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O mundo Ético, Miguel Reale

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O mundo Ético 
Juízos de realidade e de valor 
 As normas éticas, não apenas envolvem um juízo de valor sobre os comportamentos humanos, mas resultam na escolha de 
uma diretriz considerada obrigatória numa coletividade. Da tomada de posição axiológica resulta a imperatividade, a qual não 
representa mero resultado de uma nua decisão, mas é a expressão de um complexo processo de opções valorativas, o 
poder que decide. 
 Toda norma enuncia algo que deve ser, em razão de ter sido reconhecido um valor como razão determinante de um 
comportamento declarado obrigatório. Há, pois, em toda regra um juízo de valor. Juízo é um ato mental pelo qual atribuímos, 
com caráter de necessidade, certa qualidade a um ser ou um ente. 
 A ligação feita entre o sujeito e o predicado, é tida como necessária sem ela não temos, propriamente, o juízo. A ligação pode 
ser de duas espécies: indicativa ou imperativa. 
 A união entre o sujeito e o predicado pode ser feita pelo verbo ser ou dever ser, diferenciando-se, assim, os juízos de 
realidade dos de valor. 
 O legislador não se limita a descrever o fato tal como ele é, mas, baseando-se naquilo que é, determina algo que deva ser, 
com a previsão de diversas consequências caso a norma deixe de ser cumprida. 
Estrutura das normas éticas 
 Toda norma ética expressa um juízo de valor, ao qual se liga a uma sanção, isto é, uma forma de garantir-se que a conduta 
que, em função daquele juízo, é declarada permitida, determinada ou proibida. 
 A necessidade de ser prevista uma sanção, já basta para revelar-nos que a norma enuncia algo que deve ser, e não algo que 
é. 
 Toda norma é formulada no pressuposto de liberdade que tem o seu destinatário de obedecer ou não os seus ditames. Uma 
norma ética se caracteriza pela possibilidade de sua violação. 
 A imperatividade de uma norma, ou o seu dever ser não exclui, a liberdade daqueles que se destina. É essa correlação 
essencial entre o dever e a liberdade que caracteriza o mundo ético, que é o mundo do dever ser, distinto do mundo do ser, 
onde não há deveres a cumprir, mas previsões que devem ser confirmadas para continuarem sendo válidas. A regra embora 
transgredida e porque transgredida, continua válida, fixando a responsabilidade do transgressor. 
 A norma ética estrutura-se pois, como um juízo de dever ser, isto significa que ala estabelece não apenas uma direção a ser 
seguida, mas também a medida da conduta considerada lícita ou ilícita. 
 A norma é, em geral, configurada ou estruturada em função dos comportamentos normalmente previsíveis do homem 
comum. A regra representa, assim, um módulo ou medida da conduta. As normas se exprimem por meio das regras. 
Formas da atividade Ética 
 Esclarecido a natureza das normas éticas, devemos observar quantas espécies de normas desse tipo são possíveis em nossa 
sociedade. A diferenciação desses tipos de norma poderá ser feita em função das diferentes finalidades que os homens se 
propõe. 
 O filósofo alemão Max Scheler contrapôs à ética formal de Kant, ou seja, à ética do dever pelo dever, uma Ética material de 
valores, mostrando-nos que toda e qualquer atividade humana, enquanto intencionalmente dirigida à realização de um valor, deve 
ser considerada conduta ética. Pode ocorrer que o desmedido apego a um valor, em detrimento de outros, determine aberrações 
éticas.. 
 Dedicaremos nossa atenção final à Ética entendida em função do bem comum. 
 BELO- As atividades relativas à realização do que é belo, que têm como consequência o aparecimento dos juízes estéticos, 
das normas estéticas. 
 ÚTIL- O valor daquilo que é “útil-vital” implica um complexo de atividades humanas no comércio, na indústria, na agricultura. 
Todos nós buscamos a realização de bens econômicos para satisfação de nossas necessidades vitais. Assim como ao belo 
corresponde uma ciência chamada Estética, e uma atividade que são as artes, também com relação ao útil, existe a Ciência 
Econõmica e uma série de atividades empenhadas na produção, circulação e distribuição de riquezas. 
 SANTO- É o valor a qual corresponde as religiões e os cultos. É o valor do divino norteando o homem na sociedade. 
 AMOR- Nas suas diferentes espécies e modalidades, desde a simpatia até a paixão, passando por todas as relações 
capazes de estabelecer uma ligação emocional entre os seres. 
 PODER- É o valor determinante da Política, que é a ciência da organização do poder e a arte de realizar o bem comum com 
o mínimo de submissão. 
 Lembraríamos, por fim, os que mais de perto nos interessam, os valores de: 
 BEM INDIVIDUAL E BEM COMUM- Todos os homens procuram alcançar os que lhe parece ser o “bem” ou a felicidade. A ética 
enquanto ordenação teórico-prática dos comportamentos em geral, quando se destinam a realização de um bem, pode ser 
vista sob dois prismas fundamentais: 
a. O valor da subjetividade do autor da ação; 
b. O valor da coletividade em que o indivíduo atua 
No primeiro caso, o ato é apreciado em função da intencionalidade do agente, o qual visa antes de mais nada, à plenitude de sua 
subjetividade, para que essa se realize como pessoa. Á Ética, sob esse ângulo, que se verticaliza na consciência individual, toma o 
nome de Moral, que pode ser considerada a Ética da subjetividade, ou do bem da pessoa. 
Quando, a ação ou conduta é analisada em função de suas relações intersubjetivas, implicando a existência de um bem social, que 
supera o valor do bem de cada um, a Ética assume duas expressões diferentes: a da Moral Social (costumes e convenções 
sociais); e a do Direito. 
 Bem pessoal é aquele que o indivíduo se põe como seu dever, realizando-o como indivíduo. Bem social situa-se em outro como 
da ação humana, que chamamos de Direito. 
Lições preliminares de Direito, Miguel Reale, cap. IV 
Direito e Moral 
 Muitas são as teorias sobre as relações entre o Direito e a Moral, mas é possível limitarmo-nos a alguns pontos de 
referência essenciais, inclusive o papel que desempenham no processo histórico. 
A teoria do mínimo Ético 
 A teoria do “mínimo ético” elaborada por Georg Gelinek consiste em dizer que o Direito representa apenas o mínimo da Moral 
declarado obrigatório para que a sociedade possa sobreviver. Como nem todos podem ou querem realizar de maneira 
espontânea as obrigações morais, 
é necessário armar de forças certos preceitos éticos, para que a sociedade não fracasse. A Moral, é cumprida de maneira 
espontânea, mas como as violações são inevitáveis, é necessário que se impeça, com mais vigor e rigor, a transgressão dos 
dispositivos que a sociedade considerar indispensável para à paz social. 
 O Direito não é algo distinto da Moral, mas é uma parte dela. 
 Essa teoria pode ser representada pela imagem de dois círculos concêntricos, sendo o círculo maior o da Moral e dentro dele 
o círculo do Direito. Sendo o Direito envolvido pela Moral, de acordo com essa imagem poderíamos dizer que “tudo que é 
jurídico é moral, mas nem tudo que é moral é jurídico”. 
 Segundo Miguel Reale, não é exato dizer que tudo que se passa no mundo jurídico seja ditado por motivos de ordem moral. 
Além disso existem atos juridicamente lícitos que não o são do ponto de vista moral. Por exemplo, uma sociedade comercial de 
sócios na qual um se dedica mais que o outro, se o contrato estabelece que ambos recebam o mesmo salário, ambos 
receberão, porém, isso não é moral mesmo sendo juridicamente correto. Há, portanto, um campo da Moral que não se 
confunde com o campo jurídico. 
 O Direito, tutela muita coisa que não é moral. Existe, porém, o desejo incoercível, de que o Direito tutele só o “lícito moral”, 
mas, por maior que seja o esforço nesse sentido, sendo permanece um resíduo de imoral tutelado pelo Direito. 
 Há, pois, que distinguir um campo do Direito que, se não é imoral, é pelo menos amoral, o que induz a representar o Direito e 
a Moral como dois círculos secantes. Essas duas representações, de dois círculosconcêntricos e de dois círculos secantes, a 
primeira representa à concepção ideal, e a segunda, à concepção real, ou pragmática, das relações entre Direito e Moral. 
 Essas representações gráficas têm vantagens e desvantagens. Entre as desvantagens está a de simplificar excessivamente 
os problemas. Servem, no entanto, no início dos estudos como ponto de para pesquisas posteriores. 
Do cumprimento das regras sociais 
 Existem regras que cumprimos de maneira espontânea, existem outras que o homem só cumprem em determinadas 
ocasiões, porque são coagidos a cumprir. 
 A Moral é o mundo da conduta espontânea, do comportamento que encontra em si próprio a sua razão de existir. Não é 
possível conceber-se o ato moral forçado, fruto da força ou coação. A moral, para realizar-se autenticamente deve contar 
com a adesão dos obrigados. 
 A Moral é incompatível com a violência, com a força, ou seja, com a coação, mesmo quando a força se manifesta 
juridicamente organizada. 
Direito e coação 
 Existe uma diferença básica entre o Direito e a Moral, que podemos indicar com essa expressão: a Moral é incoercível e o 
Direito é coercível. O que distingue o Direito da Moral, é a coercibilidade. Coercibilidade é a expressão técnica que serve para 
mostrar a plena compatibilidade do Direito e a força. 
 Há três posições diferentes em face da relação do Direito e a Moral: Uma teoria que sustenta que o Direito não tem nada a 
ver com força, não surgindo, nem se realizando graças a intervenção do estado. Essa teoria, idealiza o mundo jurídico, 
perdendo de vista o que realmente ocorre na sociedade. Em campo oposto, temos a teoria que vê no Direito uma efetiva 
expressão da força. Para Jhering, o Direito se reduz a “norma+ coação”, no que era seguido, com entusiasmo, por Tobias 
Barreto, ao defini-lo como “a organização da força”. Segundo essa concepção poderíamos definir o Direito como sendo a 
ordenação coercitiva da conduta humana, essa é a definição dada por Hans Kelsen. 
 A coação já é, em si mesma um conceito jurídico, dando-se a interferência da força em virtude da norma que a prevê, a 
qual, por sua vez, pressupõe outra manifestação de força e, por conseguinte, outra norma superior, e assim 
sucessivamente, até se chegar a norma pura ou à pura coação. 
 O que há, de verdade na doutrina da coação é a verificação da compatibilidade do Direito com a força, o que deu lugar ao 
aparecimento de uma teoria que põe o problema em termos mais rigorosos: é a TEORIA DA COERCIBILIDADE, segundo a qual 
o Direito é a ordenação coercitiva da conduta humana. 
Direito e heteronomia 
 Vê se que, podemos obedecer, ou não às normas de direito das quais somos destinatários. Elas são postas pelos juízes, pelos 
usos e costumes, sempre por terceiros, podendo coincidir ou não os seus mandamentos com as nossas convicções sobre o 
assunto. 
 Podemos criticar as leis, mas, devemos agir conforme elas. Isto significa que elas valem objetivamente, independentemente, 
e apesar da opinião e do querer dos obrigados. 
 Essa validade objetiva e transpessoal das normas jurídicas, as quais se põem, por assim dizer, acima das pretensões dos 
sujeitos de uma relação, superando-as na estrutura de um querer irredutível ao querer dos destinatários, é o que se 
denomina HETERONOMIA. Kant afirma ser a Moral autônoma, e o Direito heterônomo. 
 O Direito é heterônomo, visto ser posto por terceiros aquilo que juridicamente somos obrigados a cumprir. 
 É inegável, porém, que o Direito obriga, sendo característico da heteronomia bem mais profundo do que à primeira vista 
parece. 
 Podemos dizer então, que o Direito é ordenação heterônoma e coercível da conduta humana. 
Bilateralidade atributiva 
 Durante muito tempo, os juristas, contentaram-se com a apresentação do problema em termos de coercitividade; em 
seguida, renunciaram à “teoria da coação em ato”, para aceitá-la “em potência”, ou seja, depois de verem o Direito como 
coação efetiva, passaram a apreciá-lo como possibilidade de coação, mas nunca abandonaram o elemento coercitivo. Essa 
permaneceu como critério último para determinação do Direito. Podemos dizer que o pensamento jurídico contemporâneo, 
com mais profundeza, nem mesmo se contenta com o conceito de coação potencial, procurando penetrar mais adentro na 
experiência jurídica, para descobrir a nota distintiva essencial do Direito. Essa é ao nosso ver a bilateralidade atributiva. 
 O Direito implica uma relação entre duas ou mais pessoas, segundo certa ordem objetiva de exigibilidade. 
 Há bilateralidade atributiva quando duas ou mais pessoas se relacionam segundo uma proporção objetiva, que as autoriza a 
pretender ou a fazer garantidamente algo. Em outras palavras, quando há uma relação entre duas ou mais pessoas sem 
beneficiar somente um lado, relação que deve atingir o bem comum. Quando um fato social apresenta esse tipo de 
relacionamento dizemos que ele é jurídico. 
 Bilateralidade atributiva é, pois, uma relação de reciprocidade, em função da qual os sujeitos dessa relação ficam autorizados 
a pretender, exigir, ou a fazer garantidamente, algo. 
 Sem relação entre duas ou mais pessoas não há Direito. 
 É indispensável, para que haja Direito, que a relação seja objetiva. Não deve favorecer apenas um dos sujeitos da relação. 
 Da proporção (relação) estabelecida deve resultar a atribuição garantida de uma pretensão ou ação. 
Breves dados históricos 
 Houve desde a mais remota antiguidade, pelo menos a intuição de que o Direito não se confunde com a Moral. Os juristas 
romanos vislumbravam a existência de um problema a ser resolvido, sobre a distinção entre o Direito e a Moral, daí terem 
dito que “ninguém sofre pena pelo simples fato de pensar” e, “nem tudo que é lícito é honesto”. 
 Thomasius procurou apresentar uma diferenciação prática entre Direito e Moral, com uma delimitação que ele chamou de 
“foro íntimo” e “foro externo”. Segundo ele o Direito só deve cuidar da ação humana depois de exteriorizada; a Moral, ao 
contrário, diz respeito àquilo que se processa dentro da consciência. O Direito, por conseguinte, rege as ações exteriores do 
homem, enquanto as ações íntimas pertencem ao domínio especial da moral. Somente aquilo que se projeto no mundo 
exterior fica sujeito à possível intervenção do Poder Público. 
 Se é certo dizer que o Direito só aprecia a ação enquanto projetada no plano social, não é menos certo que o jurista deve 
apreciar o mundo das intenções. O foro íntimo tem grande importância na Ciência Jurídica. Por exemplo no Direito Penal, há a 
diferenciação entre crimes dolosos e culposos. 
 Deve-se, todavia, observar que a doutrina da “exterioridade do Direito” contém um elemento de verdade, no sentido de que 
pressupõe que o Direito jamais cuida do homem isolado, mas sim do homem membro da comunidade, em suas relações 
“intersubjetivas”. 
 Aristóteles foi o primeiro a vislumbrar o fenômeno de proporcionalidade. Depois Santo Agostinho e, por fim Tomás de Aquino 
que, escrevendo sobre teologia, deixaram páginas sobre o problema da Lei e da Justiça. A propósito da virtude justiça, ela se 
diferencia das outras virtudes por ser objetiva, sempre implica a relação de dois sujeitos. 
 
Confronto com as normas do trato social 
 Há, na sociedade, outra categoria de regras que são seguidas por força do costume, hábitos consagrados, ou, como 
propriamente se diz, em virtude de “convenção social”. São as normas de trato social, que vão desde regras mais 
elementares do decoro às mais refinadas formas de etiqueta e de cortesia. 
 Quem desatende a essa categoria de regras (regras do trato social) sofre uma sanção social, tal como a censura ou 
desprezo público, mas não pode ser coagido a praticá-las. 
 Para que seja atendida uma norma de trato social, basta, com efeito, a adequação exterior do ato à regra, sendo dispensável 
aderir ao seu conteúdo; nesse ponto, as regras do trato social coincidem com o Direito,no que este possui de heteronomia. 
 As regras costumeiras são bilaterais, assim como as da Moral, mas não são bilaterais atributivas, razão pela qual ninguém 
pode exigir que o saúdem respeitosamente. 
 Coercibilidade Heteronomia Bilateralidade Atributividade 
Moral - - + - 
Direito + + + + 
Costume - + + - 
 
Lições preliminares de Direito, Miguel Reale, cap. V 
 
 
Conceito de Direito-sua estrutura 
tridimensional 
 O estudo das diferenças e correlações entre o Direito e a Moral já nos permite ter uma noção do que é Direito. Podemos 
dizer que, o Direito é a ordenação bilateral atributiva das relações sociais, visando o bem comum. 
 Todas as regras sociais ordenam a conduta. Porém, a maneira desse ordenamento é que difere uma das outras. É própria do 
Direito ordenar a conduta de maneira bilateral atributiva, ou seja, estabelecendo relações de exigibilidade segundo uma 
proporção objetiva. O Direito, porém, não visa ordenar as relações dos indivíduos entre si para satisfação apenas dos 
indivíduos, mas, ao contrário, para realizar uma convivência ordenada, o que se traduz na expressão: “bem comum”. 
 O bem comum, a rigor, é a ordenação daquilo que cada homem pode praticar sem prejuízo do bem alheio. 
A intuição de Dante 
 Essa conceituação ética do Direito, que coloca a coação como elemento externo e não como elemento necessário da própria 
vida jurídica, teve uma formulação bastante feliz, por obra não de um jurista, mas de um poeta. O poeta Dante Alighieri. 
 “O Direito é uma proporção real e pessoal, de homem para homem, que, conservada, conserva a sociedade; corrompida, 
corrompe-a.” 
 Dante esclarece que a relação é uma proporção, a proporção é sempre uma expressão de medida. O direito é uma relação 
que exige proporcionalidade. 
 “O Direito é uma relação real e pessoal, de homem para homem...”. Para Dante, o direito tutela somente as coisas em razão 
dos homens: a relação jurídica conclui-se entre pessoas, não entre homens e coisas, mas é “real” quando tem uma coisa 
como seu objeto. 
 Segundo o orador e político romano, Cícero, devemos procurar o segredo do Direito na própria natureza humana, pois, ele é 
uma expressão ou dimensão da vida humana, como intersubjetividade (reciprocidade) e convivência ordenada. 
 O Direito, sem dúvidas, inova, apresenta elementos de renovação permanente, mas conserva, sempre, um ponto de apoio n 
tradição. 
Acepções da palavra Direito 
 A palavra Direito passou a ser usada séculos a fio, adquirindo vários sentidos, que devem ser cuidadosamente diferenciadas. 
 Esta é uma faculdade de Direito, o que quer dizer de ciência jurídica. Estudar o Direito é estudar um ramo do conhecimento 
humano, que ocupa um lugar distinto no domínio das ciências sociais, ao lado da história, da sociologia, da economia... 
 A ciência do Direito durante muito tempo levou o nome de Jurisprudência, atualmente, a palavra possui um significado estrito, 
para indicar a doutrina que vai se firmando através de uma sucessão convergente e coincidente de decisões judiciais ou de 
resoluções administrativas (jurisprudências judicial e administrativa). Pensamos que tudo deve ser feito para manter a 
acepção clássica dessa palavra, tão cheia de significado, que põe em destaque uma das virtudes primordiais que deve ter o 
jurista: a prudência. 
 Esse primeiro sentido da palavra “Direito” está em correlação essencial com o que denominamos “experiência jurídica”, cujo 
conceito implica a efetividade dos comportamentos sociais em função de um sistema de regras que também denominamos 
com o vocábulo de Direito. 
 “Direito” significa, por conseguinte, tanto o ordenamento jurídico, ou seja, o sistema de normas ou regras jurídicas que traça 
aos homens determinadas formas de comportamento, como o tipo de ciência que o estuda, a Ciência do Direito ou 
Jurisprudência. 
 A palavra do Direito tem diferentes acepções, é impossível nas ciências humanas ter se sempre só uma palavra para indicar 
determinada ideia e apenas ela. 
Estrutura tridimensional do Direito 
 Esses significados fundamentais que, através do tempo, têm sido atribuídos à palavra Direito, já não revelam que há 
aspectos ou elementos complementares na experiência jurídica? Uma análise profunda dos diversos sentidos da palavra 
Direito veio demostrar que eles correspondem a três aspectos básicos, discerníveis em todo e qualquer momento da vida 
jurídica: um aspecto normativo (o direito como ordenamento e sua respectiva ciência); um aspecto fático (o Direito como 
fato, ou em sua efetividade social e histórica) e um aspecto axiológico (o Direito como valor de justiça), 
 Onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sempre e necessariamente um fato subjacente (fato econômico, geográfico...); 
um valor, que confere determinada significação a esse fato, inclinando ou determinando a ação dos homens no sentido de 
atingir ou preservar certa finalidade ou objetivo; e, finalmente, uma regra ou norma, que representa a relação entre o fato 
e o valor. 
 Fato, valor e norma não existem separados. 
 Esses elementos ou fatores não só se exigem reciprocamente, mas atuam como elos de um processo, de tal modo que a 
vida do Direito resulta da interação dinâmica e dialética dos três elementos que a integram. 
 Desde a sua origem, isto é, desde o aparecimento da norma jurídica, até o final de sua aplicação, o Direito se caracteriza por 
sua estrutura tridimensional, na qual fatos e valores se dialetizam, isto é, obedecem a um processo dinâmico. Esse processo 
dinâmico do Direito obedece a uma forma especial de dialética que denominamos “dialética de implicação-polaridade”. Segundo a 
dialética de implicação-polaridade, aplicada a experiência jurídica, o fato e o valor nesta se correlacionam de tal modo que 
cada uma delas se mantém irredutível ao outro (polaridade) mas se exigindo mutuamente (implicação) o que dá origem à 
estrutura normativa como momento de realização do Direito. É também chamada de “dialética da complementariedade”. 
 Direito é a realização ordenada e garantida do bem comum numa estrutura tridimensional bilateral atributiva., ou, de uma 
forma analítica: Direito é a ordenação heterônoma, coercível e bilateral atributiva, segundo uma integração normativa de 
fatos segundo valores. 
 Direito é a concretização da ideia de justiça na pluridiversidade de seu dever ser histórico, tendo a pessoa como fonte de 
todos seus valores. 
 Se analisarmos essas três noções do Direito veremos que cada uma delas obedece, respectivamente, a uma perspectiva do 
fato (“realização ordenada do bem comum”), da norma (“ordenação bilateral-atributiva de fatos segundo valores”), ou do valor 
(“concretização da ideia de justiça”) 
Lições preliminares de Direito, Miguel Reale, cap.VI 
 
Sanção e coação- a organização 
da sanção e o oaoel do Estado. 
Acepções da palavra “coação” 
 A Moral de distingue do Direito por vários elementos, sendo um deles a coercibilidade. Pela palavra coercibilidade, entendemos 
a possibilidade lógica da interferência da força no cumprimento de uma regra de direito. A moral é incompatível com a força, 
o ato moral exige espontaneidade por parte do agente, sendo, desse modo, inconciliável com a coação. 
 É preciso entender os significados da palavra “coação”. Em um primeiro sentido a palavra coação significa apenas violência, 
física ou psíquica que pode ser feita contra uma pessoa ou um grupo de pessoas. A mera violência não é figura jurídica, mas 
quando se contrapõe ao Direito, torna anuláveis os fatos jurídicos. Nesta acepção genérica a palavra coação é, de certa 
maneira, sinônimo de violência praticada contra alguém. 
 O ato jurídico praticado sobre coação, é anulável; tem natureza jurídica mas, de natureza provisória. A coação é um dos 
vícios possíveis dos atos jurídicos. 
 Devemos reter a noção básica de que: existem nulidades de natureza absoluta e outras de caráter relativo. As absolutas 
inquinam (mancham)o ato desde seu nascimento e não produzem efeito válido. O ato anulável, ao contrário, produz efeitos 
até e enquanto não declarada a nulidade. 
 Entre os atos anuláveis, estão aqueles que nasceram em virtude da coação. 
 Não é, entretanto, nesse sentido que empregamos a palavra coação, quando dizemos que o Direito se distingue da Moral pela 
possibilidade da interferência da coação. Neste caso a coação é entendida como força organizada para fins do Direito mesmo. 
 O Direito é de tal natureza que implica uma organização do poder, a fim de que sejam cumpridos os seus preceitos. Como as 
normas jurídicas visam a preservar o que há de essencial na convivência humana, elas não podem ficar a mercê de simples 
boa vontade, de adesão espontânea dos obrigados. É necessário prever-se a possibilidade do seu cumprimento obrigatório. 
Quando a força se organiza em defesa do cumprimento do Direito mesmo é que nós temos a segunda acepção da palavra 
coação. 
Conceito de sanção 
 Não existe regra que não implique certa obediência, certo respeito. As regras éticas existem para ser executadas. As 
formas de garantia do cumprimento das regras denominam-se “sanções”. 
 Sanção é, pois, todo e qualquer processo de garantia daquilo determinado por uma regra. 
 O fenômeno jurídico representa, assim, uma forma de organização da sanção. Na passagem da sanção difusa para a sanção 
predominantemente organizada, poderíamos ver a passagem pouco a pouco do mundo ético em geral para o mundo jurídico. 
 A sanção, portanto, é gênero de que a sanção jurídica é espécie. 
 Todas as regras possuem, em suma, sua forma de sanção. 
 O que caracteriza a sanção jurídica é sua predeterminação e organização. Tudo no Direito obedece a esse princípio da sanção 
de ordem organizada de forma predeterminada. 
 Podemos dizer que atualmente, imaginam-se técnicas mais aperfeiçoadas para obter-se o cumprimento das normas jurídicas, 
através não de sanções intimidativas, mas sim através de processos que possam influir no sentido de adesão espontânea dos 
obrigados, como os que propiciam incentivos e vantagens. Ex: Se pagar o aluguel antes do dia tem desconto. 
O Estado como ordenação objetiva e unitária da sanção 
 Estado é a organização da Nação em uma unidade de poder, a fim de que a aplicação das sanções se verifique segundo uma 
proporção objetiva e transpessoal. O Estado detém o monopólio da coação no que se refere a distribuição de justiça. 
 O Estado, como ordenação de poder, disciplina as formas e os processos de execução coercitiva do Direito. 
As ordenações jurídicas não estatais 
 A coação existe também fora do Estado. O Estado é detentor da coação em última instância. Mas, na realidade, existe Direito 
também em outros grupos, em outras instituições que não o Estado. 
 O Estado caracteriza-se por ser uma instituição, cuja sanção possui caráter de universalidade. Nenhuma pessoa pode fugir à 
coação do Estado. Há um meio de escaparmos da coação grupalista, que é o abandono do grupo, mas ninguém pode abandonar 
o Estado. 
 Em nenhuma das entidades internas ou internacionais, com competência para aplicar sanções a fim de garantir as suas 
normas, em nenhuma delas encontramos a universalidade da sanção, nem a força impositiva eficaz que se observa no 
Estado. 
 Se num país são múltiplos os entes que possuem ordem jurídica própria, só o Estado representa o ordenamento jurídico 
soberano, ao qual todos recorrem para desfazer os conflitos recíprocos. 
 O Estado é uma instituição, da qual não se abdica, mas nem por isso ela pode ser visto como ente absoluto, superior aos 
indivíduos e à sociedade civil, visto que o Estado se constitui em razão deles. 
Lições preliminares de Direito, Miguel Reale, cap. VII

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