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Texto: SARAIVA, José Flávio Sombra. História das Relações Internacionais: o objeto de estudo e a evolução do conhecimento in: SARAIVA, José Flávio S. (Org.) “História das Relações Internacionais Contemporâneas – da sociedade Internacional do século XIX à era da globalização” 2ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. (Capítulo 1, pp. 7-40) No texto em questão, José Flávio Saraiva começa comentando a redefinição do pensamento em relação ao cenário internacional nos anos 1980 e 1990, decorrentes dos acontecimentos decisivos das últimas décadas. Para ilustrar esse fenômeno, o autor recorre a perda de confiabilidade nas diferentes teorias que se formaram antes dessa transição e que pouco fizeram jus ao que de fato se passou. (SARAIVA, 2007, pp. 1-2) Nesse contexto, com o fim definitivo da ordem mundial bipolar, os analistas de relações internacionais não conseguiam realizar um estudo concreto acerca do novo quadro que se formara, a partir da insatisfação com essa situação métodos mais eficientes de análise foram desenvolvidos: Jean-Baptiste Duroselle teria marcado essa evolução segundo ele. Ainda, para Saraiva (SARAIVA, 2007, p. 4), “A delimitação do objeto de estudo das relações internacionais está umbilicalmente ligada ao nome Pierre Renouvin”, dessa maneira, para ele, o historiador, que viveu a 1ª e 2ª Guerras Mundiais, ampliou o entendimento das relações entre culturas e povos. Assim, a partir da década de 1990 várias outras metodologias e teorias eclodiram fundamentadas por centenas de historiadores. Outro destaque para o autor foi Adam Watson que, assim como Renouvin, trouxe novas perspectivas para as relações internacionais bem como sem dispensar o conhecimento que o precedeu. Consequentemente, a partir de sua obra, Renouvin inspirou a criação de uma verdadeira escola francesa de relações internacionais. (SARAIVA, 2007, p.5) Buscando uma nova interpretação a partir das diversas faces da sociedade sem desassociá-la da história das civilizações e tentando superar o passado diplomático, Pierre Renouvin tentava dar um novo rumo a visão das relações internacionais. Seu primeiro díscipulo foi, justamente, Jean-Baptiste, juntos, eles publicaram um livro com 8 volumes que foi um marco graças ao tom contemporâneo de Duroselle que também trouxe o conceito dos sistemas de causalidades e finalidades para o campo de estudos. (SARAIVA, 2007, p. 7-8) Continuando nessa linha, o autor designa René Girault o próximo herdeiro da linha de pensamento de Renouvin, que em sua obra, com três volumes, concentrou-se na Europa e nos imperialismos da virada do século XIX para o século XX. (SARAIVA, 2007, p. 9) José Saraiva ainda segue dando outros exemplos de historiadores da escola francesa que retrataram o período e um pouco de sua evolução ao longo do tempo. Já a contribuição do Reino Unido, mesmo que não tão fervorosa quanto a da França, também foi significatica para o âmbito acadêmico: a impotância da London School na formação de talentos se equivale ao do Instituto Pierre Renouvin. (SARAIVA, 2007, p. 10) Os temas recorrentes entre os historiadores britânicos incluiam as guerras mundiais e as relações anglo-americanas, entretanto, novos objetos de estudo também surgiram, como a mídia e a opinião pública nas relações internacionais, entre outros. José Saraiva reforça que o uso de arquivos diplomáticos por esses autores deu a eles um novo ponto de vista dessas relações, principalmete acerca da nova integração e interdependência da Europa durante o pós-guerra. Dessa maneira, essa visão insular concretiza sua confiança em teorias com base histórica. Nesse sentido, se sobressai Adam Watson, que fez um estudo contundente tanto teórico quanto empírico sobre a evolução dos Estados. (SARAIVA, 2007, pp. 11-14) Além desses dois centros de estudo das relações internacionais, há outros países na Europa que também se desenvolveram nessa pesquisa. (SARAIVA, 2007, p. 15) O primeiro exemplo é a Itália, foi com Federico Chabod que nasceu essa tradição nos estudos históricos e, em consonância com Renouvin, ele também buscou uma integração dos valores que influenciam na vida internacional, com um cunho mais racionalista. Com a evolução dessa corrente, outro tema surgiu: a quetão da unidade nacional e suas implicações internacionais. Daí, destacou-se Mario Toscano, que se afastava mais do discurso francês. A partir das críticas à falta de valorizção da história, Saraiva demonstra a aproximação italiana aos debates britânicos. (SARAIVA, 2007, pp. 16-18) O próximo exemplo que Saraiva apresenta é a Suiça, de influência francesa e famosa neutralidade, ele enuncia suas principais características. Primeiro, o interesse por temas do mundo conteporâneo e em segundo lugar, a aproximação da história à ciência política. (SARAIVA, 2007, p. 18) Também chama atenção para o fato de essa escola aproximar a história ao direito e por construir uma boa sedimentação institucional com o Institut des Hautes Études Internationales, que vem deixando sua marca a partir do estudo da política internacional. Outros países da Europa ainda, apesar de não se destacarem tanto quanto os outros já mencionados, possuem pesquisas no campo: A Bélgica dá destaque para o estudo de sua própria inserção internacional e sua neutralidade frente a ameaças externas. Mas, se a Bélgica tem um histórico pouco represetativo nos estudos de relações internacionais, a Alemanha tem uma escola inexistente para esse fim, apesar de possuir o potencial. Contudo, os países com menos exploração dessa área são Espanha e Portugal, embora estejam tentando reverter essa situação. (SARAIVA, 2007, pp. 20-23) Saindo da Europa ocidental há importantes núcleos de estudos para o campo na perspectiva contemporânea nas relações internacionais, como na Finlândia, Rússia, Japão, entre vários outros. (SARAIVA, 2007, p. 23) Entretanto, o autor dá ênfase ao continente americano. Entre os Estados Unidos, o Canadá e o México há uma convergência para o pensamento americano. Os EUA passaram pela formação de diversas teorias, especialmente no período das guerras, não houve uma escola propriamente dita como nos casos francês e britânico, mas sim uma integração entre história e ciência política para entender a inserção do país no cenário internacional e justificar suas posições. Há, ainda, muitos estudos sobre as relações internacionais dos EUA atualmente. (SARAIVA, 2007, pp. 24-29) Finalmente, na América do Sul os países mais representativos no estudo da história das relações internacionais são Argentina e Brasil. Saraiva enumera três características em comum entre os dois países: a influência da escola francesa, a ênfase no tema desenvolvimento para a inserção internacional dos dois países e o entrosamento que os historiadores brasileiros e argentinos vêm desenvolvendo. Todavia, também há diferenças: Na Argentina estuda-se pricipalmente a inserção do país no cenário internacional e sua política externa. Já no Brasil há uma tradição maior no âmbtito universitário se preocupando também com sua inserção internacional. Os dois países, assim, cooperam para a superação de seus estigmas e o desenvolvimento do Cone Sul no exterior. (SARAIVA, 2007, pp. 29-33)