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Qualidade da Água Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni 5 Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Além disso, procure pesquisar o máximo que puder sobre o tema “Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios”. Há inúmeros conteúdos na internet que são bastante úteis para o seu estudo e para a sua formação profissional. Esta unidade tem por objetivo tratar dos conceitos básicos sobre a distribuição, classificação e repartição das águas na superfície da Terra bem como dar início à discussão sobre a relação que o homem estabelece com esse recurso considerado vital. Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios · Introdução · A origem da água na superfície terrestre · O ciclo da água · Classificação genética da drenagem · Bacias hidrográficas no Brasil 6 Unidade: Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios Contextualização Uma Leitura Crítica das Hidrelétricas Reinaldo Correa Costa As barragens de rios para os mais diversos fins fazem parte da história da humanidade. Evitar e/ou controlar enchentes e secas, facilitando a agricultura, é apenas um exemplo. As barragens de rios para construção de hidrelétricas são um fato recente na história da humanidade, as primeiras são do século XIX, nos EUA; no Brasil, as primeiras também são desse período. No início do século XX, houve um aumento de barragens de rios para fins de produção de energia, mas foi após a Segunda Grande Guerra que houve um incremento das hidrelétricas como elemento do processo de industrialização das economias, que se apropriam dos rios, suas cachoeiras e corredeiras para gerar energia. A energia elétrica faz parte do cotidiano de muitas pessoas, seja porque traz algum conforto como luz elétrica, uma necessidade em hospitais, universidades, entre outros; lucro para o setor elétrico, geração de empregos, ou danos para os expropriados e atingidos por barragens, sejam índios, camponeses e mesmo cidades que são abandonadas para a formação do reservatório. Há alguns índices de desenvolvimento que examinam o consumo per capita de energia elétrica como indicador de qualidade de vida, o que é questionável, pois índios e camponeses têm a satisfação de suas necessidades materiais com baixo consumo de eletricidade, e alguns moradores de favelas vivem em condições piores, mas com um maior consumo de energia se comparado a eles, ainda que a fonte da energia sejam os “gatos” (captura ilegal de energia dos postes), ou seja, não gastam seu pouco dinheiro no pagamento da conta de luz elétrica. Há uma forte ideologia de que eletricidade é sinônimo de conforto e status social, pois isso está associado ao consumo de bens industriais, como fornos micro-ondas, secadoras de roupas, torradeiras, aparelhos de som, entre tantos outros. Uma hidrelétrica tem que estar sempre em manutenção, desde a conservação das turbinas, que podem ser corroídas pelas águas ácidas de um rio, até a formação de sedimentos, pressão d’água sobre a barragem, infiltrações, repotencialização (a maior parte das turbinas brasileiras tem mais de 20 anos) para um maior aproveitamento da energia. Deve-se acrescentar a isso o sistema de transmissão, que precisa de manutenção constante e um aproveitamento maior para evitar a perda de energia durante a circulação nos linhões. A Comissão Mundial de Barragens considera normal a perda de 6% de energia na transmissão. O Brasil perde aproximadamente 15%, de acordo com a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). O órgão ainda especifica que o setor industrial desperdiça 31% de energia e o setor residencial, 25%. 7 Os impactos das hidrelétricas são pontuais (o sítio do barramento), lineares (pelos corredores das linhas de transmissão) e areolares (do lago artificial e seu entorno). Quanto aos lucros, são concentrados nas empresas, são territorializados monopolisticamente e também são monopólios dos territórios, via o instrumento de enclave, pois a produção não se insere na realidade do sítio da obra, para pequenas cidades, camponeses e índios e o que ocorre é que as linhas de transmissão passam por sobre as cabeças daqueles que ainda usam a lamparina, como é o exemplo de Tucuruí e Balbina, e até há bem pouco tempo, a Usina de Porto Primavera (SP). O mesmo acontece com os preços das terras, umas são desvalorizadas e outras supervalorizadas especulativamente. Bases de uma crítica A ação da política energética no Brasil, especialmente na Amazônia, tem a particularidade de não produzir somente energia hidrelétrica; produz também impactos ambientais. Para os criadores, subvencionadores e administradores da política energética, os povos são encarados como um problema a ser resolvido para a instalação de algum projeto, e é por isso que a perspectiva de ver os atingidos como cidadãos é negada, por isso que não é energia limpa, pois “suja” o ambiente com os impactos ambientais e gera pobreza. As hidrelétricas na Amazônia brasileira infelizmente não podem ser consideradas “empreendimentos-modelo” de desenvolvimento. Um bom exemplo é a Usina de Balbina (AM), que alagou grande parte da floresta, causou tremendos impactos socioambientais e que não gera nem energia suficiente para abastecer Manaus. Não se pode analisar a produção de energia de um País do tamanho e das características físicas e sociais do Brasil apenas sob critérios econômicos. Precisam ser analisados a região e o conjunto social envolvidos no projeto para além do lugar da produção. O discurso numérico de que um determinado número de megawatts será produzido não representa o conjunto de impactos gerados (econômicos, ambientais, sociais, entre outros), para objetivos diversos, por exemplo: tem-se que ter energia em quantidade compatível com o tamanho do consumo; de que adianta produzir megawatts se o mercado próximo consome em kilowatts, e não há subestações e transformadores para baixar a quantidade de energia? Como fazer isso se não há um programa efetivo de democratização e uso social da energia produzida? Fonte: adaptado de http://geografia.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/26/artigo145889-1.asp. Acessado em 20/01/2015. http://geografia.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/26/artigo145889-1.asp 8 Unidade: Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios Introdução Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios Um aspecto que antecede a discussão sobre a qualidade da água para o uso humano e ambiental é o fato de que a água é um dos elementos fundamentais para a existência da vida na Terra. Tão fundamental que a maioria dos seres vivos é composta, basicamente, de água, entre outros elementos de expressão menor. O corpo de um ser humano adulto tem cerca de 70% da sua constituição formada por moléculas de água, o que equivale a cerca de 45 kg da sua massa corporal de água. Esta deve ser reposta de forma equivalente ao que gastamos na transpiração, respiração e excreção. Fazemos essa reposição normalmente bebendo água quando sentimos sede. Além do aspecto básico, mas essencial, mencionado acima, a água é usada também para diversos outros fins, o que a torna algo indispensável. Sendo assim, é muito importante e necessário um conhecimento cada vez mais elaborado das suas características, a fim de que não comprometamos esse bem comum tão relevante ao homem e aosoutros seres vivos. Para tanto, nesta unidade, trataremos do tema que aborda as origens, os tipos, a disposição e a quantidade estimada de água na superfície terrestre. A origem da água na superfície terrestre A água que consideramos existir na superfície terrestre mede aproximadamente 1,4 x 1015 metros3. Ela tem origem geológica tão antiga quanto a própria Terra e até o Universo. A partícula primordial formada a partir do “Big Bang”, há cerca de 15 bilhões de anos, foi o hidrogênio, o qual, com o tempo, formou aglomerados cada vez mais densos. Um desses aglomerados é o próprio Sol, que se formou há cerca de 13 bilhões de anos, sendo, a partir daí, orbitado por “nuvens” de poeira e gases como o hidrogênio, o hélio e o oxigênio. Há certa controvérsia a respeito da origem da água na superfície terrestre. De um lado, temos os que acreditam que tenha se desprendido das rochas, resultado do adensamento e esfriamento da poeira cósmica que orbitava o Sol. De outro, os que defendem que a água (H2O ou H-O-H) surgiu do choque de asteroides, cometas e outros corpos sobre a Terra. Recentemente, uma pesquisa da área de astrobiologia defende que 35% a 38% da água da Terra teve origem nos embriões planetários que a formaram; 60%, nos asteroides e de 2% a 5%, nos cometas (Zolnerkevic, 2009). 9 O ciclo da água Uma das formas de concebermos as transformações por que passa a água é a noção de ciclo que representa a ideia de um sistema fechado aplicado às mudanças de estados físicos da água, a saber: gasoso, líquido e sólido. Entre um estado e o outro, a água participa de um sem-número de processos biológicos e geológico-geomorfológicos, como pode ser observado na Figura 1. Figura 1. Ciclo da água Fonte: Wikimedia Commons É necessário ressaltar que os estados da água não estão, nem de longe, equitativamente representados. O Quadro 1 mostra a distribuição da água na superfície terrestre. Quadro 1. Distribuição da água e seus estados na superfície RESERVATÓRIO VOLUME (em porcentagem) Rios 0.0001 Atmosfera 0.0010 Solos 0.0050 Lagos salinos e mares interiores 0.0080 Lagos de água doce 0.0090 Água subterrânea (até 4km de profundidade) 0.6150 Calotas de gelo e glaciares 2.1500 Oceanos 97.2119 TOTAL 100.0000 Fonte: SKINNER, B. J. & PORTER, S. C. (1987). “Physical Geology”. New York, John Wiley & Sons, p: 240. 10 Unidade: Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios Note, no Quadro 1, que, excetuando-se a água do gelo permanente, em estado sólido, e a água atmosférica (0,0010% de água doce, disponível apenas se precipitada em forma de chuva), todas as outras formas estão no estado líquido. Uma análise precipitada poderia induzir ao erro de se pensar que todas as outras modalidades de ocorrência, sendo líquidas, estariam disponíveis ao uso ou consumo humano. Entretanto essa questão está longe de ser simplesmente aritmética. Os 97,2% correspondentes às águas oceânicas são compostos de uma composição líquida com elevadas e variáveis taxas de sais dissolvidos, sendo 80% de Cloreto de sódio (NaCl) e 20% de Sulfato de Cálcio (CaSO4), Sulfato de Magnésio (MgSO4) e Cloreto de Magnésio (MgCl2), entre outros de menor expressão. As geleiras (2,1% do total) perfazem 69% do total de água doce disponível, mas em estado sólido nas zonas glaciais ou montanhosas. As águas subterrâneas ou artesianas, 30% do total de água doce, são acessíveis apenas por meio de perfuração, implicando em custo. Se somarmos essas duas modalidades de ocorrência, chegamos a um volume de 99% de toda a água doce, mas de difícil acesso, existente na superfície. Restam as águas da umidade do solo, que ocorre de forma difusa e em volume bastante reduzido. A água disponível na biota, inserida nos processos que envolvem a fotossíntese, e as águas doces dos lagos e rios totalizam aproximadamente 0,35%, das quais se serve a maior parte da humanidade. Bacias oceânicas Figura 2. Mapa-múndi a as bacias oceânicas Os 97% de água salgada sobre a superfície estão concentrados nas depressões que formam as bacias oceânicas. A subdivisão é meramente conceitual, já que todas elas, à exceção dos mares fechados nos continentes, estão interligadas de uma forma ou de outra. A Figura 2 representa a superfície da Terra projetada no mapa plano, e os oceanos estão dispostos segundo o referencial eurocêntrico. As denominações dos oceanos foram sendo incorporadas ao conhecimento humano durante a expansão naval-comercial europeia. São cinco os oceanos que cobrem cerca de 71% da superfície terrestre: Oceano Atlântico, Oceano Índico, Oceano Pacífico, Oceano Glacial Antártico e Oceano Glacial Ártico. Fonte: IBGE, 2013. 11 Bacias hidrográficas As águas atmosféricas, da umidade do solo, da biota, dos lagos e dos rios estão bastante integradas por comporem parte do ciclo hidrográfico no que diz respeito à precipitação, ao escoamento superficial e à infiltração. No atual relevo das terras emersas, tais águas estão ajustadas às bacias hidrográficas, formadas a partir da convergência em um único canal principal de toda a drenagem da água precipitada de forma difusa. As bacias hidrográficas podem ocorrer tanto nas escalas continentais ou regionais, como a do rio Amazonas (Figura 3), considerado o maior do mundo, quanto nas escalas pontuais, como um conjunto de sulcos formados pelo escoamento da água da chuva sobre o solo desnudo. Figura 3. Bacia hidrográfica Amazônica (sem escala) Fonte: Wikimedia Commons 12 Unidade: Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios Conceito de bacia hidrográfica Segundo o inciso V do Art. 1º da Lei 9433, de 8 de janeiro de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos “(...) a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.” Essencialmente, as bacias hidrográficas são compostas pela área de captação e de drenagem da água da chuva ou de degelo, como é o caso da Bacia Amazônica, que tem o chamado regime misto (pluvial/nival). No geral, a delimitação da área da bacia hidrográfica é feita pela determinação dos limites topográficos chamados divisores de águas. São os topos de morros, serras alongadas e celas que separam uma bacia hidrográfica das outras. Comumente, a drenagem tem início de forma difusa nos divisores de água por meio de canalículos do escoamento superficial com fluxos teoricamente rápidos e retilíneos, com elevada competência de transporte de sedimentos devido à declividade acentuada do terreno. Aqueles canalículos concentram-se gradativamente em canais de volume cada vez maior, tornando- se cada vez mais lentos e serpenteados, tendo sua competência em transportar sedimentos significativamente diminuída dada a suavização do relevo até alcançarem o rio principal. O fundo do canal deste é denominado de talvegue e é o nível de base regional que regula toda a dinâmica de modelagem da paisagem sob sua influência. Se observada sob o ponto de vista sistêmico, a bacia hidrográfica é um sistema aberto no qual há entrada de chuva e radiação solar e saída de evaporação difusa e descarga hídrica concentrada. Em geral, a palavra rio designa um fluxo d’água. No Brasil, regionalmente, dependendo do porte e extensão, os cursos d’água podem ser identificados por inúmeros termos, sendo reservada a palavra rio para os mais representativos. Entretanto o conceito pode ser aplicado a canais desprovidos de água, ou secos, uma parte do tempo. Nos casos em que os rios corram imediatamente após as chuvas, eles são chamados de efêmeros. Os rios que correm sazonalmente ao longo de um período maior, mas que não são permanentes, são chamados de intermitentes (como as bacias hidrográficas da zona semiárida do nordeste brasileiro). Já os rios que correm permanentemente, isto é, os que não secamnunca, são chamados de perenes (CHRISTOFOLETTI, 1974). As redes hidrográficas do sertão nordestino são intermitentes. Classificação de bacias hidrográficas As bacias hidrográficas podem ser classificadas de acordo com o escoamento da drenagem. Chamamos de Bacias Exorreicas aquelas nas quais os rios desembocam diretamente no oceano. Nas Bacias Endorreicas, os rios não desembocam no oceano, mas, devido ao fato de sua drenagem ser interna, desembocam em lagos, em áreas desertas ou em depressões cársticas. As Bacias Arreicas são aquelas em que falta um ordenamento direcional. Isso é bastante comum em zonas áridas, nas quais a drenagem produzida por chuvas esparsas é rapidamente 13 absorvida pelo solo, normalmente arenoso, sem que haja um escoamento superficial suficiente para formar canais fluviais. As bacias denominadas de Criptorreicas são típicas de regiões de ocorrência de rochas carbonáticas ou calcárias. Essas rochas, por serem mais facilmente dissolvidas na presença de água com certa taxa de acidez, formam dutos subterrâneos que capturam os cursos d’água superficiais originados em rochas adjacentes e impermeáveis. Sobre os calcários, a drenagem fica completamente oclusa dando a impressão de certa aridez na paisagem. Esse processo de captura produz uma série de formas de relevo que incluem dolinas (depressões fechadas) originadas por desabamentos subterrâneos e longos sistemas de cavernas. A esse conjunto dá-se o nome de Carste. Nos estados da Bahia, Minas Gerais, Goiás, Tocantins e São Paulo, a existência de grandes extensões de rochas carbonáticas produziu longos e complexos sistemas de cavernas, como é o caso da Toca da Boa Vista, no Município de Campo Formoso, na Bahia, que ultrapassa os 100 km de desenvolvimento subterrâneo. A Figura 4 representa esquematicamente o processo de carstificação e as formas cársticas resultantes. Figura 4. Esquema de processo de carstificação e morfologia cárstica Fonte: Adaptado de nzap.ca 14 Unidade: Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios Também podemos compreender a distribuição da rede hidrográfica que compõe uma bacia de forma hierarquizada. Assim, sob essa perspectiva, classificamos os rios conforme demonstra a Figura 5. Estabelecemos uma sequência de importância para os rios segundo um critério que, dependendo da referência, pode atender a expectativas mais estáticas ou mais dinâmicas. Figura 5. Modelagem hierárquica de uma rede hidrográfica Fonte: Adaptado de images.slideplayer.com.br Em uma bacia hidrográfica clássica, como a apresentada na Figura 5, considera-se que os canais rápidos formam-se junto aos relevos divisores de água (elevações topográficas) nas nascentes (“x”) mais declivosas e corram até a foz ou exutório (“y”). De acordo com a direção do fluxo d’água, temos os subafluentes (“c”) e afluentes (“b”) das margens direita e esquerda do rio principal (“a”). A fase de baixo curso é caracterizada por um canal de baixa energia e lento que corta de forma meandrante ou curvada, uma área de relevo suavizado ou mais aplainada. Ao longo desse trajeto, o rio vai deixando meandros abandonados. Os pontos dos divisores de águas que separam uma bacia de outra são chamados de interflúvios. Os pontos de encontro entre os rios subafluentes e os afluentes e estes e os principais são chamados de confluência. A Figura 5 apresenta uma hierarquização combinada, na qual os rios se sucedem entre fatores qualitativos e quantitativos. 15 Classificação genética da drenagem Outra forma bastante recorrente de classificação da rede hidrográfica tem a ver com a sua gênese, segundo o condicionamento em relação à superfície rochosa sobre a qual flui (SUGUIO e BIGARELLA, 1990). O bloco diagrama da Figura 6 apresenta o modelo de classificação genética dos rios. Figura 6. Classificação genética dos rios conforme a sua relação com as estruturas geológicas. Fonte: Adaptado de SUGUIO e BIGARELLA (1990, p. 14) Como é possível observar na Figura 6, os rios podem ser classificados em: • Rios consequentes: são os rios cujos cursos foram determinados pela declividade geral do terreno, coincidindo com os mergulhos das camadas e/ou com o gradiente hidráulico gerado pelo soerguimento da área. Tais rios caracterizam-se por canais retilíneos e paralelos. • Rios subsequentes: são aqueles em que o canal é orientado pela estrutura do terreno acompanhando as zonas de fraqueza da rocha, como as falhas, juntas, diáclases e planos de estratificação. • Rios obsequentes: são os cursos d’água que fluem no sentido contrário ao mergulho das camadas e/ou com o gradiente hidráulico. São rios que descem escarpas ou vertentes íngremes e deságuam nos subsequentes; • Rios resequentes: são os rios que correm no mesmo sentido dos consequentes, mas de extensão e volumes menores, e que deságuam nos subsequentes; • Rios insequentes: são aqueles que não apresentam um padrão definido ou não estão sob o controle geológico como os anteriores. Classificação morfológica da drenagem Em complementação à anterior, outra forma de identificação das características das bacias de drenagem ou de seus compartimentos é a classificação segundo a forma geométrica do escoamento hídrico. Por este método, podemos classificar a drenagem em dendrítica, treliça, retangular, radial, anular e paralela (Figura 7). 16 Unidade: Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios Figura 7. Classificação geométrica da drenagem Fonte: Adaptado de SUGUIO e BIGARELLA (1990, p. 17-19) e (CHRISTOFOLETTI, 1974, p. 82-85) A drenagem dendrítica é caracterizada por ramificações irregulares de cursos d’água em todas as direções, semelhante ao desenho dos galhos de árvore. Em geral, os rios são insequentes, pois não são controlados por nenhum fator geológico-geomorfológico. Este tipo ocorre nos terrenos em que a rocha oferece resistência uniforme ao fluxo d’água. A drenagem do tipo treliça é caracterizada por cursos consequentes mais bem desenvolvidos sendo complementada por subsequentes, obsequentes, resequentes, interligados. No geral, este modelo apresenta-se fortemente condicionado por fatores geológico-geomorfológicos. Na drenagem retangular, os canais, em geral subsequentes, formam uma rede com angulação em 90° na interligação entre os cursos pouco prolongados e retilíneos, também sob forte orientação geológico-geomorfológica. A drenagem do tipo radial apresenta uma divergência (centrífuga) dos canais a partir de um ponto comum para, daí, seguir nas mais diversas direções. Este tipo de drenagem é associado a morros cônicos, vulcões e domos. O tipo radial também pode caracterizar drenagem que converge (centrípeta) para depressões fechadas em relevos cársticos. O tipo de drenagem anular, devido à sua forma, é associado às caldeiras vulcânicas residuais fortemente erodidas. A drenagem paralela é comumente atribuída às regiões que, no passado, foram fortemente atingidas por falhamentos/fraturamentos paralelos, com gradientes hidráulicos comuns e que, com o tempo, passaram a capturar a drenagem superficial e concentrá-la, caracterizando-se essencialmente por canais consequentes. 17 Bacias hidrográficas no Brasil No Brasil, a grande área coberta pelo clima tropical e subtropical contempla extensas bacias hidrográficas, o que torna o país um dos maiores em disponibilidade de água doce do mundo. Entretanto, a degradação dos ambientes que envolvem as bacias, como o uso agropecuário das terras até as margens dos rios e/ou o uso indiscriminado, levando ao desperdício, destes para atividades econômicas degradadoras pode comprometer a qualidade dessas águas ao ponto de torná-las inúteis ao homem e inviáveis para os outros seres vivos. “O potencial técnico de aproveitamento da energia hidráulica do Brasil está entre os cinco maiores do mundo; o País tem 12% da água doce superficial do planeta e condiçõesadequadas para exploração. O potencial hidrelétrico é estimado em cerca de 260 GW, dos quais 40,5% estão localizados na Bacia Hidrográfica do Amazonas – para efeito de comparação, a Bacia do Paraná responde por 23%, a do Tocantins, por 10,6% e a do São Francisco, por 10%. Contudo, apenas 63% do potencial foi inventariado. A Região Norte, em especial, tem um grande potencial ainda por explorar”1. “Em março de 2013, as usinas hidrelétricas em operação respondiam por 68,9% da matriz de energia elétrica brasileira. A segunda maior fonte é a termoelétrica, responsável por 29,4% da capacidade instalada, incluindo a fonte nuclear (1,6%). Outra fonte participante da matriz de energia elétrica é a eólica (1,7%)”2. O Quadro 2 apresenta os valores de aproveitamento do potencial das bacias hidrográficas brasileiras efetivamente instalado. Quadro 2- Capacidade instalada por bacia hidrográfica (MW) em março de 2013 Bacia Código Capacidade instalada (MW) Bacia do Rio Amazonas 1 667,3 1,007729 Bacia do Rio Tocantis/Araguaia 2 7729,65 11,67299 Bacia do atlântico Norte/Nordeste 3 300,92 0,454437 Bacia do Rio São Francisco 4 10289,64 15,53898 Bacia do Atlântico leste 5 2589 3,909799 Bacia do Rio Paraná 6 39262,81 59,29305 Bacia do Rio Uruguai 7 2859,59 4,318433 Bacia do Atlântico Sudeste 8 2519,32 3,804572 Brasil - 66218,23 100 Fonte: Eletrobrás, 2003. 1 Disponível em http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2011/12/potencial-hidreletrico-brasileiro-esta-entre-os-cinco-maiores-do-mundo. Acessado em 18/01;2015 2 Disponível em http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2011/12/sistema-interligado-nacional-atende-98-do-mercado-brasileiro; Acessado em 18/01/2015 18 Unidade: Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL “Pouco menos de 60% da capacidade hidrelétrica instalada no Brasil está na Bacia do Rio Paraná. Outras bacias importantes são a do São Francisco e a do Tocantins, com 16% e 12%, respectivamente, da capacidade instalada no País. As bacias com menor potência instalada são as do Atlântico Norte/Nordeste e Amazonas, que somam apenas 1,5% da capacidade instalada no Brasil”. O maior aproveitamento hidrelétrico da bacia do rio Paraná deve-se à proximidade com os maiores mercados e às maiores densidades populacionais que demandam grande oferta de energia elétrica. A Figura 8 mostra a distribuição das regiões hidrográficas brasileiras. Um arranjo gerencial da hidrografia brasileira utilizado pelos órgãos oficiais. Figura 8. Regiões hidrográficas do Brasil Fonte: Wikimedia Commons O aproveitamento hidroviário ou fluvial, isto é, da rede hidrográfica brasileira para navegação pode ser considerado potencial, apesar dos baixos custos de instalação e de manutenção. Sua instalação e operação mais efetiva encontra-se nas regiões hidrográficas amazônica e do Paraná. No primeiro caso, devido às condições físicas das calhas dos grandes rios afluentes do Amazonas e deste próprio, tipicamente muito extensas e bastante planas, caracterizando-se como rios de planície. Já nas bacias do Paraná e do São Francisco, caracterizadas por rios de planalto, o aproveitamento hidroviário se dá em função da enorme infraestrutura hidroviária que acompanha o aproveitamento hidrelétrico, isto é, as eclusas que permitem que as embarcações transponham os desníveis existentes nos rios. No entanto, o modal hidroviário, apesar do grande potencial, perde em participação para o rodoviário em termos de transporte de carga e de pessoas. Deve-se salientar que o rio São Francisco é objeto de uma grande obra de infraestrutura hídrica que visa perenizar as bacias dos rios do Nordeste Setentrional que têm como característica a intermitência em decorrência da falta de chuvas. 19 Material Complementar Conteúdos complementares sobre hidrologia geral. Dados e informações podem variar dependendo das fontes dos autores. Leituras: http://www.barramentos.ufc.br/Hometiciana/Arquivos/Graduacao/Apostila_Hidrologia_grad/Cap_1_Introducao_2004.pdf http://www.ct.ufpb.br/~adrianorpaz/artigos/apostila_HIDROLOGIA_APLICADA_UERGS.pdf http://www.unisa.br/conteudos/8393/f482078040/apostila/apostila.pdf http://www.barramentos.ufc.br/Hometiciana/Arquivos/Graduacao/Apostila_Hidrologia_grad/Cap_1_Introducao_2004.pdf http://www.ct.ufpb.br/~adrianorpaz/artigos/apostila_HIDROLOGIA_APLICADA_UERGS.pdf http://www.unisa.br/conteudos/8393/f482078040/apostila/apostila.pdf 20 Unidade: Distribuição das águas na superfície terrestre, bacias hidrográficas, morfologia de drenagem e classificações de rios Referências BRASIL. Política Nacional de Recursos hídricos. Versão digital. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm> Acessado em 18/01/2015. CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo:Editora Edgard Blucher Ltda., 1974. COLLISCHONN, W. e TASSI, R. Introduzindo Hidrologia. IPH/UFRGS. Versão digital. Disponível em: <http://www.ctec.ufal.br/professor/crfj/Pos/Hidrologia/apostila_Completa_2008. pdf> Acessado em 18/01/2015. SKINNER, B. J. & PORTER, S. C. Physical Geology. New York: John Wiley & Sons, 1987. SUGUIO, K & BIGARELLA, J. J. Ambientes Fluviais. 2° edição. Florianópolis: Editora da UFSC/Editora UFPR, 1990. ZOLNERKEVIC, I. Receita de um planeta água. Revista Unesp Ciência. Astronomia. Nº 30. Setembro de 2009. Versão digital. Disponível em <http://www.unesp.br/aci_ses/revista_ unespciencia/acervo/01/planeta-agua> Acessado em 18/01/2015. 21 Anotações
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