Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2154810 CADERNO pedagógico 2020 Nº 3 • 2020 Cpa_Cadernopedagogico_2020_V3.indd 1-3Cpa_Cadernopedagogico_2020_V3.indd 1-3 4/29/20 2:35 PM4/29/20 2:35 PM Cpa_Cadernopedagogico_2020_V3.indd 4-6Cpa_Cadernopedagogico_2020_V3.indd 4-6 4/29/20 2:35 PM4/29/20 2:35 PM 2 CADERNO PEDAGÓGICO O Caderno Pedagógico (Nº- 3 • 2020) Edição 2020 é uma publicação das Editoras Ática, Scipione e Saraiva Presidente Saber Educação Paulo Serino Diretor Comercial para a Rede Pública Volnei Korzenieski Diretor Editorial Lauri Cericato Analista de Marketing Ivan Hannonen Peão Gerente de Assessoria Pedagógica Renata Rossi Fiorim Siqueira Coordenadora do Núcleo de Produção de Conteúdo e Formação Rosana Marcia Almeida de Matos Moura Aguiar Núcleo de Produção de Conteúdo e Formação Helga Vanessa Assunção de Souza Cezar, Elaine Cristina Rodrigues Gomes Vidal e Heleomar Gonçalves Gerente de Arte Claudio Faustino Design Flávia Dutra (proj. gráfico e capa), Ana Miadaira, Daniele Fátima, Elen Coppini Camioto, Simone Aparecida Zupardo e Yong Lee Kim (edição de arte) Iconografia Roberto Silva (coord.), Claudia Balista e Douglas Cometti (pesquisa iconográfica), Cesar Wolf (tratamento de imagens) Revisão Rosângela Muricy (coord.), Alexandra Costa da Fonseca, Ana Maria Herrera, Ana Paula Chabaribery Malfa, Carlos Eduardo Sigrist, Heloísa Schiavo, Hires Heglan Borges, Kátia S. Lopes Godoi, Luciana Batista de Azevedo, Luís Maurício Boa Nova, Luiz Gustavo Bazana, Patricia Aparecida Cordeiro, Patrícia Travanca, Paula Teixeira de Jesus, Sandra Cristina Fernandez e Sueli Bossi Nº- 3 • 2020 Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 2Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 2 4/29/20 12:09 PM4/29/20 12:09 PM Apresentação .............................................................4 Introdução ......................................................................6 Capítulo 1 O currículo na Educação Básica ................................ 8 Fala, Especialista! A BNCC e as competências para o século XXI .........15 Capítulo 2 A BNCC e o currículo ....................................................16 Capítulo 3 O currículo do Novo Ensino Médio: reflexões sobre dispositivos legais e impactos na didatização do ensino .................................................24 Fala, Especialista! Os desafios da implementação do novo Ensino Médio .............................................................45 Capítulo 4 A formação das crianças e dos jovens na Educação Integral: algumas reflexões necessárias para o desenvolvimento dos alunos ................................................................................47 Fala, Especialista! Educação Integral ...............................................................54 Capítulo 5 Escola e inclusão: garantindo a aprendizagem de todos e de cada um .............................................. 56 Fala, Especialista! Uma escola para todos .................................................... 65 Capítulo 6 Reconhecendo a importância da Educação de Jovens e Adultos ................................................... 66 Fala, Especialista! Professora de EJA, professora nota dez! ....................76 Capítulo 7 Projeto de Vida: muito mais que a escolha de uma profissão ........................................................... 77 Fala, Especialista! BNCC e Projetos de Vida .................................................87 Capítulo 8 Projetos Integradores na prática pedagógica .....88 Fala, Especialista! Projetos Integradores são para todos?......................100 Capítulo 9 O papel do livro didático no cenário educacional contemporâneo .................................. 102 Fala, Especialista! Educação, tecnologia e livro didático: uma integração possível ...................................................114 Capítulo 10 Sequência de pautas para reunião pedagógica .................................................................... 116 Pauta 1: A importância de momentos formativos no cotidiano do professor .................................................. 118 Pauta 2: Currículo: o que é e como elaborar ................................................... 122 Pauta 3: O currículo nos diferentes segmentos da Educação Básica (Educação Infantil, Anos Iniciais, Anos Finais, Ensino Médio e EJA) .. 124 Pauta 4: Currículo: conhecer para implementar ........................................... 125 Pauta 5: O Novo Ensino Médio – proposta curricular e BNCC ................................ 127 Pauta 6: O Novo Ensino Médio – itinerários formativos ........................... 129 Pauta 7: Ensino de Jovens e Adultos – contexto atual ..........................................131 Pauta 8: Educação integral ................................ 132 Pauta 9: Adequações curriculares .................. 134 Pauta 10: Projetos de Vida ................................. 135 Pauta 11: Projetos Integradores .........................137 Pauta 12: Livro didático ........................................ 139 Considerações finais ....................................142 Referências bibliográficas .......................143 3 SUMÁRIO Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 3Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 3 4/29/20 12:09 PM4/29/20 12:09 PM S e rg io P e d re ir a /P u ls a r Im a g e n s M a s ch a T a c e /S h u tt e rs to ck 4 APRESENTAÇÃO Prezado(a) professor(a), prezado(a) coordenador(a) pedagógico(a), Depois do sucesso das edições anteriores, apresentamos, em 2020, nossa mais recente versão do Caderno Pedagógico. Contemplando temas atuais, que se configuram objeto de estudo e in- vestigação em escolas de todo o Brasil, este material tem por objetivo apoiar os educadores em seu processo de formação contínua. São dez capítulos, que tratam de assuntos relevantes no cenário edu- cacional contemporâneo por meio de textos completos e recheados de referências teóricas que podem servir de fonte de pesquisa e consulta para seu aprofundamento. No final de cada capítulo, há a seção “Fala, Especialista!”, com um texto escrito por um profissional considerado re- ferência no tema sobre o qual escreve. São dez capítulos, que tratam de assuntos relevantes no cenário educacional contemporâneo [...] “ ” Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 4Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 4 4/29/20 12:09 PM4/29/20 12:09 PM M a s c h a T a c e /S h u tt e rs to c k 5 Investir na formação continuada do(a) professor(a) significa, ao mesmo tempo, reconhecê-lo(a) como profissional da educação e colaborar para o sucesso na aprendizagem de todos e de cada um. “ ” Os capítulos de 1 a 9 trazem à baila discussões pertinentes, apresentando as informações de forma organizada e fundamentada. Muitas são as possibilidades que esses capítulos ofere- cem: podem se configurar uma boa fonte de consulta quando surge alguma dúvida sobre questões educacionais contemporâneas; po- dem ser, ainda, material de estudo individual para o(a) professor(a) que deseja, através de leitura e pesquisa, aprofundar seus conheci- mentos profissionais; pode também – e talvez aí resida sua mais potente utilidade – servir de material de base para um aprendizado coletivo entre profissionais, sendo o ponto de partida para que muitas interações e reflexões se de- senvolvam entre as diferentes comunidades educativas. Pensando justamente nesse potencial de uso coletivo, o último capítulo do Caderno Peda- gógico é voltado especificamente para o(a) coordenador(a) pedagógico(a), ou outro(a) res- ponsável pela formação continuada dos(as) professores(as), e traz uma sequência de pau- tas de reuniões. O objetivo é fomentar a discus- são, ampliar o debate e avançar coletivamente nas reflexões e nos conhecimentos sobre edu- cação. Afinal, quando se aprende junto, a ten- dênciaé aprender mais e melhor. Todos os assuntos abordados foram cuidado- samente pensados e selecionados, de forma a contribuir, de fato, para a educação brasileira. O Caderno Pedagógico preocupa-se também em abordar temas atuais e instigantes que in- tegrem todo o território nacional. Esse movi- mento contribui para que você, professor(a) e coordenador(a), vislumbre um contexto mais amplo de educadores e perceba que não está sozinho(a)! Esperamos que todos gostem e que façam um bom proveito deste mate- rial. Investir na formação continuada do(a) professor(a) significa, ao mes- mo tempo, reconhecê-lo(a) como profissional da educação e colaborar para o sucesso na aprendizagem de todos e de cada um. É nessas pre- missas que acreditamos e são elas que nos movem. Sigamos, pois, jun- tos nessa empreitada! Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 5Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 5 4/29/20 12:09 PM4/29/20 12:09 PM M o n k e y B u s in e s s I m a g e s /S h u tt e rs to ck 6 INTRODUÇÃO Nos estudos sobre educação, alguns conhecimentos já estão consoli- dados e são aceitos e referendados por pesquisadores e especialistas. Sabe-se, por um lado, que a aprendizagem se dá através de aproxima- ções sucessivas do objeto de conhecimento. Sabe-se, por outro, que temos uma homologia de processos de aprendizagem entre alunos(as) e professores(as), ou seja, tal como os estudantes, os educadores tam- bém aprendem por aproximações sucessivas e essa aprendizagem é potencializada quando têm a possibilidade de interagir com seus pares e de se constituírem protagonistas do próprio aprendizado. Considerando esses princípios, o Caderno Pedagógico tem como obje- tivo contribuir para o processo de formação contínua do(a) educador(a). Por ser um material inovador e diversificado, constitui uma boa base so- bre a qual educadores de todo o país podem se debruçar e aprofundar seus conhecimentos, num processo de troca e reflexão constante. Em tempos de tantas mudanças com a BNCC, o material começa jus- tamente com esse tema: no capítulo 1, discutimos o currículo na Edu- cação Básica, as principais modificações que se operam na passagem de um currículo estruturado por objetivos para um pensado a partir de competências e habilidades e a preparação que essas mudanças exigem do(a) professor(a). O assunto continua no capítulo 2, onde são discutidas especificamente as variações trazidas ao currículo pela BNCC, de modo mais aprofunda- do: a origem e o histórico do documento, seus impactos no cotidiano es- colar, o programa ProBNCC e as construções dos currículos dos estados e municípios a partir da Base. Entre todas as mudanças, talvez o segmento mais afetado na Educa- ção Básica seja o Ensino Médio, pois, além da nova Base, toda a sua estrutura foi alterada pela Lei do Novo Ensino Médio (13 415/2017) e pe- las novas Diretrizes Curriculares Nacionais, que trazem novidades como itinerários formativos, Projetos Integradores, Projetos de Vida, etc. O conjunto dessas questões é o tema do terceiro capítulo. Em paralelo a tantas novidades, alguns assuntos “antigos”, já bastante discutidos entre professores(as), como Educação Integral e Educação para todos, numa perspectiva inclusiva, continuam gerando dúvidas, novos aportes teóri- cos surgem para sustentá-los e a discussão e reflexão sobre eles ainda é uma demanda dos educadores. Por essa razão, o capítulo 4 aborda a Educação Integral e sua distinção com relação à escola de tempo inte- gral, enquanto o capítulo 5 oferece subsídios para pensar uma escola para todos e todas. Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 6Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 6 4/29/20 12:09 PM4/29/20 12:09 PM M o n k e y B u s in e s s I m a g e s /S h u tt e rs to ck 7 Já no capítulo 6, são abordadas as especificidades da Educação de Jovens e Adultos: características da EJA e de seus(suas) alunos(as) e a relevância social dessa modalidade de ensino são tópicos desse texto, útil não somente para o(a) professor(a) que trabalha na EJA, mas tam- bém para todo(a) aquele(a) que, como cidadão, deseja refletir de modo mais aprofundado sobre a Educação de Jovens e Adultos em nossa sociedade. Projetos de Vida e Projetos Integradores são proposições que surgem, inicialmente, para o Ensino Médio, mas que podem ser aplicadas com sucesso em diferentes segmentos. Pelo fato de diminuírem a distância entre os espaços de dentro e de fora dos muros da escola e de articu- larem diferentes dimensões e conhecimentos da vida dos(as) alunos(as), ambos se constituem estratégias potentes para a realização de uma aprendizagem significativa. Dessa forma, o capítulo 7 aborda o que são os Projetos de Vida e sua relação com a BNCC, enquanto o capítulo 8 traz uma retrospectiva histórica do que são os projetos na área de edu- cação, situando os Projetos Integradores nesse contexto. Na sequência, mais um “velho conhecido” da escola entra em cena: o livro didático. O nono capítulo apresenta a história desse recurso tão amplamente utilizado hoje em dia, propondo uma discussão sobre os modos de utilizá-lo – não mais como um “guia fechado” do currículo, mas como uma ferramenta adicional à prática docente, que pode com- plementar ou ser complementada por outras estratégias, recursos e materiais. Finalmente, o capítulo 10 é direcionado ao(à) coordenador(a) e traz uma sequência de pautas de reuniões pedagógicas. Essas pautas podem ser utilizadas de forma integral (tendo os slides disponibilizados on-line), ou podem ter parte das atividades propostas aplicadas, adaptadas, trans- formadas, de acordo com a necessidade e o interesse de cada grupo e de cada escola. As pautas sugeridas propiciam também a oportunidade de refletir sobre modos de dinamizar e levar ao alcance dos(as) profes- sores(as) os temas dos outros capítulos do caderno. Com essa contribuição, esperamos firmar, mais uma vez, nosso compro- misso com os(as) professores(as) e com a educação brasileira! Acredi- tamos no potencial de cada profissional dessa área, mas sabemos que, juntos, podemos sempre muito mais. A disponibilização pública desse Caderno Pedagógico é nossa forma de dizer: “Estamos com você nes- sa empreitada de transformar nosso país e nossa sociedade através da educação pública de qualidade. Vamos seguir juntos?”. Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 7Cad_Pedagogico_2020_001a007_Iniciais.indd 7 4/29/20 12:10 PM4/29/20 12:10 PM CAPÍTULO 1 O currículo na Educação Básica A palavra currículo tem origem no latim curri- culum, que significa “percurso a ser realizado”, “ato de percorrer”. Quando combinado à pala- vra escolar, o currículo associa-se à necessida- de de compreender o percurso formativo que um estudante precisa vivenciar em seu ciclo educacional, a partir das diretrizes postas para esse aspecto formativo. O currículo escolar precisa tentar responder uma pergunta simples, porém com resposta complexa: como queremos que o nosso aluno saia da escola ao término dos seus anos es- colares? Talvez seja necessário responder a várias outras perguntas antes de responder a essa. Podemos citar quatro delas: 1 Que carga horaria mínima de ensino é ne- cessária para que um estudante tenha êxito no ano letivo? 2 Quais disciplinas serão trabalhadas nos di- versos níveis de ensino propostos? 3 Qual será o critério de sucesso ou insuces- so dos alunos ao final do ano letivo? 4 Quais competências e habilidades preci- sam ser desenvolvidas pelos alunos? Essas quatro perguntas não são exaustivas, mas exemplificam bem o fato de que o currí- culo escolar é uma estrutura multidimensional, que leva em consideração vários aspectos do fazer pedagógico e da estrutura organizacional escolar, além de implicar a vida profissional de todos que compõem uma rede de ensino. Por isso, sua construção é complexa e precisa ser feita a partir de váriasrealidades e contextos, de modo a tentar oportunizar a todos uma edu- cação pautada na equidade. Ismar Ingber/Pulsar Imagens 8 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 8Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 8 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM Alinhar com a legislação Revisitar o currículo atual Determinar o que vai ser desenvolvido Verificar conteúdos alinhados ao que se espera desenvolver Estabelecer critérios avaliativos Verificar critérios de sucesso e insucesso Determinar diretrizes locaisColocar esse conteúdo à prova Contudo, não se exige uma estrutura curricular rígida para todos os con- textos escolares. No Brasil, essa realidade já é apontada pelo desenvol- vimento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que tem uma estru- tura de currículo, mas deve ser encarada como um documento norteador para a construção de currículos estaduais e municipais. Uma pergunta comum entre professores é: Por que a BNCC não pode ser considerada um currículo? A resposta a essa pergunta é que a BNCC não é capaz de trabalhar com as especificidades locais, como é o caso da educação inclusiva, quilombola, indígena e do campo, e não traz aspec- tos metodológicos na sua construção. Ou seja, a BNCC é um documento norteador do currículo, mas o que ele precisa e deve ter é mais abrangen- te que a própria base. Outro fator importante é o fato de as habilidades na BNCC serem básicas, o que garante às redes escolares autonomia para ousar, se for o caso. A seguir, discutiremos como o currículo adentra a sala de aula, como o processo de construção pode ocorrer, quais aspectos são fundamentais na construção do currículo e qual o papel do coordenador pedagógico como mantenedor do currículo no chão da escola. Construindo currículos escolares Muito se tem falado no Brasil em construção e implementação curricular. Isso se deve ao fato de professores e sistemas educacionais estarem muito implicados no processo de implementação da BNCC. Então, uma pergunta sobre a qualidade desse desenvolvimento pode surgir: Como garantir um currículo escolar com uma boa qualidade? Existem várias correntes de curriculum design que responderiam a essa pergunta de formas diferentes. Entretanto, existe um núcleo sólido entre essas cor- rentes sobre aquilo que se espera de uma construção adequada de um currículo escolar com qualidade. Na Figura 1, alguns elementos são apresenta- dos como sendo fundamentais para a cons- trução de um currículo escolar. Primeiramente, precisa-se compreender quais são os docu- mentos norteadores que devem ser levados em consideração para esse desenvolvimento. No Brasil, esses documentos vêm sendo de- senvolvidos desde 1996 com a Lei de Diretri- zes e Bases da Educação (LDB), passando em 1997-1998 pelas Diretrizes Curriculares Nacio- nais (DCN) e pelos Parâmetros Curriculares Na- cionais (PCN) e, mais recentemente, em 2017, pela BNCC. É interessante mencionar que as DCN e os PCN tiveram a intenção de nortear os currículos escolares, mas suas implementa- ções não geraram o efeito esperado. Por isso, a BNCC surge, com base nesses dois documen- tos, como alicerce na construção dos currículos estaduais e municipais pelo Brasil. Figura 1 – Aspectos importantes para a construção curricular escolar. 9 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 9Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 9 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM Nesse ínterim de alinhamento com os documentos norteadores, estu- dar propostas e/ou documentos curriculares anteriores faz-se neces- sário para alinhar o antigo com o novo, ou seja, se no seu estado ou cidade já existia alguma proposta ou diretriz curricular, é interessante que haja um alinhamento entre esses documentos para que o novo não seja disruptivo com relação ao antigo. Outro passo importante é a determinação de quais diretrizes o documento curricular precisa seguir. Muito se fala hoje sobre a formação humana e cidadã; então, competências e habilidades associadas a esse desenvolvimento pleno precisam ser incorporadas aos currículos, sendo sempre necessário colocar essas diretrizes para a validação da comunidade escolar. Um bom exemplo desse desenvolvimento para além do cognitivo são as 10 competências gerais propostas pela BNCC, as quais devem ser enca- radas como desenvolvimento humano e precisam estar incorporadas em todos os componentes curriculares, sempre que possível. Na etapa seguinte, há de se definir quais disciplinas deverão estar contidas na estrutura organizacional do currículo, bem como quais seriam os possíveis itinerários formativos ou projetos pedagógicos capazes de realizar uma integração curricular com foco no processo de desenvolvimento cognitivo e socioemocional do aluno. É impor- tante que essa análise seja feita à luz do que a sociedade moderna espera do cidadão. Como exemplo, podemos citar que a sociedade espera pessoas com boa reflexão crítica, conhecimento do mundo, que tenham uma boa educação financeira e utilizem tecnologia de forma consciente, dentre várias outras possíveis habilidades que po- dem ser desenvolvidas também no nível escolar. Tais temas podem servir como âncora para o desenvolvimento de algum projeto integra- dor entre disciplinas. Por fim, a avaliação da aprendizagem deve ser um meio eficaz para melhoria da prática pedagógica do professor, e não um instrumento de caráter punitivo para aqueles alunos que não conseguiram se de- senvolver a contento. Ou seja, a avaliação deve ter um caráter muito diferente do de apenas mensurar e atribuir nota; ela deve ser fruto da capacidade do sistema de refletir sobre a sua prática, oportunizando ao estudante a condição necessária para o seu aprendizado. Sendo assim, é imperativo que esses critérios avaliativos sejam claros e abor- dem, de forma sistemática, como deve ser realizada uma avaliação da aprendizagem baseada em habilidades e competências e que contem- ple o desenvolvimento real do aluno. Em complementaridade ao exposto acima, alguns outros elementos in- tracurriculares também merecem atenção e destaque nessa construção. Muitos são os sinônimos dados a esses termos, mas abaixo segue sua respectiva descrição. Objetivo de Aprendizagem – Toda aula deve ter sua intencionali- dade, ou seja, o professor deve ser capaz de descrever o objetivo para o qual aquela aula foi planejada, justificando assim a aprendi- zagem do seu aluno. M a s c h a T a c e /S h u tt e rs to c k 10 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 10Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 10 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM Objeto de Ensino – Junto ao conteúdo programático, o objeto de ensino contempla o que será ensinado ao longo da aula, sua des- crição e associação com as habilidades a serem desenvolvidas. Metodologia de Ensino – Associada ao objeto de ensino, a me- todologia está relacionada à forma como a aula será conduzida, tal como a descrição das atividades pedagógicas a serem propos- tas pelo professor. Vale ressaltar a necessidade da descrição de como a avaliação da aprendizagem será desenvolvida ao longo da aula, pois tal processo ajuda na retroalimentação do fazer pe- dagógico docente. De uma forma geral, o currículo precisa necessariamente dialogar com quem está dando aula. Sendo assim, a figura do professor nesse pro- cesso de construção é fundamental para que o proposto no documen- to curricular seja transposto na forma do fazer pedagógico do profes- sor. Um exemplo de como isso pode ser feito será apresentado na seção a seguir. Currículo no dia a dia da sala de aula Por muitos anos, professores da Educação Básica adotavam o sumá- rio do livro didático para realizar o planejamento curricular ao longo do ano letivo. E como conciliar o uso dessa estratégia com a neces- sidade de implementação dos documentos curriculares legais? Com a estrutura curricular pós-moderna baseada no desenvolvimento de competências e habilidades, verifica-sea necessidade da aquisição de vários conteúdos programáticos para o desenvolvimento de uma habilidade curricular. Ou seja, os conteúdos continuarão existindo, mas precisarão estar associados às competências e habilidades a serem desenvolvidas no respectivo ano escolar, respeitando a pro- gressão curricular. Para exemplificar o exposto acima, adotemos uma habilidade da BNCC referente à Matemática, conforme apresentado na Figura 2. Observa- -se que, mesmo dentro da BNCC, existe um processo de hierarqui- zação entre componente curricular, unidade temática, objeto de co- nhecimento e habilidades. É claro que essa hierarquia não é linear e de sentido único, podendo existir várias habilidades associadas a um mesmo objeto de conhecimento, por exemplo. Pois bem, adotamos a habilidade EF08MA06, que trata da resolução e elaboração de expres- sões algébricas, como exemplo, e destacamos em vermelho o conteú- do programático necessário para o desenvolvimento dessa habilidade. Um fato importante é que um mesmo conteúdo pode desenvolver mais de uma habilidade simultaneamente, entretanto a intencionalidade ou foco deve ser em uma habilidade específica. 11 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 11Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 11 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM Componente Curricular Unidade Temática Matemática (8º- ano) Álgebra Valor numérico de expressões algébricas (EF08MA06) Resolver e elaborar problemas que envolvam cálculo do valor numérico de expressões algébricas, utilizando as propriedades das orações. Operação com números racionais Propriedades de expressões algébricas Modelagem algébrica Objeto de Conhecimento Habilidade Conteúdo Programático Figura 2 – Desenvolvimento curricular, de acordo com a BNCC, de Matemática do 8º ano até o conteúdo programático necessário para o desenvolvimento da habilidade proposta. Ainda sobre a Figura 2, cabe ressaltar que os conteúdos programáticos propostos na faixa em vermelho não são exaustivos e servem ape- nas para exemplificação da mensagem deste texto. De um modo geral, para que o aluno de- senvolva a habilidade supracitada, ele precisa operar bem com números racionais, conhecer as propriedades de expressões algébricas e compreender como realizar o processo de mo- delagem de uma situação-problema utilizando seus conhecimentos algébricos. Essa análise pode e deve ser feita por todos os professores, de todas as áreas do conhecimento, ao longo do seu planejamento escolar. Em outras pala- vras, percebe-se um alinhamento entre o que a habilidade propõe e o conteúdo programá- tico que o professor está habituado a ensinar em sala de aula, mas essa relação precisar ser dada pelo professor, a partir do seu conheci- mento pedagógico específico do conteúdo. Então, agora fica clara a diferença entre ado- tar apenas o sumário do livro didático como estrutura curricular e levar em consideração o currículo pensado para aquela determinada realidade. Como observado no parágrafo an- terior, livro didático e currículo não são exclusi- vos, havendo um caráter de interdependência entre si que precisa ser destacado no planeja- mento da distribuição dos conteúdos progra- máticos ao longo do ano letivo. Outro ponto a ser salientado é que, ao final do ano, todas as habilidades descritas na BNCC devem ter sido minimamente trabalhadas, sendo necessária a verificação constante desse desenvolvimento a partir de avaliações das aprendizagens con- dizentes com o percurso formativo proposto. Nesse sentido, professores e coordenado- res pedagógicos devem ter seus discursos e práticas muito bem alinhados à finalidade de aprendizagem dos alunos. 12 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 12Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 12 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM Coordenador Pedagógico Auxílio Pedagógico Resolução de Conflitos Atendimento Familiar Formação de Professores Monitoramento de Desempenhos O papel do coordenador pedagógico na garantia do currículo No Brasil, embora o papel do coordenador pedagógico tenha se tornado burocrático e admi- nistrativo, faz-se necessário que esse profissional retorne às origens para ajudar o professor no seu desenvolvimento didático-pedagógico e oportunizar ao aluno uma condição mais favorável à aquisição do conhecimento. Conhecedor da escola como um todo, o coordenador pedagó- gico geralmente é um professor licenciado que se especializou de alguma forma em gestão pedagógica. E, dessa forma, esse profissional exerce, talvez sem nem perceber, um papel de liderança na escola, sendo responsável por, pelo menos, cinco ações fundamentais no ambien- te escolar, conforme apresentado na Figura 3. Entre as competências do coordenador peda- gógico, elencamos na Figura 3 cinco campos de atuação desse profissional dentro do am- biente escolar. Se sua ação fosse mais bem distribuída entre esses campos, suas rotinas de trabalho poderiam ser mais bem aproveitadas. Três dos campos dizem respeito ao fazer pe- dagógico do coordenador, ressaltando que ele precisa auxiliar, monitorar e formar seus profes- sores. Ou seja, ele tem o papel de oportunizar ao professor as condições necessárias para que sua aula aconteça com naturalidade. Esse papel hoje muitas vezes é secundário, sendo a ênfase dada aos outros dois campos: o atendi- mento aos pais dos alunos e comunidade em geral e a resolução de conflitos no âmbito da escola, tanto entre aluno-aluno, professor-alu- no e professor-professor. Como representante da gestão escolar, o coor- denador pedagógico desperta no professora- do um sentimento de aliança. Para isso, o per- fil desse profissional deve estar associado ao desenvolvimento de capacidades socioemo- cionais, como empatia, resi liência, abertura ao novo e trabalho em grupo. Essas capacidades, na verdade, são inerentes a qualquer gestor, que deve contar com a confiança dos gestados e de seu supeior, no caso os professores e o diretor da unidade de ensino, respectivamente. Percebe-se que o coordenador pedagógico precisa já ter passado pela sala de aula como professor para ter condições de opinar e ajudar o seu colega no desenvolvimento da aula. Isso exige desse profissional um constante estudo de metodologias de ensino e práticas pedagó- gicas. Esse é também um dos motivos por que Figura 3 – Papéis exercidos pelo profissional de coordenação pedagógica. 13 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 13Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 13 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM esse profissional precisa ser um amplo conhecedor do currículo imple- mentado, bem como saber concretizar o que está sendo proposto no do- cumento. Eis o porquê de o coordenador ser um líder no processo educa- cional e sua função ser uma das principais chaves de ignição do processo de transformação educacional. Ele representa a parte integrante dos dois campos de atuação na escola, o professor e a direção. Outro fator importante das atribuições do coordenador pedagógico, mas que não está elencado na Figura 3, por não ser algo rotineiro a ser realiza- do por ele, é o “acompanhamento pedagógico”. Em países desenvolvidos, o coordenador adentra a sala de aula para verificar os pontos fortes e fra- cos do professor, a fim de garantir uma elevada qualidade de ensino pau- tada no currículo a ser desenvolvido na escola. Essa função, em algumas secretarias de educação, é realizada pela superintendência escolar, que deve fazer visitas rotineiras às escolas para acompanhar seu andamento, mas podem cair na mesmice de realizar apenas uma observação peda- gógica burocrática, sem a possibilidade de sugerir mudança na postura pedagógica do professor, por exemplo. Em se tratando de implementação curricular, esses acompanhamentos pedagógicos diários se fazem necessários e a figura do coordenador pedagógico, mais uma vez, torna-se imprescindível para a continuidadeda implementação correta do currículo. Reuniões de alinhamento, trocas de experiência entre professores de diferentes áreas do conhecimento, proposição de projetos e programas interdisciplinares são algumas das possíveis ações a serem desenvolvidas pelo coordenador. Fato importan- te é a necessidade que esse profissional tem de estar 100% dedicado à sua função, ou seja, fora da sala de aula, o que permite um olhar holístico e mais apurado acerca do que acontece dentro dos muros da escola. Neste texto, procuramos esmiuçar como ocorre a construção de um currículo escolar, que deve ter como norteadores os documentos LDB, DCN, PCN e BNCC, além de destacar os elementos fundamentais no seu processo de construção, bem como a possibilidade de alinhamen- to desse documento com o planejamento de aula do professor, promo- vendo o desenvolvimento do conhecimento docente (que, geralmente, é baseado em conteúdos programáticos e deve ser adaptado para o desenvolvimento de competências e habilidades, conforme preconiza a BNCC). Torna-se importante ressaltar também a figura do coordenador pedagógi- co, que, ainda que possa não imaginar tal responsabilidade, se tornará um especialista em implementar o currículo dentro da sua escola, tornando-se um guardião do seu cumprimento e das possíveis adequações a serem feitas para o respectivo contexto escolar. Tal realidade é discutida no texto, dando ênfase aos cinco campos de atuação do coordenador pedagógico mais uma possível ação como acompanhamento pedagógico. Para finalizar, todo o processo de construção curricular é demorado e de- manda muita energia da equipe responsável. Essa energia é gasta tanto no processo de construção criativa do material, bem como na resposta às críticas fundamentadas feitas pela comunidade escolar. Por isso, valorizar o trabalho desses profissionais, que muitas vezes são professores e espe- cialistas e que se debruçaram sobre o documento, é um ato de solidarie- dade e empatia. M a s c h a T a c e /S h u tt e rs to c k 14 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 14Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 14 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM A BNCC e as competências para o século XXI Mozart Neves Ramos Doutor pela Unicamp Foi pró-reitor acadêmico da UFPE, secretário de Educação de Pernambuco, presidente do Consed e membro do Conselho Nacional de Educação. Atualmente, é diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna. FALA, Especialista! Estamos imersos no contexto de um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo, que de- manda cada vez mais o desenvolvimento de competências como pensamento crítico, cria- tividade, abertura ao novo, colaboração, entre outras. Competências que permitam aos estu- dantes não apenas acessar conhecimentos, mas também saber selecio- ná-los, correlacioná-los e criá-los. É nesse contexto que se insere a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), estabelecendo dez competências gerais que todos os estudantes da Educação Básica, da Educação Infan- til ao Ensino Médio precisam desenvolver. A partir deste ano, a BNCC começa a ser implementada em todas as escolas brasileiras, fortalecendo um compromisso com a educação inte- gral dos estudantes, que se apoia em três pilares: a visão de estudante (é preciso construir uma proposta de educação que atenda aos desafios contemporâneos, que forme sujeitos críticos, autônomos, cidadãos soli- dários e capazes de lidar com as demandas do século XXI e construir seus projetos de vida), o desenvolvimento pleno (em conformidade com o artigo 205 da Constituição Federal e o artigo 2º- da LDB) e a integração curricular (para que se concretize de fato na escola, é necessário que o Projeto Político-Pedagógico – PPP anuncie novas formas de condução para a gestão e para o trabalho colaborativo entre professores; uma das formas de fazer isso é instituir práticas comuns a todas as áreas, no que se refere tanto às metodologias ativas de ensino e aprendizagem quan- to às estratégias de avaliação formativa e processual). Entretanto, para que as competências previstas na BNCC sejam coloca- das em prática no ambiente escolar, torna-se necessário dar uma nova formação aos professores. A pergunta que se coloca é: Como vamos prepará-los para esses novos tempos? Em dezembro de 2019, o Con- selho Nacional de Educação (CNE) respondeu a essa questão mediante Resolução, homologada pelo Ministério da Educação, propondo o de- senvolvimento de competências profissionais docentes baseadas em três dimensões: conhecimento, prática e engajamento profissionais. Cada uma dessas três dimensões possui um conjunto de competências específicas e suas correspondentes habilidades que fazem parte da chamada Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação). [...] A BNCC começa a ser implementada em todas as escolas brasileiras, fortalecendo um compromisso com a educação integral dos estudantes [...] “ ” A c e rv o d o a u to r/ A rq u iv o d a e d it o ra A starina/Shutterstock 15 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 15Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 15 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM A BNCC e o currículo CAPÍTULO 2 A educação brasileira vem passando, nos últimos anos, por uma trans- formação nas suas diretrizes. Para uma melhor compreensão desse pro- cesso, alguns aspectos históricos precisam ser esclarecidos, para que compreendamos a nossa posição atual de nação em processo de trans- formação educacional. No dia 10 de dezembro de 1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual, em seu artigo 26, garante que todo ser hu- mano deve ter acesso à educação (ONU, 1948). Na ocasião, todas as nações constituintes e convidadas celebraram a declaração como um importante avanço social. Entretanto, chegando à última década do sé- culo XX, alguns dados relacionados ao acesso à educação ainda eram preocupantes e muito desafiadores. Com a necessidade de reafirmar o compromisso mundial estabele- cido, em 1948, com a educação, realizou-se, em 1990, em Jomtien, na Tailândia, a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, cujo fruto, a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, teve o Brasil como um dos países signatários. A declaração afirma, em seu artigo 2º-, inciso I, que: Lutar pela satisfação das necessidades básicas de aprendi‑ zagem para todos exige mais do que a ratificação do com‑ promisso pela educação básica. É necessário um enfoque abrangente, capaz de ir além dos níveis atuais de recursos, das estruturas institucionais, dos currículos e dos sistemas convencionais de ensino, para construir sobre a base do que há de melhor nas práticas correntes. (Conferência Mundial de Educação para Todos, 1990. Grifo do autor). Como pode ser observado no grifo dado ao trecho acima, observa-se já naquela época o direcionamento dado às nações sobre a necessi- dade de pensar em políticas educacionais pautadas em boas práticas de ensino. Nesse ínterim, até os dias atuais, muitos países seguiram esses passos e criaram suas respectivas bases curriculares nacionais como documentos norteadores de boas práticas elencadas dentro de parâmetros nacionais internos. Com foco no que aconteceu em diversos países que mostraram uma evolução em seus patamares educacionais nas últimas duas décadas, surge no Brasil, em 2013, um movimento da sociedade civil organizada intitulado Movimento pela Base Nacional Comum (2017), tendo como um de seus preceitos: 16 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 16Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 16 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM [...] gerar insumos e evidências para qualificar o debate públi‑ co sobre a causa, observar a qualidade dos processos de construção e implementação do documento, participar dos momentos coletivos de construção desta e de outras polí‑ ticascorrelatas, por meio de leituras críticas, audiências e consultas públicas, zelar pela qualidade e disseminar ma‑ teriais e informações que apoiem redes e escolas a con‑ cretizarem a implementação com foco na aprendizagem dos alunos. Colocar em prática o que esse movimento propõe não foi uma tarefa fácil. O Brasil, um país de dimensões continentais e de várias culturas regionais, deveria pensar em um documento que fosse único e uniformi- zasse todo o ensino brasileiro, tendo como um dos seus pilares o princí- pio da equidade, oferecendo a crianças e jovens a oportunidade de se desenvolverem, independentemente da sua condição social, credo ou cor de pele. Para tanto, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) passou por muitas etapas em diversos níveis da federação, desde a coleta da opinião de professores até a realização de audiências públicas regionais e debates intensos no Conselho Nacional de Educação (CNE), em Brasília. Sergio Pedreira/Pulsar Imagens 17 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 17Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 17 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM BNCC PCN DCN LDB Política educacional brasileira até a BNCC O direito constitucional de acesso à educa- ção vem sendo garantido desde a política de universalização do ensino, ou seja, nenhuma criança ou jovem em idade escolar deve estar fora da escola. O Brasil, já há alguns anos, con- seguiu padrões aceitáveis de acesso à educa- ção. Mas será que isso é suficiente? A resposta clássica é “Não!”. Temos que compreender a realidade da qualidade da nossa educação, suas fragilidades e potencialidades. Nesse sentido, alguns importantes documentos ofi- ciais foram lançados, desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, passando pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e chegando aos Parâmetros Curriculares Na- cionais (PCN). Uma possível hierarquia dos do- cumentos nacionais, com a inclusão da BNCC, pode ser observada na Figura 1. Algo importante a ser mencionado é que, em- bora tivessem o intuito de direcionar o currícu- lo escolar, as DCN e os PCN não conseguiram adentrar as salas de aula como se esperava, garantindo qualidade à educação brasileira. Por isso, a BNCC torna-se um importante me- canismo de releitura desses dois documentos, trazendo o detalhamento, ano a ano, das ha- bilidades e competências que o aluno preci- sa desenvolver para cada unidade curricular, além de propor uma abordagem humana de educação integral para além do desenvolvi- mento cognitivo. A estrutura hierárquica apresentada na Fi- gura 1 não é rígida, havendo o intercâmbio hierárquico entre DCN e PCN. Além disso, a BNCC responde diretamente às demandas apresentadas por esses dois documentos, ora focando um, ora focando o outro. Então, há de se compreender que existe uma hie- rarquia dinâmica entre esses documentos, sendo a estrutura apresentada uma ilustra- ção dessa relação não suficiente para sua compreensão efetiva de aplicação em sala de aula ou direcionamento de políticas públi- cas educacionais. Princípios norteadores da BNCC Uma pergunta muito recorrente entre professo- res e gestores escolares é: Sobre quais pilares a BNCC foi construída? Pois bem, esses pilares existem e foram apresentados pelo Movimen- to pela Base Nacional Comum (2017) como os sete princípios norteadores, tais como descri- tos na Figura 2. Figura 1 – Associação entre os documentos norteadores da política educacional brasileira. Ainda sobre a BNCC: A Base Nacional Comum Curricular define um conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver, de modo que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvi‑ mento (BRASIL, 2017). Mais detalhes sobre como a BNCC foi construída, seus marcos legais e sua implementação serão dados nas próximas seções. 18 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 18Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 18 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM Foco em Competência e Habilidade Clareza e Objetividade Evidência Científica Política para todos Diversidade Respeito à Autonomia Construção Colaborativa BNCC Percebe-se nos princípios que não existe uma hierarquia entre eles, sendo esse um impor- tante recado quanto à sua observância não excludente, ou seja, todos os princípios são igualmente importantes na construção do do- cumento (ver Figura 2). Destrinchando o entendimento dos princípios, podemos observar que, alinhado à Declaração Mundial sobre Educação para Todos, existe um foco no desenvolvimento de competências e habilidades por parte dos alunos, mas, para que essa comunicação com os professores fosse feita de forma correta, optou-se por uma escrita clara e objetiva dessas competências e habilidades. Além disso, toda a construção do documento foi baseada em experiências exito- sas no mundo inteiro, como é o caso de Reggio Emilia, na Itália, referência mundial no desen- volvimento da Educação Infantil (MALAGUZZI, 1999), e de Portugal, que vem passando por um processo vertiginoso de melhoria dos seus indicadores educacionais ao longo das últimas duas décadas e apresenta um sólido concei- to de aprendizagens essenciais (Direção-Geral da Educação, 2020). Para abranger todas as realidades do Brasil, essa importante constru- ção não poderia ser excludente, como de fato não é, tornando-se um documento norteador, ao mesmo tempo que flexível e acolhedor em relação às realidades locais em que a BNCC será utilizada como base para a construção dos currículos regionais. Figura 2 – Princípios norteadores para a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 19 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 19Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 19 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM Documentos Norteadores (LDB, DCN e PCN) 1998-2013 2014 2015 2016 2017 2018 Inclusão da BNCC no Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 Segunda Versão da BNCC vai para Consulta Pública BNCC do Ensino Médio é Homologada Primeira Versão da BNCC vai para Consulta Pública BNCC do Ensino Fundamental é Homologada Princípios como “Diversidade” e “Respeito à Autonomia” respondem a uma demanda de um país de dimensões continentais. Ou seja, cada ente da federação pode incorporar suas especificidades à BNCC na proposição do seu próprio currículo, especialmente àqueles adendos relacionados a educação inclusiva, do campo e de jovens e adultos, por exemplo. E, para finalizar, o documento precisava ser escrito a muitas mãos, de forma colaborativa, com a opinião de professores e secretarias de educação sobre aquilo que eles achavam essencial estar contido em um documento de caráter nacional. Breve histórico de construção da BNCC O Plano Nacional de Educação (PNE), homologado em 26 de junho de 2014, resgata a necessidade da construção de uma Base Nacio- nal, capaz de unificar boas práticas educacionais em todos os níveis de ensino básico (BRASIL, 2014). Por isso, com base nos documentos norteadores, uma primeira versão da BNCC foi escrita com a ajuda de especialistas, entidades do terceiro setor e entidades científicas. Essa versão foi disponibilizada para a rede educacional nacional para críti- cas e sugestões, tendo recebido mais de 12 milhões de contribuições de todo o Brasil. Após a compilação de todas as contribuições, uma segunda versão da BNCC foi escrita, já com uma mudança substancial no documento. Essa versão foi colocada à prova em consultas públicas nas cinco regiões geográficas do Brasil. Nessa etapa, representantes do Conselho Nacional de Educação (CNE) iam às cidades que fariam parte das consultas para ouvir a comunidade local sobre o que ainda precisaria ser modificado para o documento final. Após a conclusão da coleta dessas informações, em 2017, a BNCC do Ensino Fundamental foi homologada pelo CNE. Pas- sando pelo mesmotrâmite, mas em um período mais curto, a BNCC do Ensino Médio é homologada em 2018. A linha do tempo de eventos pode ser observada na Figura 3. Figura 3 – Linha do tempo de eventos até a homologação da BNCC. 20 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 20Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 20 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM Em abril de 2018, o Governo Federal institui o ProBNCC (BRASIL, 2018). Sendo essa uma im- portante iniciativa para fazer rodar a engrena- gem associada à implementação da BNCC em estados e municípios, o ProBNCC traz consigo um aporte financeiro substancial para subsi- diar a contratação de profissionais na área de educação para atuarem como redatores curri- culares, formadores regionais e gerenciadores desse processo. Em Votuporanga (SP), de forma inédita, elaboramos uma plataforma de dados estrategicamente colhidos do chão da sala de aula. Em horários de HTPC (Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo) de cada profissional da Educação, em especial dos nossos queridos professores, as discussões eram conduzidas. A customização do currículo paulista, aliada às metodologias ativas e à tecnologia, norteou esse processo de forma ampla e complementar, alicerçada na coletividade... Assim, chegamos a um currículo real, alcançável e legítimo, construído na essência de nossas escolas. Esta mesma experiência está sendo partilhada entre os 65 municípios do ADE Noroeste Paulista (Arranjo do Desenvolvimento da Educação), possibilitando a mágica ferramenta metodológica da elaboração de um Currículo Regional do Noroeste Paulista. Ou seja, a construção de uma plataforma de dados (ferramenta gratuita do Google) associada ao regime de colaboração levou ao sucesso da produção de um currículo vivo, próximo e transitável em seus aspectos metodológicos e didáticos de ensino e aprendizagem. Resumindo, a discussão curricular em nossa rede de ensino foi encharcada de calor, de valor e de pensar humano. Construímos juntos o dia a dia dos nossos alunos... alicerçados no chão da sala de aula e de forma colaborativa. Ederson Marcelo Batista Secretário Municipal de Educação de Votuporanga Coordenador do ADE Noroeste Paulista Diretor de Comunicação da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Estado de São Paulo (Undime‑SP). Programa de Apoio à Implementação da Base Nacional Comum Curricular (ProBNCC) “Faço parte da equipe ProBNCC no Rio Grande do Norte e atuei como articuladora do regime de colaboração entre as redes e territórios do estado. A discussão para a construção do documento curricular envolveu os 167 municípios em regime de colaboração. Tivemos quatro seminários para construção do documento, com mais de 15 mil contribuições no ano de 2018. Já em 2019, realizamos quatro encontros presenciais para formação de multiplicadores das escolas estaduais e municipais de todos os municípios do RN. Aqui o Consed, a Uncme e a Undime trabalharam totalmente em regime de colaboração, desde o planejamento até a execução de todas as ações. ” Euba Reis Secretária executiva da Undime‑RN Il u s tr a ç õ e s : M a s ch a T a c e /S h u tt e rs to ck 21 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 21Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 21 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM Currículos estaduais Com a necessidade de colocar em prática a BNCC, os documentos curriculares estaduais começaram a ser confeccionados para dar va- zão à realidade presente nos seus respectivos estados, bem como para alinhar o que já vem sendo feito com o que propõe a BNCC. Torna-se importante ressaltar que uma longa caminhada precisava ser percorrida até que essas novas diretrizes chegassem efetivamen- te à sala de aula. Ainda no âmbito estadual, é inegável que o regionalismo, a política educa- cional estadual e as especificidades contidas em qualquer rede de ensino precisam estar contidos nesse currículo estadual. Entretanto, é premente que pensemos também no impacto desse documento nos municípios que fazem parte desse ente da federação. Existe um fator bem interessante na implementa- ção da BNCC que é o de corresponsabilização e pactuação entre municípios, estados e gover- no federal, para que essa política não perca sua essência nem tenha o seu papel social desca- racterizado por equivocadas interpretações. Por isso, há de se compreender que os municípios também têm a possibilidade de elaborar seus próprios currículos, caso julguem que o estabe- lecido pelo seu estado não seja suficiente para suprir as suas demandas educacionais. “Na Paraíba, o regime de colaboração ProBNCC foi excepcional! Nós estávamos cumprindo um pacto que era nacional e tivemos adesão dos 223 municípios do estado. Todos aderiram a esse currículo e compreenderam a importância de termos um currículo de território. Não tivemos problemas nem na adesão dos municípios, nem na elaboração do currículo, em nenhuma das etapas. Tudo fluiu bem, tanto o regime de colaboração na elaboração do documento escrito quanto as ações que vieram na sequência. Primeiramente, nós tivemos a seleção da equipe que iria elaborar e fizemos essa seleção com uma orientação que nos pareceu muito produtiva: os coordenadores eram das universidades federais e os professores e redatores eram todos das redes estadual ou municipais, ou seja, professores “de sala de aula”. Isso já deu credibilidade à elaboração do documento, que saiu com o nome “Proposta Curricular do Estado da Paraíba”. Com a articulação com os municípios e os 100% de adesão, as equipes municipais participaram de rodas de conversa, da consulta pública que nós fizemos e também dos Seminários. Com relação à questão das colaborações, nós tivemos cerca de 130 mil colaborações a essa proposta curricular do estado da Paraíba, nas etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Em seguida, nós fomos para as formações. Nessas, tivemos alguns problemas porque não pudemos gastar os recursos do MEC, mas os professores começaram a implantação dentro da sala de aula a partir das orientações das secretarias municipais. Na Paraíba, a Undime percorreu uma média de 160 municípios, com a ida in loco, conversando com os educadores, desde o processo da BNCC até a implantação da proposta curricular do estado. Os professores recebem de bom grado, não fazem nenhuma objeção, ao contrário: participam, colaboram, perguntam, interagem e compreenderam muito bem que esse currículo é do território da Paraíba, contemplando as escolas estaduais, municipais e a rede privada. Eles perceberam a importância de se ter um currículo de rede para se ter um padrão de unificação da parte comum. Os municípios que adotam sistemas e cada escola podem complementar esse currículo do estado, fazendo seu próprio currículo ou colocando a parte diversificada, os conteúdos e objetos de conhecimento locais nos projetos político ‑pedagógicos das escolas. Além disso, essa parte diversificada do currículo também pode constar no plano de aula dos professores. ”Rilma Suely de Souza Melo Coordenadora estadual, pela Undime, da elaboração e implantação do ProBNCC e da proposta curricular do estado da Paraíba Esse apoio torna-se necessário para que as novas políticas educacionais adentrem a sala de aula de forma equânime, sendo colocada à prova sua aplicabilidade local, podendo ser necessários ajustes de conteúdo e forma para o pleno atendimento escolar de uma determi- nada realidade específica. Ou seja, o ProBNCC será um importante membro que dará vida ao currículo escolar. M a s c h a T a c e /S h u tt e rs to c k 22 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 22Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 22 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM PPP Currículo Municipal Currículo Estadual BNCC O currículo precisa estar alinhado e caminhar para o sentido de estipu- larmos qual tipo de cidadão queremospara nossa sociedade e quais conhecimentos básicos e essenciais ele precisa desenvolver na sua vida escolar. Em resposta ao demandado pela BNCC, que roga por uma educação integral para além do desenvolvimento cognitivo dos alunos, o currículo escolar precisa também incorporar essa realidade, com projetos interdisciplinares que envolvam toda a comunidade es- colar, propiciando vivências sociais relacionadas ao saber viver em so- ciedade. Por fim, vale ressaltar que o PPP precisa dialogar constantemente com seus documentos curriculares norteadores. Embora o PPP não seja um currículo, ele demanda uma importante ação de detalhamento do “fa- zer curricular”, ou seja, ele traduz como esse currículo efetivamente pode ser utilizado pela escola, tanto em sala de aula, por parte dos professores, quanto em atividades extracurriculares. Com tantas mudanças e novidades nessa área, é possível afirmar que estamos passando pela maior transformação educacional dos últimos vinte anos. Faz-se necessário muito estudo e criatividade para que possamos acompanhar essas mudanças de forma construtiva, pen- sando sempre no desenvolvimento integral do aluno. A BNCC é um documento norteador importante, que servirá de base de consulta para futuras políticas públicas educacionais a serem implementadas. A corresponsabilidade atrelada à sua implementação faz com que as políticas educacionais no Brasil estejam unidas e coesas em um só propósito: oferecer uma educação de qualidade às nossas crianças e jovens. Na Figura 4, podemos observar como os documentos curriculares precisam estar associados com o Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola. Se pararmos para pen- sar no porquê de o PPP figurar no centro de todo esse processo, uni- ficando as figuras 3 e 4, observa- mos que toda a política desenhada na BNCC foi pensada no seu link com o chão de sala de aula, aqui representado pelo PPP da escola. Essa análise corrobora o que foi previamente mencionado no que diz respeito à pactuação da imple- mentação dessa política. Figura 4 – Hierarquia de construção e/ou atualização dos documentos curriculares de estados e municípios, até chegar ao plano político-pedagógico da escola. 23 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 23Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 23 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM É sabido que, no atual contexto educacional brasileiro, o Ensino Médio está passando por um processo de reformulação curricular, a partir das orientações teórico-metodológicas trazidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento respaldado pela Lei nº- 13 415/17, marco legal que, entre outras delibe- rações, altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB nº- 9 394/96). Os esforços empreendidos para essas mudan- ças curriculares justificam-se, inicialmente, pelo baixo desempenho dos alunos em avaliações nacionais e internacionais, como o PISA (Pro- grama Internacional de Avaliação de Alunos). Outros fatores, como a infraestrutura e a or- ganização das escolas, o déficit de recursos humanos, o processo de construção curricular, a familiaridade com as novas mudanças nas legislações vigentes, o tratamento dado a de- terminados conteúdos escolares em um mo- vimento de fragmentação e secundarização, entre tantos outros aspectos, vão contribuindo para a identificação de uma crise nesse nível escolar (NETO e RESENDE, 2017). Nessa direção, faz-se necessário considerar, inicialmente, a relevância do currículo escolar como objeto de discussão coletiva que se dá em nível nacional, estadual e municipal, por meio da qual se estabelece as prescrições teórico-metodológicas ou, em outras palavras, as diretrizes e bases que nortearão os modos de ensinar e de aprender dos diferentes ní- veis e modalidades da educação, de acordo com as responsabilidades próprias da União, dos Estados e dos Municípios. Ademais, é importante destacar que o currículo constitui um documento que, longe de cumprir uma obrigação meramente burocrática, explici- tando um conjunto de disciplinas e de conteú- dos programáticos, assume, inevitavelmente, concepções significativas sobre: a) a formação humana e sua dimensão pedagógica, política, filosófica e estética; b) os valores éticos do in- divíduo e a sua participação na coletividade; c) o projeto de homem e de sociedade que se pretende formar a partir dos saberes produ- zidos no ambiente escolar e para além desse espaço, considerando o sujeito sócio-historica- mente situado e, consequentemente, diverso e plural do ponto de vista social e linguístico. Além disso, o currículo figura nas principais pau- tas presentes no contexto educacional, estabe- lecendo correlações entre: a) os sistemas de ensino – com suas avaliações externas e outros documentos oficiais como guias e parâmetros curriculares; b) as escolas e suas característi- cas específicas e singulares, compondo a teia complexa do cotidiano escolar; c) o trabalho docente, este circunscrito não apenas à prática de sala de aula e ao repertório de ações pe- dagógicas empreendidas nessa atividade, mas também aos textos do saber mais usados nesse espaço, ou seja, no dizer de Chevallard (1991), os livros didáticos, os quais são disponibilizados pelo Ministério da Educação (MEC) para serem usados nas escolas públicas, podendo servir, O currículo do Novo Ensino Médio: reflexões sobre dispositivos legais e impactos na didatização do ensino CAPÍTULO 3 24 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 24Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 24 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM também, como um norteador para a escolha do livro das escolas privadas. Sendo assim, é necessário compreendermos que o currículo, no cenário educacional brasi- leiro, não pode ser visto como um dispositivo neutro, mas, sim, como uma construção históri- ca e cultural, inscrita em um dado contexto so- cial, precisando ser complexificado, sobretudo na atualidade, em que as transformações e os avanços na ciência, na informação e na tecno- logia se constituem um imperativo, do qual as políticas educacionais não podem ficar alheias, em função da necessidade de construção de uma escola pública mais democrática. Com base nessa breve contextualização, elen- camos, ao longo deste texto, reflexões em torno do currículo do novo Ensino Médio, consideran- do os principais desdobramentos trazidos pe- los marcos legais, que autorizam a implantação desse novo formato, assim como também o modelo teórico-metodológico implicado a partir da reconfiguração desse nível de ensino e os inevitáveis impactos na prática docente. O currículo do Ensino Médio e os dispositivos legais a partir dos anos 1990: como é que chegamos até aqui? A educação no Brasil tem sido alvo de muitas reformas curriculares, organizadas por políticas públicas que buscam qualidade e equidade para o ensino escolar público. O texto da Cons- tituição federal de 1988, fincada em princípios democráticos, prevê a construção de diretrizes e bases da educação nacional legislada pela União, ou seja, a criação de um “currículo míni- mo nacional” (MARINHO, 2007, p. 170). Nesse sentido, para compreender as mudanças trazi- das na Lei nº- 13 415/17, é preciso retomar o que foi o Ensino Médio, em suas feições, ao longo das últimas décadas, considerando que o con- texto social contemporâneo é resultado de um processo histórico. Ressaltamos, em um primeiro momento, que o Ensino Médio no Brasil começou no início da Luciana Whitaker/Pulsar Imagens década de 1930 e que, ao longo desse período, muitas mudanças aconteceram nas formas de or- ganização dessa etapa escolar, refletindo o mo- delo de sociedade de cada momento histórico e, consequentemente, o projeto de cidadão preten- dido em dado cenário. Entretanto, as reflexões propostas neste texto focam a década de 1990, período em que se intensificaram as orientações para tais reformas, iniciadase conduzidas a partir da segunda LDB nº- 9 394/96. Essa lei garantiu a ampliação da Educação Básica, estabeleceu no- vas condições ao ensino escolar e colocou o En- sino Médio como etapa final desse momento da escolarização, tendo como finalidades: I – a consolidação e o aprofundamen‑ to dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para con‑ tinuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilida‑ de a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensa‑ mento crítico; Art. 35 (Lei nº- 9 394/96); IV – a compreensão dos fundamentos científico‑tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina (BRASIL, 1996, p. 12). 25 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 25Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 25 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM De acordo com Silva (2018), o Ensino Médio vem passando por disputas acirradas desde a aprovação da LDB em 1996. Para essa autora, um dos motivos para tanto foi o aumento do acesso de jovens a esse último nível de ensi- no, o que antes não acontecia, fato constata- do pelo número de matriculados na década de 1990, um pouco mais de 3 500 000 de matrí- culas, e os números trazidos nos anos 2000, 9 milhões de pessoas matriculadas. Assim, “as perguntas em torno de ‘qual Ensino Médio’ e ‘para quem’ ocupou a cena dos marcos norma- tivos e das ações do Executivo Federal (SILVA, 2018, p. 7)”. Nesse contexto de reformas, em 1998, as Dire- trizes Nacionais para o Ensino Médio (DNEM) sofreram modificações. Nesse documento, a organização do currículo, assim como as si- tuações de aprendizagem e os procedimen- tos de avaliação, deveria orientar-se por uma coe rência com princípios estéticos, políticos e éticos. Sendo assim, constituir-se-ão princípios pedagógicos estruturadores dos currículos do Ensino Médio: a) a identidade, a diversidade e a autonomia; b) a interdisciplinaridade; c) a con- textualização (BRASIL, 1998). Em relação ao primeiro princípio, essas diretri- zes propunham que os sistemas de ensino e as escolas buscassem, na operacionalização de suas ações pedagógicas, uma melhor ade- quação possível às necessidades dos alunos e do meio social, por meio, por exemplo, de mecanismos de participação da comunidade, de reconhecimento da identidade própria en- quanto instituição de ensino de adolescentes, jovens e adultos, considerando suas condi- ções e necessidades de espaço e tempo de aprendizagem. Quanto à interdisciplinarida- de, esse texto oficial partia do princípio de que todo conhecimento mantinha um diálogo permanente com outros modos de conhecer. Com isso, a ação de ensinar deveria ir além de um modelo pautado na descrição, procu- rando, assim, construir nos alunos uma ca- pacidade crítica, mobilizada por um trabalho integrado entre as disciplinas. Já em relação ao terceiro princípio, o documento partia do pressuposto de que as situações de ensino e aprendizagem deveriam estar relacionadas com a prática ou a experiência do aluno para que a transposição didática adquirisse signifi- cado (BRASIL, 1998). A aprovação da LDB em 1996 signifi‑ cou, na verdade, somente o início de um movimento de reformas na educa‑ ção brasileira, que tomou corpo me‑ diante as regulamentações posteriores realizadas na estrutura educacional – no caso da educação profissional, o decreto nº‑ 2 208/97 – e outras no cam‑ po conceitual, objetivadas, no âmbito da Educação Básica, pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, sejam do Ensi‑ no Fundamental, do Ensino Médio ou da educação profissional de nível téc‑ nico (CIAVATA e RAMOS, 2012, p. 16). Sobre o Decreto nº- 2 208, do ano de 1997, vale ressaltar que esse documento foi revogado, posteriormente em 2004, pelo Decreto nº- 5 154. Ambos trataram dos objetivos, dos níveis e da formulação dos currículos plenos da educação profissional a partir de perspectivas curriculares descontínuas: de um lado, a dualidade estrutural do ensino brasileiro presente no texto de 1997; do outro, o texto de 2004 “retira o caráter com- pulsório da profissionalização no 2º- grau e es- tabelece dois tipos de Ensino Médio: o 2º- grau propedêutico e o 2º- grau técnico” (RODRIGUES, 2005, p. 261). Nesses dois decretos, publicados em momentos políticos distintos, fica evidencia- do como o discurso curricular traz subjacente uma visão de educação, de sociedade, de indi- víduo, de trabalhador, de cidadão. Em outras palavras, se o decreto nº‑ 2 208/97 recriara explicitamente a dualidade no ensino, o decreto nº‑ 5 154/04 reconhece a dualidade, per‑ mitindo não duas, mas uma multipli‑ cidade de possibilidades de relação entre o Ensino Médio e a formação profissional. Em síntese, em 2004, a legislação da educação profissional brasileira deu um salto no tempo: dei‑ xamos o ano de 1942 e avançamos até 1982 (RODRIGUES, 2005, p. 261). 26 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 26Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 26 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM Nessa perspectiva, em 1999, o Ministério da Educação (MEC) publica os Parâmetros Curricu- lares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), organizados em quatro partes: na primeira, encontram-se as bases legais do documento, endossadas pela LDB de 1996. As outras par- tes, subdivididas em três grandes áreas do conhecimento, evidenciaram o aprendizado previsto para cada área, as suas competências e habilidades e os seus rumos e desafios. Mui- to se questionou, nesse período, a dificuldade dos professores em implementar, do ponto de vista da transposição didática, as orientações curriculares prescritas nesse documento, fos- se pela dificuldade em fazer a metalinguagem da nomenclatura técnica utilizada no texto, dis- tante da realidade de suas práticas efetivas de sala de aula, fosse pela ausência de “autoria” na construção do documento, o que Santiago (2000) destacou como uma crise de raciona- lidade na elaboração dos PCN e, consequen- temente, viabilização dessa política pública, fragilizando o significado do documento no co- tidiano das práticas pedagógicas. No esteio desses marcos deliberativos, cabe citar o PNE (Plano Nacional de Educação), mais precisamente o documento relativo a 2011- -2020, cuja meta 3 pretendia “universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a po- pulação de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85% nesta faixa etária (BRASIL, 2010, p. 3)”. É nesse cenário, portanto, que a Lei nº- 13 415/17 vai ganhando contorno e sobre a qual refletire- mos no tópico seguinte. O currículo do novo Ensino Médio pelas lentes da Lei nº- 13 415/17 e da BNCC: algumas reflexões Em 2016, a partir da Medida Provisória nº- 746/16, uma nova reforma do Ensino Médio começa a ser delineada. Nesse documento, reassumia-se a ideia do trabalho com competências, já pro- posto nos PCN para o Ensino Médio. Além disso, alguns aspectos trazidos no texto desse docu- mento ganharam projeção no contexto nacio- nal: o primeiro, relativo à criação da política de fomento à implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral; o segundo, relaciona- do ao aumento da carga horária do ensino para 1 400 horas de modo progressivo; o terceiro, focado na obrigatoriedade do ensino de língua portuguesa e de matemática nos três anos desti- nados a essa etapa escolar; o quarto, voltado ao ensino de arte e de educação física de modo fa- cultativo no Ensino Médio e de modo obrigatório na Educação Infantil e no Ensino Fundamental; o quinto, voltado à obrigatoriedade do ensinode língua inglesa no sexto ano do Ensino Funda- mental e nos três anos do Ensino Médio, estando facultado o ensino de outros idiomas nesse nível escolar, com preferência pelo espanhol como segunda língua. Originária da medida supracitada, em 2017, é sancionada a Lei nº- 13 415, rompendo com o processo de tramitação do Projeto de Lei (PL) nº- 6 840/2013, de autoria da CEENSI (Comissão Especial para Reformulação do Ensino Médio) (NETO e RESENDE, 2017). Nessa lei, alguns Luciana Whitaker/Pulsar Imagens 27 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 27Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 27 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM pontos merecem destaque: primeiramente, esse documento altera a Lei nº- 9 394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação, fazendo as seguintes modificações: a No artigo 24 da LDB/96, afirma-se que “a car- ga horária mínima anual será de oitocentas horas para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, ex- cluído o tempo reservado aos exames finais quando houver” (BRASIL, 2017, p. 19). Na nova versão do documento, foram acrescentados dois parágrafos, sendo o primeiro deles rela- tivo ao aumento da carga horária nesse nível escolar para mil e quatrocentas horas, amplia- da de forma progressiva, devendo os siste- mas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária. Compreendemos, assim como Resende e Neto (2017), que o aumento de carga horária se articula à proposta de oferta do Ensino Médio em tempo integral prescrita na Lei nº- 13 415/17, fomentando a criação de escolas, voltadas a essa etapa da escolari- zação, nessa configuração, o que impõe, por sua vez, novos desafios, como a finalidade/ função da escola e suas especificidades em termos de atividades ofertadas, preparação e ampliação do quadro dos/de professores, participação dos alunos, infraestrutura, inves- timento governamental. b No artigo 26 da LDB, versão 2017, o 2º- pa- rágrafo desse artigo sofre também alteração quanto ao ensino do componente curricular “Arte”. No texto da LDB/16, a redação do se- gundo parágrafo dizia que “o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da Educação Básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos (BRASIL, 1996, p. 10)”. No texto da MP nº- 746/16, por sua vez, a obrigatoriedade do ensino de arte é facultada ao Ensino Médio, como já apontamos. Entretanto, na versão atual da LDB, o ensino de arte retoma o seu caráter obrigatório no Ensino Médio e a redação do texto passa a ser assim definida: “o ensino de arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente obrigatório da Educação Básica (BRASIL, 2017, p. 1). Quanto ao terceiro parágrafo desse artigo, o componente curricular Educação Física mantém o status de disciplina obrigatória na Educação Básica em ambas as versões da LDB, indo na contramão da redação da MP que tornava obrigatório o ensino de educação física apenas na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Ainda referente a este artigo, destacam-se as mudanças no que tange ao ensino de língua estrangeira. Na LDB/2016, o ensino dessa disciplina é de caráter obrigatório a partir do sexto ano, não se especifica o idioma, deixando a escolha a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição. Na versão atual, o ensino de língua estrangeira permanece obrigatório a partir do sexto ano; todavia, o idioma definido é a língua inglesa, o que parece tal escolha se relacionar com questões referentes à mundialização do capital que orienta o conteúdo globalizado (NETO e RESENDE, 2017). c Ainda nesse artigo 26 da LDB, versão 2017, há a inclusão de um sétimo parágrafo, no qual se versa sobre a integralização curricular, as- pecto não contemplado na LDB/16. No texto, afirma-se que esse processo de integraliza- ção poderá incluir, a critério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas, envolvendo os temas transversais de que trata o caput (BRASIL, 2017, p. 20). Nesse sentido, é extre- mamente relevante que as especificidades próprias do que seja o “ensino” e do que seja a “pesquisa” sejam observadas na execução dessas práticas pedagógicas, garantindo que tais propostas não se artificializem. d Também no artigo 26 da LDB, versão 2017, encontramos a inclusão de um décimo pará- grafo que versa sobre a inclusão de novos componentes curriculares obrigatórios na BNCC. O documento afirma que tal inclu- são dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. É im- portante ressaltar o caráter dialético, próprio da ação escolar, que poderá revigorar toma- das de decisões normativas, de modo que se possa revisitar o que foi prescrito para aquele momento histórico. 28 Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 28Cad_Pedagogico_2020_008a046_C01a03.indd 28 4/29/20 12:14 PM4/29/20 12:14 PM e Foi acrescido, na LDB, versão 2017, o artigo 35-A, no qual se afirma que a Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de apren- dizagem do Ensino Médio, de acordo com as diretrizes do Conselho Nacional de Educação, para as seguintes áreas do conhecimento: Lin- guagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Também é destacado, nos parágrafos desse artigo, que a parte diver- sificada dos currículos de que trata o caput do art. 26 deverá estar em sintonia com o contexto histórico, econômico, social, ambiental e cultu- ral. Sobre esse aspecto, de acordo com Duarte (2016), é imperativo que as escolas garantam que os indivíduos estejam expostos aos conteúdos científicos, artísticos e filosóficos necessários à formação de sua indivi- dualidade. Ressalta-se, ainda, que a BNCC, no Ensino Médio, incluirá, obrigatoriamente, estudos e práticas de Educação Física, Arte, Sociolo- gia e Filosofia. Nesse caso, é importante “atentar para a diferenciação entre o conteúdo a ser componente curricular obrigatório na BNCC e ser efetivamente ensinado no Ensino Médio” (NETO e RESENDE, 2017, p. 43), considerando a flexibilidade desse currículo e a possibilidade de o aluno optar por um itinerário formativo que não contemple os conteú- dos necessários a essa formação integral prometida pelo documento. Quanto aos componentes de Língua Portuguesa e Matemática, estes te- rão caráter obrigatório nos três primeiros anos dessa etapa escolar. Será assegurada, às comunidades indígenas, a utilização de suas respectivas línguas maternas. Quanto a esse ponto, indagamos, assim como Neto e Resende (2017), como promover uma formação humanizada, ao longo do Ensino Médio, sem o ensino sistemático das ciências humanas e da natureza, já que tais áreas parecem não estar contempladas na lei da mesma forma. Em relação ao ensino de língua estrangeira, os currículos do Ensino Médio terão, obrigatoriamente, a língua inglesa como idioma a ser ensinado e poderão ofertar, em caráter optativo, outras línguas estrangeiras, de preferência a língua espanhola, observando a disponi- bilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino. Destaca-se, ao longo dos parágrafos desse artigo, a carga horária de- finida para o cumprimento da BNCC: não poderá ser superior a mil e oitocentas horas do total da carga horária do Ensino Médio, de acordo com o que for definido pelos sistemas de ensino. No que diz respeito às avaliações, em nível nacional, voltadas ao Ensino Médio, a União definirá os padrões de desempenho esperados tendo a BNCC como norteado- ra. Ainda: os currículos do Ensino Médio devem considerar a formação integral do aluno. Para tanto, devem investir na construção do projeto de vida do discente, a partir de uma formação voltada para seus aspectos físicos, cognitivos
Compartilhar