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FICHA TÉCNICA © 2019. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz & SE/UNASUS & Universidade de Brasília Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação, adaptação e utilização desta obra, em parte ou em sua totalidade, de acordo com os termos de cessão e de uso da UNA-SUS. A citação da fonte é obrigatória e é vedada sua utilização comercial. Ministério da Saúde Luiz Henrique Mandetta (Ministro) Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde - SGETS Mayra Pinheiro (Secretária) Secretaria de Vigilância em Saúde - SVS Wanderson Kleber de Oliveira (Secretário) Secretaria de Atenção Primária à Saúde - SAPS Erno Harzheim (Secretário) Coordenação Geral de Ações Estratégicas, Inovação e Avaliação da Educação em Saúde - CGIED Adriana Fortaleza Rocha da Silva (Coordenadora Geral) Departamento de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde - DEGES Hélio Agnotti Neto (Diretor) Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz Nísia Trindade Lima (Presidente) Secretaria-executiva da Universidade Aberta do SUS - UNA-SUS Fabiana Damásio (Secretário Executivo) Coordenação de Monitoramento e Avaliação - UNA- SUS Alysson Feliciano Lemos (Coordenador) Edição, Validação e Homologação - UNA - SUS Paulo Biancardi Coury Claudio Maierovitch Peçanha Henriques Samara Rachel Vieira Nitão Equipe do Ministério da Saúde Diretor DEIDT/SVS: Júlio Henrique Rosa Croda Coordenador CGZV: Marcelo Yoshito Wada Coordenador CGARB: Rodrigo Fabiano do Carmo Said Diretor DSASTE/SVS: Daniela Buosi Rohlfs Coordenador CGSAT: Karla Freire Baêta Diretor DAEVS/SVS: Sônia Brito Coordenadora CGDEP: Elisete Duarte Validadores da SVS/Ministério da Saúde: Charles Dikison Souza Guimarães (CGSAT/DSASTE/SVS) Elisa Neves Vianna (CGARB/DEIDT/SVS/MS) Francisco Edilson Ferreira de lima Junior (CGZV/DEIDT/ SVS/MS) João Lucas Mendonça Dilly Alves (CGARB/DEIDT/SVS/MS) José Maria Viana dos Santos (CGSAT/DSASTE/SVS) Kauara Brito Campos (CGARB/DEIDT/SVS/MS) Mayara Maia da Costa (CGZV/DEIDT/SVS/MS) Noely Fabiana Oliveira de Moura (CGARB/DEIDT/SVS/MS) Rafaella Albuquerque Silva (CGZV/DEIDT/SVS/MS) Renato Vieira Alves (CGZV/DEIDT/SVS/MS) Samuel Brauer Nascimento (CGDEP/DAEVS/SVS) Tatiana Mingote Ferreira de Azara (CGARB/DEIDT/SVS/MS) Tatiane Fernandes Portal de Lima (CGDEP/DAEVS/SVS) Veruska Maia da Costa (CGZV/DEIDT/SVS/MS) Bárbara Ferreira Leite (CGIED/DEGES/SGTES) Bethânia Ramos Meireles (CGIED/DEGES/SGTES) Universidade de Brasília Márcia Abrahão Moura (Reitora) Enrique Huelva (Vice reitor) Gustavo Adolfo Sierra Romero (Diretor da Faculdade de Medincina) Equipe UNA-SUS / Universidade de Brasília Coordenadora Geral - UNASUS-UnB Gilvânia Coutinho Silva Feijó Coordenador de Produção de Educação a Distância) Jitone Leônidas Soares Jonathan Gomes Pereira dos Santos Autores Marcos Takashi Obara Rodrigo Gurgel Gonçalves Editor técnico Kátia Crestine Poças Celeste Aida N. Silveira Juliana F. Fracon e Romão Maria da Glória Lima Raul Luis de Melo Dusi Designer Instrucional Rute Nogueira de Morais Bicalho Designer Gráfico Daniel Alves Tavares Web designer Gabriel Cavalcanti D´Albuquerque Magalhães Ilustrador de EaD Thiago Fagundes Editor de Audiovisual Cristiano Alves de Oliveira Frankisnei Lopes Antônio Leite Sumário Organização .................................................................... 5 Objetivos ......................................................................... 6 Apresentação ................................................................. 7 Atividade 1 – Vigilância Entomológica: Conceitos e Objetivos .................................................. 11 Planejamento da vigilância entomológica ................ 16 Atividade 1- Exercícios ................................................. 21 Atividade 2 - Indicadores de Vigilância Entomológica e Métodos de Captura de Insetos Vetores ............................................................. 22 Culicídeos ...................................................................... 23 Culicídeos: Método para ovo ...................................... 24 Culicídeos: Método para larvas .................................. 25 Culicídeos: Método para pupa ................................... 26 Culicídeos: Método para culicídeos adultos ............. 27 Flebotomíneos ............................................................. 29 Triatomíneos ................................................................ 29 Indicadores de competência e capacidade vetorial ................................................... 34 Indicadores de competência e capacidade vetorial ...................................................... 35 Culicídeos ...................................................................... 36 Indicadores de competência e capacidade vetorial ................................................... 37 Flebotomíneos ............................................................. 38 Triatomíneos ................................................................ 39 Indicadores relacionados a fatores ambientais ..... 40 Sistema de informações entomológicas ................... 44 Métodos de captura de insetos vetores ................... 47 4 Atividade 2 - Exercícios ................................................ 52 Atividade 3 - Controle vetorial: objetivos e métodos .................................................... 53 Atividade 3 - Exercícios ................................................ 68 Atividade 4 - Métodos de Controle de Culicideos, Flebotomíneos e Triatomíneos .................................. 69 Gossário ........................................................................ 84 Mapa Mental................................................................. 85 Referências ................................................................... 86 Sobre o autor................................................................ 89 5 Organização 6 Objetivos 7 Apresentação Olá, seja bem-vindo(a) à Unidade Vigilância Entomológica e Métodos de Controle Vetorial! Esta unidade aborda conceitos e objetivos da vigilância e controle de insetos vetores, apresentando os principais métodos e indicadores para alcançar os objetivos, com foco em flebotomíneos, em culicídeos e em triatomíneos. A vigilância entomológica é um instrumento fundamental para administrar e operacionalizar os indicadores nos programas e controle de doenças transmitidas por vetores. Para realização dessa atividade, há a necessidade de conhecer os indicadores entomológicos e os métodos de captura de vetores para gerar esses indicadores. A interpretação dos dados entomológicos é fundamental para o planejamento das atividades de controle de vetores de interesse em saúde pública, que objetiva limitar ou eliminar insetos ou outros artrópodes que transmitem patógenos causadores de doenças. Para alcançar esses objetivos, podem ser usados diferentes métodos de controle: químico, mecânico, biológico, legal, genético e ações educativas. Para se alcançar os objetivos da vigilância entomológica e do controle de insetos vetores, são fundamentais: a capacitação dos agentes de saúde, a interação com as vigilâncias ambiental e epidemiológica e o planejamento das ações, como veremos nesta Unidade Didática. Vamos começar nossos estudos com um pouco de história Você sabia que, apenas no final do século XIX, descobriu-se que algumas espécies de insetos poderiam transmitir patógenos durante a picada. Pois é, foi apenas em 1878 que Sir Patrick Manson demonstrou que Wuchereria bancrofti (agente etiológico da filariose linfática) era transmitida durante a picada de fêmeas infectadas de mosquitos do gênero Culex. Posteriormente, Grassi e colaboradores (1898) comprovaram que os mosquitos anofelinos eram capazes de transmitir os plasmódios (agentes etiológicos da malária) para humanos. 8 Já em 1901, Walter Reed evidenciou que a febre amarela urbana era transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti. A partir da confirmação da transmissão de agentes etiológicospor meio de insetos vetores, surgiu a necessidade de identificar as espécies separando-as daquelas sem importância médica (Machado- Allison, 2004). Portanto, era necessário distinguir bem os transmissores dos não-transmissores para que as estratégias de controle fossem específicas e eficazes. Passamos agora para o início do século XX, quando os caracteres morfológicos permitiram a identificação das espécies, o que culminou em centenas de descrições de insetos vetores. Nessa época, também foram realizados os primeiros esforços, em grande escala, de controle de febre amarela e malária, baseados na busca de larvas de mosquitos e eliminação de criadouros por meio de controle mecânico, aplicação de óleo em copos de água (para evitar que as larvas respirem) e pulverização de vapores de enxofre ou piretro. 9 Em 1939, na Suíça, Paul Muller desenvolveu o primeiro inseticida sintético de efeito prolongado ou propriedade residual conhecido como DDT (dietildlicloro difeniltricloroetano). Durante a Segunda Guerra Mundial, o DDT foi muito utilizado contra piolhos humanos, pulgas dos ratos e mosquitos. O DDT era aplicado, em forma de pó, por meio de uma mangueira na abertura das roupas dos soldados para eliminar as pulgas que causavam o tifo. Estima-se que aproximadamente 1,3 milhões de pessoas tenham sido tratadas e, pela primeira vez na história, conseguiu-se deter uma epidemia do Tifo. Após a Segunda Guerra Mundial, também houve redução do número de casos da febre amarela em muitas áreas devido à aplicação do DDT e das vacinas, diminuindo assim o interesse pelo estudo dos artrópodes vetores (Machado-Allison, 2004). No início dos anos 1960, inúmeras populações de insetos vetores tornaram-se resistentes ao DDT e este foi sendo substituído por outros inseticidas (carbamatos e fosforados). A partir da década de 1970, houve o aumento da ocorrência de doenças como malária, leishmanioses, Doença de Chagas, filarioses, Doença de Lyme, dengue e outras arboviroses, necessitando-se da formação de novos grupos de entomologistas, aliados com profissionais nos campos da Imunologia, da Bioquímica e da Biologia Molecular para se alcançar uma melhor compreensão da dinâmica e dos mecanismos de transmissão vetorial e das formas de controle. Nessa época os inseticidas piretróides começaram a ser utilizados amplamente por causa da baixa toxicidade para os mamíferos e para o meio ambiente. 10 Depois dessa viagem no tempo, convidamos você... a estudar conceitos e objetivos da vigilância e do controle de insetos vetores, com foco em culicídeos, flebotomíneos e triatomíneos. 11 Atividade 1 – Vigilância Entomológica: Conceitos e Objetivos A vigilância entomológica é a observação e a avaliação de características biológicas dos insetos vetores e de suas interações com hospedeiros humanos e animais reservatórios (Gomes, 2002). Os principais objetivos são detectar qualquer mudança no perfil de transmissão dos patógenos e recomendar medidas de prevenção e de controle adequadas. A seguir, apresentamos os objetivos específicos. Figura 1. Insetos vetores, doenças relacionadas e formas de controle. Fonte: Marcos T. Obara e Rodrigo Gurgel Gonçalves. 12 13 Objetivos Identificar espécies de vetores (exóticos e nativos) por meio de caracteres morfológicos; Analisar aspectos biológicos e ecológicos dos vetores que podem estar associados à domiciliação e à transmissão; Propor indicadores entomológicos compatíveis com níveis de transmissão e avaliá-los continuamente para o embasamento das estratégias de intervenção; Identificar situações ambientais que favoreçam a reprodução e as estações climáticas mais sujeitas à disseminação de patógenos; Recomendar as medidas para eliminar ou para reduzir a abundância de vetores; Avaliar o impacto das intervenções na ocorrência dos vetores. A vigilância entomológica deve utilizar informações das interações dos vetores com os patógenos, seus hospedeiros e com o ambiente para avaliar quais fatores podem alertar precocemente a ocorrência da transmissão ou da epidemia. Essas interações ocorrem em diferentes níveis e podem ser diversas (Figura 2). Figura 2. A exposição à doença depende de fatores relacionados aos patógenos, hospedeiros e ambiente. 14 Figura 3. A exposição à doença depende de fatores relacionados aos Sinergismo mulfifatorial na produção e manutenção da dengue. Fonte: adaptado de Rouquayrol & Goldbaum, 2003. A Figura 3 mostra um exemplo da diversidade de fatores que podem estar relacionados com a transmissão dos patógenos por Ae. aegypti (Rouquayrol & Goldbaum, 2003). Dessa forma, há a necessidade de uma equipe multidisciplinar na vigilância para identificar os indicadores entomológicos mais adequados na predição da ocorrência de epidemias. 15 Figura 4. Organização estrutural da vigilância ambiental, epidemiológica e entomológica. A equipe multidisciplinar deve, ainda, interagir com as vigilâncias ambiental e epidemiológica (Figura 4). Para o desenvolvimento das atividades com vistas ao alcance dos objetivos, faz-se necessário planejar. Vamos falar sobre isso? 16 Planejamento da vigilância entomológica Após propor os indicadores mais representativos para medir o risco em uma área ainda livre ou infestada pelo vetor, deve-se estabelecer um estudo piloto para verificar a ocorrência de novos focos ou a extensão da área infestada. Ao se planejar o sistema de vigilância para cada vetor, deve-se considerar se a vigilância aplica-se à áreas livres do vetor, embora potencialmente sujeitas à emergência ou à reemergência, e se há abundância de vetores tanto exóticos como autóctones. Essas informações são fundamentais para o desenvolvimento das estratégias em diferentes níveis hierárquicos dos programas de vigilância e de controle nos âmbitos locais, estaduais, nacionais e iniciativas internacionais. 17 Na vigilância dos vetores da doença de Chagas, há uma clara relação entre esses níveis e a hierarquia biológica dos triatomíneos, de indivíduos a espécies. Figura 5. (Abad-Franch et al., 2016). Figura 5. Classificação hierárquica de quatro níveis de triatomíneos e sua relação com estratégias de vigilância de controle vetorial hierarquicamente estruturadas. Fonte: Abad-Franch et al. 2016 (adaptado pelo autor). Diretrizes operacionais 18 Conhecer o cenário das espécies e das populações colonizadoras em um determinado local é relevante para planejar a vigilância e prever as infestações. 19 Quadro 1. Itens fundamentais para operacionalização da vigilância entomológica 1 Identificação dos vetores; 2 Determinação da densidade dos vetores; 3 Impacto potencial das medidas de intervenção contra o vetor; 4 Custo e factibilidade da intervenção versus eficácia; 5 Existência de medidas eficazes de profilaxia e de controle; 6 Identificação de área do vetor sujeita ao risco de transmissão humana. 20 Quadro 2. Etapas de implementação da vigilância entomológica: 21 Atividade 1 Exercícios Atividade para complementar o estudo da Unidade (atividade livre, discutir os resultados com os gestores locais) 1. Buscar e avaliar criticamente as informações do planejamento da vigilância entomológica no município para mosquitos, flebotomíneos e triatomíneos. Caso não seja possível, elaborar um projeto-piloto de vigilância para esses insetos vetores baseados nos conceitos e nos objetivos da vigilância entomológica apresentados nesta atividade. 22 A identificação de indicadores de transmissão vetorial é fundamental para a vigilância das doenças, sendo úteis no planejamento e na administração do serviço de saúde. É atribuição da vigilância entomológica propor esses indicadores, representados por valores quantitativos e qualitativos, os quais devem descrever a situação epidemiológica, comparar essa situação entre áreas ou períodos e avaliar os programas a qualquer tempo. Para comparar as frequências de um indicador, torna-se necessário transformá-los em valores relativos, comnumerador e denominador, geralmente representados por proporções (Gomes et al., 1998). Atividade 2 Indicadores de Vigilância Entomológica e Métodos de Captura de Insetos Vetores Os indicadores na vigilância entomológica estão fundamentados em quatro parâmetros, que são os métodos para ovo, larvas, pupa e adultos (Gomes, 2002). De acordo com Gomes (2002): Os métodos estão descritos a seguir de acordo com o grupo de inseto vetor. 23 Os culicídeos constituem grupo de vetores de grande importância em saúde pública. São insetos que apresentam metamorfose completa (ovo, larva, pupa e adultos, ver detalhes da morfologia e da biologia na Unidade 1). Em qualquer um desses estágios, há indicadores. Culicídeos 24 Culicídeos: Método para ovo 25 Culicídeos: Método para larvas 26 Culicídeos: Método para pupa 27 Figura 13. Detalhes do aparelho bucal de flebotomíneos. Culicídeos: Método para culicídeos adultos 28 Figura 6. Indicadores entomológicos para mosquitos. Indicadores entomológicos: Culicídeos. Fonte: Gomes et al. (1998) 29 Flebotomíneos Triatomíneos Como visto na Unidade 1, os criadouros de flebotomíneos são pouco conhecidos. Essa característica dificulta o desenvolvimento de indicadores de larva ou de pupa. Assim sendo, a taxa de infestação de um local tem sido determinada pelo cálculo da infestação domiciliar, baseado na captura manual das fêmeas que buscam alimentação sanguínea nas casas. Outra forma de medida da densidade relativa pode ser feita com aspirador elétrico. O resultado é o cálculo da densidade por técnica ou a quantidade de espécies de flebotomíneos por armadilha (Figura 7). Para esse indicador, normalmente, utiliza-se a armadilha CDC ou HP (ver Atividade 3). Quando se utiliza a armadilha de Shannon, calcula-se a média horária. A presença de triatomíneos adultos é um indicador de infestação domiciliar (Figura 7) no intra e peridomicílio. Quando não são encontradas as ninfas nos ambientes, o adulto serve de alerta para vigilância entomológica na vigilância da sua colonização. A presença de ninfas é um indicador da infestação domiciliar ou anexos domiciliares (Gurgel-Gonçalves et al., 2012). A densidade triatomínica domiciliar (número de exemplares de triatomíneos capturados dividido pelo número de unidades domiciliares pesquisadas e a colonização (número de unidades domiciliares com presença de ninfas x 100, dividido pelo número de unidades domiciliares pesquisadas) também são indicadores usados na vigilância dos vetores da doença de Chagas nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. 30 Figura 7. Indicadores entomológicos para triatomíneos e flebotomíneos. Fonte: Gomes et al. (1998) 31 Indicadores entomológicos foram utilizados junto com indicadores ambientais, demográficos e socioeconômicos para analisar a vulnerabilidade para transmissão vetorial de T. cruzi no Brasil (Vinhaes et al., 2014). Nesse estudo, foram analisados dados de ocorrência de triatomíneos domiciliados no Brasil entre 2007 e 2011. A vulnerabilidade dos municípios foi avaliada com base em indicadores socioeconômicos, demográficos, entomológicos e ambientais e verificou-se que 2.275 municípios foram positivos para, pelo menos, uma das seis espécies de triatomíneos (Panstrongylus megistus, T. infestans, T. brasiliensis, T. pseudomaculata, T. rubrovaria e T. sordida). Os municípios que eram mais vulneráveis à transmissão vetorial ocorreram na região Nordeste e exibiram maior ocorrência de triatomíneos domiciliados, baixos níveis socioeconômicos e áreas antropizadas mais extensas. Essas análises permitiram identificar os estados e municípios mais vulneráveis à transmissão de T. cruzi por triatomíneos domiciliados, o que é fundamental para direcionar atividades adequadas de vigilância, de prevenção e de controle. Nos estados da região Norte, mais Maranhão e norte do Mato Grosso esses indicadores não são adequados, porque o comportamento dos triatomíneos dessa região é diferente, pois dificilmente colonizam as casas. Em vez disso, eles ocorrem em habitats naturais ao redor de casas, como palmeiras, por exemplo (Abad-Franch et al., 2015). 32 Triatomíneos do gênero Rhodnius (ver Unidade 1) são frequentemente encontrados em palmeiras, as quais são comuns em diferentes ecossistemas na América do Sul, assim como em ambientes urbanos. Triatomineos frequentemente invadem casas desde palmeiras próximas, as quais podem manter colônias com mais de 300 indivíduos. Trinta e oito espécies de palmeiras têm sido registradas com infestação por cerca de 39 espécies de triatomíneos. As taxas de infestação variam de 49% a 55%, dependendo da espécie de palmeira. Palmeiras maiores e frondosas com muita matéria orgânica na copa (por exemplo, babaçus) apresentam maiores colônias de triatomíneos do que palmeiras com copas menores, como carnaúbas. As palmeiras apresentam habitat adequado climaticamente e nelas são encontrados animais (anfíbios, répteis, aves e mamíferos) que servem como fontes alimentares para os triatomíneos, e elas têm sido consideradas indicadores da transmissão enzoótica de Trypanosoma cruzi nas Américas. Além disso tem sido registrada a invasão de triatomíneos em apartamentos provenientes de palmeiras exóticas (palmeira imperial, por exemplo) presentes em avenidas de cidades. Dessa forma, conhecer as taxas de infestação e as densidades de triatomíneos por palmeira é importante para subsidiar as estratégias de vigilância e de controle de triatomíneos (Abad-Franch et al., 2015). Há a necessidade de desenvolver novos indicadores nos quais não haja o vetor domiciliado, por exemplo, baseando-se na presença de palmeiras infestadas, na densidade de triatomíneos por palmeira e na proximidade delas das casas. Além disso, a taxa de infecção natural por Trypanosoma cruzi (Figura 7) é um indicador da circulação do protozoário no ambiente domiciliar. 33 34 Indicadores de competência e capacidade vetorial A competência vetorial é a capacidade de uma população infectar-se com um patógeno e transmiti-lo após um período. Ela depende tanto da interação vetor-patógeno, assim como de fatores ambientais, como a temperatura. A capacidade vetorial é o conjunto de características fisiológicas e comportamentais intraespecíficas, as quais, associadas às condições ambientais, favorecem a transmissão natural das doenças. Essa capacidade pode ser representada por fórmulas matemáticas incluindo parâmetros da biologia do inseto vetor, como reprodução, sobrevivência e número de picadas (Brady et al., 2016). Outras características, como atividade horária diurna e noturna, preferências alimentares das fêmeas por tipos de hospedeiros, atividade intradomiciliar e picos de abundância sazonal, também podem ser avaliadas para determinar a capacidade vetorial. 35 Indicadores de competência e capacidade vetorial As espécies de triatomíneos, culicídeos e flebotomíneos podem apresentar diferentes níveis de capacidade e competência vetorial, sendo que esses parâmetros são fundamentais para a determinação das espécies com maior importância médica e, consequentemente, dos principais alvos para a vigilância e controle. A seguir, serão citados exemplos de espécies de insetos vetores que apresentam grande capacidade e competência vetorial. Doenças transmitidas por insetos vetores 36 Culicídeos Aedes aegypti é comprovadamente uma espécie de mosquito com relevante capacidade e competência vetorial para diferentes vírus (dengue, Zika, Chinkungunya e febre amarela). As fêmeas podem apresentar deslocamento significativo (ver Unidade 1), sendo que a espécie já mostrou ter ampla capacidade de dispersão considerando-se a extensão de sua distribuição geográfica após reintrodução. É antropofílica, endofágica, endofílica, domiciliada e suscetível a diferentes linhagens do vírus da dengue, assim com Zika, Chinkungunya e febre amarela. Dessa forma, é o principal alvo para as campanhas de controle de mosquitos. Alguns estudos mostramque a capacidade vetorial de Ae. aegypti é dependente da temperatura e que as mudanças climáticas podem ter efeito na ocorrência desse mosquito e, consequentemente, no potencial de transmissão de dengue (Naish et al., 2014). 37 Indicadores de competência e capacidade vetorial Culex quinquefasciatus é o principal vetor do verme W. bancrofti (ver Unidade 1), porém pesquisas recentes têm sugerido que esse mosquito também pode ser vetor de Zika. Portanto, a comprovação desses resultados é fundamental para o desenvolvimento das estratégias de controle (Guedes et al., 2017). Finalmente, Anopheles darlingi é reconhecidamente a principal espécie transmissora de Plasmodium no Brasil, apresentando ampla distribuição, hábitos antropofílicos e endofágicos, além de ser suscetível para as três espécies de protozoários responsáveis pelos casos de malária no Brasil (Plasmodium falciparum, P. vivax e P. malariae), (Marcondes, 2011). Outro mosquito relevante na transmissão de arboviroses é Aedes albopictus, o qual apresenta capacidade de proliferação similar a do Ae. aegypti. As diferenças morfológicas entre essas espécies foram abordadas na Unidade 1. Apesar de Ae. albopictus ter sido introduzido no Brasil na década de 1980, até o momento, não há registro de exemplares adultos infectados com o vírus da dengue no País. 38 Flebotomíneos Existem critérios bem estabelecidos na literatura para incriminar uma espécie de flebotomíneo como vetora de Leishmania: Poucas espécies já foram estudadas considerando todos esses aspectos e os poucos estudos feitos para determinar a capacidade vetorial dos flebotomíneos mostram que Lutzomyia longipalpis e Lu.cruzi atendem vários dos requisitos de capacidade vetorial para a transmissão de L. infantum (Falcão de Oliveira et al., 2017). 39 Triatomíneos Vários fatores influenciam a capacidade vetorial de triatomíneos, tais como nível de adaptação ao ambiente domiciliar, alimentação de sangue humano, quantidade de sangue ingerido, densidade populacional, comportamento de defecação. Em relação à competência vetorial, muitos estudos foram feitos para determinar tanto a susceptibilidade das espécies de triatomíneos a linhagens de T. cruzi, assim como as taxas de infecção natural. Esses estudos indicam que algumas espécies no Brasil, como Panstrongylus megistus, Triatoma infestans, T. brasiliensis, T. pseudomacumata, T. sordida e T. rubrovaria, apresentam boa capacidade vetorial. T. infestans é uma espécie que apresenta várias caraterísticas que favorecem a transmissão de T. cruzi: grande capacidade hematofágica, alta densidade populacional, defecação durante ou logo após alimentação, boa capacidade de dispersão e domiciliação, ampla distribuição geográfica e alta suscetibilidade para T. cruzi (Gurgel-Gonçalves et al., 2012). 40 Indicadores relacionados a fatores ambientais Variáveis climáticas podem ser indicadoras de ocorrência de insetos vetores. Valores de temperatura e precipitação mais elevados estão associados ao aumento da ocorrência de mosquitos pois favorecem o desenvolvimento de seus ciclos de vida. Estudos avaliando a sazonalidade de culicídeos, flebotomíneos e triatomíneos são fundamentais para a avaliação das atividades de vigilância e de controle. Por exemplo, a ocorrência do mosquito Ae. aegypti e do triatomíneo P. megistus é maior no período quente e chuvoso (Figura 8) (Souza et al., 2010, Maeda et al., 2012). Esses estudos devem ser realizados ao longo dos meses por, no mínimo, dois anos para estabelecer-se o período de maior ocorrência dos vetores. 41 Figura 8. Sazonalidade de insetos vetores. Infestação predial de Aedes aegypti (A) e pluviosidade média (B) no estado de Goiás. C. Número de Panstrongylus megistus capturados ao longo do ano no Distrito Federal em domicílios (2002 a 2010). Fonte:Souza et al. (2010); Maeda et al. (2012). 42 43 A distribuição das espécies de triatomíneos é influenciada por variáveis climáticas. É possível predizer locais de ocorrência em áreas onde não existem registros de triatomíneos. Pesquisas mostraram que as condições climáticas no Brasil são muito favoráveis para a ocorrência de triatomíneos, de modo que, provavelmente em todo o território brasileiro, há a ocorrência de uma ou mais espécies de triatomíneos (Gurgel-Gonçalves et al., 2012b). Estudos similares com flebotomíneos mostram clara influência de variáveis climáticas na distribuição desses insetos na região Centro-Oeste do Brasil; a sazonalidade da temperatura é a que tem maior influência na distribuição de espécies (Almeida et al., 2015). Com esses resultados, é possível produzir mapas de distribuição potencial das espécies de vetores indicando-se as áreas mais favoráveis para ocorrência dos mesmos. Tal informação pode auxiliar a vigilância entomológica a prever os locais de ocorrência dos vetores. 44 Sistema de informações entomológicas A obtenção dos dados para a produção dos indicadores acima descritos pode ser realizada com a participação comunitária (método passivo) ou pelos trabalhos de vigilância desenvolvidos por agentes de saúde (método ativo). 45 O método ativo envolve pesquisas de monitoramento dos vetores ou levantamento de fauna realizados pelos agentes com a utilização de métodos de captura descritos a seguir. A vigilância ativa é baseada na utilização de métodos sistemáticos e rotineiros de captura dos vetores executados por equipe especializada. Esse método tem maior custo e necessita de estrutura e de mão de obra especializada, o que dificulta sua continuidade em larga escala. Os dados gerados são anotados em fichas de campo, as quais são utilizadas de acordo com a realidade local ou o estado, e alimentam sistemas que produzem indicadores a serem utilizados pela vigilância, como por exemplo, SIVEP-Malária (SVS, 2017), LIRA (Brasil 2013), SISPNCD (SES MG, 2017) e MI-Dengue (disponível em: http://v1.ecovec.com/midengue.php). A vigilância com participação comunitária conta com pessoas estimuladas a capturar e a transportar os insetos aos postos de notificação identificados pelo programa. Esse sistema pode funcionar muito bem, por exemplo, na vigilância dos triatomíneos com o auxílio de campanhas educativas e de cartazes para divulgar o programa (Figura 9). Reportagens na televisão e em jornais também auxiliam a divulgar o que a comunidade deve fazer ao encontrar um triatomíneos (ver exemplos em: http://g1.globo.com/distrito-federal/bom-dia-df/videos/t/ edicoes/v/morador-de-aguas-claras-encontra-barbeiro-dentro- do-quarto-dele/6324217/; http://www.jornaldebrasilia.com.br/ cidades/aparicao-do-inseto-transmissor-da-doenca-de-chagas- acende-alerta-em-aguas-claras/). A avaliação desse sistema mostra que a notificação voluntária tem resultado de detecção mais sensível para triatomíneos do que a pesquisa feita pela equipe de campo (Abad-Franch et al., 2014). Para atender a ambos os métodos (ativo e passivo), há a necessidade de um serviço especializado de laboratório que possibilite a identificação do material coletado para gerar a informação para tomada de decisão nas atividades de controle (Gomes, 2002). 46 Figura 9. Exemplos de cartazes educativos produzidos para a vigilância dos vetores da doença de Chagas. Fonte: secretaria do Estado de Saúde e Fiocruz - BH 47 Métodos de captura de insetos vetores As ovitrampas são potes escuros com capacidade de, aproximadamente, 500 mL de água contendo uma palheta de Eucatex (Figura 10), onde as fêmeas de Ae. aegypti e Ae. albopictus depositam os ovos (Fay & Eliason, 1966). Esses ovos são identificados e contados para a obtenção dos indicadores apresentados na atividade anterior. As larvitrampas são reservatórios de água escuros (pneus ou potes) com água (Figura 10), que são colocadas em locais onde não existem outras opções para a postura da fêmea dos mosquitos, porém são considerados porta de entrada do vetor adulto (portos, aeroportos, terminais rodoviários) (Brasil, 2001). As tradicionaissão produzidas com pneus, porém existem outras opções, como o uso de potes com água, mas sem paletas, garrafas PET, e as larvitrampas comerciais (Figura 10). Nas larvitrampas, podem ser encontradas larvas de outras espécies, não somente Aedes spp. O poder atrativo dessas armadilhas pode ser melhorado com a adição de solução de feno a 10%. Elas devem permanecer no local de captura por até 5 dias; períodos maiores não são recomendados para não servirem de criadouros e, dessa forma, produzirem pupas e adultos. Figura 10. Exemplos de armadilhas para larvas e ovos de mosquitos. Larvitrampa Larvitrampa comercial Ovitrampa Ovitrampas e larvitrampas (culicídeos) 48 Os mosquitos adultos podem ser capturados de várias maneiras. O método de aspiração consiste no uso de aspiradores elétricos (Figura 11). Após autorização do morador, uma dupla de pesquisadores entra na casa, com um desalojando os mosquitos e com o outro aspirando com o aspirador grande. Os mosquitos aspirados são retirados do aspirador grande com um aspirador pequeno acoplado a potes de transporte. O tempo de aspiração é registrado em cada casa e o número de mosquitos adultos capturados por unidade de tempo é considerado com indicador (Brasil, 2001). Entre as armadilhas para captura, existem aquelas com atrativos baseados em feromônios, como a mosquitrap, a BG sentinela e aquelas que funcionam apenas com água, como a adultrap (Figura 11). Algumas armadilhas são luminosas para captura de mosquitos noturnos e flebotomíneos, como a barraca de Shannon e a armadilha CDC ou HP (Figura 11). Armadilhas e aspiradores para adultos (mosquitos e flebotomíneos) 49 Adultrap Mosquitrap BG-sentinel Aspiradores elétricos HPBarraca de Shannon Figura 11. Exemplos de armadilhas para mosquitos adultos. 50 Os triatomíneos, tradicionalmente, são capturados manualmente nas unidades domiciliares (UDs) por pessoas treinadas e equipadas com luvas descartáveis, lanternas, pinças e/ou desalojantes químicos, por exemplo, pirisa, que possui baixa concentração de inseticidas (Figura 12). As UDs, tais como galinheiros, chiqueiros, currais e galpões, são possíveis locais de abrigo para os triatomíneos. Dessa forma, todo o ambiente intra e peridomiciliar é investigado (Gurgel-Gonçalves et al., 2012). O tempo de coleta em cada UD deve ser anotado para que o número de triatomíneos coletados seja usado como um indicador em função do tempo de coleta (método homem/hora). Outra forma de coleta é o uso de armadilhas adesivas com isca animal (Figura 12). Essas armadilhas são colocadas ao entardecer e inspecionadas na manhã seguinte, quando os triatomíneos podem ser visualizados aderidos na fita. Esse método tem sido mais usado em pesquisas relacionadas a triatomíneos silvestres (Noireau et al., 2002) Captura de triatomíneos Captura manual de triatomíneos Armadilhas adesivas com isca animal Figura 12. Métodos de captura de triatomíneos. 51 52 Atividade 2 Exercícios Atividade para complementar o estudo da Unidade 1. Verifique que indicadores têm sido usados em seu município para a vigilância de mosquitos, triatomíneos e flebotomíneos. Caso não estejam sendo utilizados, elaborar os indicadores mais aplicados para a realidade local e os métodos necessários para gerar esses indicadores. 53 Atividade 3 Controle vetorial: objetivos e métodos O controle de vetores de interesse em saúde pública objetiva limitar e/ou eliminar insetos ou outros artrópodes que transmitem patógenos causadores de doenças. Para alcançar esse objetivo, podem ser usados diferentes métodos de controle: • químico; • mecânico; • biológico; • legal; • genético; • ações educativas. Porém, o consenso é que a melhor estratégia é o controle integrado de vetores que objetiva a utilização racional, integrada e sinérgica dos diferentes métodos de controle, os quais são descritos nessa atividade. 54 55 O controle químico consiste no uso de substâncias químicas conhecidas como inseticidas, os quais podem ser aplicados com a utilização de diferentes tecnologias (Figura 13) a serem detalhadas nas Unidades 4 e 5. Recomenda-se sua utilização para o controle de vetores nas fases imaturas e adulta em caso de não se dispuser de ferramentas de intervenção menos agressivas e eficazes. Como existem vários registros de desenvolvimento de resistência dos vetores, torna-se fundamental o uso racional e seguro dessas substâncias nas atividades de controle vetorial. Sua utilização tem como base as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que preconiza os princípios ativos desses produtos e recomenda as doses para os vários tipos de tratamento disponíveis. Os detalhes a respeito dos principais inseticidas químicos serão apresentados na Unidade 3. 56 Fonte: Marcos T. Obara http://www.ipatinga.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/ ipatinga-faz-alerta-contra-a-leishmaniose-visceral/11224 http://agencia.sorocaba.sp.gov.br/ses-utiliza-media-mensal- de-300-litros-de-veneno-em-nebulizacoes/ Figura 13. Diferentes métodos de aplicação de inseticidas químicos. 57Para oferecer novas alternativas de produtos que possibilitem alterar princípios ativos, no caso de resistência estabelecida a determinados produtos, nota-se que, nos últimos anos, numerosos produtos são continuamente pesquisados; dentre elas, destacamos: • Análogos de Hormônio Juvenil - Como esses produtos têm sua principal atuação na inibição de emergência de adultos, as larvas sobrevivem e a mortalidade ocorre principalmente no estágio de pupa; se as pupas sobrevivem à mortalidade, irá ocorrer durante a emergência do adulto. Desses produtos, o Methopreme (Altosid) é o mais conhecido. O piriproxifeno é outro dos compostos mímicos de hormônio juvenil com grande eficácia e também é recomendado para controle de mosquitos; • Inibidores da formação de quitina - Esses produtos interferem com o processo de muda, inibindo a formação de quitina. Os inibidores de síntese de quitina, como o diflubenzuron e o novaluron, atuam sobre as larvas, ocasionando a morte durante a ecdise. A larva não consegue eliminar a cutícula velha, pois, aparentemente, devido à inibição da deposição de quitina, não há rigidez suficiente para isso. As larvas podem sobreviver por algum tempo, mas eventualmente morrerão. 58 O controle mecânico tem como objetivos proteger, destruir ou destinar adequadamente os criadouros, a fim de impedir a proliferação dos insetos vetores (Figura 14). Recomenda-se que essas atividades sejam realizadas pelo próprio morador/ proprietário sob a supervisão dos agentes de saúde. Outras atividades de controle mecânico podem ser incorporadas pelos gestores municipais, tais como: • Coleta de resíduos sólidos com destino final adequado, em áreas com altos índices de infestação; • Coleta, armazenamento e destinação adequada de pneus, atividade que tem amparo legal na Resolução Conama nº 258 e que é executada em parceria entre a iniciativa privada e os municípios; • Vedação de depósitos de armazenamento de água, com a utilização de capas e tampas; • Drenagem e retificação de criadouros; • Destruição de criadouros temporários; • Telagem de portas e de janelas. 59 Figura 14. Métodos de controle mecânico de mosquitos. 60 É baseado na utilização de inimigos naturais específicos dos vetores, como predadores (peixes, invertebrados), parasitoides (vespas), parasitos ou patógenos (bactérias, fungos). Pode ser classificado como controle biológico natural quando há a ação desses inimigos naturais sem a intervenção humana ou artificial, quando o homem manipula o agente biológico para incrementar a ação desses agentes. O controle biológico tem a vantagem de não poluir o meio ambiente e não ser tóxico aos animais. A bactéria Bacillus thuringiensis israelensis tem elevada propriedade larvicida e seu mecanismo de atuação baseia-se na produção de endotoxinas proteicas, as quais, quando ingeridas pelas larvas, provocam sua morte (Vilarinhos & Monnerat, 2004). Formulações à base deB. thuringiensis vêm sendo comercializados em vários países para o controle de vetores. No Brasil, o Ministério da Saúde vem adotando o uso do Bti no controle de Ae. aegypti (Bti, Figura 15). 61 Figura 15. Exemplo de produto usado no controle biológico. 62 O uso da bactéria Wolbachia para controle biológico de mosquitos também tem sido investigado. Essa bactéria é um simbionte intracelular encontrada em aproximadamente 60% dos insetos e ela reduz pela metade o tempo de vida de um mosquito adulto, altera a fertilidade dos mosquitos e, ainda, pode bloquear a transmissão dos patógenos pelos mosquitos (Moreira et al., 2009). A soltura de mosquitos infectados com Wolbachia é uma abordagem de controle inovadora e autossustentável (ver Atividade 4). 63 Baseia-se na aplicação de normas de conduta regulamentadas por instrumentos legais de apoio às ações de controle dos vetores. As medidas de controle legal podem ser instituídas, no âmbito dos municípios, pelos códigos de postura, visando principalmente responsabilizar o proprietário pela manutenção e pela limpeza de terrenos baldios, assegurar a visita domiciliar dos agentes de saúde nos imóveis fechados, abandonados, e naqueles onde exista recusa à inspeção, além de regulamentar algumas atividades comerciais consideradas críticas do ponto de vista sanitário (Brasil, 2006). Desde 2016, os agentes de combate a endemias que trabalham no combate ao Ae. aegypti podem realizar entrada forçada em imóveis públicos e particulares abandonados ou com ausência de pessoa. 64 As normatizações para a entrada dos agentes de saúde estão na Lei nº 13.301, de 27 de junho de 2016. A iniciativa deve ser tomada apenas em situações excepcionais para permitir o controle do mosquito quando há perigo iminente à saúde pública, sendo que a entrada forçada em imóveis deve ser feita por profissional de saúde devidamente identificado em áreas com potenciais focos de mosquitos. Para comprovar a ausência do morador, é necessário que o agente realize duas notificações prévias em um intervalo de dez dias. Os proprietários de imóveis que não tomarem providências para eliminar os focos do mosquito poderão ser multados de acordo com a Lei nº 6.437, de 1977. Em casos de reincidência, o proprietário será multado em 10% do valor da multa inicial, e esse valor será dobrado em caso de nova reincidência. Para mais detalhes, recomenda-se a leitura da publicação Programa Nacional de Controle da Dengue: Amparo Legal à Execução das Ações de Campo – Imóveis Fechados, Abandonados ou com Acesso não Permitido pelo Morador (disponível em: http://bvsms.saude.gov.br /bvs/publicacoes/dengue_amparo_legal_ web.pdf). 65 Uma estratégia pioneira de controle genético é baseada na técnica do inseto estéril, utilizada há décadas no controle de pragas agrícolas. Ela se baseia na criação em massa, esterilização por radiação e liberação de muitos machos estéreis em uma área, os quais cruzam com fêmeas presentes naturalmente na área, reduzindo o potencial reprodutivo da população ao longo do tempo (Knipling, 1959). Essa técnica tem sido usada contra um número restrito de vetores, pois os machos irradiados são menos competitivos e apresentam um tempo de vida reduzido. Outra forma de controle genético baseia-se na liberação de insetos que carregam um gene letal dominante. Nessa estratégia, o vetor geneticamente modificado (transgênico) cruza com os vetores na área de estudo e suprime a reprodução dos mesmos (Thomas et al., 2000). Esse sistema foi adaptado para o controle de Ae. aegypti, mostrando-se que o método é seguro e apresenta grande potencial de controle e que os testes de liberação foram feitos em diversos países com resultados promissores nas ilhas Cayman. Recentemente, o Brasil aprovou o uso de uma linhagem transgênica de Ae. aegypti para ser comercializada no País (Paes de Andrade et al., 2016). 66 Essas ações são fundamentais para o controle de doenças transmitidas por vetores. Por exemplo, sabe-se que, quando as ações educativas contra a proliferação do mosquito Ae. aegypti são implementadas pela população, há redução dos casos de dengue. Isso acontece porque a população é a principal responsável pelo surgimento dos criadouros dos insetos vetores em ambientes artificiais, dessa forma, se a mesma for conscientizada, torna-se a principal aliada no controle. O desenvolvimento dessa estratégia depende de um trabalho multidisciplinar envolvendo profissionais das áreas de saúde, Biologia, Publicidade e Jornalismo, os quais, juntos, podem promover campanhas educativas com maior impacto, como já observado para várias doenças, principalmente para aquelas transmitidas pelo Ae. aegypti (Figura 16). 67 Figura 16. Exemplo de campanhas de controle educativo contra mosquitos. 68 Atividade 3 Exercícios Atividade para complementar o estudo da Unidade (atividade livre, discutir os resultados com os gestores locais) 1. Faça uma análise crítica dos métodos de controle apresentados nesta atividade, apontando as vantagens e as desvantagens de cada um. Leitura do artigo: Zara, Ana Laura de Sene Amâncio, Santos, Sandra Maria dos, Fernandes-Oliveira, Ellen Synthia, Carvalho, Roberta Gomes, & Coelho, Giovanini Evelim. (2016). Estratégias de controle do Aedes aegypti: uma revisão. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 25(2), pp. 391-404. 69 Atividade 4 Métodos de Controle de Culicideos, Flebotomíneos e Triatomíneos Como visto na atividade anterior, existem diferentes métodos de controle de vetores disponíveis. Nesta atividade, aprenderemos os métodos mais usados para controle de culicídeos, flebotomíneos e triatomíneos no Brasil e as novas alternativas de controle. Vamos lá! 70 Culicídeos Os controles mecânico, químico e ações educativas têm sido amplamente utilizados para reduzir as populações de mosquitos vetores no ambiente urbano no Brasil, principalmente Ae. aegypti. Flebotomíneos O controle desses insetos pode ser feito com a aplicação de inseticidas químicos residuais em paredes das casas, o uso de mosquiteiros impregnados com inseticidas de longa duração e a realização de manejo ambiental. As telas impregnadas com inseticidas podem ser instaladas nas janelas e portas dos domicílios. Alguns estudos têm mostrado que essa estratégia é útil para diminuir a abundância de flebotomíneos no ambiente domiciliar (Mondal et al., 2016). Triatomíneos Atualmente, o controle químico vem sendo realizado por meio de aplicação residual sistemática de piretróides no intra e peridomicílio das casas. O controle dos triatomíneos também pode ser realizado desde programas de melhoria habitacional. O controle com ações educativas também é fundamental, pois a população pode aplicar estratégias para evitar a colonização triatomínica. 71 Mecânico O controle mecânico é baseado na implementação de práticas para a eliminação de criadouros (por exemplo, coleta do lixo, drenagem de reservatórios, desentupimento de calhas, lavagem de caixas d´água, destruição de pneus velhos etc.) e da proteção contra a entrada dos adultos nas casas com a instalação de telas em portas e janelas (ver Atividade 3). Químico Já o controle químico pode ser feito contra mosquitos adultos e imaturos por meio do tratamento focal e perifocal e da aspersão aeroespacial de inseticidas em ultra baixo volume (UBV). O tratamento focal ocorre com a aplicação de um produto nos depósitos positivos para imaturos de mosquitos que não possam ser eliminados mecanicamente. O tratamento com UBV é usado para eliminar mosquitos adultos de Ae. aegypti para bloqueio de transmissão e para controle de surtos ou epidemias. Contudo, seu uso indiscriminado para combate de outros vetores não é recomendado. Devido à ocorrência de resistência em populações de Ae. aegypti aos inseticidas organofosforados, como o temefós (para larvas) e piretroides (para adultos) (ver Unidade 3), as ações de controle de adultos são baseadas atualmente no uso de malathion e, para o controle de larvas, oprograma vem utilizando piriproxifeno. Para evitar que o mesmo ocorra para esses grupos de inseticidas, é fundamental que outras estratégias de manejo de resistência sejam implementadas, como a rotação de inseticidas a cada quatro anos no máximo caso haja resistência estabelecida (ver Unidade 3). Culicídeos 72 Químico O tratamento perifocal é baseado na aplicação de inseticidas de ação residual nas paredes externas por meio de aspersor manual, indicado para localidades recém- infestadas. Contudo, necessita-se de avaliação para ele ser incorporado nas atividades de rotina no controle de Ae. aegypti. Quanto ao controle de larvas, ele tem sido realizado de acordo com o tipo de reservatório encontrado na casa (Figura 17). Por exemplo, em depósitos de armazenamento de água para consumo humano (poço, cisterna, caixas d’água, tambores etc.), preconiza-se vedá- los adequadamente e tratá-los como última alternativa. Para depósitos móveis (vasos/frascos com água, prato, garrafas, bebedouros em geral, etc.) ou naturais (bromélias), recomenda-se não tratar, apenas proteger, colocar areia ou instruir para evitar acúmulo de água. Culicídeos 73 Culicídeos Figura 17. Classificação dos potenciais criadouros de Aedes aegypti e ações preconizadas para cada grupo. Fonte: Brasil (2001). 74 Biológico Quanto aos métodos para controle biológico, apesar do realizado com Bti ser eficaz na redução do número de mosquitos imaturos nos recipientes tratados em curto prazo, não há evidências robustas de que esse método isolado possa impactar na redução da morbidade da dengue em longo prazo. Algumas tecnologias alternativas de controle de mosquitos, principalmente Ae. aegypti, têm sido desenvolvidas, como medidas sociais, monitoramento seletivo da infestação, dispersão de inseticidas, novos agentes de controle químico e biológico e procedimentos moleculares para controle populacional dos mosquitos, inclusive considerando-se combinações entre técnicas (Zara et al., 2016). Vamos conhecer mais sobre essas tecnologias? A seguir, destacamos duas delas. O controle é baseado na infecção do mosquito Ae. aegypti com cepas específicas da Wolbachia e posterior soltura na área. A interrupção do ciclo reprodutivo ocorre quando mosquitos machos com Wolbachia acasalam com mosquitos fêmeas sem Wolbachia, e essas fêmeas fazem a postura de ovos inférteis. Pesquisas de campo para avaliar essa estratégia estão sendo desenvolvidas no Brasil para avaliar a capacidade desses mosquitos infectados se estabelecerem no meio ambiente e reproduzirem com os mosquitos já existentes nos locais de soltura. Estudos recentes mostram que populações de Ae. aegypti infectadas com Wolbachia são altamente resistentes à infecção pelo vírus Zika. Os mosquitos infectados apresentaram menor prevalência viral e ausência do vírus na saliva deles, sugerindo que a transmissão viral foi bloqueada (Figura 18). Os dados indicam que o uso de mosquitos infectados por Wolbachia poderia representar um mecanismo efetivo para reduzir a transmissão do vírus Zika e ele deve ser incluído como parte das estratégias de controle de Zika (Dutra et al., 2016). Essa estratégia consiste em atrair as fêmeas de mosquitos até recipientes de água (estações de disseminação), tratados com micropartículas do inseticida piriproxifeno. Culicídeos 75 Culicídeos Biológico Figura 18. Controle usando Wolbachia. Fonte: Dutra et al. 2016. 76 Biológico A estratégia dos mosquitos dispersores de inseticidas consiste em atrair as fêmeas de mosquitos até recipientes de água (estações de disseminação), tratados com micropartículas do inseticida piriproxifeno. Nas estações de disseminação, o inseticida gruda no corpo dos mosquitos e é levado por eles até os criadouros, onde passam a ser letais para as larvas dos mosquitos (Figura 19). Essa estratégia é promissora porque os mosquitos contaminam mais que um sítio por dia, e uma única contaminação do sítio com pequenas quantidades (0,012 partes por bilhão) é suficiente para inativá-lo por aproximadamente quatro meses. Também os mosquitos podem levar o larvicida para criadouros não visíveis ou inacessíveis. Além disso, a estratégia favorece a otimização do uso de recursos humanos, sendo compatível com outros métodos de controle: aplicam-se o larvicida piriproxifeno, já disponibilizado pelo Ministério da Saúde, e uma estação disseminadora similar a uma ovitrampa amplamente usada no serviço, o que facilita o uso pelos agentes. No Brasil, essa estratégia foi usada em Manaus (Abad-Franch et al., 2015), e seus resultados mostraram uma redução de adultos de aproximadamente 1.000-3.000 por mês para cerca de 100 adultos/mês durante o período de disseminação. Culicídeos 77 Culicídeos Figura 19. Controle usando estações disseminadoras. Ao pousar nas estações disseminadoras os mosquitos se contaminam com o PPF e acabam levando esse inseticida para os criadouros, inviabilizando o desenvolvimento. Fonte: http://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0003406 Biológico 78 Químico O controle químico por meio de inseticidas de ação residual é a medida de controle vetorial recomendada para controle vetorial das leishmanioses. Essa medida é dirigida apenas para o inseto adulto e tem como objetivo evitar e/ou reduzir o contato entre flebotomíneos e a população humana. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2006), essa medida de controle é recomendada em: • Áreas com registro do primeiro caso autóctone de leishmaniose, após a investigação entomológica; • Áreas com transmissão moderada e intensa: se a curva de sazonalidade do vetor for conhecida, a aplicação do inseticida de ação residual deverá ser realizada no período do ano em que se verifica o aumento da densidade vetorial. Caso contrário, o primeiro ciclo de tratamento deverá ser realizado ao final do período chuvoso e o segundo, 3 a 4 meses após o primeiro ciclo. Flebotomíneos 79 Químico Em áreas com surto de LV, uma vez avaliada e delimitada a área para o controle químico, deverá ser realizado imediatamente um ciclo de tratamento com inseticida de ação residual. A programação de novo ciclo de aplicação do inseticida deverá ser de acordo com a curva de sazonalidade do vetor. Se essa for conhecida, a aplicação do inseticida deverá ser realizada no período do ano em que se verifica o aumento da densidade vetorial. Caso contrário, o primeiro ciclo de tratamento deverá ser realizado ao final do período chuvoso e 3 a 4 meses após o primeiro ciclo. A borrifação deverá ser feita: • Nas paredes internas e externas do domicílio, incluindo o teto, quando a altura deste for de até 3 metros; • Nos abrigos de animais ou anexos, quando os mesmos forem feitos com superfícies de proteção (parede) e possuam cobertura superior (teto). Os produtos mais empregados atualmente no controle a esses vetores são a cipermetrina, na formulação pó molhável, e a deltametrina, em suspensão concentrada. Flebotomíneos 80 Educativo A eficácia do controle químico tem sido limitada devido à descontinuidade no uso de inseticidas, ao uso em épocas inapropriadas, à precariedade das habitações, ao pouco conhecimento acerca dos criadouros dos flebotomíneos e/ou comportamento desses insetos, os quais podem reinfestar os domicílios desde as florestas adjacentes. Adicionalmente, o manejo ambiental pode ser feito com: • Retirada do excesso de matéria orgânica (folhas, frutos, fezes de animais, restos de alimentos) do solo; • Diminuição da umidade do solo no peridomicílio com destino adequado para as águas de uso doméstico; • Distanciamento de galinheiros, canis, chiqueiros e outros abrigos de animais da casa; • Construção de novas casas a uma distância superior a 500 metros das florestas. Mecânico Flebotomíneos 81 Químico As primeiras ações de controle químico dos triatomíneos ocorreram na década de 1940 com a aplicação de hexaclorociclohexano (BHC) nas casas infestadas por essesinsetos. A partir de 1975, foi delimitada a área onde havia risco de transmissão para todo o País. Verificou-se que Triatoma infestans, principal espécie vetora, encontrava-se presente em 711 municípios. O Programa Nacional de Controle Vetorial da Doença de Chagas alcançou sua maior cobertura em 1983. Em 1986, com suas ações amplamente consolidadas, o impacto do programa foi altamente positivo após o controle químico das unidades domiciliares infestadas. Em 1991, o Brasil integrou-se à Iniciativa dos Países do Cone Sul destinado a reduzir a transmissão vetorial da doença de Chagas pela eliminação de T. infestans por meio de ações regulares e sistemáticas de controle químico com piretróides de ação residual. O programa foi um sucesso, reduzindo-se drasticamente a ocorrência desse vetor no País (ver Unidade 1). Atualmente, o controle químico vem sendo realizado por meio de aplicação residual sistemática de piretróides no intra e peridomicílio das casas (ver Unidade 4). Triatomíneos 82 Educativo O controle dos triatomíneos também pode ser realizado desde programas de melhoria habitacional considerando-se que a infestação domiciliar é mais intensa em habitações precárias. Dessa forma, há a necessidade de identificar os municípios e as localidades prioritários para aplicação dos recursos, o que deve ser baseado em critérios entomológicos, epidemiológicos e sociais (Vinhaes et al., 2014). O controle com ações educativas também é fundamental, pois a população pode aplicar estratégias para evitar a colonização triatomínica. Finalmente, um desafio para o controle da transmissão é a necessidade de desenvolver estratégias que possam reduzir o risco de transmissão vetorial sem domiciliação, um cenário comum na região Amazônica. Nesses casos, estratégias baseadas em uso de telas impregnadas com inseticidas, em proteção dos alimentos para evitar contaminação com fezes de triatomíneos e, consequentemente, transmissão oral, devem ainda ser avaliadas. Mecânico Triatomíneos 83 As boas práticas de produção do açaí são fundamentais para prevenção da transmissão oral da doença de Chagas (OMS, 2009). A emergência dessa doença por transmissão oral, especialmente na região Amazônica, está associada ao consumo de alimentos contaminados pelo T. cruzi (principalmente o açaí) devido à não adoção de boas práticas de higiene na manipulação. O consumo de açaí (e de outros alimentos) pasteurizado é seguro. Porém, devido à falta de regulamentação em relação à aplicação dessa técnica para a prevenção da contaminação do alimento com T. cruzi, devem-se fortalecer o consumo em locais com boas práticas implantadas e submeter os frutos à higienização e ao branqueamento, pois esses procedimentos minimizam o risco de transmissão oral do T. cruzi. 84 GLOSSÁRIO Bti: refere-se a uma bactéria que ocorre naturalmente no meio ambiente da espécie Bacillus thuringiensis israelensis (BTI), que apresenta atividade comprovada para matar larvas dos mosquitos C. quinquefasciatus e A. aegypti. Atualmente o Bti é o principal ingrediente ativo de inseticidas biológicos especialmente desenvolvidos para controlar as larvas de mosquitos. Transmissão enzoótica: Transmissão que envolve animais e vetores silvestres. 85 MAPA MENTAL 86 Abad-Franch, Fernando. A simple, biologically sound, and potentially useful working classification of Chagas disease vectors. Mem. Inst. Oswaldo Cruz [online]. 2016, vol.111, n.10, pp.649-651. ISSN 0074-0276. http://dx.doi.org/10.1590/0074-02760160203 Abad-Franch F, Vega MC, Rolón MS, Santos WS, Rojas de Arias A (2011) Community Participation in Chagas Disease Vector Surveillance: Systematic Review. PLoS Negl Trop Dis 5(6): e1207. https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0001207 Abad-Franch F, Lima MM, Sarquis O, Gurgel-Gonçalves R, Sánchez-Martín M, Calzada J, Saldaña A, Monteiro FA, Palomeque FS, Santos WS, Angulo VM, Esteban L, Dias FB, Diotaiuti L, Bar ME, Gottdenker NL. On palms, bugs, and Chagas disease in the Americas. Acta Trop. 2015 Nov;151:126-41. Abad-Franch, F.; Zamora-Perea, E.; Ferraz, G.; Padilla-Torres, S. D.; Luz, S. L. B. 2015. Mosquito-Disseminated Pyriproxyfen Yields High Breeding-Site Coverage and Boosts Juvenile Mosquito Mortality at the Neighborhood Scale. 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FIOCRUZ, Rio de Janeiro. 89 Sobre o autor Rodrigo Gurgel Gonçalves Doutor em Ciências da Saúde na área de Protozoologia e Entomologia Médica, atuando principalmente nos se- guintes temas: biologia de tripanossomatídeos; identificação e ecologia de vetores de doenças tropicais (espe- cialmente triatomíneos e flebotomíneos); desenvolvimento de aplicativos para identificação de artrópodes de interesse em saúde pública; vigilância e controle dos vetores da Doença de Chagas, Leishmanioses e Dengue.
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