recorte da area de pesquisa
Limite distrito Jardim Ângela
Edificações
Favela
Curvas de nivel 2m
Jardim Ângela 
Raio de acesso a pé a partir 
do futuro terminal
COM escadaria
° 1:6 000
Legenda
Viario principal e secundario
! Futuro terminal de ônibus
Vias usadas
Tempo de acesso
5 minutos
10 minutos
15 minutos
Recorte da area de pesquisa
Limite distrito Jardim Ângela
Edificações
Favela
Curvas de nivel 2m
Jardim Ângela 
Raio de acesso a pé a partir 
do futuro terminal
SEM escadaria
Mapa de simulação de acesso com ferramenta de geoprocessamento (IVM)
° 1:6 000
Legenda
Viario principal e secundario
Escadarias
! Escola Oscar Pereira Machado
Vias usadas
Tempo de acesso
5 minutos
10 minutos
15 minutos
Recorte da area de pesquisa
Limite distrito Jardim Ângela
Edificações
Favela
Curvas de nivel 2m
Jardim Ângela 
Raio de acesso a pé a partir 
da escola Pereira Machado
COM escadaria
° 1:6 000
Legenda
Viario principal e secundario
! Escola Oscar Pereira Machado
Vias usadas
Tempo de acesso
5 minutos
10 minutos
15 minutos
Recorte da area de pesquisa
Limite distrito Jardim Ângela
Edificações
Favela
Curvas de nivel 2m
Jardim Ângela 
Raio de acesso a pé a partir 
da escola Pereira Machado
SEM escadaria
Mapa de simulação de acesso com ferramenta de geoprocessamento (IVM)
27
Amostra de passagens (C Bianchi)
29
Os seis meses de pesquisa revelaram uma 
complexidade tanto social como física do Jardim 
Ângela para qual esse trabalho tenta esboçar 
uma primeira representação das camadas que o 
compõem. Isto é, incluir a dimensão invisível deste 
território pelos caminhos escondidos e as redes 
alternativas que organizam o modo de se locomover 
e de conviver dentro do bairro. 
Recolocar a micro acessibilidade como ator 
da mobilidade de importância igual às grandes 
infraestruturas de transporte em projeto constitui 
uma estratégia chave para a melhoria da malha de 
acesso atual, pois instaura um diálogo físico entre 
as escalas de leitura territorial. 
Do mesmo modo, integrar as redes sociais 
existentes e as lideranças da região como atores da 
transformação territorial é a garantia da adequação 
do planejamento às demandas locais. 
Esse processo bottom-up procura levantar os 
lugares e as dinâmicas simbólicas que identificam 
o que são o Jardim Ângela e seus usuários hoje 
para, assim, formular uma metodologia de 
invenções programáticas. Essas invenções terão 
como principal objetivo fornecer, a partir deste 
processo de pesquisa, uma aplicação no território 
real de projeto, buscando solucionar e melhorar as 
condições do acesso e da convivência no espaço 
público do território. 
CONCLUSÃO
LABHAB , Programa Bairro legal, plano de ação 
habitacional e urbano, diagnostico do Jardim 
Ângela, São Paulo, 2003
CALDEIRA, T. CIDADE DE MUROS: Crime, 
Segregação e Cidadania em São Paulo, São Paulo: 
EDUSP, 2001
EMPLASA, Jardim Ângela, segundo unidades de 
Informações Territorializadas, São Paulo, 2008
LANGENBUCH, J R. A Estruturação da Grande 
São Paulo: Estudo de Geografia Urbana. São Paulo: 
Biblioteca Geográfica Brasileira, 1971.
MEYER R M P; GROSTEIN M D; BIDERMAN, 
C. São Paulo Metrópole. São Paulo: Imprensa 
Oficial do Estado de São Paulo, 2004.
METRO DE SÃO PAULO, pesquisa origem 
destino 2007, região metropolitana de São Paulo, 
São Paulo 2008
PDE, Plano Diretor Estratégico de São Paulo, 2014
SESC SANTO AMARO, Santo Amaro em rede, 
Relatório técnico, pesquisa de mapeamento 
sociocultural, São Paulo, 2009
SUBPREITURA DO M’BOI MIRIM, Diagnostico 
do M’Boi Mirim, São Paulo, 2008
BIBLIOGRAFIA
INSTITUTO DA CIDADE EM MOVIMENTO
PESQUISA PASSAGENS JARDIM ÂNGELA 
SÃO PAULO 
2015