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NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 1 1- CARACTERÍSTICAS DA DHEG - A Doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) é um termo genérico que diz respeito as doenças hipertensivas que ocorrem após a 2ª metade da gestação oriunda de alterações decorrentes da invasão trofoblástica - DHEG abarca condições distintas de hipertensão na gravidez e representa a principal complicação gestacional no Brasil - Estima-se que cerca de 5 a 10% de todas as gestantes apresentam um distúrbio hipertensivo, sendo que 70% são provenientes de pré-eclâmpsia e 30% são decorrentes de hipertensão crônica. Essas doenças apresentam alta taxa de morbidade e mortalidade maternas, formando junto com a hemorragia e infecção materna, a chamada “tríade mortal” da gestação - De acordo com a OMS, a hipertensão é responsável por 4% dos óbitos matemos no mundo, variando de 12,9% das mortes maternas nos países desenvolvidos a até 22,9% na América Latina. Além disso, a DHEG também eleva a morbimortalidade perinatal, visto que pode ser a gênese de diversas complicações como prematuridade, restrição do crescimento fetal, sofrimento fetal e morte perinatal - Entende-se como hipertensão arterial quando a pressão arterial sistólica atinge valor ≥ 140 mmHg e/ou a pressão arterial diastólica atinge valor ≥ 90 mmHg, em duas medidas com intervalo de pelo menos 4h. Desse modo, a gestação pode agravar a hipertensão arterial crônica, ou seja, que já existia antes da gravidez, bem como induzi-la em mulheres normotensas, gerando hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia - Existem várias formas de classificar a DHEG, no entanto, segundo a FEBRASGO, podemos dividir a DHEG em: • Hipertensão gestacional • Pré-eclâmpsia • Eclâmpsia • Hipertensão crônica • Hipertensão arterial crônica com pré-eclâmpsia superajuntada NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 2 FORMAS CLÍNICAS: - De acordo com a FEBRASGO, podemos classificar em as formas clínicas que compõe a DHEG em HIPERTENSÃO GESTACIONAL (HG): - Essa patologia ocorre quando a mulher apresenta pela 1ª vez na vida, níveis pressóricos alterados após metade da gestação, sem presença de proteinúria - Estudos apontam que cerca de metade das pacientes que foram diagnosticadas com hipertensão gestacional podem evoluir para pré-eclâmpsia até o final da gestação e tem maior risco de desenvolver hipertensão crônica futuramente - A hipertensão gestacional é reclassificada como hipertensão transitória quando a evidência de pré-eclâmpsia não se desenvolve, voltando a pressão arterial ao normal em torno de 12 semanas após o parto PRÉ-ECLÂMPSIA: - Essa patologia, também conhecida como síndrome especifica da gestação, pode afetar a gestante em vários sistemas - Existem vários fatores de risco específicos para pré-eclâmpsia, podendo ser divididos em fatores de alto risco e moderado risco - Essa doença, costuma ocorrer na 2ª metade da gestação, sendo mais frequentes o 3º trimestre - A pré-eclâmpsia pode ser classificada em leve ou grave • A presença de fatores como cefaleia ou distúrbios visuais, como os escotomas, podem ser sintomas de iminência de eclâmpsia, classificando a pré-eclâmpsia como grave. Além disso, dor epigástrica ou no quadrante superior direito está associada a necrose hepatocelular, isquemia e edema que estiram a cápsula de Glisson, sendo frequente o aumento nos níveis séricos de transaminases hepáticas. A trombocitopenia também é característica da pré-eclâmpsia em agravamento, sendo provavelmente causada pela ativação e agregação das plaquetas bem como por hemólise microangiopática induzida pelo intenso vasospasmo. Os outros fatores indicativos de pré- NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 3 eclâmpsia grave são o envolvimento renal ou cardíaco, bem como a evidente restrição do crescimento fetal • A ausência dessas complicações que definem a pré-eclâmpsia leve ECLÂMPSIA: - Temos a eclâmpsia quando uma gestante com hipertensão gestacional ou pré-eclâmpsia apresenta acometimento neurológico, como convulsões - Alguns autores colocam que 10% das convulsões eclâmpticas desenvolvem- se antes que a proteinuria. Ou seja, nem sempre a eclâmpsia tem um diagnóstico anterior de pré-eclâmpsia - A eclâmpsia é comumente precedida pelos sinais e sintomas de eclâmpsia iminente, isto é, distúrbios do sistema nervoso central (cefaleia frontal/occipital, torpor, obnubilação e alterações do comportamento), visuais (escotomas, fosfenas, visão embaçada e até amaurose) e gástricos (náuseas, vômitos e dor no hipocôndrio direito ou no epigástrio) - As convulsões podem aparecer antes durante o ou depois do trabalho de parto HIPERTENSÃO CRÔNICA (HC): - Define-se como HC a hipertensão que está presente na mulher antes da gravidez ou é diagnosticada antes de 20 semanas de gestação - O grande problema da HC é que nem sempre a mulher tem um diagnóstico prévio e a pressão arterial normalmente diminui durante o 2º e o início do 3º trimestres nas mulheres normotensas e cronicamente hipertensas, dificultando o diagnóstico no período gestacional - Outro ponto, é que durante o 3º trimestre, quando a pressão arterial volta a seu nível originalmente hipertenso, pode ser difícil determinar se a hipertensão é crônica ou induzida pela gravidez - A HC ainda pode ser classificada em essencial ou primária, que corresponde a grande maioria dos casos, ou secundária, responsável por apenas 10% do total. Isso é importante na medida em que a presença de doenças que levam à hipertensão secundária, também aumentam o risco na gestação independente NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 4 da hipertensão, como por exemplo a coarctação de aorta e doenças autoimunes, como o lúpus HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA COM PRÉ-ECLÂMPSIA SUPERAJUNTADA: - Pacientes com HC também podem evoluir durante a gestação para a pré- eclâmpsia sobreposta - Mulheres com HC há mais de 4 anos ou história de pré-eclâmpsia em outras gestações, apresentam um risco maior de ter essa doença sobreposta - A doença superposta tende a ser mais grave e, com frequência, é acompanhada por restrição do crescimento fetal 2- DROGAS UTILIZADAS NA EMERGÊNCIA HIPERTENSIVA: VIAS DE ADMINISTRAÇÃO, DOSES UTILIZADAS E REAÇÕES ADVERSAS - As complicações hipertensivas agudas caracterizam-se por PA muito elevada, acompanhada de sintomas, com necessidade de avaliação clínica adequada, incluindo exame físico detalhado e exame de fundo de olho - Em clinica médica, são divididas em urgências hipertensivas, nas quais ocorre elevação da PA, porém com condição clínica estável, sem comprometimento de órgãos-alvo, e cujo tratamento pode ser feito por VO e emergências hipertensivas, condição clínica grave, com lesão progressiva de órgãos-alvo em progressão e risco de morte, exigindo imediata redução da PA por tratamento parenteral NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 5 - A configuração de emergência hipertensiva na gestação está presente com níveis pressóricos elevados, em geral superiores a 100mmHg de PA diastólica, associados a cefaleia, epigastralgia, distúrbios visuais, edema agudo de pulmões ou cianose, ou, ainda, presença de sinais de insuficiência coronariana ou dissecção de aorta - O tratamento dessa condição deve ser pronto e cuidadoso, com o objetivo de reduzir em 20 a 30% os níveis pressóricos - A droga indicada é a hidralazina, usando-se 5mg a cada 15 min, IV • Para evitar iatrogenia, recomenda-se a diluição da ampola de hidralazina (1ml = 20 mg) em 19 ml de água destilada, obtendo-se solução de 1mg/ml - Se não houver resposta após doses repetidas de hidralazina (Até 30mg no total), usa-se o nitroprusseto de sódio (0,25 a 10µg/kg/min), com monitoração cuidadosa da PA, evitando quedas abruptas e suspendendo a droga assim que obtido o efeito hipotensor desejado • O nitroprusseto de sódio é fornecido em frascos de 50mg,que em solução padrão são diluídos em 200ml de soro glicosado a 5% • Deve ser administrado em bomba de infusão contínua, em equipo protegido da luz • A infusão de 1ml/h fornece 4µg/min • O nitroprusseto deixa de agir 3 min após a interrupção da infusão - Outra alternativa ao uso do nitroprusseto de sódio para os casos de emergência hipertensiva sem resposta à hidralazina (em especial nos quadros de edema agudo pulmonar) é administração de infusão de nitroglicerina (5 a 100µg/min em infusão IV contínua) - O uso de nifedipino por via sublingual está proscrito em razão da ocorrência de hipotensões arteriais graves com repercussões maternas e perinatais - Quando, associado à emergência hipertensiva, houver indicações do uso de sulfato de magnésio (profilaxia das convulsões na iminência de eclampsia ou eclampsia), ele deverá ser usado conforme as orientações preconizadas para a eclampsia NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 6 3- DROGAS UTILIZADAS NA PRÉ- ECLAMPSIA: -VANTAGENS DE VIA EV - A via intravenosa tem como vantagem: Obtenção rápida de efeitos Possibilidade de administração de grandes volumes em infusão lenta Possibilidade de administração de substâncias irritantes - Desvantagem: Riscos de embolia Infecções por contaminação Imprópria para substâncias oleosas ou insolúveis O SULFATO DE MAGNÉSIO PODE SER ADMINISTRADO SEGUNDO 3 DIFERENTES ESQUEMAS: ESQUEMA DE ZUSPAN (ADMINISTRAR EM BOMBA DE INFUSÃO) NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 7 ESQUEMA DE SIBAI (ADMINISTRAR EM BOMBA DE INFUSÃO) - Sibai et al. , considerando o nível sérico de magnésio obtido pelo esquema de Zuspan, propõem modificação desse esquema, aumentando a dose de ataque de 4 g para 6 g e a de manutenção de 2 g para 3 g/h de sulfato de magnésio, em infusão contínua, para atingir os mesmos níveis séricos do tratamento por via intramuscular, proposto por Pritchard. - Apenas é empregado diante de quadro clínico sugestivo de coagulopatia ou contagem de plaquetas abaixo de 50000/mm³ ESQUEMA DE PRITCHARD (CASOS ESPECIAIS) - MANIFESTAÇÕES DE TOXICIDADE DO SULFATO DE MAGNÉSIO - Apesar de os esquemas exclusivamente intravenosos apresentarem vantagem de não provocar dor ou hematoma local decorrente da administração intramuscular, apresentam maior risco de toxicidade pelo magnésio e a monitoração da magnesemia se torna imprescindível - Níveis de magnésio de até 7mEq/L não provocam toxicidade, cujo 1º sinal na mãe é a perda do reflexo patelar ocorrendo já com concentrações plasmáticas superiores a 7 e até 10mEq/L - Concentrações de 15mEq/L revelam o comprometimento dos músculos envolvidos na respiração - Acima de 30mEq/L podem causar parada cardíaca - A depressão neonatal ocorre apenas nos casos de hipermagnesemia grave - Diante dos efeitos tóxicos da hipermagnesemia, deve ser usado o gluconato de cálcio a 10% na dose de 10ml IV em 3 minutos NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 8 OUTRAS DROGAS QUE PODEM SER UTILIZADAS PARA EVITAR CONVULSÕES? - Contraindica-se o uso de benzodiazepínicos, pois a convulsão é autolimitada, além de favorecer a depressão respiratória e neurológica e promover a diminuição dos reflexos laríngeos, o que facilitaria a aspiração do conteúdo gástrico - Para a prevenção de novas convulsões, utiliza-se o sulfato de magnésio. Desde 1955, quando Pritchard padronizou o tratamento da eclampsia com o uso do sulfato de magnésio seu esquema foi repetidamente testado e se manteve superior aos demais tratamentos - Desde a publicação do estudo colaborativo placebo-controlado sobre os benefícios maternos e perinatais do uso do sulfato de magnésio (Magpie), tem havido consenso geral sobre seu uso para a prevenção das convulsões - As observações clínicas e os estudos sugerem que o sulfato de magnésio exerce sua ação anticonvulsivante ao agir diretamente no córtex cerebral - Pelo menos 3 mecanismos são aventados: • Possui efeito vasodilatador • Bloqueia a excitação • Promove transmissibilidade elétrica no tecido cerebral - Quanto a outros agentes anticonvulsivantes, como a fenitoína, os estudos controlados não tem demonstrado vantagens em relação ao sulfato de magnésio - Com o sulfato de magnésio se observa controle da convulsão logo após a dose de ataque e, entre 1 e 2h a partir da 1ª administração, a paciente se encontra consciente - A vantagem dele sobre os demais anticonvulsivantes é o fato de que essa droga, em doses habituais, não produz depressão do SNC, tanto materno quanto fetal, ainda que ultrapasse rapidamente a barriera placentária - Com a persistência de convulsões, apesar do uso do sulfato de magnésio, ou nos casos confirmados de hemorragia cerebral, realiza-se a administração de fenitoína na dose de 250mg (1 ampola diluída em soro fisiológico, 250ml IV em 10 min) e repete-se o esquema a cada 30 min até completar 750mg - Para a manutenção, usa-se 100mg por IV a cada 8h enquanto se mantiver a venoclise - E então, 100mg VO a cada 8h seguindo a orientação do neurologista NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 9 NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 10 4-DROGAS UTILIZADAS NA HIPERTENSÃO LEVE/MODERADA SEDAÇÃO: - As gestantes portadoras de DHEG apresentam resposta vascular lábil perante as alterações emocionais. Assim, para diminuir as oscilações pressóricas, recomenda-se a sedação - Nas formas leves, em gestantes acompanhadas em regime ambulatorial, pode-se optar pela sedação com benzodiazepínicos • Diazepam (5 a 10 mg por via oral a c:ada 12 horas) - Nas formas graves, para gestantes internadas, prefere-se a Levomepromazina na dose de 3 mg (3 gotas de solução oral) a cada 8 horas HIPOTENSORES: - O tratamento das doenças hipertensivas na gravidez é objeto de controvérsias - Nas formas graves, é bem definido que o tratamento reduz a mortalidade e a morbidade maternas graves, diminuindo o risco de eclâmpsia e AVC - Na hipertensão leve e moderada, em contrapartida, as revisões e os estudos questionam o benefício do tratamento com a alegação de que não haveria diferença nos desfechos, com possibilidade de maior ocorrência de RCF - Entretanto, a análise dessas revisões mostra que não houve uniformidade quanto ao tipo de doença hipertensiva analisada (hipertensão arterial crônica ou pré-eclâmpsia), quanto ao tipo de medicamento utilizado, nem quanto à época da gravidez na qual o tratamento foi instituído - Além disso, a presença de RCF é um dado frequente nas síndromes hipertensivas da gravidez, independentemente do tratamento - A terapêutica medicamentosa da hipertensão promove proteção materna e fetal, reduzindo a progressão para as formas graves e ajudando a evitar a prematuridade e suas repercussões neonatais - O tratamento com drogas hipotensoras deve ser iniciado quando as medidas citadas forem insuficientes para diminuir os níveis pressóricos e a pressão arterial diastólica se mantiver maior ou igual a 100 mmHg - O mais adequado, tanto para a gestante como para o feto, é reduzir os níveis pressóricos em 20 a 30% das medidas diastólicas iniciais. É importante destacar que, ao se iniciar o tratamento com esse tipo de drogas, os retornos ambulatoriais devem ser mais próximos (semanais ou até a cada 3 a 4 dias, se necessário), para a melhor avaliação da resposta materna e fetal - Diante de pré-eclâmpsia grave, hipertensão arterial crônica com pré- eclâmpsia sobreposta e pré-eclâmpsia associada à RCF, o controle materno e fetal deverá ser realizado com a paciente internada - A droga de primeira escolha é o pindolol na dose de 5 mg por via oral, 2x/dia, com aumento de 5 a 10 mg/dia enquanto mais de 50% das medidas diastólicas NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 11 estiverem acima de 100 mmHg (dose máxima de 30 1ng/ dia). Trata-se de um betabloqueador não seletivo que possui atividade simpaticomiméticaintrínseca, característica que interfere menos na frequência cardíaca de repouso e no débito cardíaco, preservando o fluxo uteroplacentário - Em casos de contraindicação ao uso de betabloqueadores (broncoespasmo, diabetes de difícil controle), recomenda-se o emprego da metildopa, com dose inicial de 250mg, VO, 2x/dia, com aumento de 250 a 500mg/dia, até controle pressórico adequado (dose máxima de 2g/dia). Essa droga pode provocar hipotensão postural e, eventualmente, aumento sérico das enzimas hepáticas (TGO e TGP) - Como 3º opção ou em caso de necessidade de outro hipotensor em associação com o pindolol e/ou a metildopa, usa-se o anlodipino (bloqueador dos canais de cálcio) na dose de 5 a 10 mg/dia por VO (comprimidos de 5mg) • Para o controle pressórico, empregam-se as seguintes posologias progressivas 5mg 1x/dia, 5mg a cada 12h • Podem ser usadas doses maiores (até no máximo 20mg/dia, sendo que doses superiores a 10mg/dia são off-label) - O nifedipino, igualmente bloqueador dos canais de cálcio, também pode ser usado na dose de 20 a 60mg/dia por VO, em apresentação de liberação lenta, em 2 a 3 tomadas ao dia - Somente se associa uma nova droga quando se chega à dose máxima das drogas que já estão em uso - No máximo, associa-se 3 drogas hipotensoras na dose máxima - Deve-se lembrar que em gestantes com DHEG, a hemoconcentração e a reatividade vascular aumentadas podem desencadear maior resposta hipotensora, dessa forma, recomenda-se cuidado com a dose do medicamento para se evitar a hipotensão arterial decorrente de iatrogenia - Diuréticos devem ser evitados Hidroclorotiazida pode ser usada em até 250mg
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