Buscar

PlanoDeAula_53427 04 SEMANA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

Título 
Introdução ao Estudo do Direito 
Número de Aulas por Semana 
 
Número de Semana de Aula 
4 
Tema 
Fundamentos do Direito 
Objetivos 
·   Introduzir as diversas concepções acerca do direito natural; 
·   Discorrer a respeito das correntes jusnaturalistas; 
·   Apresentar o movimento positivista jurídico e sua polêmica com os jusnaturalistas; 
·   Explicitar os postulados kelsenianos do normativismo jurídico; 
·   Apontar as críticas formuladas à teoria pura do Direito; 
·   Discorrer sobre o culturalismo jurídico e a Teoria Tridimensional do Direito.   
Estrutura do Conteúdo 
Fundamentos do Direito 
1.   A ideia do Direito Natural. O jusnaturalismo; 
2.   O Positivismo Jurídico; 
3.   O Normativismo jurídico; 
4.   Crítica à Teoria Pura do Direito; 
5.   A estrutura tridimensional do Direito. 
  
Referências bibliográficas: 
  
  
NADER, Paulo .Introdução ao estudo do direito .30. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro:Forense, 2008. ISBN 9788530926373 
  
Nome do capítulo: Capítulo XXXVII – A ideia do direito natural 
N. de páginas do capítulo: 10  
  
Livro:REALE, Miguel. Lições preliminares de direito .27. ed. Ajustada ao novo Código Civil, São Paulo: Saraiva,  2009.  ISBN  8502041266 
  
Nome do capítulo: Capítulo VI – Conceito de Direito -  sua estrutura tridimensional. 
N. de páginas do capítulo: 5  
  
Poderão ser utilizados os seguintes Métodos e Técnicas Didáticas Individuais: 
  
Leitura Dirigida -  É o acompanhamento pelo grupo da leitura de um texto. O professor fornece, previamente, ao grupo uma ideia do assunto a ser lido. A leitura é feita 
individualmente pelos participantes, e comentada a cada passo, com supervisão do professor. Finalmente, o professor dá um resumo, ressaltando os pontos chaves a serem 
observados. 
  
Solução de Problemas  - Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática. 
A resolução dos casos faz parte da aula. A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. 
  
Sugerimos ao professor que introduza o tema a partir da ideia de direito natural e como foi sendo desenvolvido pelas diversas correntes do pensamento jusnaturalista. 
Pode-se iniciar a partir da afirmação de que a Teoria do Direito natural é muito antiga, estando presente na literatura jurídica ocidental desde a aurora da Civilização 
Europeia. Na descoberta ateniense do homem, parece encontrar-se a semente desse movimento, que atende ao anseio comum, em todos os tempos, a todo os homens, por 
um direito mais justo, mais perfeito, capaz de protegê-los contra o arbítrio do governo. 
Considerado expressão da natureza humana ou deduzível dos princípios da razão, o direito natural foi sempre tido, pelos defensores desta teoria, como superior ao direito 
positivo, como sendo absoluto e universal por corresponder à natureza humana. Antes de Cristo, seja em Atenas, seja em Roma, com Cícero (De res publica) assim era 
concebido. Direito que, através dos tempos, tem influenciado reformas jurídicas e políticas, que deram novos rumos às ordens políticas europeia e norte-americana, como, 
por exemplo, é o caso da Declaração de Independência (1776) dos Estados Unidos, e da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), da Revolução Francesa. 
Lê-se, no art. 2o. da citada Declaração dos Direitos do Homem, de 1789: “o fim de toda associação é a proteção dos direitos naturais imprescritíveis do homem”. Fácil é 
encontrar a sua presença na Declaração Universal dos Direitos (1948) da ONU. 
Assim, o jusnaturalismo é a corrente tradicional do pensamento jurídico, que defende a vigência e a validade de um direito superior ao direito positivo. Corrente que se tem 
mantido de pé, apesar das várias crises por que tem passado, e que, apesar de criticada por muitos, mantém -se fiel ao menos a um princípio comum: a consideração do 
direito natural como direito justo por natureza, independente da vontade do legislador, derivado da natureza humana (jusnaturalismo) ou dos princípios da razão 
(jusracionalismo), sempre presente na consciência de todos os homens.   
  
O ponto comum entre as diversas correntes do direito natural tem sido a convicção de que, além do direito escrito, há uma outra ordem, superior àquela e que é a 
expressão do Direito justo. É a ideia do direito perfeito e por isso deve servir de modelo para o legislador. É o direito ideal, mas ideal não no sentido utópico, mas um ideal 
alcançável. A divergência maior na conceituação do Direito natural está centralizada na origem e fundamentação desse direito. O pensamento predominante na atualidade é 
o de que o Direito natural se fundamenta na natureza humana. 
  
Tradicionalmente os autores indicam três caracteres para o direito natural: ser eterno, imutável e universal; isto porque, sendo a natureza humana a grande fonte desses 
direitos, ela é, fundamentalmente, a mesma em todos os tempos e lugares. 
O Direito Natural persegue a justiça e inspira o Direito Positivo, que está ligado a um lugar e a um tempo. 
  
Ex: O conceito de justiça do Empregador é completamente diferente do conceito de justiça do empregado. 
O Direito Natural revela ao legislador os princípios fundamentais de proteção ao homem, que forçosamente deverão ser consagrados pela legislação, a fim de que se tenha 
um ordenamento jurídico substancialmente justo. O Direito Natural não é escrito, não é criado pela sociedade, nem é formulado pelo Estado. (...) É um Direito espontâneo, 
que se origina da própria natureza social do homem e que é revelado pela conjugação de experiência e razão. É constituído por um conjunto de princípios, e não de regras, 
de caráter universal, eterno e imutável. (Paulo Nader). 
  
O Positivismo Jurídico 
Em relação ao Positivismo jurídico, sugerimos que o professor comente com a turma que esse é a manifestação, no campo do direito, do positivismo, ou seja, da doutrina de 
Comte, na forma apresentada no seu Cours de Philosophie Positive. Dando grande importância à ciência no progresso do saber, restringindo o objeto da ciência e da filosofia 
aos fatos e à descoberta das leis que os regem, o positivismo pretendia ser a filosofia da ciência, ou seja, o coroamento do saber científico.  
  
No domínio jurídico, pondo de lado a metafísica, definindo o direito positivo como fato, passível de estudo científico, fundado em dados reais, o positivismo jurídico tornou-se 
a doutrina do direito positivo. Nesse sentido tem razão Bobbio, quando diz ser o positivismo jurídico a corrente do pensamento jurídico para a qual “não existe outro direito 
senão aquele positivo”. Consequentemente, opõe-se à Teoria do Direito natural, bem como a todas as formas de metafísica jurídica.  
  
Por isso, a identificação, até o século XIX, da Filosofia do Direito com a Filosofia do Direito Natural, obrigou os positivistas a substituírem -na pela Teoria Geral do Direito, 
idealizada pelos alemães, ou pela Analytical Jurisprudence , do inglês Austin, formuladas com base no direito positivo.  
  
Fora da experiência, do fato ou do direito positivo, direito algum existe para o Positivismo Jurídico, que se caracteriza por identificar o direito positivo com o direito estatal 
(legislado ou jurisprudencial), considerando a experiência jurídica a única fonte do conhecimento jurídico; por ser antijusnaturalista, negando natureza jurídica ao direito 
natural; por ser antijusracionalista, negando o poder legislativo da razão, encontrando somente na vontade do legislador ou do juiz, manifestada na sentença, a fonte 
imediata do direito, e por afastar os valores e o direito natural da ciência jurídica e da filosofia do direito, reduzida à síntese dos resultados da ciência do direito.  
Identificando o direito com a lei ou com o código, com os precedentes judiciais, ou ainda, com o direito estatal, escrito ou não escrito, o positivismo jurídico resultou, na 
França, no culto da vontade do legislador e dos códigos, considerados sem lacunas.  
  
Desse culto, resultou a escola de exegese, apegadaaos textos, defendendo a subordinação do juiz à vontade do legislador. Já o positivismo jurídico alemão, acolhendo as 
lições do historicismo jurídico, não se preocupou com as relações do direito com o legislador, mas em delinear a teoria do direito positivo, que, partindo dos direitos 
históricos, acabasse formulando as noções jurídicas fundamentais.  
  
No positivismo jurídico enquadram-se todas as teorias que consideram expressar o direito a vontade do legislador, definindo-o como comando e reduzindo-o ao direito do 
Estado. Esse positivismo tem sido rotulado de positivismo estatal ou positivismo normativista, por dar preponderância à lei sobre as demais fontes do direito ou ao 
precedente judicial e por fazer depender o direito do Estado.  Para essa versão do positivismo, o direito é identificado com o direito estatal: é o criado ou reconhecido pelo 
Estado, manifestação, portanto, de sua vontade.  
  
O positivismo se caracteriza, portanto, por ser antimetafísico e antijusnaturalista, por ser empirista, por afastar do estudo científico do direito os valores e por considerar o 
direito positivo o único objeto da Filosofia e Ciências jurídicas. As várias formas de positivismo encontram no fato social, na autoridade, nas razões de Estado, no poder ou 
nas necessidades decorrentes das relações humanas o fundamento do direito. 
  
Francesco Carnelutti  situa o positivismo como um meio-termo entre dois extremos: o materialismo e o idealismo. Para o materialismo, a realidade está na matéria, 
rejeitando toda abstração e assumindo uma posição antimetafísica. Para o idealismo, a realidade está além da matéria. O positivismo mantém-se distante da polêmica. Ele 
simplesmente se desinteressa pela problemática, julgando-a irrelevante para os fins da ciência. 
  
Para o positivismo jurídico só existe uma ordem jurídica: a comandada pelo Estado e que é soberana. Eis, na opinião de Eisnmann, um dos críticos atuais do Direito Natural, 
a proposição que melhor caracteriza o positivismo jurídico: “Não há mais Direito que O Direito Positivo”.  Assumindo atitude intransigente perante o Direito Natural, o 
positivismo jurídico se satisfaz plenamente com o ser do Direito Positivo, sem cogitar sobre a forma ideal do Direito, sobre o dever-ser jurídico. Assim, para o positivista, a 
lei assume a condição de único valor. 
  
O positivismo jurídico é uma doutrina que não satisfaz as exigências sociais de justiça. Se, de um lado, favorece o valor segurança, por outro, ao defender a filiação do 
direito a determinações do Estado, mostra-se alheio à sorte dos homens. O direito não se compõe exclusivamente de normas, como pretende essa corrente. As regras 
jurídicas têm sempre um significado, um sentido, um valor a realizar. Os positivistas não se sensibilizaram pelas diretrizes do direito. Apegaram-se tão somente ao concreto, 
ao materializado. Os limites concedidos ao direito foram muito estreitos, acanhados, para conterem toda a grandeza e importância que ele encerra. A lei não pode abarcar 
todo o jus . A lei, sem condicionantes, é uma arma para o bem ou para o mal. Como sabiamente salientou Carlenutti , assim como não há verdades sem germes de erros, 
não há erros sem alguma parcela de verdade. O mérito que Carlenutti vê no positivismo é o de conduzir a atenção do analista para a descoberta do Direito natural: “a 
observação daquilo que se vê é o ponto de partida para chegar àquilo que não se vê”. 
  
O Normativismo Jurídico (A Teoria Pura do Direito) 
  
A Teoria Pura do Direito (Normativismo Jurídico) 
  
No início do século XX, Hans Kelsen apresenta, na sua obra Teoria Pura do Direito, uma concepção de ciência jurídica com a qual se pretendia finalmente ter alcançado, no 
Direito, os ideais de toda a ciência: objetividade e exatidão. É com esses termos que o autor apresenta a primeira edição de sua obra mais conhecida. Para alcançar tais 
objetivos, Kelsen propõe uma depuração do objeto da ciência jurídica, como medida, inclusive, de garantir autonomia científica para a disciplina jurídica, que, segundo ele, 
vinha sendo deturpada pelos estudos sociológicos, políticos, psicológicos, filosóficos etc. 
A ousadia do pensamento kelseniano, desqualificando a importância do jusnaturalismo como teoria válida para o direito e pretendendo dar caráter definitivo ao monismo 
jurídico estatal, fez de Kelsen o alvo preferido das teorias críticas no Direito, inconformadas com os déficits éticos do pensamento jurídico assim purificado e com o 
consequente desinteresse dos juristas em realizar cientificamente um direito atrelado a critérios de legitimidade não apenas formais. 
  
Ocorre que, atuando no marco do paradigma positivista, não poderia ser diferente o projeto kelseniano: uma ciência das normas que atingisse seus objetivos 
epistemológicos de neutralidade e objetividade. Era preciso expulsar do ambiente científico os juízos de valor, aliás como já  haviam feito as demais disciplinas científicas. O 
plano da teoria Pura era, assim, atingir a autonomia disciplinar para a ciência jurídica. Essa é a grande importância de seu pensamento, isto é, seu caráter paradigmático. E 
se de fato estamos vivendo um novo momento de transição paradigmática, nada melhor do que bem compreender as bases desse paradigma que se transforma. Esse é o 
objetivo deste texto e, para tanto, iremos analisar a formulação de Kelsen, na Teoria Pura, da relação entre ciência e direito, procurando, a partir de uma perspectiva crítica 
ao positivismo que a caracteriza, vislumbrar as limitações dessa formulação. A relação entre direito e ciência na Teoria Pura do Direito de Kelsen começa pela definição do 
objeto da ciência do direito, que para ele é constituído, em primeiro lugar, pelas normas jurídicas e mediatamente pelo conteúdo dessas normas, ou seja, pela conduta 
humana regulada por estas. Assim, enquanto se estudam as normas reguladoras da conduta, o Direito como um sistema de normas em vigor, fica -se no campo de uma 
teoria estática do Direito. Por outro lado, se o objeto do estudo desloca-se para a conduta humana regulada (atos de produção, aplicação ou observância determinados por 
normas jurídicas), o processo jurídico em seu movimento de criação e aplicação, realiza -se o que ele chama de teoria dinâmica do Direito. Esse dualismo, entretanto, é 
apenas aparente, já que a dinâmica está subordinada à estática por uma relação de validade formal, pois os atos da conduta humana que desencadeiam o movimento do 
Direito são, eles próprios, conteúdo de normas jurídicas, e só nesta medida é que interessam para o estudo da ciência jurídica. 
Kelsen apresenta o ordenamento jurídico positivo - conjunto das normas válidas - como uma pirâmide de normas, onde se articulam o aspecto estático e o aspecto dinâmico 
do Direito. A noção de validade formal é o elemento que integra esses dois aspectos, pois, nesse arranjo, cada norma retira de uma outra, que lhe é superior, na escala 
hierárquica do ordenamento jurídico, a sua existência e validade. Assim, por exemplo, no momento em que é criada ou aplicada (dinâmica), para que seja considerada 
válida a norma, é preciso verificar se as condições de sua produção ou aplicação (capacidade e/ou competência dos agentes, além do procedimento de produção e 
aplicação) estão previamente contidos nos comandos de outras normas já produzidas e integrantes do ordenamento jurídico (estática). O ponto final dessa cadeia de 
validade é o que Kelsen chama de norma fundamental - pressuposto lógico do sistema normativo. 
  
Causalidade (ser) e imputação (dever-ser) 
  
Segundo Kelsen, o que se denomina princípio da imputação(responsabilização) tem, nas proposições jurídicas, função análoga à do princípio da causalidade em relação às 
leis naturais. Tal qual uma lei natural, também uma proposição da ciência jurídica liga entre si dois elementos: se "A" é, "B" é (causalidade); se "A" é, "B" deve ser 
(imputação). A diferença consiste, no entanto, no fato de que, na proposição da ciência jurídica, a ligação entre os elementosfáticos (conduta como pressuposto e 
consequência punitiva, permissiva ou autorizativa, como resultado) é produzida por uma norma jurídica, isto é, por um ato de vontade autorizado.(7)A norma jurídica, assim 
como qualquer norma, não tem a finalidade de descrever os fatos sociais, no caso, as condutas humanas, pelo contrário, ela representa uma interferência na ordem natural 
ou social desses fatos, qualificando imperativamente as condutas a que se refere (atribuindo responsabilidades, conferindo poderes, ou interditando condutas). Mesmo assim, 
tais relações jurídicas, uma vez constituídas por essa imperatividade formalmente autorizada, devem ser apenas descritas pelo cientista, na medida em que compõem uma 
relação de imputabilidade.(8) O conteúdo das normas (fatos e valores) deve permanecer intocado. 
  
Criticam-se, assim, por inviabilidade científica, as proposições de uma teoria metafísica do Direito. Afirma também o autor que, limitada às descrições normativas, à ciência 
jurídica também não cabe investigar a eficácia da norma - saber se esta é ou não vivenciada como regra social -, pois aí estaria forçada a emitir juízos da ordem do ser, 
juízos sobre a realidade. Assim, segundo ele, não cabe à ciência jurídica dizer se uma norma é ou não justa, ou se é ou não obedecida, mas sim se é válida formalmente, se 
tem vigência. 
Kelsen ressalva, ou alerta, que embora se utilize da expressão dever-ser, o sentido dessa expressão traz na proposição da ciência jurídica um caráter meramente descritivo, 
ainda que o objeto dessa descrição - a norma jurídica - não seja um fato da ordem do ser, mas também um dever-ser. O jurista científico - afirma - apenas descreve o 
Direito; assim como o físico em relação ao seu objeto, ele apenas afirma a ligação entre dois fatos. E mesmo considerando que o objeto da ciência jurídica seja constituído 
pelas normas e, portanto, pelos valores ali inscritos, as proposições científicas, assim como as leis naturais - enfatiza Kelsen - são uma descrição alheia a valores. 
Ainda raciocinando analogicamente, Kelsen compara as leis naturais, elaboradas pela Física, enquanto descrição da ordem natural (ser), com as proposições descritivas da 
ordem jurídica, produzidas pela ciência jurídica, que ele então denomina leis jurídicas, que não são propriamente as normas jurídicas (dever-ser), mas apenas a sua 
descrição científica. 
Esse jogo de espelhos entre o Direito(objeto) e a ciência jurídica (sujeito), que resulta da formulação positivista de Kelsen, é de fato fonte de muita confusão. Há momentos, 
durante a leitura, em que não se sabe bem de que lado está o quê, principalmente quando Kelsen recorre à analogia com as ciências naturais para justificar as funções que 
reputa idênticas àquelas da ciência jurídica, ou seja, a descrição de seus respectivos objetos de conhecimento: os fatos da ordem natural (ser) e as normas jurídicas (dever -
ser): nesse momento a norma jurídica equipara-se a um objeto reificado, uma coisa a ser descrita, um dever-ser -que é válido formalmente - ressalte-se. Mas aqui reside a 
primeira confusão, pois para ele, embora sejam realidades ontologicamente diversas, prestam-se ao mesmo tipo de apreensão cognitiva, isto é, podem ser descritas pelo 
conhecimento científico, desde que, entretanto, sejam aplicados princípios explicativos diferentes: causalidade e imputação. Portanto, são ciências diferentes, peculiares, mas 
comungam da mesma metodologia positivista. 
  
A moldura interpretativa kelseniana 
A moldura interpretativa é a maior criação do pensamento kelseniano nessa matéria e foi elaborada para solucionar os casos de indeterminação das leis. 
Segundo Kelsen, “o Direito a aplicar forma, em todas estas hipóteses, uma moldura dentro da qual existem várias possibilidades de aplicação, pelo que é conforme ao 
Direito todo ato que se mantenha dentro desse quadro ou moldura, que preencha esta moldura em qualquer sentido possível”. Kelsen considera que a norma superior forma 
uma moldura determinante de um campo de ação para a norma inferior, onde há várias possibilidades legais de aplicação do direito. Pode-se visualizar a moldura como uma 
figura geométrica, dentro da qual cabe ao órgão aplicador do direito escolher dentro das possibilidades oferecidas previamente pela norma superior. 
E como é estabelecida claramente a moldura? Ela é determinada através de um ato objetivo do órgão aplicador, com a finalidade de conhecer a moldura e as alternativas 
que lhe são oferecidas. Só posteriormente, no momento de escolher qual dos caminhos a seguir e transformar a escolha em direito positivo, é que o intérprete realizaria um 
ato voluntarístico de caráter subjetivo. 
Em suma: num primeiro momento, o intérprete manter-se-ia neutro, realizando um ato meramente cognoscitivo (desprovido de vontade) para conhecer a moldura e as 
possibilidades de sua ação. Posteriormente, através de uma volição, o intérprete escolheria qual o caminho a seguir e aplicaria o direito. 
  
  
Críticas ao Normativismo Jurídico 
  
O processo de conhecimento do direito  como ato ideológico do intérprete 
  
Todas as críticas à teoria da interpretação positivista do direito baseiam-se na nossa concepção do ato intelectivo (ato através do qual conhecemos as coisas), que é 
diferente da concepção kelseniana. Segundo Kelsen, o ato cognoscitivo tem um caráter de objetividade e sua função é  “determinar” as coisas, sem interferência do agente. 
Equivale a uma apreensão objetiva da coisa examinada. 
Em opinião diversa, não só o ato voluntarístico, mas também o ato intelectivo está impregnado de ideologia (significando aqui um conjunto de ideias, crenças, valores etc., 
que forma a cultura de cada indivíduo), pois ela acompanha o homem desde o instante em que ele nasce até o momento de sua morte. 
Quando o sujeito realiza um ato de cognição, imprime, nos espaços axiológicos indeterminados ou lacunosos do objeto a conhecer, a sua ideologia. Isso ocorre 
principalmente nos objetos construídos pelo homem, em contraposição aos objetos dados pela natureza, pois o construído possui uma finalidade de ser, que é um valor, e 
por isso suscetível de invasão da ideologia do ser que promove o ato de conhecer. 
Tobias Barreto já dizia que o Direito não é produto do céu, mas sim da criação da cultura humana; ele é enquanto deve-ser, isto é, o Direito é uma realidade ontológica, mas 
com uma finalidade deontológica. 
Porém, o que mais contribui para transformar as normas jurídicas em terreno propício ao ataque ideológico é o seu meio de expressão: a linguagem. 
A linguagem jurídica está repleta de termos vagos e ambíguos, o que causa debates acerca do significado correto de cada palavra. Todos os conceitos têm uma certa fluidez, 
não havendo conceitos prontos, acabados e imutáveis. 
  
A impossibilidade de uma neutralidade pura do cientista do direito 
Da argumentação exposta, segue que a concepção de Kelsen sobre o caráter e o papel do estudioso do Direito não pode ser aceita. Kelsen defende que o cientista deve ter 
o caráter de absoluta neutralidade perante o Direito, e que seu papel é o de determinar cognoscitivamente 
as possíveis interpretações da norma superior. 
De fato, seria muito bom se a realidade fosse simples e modelada conforme o ideal de imparcialidade kelseniano. Porém, o ser humano não é uma máquina; a sua mente é 
um feixe axiológico onde se integram os valores que formam a ideologia do indivíduo. 
O papel do cientista do Direito não é apenas interpretar o direito positivo para “conhecer” a moldura da norma, como se fosse um mero comentador de Códigos e legislação; 
ele deve também contribuir para a formação de novos significados dos termos indeterminados das normas. A norma não deve ser estudada como uma estrutura 
mumificada; o signo normativo não é imutável, pois, apesar do significante permanecer o mesmo, o significado muda continuamente, num processo evolutivo incessante. 
Das críticas feitas, os autores extraem algumas conclusões: 
a)    Não só os atos de vontade,mas também os atos intelectivos estão impregnados do subjetivismo e da ideologia do intérprete; 
b)   Todo ato de interpretação, seja do intérprete autêntico ou não autêntico, é um ato de caráter ideológico. Daí deduz-se que o ato de interpretação do cientista do Direito 
também está preenchido de ideologia, restando prejudicada a concepção kelseniana da neutralidade pura ou pureza científica do cientista do Direito; 
c)   A moldura interpretativa não é determinada objetivamente pela norma superior. É imprescindível a interação da ideologia do intérprete com a norma superior para a 
formação da moldura. Daí deduz-se que a moldura não pode ser rígida e hermética, sendo maleável e aberta; 
d)   O Direito evolui permanentemente através dos atos contínuos de interpretação e, como prova disto, temos a Jurisprudência dos Tribunais e a doutrina, onde há sempre 
várias posições contrapostas, que refletem diferentes ideologias vigentes na sociedade, e contribuem enormemente para o avanço do Direito e para a busca da justiça. 
  
Finalmente, seria interessante ao professor da disciplina enfatizar a importância de uma moldura maleável e flexível para a evolução do Direito e para a concretização da 
justiça. Devido à maleabilidade da moldura interpretativa, o Direito pode receber contribuições dos mais diferentes matizes ideológicos para o seu processo de permanente 
evolução e pode aspirar a uma verdadeira busca da equidade, aplicando-se ao caso concreto a interpretação possível mais apropriada. 
  
Noções sobre a Teoria Tridimensional do Direito.  
  
O fenômeno jurídico, na lição do mestre Miguel Reale , pode ser considerado sob três aspectos ou dimensões distintos, a saber: fato, valor e norma .  
  
Buscou o jurista demonstrar, em sua tese, que o Direito é uma realidade tridimensional, compreendida, através das seguintes dimensões básicas: fato, valor e norma. Para 
Miguel Reale, os três elementos dimensionais do Direito estão sempre presentes na substância do jurídico, ao mesmo tempo em que são inseparáveis pela realidade 
dinâmica do próprio Direito, formando o contexto do chamado tridimensionalismo “concreto”, que virtualmente se opõe ao tridimensionalismo “abstrato” que o antecedeu. 
  
Segundo Reale, há um mundo do ser que aprecia a realidade social como ela de fato é; há um quadro de ideias e valores; e, finalmente, um modelo de sociedade desejado 
(mundo do dever-ser) à medida que a norma deseja reproduzir o ser, podemos afirmar que nos encontramos diante de uma sociedade de essência conservadora; ao 
contrário, quando o dever-ser procura modificar o ser, pode ser entendida como verdadeira a afirmativa de que nos confrontamos com uma sociedade eminentemente 
progressiva. 
O fenômeno jurídico, na lição de Miguel Reale, qualquer que seja a sua forma de expressão, requer a participação dialética, do fato, valor e norma, que são dimensões 
essenciais do direito, elementos complementares da realidade jurídica. 
  
Consequentemente, o Direito não é puro fato, não possui uma estrutura puramente factual, como querem os sociólogos; nem pura norma, como defendem os normativistas; 
nem puro valor, como proclamam os idealistas. Essas visões são parciais e não revelam toda a dimensão do fenômeno jurídico. O Direito congrega todos aqueles elementos: 
“é fato social na forma que lhe dá uma norma segundo uma ordem de valores”. 
  
Assim, segundo Miguel Reale, em qualquer fenômeno jurídico, há um “fato subjacente” (fato econômico, geográfico, demográfico, de ordem técnica etc.), sobre o qual incide 
um “valor” que confere determinado significado a esse fato, inclinando ou determinando a ação dos homens no sentido de atingir ou preservar certa finalidade ou objetivo; e, 
finalmente, uma “regra ou norma”, que aparece como medida capaz de fazer a integração de um elemento ao outro, ou seja, do fato ao valor. Toda vez que surge uma 
regra jurídica, há certa medida estimativa do fato, que envolve o fato mesmo e o protege. A norma envolve o fato, e, por envolvê -lo, valora-o, mede-o, em seu significado, 
baliza-o em suas consequências, tutela o seu conteúdo, realizando uma mediação entre o valor e o fato. 
Para que haja um fenômeno jurídico, é necessário que haja: 
                                                       FATO 
  
  
                         NORMA                             VALOR 
  
O “Fato” é uma dimensão do Direito, é o acontecimento social que envolve interesses básicos para o homem e que por isso enquadra-se dentro dos assuntos regulados pela 
ordem jurídica (social, econômico, geográfico, demográfico, de ordem técnica etc.). 
O “Valor” é o elemento moral do Direito; se toda obra humana é impregnada de sentido ou valor, igualmente o Direito: ele protege e procura realizar valores fundamentais 
da vida social, notadamente, a ordem, a segurança e a justiça (conferindo ao fato determinada significação que deve ser preservada).  
A “Norma” consiste no padrão de comportamento social imposto aos indivíduos, que devem observá-la em determinadas circunstâncias (relação ou medida que integra o fato 
ao valor) . 
Fato, valor e regra não existem para o Direito separados um do outro, mas coexistem numa unidade concreta, resultando desta integração dinâmica o Direito. 
  
Ex.: O Direito Cambial (norma) dispõe sobre transação comercial (fato de ordem econômica) e visa assegurar o crédito aposto numa nota promissória ou duplicata (valor).  
  
Ex.: “Matar alguém” - pena de 6 a 12 anos (norma) - dispõe sobre um fato de matar uma pessoa (fato social) e visa assegurar a vida (bem maior do homem - valor). 
  
Ex.: Os pais devem prestar assistência a seus filhos (norma) - dispõe sobre a proteção aos menores (fato social) e visa assegurar a educação e o bem estar do menor, com 
vistas ao progresso social (valor). 
  
Ex.: “Aquele que (...) causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano” (norma) - dispõe sobre a proteção dos bens alheios (fato econômico) e visa assegurar esse 
patrimônio (valor). 
Com a criação da norma, o fato e o valor ficam interligados e entram no mundo jurídico como uma única coisa.   
  
A tridimensionalidade dá origem a três planos distintos. 
  
·   Eficácia      (Fato   =>   Ser   =>   Sociologia Jurídica) 
·   Vigência     (Norma   =>  Dever Ser  =>  Ciência do Direito) 
·   Fundamento (Valor  => Poder Ser  => Filosofia do Direito) 
  
A Sociologia do Direito ocupa-se do Direito enquanto fato social. 
A Ciência do Direito ocupa-se do Direito enquanto norma. 
A Filosofia do Direito trata dos valores do Direito, dos ideais de justiça que são representados nas normas jurídicas e da finalidade última destas normas. 
Aplicação Prática Teórica 
Caso Concreto 1 
  
Três amigos acabaram de ler no jornal que Madalena, 19 anos, separada, mãe de três filhos, que ganha um salário mínimo trabalhando como empregada doméstica, foi 
condenada, pelo Tribunal do Júri, a três anos de prisão por ter cometido aborto. O primeiro amigo afirma que o Tribunal do Júri aplicou corretamente a lei, visto que a 
conduta de Madalena constitui crime contra a vida (art. 240 do Código Penal). O segundo amigo discorda, sustentando que a condenação foi injustificada, porque a lei sobre 
o aborto não é quase nunca aplicada. O terceiro afirma que o problema é de cunho filosófico, envolvendo reflexões sobre o moralmente certo ou errado, e que houve uma 
injustiça, já que o caso foi resolvido segundo a letra da lei e não segundo as exigências da justiça. 
  
Examine o caso apresentado procurando aplicar os conhecimentos adquiridos sobre a Teoria Tridimensional do Direito. 
  
  
Caso Concreto 2 
  
Recentemente o mundo foi surpreendido pela notícia de uma mãe francesa que, após anos cuidando de seu filho, que havia ficado tetraplégico, mudo e cego, após um 
acidente automobilístico, praticou a eutanásia, provocando-lhe, por consequência, a morte. 
Marie Humbert, mãe de Vincent Humbert, será julgada pelo Poder Judiciário da França, cuja legislação proíbe a prática da eutanásia, podendo vir a sercondenada por tal 
conduta. 
O Caso Vincent Humbert, além de reacender o debate em torno da eutanásia, coloca em choque os direitos fundamentais à vida e à dignidade, desafiando o jurista na busca 
da solução mais justa. 
Pergunta-se: O direito positivo, da forma concebida pela escola kelseniana,  será capaz de oferecer uma solução adequada à questão? 
Plano de Aula: Introdução ao Estudo do Direito 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO
Estácio de Sá Página 1 / 4
Título 
Introdução ao Estudo do Direito 
Número de Aulas por Semana 
 
Número de Semana de Aula 
4 
Tema 
Fundamentos do Direito 
Objetivos 
·   Introduzir as diversas concepções acerca do direito natural; 
·   Discorrer a respeito das correntes jusnaturalistas; 
·   Apresentar o movimento positivista jurídico e sua polêmica com os jusnaturalistas; 
·   Explicitar os postulados kelsenianos do normativismo jurídico; 
·   Apontar as críticas formuladas à teoria pura do Direito; 
·   Discorrer sobre o culturalismo jurídico e a Teoria Tridimensional do Direito.   
Estrutura do Conteúdo 
Fundamentos do Direito 
1.   A ideia do Direito Natural. O jusnaturalismo; 
2.   O Positivismo Jurídico; 
3.   O Normativismo jurídico; 
4.   Crítica à Teoria Pura do Direito; 
5.   A estrutura tridimensional do Direito. 
  
Referências bibliográficas: 
  
  
NADER, Paulo .Introdução ao estudo do direito .30. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro:Forense, 2008. ISBN 9788530926373 
  
Nome do capítulo: Capítulo XXXVII – A ideia do direito natural 
N. de páginas do capítulo: 10  
  
Livro:REALE, Miguel. Lições preliminares de direito .27. ed. Ajustada ao novo Código Civil, São Paulo: Saraiva,  2009.  ISBN  8502041266 
  
Nome do capítulo: Capítulo VI – Conceito de Direito -  sua estrutura tridimensional. 
N. de páginas do capítulo: 5  
  
Poderão ser utilizados os seguintes Métodos e Técnicas Didáticas Individuais: 
  
Leitura Dirigida -  É o acompanhamento pelo grupo da leitura de um texto. O professor fornece, previamente, ao grupo uma ideia do assunto a ser lido. A leitura é feita 
individualmente pelos participantes, e comentada a cada passo, com supervisão do professor. Finalmente, o professor dá um resumo, ressaltando os pontos chaves a serem 
observados. 
  
Solução de Problemas  - Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática. 
A resolução dos casos faz parte da aula. A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. 
  
Sugerimos ao professor que introduza o tema a partir da ideia de direito natural e como foi sendo desenvolvido pelas diversas correntes do pensamento jusnaturalista. 
Pode-se iniciar a partir da afirmação de que a Teoria do Direito natural é muito antiga, estando presente na literatura jurídica ocidental desde a aurora da Civilização 
Europeia. Na descoberta ateniense do homem, parece encontrar-se a semente desse movimento, que atende ao anseio comum, em todos os tempos, a todo os homens, por 
um direito mais justo, mais perfeito, capaz de protegê-los contra o arbítrio do governo. 
Considerado expressão da natureza humana ou deduzível dos princípios da razão, o direito natural foi sempre tido, pelos defensores desta teoria, como superior ao direito 
positivo, como sendo absoluto e universal por corresponder à natureza humana. Antes de Cristo, seja em Atenas, seja em Roma, com Cícero (De res publica) assim era 
concebido. Direito que, através dos tempos, tem influenciado reformas jurídicas e políticas, que deram novos rumos às ordens políticas europeia e norte-americana, como, 
por exemplo, é o caso da Declaração de Independência (1776) dos Estados Unidos, e da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), da Revolução Francesa. 
Lê-se, no art. 2o. da citada Declaração dos Direitos do Homem, de 1789: “o fim de toda associação é a proteção dos direitos naturais imprescritíveis do homem”. Fácil é 
encontrar a sua presença na Declaração Universal dos Direitos (1948) da ONU. 
Assim, o jusnaturalismo é a corrente tradicional do pensamento jurídico, que defende a vigência e a validade de um direito superior ao direito positivo. Corrente que se tem 
mantido de pé, apesar das várias crises por que tem passado, e que, apesar de criticada por muitos, mantém -se fiel ao menos a um princípio comum: a consideração do 
direito natural como direito justo por natureza, independente da vontade do legislador, derivado da natureza humana (jusnaturalismo) ou dos princípios da razão 
(jusracionalismo), sempre presente na consciência de todos os homens.   
  
O ponto comum entre as diversas correntes do direito natural tem sido a convicção de que, além do direito escrito, há uma outra ordem, superior àquela e que é a 
expressão do Direito justo. É a ideia do direito perfeito e por isso deve servir de modelo para o legislador. É o direito ideal, mas ideal não no sentido utópico, mas um ideal 
alcançável. A divergência maior na conceituação do Direito natural está centralizada na origem e fundamentação desse direito. O pensamento predominante na atualidade é 
o de que o Direito natural se fundamenta na natureza humana. 
  
Tradicionalmente os autores indicam três caracteres para o direito natural: ser eterno, imutável e universal; isto porque, sendo a natureza humana a grande fonte desses 
direitos, ela é, fundamentalmente, a mesma em todos os tempos e lugares. 
O Direito Natural persegue a justiça e inspira o Direito Positivo, que está ligado a um lugar e a um tempo. 
  
Ex: O conceito de justiça do Empregador é completamente diferente do conceito de justiça do empregado. 
O Direito Natural revela ao legislador os princípios fundamentais de proteção ao homem, que forçosamente deverão ser consagrados pela legislação, a fim de que se tenha 
um ordenamento jurídico substancialmente justo. O Direito Natural não é escrito, não é criado pela sociedade, nem é formulado pelo Estado. (...) É um Direito espontâneo, 
que se origina da própria natureza social do homem e que é revelado pela conjugação de experiência e razão. É constituído por um conjunto de princípios, e não de regras, 
de caráter universal, eterno e imutável. (Paulo Nader). 
  
O Positivismo Jurídico 
Em relação ao Positivismo jurídico, sugerimos que o professor comente com a turma que esse é a manifestação, no campo do direito, do positivismo, ou seja, da doutrina de 
Comte, na forma apresentada no seu Cours de Philosophie Positive. Dando grande importância à ciência no progresso do saber, restringindo o objeto da ciência e da filosofia 
aos fatos e à descoberta das leis que os regem, o positivismo pretendia ser a filosofia da ciência, ou seja, o coroamento do saber científico.  
  
No domínio jurídico, pondo de lado a metafísica, definindo o direito positivo como fato, passível de estudo científico, fundado em dados reais, o positivismo jurídico tornou-se 
a doutrina do direito positivo. Nesse sentido tem razão Bobbio, quando diz ser o positivismo jurídico a corrente do pensamento jurídico para a qual “não existe outro direito 
senão aquele positivo”. Consequentemente, opõe-se à Teoria do Direito natural, bem como a todas as formas de metafísica jurídica.  
  
Por isso, a identificação, até o século XIX, da Filosofia do Direito com a Filosofia do Direito Natural, obrigou os positivistas a substituírem -na pela Teoria Geral do Direito, 
idealizada pelos alemães, ou pela Analytical Jurisprudence , do inglês Austin, formuladas com base no direito positivo.  
  
Fora da experiência, do fato ou do direito positivo, direito algum existe para o Positivismo Jurídico, que se caracteriza por identificar o direito positivo com o direito estatal 
(legislado ou jurisprudencial), considerando a experiência jurídica a única fonte do conhecimento jurídico; por ser antijusnaturalista, negando natureza jurídica ao direito 
natural; por ser antijusracionalista, negando o poder legislativo da razão, encontrando somente na vontade do legislador ou do juiz, manifestada na sentença, a fonte 
imediata dodireito, e por afastar os valores e o direito natural da ciência jurídica e da filosofia do direito, reduzida à síntese dos resultados da ciência do direito.  
Identificando o direito com a lei ou com o código, com os precedentes judiciais, ou ainda, com o direito estatal, escrito ou não escrito, o positivismo jurídico resultou, na 
França, no culto da vontade do legislador e dos códigos, considerados sem lacunas.  
  
Desse culto, resultou a escola de exegese, apegada aos textos, defendendo a subordinação do juiz à vontade do legislador. Já o positivismo jurídico alemão, acolhendo as 
lições do historicismo jurídico, não se preocupou com as relações do direito com o legislador, mas em delinear a teoria do direito positivo, que, partindo dos direitos 
históricos, acabasse formulando as noções jurídicas fundamentais.  
  
No positivismo jurídico enquadram-se todas as teorias que consideram expressar o direito a vontade do legislador, definindo-o como comando e reduzindo-o ao direito do 
Estado. Esse positivismo tem sido rotulado de positivismo estatal ou positivismo normativista, por dar preponderância à lei sobre as demais fontes do direito ou ao 
precedente judicial e por fazer depender o direito do Estado.  Para essa versão do positivismo, o direito é identificado com o direito estatal: é o criado ou reconhecido pelo 
Estado, manifestação, portanto, de sua vontade.  
  
O positivismo se caracteriza, portanto, por ser antimetafísico e antijusnaturalista, por ser empirista, por afastar do estudo científico do direito os valores e por considerar o 
direito positivo o único objeto da Filosofia e Ciências jurídicas. As várias formas de positivismo encontram no fato social, na autoridade, nas razões de Estado, no poder ou 
nas necessidades decorrentes das relações humanas o fundamento do direito. 
  
Francesco Carnelutti  situa o positivismo como um meio-termo entre dois extremos: o materialismo e o idealismo. Para o materialismo, a realidade está na matéria, 
rejeitando toda abstração e assumindo uma posição antimetafísica. Para o idealismo, a realidade está além da matéria. O positivismo mantém-se distante da polêmica. Ele 
simplesmente se desinteressa pela problemática, julgando-a irrelevante para os fins da ciência. 
  
Para o positivismo jurídico só existe uma ordem jurídica: a comandada pelo Estado e que é soberana. Eis, na opinião de Eisnmann, um dos críticos atuais do Direito Natural, 
a proposição que melhor caracteriza o positivismo jurídico: “Não há mais Direito que O Direito Positivo”.  Assumindo atitude intransigente perante o Direito Natural, o 
positivismo jurídico se satisfaz plenamente com o ser do Direito Positivo, sem cogitar sobre a forma ideal do Direito, sobre o dever-ser jurídico. Assim, para o positivista, a 
lei assume a condição de único valor. 
  
O positivismo jurídico é uma doutrina que não satisfaz as exigências sociais de justiça. Se, de um lado, favorece o valor segurança, por outro, ao defender a filiação do 
direito a determinações do Estado, mostra-se alheio à sorte dos homens. O direito não se compõe exclusivamente de normas, como pretende essa corrente. As regras 
jurídicas têm sempre um significado, um sentido, um valor a realizar. Os positivistas não se sensibilizaram pelas diretrizes do direito. Apegaram-se tão somente ao concreto, 
ao materializado. Os limites concedidos ao direito foram muito estreitos, acanhados, para conterem toda a grandeza e importância que ele encerra. A lei não pode abarcar 
todo o jus . A lei, sem condicionantes, é uma arma para o bem ou para o mal. Como sabiamente salientou Carlenutti , assim como não há verdades sem germes de erros, 
não há erros sem alguma parcela de verdade. O mérito que Carlenutti vê no positivismo é o de conduzir a atenção do analista para a descoberta do Direito natural: “a 
observação daquilo que se vê é o ponto de partida para chegar àquilo que não se vê”. 
  
O Normativismo Jurídico (A Teoria Pura do Direito) 
  
A Teoria Pura do Direito (Normativismo Jurídico) 
  
No início do século XX, Hans Kelsen apresenta, na sua obra Teoria Pura do Direito, uma concepção de ciência jurídica com a qual se pretendia finalmente ter alcançado, no 
Direito, os ideais de toda a ciência: objetividade e exatidão. É com esses termos que o autor apresenta a primeira edição de sua obra mais conhecida. Para alcançar tais 
objetivos, Kelsen propõe uma depuração do objeto da ciência jurídica, como medida, inclusive, de garantir autonomia científica para a disciplina jurídica, que, segundo ele, 
vinha sendo deturpada pelos estudos sociológicos, políticos, psicológicos, filosóficos etc. 
A ousadia do pensamento kelseniano, desqualificando a importância do jusnaturalismo como teoria válida para o direito e pretendendo dar caráter definitivo ao monismo 
jurídico estatal, fez de Kelsen o alvo preferido das teorias críticas no Direito, inconformadas com os déficits éticos do pensamento jurídico assim purificado e com o 
consequente desinteresse dos juristas em realizar cientificamente um direito atrelado a critérios de legitimidade não apenas formais. 
  
Ocorre que, atuando no marco do paradigma positivista, não poderia ser diferente o projeto kelseniano: uma ciência das normas que atingisse seus objetivos 
epistemológicos de neutralidade e objetividade. Era preciso expulsar do ambiente científico os juízos de valor, aliás como já  haviam feito as demais disciplinas científicas. O 
plano da teoria Pura era, assim, atingir a autonomia disciplinar para a ciência jurídica. Essa é a grande importância de seu pensamento, isto é, seu caráter paradigmático. E 
se de fato estamos vivendo um novo momento de transição paradigmática, nada melhor do que bem compreender as bases desse paradigma que se transforma. Esse é o 
objetivo deste texto e, para tanto, iremos analisar a formulação de Kelsen, na Teoria Pura, da relação entre ciência e direito, procurando, a partir de uma perspectiva crítica 
ao positivismo que a caracteriza, vislumbrar as limitações dessa formulação. A relação entre direito e ciência na Teoria Pura do Direito de Kelsen começa pela definição do 
objeto da ciência do direito, que para ele é constituído, em primeiro lugar, pelas normas jurídicas e mediatamente pelo conteúdo dessas normas, ou seja, pela conduta 
humana regulada por estas. Assim, enquanto se estudam as normas reguladoras da conduta, o Direito como um sistema de normas em vigor, fica -se no campo de uma 
teoria estática do Direito. Por outro lado, se o objeto do estudo desloca-se para a conduta humana regulada (atos de produção, aplicação ou observância determinados por 
normas jurídicas), o processo jurídico em seu movimento de criação e aplicação, realiza -se o que ele chama de teoria dinâmica do Direito. Esse dualismo, entretanto, é 
apenas aparente, já que a dinâmica está subordinada à estática por uma relação de validade formal, pois os atos da conduta humana que desencadeiam o movimento do 
Direito são, eles próprios, conteúdo de normas jurídicas, e só nesta medida é que interessam para o estudo da ciência jurídica. 
Kelsen apresenta o ordenamento jurídico positivo - conjunto das normas válidas - como uma pirâmide de normas, onde se articulam o aspecto estático e o aspecto dinâmico 
do Direito. A noção de validade formal é o elemento que integra esses dois aspectos, pois, nesse arranjo, cada norma retira de uma outra, que lhe é superior, na escala 
hierárquica do ordenamento jurídico, a sua existência e validade. Assim, por exemplo, no momento em que é criada ou aplicada (dinâmica), para que seja considerada 
válida a norma, é preciso verificar se as condições de sua produção ou aplicação (capacidade e/ou competência dos agentes, além do procedimento de produção e 
aplicação) estão previamente contidos nos comandos de outras normas já produzidas e integrantes do ordenamento jurídico (estática). O ponto final dessa cadeia de 
validade é o que Kelsen chama de norma fundamental - pressuposto lógico do sistema normativo. 
  
Causalidade (ser) e imputação (dever-ser)Segundo Kelsen, o que se denomina princípio da imputação(responsabilização) tem, nas proposições jurídicas, função análoga à do princípio da causalidade em relação às 
leis naturais. Tal qual uma lei natural, também uma proposição da ciência jurídica liga entre si dois elementos: se "A" é, "B" é (causalidade); se "A" é, "B" deve ser 
(imputação). A diferença consiste, no entanto, no fato de que, na proposição da ciência jurídica, a ligação entre os elementos fáticos (conduta como pressuposto e 
consequência punitiva, permissiva ou autorizativa, como resultado) é produzida por uma norma jurídica, isto é, por um ato de vontade autorizado.(7)A norma jurídica, assim 
como qualquer norma, não tem a finalidade de descrever os fatos sociais, no caso, as condutas humanas, pelo contrário, ela representa uma interferência na ordem natural 
ou social desses fatos, qualificando imperativamente as condutas a que se refere (atribuindo responsabilidades, conferindo poderes, ou interditando condutas). Mesmo assim, 
tais relações jurídicas, uma vez constituídas por essa imperatividade formalmente autorizada, devem ser apenas descritas pelo cientista, na medida em que compõem uma 
relação de imputabilidade.(8) O conteúdo das normas (fatos e valores) deve permanecer intocado. 
  
Criticam-se, assim, por inviabilidade científica, as proposições de uma teoria metafísica do Direito. Afirma também o autor que, limitada às descrições normativas, à ciência 
jurídica também não cabe investigar a eficácia da norma - saber se esta é ou não vivenciada como regra social -, pois aí estaria forçada a emitir juízos da ordem do ser, 
juízos sobre a realidade. Assim, segundo ele, não cabe à ciência jurídica dizer se uma norma é ou não justa, ou se é ou não obedecida, mas sim se é válida formalmente, se 
tem vigência. 
Kelsen ressalva, ou alerta, que embora se utilize da expressão dever-ser, o sentido dessa expressão traz na proposição da ciência jurídica um caráter meramente descritivo, 
ainda que o objeto dessa descrição - a norma jurídica - não seja um fato da ordem do ser, mas também um dever-ser. O jurista científico - afirma - apenas descreve o 
Direito; assim como o físico em relação ao seu objeto, ele apenas afirma a ligação entre dois fatos. E mesmo considerando que o objeto da ciência jurídica seja constituído 
pelas normas e, portanto, pelos valores ali inscritos, as proposições científicas, assim como as leis naturais - enfatiza Kelsen - são uma descrição alheia a valores. 
Ainda raciocinando analogicamente, Kelsen compara as leis naturais, elaboradas pela Física, enquanto descrição da ordem natural (ser), com as proposições descritivas da 
ordem jurídica, produzidas pela ciência jurídica, que ele então denomina leis jurídicas, que não são propriamente as normas jurídicas (dever-ser), mas apenas a sua 
descrição científica. 
Esse jogo de espelhos entre o Direito(objeto) e a ciência jurídica (sujeito), que resulta da formulação positivista de Kelsen, é de fato fonte de muita confusão. Há momentos, 
durante a leitura, em que não se sabe bem de que lado está o quê, principalmente quando Kelsen recorre à analogia com as ciências naturais para justificar as funções que 
reputa idênticas àquelas da ciência jurídica, ou seja, a descrição de seus respectivos objetos de conhecimento: os fatos da ordem natural (ser) e as normas jurídicas (dever -
ser): nesse momento a norma jurídica equipara-se a um objeto reificado, uma coisa a ser descrita, um dever-ser -que é válido formalmente - ressalte-se. Mas aqui reside a 
primeira confusão, pois para ele, embora sejam realidades ontologicamente diversas, prestam-se ao mesmo tipo de apreensão cognitiva, isto é, podem ser descritas pelo 
conhecimento científico, desde que, entretanto, sejam aplicados princípios explicativos diferentes: causalidade e imputação. Portanto, são ciências diferentes, peculiares, mas 
comungam da mesma metodologia positivista. 
  
A moldura interpretativa kelseniana 
A moldura interpretativa é a maior criação do pensamento kelseniano nessa matéria e foi elaborada para solucionar os casos de indeterminação das leis. 
Segundo Kelsen, “o Direito a aplicar forma, em todas estas hipóteses, uma moldura dentro da qual existem várias possibilidades de aplicação, pelo que é conforme ao 
Direito todo ato que se mantenha dentro desse quadro ou moldura, que preencha esta moldura em qualquer sentido possível”. Kelsen considera que a norma superior forma 
uma moldura determinante de um campo de ação para a norma inferior, onde há várias possibilidades legais de aplicação do direito. Pode-se visualizar a moldura como uma 
figura geométrica, dentro da qual cabe ao órgão aplicador do direito escolher dentro das possibilidades oferecidas previamente pela norma superior. 
E como é estabelecida claramente a moldura? Ela é determinada através de um ato objetivo do órgão aplicador, com a finalidade de conhecer a moldura e as alternativas 
que lhe são oferecidas. Só posteriormente, no momento de escolher qual dos caminhos a seguir e transformar a escolha em direito positivo, é que o intérprete realizaria um 
ato voluntarístico de caráter subjetivo. 
Em suma: num primeiro momento, o intérprete manter-se-ia neutro, realizando um ato meramente cognoscitivo (desprovido de vontade) para conhecer a moldura e as 
possibilidades de sua ação. Posteriormente, através de uma volição, o intérprete escolheria qual o caminho a seguir e aplicaria o direito. 
  
  
Críticas ao Normativismo Jurídico 
  
O processo de conhecimento do direito  como ato ideológico do intérprete 
  
Todas as críticas à teoria da interpretação positivista do direito baseiam-se na nossa concepção do ato intelectivo (ato através do qual conhecemos as coisas), que é 
diferente da concepção kelseniana. Segundo Kelsen, o ato cognoscitivo tem um caráter de objetividade e sua função é  “determinar” as coisas, sem interferência do agente. 
Equivale a uma apreensão objetiva da coisa examinada. 
Em opinião diversa, não só o ato voluntarístico, mas também o ato intelectivo está impregnado de ideologia (significando aqui um conjunto de ideias, crenças, valores etc., 
que forma a cultura de cada indivíduo), pois ela acompanha o homem desde o instante em que ele nasce até o momento de sua morte. 
Quando o sujeito realiza um ato de cognição, imprime, nos espaços axiológicos indeterminados ou lacunosos do objeto a conhecer, a sua ideologia. Isso ocorre 
principalmente nos objetos construídos pelo homem, em contraposição aos objetos dados pela natureza, pois o construído possui uma finalidade de ser, que é um valor, e 
por isso suscetível de invasão da ideologia do ser que promove o ato de conhecer. 
Tobias Barreto já dizia que o Direito não é produto do céu, mas sim da criação da cultura humana; ele é enquanto deve-ser, isto é, o Direito é uma realidade ontológica, mas 
com uma finalidade deontológica. 
Porém, o que mais contribui para transformar as normas jurídicas em terreno propício ao ataque ideológico é o seu meio de expressão: a linguagem. 
A linguagem jurídica está repleta de termos vagos e ambíguos, o que causa debates acerca do significado correto de cada palavra. Todos os conceitos têm uma certa fluidez, 
não havendo conceitos prontos, acabados e imutáveis. 
  
A impossibilidade de uma neutralidade pura do cientista do direito 
Da argumentação exposta, segue que a concepção de Kelsen sobre o caráter e o papel do estudioso do Direito não pode ser aceita. Kelsen defende que o cientista deve ter 
o caráter de absoluta neutralidade perante o Direito, e que seu papel é o de determinar cognoscitivamente 
as possíveis interpretações da norma superior. 
De fato, seria muito bom se a realidade fosse simples e modelada conforme o ideal de imparcialidade kelseniano. Porém, o ser humano não é uma máquina; a sua mente é 
um feixe axiológico onde se integram os valores que formam a ideologia do indivíduo. 
O papel do cientista do Direito não é apenas interpretar o direito positivo para “conhecer” a moldura da norma, como sefosse um mero comentador de Códigos e legislação; 
ele deve também contribuir para a formação de novos significados dos termos indeterminados das normas. A norma não deve ser estudada como uma estrutura 
mumificada; o signo normativo não é imutável, pois, apesar do significante permanecer o mesmo, o significado muda continuamente, num processo evolutivo incessante. 
Das críticas feitas, os autores extraem algumas conclusões: 
a)    Não só os atos de vontade, mas também os atos intelectivos estão impregnados do subjetivismo e da ideologia do intérprete; 
b)   Todo ato de interpretação, seja do intérprete autêntico ou não autêntico, é um ato de caráter ideológico. Daí deduz-se que o ato de interpretação do cientista do Direito 
também está preenchido de ideologia, restando prejudicada a concepção kelseniana da neutralidade pura ou pureza científica do cientista do Direito; 
c)   A moldura interpretativa não é determinada objetivamente pela norma superior. É imprescindível a interação da ideologia do intérprete com a norma superior para a 
formação da moldura. Daí deduz-se que a moldura não pode ser rígida e hermética, sendo maleável e aberta; 
d)   O Direito evolui permanentemente através dos atos contínuos de interpretação e, como prova disto, temos a Jurisprudência dos Tribunais e a doutrina, onde há sempre 
várias posições contrapostas, que refletem diferentes ideologias vigentes na sociedade, e contribuem enormemente para o avanço do Direito e para a busca da justiça. 
  
Finalmente, seria interessante ao professor da disciplina enfatizar a importância de uma moldura maleável e flexível para a evolução do Direito e para a concretização da 
justiça. Devido à maleabilidade da moldura interpretativa, o Direito pode receber contribuições dos mais diferentes matizes ideológicos para o seu processo de permanente 
evolução e pode aspirar a uma verdadeira busca da equidade, aplicando-se ao caso concreto a interpretação possível mais apropriada. 
  
Noções sobre a Teoria Tridimensional do Direito.  
  
O fenômeno jurídico, na lição do mestre Miguel Reale , pode ser considerado sob três aspectos ou dimensões distintos, a saber: fato, valor e norma .  
  
Buscou o jurista demonstrar, em sua tese, que o Direito é uma realidade tridimensional, compreendida, através das seguintes dimensões básicas: fato, valor e norma. Para 
Miguel Reale, os três elementos dimensionais do Direito estão sempre presentes na substância do jurídico, ao mesmo tempo em que são inseparáveis pela realidade 
dinâmica do próprio Direito, formando o contexto do chamado tridimensionalismo “concreto”, que virtualmente se opõe ao tridimensionalismo “abstrato” que o antecedeu. 
  
Segundo Reale, há um mundo do ser que aprecia a realidade social como ela de fato é; há um quadro de ideias e valores; e, finalmente, um modelo de sociedade desejado 
(mundo do dever-ser) à medida que a norma deseja reproduzir o ser, podemos afirmar que nos encontramos diante de uma sociedade de essência conservadora; ao 
contrário, quando o dever-ser procura modificar o ser, pode ser entendida como verdadeira a afirmativa de que nos confrontamos com uma sociedade eminentemente 
progressiva. 
O fenômeno jurídico, na lição de Miguel Reale, qualquer que seja a sua forma de expressão, requer a participação dialética, do fato, valor e norma, que são dimensões 
essenciais do direito, elementos complementares da realidade jurídica. 
  
Consequentemente, o Direito não é puro fato, não possui uma estrutura puramente factual, como querem os sociólogos; nem pura norma, como defendem os normativistas; 
nem puro valor, como proclamam os idealistas. Essas visões são parciais e não revelam toda a dimensão do fenômeno jurídico. O Direito congrega todos aqueles elementos: 
“é fato social na forma que lhe dá uma norma segundo uma ordem de valores”. 
  
Assim, segundo Miguel Reale, em qualquer fenômeno jurídico, há um “fato subjacente” (fato econômico, geográfico, demográfico, de ordem técnica etc.), sobre o qual incide 
um “valor” que confere determinado significado a esse fato, inclinando ou determinando a ação dos homens no sentido de atingir ou preservar certa finalidade ou objetivo; e, 
finalmente, uma “regra ou norma”, que aparece como medida capaz de fazer a integração de um elemento ao outro, ou seja, do fato ao valor. Toda vez que surge uma 
regra jurídica, há certa medida estimativa do fato, que envolve o fato mesmo e o protege. A norma envolve o fato, e, por envolvê -lo, valora-o, mede-o, em seu significado, 
baliza-o em suas consequências, tutela o seu conteúdo, realizando uma mediação entre o valor e o fato. 
Para que haja um fenômeno jurídico, é necessário que haja: 
                                                       FATO 
  
  
                         NORMA                             VALOR 
  
O “Fato” é uma dimensão do Direito, é o acontecimento social que envolve interesses básicos para o homem e que por isso enquadra-se dentro dos assuntos regulados pela 
ordem jurídica (social, econômico, geográfico, demográfico, de ordem técnica etc.). 
O “Valor” é o elemento moral do Direito; se toda obra humana é impregnada de sentido ou valor, igualmente o Direito: ele protege e procura realizar valores fundamentais 
da vida social, notadamente, a ordem, a segurança e a justiça (conferindo ao fato determinada significação que deve ser preservada).  
A “Norma” consiste no padrão de comportamento social imposto aos indivíduos, que devem observá-la em determinadas circunstâncias (relação ou medida que integra o fato 
ao valor) . 
Fato, valor e regra não existem para o Direito separados um do outro, mas coexistem numa unidade concreta, resultando desta integração dinâmica o Direito. 
  
Ex.: O Direito Cambial (norma) dispõe sobre transação comercial (fato de ordem econômica) e visa assegurar o crédito aposto numa nota promissória ou duplicata (valor).  
  
Ex.: “Matar alguém” - pena de 6 a 12 anos (norma) - dispõe sobre um fato de matar uma pessoa (fato social) e visa assegurar a vida (bem maior do homem - valor). 
  
Ex.: Os pais devem prestar assistência a seus filhos (norma) - dispõe sobre a proteção aos menores (fato social) e visa assegurar a educação e o bem estar do menor, com 
vistas ao progresso social (valor). 
  
Ex.: “Aquele que (...) causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano” (norma) - dispõe sobre a proteção dos bens alheios (fato econômico) e visa assegurar esse 
patrimônio (valor). 
Com a criação da norma, o fato e o valor ficam interligados e entram no mundo jurídico como uma única coisa.   
  
A tridimensionalidade dá origem a três planos distintos. 
  
·   Eficácia      (Fato   =>   Ser   =>   Sociologia Jurídica) 
·   Vigência     (Norma   =>  Dever Ser  =>  Ciência do Direito) 
·   Fundamento (Valor  => Poder Ser  => Filosofia do Direito) 
  
A Sociologia do Direito ocupa-se do Direito enquanto fato social. 
A Ciência do Direito ocupa-se do Direito enquanto norma. 
A Filosofia do Direito trata dos valores do Direito, dos ideais de justiça que são representados nas normas jurídicas e da finalidade última destas normas. 
Aplicação Prática Teórica 
Caso Concreto 1 
  
Três amigos acabaram de ler no jornal que Madalena, 19 anos, separada, mãe de três filhos, que ganha um salário mínimo trabalhando como empregada doméstica, foi 
condenada, pelo Tribunal do Júri, a três anos de prisão por ter cometido aborto. O primeiro amigo afirma que o Tribunal do Júri aplicou corretamente a lei, visto que a 
conduta de Madalena constitui crime contra a vida (art. 240 do Código Penal). O segundo amigo discorda, sustentando que a condenação foi injustificada, porque a lei sobre 
o aborto não é quase nunca aplicada. O terceiro afirma que o problema é de cunho filosófico, envolvendo reflexões sobre o moralmente certo ou errado, e que houve uma 
injustiça, já que o caso foi resolvido segundo a letra da lei e não segundo as exigências da justiça. 
  
Examine o caso apresentado procurando aplicar os conhecimentos adquiridos sobre aTeoria Tridimensional do Direito. 
  
  
Caso Concreto 2 
  
Recentemente o mundo foi surpreendido pela notícia de uma mãe francesa que, após anos cuidando de seu filho, que havia ficado tetraplégico, mudo e cego, após um 
acidente automobilístico, praticou a eutanásia, provocando-lhe, por consequência, a morte. 
Marie Humbert, mãe de Vincent Humbert, será julgada pelo Poder Judiciário da França, cuja legislação proíbe a prática da eutanásia, podendo vir a ser condenada por tal 
conduta. 
O Caso Vincent Humbert, além de reacender o debate em torno da eutanásia, coloca em choque os direitos fundamentais à vida e à dignidade, desafiando o jurista na busca 
da solução mais justa. 
Pergunta-se: O direito positivo, da forma concebida pela escola kelseniana,  será capaz de oferecer uma solução adequada à questão? 
Plano de Aula: Introdução ao Estudo do Direito 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO
Estácio de Sá Página 2 / 4
Título 
Introdução ao Estudo do Direito 
Número de Aulas por Semana 
 
Número de Semana de Aula 
4 
Tema 
Fundamentos do Direito 
Objetivos 
·   Introduzir as diversas concepções acerca do direito natural; 
·   Discorrer a respeito das correntes jusnaturalistas; 
·   Apresentar o movimento positivista jurídico e sua polêmica com os jusnaturalistas; 
·   Explicitar os postulados kelsenianos do normativismo jurídico; 
·   Apontar as críticas formuladas à teoria pura do Direito; 
·   Discorrer sobre o culturalismo jurídico e a Teoria Tridimensional do Direito.   
Estrutura do Conteúdo 
Fundamentos do Direito 
1.   A ideia do Direito Natural. O jusnaturalismo; 
2.   O Positivismo Jurídico; 
3.   O Normativismo jurídico; 
4.   Crítica à Teoria Pura do Direito; 
5.   A estrutura tridimensional do Direito. 
  
Referências bibliográficas: 
  
  
NADER, Paulo .Introdução ao estudo do direito .30. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro:Forense, 2008. ISBN 9788530926373 
  
Nome do capítulo: Capítulo XXXVII – A ideia do direito natural 
N. de páginas do capítulo: 10  
  
Livro:REALE, Miguel. Lições preliminares de direito .27. ed. Ajustada ao novo Código Civil, São Paulo: Saraiva,  2009.  ISBN  8502041266 
  
Nome do capítulo: Capítulo VI – Conceito de Direito -  sua estrutura tridimensional. 
N. de páginas do capítulo: 5  
  
Poderão ser utilizados os seguintes Métodos e Técnicas Didáticas Individuais: 
  
Leitura Dirigida -  É o acompanhamento pelo grupo da leitura de um texto. O professor fornece, previamente, ao grupo uma ideia do assunto a ser lido. A leitura é feita 
individualmente pelos participantes, e comentada a cada passo, com supervisão do professor. Finalmente, o professor dá um resumo, ressaltando os pontos chaves a serem 
observados. 
  
Solução de Problemas  - Os casos e questões de múltipla escolha deverão ser abordados ao longo da aula, de acordo com a pertinência temática. 
A resolução dos casos faz parte da aula. A abordagem dos casos permeia a exposição teórica. 
  
Sugerimos ao professor que introduza o tema a partir da ideia de direito natural e como foi sendo desenvolvido pelas diversas correntes do pensamento jusnaturalista. 
Pode-se iniciar a partir da afirmação de que a Teoria do Direito natural é muito antiga, estando presente na literatura jurídica ocidental desde a aurora da Civilização 
Europeia. Na descoberta ateniense do homem, parece encontrar-se a semente desse movimento, que atende ao anseio comum, em todos os tempos, a todo os homens, por 
um direito mais justo, mais perfeito, capaz de protegê-los contra o arbítrio do governo. 
Considerado expressão da natureza humana ou deduzível dos princípios da razão, o direito natural foi sempre tido, pelos defensores desta teoria, como superior ao direito 
positivo, como sendo absoluto e universal por corresponder à natureza humana. Antes de Cristo, seja em Atenas, seja em Roma, com Cícero (De res publica) assim era 
concebido. Direito que, através dos tempos, tem influenciado reformas jurídicas e políticas, que deram novos rumos às ordens políticas europeia e norte-americana, como, 
por exemplo, é o caso da Declaração de Independência (1776) dos Estados Unidos, e da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), da Revolução Francesa. 
Lê-se, no art. 2o. da citada Declaração dos Direitos do Homem, de 1789: “o fim de toda associação é a proteção dos direitos naturais imprescritíveis do homem”. Fácil é 
encontrar a sua presença na Declaração Universal dos Direitos (1948) da ONU. 
Assim, o jusnaturalismo é a corrente tradicional do pensamento jurídico, que defende a vigência e a validade de um direito superior ao direito positivo. Corrente que se tem 
mantido de pé, apesar das várias crises por que tem passado, e que, apesar de criticada por muitos, mantém -se fiel ao menos a um princípio comum: a consideração do 
direito natural como direito justo por natureza, independente da vontade do legislador, derivado da natureza humana (jusnaturalismo) ou dos princípios da razão 
(jusracionalismo), sempre presente na consciência de todos os homens.   
  
O ponto comum entre as diversas correntes do direito natural tem sido a convicção de que, além do direito escrito, há uma outra ordem, superior àquela e que é a 
expressão do Direito justo. É a ideia do direito perfeito e por isso deve servir de modelo para o legislador. É o direito ideal, mas ideal não no sentido utópico, mas um ideal 
alcançável. A divergência maior na conceituação do Direito natural está centralizada na origem e fundamentação desse direito. O pensamento predominante na atualidade é 
o de que o Direito natural se fundamenta na natureza humana. 
  
Tradicionalmente os autores indicam três caracteres para o direito natural: ser eterno, imutável e universal; isto porque, sendo a natureza humana a grande fonte desses 
direitos, ela é, fundamentalmente, a mesma em todos os tempos e lugares. 
O Direito Natural persegue a justiça e inspira o Direito Positivo, que está ligado a um lugar e a um tempo. 
  
Ex: O conceito de justiça do Empregador é completamente diferente do conceito de justiça do empregado. 
O Direito Natural revela ao legislador os princípios fundamentais de proteção ao homem, que forçosamente deverão ser consagrados pela legislação, a fim de que se tenha 
um ordenamento jurídico substancialmente justo. O Direito Natural não é escrito, não é criado pela sociedade, nem é formulado pelo Estado. (...) É um Direito espontâneo, 
que se origina da própria natureza social do homem e que é revelado pela conjugação de experiência e razão. É constituído por um conjunto de princípios, e não de regras, 
de caráter universal, eterno e imutável. (Paulo Nader). 
  
O Positivismo Jurídico 
Em relação ao Positivismo jurídico, sugerimos que o professor comente com a turma que esse é a manifestação, no campo do direito, do positivismo, ou seja, da doutrina de 
Comte, na forma apresentada no seu Cours de Philosophie Positive. Dando grande importância à ciência no progresso do saber, restringindo o objeto da ciência e da filosofia 
aos fatos e à descoberta das leis que os regem, o positivismo pretendia ser a filosofia da ciência, ou seja, o coroamento do saber científico.  
  
No domínio jurídico, pondo de lado a metafísica, definindo o direito positivo como fato, passível de estudo científico, fundado em dados reais, o positivismo jurídico tornou-se 
a doutrina do direito positivo. Nesse sentido tem razão Bobbio, quando diz ser o positivismo jurídico a corrente do pensamento jurídico para a qual “não existe outro direito 
senão aquele positivo”. Consequentemente, opõe-se à Teoria do Direito natural, bem como a todas as formas de metafísica jurídica.  
  
Por isso, a identificação, até o século XIX, da Filosofia do Direito com a Filosofia do Direito Natural, obrigou os positivistas a substituírem -na pela Teoria Geral do Direito, 
idealizada pelos alemães, ou pela Analytical Jurisprudence , do inglês Austin, formuladas com base no direito positivo.  
  
Fora da experiência, do fato ou do direito positivo, direito algumexiste para o Positivismo Jurídico, que se caracteriza por identificar o direito positivo com o direito estatal 
(legislado ou jurisprudencial), considerando a experiência jurídica a única fonte do conhecimento jurídico; por ser antijusnaturalista, negando natureza jurídica ao direito 
natural; por ser antijusracionalista, negando o poder legislativo da razão, encontrando somente na vontade do legislador ou do juiz, manifestada na sentença, a fonte 
imediata do direito, e por afastar os valores e o direito natural da ciência jurídica e da filosofia do direito, reduzida à síntese dos resultados da ciência do direito.  
Identificando o direito com a lei ou com o código, com os precedentes judiciais, ou ainda, com o direito estatal, escrito ou não escrito, o positivismo jurídico resultou, na 
França, no culto da vontade do legislador e dos códigos, considerados sem lacunas.  
  
Desse culto, resultou a escola de exegese, apegada aos textos, defendendo a subordinação do juiz à vontade do legislador. Já o positivismo jurídico alemão, acolhendo as 
lições do historicismo jurídico, não se preocupou com as relações do direito com o legislador, mas em delinear a teoria do direito positivo, que, partindo dos direitos 
históricos, acabasse formulando as noções jurídicas fundamentais.  
  
No positivismo jurídico enquadram-se todas as teorias que consideram expressar o direito a vontade do legislador, definindo-o como comando e reduzindo-o ao direito do 
Estado. Esse positivismo tem sido rotulado de positivismo estatal ou positivismo normativista, por dar preponderância à lei sobre as demais fontes do direito ou ao 
precedente judicial e por fazer depender o direito do Estado.  Para essa versão do positivismo, o direito é identificado com o direito estatal: é o criado ou reconhecido pelo 
Estado, manifestação, portanto, de sua vontade.  
  
O positivismo se caracteriza, portanto, por ser antimetafísico e antijusnaturalista, por ser empirista, por afastar do estudo científico do direito os valores e por considerar o 
direito positivo o único objeto da Filosofia e Ciências jurídicas. As várias formas de positivismo encontram no fato social, na autoridade, nas razões de Estado, no poder ou 
nas necessidades decorrentes das relações humanas o fundamento do direito. 
  
Francesco Carnelutti  situa o positivismo como um meio-termo entre dois extremos: o materialismo e o idealismo. Para o materialismo, a realidade está na matéria, 
rejeitando toda abstração e assumindo uma posição antimetafísica. Para o idealismo, a realidade está além da matéria. O positivismo mantém-se distante da polêmica. Ele 
simplesmente se desinteressa pela problemática, julgando-a irrelevante para os fins da ciência. 
  
Para o positivismo jurídico só existe uma ordem jurídica: a comandada pelo Estado e que é soberana. Eis, na opinião de Eisnmann, um dos críticos atuais do Direito Natural, 
a proposição que melhor caracteriza o positivismo jurídico: “Não há mais Direito que O Direito Positivo”.  Assumindo atitude intransigente perante o Direito Natural, o 
positivismo jurídico se satisfaz plenamente com o ser do Direito Positivo, sem cogitar sobre a forma ideal do Direito, sobre o dever-ser jurídico. Assim, para o positivista, a 
lei assume a condição de único valor. 
  
O positivismo jurídico é uma doutrina que não satisfaz as exigências sociais de justiça. Se, de um lado, favorece o valor segurança, por outro, ao defender a filiação do 
direito a determinações do Estado, mostra-se alheio à sorte dos homens. O direito não se compõe exclusivamente de normas, como pretende essa corrente. As regras 
jurídicas têm sempre um significado, um sentido, um valor a realizar. Os positivistas não se sensibilizaram pelas diretrizes do direito. Apegaram-se tão somente ao concreto, 
ao materializado. Os limites concedidos ao direito foram muito estreitos, acanhados, para conterem toda a grandeza e importância que ele encerra. A lei não pode abarcar 
todo o jus . A lei, sem condicionantes, é uma arma para o bem ou para o mal. Como sabiamente salientou Carlenutti , assim como não há verdades sem germes de erros, 
não há erros sem alguma parcela de verdade. O mérito que Carlenutti vê no positivismo é o de conduzir a atenção do analista para a descoberta do Direito natural: “a 
observação daquilo que se vê é o ponto de partida para chegar àquilo que não se vê”. 
  
O Normativismo Jurídico (A Teoria Pura do Direito) 
  
A Teoria Pura do Direito (Normativismo Jurídico) 
  
No início do século XX, Hans Kelsen apresenta, na sua obra Teoria Pura do Direito, uma concepção de ciência jurídica com a qual se pretendia finalmente ter alcançado, no 
Direito, os ideais de toda a ciência: objetividade e exatidão. É com esses termos que o autor apresenta a primeira edição de sua obra mais conhecida. Para alcançar tais 
objetivos, Kelsen propõe uma depuração do objeto da ciência jurídica, como medida, inclusive, de garantir autonomia científica para a disciplina jurídica, que, segundo ele, 
vinha sendo deturpada pelos estudos sociológicos, políticos, psicológicos, filosóficos etc. 
A ousadia do pensamento kelseniano, desqualificando a importância do jusnaturalismo como teoria válida para o direito e pretendendo dar caráter definitivo ao monismo 
jurídico estatal, fez de Kelsen o alvo preferido das teorias críticas no Direito, inconformadas com os déficits éticos do pensamento jurídico assim purificado e com o 
consequente desinteresse dos juristas em realizar cientificamente um direito atrelado a critérios de legitimidade não apenas formais. 
  
Ocorre que, atuando no marco do paradigma positivista, não poderia ser diferente o projeto kelseniano: uma ciência das normas que atingisse seus objetivos 
epistemológicos de neutralidade e objetividade. Era preciso expulsar do ambiente científico os juízos de valor, aliás como já  haviam feito as demais disciplinas científicas. O 
plano da teoria Pura era, assim, atingir a autonomia disciplinar para a ciência jurídica. Essa é a grande importância de seu pensamento, isto é, seu caráter paradigmático. E 
se de fato estamos vivendo um novo momento de transição paradigmática, nada melhor do que bem compreender as bases desse paradigma que se transforma. Esse é o 
objetivo deste texto e, para tanto, iremos analisar a formulação de Kelsen, na Teoria Pura, da relação entre ciência e direito, procurando, a partir de uma perspectiva crítica 
ao positivismo que a caracteriza, vislumbrar as limitações dessa formulação. A relação entre direito e ciência na Teoria Pura do Direito de Kelsen começa pela definição do 
objeto da ciência do direito, que para ele é constituído, em primeiro lugar, pelas normas jurídicas e mediatamente pelo conteúdo dessas normas, ou seja, pela conduta 
humana regulada por estas. Assim, enquanto se estudam as normas reguladoras da conduta, o Direito como um sistema de normas em vigor, fica -se no campo de uma 
teoria estática do Direito. Por outro lado, se o objeto do estudo desloca-se para a conduta humana regulada (atos de produção, aplicação ou observância determinados por 
normas jurídicas), o processo jurídico em seu movimento de criação e aplicação, realiza -se o que ele chama de teoria dinâmica do Direito. Esse dualismo, entretanto, é 
apenas aparente, já que a dinâmica está subordinada à estática por uma relação de validade formal, pois os atos da conduta humana que desencadeiam o movimento do 
Direito são, eles próprios, conteúdo de normas jurídicas, e só nesta medida é que interessam para o estudo da ciência jurídica. 
Kelsen apresenta o ordenamento jurídico positivo - conjunto das normas válidas - como uma pirâmide de normas, onde se articulam o aspecto estático e o aspecto dinâmico 
do Direito. A noção de validade formal é o elemento que integra esses dois aspectos, pois, nesse arranjo, cada norma retira de uma outra, que lhe é superior, na escala 
hierárquica do ordenamento jurídico, a sua existência e validade. Assim, por exemplo, no momento em que é criada ou aplicada (dinâmica), para que seja