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Hematopoese Hematopoese é o processo fisiológico responsável pela produção das células presentes no sangue periférico. A organização anatômica e funcional do sistema hematopoético é complexa, adaptando-se, a partir da fase embrionária, às necessidades do organismo em desenvolvimento. ● Desenvolvimento Nas primeiras semanas de vida embrionária, as células vermelhas nucleadas são produzidas pelo saco vitelínico. Durante o segundo trimestre da gestação, o fígado e, em menor intensidade, o baço e os linfonodos, se encarregam dessa função. Assim, ela pode ser dividida em: 1. Primitiva ou embrionária: é extra embrionário, originando-se nas ilhotas sanguíneas do saco vitelínico, na camada mesodérmica ventral. O estágio embrionário da hematopoese se inicia no 15o dia da gestação e cessa ao redor da 6a semana de vida intrauterina. Apesar de já haver alguns precursores megacariocíticos e monocíticos, essa é essencialmente eritróide. Ou seja, sua função básica é fornecer oxigênio aos tecidos embrionários em rápida expansão. Aqui há ausência do estágio G0 e as hemácias são nucleadas. Simultaneamente à hematopoese do saco vitelínico, começa a produção de células hematopoéticas na região AGM do feto. Essas células já apresentam características da hematopoese definitiva. 2. Definitiva: caracterizada pela presença de todos os tipos celulares e já há uma fase G0 no ciclo celular. A vida média das hemácias na vida intra-uterina é menor que a do adulto, sendo de aproximadamente 45 a 75 dias, isso torna o período vulnerável aos agravos que perturbam a hematopoese como infecções e hemólise imune. Já nos estágios finais da vida fetal, a medula óssea passa a ser o principal local da hematopoiese e após o nascimento, as células hematológicas são produzidas exclusivamente pela medula óssea. PORÉM, em determinadas patologias, a produção de células hematológicas volta a ocorrer em locais extramedulares que só funcionavam na vida embrionária. Observa-se esse processo em doenças como doenças hemolíticas graves como hemoglobinopatias (betatalassemia maior) ou com doenças que cursam com mielofibrose intensa (idiopática ou metaplasia mieloide agnogênica). - RECAPITULAÇÃO FETAL. Até os 5 anos a medula de todos os ossos do corpo participa desse processo. Porém, à medida que os anos avançam, ocorre uma substituição gordurosa na medula dos ossos longos, até que na idade adulta, somente os ossos da pelve como o ilíaco, esterno, ossos do crânio, arcos costais, vértebras e epífises femorais e umerais conseguem gerar células sanguíneas. A medula óssea pode ser: 1. Medula óssea vermelha: possui atividade hematopoiética e é vermelha devido à presença de grande quantidade de hemácias e precursores eritróides. 2. Medula óssea amarela: preenchida por tecido adiposo, porém, com potencial para voltar a produzir células sanguíneas sob determinados estímulos. Todos os elementos do sangue, tanto hemácias, plaquetas quanto leucócitos, originam-se da célula progenitora, a célula tronco (stem cell) ou célula totipotente. Essa célula, existente apenas em pequena quantidade na medula óssea, tem a capacidade de se reproduzir quando necessário e dar início a um processo de diferenciação em múltiplas linhagens celulares hematológicas. Lembrando que elas apresentam capacidade de auto-renovação e provavelmente têm o mesmo precursor das células vasculares, o hemangioblasto. É estimado que haja 1 CTH para cada 30.000 células nucleadas da medula óssea Inicialmente, a célula tronco se diferencia em dois tipos: a. Linhagem mielóide: dará origem às hemácias, plaquetas, granulócitos e monócitos. b. Linfóide: linfócitos A célula progenitora mielóide (progenitor mielóide comum ou PMC) se diferencia em mais dois tipos: 1. Precursor eritróide-megacariocítico (CFU-E/Mega): comprometido com formação de plaquetas e hemácias. Ela se diferencia em eritroblasto e megacariócitos. Cada eritroblasto sofre um processo de maturação, transformando-se no final em uma hemácia (ou eritrócito). Cada megacarioblasto origina um megacariócito, célula grande (a maior da medula óssea), multinucleada, de cujo citoplasma se Catarina Nykiel - MedManas desprenderão várias plaquetas. Um megacariócito é capaz de liberar entre 1.000 e 3.000 plaquetas. O maior fator que age aqui é o GATA-1. 2. Precursor granulocítico-monocítico (CFU-G/M): comprometido com a formação de granulócitos e monócitos. Se diferencia nos progenitores granulocíticos (os mieloblastos) e monocíticos (os monoblastos). Existem três tipos de mieloblasto e cada um vai dar origem em neutrófilo, eosinófilo e basófilo. O monoblasto dá origem ao monócito que se transforma em macrófago quando penetra no tecido conjuntivo dos diversos órgãos. Os macrófagos podem assumir formas e funções diferentes nos tecidos, recebendo inclusive denominações distintas, como células de Kupffer (no fígado), Langerhans (na pele) e osteoclastos (nos ossos). Mieloblasto → promielócito → mielócito → metamielócito → bastonete → segmentado A célula progenitora linfóide se diferencia em dois tipos celulares e o maior fator que age aqui é o Pax-5: 1. Pré-T: comprometido com a formação de linfócitos T que segue para corrente sanguínea até o timo, onde termina a sua maturação em linfócito T maduro. 2. Pré-B: comprometido com a formação de linfócitos B Eles irão se concentrar nos tecidos linfóides do organismo (linfonodos, baço e MALT). Os elementos do sangue tem vida limitada, devendo ser constantemente repostos. Hemácias 100 a 120 dias Plaquetas 7-10 dias Granulócitos 6-8 horas Linfócitos anos Mediadores A produção é regulada de forma independente, de acordo com a necessidade fisiológica do organismo. A proliferação e a sobrevida das células hematopoéticas são governadas por dois mecanismos altamente associados: o padrão de expressão genética da célula e o equilíbrio entre sinais externos provenientes do meio ambiente e da MO. O equilíbrio entre a produção de fatores estimulantes e de fatores inibidores Catarina Nykiel - MedManas permite evitar expansão inadequada, com depleção das células-tronco ou produção insuficiente das células na medula óssea. As interleucinas e os fatores de crescimento denominados CSF (fatores estimuladores de colônia ou Colony-Stimulating Factor) são os principais mediadores da hematopoiese, existindo, para cada linhagem celular, interleucinas ou fatores específicos. Dois exemplos: a. Eritropoetina: é uma substância peptídica produzida no parênquima renal, pelas células tubulares proximais, em resposta à hipóxia tecidual. Funciona como um hormônio regulador da produção de hemácias, estimulando os progenitores eritróides a formar mais eritroblastos na medula óssea. A síntese de EPO é promovida pela hipóxia, isso porque ela possui genes que conferem sensibilidade à concentração de oxigênio. b. GM-CSF: fator estimulador de colônia de granulócitos e monócitos, produzido pelos macrófagos, fibroblastos e células endoteliais dos diversos tecidos do corpo, em resposta à inflamação. Esse fator estimula a formação de mieloblastos e monoblastos, culminando numa maior produção de neutrófilos e monócitos, as principais células de defesa. A administração exógena de G-CSF causa alterações morfológicas típicas de infecções, tais como granulação tóxica e desvio à esquerda. Outro efeito é a liberação prematura de progenitores na circulação periférica por meio da liberação de metaloproteases no ambiente medular. A produção de G-CSF é induzida por várias moléculas que têm seus níveis séricos aumentados durante a inflamação, como a interleucina-1-beta (IL-1beta), o fator de necrose tumoral (FNT-alfa) e o lipopolissacarídeo (LPS). c. Trombopoetina: produzida principalmente no fígado, rins e músculos. A eliminação da produção dessa citocina reduz em 90% a produção de plaquetas, com impacto profundo também sobre a produção de células progenitoras. A expressão de trombopoetina é aumentada em condições inflamatórias crônicas e em algumas neoplasias, explicando a trombocitose eventualmente encontrada nessas situações. d. Outroselementos: ferro, vit B12, folato e outros O microambiente é constituído por uma rede microfibrilar reticulínica complexa, células endoteliais, miócitos, fibroblastos, condrócitos, células gordurosas, osteoclastos e blastos, macrófagos e linfócitos que fazem a sustentação das células hematopoiéticas e a produção de fatores estimulantes, depressores e ligantes. !!! Essas células não estão distribuídas de modo aleatório, mas seguem um arranjo anatômico, com as células mais maduras localizadas próximas aos seios vasculares, permitindo liberação rápida em caso de necessidade e com as células mais imaturas em posição mais profunda. Já as células-tronco estão localizadas no limite entre a medula ósse e o osso, em uma região chamada de endósteo, nessa posição elas ficam próximas a células endoteliais, osteoblastos e osteoclastos. Esse nicho (osteoblástico) é capaz de manter as CTH em estado quiescente ou permitir sua evolução dentro de linhagens específicas. A regulação é efetuada por meio de vias de sinalização, como a da BMP (bone morphogetic protein) e do receptor de paratormônio-like. O nicho vascular, por sua vez, está mais envolvido na maturação, na liberação e na destinação (homing) das células hematopoéticas. CÉLULAS LIGANTES: Moléculas de adesão possuem receptores específicos sobre as células estromais e as hematopoéticas. Com a evolução da maturação, os receptores têm sua expressão de superfície atenuada, e as células tornam-se menos aderidas ao ambiente medular, iniciando sua jornada pela parede do seio venoso e pela corrente sanguínea. Isso é regulado por fatores de crescimento. ERITROPOIESE O compartimento das células precursoras é caracterizado pela presença de características morfológicas que permitem sua identificação à microscopia óptica. A primeira célula reconhecível da linhagem eritróide é o proeritroblasto (PE), que se diferencia progressivamente em eritroblasto basófilo (EB), eritroblasto policromático (EPC) e eritroblasto ortocromático (EOC), que, com a extrusão do núcleo, se transforma em reticulócito. A ausência do núcleo, uma característica singular das hemácias observada somente entre os mamíferos, diminui o consumo de oxigênio e melhora a flexibilidade das células eritróides, tornando o transporte de gases mais eficiente. Pró-eritroblasto → eritroblasto basofílico → eritroblasto policromatofílico → eritroblasto Catarina Nykiel - MedManas ortocromático (hemácia nucleada) → reticulócito (não nucleada)→ hemácia ou eritrócito ● Formação da hemoglobina A hemoglobina é uma macromolécula formada por 4 cadeias polipeptídicas denominadas globinas, cada uma combinada a uma porção heme. Existem vários tipos de globina, cada um recebendo a denominação de uma letra do alfabeto grego (alfa, beta, gama, delta). O heme é uma molécula formada por 4 aneis aromáticos (protoporfirina) com um átomo de ferro no centro no seu estado de íon, Fe2+, capaz de se ligar ao O2. Assim, cada molécula de hemoglobina é capaz de se ligar a 4 moléculas de O2, pois possui 4 cadeias de globinas ligadas a 4 agrupamentos heme. A Hb tem a função primordial de carrear oxigênio para os diversos tecidos do organismo. Sua síntese ocorre precocemente na mitocôndria das células da linhagem vermelha, iniciando-se na fase de pró-eritroblasto e perpetuando-se até a formação do reticulócito. A!!! A hemoglobina pode ser: 1. Hemoglobina A2: possui duas cadeias alfa e duas delta 2. Hemoglobina F (fetal): é a principal da vida fetal e possui duas alfa e duas gama - Síntese do heme A primeira etapa na síntese do heme consiste na combinação de duas moléculas de succinilcolina (vindas do ciclo de Krebs) com duas de glicina, formando um composto pirrólico, o ácido aminolevulínico (ALA). Através de uma série de reações enzimáticas, compostos pirrólicos dão origem à protoporfirina IX ("nove"), que se combina com o Fe+2 para formar a estrutura do heme. Catarina Nykiel - MedManas
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