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Resenha do livro "Vida para Consumo"

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
GABRIEL TRINDADE DE CARVALHO
RESENHA CRÍTICA DO LIVRO “VIDA PARA CONSUMO: A TRANSFORMAÇÃO DAS PESSOAS EM MERCADORIA”
Uma reflexão sobre a obra de Zygmunt Bauman
VITÓRIA
2021
GABRIEL TRINDADE DE CARVALHO
RESENHA CRÍTICA DO LIVRO “VIDA PARA CONSUMO: A TRANSFORMAÇÃO DAS PESSOAS EM MERCADORIA”
Uma reflexão sobre a obra de Zygmunt Bauman
Resenha crítica desenvolvida como requisito parcial para obtenção de avaliação na disciplina de Antropologia Filosófica no curso de graduação de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal do Espírito Santo.
Orientador: Prof. Gilmar Francisco Bonamigo
VITÓRIA
2021
	A obra do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, “Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadorias”, aborda, de forma bem clara e expositiva, o processo que faz com que pessoas se tornem mercadorias vendáveis antes de se tornarem sujeitos, na sociedade de consumidores (página 20). Na estrutura da sociedade em que vivemos, o centro da vida e do meio social é o consumo; essa ótica é o que rege os desejos, as vontades, as ações, o modo como vivemos, vestimos, nos relacionamos, e muitos outros. Sendo capaz de organizar as relações sociais com base na ótica do consumo, esse estilo de vida tem influenciado diretamente também na formação de identidade das pessoas: fazendo com que a imagem de si mesmo e a imagem sobre os outros seja moldada conforme os padrões estabelecidos pela vida de consumo, fazendo de todos, assim, mercadorias à venda – independente de que forma isso se dá –.
Bauman enfatiza ao longo da obra a forma como nós somos constantemente influenciados e estimulados a “sermos uma mercadoria atraente e desejável” (página 13), e para isso fazemos de tudo para que nosso “valor” como mercadoria vendível seja aumentado, e fazemos uso de todos os recursos possíveis para isso. Agindo assim, colocamos nós mesmos no mercado e vendemo-nos constantemente, mesmo sem perceber (uma vez que já se tornou algo tão enraizado na sociedade que estamos inseridos, que passa despercebido pela grande massa). Um exemplo disso, que é citado na obra, são as redes sociais, tidas por Bauman como um “lugar onde todo mundo precisa ser visto”. Nas redes, expomos aquilo que achamos conveniente, aquilo que queremos que as pessoas vejam, ou seja: são a nossa “vitrine”, uma vez que claramente estamos imersos na ótica da venda. Muitas vezes, as redes também se tornam um problema por não ter uma fronteira entre o público e o privado (caracterizando a sociedade convencional), e acabarmos por colocar na nossa vitrine além do que seria “necessário” para ter nosso produto (nós mesmos) vendido.
	Com isso, é importante delinear o que é a sociedade de consumidores para Bauman. Para o escritor, “(...) o ambiente existencial que se tornou conhecido como “sociedade de consumidores” se distingue por uma reconstrução das relações humanas a partir do padrão, e à semelhança, das relações entre os consumidores e os objetos de consumo” (página 19). Completa, ainda, dizendo que “na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável” (página 20). O que Zygmunt quer transmitir através dessas locuções é o seguinte: no mundo atual, nessa era consumista, nada permanece igual por muito tempo, uma vez que sempre há atualizações, inovações e modelos esbanjados nas vitrines e na internet. Para além disso e por conta disso, essa ótica não se aplica somente aos produtos, mas também aos indivíduos. Na atualidade, a pessoa deve ser como o produto: chamar atenção, ser atrativa e útil para o que se deseja e objetiva. Daí a igualação (e diga-se de passagem, uma verdade) entre homem e mercadoria. Não dá pra negar que as pessoas estão, de certa forma, sendo comercializadas. A sociedade, imersa em valores provenientes do consumismo, comercializa aparência, habilidades e, quem sabe, caráter. Tudo pode ser vendido, inclusive a índole do ser. O que importa, aqui, é o lucro, o dinheiro, o próprio combustível da sociedade de consumidores. Combustível esse que está contido em postos distribuídos em ambientes reais e virtuais, onde pode sempre ser reabastecido. Muitas vezes, antes de chegar ao fim, o combustível metamorfoseado em notas de dinheiro e cartões de crédito é reposto, não importando se o tanque está cheio, não importando se o tanque irá transbordar, uma vez que nunca é demais. O exagero define tudo o que move a lógica consumista vivenciada pelos sujeitos contemporâneos, os quais, como maior virtude, devem possuir a ambição, o desejo de sempre querer mais.
Levando em consideração as questões levantadas acima, o enfoque neste momento se dará no homem enquanto mercadoria. Consoante Bauman, “numa sociedade de consumidores, tornar-se uma mercadoria desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os contos de fada” (página 22). Isso diz muito sobre o ser moderno: a lógica consumista está embutida nele e já faz parte de sua essência, fazendo com que haja a pouca distinção entre sujeito e objeto, tão comentada por Zygmunt em seu livro. Ao mesmo tempo que o indivíduo busca ser renovado, atualizado (perceba que os termos usados parecem descrever objetos de consumo, o que já indica uma transformação do homem em produto) e, portanto, diferente, ele nada mais é que uma fração de um todo muito igual. Não só ele está imerso e consumido pelo consumismo (veja como se torna paradoxal), mas sim a sociedade quase que por completa. A busca incessante pelas atualizações e diferenças, no fim, resultam numa padronização dos seres contemporâneos. Ironicamente, as distinções tornam todos iguais. Um exemplo disso é a dinâmica que se observa no Instagram: as pessoas que utilizam essa rede social buscam “vender” sua aparência e seu modo de viver pelo preço de likes e também patrocínios, seja em forma de produtos ou de dinheiro. É muito frisada a questão de possuir um diferencial na rede e no modo de mostrar os aspectos pessoais que se quer transmitir, mas o que se percebe na realidade pode ser traduzido pelo jargão “mais do mesmo”.
Do outro lado da moeda, ainda centralizando o olhar no homem-mercadoria, é importante discutir a posição daquela minoria que não foi tomada pelo consumismo (ou que pelo menos, em razão de limitações e carências de ordem social e econômica, não podem se dar ao luxo de permitir a invasão consumista em suas vidas). Conforme Zygmunt Bauman, “numa sociedade de consumidores, todo mundo precisa ser, deve ser e tem que ser um consumidor por vocação” (página 73). O que isso revela (ou desvela), na verdade, é um cenário de exclusão de quem não segue o padrão, ou melhor (e mais sinceramente falando), de quem não gera lucro, dinheiro. Em resumo, “a “sociedade de consumidores”, em outras palavras, representa o tipo de sociedade que promove, encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma estratégia existencial consumistas, e rejeita todas as opções culturais alternativas” (página 71) e “(...) os “inválidos” marcados para a exclusão (uma exclusão final, irrevogável, sem apelação) são “consumidores falhos” (...) não podem ser concebidos como pessoas necessitadas de cuidados e assistência, uma vez que seguir e cumprir os preceitos da cultura de consumo é algo considerado (...) permanente e universalmente possível” (páginas 74 e 75).
Deixando um pouco de lado o homem-mercadoria, as linhas que irão se seguir falarão um pouco sobre as consequências advindas da aquisição irracional de bens de consumo. Segundo Zygmunt Bauman, “(...) o consumismo, em aguda oposição às formas de vida precedentes, associa a felicidade não tanto à satisfação de necessidades (...), mas a um volume e uma intensidade de desejos sempre crescentes, o que por sua vez implica o uso imediato e a rápida substituição dos objetos destinadosa satisfazê-la” (página 44). Nessa perspectiva, é alarmante ter que relatar que o consumismo possui como um de seus pedestais o fenômeno da obsolescência programada: os produtos são desenvolvidos e vendidos já com o propósito de se tornarem inúteis e ultrapassados em um curto espaço de tempo, o que faz com que novas gerações de produtos sejam compradas. E isso, infelizmente, é um ciclo, um ciclo de renovação da felicidade proposta pela concepção consumista. Ora, “(...) o motivo da pressa é, em parte, o impulso de adquirir e juntar. Mas o motivo mais premente que torna a pressa de fato imperativa é a necessidade de descartar e substituir” (página 50). Sob essa ótica, é evidente a rápida e sucessiva troca dos bens de consumo embasada no argumento da felicidade, o objetivo máximo da vida, que sempre procura e deve ser alcançado na sociedade de consumidores. Todavia, Bauman já alertava para o que essa conjuntura iria causar: “a economia consumista se alimenta do movimento das mercadorias e é considerada em alta quando o dinheiro mais muda de mãos; e sempre que isso acontece, alguns produtos de consumo estão viajando para o depósito de lixo” (página 51). O que isso transmite é deveras preocupante, visto que o consumismo não está afetando somente o modo de vida das pessoas e a dinâmica de mercado, mas também está impactando negativamente no ambiente natural. Não é de se espantar (e ao mesmo tempo é de se espantar) ver a poluição presente no âmbito ambiental, poluição essa que contamina os solos e as águas. O descarte excessivo e irregular dos objetos de consumo é o grande responsável pela degradação ambiental vivenciada nos dias atuais. Exemplificando melhor, a intenção hodierna não é baseada nos 3 Rs da sustentabilidade (reduzir, reutilizar e reciclar). Pelo contrário, como já dito em linhas anteriores, o interesse está em substituir compulsivamente e descartar repetidamente. Pense no grande acúmulo de lixo não degradável que toda essa condição proporciona, é assustador e paralelamente banal. A página 51 diz: “aqui, as ferramentas que falharam devem ser abandonadas, e não afiadas para serem utilizadas de novo, agora com mais habilidade, dedicação e, portanto, com melhor efeito. Assim, quando os objetos dos desejos de ontem e os antigos investimentos da esperança quebram a promessa e deixam de proporcionar a esperada satisfação instantânea e completa, eles devem ser abandonados (...)”. É possível concluir que falta, no ser inserido na sociedade de consumidores, a responsabilidade e a consciência ambientais.
	Quando Zygmunt Bauman fala que “a vida de consumo não pode ser outra coisa senão uma vida de aprendizado rápido, mas também precisa ser uma vida de esquecimento veloz” (página 124), ele transmite uma imagem do tempo que é, além de presente em muitas de suas obras literárias, característica marcante do mundo hodierno. Na atualidade, o tempo adquire uma importância nunca antes experimentada. O tempo, mesmo sendo curto (que é o que acontece), determina o quão obsoleto é um produto ou o próprio indivíduo. Tudo na sociedade de consumidores, de maneira exageradamente rápida, ganha a alcunha de antiguidade, e ao mesmo tempo, sempre há algo mais novo, moderno e revolucionário esperando para ser trocado pelo combustível do mundo consumista. Bauman reforça em muitos momentos do livro que a satisfação é o que a lógica consumista promete aos indivíduos, mas que não satisfazê-los é o que move esse universo. Na página 127, há um trecho muito interessante: “como diz Dan Slater, a cultura de consumo “associou a satisfação à estagnação econômica: nossas necessidades não podem ter fim (...)” somos impulsionados e/ou atraídos a procurar incessantemente por satisfação, mas também a temer o tipo de satisfação que nos faria interromper essa procura”. Bom, aqui se torna claro o motivo pelo qual o tempo rege as dinâmicas modernas: ele é o determinante do velho e do novo, do belo e do feio, do inútil e do útil. Ele é, enfim, o agente de mudança e sua própria causa. O tempo, então, influencia em tudo e, em especial, no indivíduo, uma vez que “mudar de identidade, descartar o passado e procurar novos começos, lutando para renascer – tudo isso é estimulado por essa cultura como um dever disfarçado de privilégio”. Por fim, o que essa resenha está tentando transmitir até o presente momento é que o tempo, a nova lógica de mercado e as características consumistas desta atuam como uma espécie de fênix: uma constante e eterna morte acompanhada de um sempre certo renascimento das cinzas. 
	O que deve se tirar de conclusão após a leitura da brilhantíssima obra literária “Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria”, escrita por um tão quanto brilhante autor polonês de denominação Zygmunt Bauman, na verdade, é não concluir coisa alguma. O que o livro transmite, então, é um incômodo e uma vivência da expressão “cair em si”. A conclusão própria (ou melhor, a falta dela) é que é preciso refletir. Reflexão é a palavra. Reflita sobre o quanto você está imerso na cultura do consumo. Reflita sobre os padrões que você segue por conta da cultura do consumo. Olhe em volta e perceba quantas outras pessoas próximas também vivenciam de modo automático a sociedade de consumidores. Busque relembrar suas aquisições. Provavelmente, não se recorda de todas, e as que recorda, hoje, após a leitura, é quase certo que julgue sem necessidade alguma. Você agora se pergunta como pode ter sido tão influenciável e influenciado. A verdade é que se dá conta de que a alienação não era algo exclusiva da sociedade de produtores, e que você mesmo está alienado agora, quando antes acreditava que era independente e tinha posse de liberdades de escolha. Nada mais define você e todos os indivíduos contidos na sociedade de consumidores do que meras marionetes manipuláveis pelo mercado. Você refletiu isso após o livro. E agora, deve refletir ainda mais sobre como agirá diante disso tudo. Na visão dessa resenha, o que Bauman quer é exatamente o seguinte: tirar as vendas do leitor e fazê-lo enxergar sua verdadeira realidade, além de convidá-lo a refletir sobre como chegou até aqui e se há algum modo de se libertar dessa “escravidão moderna”.
Referências
1. BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

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