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MEDULA ESPINHAL PARTE 1 MEDULA ESPINHAL E NERVOS ESPINHAIS Cerca de 100 milhões de neurônios e um número ainda maior de células da neuróglia formam a medula espinal, a região da parte central do sistema nervoso que se projeta a partir do encéfalo. A medula espinal e seus nervos espinais associados contêm circuitos neurais que controlam algumas de suas mais rápidas reações a mudanças no ambiente. Se você pegar um objeto quente, os músculos da preensão relaxam e você solta o objeto, mesmo que a percepção da temperatura e da dor não seja ainda consciente. Este é um exemplo de reflexo raquimedular – uma resposta rápida e automática a certos tipos de estímulo que envolve neurônios apenas dos nervos espinais e da medula espinal. Além de ser o local onde ocorre o processamento dos reflexos, a substância cinzenta da medula espinal também é um sítio de integração (somação) de potenciais pó-ssinápticos excitatórios (PEPSs) e inibitórios (PIPSs), sobre os quais você aprendeu no Capítulo 12. Estes potenciais graduados surgem à medida que neurotransmissores interagem com seus receptores nas sinapses da medula espinal. A substância branca da medula espinal contém cerca de doze tratos sensitivos e motores principais, os quais servem como uma “via expressa” pela qual as aferências (influxo) sensitivas chegam ao encéfalo e as eferências (efluxo) motoras vão do encéfalo para os músculos esqueléticos e outros efetores. Lembre-se de que a medula espinal é contínua com o encéfalo e que juntos formam o sistema nervoso central (SNC, ou parte central do sistema nervoso segundo a Terminologia Anatômica). ANATOMIA DA MEDULA ESPINHAL ESTRUTURAS DE PROTEÇÃO O tecido nervoso do sistema nervoso central é muito delicado e não responde bem a uma lesão ou dano. Assim, o tecido nervoso precisa de uma considerável proteção. A primeira camada protetora do SNC é formada pelo crânio e pela coluna vertebral. O crânio envolve o encéfalo e a coluna vertebral protege a medula espinal, fornecendo uma grande defesa contra potenciais traumatismos e impactos. A segunda camada protetora é composta pelas meninges, as três membranas que se situam entre o arcabouço ósseo e o tecido nervoso do encéfalo e da medula espinal. Além disso, o espaço entre duas das meninges contém o líquido cerebrospinal, líquido que envolve o sistema nervoso central em um ambiente sem peso e fornece um coxim hidráulico que absorve energia. COLUNA VERTEBRAL A medula espinal está localizada dentro do canal vertebral. Os forames vertebrais, “empilhados” uns sobre os outros, formam o canal vertebral. As vértebras oferecem um abrigo resistente para a medula espinal. Os ligamentos vertebrais, as meninges e o líquido cerebrospinal fornecem proteção adicional. MENINGES As meninges são três membranas protetoras, compostas por tecido conjuntivo, que envolvem a medula espinal e o encéfalo. Elas são, da camada mais externa para a mais interna, a duramáter, a aracnoidemáter e a piamáter. As meninges espinais envolvem a medula espinal e são contínuas com as meninges cranianas, que recobrem o encéfalo. As três meninges espinais revestem os nervos espinais até sua passagem pelos forames intervertebrais da coluna vertebral. A medula espinal também é protegida por um coxim de tecido adiposo e tecido conjuntivo localizado no espaço epidural (extradural segundo a Terminologia Anatômica), espaço entre a duramáter e a parede do canal vertebral. DURAMÁTER A mais superficial das três meninges é uma espessa membrana formada por tecido conjuntivo denso irregular. A duramáter forma um saco desde o forame magno, onde ela é contínua com a duramáter do encéfalo, até a segunda vértebra sacral. Ela também é contínua com o epineuro, o revestimento externo dos nervos espinais e cranianos. ARACNOIDEMÁTER Esta membrana intermediária, delgada e avascular é formada por células e fibras finas e dispersas de material elástico e de colágeno. Ela é chamada aracnoidemáter devido à disposição de suas fibras em forma de uma teia de aranha. Ela está abaixo da duramáter e é contínua com a aracnoidemáter do encéfalo no forame magno. Entre a duramáter e a aracnoidemáter existe um delgado espaço subdural, contendo líquido intersticial. PIAMÁTER A meninge mais interna é uma fina camada de tecido conjuntivo transparente que adere à superfície da medula espinal e do encéfalo. A piamáter é composta por finas células pavimentosas e cúbicas entrelaçadas com feixes de fibras de colágeno e algumas fibras elásticas delgadas. Na piamáter estão muitos vasos sanguíneos que fornecem oxigênio e nutrientes para a medula espinal. Projeções membranosas triangulares da piamáter suspendem a medula espinal no meio de sua bainha dural. Estas projeções, chamadas ligamentos denticulados, são áreas de espessamento da piamáter. Elas se projetam lateralmente e se fundem com a aracnoidemáter e com a superfície interna da duramáter, entre as raízes anterior e posterior dos nervos espinais em ambos os lados. Como são encontrados em toda a extensão da medula espinal, os ligamentos denticulados protegem a medula espinal contra deslocamentos súbitos decorrentes de traumatismo. Entre a aracnoidemáter e a piamáter existe um espaço, o espaço subaracnóideo, que contém líquido cerebrospinal – líquido que, entre outras funções, absorve energia decorrente de um impacto. CORRELAÇÃO CLÍNICA / PUNÇÃO LOMBAR Em uma punção lombar, é realizada anestesia local e posteriormente inserida uma longa agulha oca até o espaço subaracnóideo, com o objetivo de retirar líquido cerebrospinal para ͅfins diagnósticos; para instilar antibióticos, meio de contraste para mielograͅfia, ou anestésicos; para administrar quimioterápicos; para medir a pressão liquórica e/ou para avaliar os efeitos de tratamentos para certas doenças, como a meningite. Durante este procedimento, o paciente permanece em decúbito lateral, com a coluna vertebral fletida. A flexão da coluna vertebral aumenta a distância entre os processos espinhosos das vértebras, o que facilita o acesso ao espaço subaracnóideo. A medula espinal termina em torno da segunda vértebra lombar (L II); entretanto, as meninges espinais e o líquido cerebrospinal circulante se estendem até a segunda vértebra sacral (S II). Entre as vértebras L II e S II existem meninges espinais, mas não a medula espinal. Consequentemente, em pacientes adultos, a punção lombar é geralmente realizada entre as vértebras LIII e LIV ou LIV e L V, pois nesta região o acesso ao espaço subaracnóideo é seguro, sem risco de lesar a medula espinal. (Uma linha traçada entre os pontos mais altos das cristas ilíacas, chamada de plano supra-cristal, passa pelo processo espinhoso da quarta vértebra lombar e é utilizada como ponto de referência para a realização do procedimento.) ANATOMIA EXTERNA DA MEDULA ESPINAL A medula espinal tem formato aproximadamente oval, sendo levemente achatada anteroposteriormente. Em adultos, ela se estende do bulbo, a parte inferior do encéfalo, até a margem superior da segunda vértebra lombar. Em recém-nascidos, ela se estende até a terceira ou quarta vértebra lombar. Durante a infância, a medula espinal e a coluna vertebral crescem, se alongando, como parte do crescimento total do corpo. A medula espinal para de crescer entre 4 e 5 anos de idade, mas a coluna vertebral continua crescendo. Desse modo, a medula espinal do adulto não acompanha toda a extensão da coluna vertebral. A medula espinal do adulto varia entre 42 a 45 cm de comprimento. Seu diâmetro máximo é de aproximadamente 1,5 cm na região cervical inferior e é ainda menor na região torácica e em sua extremidade inferior. Em uma vista externa da medula espinal, são observadas duas intumescências. A superior, a intumescência cervical, se estende da quarta vértebra cervical (C IV) até a primeira vértebra torácica (T I).Os nervos dos membros superiores são derivados desta região. A inferior, chamada intumescência lombar, se estende da nona até a décima segunda vértebra torácica (T XII). Os nervos dos membros inferiores se originam desta região. Abaixo da intumescência lombar, a medula espinal se termina em uma estrutura cônica e afilada conhecida como cone medular, que se estende até o nível do disco intervertebral entre a primeira e a segunda vértebras lombares (L I–L II) em adultos. Do cone medular surge o filamento terminal, uma extensão de piamáter que se estende inferiormente, se funde com a aracnoidemáter e com a duramáter, e ancora a medula espinal no cóccix. Os nervos espinais são vias de comunicação entre a medula espinal e regiões específicas do corpo. A medula espinal parece ser segmentada, pois os 31 pares de nervos espinais se originam, em intervalos regulares, dos forames intervertebrais. De fato, considera-se que cada par de nervos espinais surge de um segmento espinal. Na medula espinal não existe segmentação óbvia; no entanto, por questões de conveniência, a nomeação dos nervos espinais se faz de acordo com o segmento nos quais estão localizados. Existem 8 pares de nervos cervicais, 12 pares de nervos torácicos (T1–T12), 5 pares de nervos lombares (L1–L5), 5 pares de nervos sacrais (S1–S5) e 1 par de nervos coccígeos (Co1). Dois feixes de axônios, chamados de raízes, conectam cada nervo espinal a um segmento da medula por meio de feixes ainda menores de axônios conhecidos como radículas. A raiz posterior (dorsal) e suas radículas contêm apenas axônios sensitivos, os quais conduzem impulsos nervosos de receptores sensitivos da pele, dos músculos e dos órgãos internos para o sistema nervoso central. Cada raiz posterior apresenta uma protuberância, o gânglio sensitivo do nervo espinal (da raiz posterior), que contém os corpos celulares de neurônios sensitivos. A raiz anterior e suas radículas contêm axônios de neurônios motores, que conduzem impulsos nervosos do SNC até os órgãos efetores (músculos e glândulas). Quando os nervos espinais se ramificam a partir da medula espinal, eles se projetam lateralmente para sair do canal vertebral por meio dos forames intervertebrais, entre vértebras adjacentes. No entanto, como a medula espinal é mais curta que a coluna vertebral, os nervos das regiões lombar, sacral e coccígea não saem da coluna vertebral no mesmo nível em que deixam a medula espinal. As raízes destes nervos espinais inferiores se angulam inferiormente junto com o filamento terminal no canal vertebral, como os pelos da cauda de um cavalo. Consequentemente, as raízes destes nervos são chamadas cauda equina, significando “rabo de cavalo”. ANATOMIA INTERNA DA MEDULA ESPINHAL A substância branca é composta basicamente por feixes de axônios mielinizados. Dois sulcos na substância branca da medula espinal a dividem em dois lados – direito e esquerdo. A fissura mediana anterior é um sulco largo situado na parte anterior. O sulco mediano posterior é um sulco mais estreito localizado na parte posterior. A substância cinzenta tem o formato de um H ou de uma borboleta; ela é composta por dendritos e corpos celulares, axônios não mielinizados e neuróglia. A comissura cinzenta forma a barra transversal do H. No centro da comissura cinzenta encontra-se um pequeno espaço chamado de canal central; ele se estende por toda a extensão da medula espinal e é preenchido com líquido cerebrospinal. A parte superior do canal central se continua com o quarto ventrículo (espaço que contém líquido cerebrospinal) situado no bulbo. Anteriormente à comissura cinzenta está a comissura branca anterior, que conecta a substância branca do lado direito da medula espinal com a do lado esquerdo. Na substância cinzenta da medula espinal e do encéfalo, agrupamentos de corpos celulares neuronais constituem grupos funcionais conhecidos como núcleos. Os núcleos sensitivos recebem aferências (influxo) de receptores por meio de neurônios sensitivos, e os núcleos motores originam eferências para tecidos efetores por meio de neurônios motores. A substância cinzenta de cada lado da medula espinal é subdividida em regiões chamadas de cornos (Figura 13.3). Os cornos posteriores contêm corpos celulares e axônios de interneurônios, bem como axônios de neurônios sensitivos. Lembre-se de que os corpos celulares dos neurônios sensitivos estão localizados no gânglio sensitivo do nervo espinal. Nos cornos anteriores encontram-se núcleos motores somáticos, os quais são agrupamentos de corpos celulares de neurônios motores somáticos que geram os impulsos nervosos necessários para a contração dos músculos esqueléticos. Entre os cornos posteriores e os anteriores estão os cornos laterais, os quais são encontrados apenas nos segmentos torácico e lombar alto da medula espinal. Os cornos laterais contêm neurônios motores autônomos, agrupamentos de corpos celulares de neurônios motores autônomos que regulam a atividade dos músculos cardíacos, dos músculos lisos e das glândulas. A substância branca da medula espinal, assim como a substância cinzenta, está organizada em regiões. Os cornos anteriores e posteriores dividem a substância branca de cada lado em três grandes áreas chamadas de funículos: anteriores, posteriores e laterais. Cada funículo, por sua vez, apresenta diferentes feixes de axônios com uma origem ou destino comuns que transmitem informações semelhantes. Estes feixes, que podem se estender por grandes distâncias para cima ou para baixo na medula espinal, são conhecidos como tratos. Lembre-se de que tratos são feixes de axônios no SNC, enquanto os nervos são feixes de axônios no SNP. Os tratos sensitivos (ascendentes) são formados por axônios que conduzem impulsos nervosos em direção ao encéfalo. Os tratos compostos por axônios que levam os impulsos nervosos que saem do encéfalo são chamados de tratos motores (descendentes). Os tratos sensitivos e motores da medula espinal são contínuos com os tratos sensitivos e motores do encéfalo. A organização interna da medula espinal permite que as aferências (influxo) sensitivas e as eferências (efluxo) motoras sejam processadas do seguinte modo: 1- Receptores sensitivos detectam um estímulo sensitivo. 2- Neurônios sensitivos transmitem esta aferência (influxo) sensitiva, na forma de impulsos nervosos, por seus axônios, que se estendem dos receptores sensitivos até o nervo espinal e então até a raiz posterior. A partir da raiz posterior, os axônios dos neurônios sensitivos podem seguir três caminhos diferentes. 3- Os axônios dos neurônios sensitivos podem se projetar para a substância branca da medula espinal e ascender até o encéfalo como parte de um trato sensitivo. 4- Os axônios dos neurônios sensitivos penetram no corno posterior e realizam sinapse com interneurônios, cujos axônios se estendem até a substância branca, e então ascendem até o encéfalo como parte de um trato sensitivo. 5- Os axônios dos neurônios sensitivos podem entrar no corno posterior e realizar sinapse com interneurônios que, por sua vez, se comunicam com os neurônios motores sinápticos envolvidos com as vias espinais reflexas. Os reflexos medulares são descritos detalhadamente mais adiante. 6- As eferências motoras da medula espinal para os músculos esqueléticos envolvem neurônios motores somáticos do corno anterior. Muitos destes neurônios são regulados pelo encéfalo. Os axônios de centros encefálicos superiores formam tratos motores que descem do encéfalo em direção à substância branca da medula espinal. Neste local, eles realizam sinapses com neurônios motores somáticos, direta ou indiretamente (neste caso, realizando sinapse com interneurônios que, na sequência, se comunicam com neurônios motores somáticos). 7- Quando ativados, os neurônios motores somáticos transmitem as eferências motoras, na forma de impulsos nervosos,por seus axônios, os quais sequencialmente passam pelo corno anterior e pela raiz anterior para depois entrar no nervo espinal. Do nervo espinal, estes axônios se projetam até os vários músculos esqueléticos do corpo. 8- As eferências motoras para o músculo cardíaco, músculo liso e glândulas envolvem neurônios motores do corno lateral. Quando ativados, os neurônios motores autônomos transmitem estas eferências, na forma de impulsos nervosos, por seus axônios, os quais passam sequencialmente pelo corno lateral, pelo corno anterior e pela raiz anterior para depois entrar no nervo espinal. 9- A partir da medula espinal, os axônios dos neurônios motores autônomos realizam sinapse com outro grupo de neurônios motores autônomos, localizado no sistema nervoso periférico (SNP). Os axônios deste segundo grupo de neurônios autônomos, por sua vez, realizam sinapses com os músculos cardíaco, liso e com as glândulas. Os diversos segmentos da medula espinal variam em tamanho, formato, quantidades relativas de substância cinzenta e substância branca, e distribuição e formato da substância cinzenta. Por exemplo, a quantidade de substância cinzenta é maior nos segmentos cervical e lombar porque estes segmentos são responsáveis pelas inervações sensitiva e motora dos membros. Além disso, mais tratos sensitivos e motores são encontrados nos segmentos superiores da medula espinal do que nos inferiores. Portanto, a quantidade de substância branca diminui do segmento cervical para o segmento sacral da medula espinal. Existem duas razões principais para esta variação: à medida que a medula espinal sobe do segmento sacral para o segmento cervical, mais axônios ascendentes se juntam à substância branca para formar mais tratos sensitivos; e à medida que a medula espinal desce do segmento cervical para o segmento sacral, os tratos motores diminuem sua espessura, pois mais axônios descendentes deixam estes tratos para realizar sinapse com neurônios da substância cinzenta. NERVOS ESPINHAIS Os nervos espinais estão associados à medula espinal e, como todos os nervos do sistema nervoso periférico (SNP, ou parte periférica do sistema nervoso segundo a Terminologia Anatômica), são feixes paralelos de axônios – e sua neuróglia associada – envolvidos por várias camadas de tecido conjuntivo. Os nervos espinais conectam o SNC a receptores sensitivos, músculos e glândulas em todas as partes do corpo. Os 31 pares de nervos espinais são nomeados e numerados de acordo com a região e o nível da coluna vertebral de onde surgem. Nem todos os segmentos da medula espinal estão alinhados com suas vértebras correspondentes. Lembrese de que a medula espinal termina próximo ao nível da margem superior da segunda vértebra lombar (L II), e que as raízes dos nervos lombares, sacrais e coccígeos se angulam inferiormente para alcançar seus respectivos forames antes de saírem da coluna vertebral. Esta disposição forma a cauda equina. O primeiro par de nervos espinais cervicais emerge da medula espinal entre o occipital e o atlas (primeira vértebra cervical, ou C I). A maioria dos nervos espinais restantes sai da medula pelos forames intervertebrais, formados por duas vértebras adjacentes. Os nervos C1–C7 emergem do canal vertebral acima de suas vértebras correspondentes. O nervo espinal C8 sai do canal vertebral entre as vértebras C7 e T1. Os nervos T1–L5 emergem do canal vertebral abaixo de suas vértebras correspondentes. As raízes dos nervos sacrais (S1–S5) e coccígeos (Co1) entram no canal sacral, a parte do canal vertebral localizada no sacro. Na sequência, os nervos S1–S4 saem do canal sacral através dos quatro pares de forames sacrais anterior e posterior, e os nervos S5 e Co1, através do hiato sacral. Como ressaltado anteriormente, um nervo espinal típico tem duas conexões com a medula: uma raiz posterior e uma raiz anterior. Estas raízes se unem para formar um nervo espinal no forame intervertebral. Como a raiz posterior contêm axônios sensitivos e a raiz anterior apresenta axônios motores, o nervo espinal é classificado como um nervo misto. A raiz posterior contém um gânglio, no qual estão localizados os corpos celulares dos neurônios sensitivos. REVESTIMENTO DE TECIDO CONJUNTIVO DOS NERVOS ESPINAIS Cada nervo espinal e craniano é formado por vários axônios e apresenta membranas protetoras de tecido conjuntivo. Axônios dentro de um nervo, mielinizados ou não, são envolvidos pelo endoneuro, a camada mais profunda. O endoneuro é uma malha de fibras de colágeno, fibroblastos e macrófagos. Vários axônios com seu endoneuro se agrupam em feixes chamados de fascículos, cada qual envolvido pelo perineuro, a camada média. O perineuro é uma camada mais espessa de tecido conjuntivo. Ele é composto por até 15 camadas de fibroblastos em uma rede de fibras de colágeno. A camada externa, que cobre todo o nervo, é conhecida como epineuro. Ele é formado por fibroblastos e fibras colágenas grossas. Projeções do epineuro também preenchem os espaços entre os fascículos. A duramáter das meninges espinais se funde com o epineuro no momento em que o nervo passa pelo forame intervertebral. Note os vasos sanguíneos que nutrem as meninges espinais. Recordando o Capítulo 10, as membranas de tecido conjuntivo dos músculos – endomísio, perimísio e epimísio – apresentam disposição semelhante às dos nervos. DISTRIBUIÇÃO DOS NERVOS ESPINAIS RAMOS Logo após passar pelo seu forame intervertebral, um nervo espinal se divide em vários ramos. O ramo posterior (dorsal) supre os músculos profundos e a pele da face posterior do tronco. O ramo anterior (ventral) supre os músculos e as estruturas dos quatro membros, bem como a pele das faces lateral e anterior do tronco. Além dos ramos anterior e posterior, os nervos espinais dão origem a ramos meníngeos. Estes ramos entram novamente no canal vertebral pelo forame intervertebral e suprem as vértebras, os ligamentos vertebrais, os vasos sanguíneos da medula espinal e as meninges. PLEXOS Os axônios dos ramos anteriores dos nervos espinais, com exceção dos nervos torácicos T2 a T12, não chegam diretamente às estruturas corporais supridas por eles. Em vez disso, eles formam redes em ambos os lados do corpo, por meio da ligação de vários axônios de ramos anteriores de nervos adjacentes. Esta rede axônica é chamada de plexo. Os principais plexos são o plexo cervical, o plexo braquial, o plexo lombar e o plexo sacral. Também existe um pequeno plexo coccígeo. Os nervos que saem dos plexos são nomeados de acordo com as regiões que suprem ou com o trajeto que seguem. Cada nervo pode, por sua vez, apresentar vários ramos que recebem seus nomes conforme as estruturas inervadas. NERVOS INTERCOSTAIS Os ramos anteriores dos nervos espinais T2 a T12 não formam plexos e são conhecidos como nervos intercostais ou nervos torácicos. Estes nervos se conectam diretamente às estruturas supridas nos espaços intercostais. Após deixar seu forame intervertebral, o ramo anterior do nervo T2 inerva os músculos intercostais do segundo espaço intercostal e supre a pele da axila e a região braquial posteromedial. Os nervos T3 a T6 se projetam pelos sulcos das costelas até os músculos intercostais e a pele das partes anterior e lateral da parede torácica. Os nervos T7 a T12 suprem os músculos intercostais e os músculos abdominais, junto com a pele sobrejacente. Os ramos posteriores dos nervos intercostais suprem os músculos profundos do dorso e a pele da parte posterior do tórax. PLEXO CERVICAL O plexo cervical supre a pele e os músculos da cabeça, do pescoço e das partes superiores dos ombros e do tórax. Os nervos frênicos originam-se dos plexos cervicais e fornecem fibras motoras que inervam o diafragma. Ramos do plexo cervical também apresentam trajetória junto a dois nervos cranianos, o acessório (XI) e o hipoglosso (XII).PLEXO BRAQUIAL As raízes (ramos anteriores) dos nervos espinais C5 a C8 e T1 formam o plexo braquial, que se estende inferior e lateralmente em ambos os lados das últimas quatro vértebras cervicais e da primeira vértebra torácica. Ele passa acima da primeira costela, posteriormente à clavícula, e então entra na axila. Como o plexo braquial é muito complexo, é necessária uma explicação sobre suas partes. Como nos demais plexos, as raízes são os ramos anteriores dos nervos espinais. As raízes de vários nervos espinais se unem para formar troncos na parte inferior do pescoço – os troncos superior, médio e inferior. Posteriormente às clavículas, os troncos se ramificam em divisões – a divisão anterior e a divisão posterior. Nas axilas, as divisões se unem para formar fascículos, conhecidos como fascículos lateral, medial e posterior. Os fascículos recebem sua denominação com base na sua relação com a artéria axilar, uma grande artéria que leva sangue para o membro superior. Os ramos destes fascículos formam os principais nervos do plexo braquial. O plexo braquial fornece quase toda a inervação dos ombros e dos membros superiores (Figura 13.8B). Cinco grandes ramos terminais se originam do plexo braquial. O nervo axilar supre os músculos deltoide e redondo menor. O nervo musculocutâneo inerva os músculos anteriores do braço. O nervo radial supre os músculos da região posterior do braço e do antebraço. O nervo mediano inerva a maioria dos músculos da região antebraquial anterior e alguns músculos da mão. O nervo ulnar supre os músculos anteromediais do antebraço e a maioria dos músculos da mão. PLEXO LOMBAR As raízes (ramos anteriores) dos nervos espinais L1 a L4 formam o plexo lombar. Ao contrário do plexo braquial, existem poucas interconexões entre as fibras do plexo lombar. De cada lado das quatro primeiras vértebras lombares, o plexo lombar se projeta obliquamente para fora, entre as cabeças superficial e profunda 1 do músculo psoas maior e anteriormente ao músculo quadrado do lombo. Entre as cabeças do músculo psoas maior, as raízes dos plexos lombares se separam em divisões anterior e posterior, as quais dão origem aos ramos periféricos dos plexos. O plexo lombar supre a parede abdominal anterolateral, os órgãos genitais externos, e parte dos membros inferiores. PLEXOS SACRAL E COCCÍGEO As raízes (ramos anteriores) dos nervos espinais L4–L5 e S1–S4 formam o plexo sacral. Este plexo está situado, em sua maior parte, anteriormente ao sacro. O plexo sacral inerva as regiões glúteas, o períneo e os membros inferiores. O maior nervo do corpo – o nervo isquiático – se origina deste plexo. As raízes (ramos anteriores) dos nervos espinais S4–S5 e os nervos coccígeos formam um pequeno plexo coccígeo. Deste plexo se originam os nervos anococcígeos, que suprem uma diminuta área cutânea sobre o cóccix. BIBLIOGRAFIA LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociências. 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu. 2010. MACHADO, Ângelo Barbosa Monteiro. Neuroanatomia funcional. Rio de Janeiro: Atheneu, 2010. CONSENZA, Ramon M. Fundamentos de neuroanatomia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. TORTORA, G. J., DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia / tradução Ana Cavalcanti C. Botelho... [et al.]. – 14. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
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