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Energia Solar Fotovoltaica Manoel Henrique de Oliveira Pedrosa Filho Sistemas de Energia Renovável Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco 2010 Recife-PE Presidência da República Federativa do Brasil Ministério da Educação Secretaria de Educação a Distância Este Caderno foi elaborado em parceria entre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologiade Pernambuco - IFPE e o Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil – e-Tec Brasil. Equipe de Elaboração Coordenação do Curso Natanael Costa Logística de Conteúdo Giselle Tereza Cunha de Araújo Maridiane Viana Coordenação Institucional Reitoria Pró-Reitoria de Ensino Diretoria de Educação a Distância Pró-Reitoria de Extensão Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação Pró-Reitoria de Administração e Planejamento Projeto Gráfico Eduardo Meneses e Fábio Brumana Diagramação Rafaela Pereira Pimenta de Oliveira Magnun Estalonne Araújo de Amorim Edição de Imagens Rafaela Pereira Pimenta de Oliveira Magnun Estalonne Araújo de Amorim Revisão Linguística Ivone Lira de Araújo Leoana Sá Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 4 Sumário Sumário 5 Aula 1 - Estudo avançado dos materiais elétricos 7 Aula 2 - A radiação solar e o efeito fotovoltaico 31 Aula 3 - Células solares fotovoltaicas 47 Aula 4 - Armazenamento de energia 75 Aula 5 - Componentes de um sistema fotovoltaico 97 Aula 6 - Aplicações de sistemas fotovoltaicos 125 Aula 7 - Características das cargas de sistemas fotovoltaicos 143 e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 5 Aula 1 - Estudo avançado dos materiais elétricos Objetivos Apresentar aos alunos os conceitos básicos e as propriedades elé- tricas dos materiais condutores, semicondutores e isolantes. Apresentar os conceitos básicos da condução de corrente elétrica e a teoria das bandas de energia. Assuntos – Estrutura atômica e a radiação eletromagnética – Materiais elétricos e a teoria das bandas de energia – A junção PN e suas propriedades Introdução Para a compreensão do funcionamento de um dispositivo fotovoltaico, é essencial que se conheça, primeiramente, as propriedades elétricas dos ma- teriais elétricos, em particular dos materiais semicondutores e da junção PN. Vale ressaltar que o referido assunto já foi abordado na disciplina de eletro- eletrônica aplicada ao funcionamento do diodo de junção, no entanto faz- se necessário agora recordá-lo enfocando outras características que,naquela ocasião, não se fizeram necessárias. Nesta aula que se assemelha a uma aula de química, serão abordados assun- tos sobre a estrutura atômica dos materiais elétricos, por que a corrente elé- trica atravessa um material, a junção PN, o que acontece quando juntamos esses materiais de nomes estranhos, “material tipo P” e “material tipo N”. Vamos lá!!!! Qualquer dúvida não fique acanhado, ninguém nasce sabendo, não é mesmo?! Caso tenha dúvida, entre em contato com o professor!!! Compartilhe-a conosco!!! e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 7 1.1. Estrutura atômica e a radiação eletromagné- tica O conhecimento básico de como se forma a corrente em um dispositivo fo- tovoltaico requer um certo grau de familiaridade com os conceitos da estru- tura atômica. Qualquer átomo de qualquer elemento químico é constituído de duas partes, um núcleo central e a eletrosfera. O átomo mais simples é o de hidrogênio (Figura 1) que é formado por duas partículas básicas, o próton e o elétron. Há outra partícula básica que forma o átomo: o nêutron, porém o átomo de hidrogênio não é composto por nêutrons. No núcleo de um áto- mo, estão situados os nêutrons e os prótons, os elétrons giram ao redor do núcleo, na eletrosfera (Figura 1). Figura 1 - Átomo de hidrogênio e de hélio. Os elétrons giram na eletrosfera em posições definidas, como as órbitas dos planetas, que são chamadas de camadas.Cada camada tem uma distância definida do centro do átomo (Figura 2). Existem ao todo 7 camadas, cada uma podendo ser ocupada por um elétron. Figura 2 - Camadas de um átomo. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 8 Quanto à carga elétrica, assunto já estudado em outras disciplinas desse cur- so, os elétrons têm carga negativa; e os prótons, carga positiva. E pelas leis de Coulomb, cargas elétricas opostas se atraem e cargas elétricas de mesmo sinal de repelem (Figura 3). Figura 3 - Atração e repulsão de cargas elétricas. Devido a esta propriedade de atração e repulsão das cargas elétricas, os elétrons giram ao redor do átomo sem se soltarem dele, ou seja, sem sair da sua camada. Eles só podem mudar de camada se eles ganharem mais ener- gia, porque com mais energia eles podem girar mais rápido e se libertar da atração sofrida pelo núcleo positivo do átomo. O contrário também é válido, pode haver a emissão da energia por um elétron, quando ele passa de uma camada mais externa para uma mais interna (Figura 4). Figura 4 - Emissão e absorção de energia por um elétron. Sendo assim, podemos dizer que ,quando um elétron está um uma camada, ele possui determinado nível de energia, quanto mais externa for a camada, mais energia ele possui.O contrário também é verdadeiro, quanto mais pró- ximo do núcleo, menos energia ele possui. Então ,em um átomo, existem e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 9 níveis de energia, e esses níveis de energia são definidos, não existe uma po- sição de camada intermediária entre duas camadas vizinhas, ou um elétron está em uma camada ou em outra (Figura 5). Figura 5 - Níveis de energia e camadas da eletrosfera. Quando um elétron pula de uma camada de maior energia para uma de me- nor energia, ele emite uma quantidade de energia que equivale à diferença entre a energia maior e a menor. Para ele voltar à posição anterior, ele deverá receber esta mesma quantidade de energia. Essa quantidade de energia é chamada de fóton. A emissão de um fóton ocorre durante a transição de um elétron de um átomo entre duas cama- das diferentes, pois quando ele recebe energia, ele passa de uma camada mais interna para uma mais externa do átomo, e quando ele retorna para seu estado original, emite a energia correspondente a esta diferença sob a forma de um fóton. Os fótons são partículas elementares que viajam com a velocidade da luz, e a massa deles existe apenas quando se movem à velo- cidade da luz. Se o elétron precisa de um fóton de energia para mudar de camada, a per- gunta que surge é: De onde vem o fóton que vai fazer com que o elétron mude de camada? Para respondermos a essa pergunta, temos que entender o que é a radiação eletromagnética. O conceito da radiação eletromagnética é algo muito complexo que envolve a propagação do campo elétrico e do campo magnético em um meio, mas vamos tentar simplificar a coisa, o que importa é que se entenda o que é de forma básica. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 10 Figura 6 - Energia e onda. Observe ,na Figura 6, que ,ao agitar uma corda, você transfere energia para ela e esta energia se propaga formando ondas ao longo da mesma. Se você observar com cuidado ,verá que as ondas que se formam têm uma geome- tria que se repete em ciclos de mesmo comprimento ao longo da corda. Esse comprimento de onda depende da frequência com que você agita a corda e também da velocidade com que as ondas podem se propagar através dela (numa corda fina as ondas se propagam mais rapidamente que numa gros- sa). Desta forma, uma propagação ondulatória de energia pode ser caracteriza- da pelo comprimento ou frequência das ondas que se formam. Para produzir ondas curtas, você precisa agitar a corda com frequência mais alta, isto é, transferir mais rapidamente energia para a corda; por isso, as ondas de com- primento de onda curta transportam mais energia por segundo. A radiação eletromagnética se comporta como a corda da Figura 6, só que o que está sendo agitado não é a corda, e sim, o valor do campo elétrico e do campo magnéticoconcomitantemente.Observe a Figura 7! e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 11 Figura 7 - Onda eletromagnética. Do mesmo jeito que a corda, essas ondas de campo elétrico e magnético estão transportando energia no sentido da sua propagação. A energia trans- portada, igualmente como a corda, depende da agitação da onda, quanto mais rápido, mais energia tem. A agitação da onda eletromagnética é cha- mada de frequência (f), que tem uma relação com o comprimento de onda ( ). A frequência é dada em Hetz (Hz) ou seus submúltiplos kHz, MHz, GHz, e outros. O comprimento de onda é dado em metros (m) ou seus submúltiplos mm, μm, nm, e outros. A letra c ,na expressão acima, indica a velocidade da propagação da onda eletromagnética, que ,no vácuo, é de 300000000m/s ou 3x108m/s. Os comprimentos de onda da radiação eletromagnética podem ser tão pequenos que são medidos em subunidades como o nanômetro (1nm = 0.000000001m) ou o micrômetro (1μm = 0.000001m). Por outro lado, as frequências podem ser tão altas que são medidas em Gigahertz (1Ghz = 1.000.000.000 de ciclos por segundo) ou Megahertz (1MHz = 1.000.000 de ciclos por segundo). Um exemplo, uma onda de rádio é uma onda eletromagnética, uma rádio FM que opera em 94,3MHz tem sua onda transmitida pela antena da rádio e possui o comprimento de onda dado pela expressão a seguir. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 12 E a energia do fóton, o que ela tem a ver com a onda eletromagnética? A energia transportada pela corda depende da frequência com que agita- mos a corda, em outras palavras, a energia depende do comprimento de onda, quanto menor o comprimento de onda, mais energia é transportada pela onda, a relação entre comprimento de onda e energia é esta. E é a energia que pode ser dada em qualquer unidade joule (J). Na área fo- tovoltaica, também se utiliza eV (elétron-Volt) ou kWh; h é uma constante chamada de constante de Planck que vale 6,626x10-34J.s. “Professor, cadê o fóton?” Calma que estamos chegando lá!!! Como afirmei anteriormente, radiação eletromagnética é um assunto bem complexo, mas daqui a pouco as coisas se encaixarão! Como a onda eletromagnética pode ter diferentes frequências, ela pode ser classificada no que chamamos de espectro eletromagnético. O compor- tamento da onda eletromagnética depende do seu comprimento de onda. Frequências altas têm comprimentos de onda curtos, e frequências baixas têm comprimentos de onda longos (Figura 8). Figura 8 - Espectro da radiação eletromagnética. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 13 Dependendo da faixa de comprimento de onda, a radiação eletromagnética recebe um nome, classificado normalmente pelo comprimento da onda, como as ondas de rádio, as micro-ondas, a radiação infravermelha, a luz visível, os raios ultravioleta, os raios X, até a radiação gama. A luz visível também é radiação eletromagnética. A única diferença entre a luz e as ondas da rádio FM é que a luz tem uma faixa de frequência especí- fica que nossos olhos conseguem perceber, através de células especializadas localizadas na retina.As ondas da rádio FM têm uma faixa de frequência mui- to menor, que fica fora do nosso limite de visão. O calor, as ondas de rádio e as microondas (aquelas mesmas que você usa para aquecer os alimentos) também são radiações eletromagnéticas. O sistema visual do homem e dos animais terrestres é sensível a uma peque- na banda de radiações do espectro eletromagnético situada entre 400nm e 700nm (Figura 9) e denominada luz. Dependendo do comprimento de onda, a luz produz as diferentes sensações de cor que percebemos. Por exemplo, as radiações da banda entre 400nm até 500nm, ao incidir em nosso sistema visual, transmitem-nos as várias sensações de azul e ciano; as da banda entre 500nm e 600nm, as várias sensações de verde ,e as contidas na banda de 600nm a 700 nm, as várias sensações de amarelo, laranja e vermelho. Figura 9 - Espectro visível da radiação eletromagnética. Uma propriedade importante das cores é que estas podem ser misturadas para gerar novas cores. Escolhendo três cores básicas (ou primárias) como o azul, o verde e o vermelho, a sua mistura em proporções adequadas pode Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 14 gerar a maioria das cores encontradas no espectro visível. Como você pode ver na Figura 10, os matizes formados podem ser agrupados em amarelo (Y), ciano (C) e magenta (M), este último não encontrado no espectro visível. A mistura das três cores primárias forma o branco (W). Figura 10 - Mistura de cores. Uma descoberta muito interessante que foi feita no século XX era que a luz, que é uma onda, também possui as propriedades das partículas em certas situações. Quando a luz viaja, por exemplo, ela se comporta como uma onda, mas quando chega a uma superfície, comporta-se como partícula. Descobriu-se, então, que a luz poderia ser ambas as coisas. Que coisas? A luz pode ser uma onda eletromagnética, bem como uma partícula que cha- mamos também de fóton. O mesmo fóton que verificamos anteriormente, só que agora associado a uma onda eletromagnética. Em resumo,os elétrons podem ser movimentados de suas camadas, desde que recebam um fóton de energia, esse fóton é originado pela radiação eletromagnética presente na natureza, normalmente em forma de luz, ou radiação de comprimento de onda curto como raios X, ultravioleta, e outros. Mas não é qualquer fóton que conseguirá isso, somente aqueles que tive- rem energia maior do que a necessária, pois se ele tiver pouca energia, não irá conseguir mover o elétron da camada, dizemos que ,para este fóton, o material é transparente, não ocorre interação entre a partícula e a matéria. Como exemplo deste efeito, podemos citar o corpo humano, para radiações eletromagnéticas na faixa de ondas de rádio, não sentimos nada, isto é, não e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 15 surtem efeito algum.Já para radiações de comprimento de onda menores que as de microondas, temos sensibilidade. O infravermelho causa a sensa- ção de calor, mas não penetra na pele, a luz sensibiliza os nossos olhos, a radiação ultravioleta causa alterações químicas na pele (geralmente genéti- cas, câncer),entretanto só fica ao nível da pele.Os raios X atravessam a pele, mas são barrados pelas estruturas ósseas, os raios gama que possuem mais energia não são barrados pelo corpo, ao contrário, interagem nos átomos que formam os tecidos e causam alterações genéticas. 1.2. Materiais elétricos e a teoria das bandas de energia Além das características vistas no parágrafo anterior, vamos agora rever tam- bém como acontece a condução da corrente elétrica em um material e como ele consegue conduzir o fluxo de elétrons. Primeiramente, vamos recordar outra propriedade dos átomos que formam os materiais, especialmente os elétricos. Camada de valência é a camada eletrônica mais externa. Pode receber ou fornecer elétrons na união entre átomos. A valência de um átomo é o número de ligações que um átomo precisa fazer para adquirir a configuração de um gás nobre. Figura 11 - Camada de valência dos átomos de hélio e neônio. Observe a Figura 11, o átomo do gás hélio possui 2 elétrons na camada de valência.Como a camada K só suporta 2 elétrons, ela já está completa, ou seja, este átomo não precisa se ligar a outros para atingir a condição de es- tabilidade. O átomo do gás neônio tem 8 elétrons na última camada.Como a camada L só suporta 8 elétrons, este átomo está na mesma condição do átomo de hélio. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 16 Figura 12 - Camada de valência do átomo de sódio. Na Figura 12, o átomo de sódio só possui 1 elétron na última camada, a tendência deste átomo é perder este elétron e se ligar a outros átomos, de forma que possa atingir a estabilidade. Em alguns tipos de átomos, especialmente os que compõem os metais - fer- ro, ouro, platina, cobre, prata e outros, a última órbitaeletrônica perde um elétron com grande facilidade. Por isso seus elétrons recebem o nome de elétrons livres. Estes elétrons livres se desgarram das últimas órbitas eletrônicas e ficam va- gando de átomo para átomo, sem direção definida. Mas os átomos que perdem elétrons também os readquirem com facilidade dos átomos vizinhos, para voltar a perdê-los momentos depois. No interior dos metais, os elétrons livres vagueiam por entre os átomos, em todos os sentidos (Figura 13). Figura 13 - Elétrons livres em um material. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 17 Quando ligamos os polos de uma fonte de tensão a um material que possui elétrons livres, estes se deslocam no sentido do polo positivo da fonte de tensão (Figura 14). Figura 14 - Fluxo de elétrons em um material. Observemos que só haverá condução de corrente se houver elétrons livres no material.Quanto mais elétrons livres, mais o material permite conduzir a corrente; quanto menos elétrons livres, pior é a capacidade do material em conduzir a corrente elétrica. A partir desta característica, podemos classificar os materiais em três cate- gorias. Materiais isolantes: possuem pouco ou nenhum elétron livre, nesta condição ele não permite a condução de corrente elétrica, então ele tem a capacidade de isolar dois pontos que possuem uma diferença de potencial sem permitir que haja circulação de corrente. Exemplo, a isolação dos fios elétricos (Figura 15), ela não permite que a corrente circule para fora do fio. Estes materiais possuem geralmente mais de 4 elétrons na camada de valência.Como exem- plos temos: borracha, vidro, algodão, seda, madeira, cerâmicas e outros. Figura 15 - Material isolante e condutor. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 18 Materiais condutores: aqueles que permitem mais facilmente que uma cor- rente elétrica atravesse o mesmo, isso só é possível, se existirem elétrons livres em grande quantidade, quanto mais elétrons livres existem o material, mais fácil é a condução da corrente, essa propriedade chama-se condutivi- dade, e é uma propriedade de cada material, a maioria dos materiais con- dutores é metálico. Exemplo, a parte metálica dos fios elétricos (Figura 15). Estes materiais possuem menos de quatro elétrons na camada de valência Exemplo desses materiais são o cobre, ouro, tungstênio, entre outros. A outra categoria de materiais elétricos recebe uma classificação intermediá- ria, entre os condutores e isolantes, são os chamados semicondutores. Estes materiais têm características específicas, como por exemplo, possuem 4 elé- trons na camada de valência, naturalmente eles têm resistividade da ordem de 50 a 50000 Ω.cm,ou seja, ele tem características predominantemente isolantes. Exemplos desses materiais são o silício e o germânio, estes são lar- gamente utilizados na área da eletrônica, pois os componentes eletrônicos são formados 100% desses materiais. Nos condutores, um aumento na temperatura ocasiona um aumento da re- sistência oferecida à passagem da corrente elétrica. Já nos semicondutores, acontece o contrário, um aumento da temperatura ocasiona uma redução da resistência oferecida à passagem da corrente elétrica, devido à maior re- pulsão causada na união dos mesmos (Figura 16). Figura 16 - Influência da temperatura. Os átomos são organizados no material ligando-se uns aos outros do mesmo material, essa ligação que é feita entre os átomos é chamada de ligação co- e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 19 valente, e dá origem a uma estrutura na qual os átomos estão organizados.A esta organização chamamos de estrutura cristalina (Figura 17). Figura 17 - Estrutura cristalina do silício. Se pudéssemos ver os átomos ligados uns aos outros, seria a estrutura mos- trada na Figura 18. Figura 18 - Ligação dos átomos no cristal de silício. A estrutura deste tipo de material possuirá elétrons livres quando alguma ligação covalente é quebrada, da mesma forma e pelo mesmo motivo que os elétrons nos átomos pulam para uma camada mais externa quando rece- bem energia, na verdade quando recebem um fóton de energia. Neste caso, Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 20 como o elétron está preso a uma ligação covalente, o que acontece é que ele ganha essa energia e se liberta da ligação, quebrando a mesma, neste caso surge um elétron livre (Figura 19). Figura 19 - Estrutura cristalina ao receber energia. Quando há a quebra da ligação covalente, surge o elétron livre e outro ele- mento, que chamamos de lacuna. Tal elemento é ,na realidade, a vaga do elétron que saiu da ligação covalente e comporta-se como uma carga posi- tiva. Se a temperatura aumentar, mais elétrons se libertarão da ligação covalen- te e surgirão mais lacunas, então o material tornar-se-á mais condutor; de modo inverso, se a temperatura baixar, ou seja, se houver a perda de ener- gia, os elétrons a perdem e voltam a compor as ligações (Figura 20). Figura 20 - Quebra da ligação covalente. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 21 Essa energia pode ser fornecida de diversas formas, inclusive da radiação solar. Como vimos na estrutura atômica isolada há níveis de energia discretos, associados a cada elétron em sua respectiva órbita. Entre esses níveis discre- tos, nenhum elétron pode existir na estrutura atômica isolada. A Figura 21 mostra níveis de energia, para um átomo isolado. Figura 21 - Níveis de energia do átomo. Os elétrons que ocupam a camada de valência têm um nível energético mais elevado do que qualquer outro elétron do átomo, podem,entretanto, pos- suir um nível mais elevado ainda quando se torna livre. Quando os átomos de silício ou germânio formam o cristal, cada átomo da estrutura sofre a influência de seus vizinhos fazendo com que seus elétrons ocupem posições diferentes, dentro de uma mesma órbita, de um átomo vizinho. O resultado final é uma expansão dos níveis discretos de energia possíveis. A Figura 22 ilustra essa situação. Figura 22 - Características dos níveis de energia em relação ao tipo do material. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 22 Em um material isolante para que um elétron desloque-se para a camada mais externa, ele precisa de muita energia; já em um material semicondutor, a quantidade de energia é menor, até a mudança da temperatura, já é sufi- ciente para elevar um elétron à condição de livre. Nos materiais condutores, não é necessário nenhuma energia para que um elétron torne-se livre, natu- ralmente já existem elétrons livres. Figura 23 - Níveis de energia. À camada mais externa do átomo ,a que possui elétrons, damos o nome de “banda de valência”, quando um elétron recebe energia suficiente para ir para outra camada, ele sai da banda de valência para a banda de condução, nesta banda um elétron pode ser considerado livre. A quantidade de energia necessária par promover um elétron da banda de valência para a banda de condução é chamada de energia de gap (Eg). Essa quantidade de energia, a energia de gap, depende do tipo do material. Para os isolantes,por exemplo, essa energia de gap é maior que 5eV (lembra as unidades de energia, eV – elétron-volt ?); para os semicondutores, esse nível de energia é mais baixo; para o silício, é de 1,1eV; para o germânio, é de 0,67eV e ,para os condutores ,esse nível é zero. Esses níveis de energia são fundamentais para o funcionamento das células fotovoltaicas.Em outras aulas, veremos que fótons ,com energia menor que esse nível de energia de gap, não são suficientes para produzir a corrente elétrica da célula fotovoltaica. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 23 1.3. A junção PN e suas propriedades Na disciplina de eletroeletrônica,quando estudamos o diodo de junção, vi- mos que ele funciona como uma chave, ora deixa passar corrente, ora não deixa.Isso se deve a sua constituição, o que chamados de junção PN, porém, para compreendermos o funcionamento de um dispositivo fotovoltaico, pre- cisamosconhecer melhor essa junção (Figura 24), pois ela é a chave do fun- cionamento de uma célula solar. Figura 24 - Junção PN. Revendo o funcionamento do diodo, vemos que há duas possibilidades: • Ligado, diretamente polarizado, ele permite a passagem da corrente (Fi- gura 25). Figura 25 - Junçao PN diretamente polarizada. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 24 • Ligado, reversamente polarizado, ele não permite a passagem da corren- te (Figura 26). Figura 26 - Junção PN reversamente polarizada. Surge, então, a pergunta que não quer calar: “Professor, vamos estudar ele- troeletrônica novamente nesta disciplina?!” Bom, não iremos estudar eletroeletrônica, mas os conhecimentos que adqui- rimos naquela disciplina são básicos para entendermos o funcionamento da célula fotovoltaica. Para isto, precisamos entender melhor o que é essa junção PN e o que acon- tece com ela quando ligamos o diodo diretamente polarizado e reversamen- te polarizado. Quando o diodo não está ligado a nenhum circuito elétrico, ou seja, não está submetido a nenhuma diferença de potencial, ele tem o aspecto da Figura 27. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 25 Figura 27 - Junção PN sem polarização. Nesta figura, temos alguns elementos presentes, destacamos os materiais tipo P e tipo N que formam o diodo de junção, estes dois materiais são for- mados com a adição de átomos trivalentes no caso do material tipo P e com a adição de materiais pentavalentes no caso do material tipo N. Os sinais + e – ,mostrados no interior dos dois materiais, indicam os elétrons e os buracos que foram formados quando as impurezas foram adicionadas. No material tipo N ,existem mais elétrons que buracos; no material tipo P ,existem mais buracos que elétrons. Os sinais + e – dentro de bolinhas indicam a presença dos íons positivo e negativo, quando um átomo perde um elétron ele torna-se um íon positivo e quando ganha um elétron um íon negativo. A camada de íons, que se encontra na região entre os dois materiais, chama- se camada de depleção, essa camada foi formada quando os dois materiais foram unidos. Nesta união, acontece uma passagem momentânea de elé- trons do material tipo N na direção do material tipo P (processo de difusão), isso provoca a formação dos íons da camada de depleção. Vejamos o que acontece na ligação do diodo reversamente polarizado (Fi- gura 28). Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 26 Figura 28 - Junção PN reversamente polarizada. Quando aplicamos um potencial no material N que é mais positivo que o do material P, o potencial positivo atrai os elétrons livres do material N e o po- tencial negativo repele os elétrons no material P, isso faz com que a camada de depleção aumente de tamanho. Circula uma pequena corrente de fuga pela junção, que é desprezível. Agora vejamos o que acontece na ligação do diodo diretamente polarizado (Figura 29). Figura 29 - Junção PN diretamente polarizada. Quando aplicamos um potencial no material tipo P mais positivo que no ma- terial tipo N, ocorre o efeito contrário, no material tipo P, o polo positivo atrai os elétrons do material tipo P, no entanto como eles estão em menor núme- e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 27 ro, acabam atraindo os elétrons dos íons negativos da camada de depleção. No material tipo N, ocorre fato idêntico, o polo negativo repele os elétrons. Como eles estão em maior número, essa repulsão acaba fazendo com que esses elétrons se alojem nos íons positivos. O resultado é que, conforme aumentamos a diferença de potencial entre o material tipo P e tipo N, a camada de depleção vai desaparecendo, até que ,a partir de certo valor, ela deixa de existir e então o diodo se comportará como um condutor de corrente. Se a tensão voltar a diminuir, a camada surge novamente. A Figura 30 mostra resumidamente o que foi descrito acima para as duas condições. Figura 30 - Funcionamento da junção PN. “Professor, por que temos que estudar coisas tão complexas?!” Uma célula fotovoltaica ,por mais tecnologia que se empregue, é meramen- te um diodo de junção e funciona como tal, porém a diferença é que a jun- ção PN está exposta à radiação eletromagnética. Resumo Vimos ,nesta aula, três temas que estão diretamente ligados ao funciona- mento das células solares fotovoltaicas. Primeiramente, estudamos o átomo e a propriedade dos elétrons, tal propriedade lhe permite mudar de camada. Depois vimos que essa mudança é provocada pela emissão ou absorção de Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 28 um fóton de energia que está presente no que chamados de radiação ele- tromagnética. Na segunda parte, verificamos os tipos de materiais elétricos, como e por que acontece a condução de corrente pelos mesmos. Nesta terceira e última parte, vimos ,com mais detalhes, a junção PN, mostrando o comportamento da mesma nas duas condições possíveis: direta e reversamente polarizada. Na próxima aula, aprenderemos como é o funcionamento da célula solar fotovoltaica. Até lá!!! Referências BOYLKESTAD, Robert. NASHELSKY,Louis. Dispositivos Eletrônicos e Teoria dos Circuitos.Ed. Prentice-Halloy do Brasil. 2000. USBERCO, João. SALVADOR, Edgard. Química. Volume único, Editora Saraiva, São Paulo, 2002. Referências de sites http://www.mundodoquimico.hpg.ig.com.br/foton.htm http://www.inpe.br/unidades/cep/atividadescep/educasere/apostila.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Radia%C3%A7%C3%A3o_eletromagn%C3%A9tica http://educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/rx/index.html http://geocities.ws/afonsobejr/semicondutores.html http://www.diaadia.pr.gov.br/temasatuais/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo= 73 http://www.eletronicadidatica.com.br/componentes/diodo/diodo.htm e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 29 Aula 2 - A radiação solar e o efeito fotovoltaico Objetivos Apresentar aos alunos as características da radiação solar, bem como sua apresentação na superfície da terra. Apresentar aos alunos o efeito fotovoltaico e as características bá- sicas do funcionamento da célula solar fotovoltaica. Assuntos – A radiação solar – O efeito fotovoltaico Introdução Na aula anterior, aprendemos diversas características dos materiais e em especial da junção PN, bem como conhecemos algumas propriedades da radiação eletromagnética. Nesta aula, aprenderemos mais acerca do nosso astro rei e sua radiação ele- tromagnética, como ela se apresenta a nós, e ainda o efeito fotovoltaico no que concerne ao princípio de funcionamento da célula solar. Ao final desta aula, espera-se que o aluno compreenda melhor o funciona- mento da conversão da energia solar em energia elétrica através do gerador fotovoltaico. Convido a todos a mergulhar no conhecimento desta área, base de grande parcela das aplicações da energia solar. Caso surjam dúvidas, converse com o seu professor!!! e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 31 1.1. A radiação solar O Sol é o objeto mais proeminente do nosso sistema solar. Contém apro- ximadamente 98% da massa total do sistema solar. Cento e nove Terras seriam necessárias para cobrirem o disco do Sol, em seu interior caberiam 1,3 milhões de Terras. A camada externa visível do Sol é chamada fotosfera, a qual tem uma temperatura de 6.000°C. Esta camada tem uma aparência turbulenta devido às erupções energéticas que lá ocorrem. Figura 1 - O Sol. A energia solar é gerada no núcleo do Sol. Lá, a temperatura (15.000.000° C) e a pressão (340 bilhões de vezes a pressão atmosférica da Terra ao ní- vel do mar) são tão intensas que ocorrem reações nucleares. Estas reações transformam quatro prótons ou núcleos de átomos de hidrogênio em uma partícula alfa, que é o núcleo de um átomo de hélio. A partícula alfa é apro- ximadamente 0,7% menos massiva do que quatro prótons. A diferença em massa é expelida como energia e carregada até a superfície do Sol, através de um processo conhecido como convecção, a qual é liberada em forma de radiaçãoeletromagnética. A energia gerada no interior do Sol leva um milhão de anos para chegar a sua superfície. A cada segundo, 700 milhões de toneladas de hidrogênio são convertidos em cinza de hélio. Durante este processo, 5 milhões de tonela- das de energia pura são liberados, portanto, com o passar do tempo, o Sol está se tornando mais leve. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 32 O Sol aparentemente está ativo há 4,6 bilhões de anos e tem combustível suficiente para continuar ,por aproximadamente, mais cinco bilhões de anos (Ainda bem!!! Sorte nossa!!!). No fim da vida solar, ele começará a fundir o hélio em elementos mais pesados. Expandir-se-á tanto que chegará a engolir a Terra. Após um bilhão de anos, como uma gigante bola vermelha, ele ra- pidamente colapsará em uma anã branca -- o produto final de uma estrela como a nossa. Pode levar um trilhão de anos para ele esfriar completamente. (Não há motivos,ainda, para preocupação.Tal catástrofe está muiiiiiiiito longe de acontecer!!!!!) CURIOSIDADE Maiores informações sobre o Sol podem ser obtidas no site: http:// pt.wikipedia.org/wiki/Sol O Sol emite energia na forma de radiação eletromagnética, essa energia é a principal fonte de energia do planeta terra, a luz solar é indispensável para a manutenção de vida na Terra. É responsável pela manutenção de água no estado líquido, condição indispensável para permitir vida como se conhece, e, através de fotossíntese em certos organismos (utilizando água e dióxido de carbono), produz o oxigênio (O2) necessário para a manutenção da vida nos organismos dependentes deste elemento e compostos orgânicos mais complexos (como glicose) que são utilizados por tais organismos. A potência total emitida pelo sol em todas as direções é da ordem de 9,5x1025W.A cada m2 da superfície do sol é emitida uma potência de 62,5MW, ou seja, uma densidade de potência de 62,5MW/m2. Toda essa energia é espalhada em todas as direções.À Terra chega apenas uma fração desta energia; no topo da atmosfera, o valor da densidade de potência é de 1367 W/m2, esse valor é medido por satélites em órbita da terra. Na área de energia solar, este valor é conhecido como constante solar, que de constante não tem nada, pois ela varia de acordo com a época do ano e com os ciclos solares (Figura 2). e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 33 Figura 2 - Variação da radiação solar com os anos. A energia emitida pelo sol tem um espectro eletromagnético, fora da atmos- fera este espectro tem a forma mostrada na Figura 3. Figura 3 - Espectro da radiação solar. Observando a Figura 3, vemos que uma parte da radiação solar está na faixa da luz visível, mas existe uma parcela na faixa do ultravioleta e uma outra parcela na faixa do infravermelho. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 34 A radiação ultravioleta ,como tem comprimento de onda mais baixo, possui fótons com alta energia, tem uma relativa capacidade de penetração na pele humana e pode causar alterações genéticas nas células. Como a radia- ção infravermelha tem comprimento de onda maior, a energia dos fótons é menor e não há penetração na pele, porém seu efeito é mais sentido no aquecimento, no aumento de temperatura do corpo e dos objetos expostos a este tipo de radiação. “Professor, por que este espectro eletromagnético fica fora da atmosfera? O que tem a ver a atmosfera com o espectro eletromagnético do Sol?” A atmosfera terrestre é uma fina camada de gases insípidos, incolores e inodoros, presa à Terra pela força da gravidade. A atmosfera terrestre pro- tege a vida na Terra absorvendo a radiação ultravioleta solar, aquecendo a superfície por meio da retenção de calor (efeito estufa), reduzindo,assim, os extremos de temperatura entre o dia e a noite. Visto do espaço, o planeta Terra aparece como uma esfera de coloração azul brilhante. Esse efeito cromático é produzido pela dispersão da luz solar sobre a atmosfera e existe também em outros planetas do sistema solar dotados de atmosfera. A atmosfera terrestre se torna cada vez mais tênue conforme aumenta a altitude, e não há um limite definido entre a atmosfera terrestre e o espa- ço exterior. Apenas em altitudes inferiores a 120 km, a atmosfera terrestre passa a ser bem percebida durante a re-entrada atmosférica de um ônibus espacial, por exemplo. A linha Kármán, a 100 km de altitude, é considerada frequentemente como o limite entre a atmosfera e o espaço exterior. A atmosfera terrestre é composta principalmente de nitrogênio, oxigênio e argônio. Os gases restantes são muitas vezes referidos como gases traços, entre os quais estão incluídos os gases do efeito estufa, como vapor de água, o dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e o ozônio. O ar filtrado pode conter vestígios de muitos outros compostos químicos. Muitas substâncias naturais podem estar presentes em quantidades ínfimas em uma amostra de ar não purificada, incluindo poeira, pólen e esporos, gotículas de água líquida, cinzas vulcânicas e meteoroides. Vários poluentes industriais também podem estar presentes, tais como o cloro (elementar ou em compostos), compostos de flúor, mercúrio elementar e compostos de e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 35 enxofre, como dióxido de enxofre (SO2), que podem causar a chuva ácida (Figura 4). Figura 4 - Composição da atmosfera. Devido a esta composição da atmosfera, a radiação solar que chega à su- perfície terrestre não tem o espectro mostrado na Figura 3, e também não atinge a intensidade de 1367 W/m2. Em um dia de céu claro, os espectros eletromagnéticos da radiação solar ao nível do solo têm a aparência do grá- fico da Figura 5. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 36 Figura 5 - Espectro solar dentro e fora da atmosfera. Como verificado, existe uma atenuação da radiação solar ao atravessar a atmosfera. No gráfico da Figura 6, vemos que o ozônio (O3), a água (H2O), o oxigênio (O2) e o gás carbônico (CO2) são os compostos que mais causam atenuação da radiação solar na atmosfera. Figura 6 - Espectro da radiação solar e seus atenuantes. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 37 Outro efeito que influencia no espectro da radiação solar é a posição do sol em relação à posição do observador. Como sabemos, a posição do sol no céu depende da hora do dia e do dia do ano.Entretanto, dependendo da localização deste no céu, a radiação produzida pelo mesmo atravessa um caminho pela atmosfera que pode ser maior ou menor. A esse caminho chamamos de massa de ar,para a qual utilizamos a sigla AM (air mass em inglês).No dia em que o sol está no ponto mais alto do céu, cha- mamos de zênite, a radiação solar atravessa o menor caminho de atmosfera possível, chamamos esse caminho de AM1, ou seja, massa de ar 1, fora da atmosfera, chamamos de massa de ar 0 (AM0). “Professor, qual a influência disso no que se refere à quantidade de energia e ao espectro da radiação que chegam ao solo?” Esse caminho causa certa influência, pois se o caminho é menor ,a atenua- ção é menor; se o caminho é maior ,a atenuação é maior. Figura 7 - Massa de ar. Observemos a Figura 7, quando os raios solares incidem perpendicular à superfície da terra ,temos que eles percorrem uma distância “ x ” na atmos- fera, quando os raios estão chegando com um certo ângulo (theta) com a perpendicular da superfície, o caminho percorrido “ y “ é maior, essa dife- rença causa, como comentado, uma maior atenuação da radiação solar que chega à superfície do solo. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 38 Esse é um dos motivos pelo qual no início e no fim do dia sentimos menos a influência da radiação solar, ou seja, o sol aquece menos. Devido a estes fatores, a intensidade da radiação que chega à superfície do solo depende da hora do dia e do dia do ano e das condições climáticas do local, principalmente relativas à nebulosidade do local.Em locais com fre- quente incidência de nuvens,a radiação solar é baixa, ou seja, a energia que se pode obter do sol é baixa, para se captar maior quantidade de energia solar fotovoltaica, utilizam-se maiores quantidades de painéis solares e , em locais em que há baixa incidência de nuvens, utilizam-se menores quantida- des de painéis solares. Até o momento, estudamos as características da radiação solar. No próximo tópico, estudaremos o princípio de funcionamento de uma célula solar. 1.2. O efeito fotovoltaico A conversão de energia solar em energia elétrica foi verificada, pela primeira vez em 1839, por Edmond Becquerel, que constatou uma diferença de po- tencial nos extremos de uma estrutura de material semicondutor quando exposto à luz. Em 1876 ,foi montado o primeiro aparato fotovoltaico resultante de estudos das estruturas no esta- do sólido e ,apenas em 1956, iniciou-se a produção industrial seguindo o desenvolvimento da microeletrônica. Naquele ano, a utilização de fotocélulas foi decisiva para os programas es- paciais. Com esse impulso, houve um avanço significativo na tecnologia fo- tovoltaica que aprimorou o processo de fabricação, a eficiência das células e seu peso. Com a crise mundial de energia de 1973/74, a preocupação em estudar novas formas de produção de energia fez com que a utilização de células fotovoltaicas não se restringisse somente para programas espaciais, mas também que fossem intensamente estudadas e utilizadas no meio ter- restre para suprir o fornecimento de energia. Um dos fatores que impossibilitava a utilização da energia solar fotovoltaica em larga escala era o alto custo das células fotovoltaicas. As primeiras célu- las foram produzidas com o custo de US$600/W para o programa espacial. Com a ampliação dos mercados e várias empresas voltadas para a produção de células fotovoltaicas, o preço foi reduzido ao longo dos anos podendo ser encontrado hoje, para grandes escalas, a um custo médio de US$ 4,00/W (aproximadamente RS9,00 / W). e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 39 Atualmente, os sistemas fotovoltaicos vêm sendo utilizados em instalações remotas possibilitando,assim, vários projetos sociais, agropastoris, de irriga- ção e comunicações. As facilidades de um sistema fotovoltaico tais como: modularidade, baixos custos de manutenção e vida útil longa fazem com que sejam de grande importância para instalações em lugares desprovidos de rede elétrica. O efeito fotovoltaico dá-se nos materiais semicondutores que se caracteri- zam pela presença de bandas de energia onde é permitida a presença de elétrons (banda de valência) e de outra totalmente “vazia” (banda de con- dução). Como vimos na primeira aula, a incidência de fótons com determinada ener- gia promove um elétron da banda de valência para a banda de condução, esse é a base do efeito fotovoltaico. Vimos também ,na primeira aula, que a junção PN possui a camada de de- pleção que é formada por íons negativos (que possuem um elétron a mais no átomo) e íons positivos (que possuem um elétron a menos no átomo). Os íons positivos estão localizados no material tipo N ;os íons negativos, no material tipo P. Figura 8 - Incidência dos fótons na junção PN. Na Figura 8, vemos uma junção PN e um raio de luz incidindo na mesma, a estrutura da célula fotovoltaica é desenvolvida de forma que o raio passe pelo material tipo N sofrendo a menor atenuação possível. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 40 Figura 9 - Ação do fóton sobre a junção PN. Na Figura 9, vamos observar mais de perto o efeito da incidência de um fóton. Conforme estudamos na primeira aula, se este fóton tiver energia suficiente, ele cederá sua energia ao elétron que sairá da camada de valência do átomo, ele se tornará um elétron livre. Na verdade, será criado um elétron e um buraco na camada de material tipo P. Figura 10 - Movimentação de cargas na junção PN. A Figura 10 mostra o que acontece com este elétron que se tornou livre. Como na camada de material tipo P existem muitos íons negativos, o elétron é expulso no sentido do material tipo N. Se vários fótons incidem na junção, vários elétrons tomarão este caminho, com a continuidade da exposição aos e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 41 fótons, naturalmente haverá a formação de um pólo elétrico negativo (ex- cesso de elétrons) na camada de material tipo N e um pólo positivo (falta de elétrons) na camada de material tipo P. Figura 11 - Circulação da corrente elétrica. Se ligarmos uma lâmpada aos terminais negativo e positivo da junção PN, circulará uma corrente elétrica, esta corrente manter-se-á enquanto ocorrer o fluxo de elétrons na junção PN, Figura 11. “Professor, o que o efeito fotovoltaico tem a ver com o espectro da radiação do sol?” Como vimos, o efeito fotovoltaico depende da energia do fóton para acon- tecer, vimos ainda que a energia dos fótons é dependente do comprimento de onda que está associado ao mesmo, ou seja, se o fóton não tiver energia suficiente, ele não conseguirá arrancar o elétron do íon da camada tipo P. Observando o espectro eletromagnético do sol, temos uma faixa de compri- mentos de onda, em cada comprimento de onda encontramos fótons com várias energias. Vimos também, na primeira aula, a teoria das bandas de energia a qual nos dizia que os materiais semicondutores têm uma energia mínima que o fóton deve ter para poder remover o elétron do átomo, para o silício essa energia é de 1,1eV. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 42 A energia de gap do silício é de 1,1eV o que corresponde a um comprimento de onda de 1127nm (faça este cálculo para conferir!!) . Veja o exemplo na aula 1. Figura 12 - Região útil do espectro para o silício. Baseado nesta informação, observe a Figura 12, a região destacada repre- senta os comprimentos de onda em que os fótons têm energia suficiente para retirar o elétron do íons negativo na camada tipo P. Os fótons de comprimento de onda maior que 1127nm não produzem o efeito fotovoltaico na junção PN da célula, as suas energias não são aprovei- tadas. Este é o primeiro e mais importante fator de redução da capacidade de conversão da energia solar em energia elétrica. Tal fator é denominado eficiência quântica. Para o silício, este fator é de 44,9%, ou seja, se tivermos uma célula fotovoltaica de silício, o máximo que ela conseguirá converter será 44,9% da energia que a ela chega. Glossário 1eV (um elétron-volt) é uma quantidade de energia muito pequena, 1J (Joule) corresponde a 6,24x1018eV. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 43 Resumo Concluindo, aplicamos ao tema da radiação solar, conteúdo visto na aula anterior, todas aquelas teorias para extrairmos o princípio de funcionamento da célula solar fotovoltaica, cujo dispositivo executa a conversão da energia eletromagnética emitida pelo sol em energia elétrica. Esta conversão depende, primeiramente, da existência do fóton e da sua dupla identidade ,onda e partícula.Quando o consideramos como partícula, ele tem a capacidade de transferir a sua energia para o elétron da última camada de um átomo e fazer ele (o elétron) pular para a camada externa seguinte; se o material que este átomo forma for um semicondutor, este elétron tornar-se-á livre e circulará pe Em seguida, conhecemos como é formada a junção PN e os elementos que a compõem, vimos que ,quando um fóton com energia suficiente atinge o íon negativo presente na junção PN, ele consegue liberar um elétron que migra para o outro lado da junção, podendo ,então, percorrer um circuito elétrico externo, criando a corrente elétrica que foi produzida pela incidência da radiação solar. Na próxima aula, estudaremos mais especificamente as células solares, de forma menos teórica e mais prática (Ufa!!!), os tipos disponíveis e suas ca- racterísticas. Até lá !!! Referências CRESESB, Energia Solar: Princípios e Aplicações, CEPEL, 2000. Referências de sites http://www.if.ufrgs.br/ast/solar/portug/sun.htmhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sol http://pt.wikipedia.org/wiki/Atmosfera_terrestre Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 44 e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 45 Aula 3 - Células solares fotovoltaicas Objetivos Apresentar aos estudantes as características e os tipos de células solares mais utilizadas; Efetuar testes de funcionamento de células solares. Assuntos – Características construtivas das células solares – Características elétricas das células solares – Tipos de células solares – Ensaios de células solares Introdução Nas aulas anteriores, muito cheias de teorias, vimos o funcionamento do dispositivo de conversão da radiação eletromagnética do sol em energia elé- trica. A partir desta aula, iremos estudar temas mais ligados à prática de um téc- nico em energias renováveis, como as características das células solares, as formas de ligação e os componentes dos sistemas fotovoltaicos. Nesta aula, especificamente, estudaremos as células solares fotovoltaicas de forma mais externa, as características que serão apresentadas de forma mais externa e, que poderemos testar e comparar. Vamos lá! Na dúvida, não hesite, pergunte ao professor! e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 47 1.1. Características construtivas das células solares Como vimos na aula anterior, a célula solar fotovoltaica é formada, basica- mente, por uma junção PN, ou seja, ela é um diodo de junção. Vamos verifi- car, nesse item, como é o aspecto construtivo de uma célula solar. Figura 1 - Aspecto construtivo de uma célula solar fotovoltaica. Na fig. 1, observamos o aspecto construtivo de uma célula solar fotovoltaica, destacamos primeiramente os materiais tipo P (em verde) e o material tipo N (em azul claro), a linha divisória entre os materiais representa a junção PN. Para permitir que os elétrons sejam captados e direcionados para o circuito externo, são implantados, na parte externa dos dois materiais, contatos elé- tricos, na parte superior da célula esse contato é elaborado de forma que diminua o máximo a sua sombra sobre a camada de material tipo N. Desse modo, é montada uma rede de contatos otimizados, não tão finos que criem uma alta resistência em série e não tão espessos que causem uma sobra muito grande. Na parte inferior, o contato do polo positivo é montado, porém, nesse caso, não é necessário ter cuidado com sombreamento por motivos óbvios. A parte externa da camada de material tipo N é coberta por um material antirreflexivo que tem a função de diminuir ao máximo a perda de energia pela reflexão da radiação na superfície da célula. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 48 Figura 2 - Célula fotovoltaica. Alguns dos elementos citados, anteriormente, podem ser visualizados na fig. 2, a rede de contatos elétricos e a cobertura antirreflexo. 1.2. Características elétricas das células solares Para conhecer o comportamento elétrico de uma célula solar, é preciso sa- ber o que se pode medir em uma célula solar e quais as suas características elétricas. O primeiro aspecto elétrico de uma célula solar é o seu circuito equivalente. Professor!!! O que é um circuito equivalente? Existe um circuito elétrico com resistores dentro da célula solar? Todo componente elétrico e eletrônico pode ser representado por um circui- to equivalente, que é composto por componentes elétricos que representam as diversas propriedades elétricas que estão presentes em um dispositivo prático, então, vamos montar o circuito equivalente da célula solar. Inicial e eletricamente falando, a célula solar é um gerador de corrente, que é diretamente proporcional à radiação solar que incide na célula. Essa corrente gerada pela radiação é chamada de fotogerada (IL), então temos o nosso primeiro esboço de circuito equivalente, uma fonte de corrente (fig. 3). e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 49 Figura 3 – 1ª parte do circuito equivalente da célula solar. O segundo passo é considerar o efeito da junção PN, se não ligarmos ne- nhuma carga elétrica aos terminais da célula, a corrente produzida não irá fluir, porém teremos um acúmulo de cargas nos materiais tipo N e tipo P. Os elétrons que não formarem a corrente por fora da junção, voltam à sua origem, isso se chama de recombinação a qual ocorre sempre, quer haja corrente externa ou não, quando há corrente externa, a recombinação age de forma a causar uma perda de energia que não é aproveitada. No nosso circuito equivalente, podemos então representar a junção PN, na forma de um diodo de junção (fig. 4). Figura 4 – 2ª parte do circuito equivalente de uma célula solar. Uma célula solar real difere de uma célula ideal, por apresentar alguns fato- res de perdas que são representadas no circuito equivalente por resistências em série e em paralelo. A resistência em série simboliza a resistividade do corpo do material, a resistência dos contatos metálicos, soldas, etc.; todos os elementos que são atravessados pela corrente que sai da célula solar pos- suem uma resistência elétrica e cada uma dessas pequenas resistências (fig. 5) está representada por uma única resistência equivalente em série. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 50 Figura 5 - Elementos que compõem a resistência em série. A outra resistência a ser considerada no circuito equivalente da célula solar é aquela em paralelo, seu efeito deve-se aos defeitos da junção que oca- sionam correntes de perda ao longo da junção (fig. 6), como problemas de borda, sujeira e descontinuidade; defeitos internos do material (deslocações) que formam canais. Figura 6 - Elementos que compõem a resistência em paralelo. Com esses dois novos elementos, o circuito equivalente da célula fotovoltai- ca tem o aspecto mostrado na fig.7. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 51 Figura 7 - Circuito equivalente da célula solar. Os valores da resistência em série devem ser os menores possíveis e os va- lores da resistência em paralelo os maiores possíveis; em células reais, os valores da resistência em série são da ordem de 1 Ω e em paralelo são da ordem de 100kΩ. Esses valores podem ser obtidos por meio de métodos experimentais e pro- cessos matemáticos que estão fora do escopo deste curso, porém, mais a frente, poderemos tirar algumas conclusões sobre seus valores quando efe- tuarmos o teste elétrico da célula solar. O segundo aspecto elétrico da célula solar que estudaremos, é a sua curva característica. Professor!!! Para que serve uma curva característica? A gente só estuda isso quando falamos de célula solar? A curva característica é um gráfico (ihihihihi!!! Já vai ficar complicado de novo professor???)... Calma, não é tão complicado assim. Vamos lá, se tiver dúvida, chame o professor. Bom, a curva característica é um gráfico que mostra o comportamento de um componente elétrico em relação as suas principais grandezas elétricas, que no caso de qualquer componente elétrico, as grandezas são a corrente elétrica e a tensão elétrica. Vamos ver um exemplo bem simples. Um resistor, todo mundo lembra o que é um resistor, não é verdade???? Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 52 O resistor funciona do seguinte modo, se aplicar uma diferença de potencial em seus terminais (fig. 8), uma corrente elétrica irá circular no resistor, o va- lor da corrente é dado pela Lei do Ohm. E ainda, se aumentarmos o valor da tensão, a corrente aumenta, e se diminuirmos a tensão ela diminui. Figura 8 - Comportamento da resistência elétrica. A Lei do Ohm, também já foi estudada na disciplina de Eletroeletrônica, é uma equação que relaciona tensão (V), corrente (I) e resistência (R). Professor!!! E cadê a curva característica?? Como a curva característica deve representar o comportamento da resistên- cia frente às variações da tensão e da corrente, vamos ver o gráfico da fig. 9. Figura 9 - Curva característica do resistor. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 53 Explicando de forma resumida,o lado direito da fig. 9 representa o sentido da corrente, entrando no terminal superior da resistência, se aumentar a tensão (V, eixo horizontal) a corrente (I, eixo vertical) aumenta, daí o gráfico ter a forma de uma reta ascendente. O lado esquerdo da fig. 9 representa o sentido da corrente, saindo no terminal superior; nesse caso, como os senti- dos da tensão e da corrente estão invertidos, os valores foram considerados negativos. Figura 10 - Descrição da curva característica. Um detalhe sobre a curva característica é que ela pode tanto representar ele- mentos que funcionam como carga (resistores, indutores, capacitores, etc.) como elementos que funcionam como geradores tanto de corrente como de tensão (baterias, geradores CC, células solares, etc.). Se o gráfico do ele- mento passa pelos quadrantes 2 ou 4, o elemento está funcionando como gerador, ou seja, está fornecendo energia elétrica. Se o gráfico passa pelos quadrantes 1 ou 3, o elemento está funcionando como carga, ou seja, está consumindo energia elétrica Vamos ver, então, a forma da curva característica de uma célula fotovoltaica. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 54 Figura 11 - Curva característica da célula fotovoltaica. A forma da curva característica de uma célula solar depende, inicialmente, se ela está iluminada ou não. Se a célula estiver no escuro, não irá produzir a corrente fotogerada, o comportamento dela é idêntico a um diodo, ou seja, só haverá corrente se a diferença de potencial for maior que 0,7V. Havendo incidência de radiação solar, a curva desloca-se para o 4º quadrante e como vimos, representa o comportamento de um gerador, o deslocamento observado depende do valor da corrente fotogerada IL, e assim, o valor da corrente fotogerada depende, inicialmente, da intensidade da radiação solar que atinge a célula. Vamos ver isso com mais detalhes. OBSERVAÇÂO Embora a forma da curva característica oficial seja a verificada na fig.11, na prática utiliza-se o gráfico de maneira invertida, como indicado na fig.12. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 55 Figura 12 - Curva característica invertida. As curvas características de células solares são obtidas por meio de um en- saio elétrico que veremos no item 1.4 dessa aula, mas de antemão, a ob- tenção de uma curva característica padrão é efetuada sobre condições de radiação e temperatura padrão, ou seja, a radiação deve ser constante no momento do ensaio e deve ter um valor de 1000W/m² e a temperatura da célula deve ser de 25ºC. Antes de estudar os fatores que influenciam no formato da curva caracterís- tica, iremos identificar alguns pontos importantes que descrevem valores de trabalho de uma célula solar. Figura 13 - Parâmetros da curva característica. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 56 Inicialmente, podemos ver dois pontos importantes de uma curva caracte- rística, que mostram o comportamento de uma célula solar. O ponto Voc é chamado de tensão de circuito aberto, é por definição a tensão elétrica que aparecerá nos terminais da célula quando a deixamos desconectada da carga (fig. 14). Figura 14 - Tensão de circuito aberto. O outro ponto importante é o ponto Isc denominado corrente de curto cir- cuito, que é definida como a corrente que a célula fornecerá se fizermos um curto circuito em seus terminais (fig. 15). Figura 15 - Corrente de curto circuito. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 57 A partir da curva característica pode-se obter um gráfico de potência x ten- são, ou seja, um gráfico que mostra como é a variação da potência obtida pela célula quando a tensão nos seus terminais varia (fig. 16). Figura 16 – Gráfico de potência X tensão da célula solar. A importância desse gráfico é que pela sua forma, podemos observar que existe um valor de tensão em que a célula solar atinge a sua máxima potên- cia, ou seja, quando a célula trabalha esse ponto, converte mais energia solar em energia elétrica, esse ponto é chamado de ponto de máxima potência. É sempre desejável que a célula solar trabalhe no ponto, porém isso depen- de dos equipamentos que estão ligados a ela, veremos esse tema em outra aula. Juntando os dois gráficos, temos então para uma célula todos os pontos de interesse que definem, completamente, as suas características elétricas. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 58 Figura 17 - Curva característica e gráfico de potência. A forma da curva característica depende, basicamente, de dois fatores ex- ternos à célula solar, o primeiro e mais óbvio é o valor da radiação solar que está incidindo na célula, se a radiação aumenta, a corrente de curto circuito aumenta (fig. 18). Figura 18 - Influência da radiação solar sobre a curva característica. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 59 O outro fator importante é a temperatura, igual a todos os dispositivos se- micondutores, a temperatura causa muita influência em seu funcionamento, com o aumento dessa, a tensão de circuito aberto diminui (fig. 19), isso irá provocar a diminuição da tensão produzida pela célula. Figura 19 - Influência da temperatura sobre a curva característica. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 60 Figura 20 - Resumo da influência da radiação e da temperatura sobre o funcionamen- to da célula solar. A fig. 20 mostra, de forma resumida, a influência desses dois fatores sobre o funcionamento de uma célula solar fotovoltaica. A partir dessas informações elétricas da célula, podemos calcular a sua efici- ência máxima e assim, verificar se ela está em boas condições ou não. A eficiência de uma célula solar é um parâmetro que indica o percentual de energia solar que, realmente, é convertida em energia elétrica, quanto me- nor, pior é a condição de funcionamento da célula. Se tivermos células com baixa eficiência de conversão, teremos que usar mais células para obtermos a mesma quantidade de energia que poderíamos ter se estivéssemos utili- zando poucas células com alta eficiência. A eficiência não é um parâmetro exclusivo da célula solar, todo processo de conversão de energia sempre trabalha com o certo valor de eficiência. No caso, a expressão geral para o cálculo de eficiência é mostrada abaixo: No caso da célula solar, a energia que entra é a própria radiação solar, o valor da energia ou da potência incidente é calculado conforme a expressão abaixo. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 61 Como foi visto na aula de energia eólica e solar, a irradiância é a densidade de potência irradiada em uma unidade de área, geralmente, o metro qua- drado, como exemplo podemos ter uma irradiância de 850 W/m². A energia que sai, é na forma elétrica, depende do valor da tensão e da corrente que a carga está absorvendo em um determinado instante, pode- mos calcular a máxima eficiência da célula, a partir dos valores da tensão e corrente no ponto de máxima potência: Podemos, então, reunir as três expressões em uma que permite o cálculo da eficiência máxima da célula solar. Vamos fazer um exemplo de cálculo a partir de valores obtidos de um ensaio elétrico. Figura 21 - Curva característica de exemplo. Essa curva foi obtida de um conjunto de células ligadas em um módulo foto- voltaico, a irradiação no momento do ensaio foi de 1100 W/m² (Isol). Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 62 Figura 22 - Gráfico da potência. A partir da curva característica, podemos obter o gráfico da potência fig. 22, que o ponto de máxima potência tem o valor de tensão (VMP) em torno de 12,16V e o valor de corrente (IMP) em torno de 3,29A. As dimensões do módulo ensaiado são 1,07 x 0,54 m, área de 0,577m². Calculando a eficiência temos: Nesse exemplo, a eficiência ficou em 6,3%, muito baixa, só que o módulo ensaiado estava com problemas mesmo, por isso a sua eficiência ficou tão baixa. 1.3. Tipos de células solares Existem diversos tipos de células solares, a maioria delas é fabricada com silí- cio, porém outrostipos de materiais também são utilizados com o intuito de se melhorar, primeiramente, a sua eficiência e depois as suas características mecânicas. As células fotovoltaicas são fabricadas, na sua grande maioria, usando o silício (Si) e podem ser constituídas de cristais monocristalinos, policristalinos ou de silício amorfo. Existem também células de outros materiais, tais como, germânio (Ge), arseneto de gálio (GaAs), arseneto de alumínio (AlAs), arse- neto de gálio e alumínio (Ga1-xAlxAs), arseneto de gálio e índio (GaInAs) e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 63 sulfeto de cádmio (CdS), sulfeto de cobre (Cu2S), dentre outros. Também podem ser fabricadas células provenientes de heterojunções (células com mais de uma junção PN) dos materiais acima citados. A célula de silício monocristalino (fig. 23) é, historicamente, a mais usada e comercializada como conversor direto de energia solar em eletricidade e a tecnologia para sua fabricação é um processo básico muito bem constituído. Figura 23 - Célula de silício monocristalino. Esse material é, basicamente, o mesmo utilizado na fabricação de circuitos integrados para microeletrônica. As células são formadas em fatias de um único grande cristal, previamente, crescido e enfatiado. A grande experiên- cia na sua fabricação e pureza do material garantem alta confiabilidade do produto e altas eficiências. Enquanto o limite teórico de conversão da luz solar em energia elétrica, para essa tecnologia é de 27%, valores nas faixas de 12 a 16% são encontrados em produtos comerciais. Devido às quantidades de material utilizado e à energia envolvida na sua fabricação, essa tecnologia apresenta sérias barrei- ras para redução de custos, mesmo em grandes escalas de produção. As células de silício policristalino (fig. 24) são mais baratas que as de silício monocristalino por exigirem um processo de preparação das células menos rigoroso. O processo de pureza do silício utilizado na produção das células de silício policristalino é similar ao processo do Si monocristalino, o que per- mite obtenção de níveis de eficiência compatíveis, porém inferiores. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 64 Figura 24 - Célula de silício policristalino. Também chamado de Silício (Si) multicristalino; tais células são fabricadas a partir do mesmo material que, ao invés de formar um único grande cristal, é solidificado em forma de um bloco composto de muitos pequenos cristais. A partir desse bloco, são obtidas fatias e fabricadas as células. A presença de interfaces entre os vários cristais reduz um pouco a eficiência das células. Na prática, os produtos disponíveis alcançam eficiências muito próximas das oferecidas em células monocristalinas. Nesse caso, a quantidade de material por célula é, basicamente, o mesmo do caso anterior, entretanto, a energia necessária para produzi-las é bastante reduzida. No intuito de buscar formas alternativas de se fabricar células fotovoltaicas, muito trabalho de pesquisa tem sido realizado. Um dos principais campos de investigação é o de células de filmes finos. O objetivo geral é obter uma técnica através da qual seja possível produzir células fotovoltaicas confiá- veis, utilizando pouco material semicondutor, obtido de forma passível de produção em larga escala, resultando em custo mais baixo do produto e, consequentemente, da energia gerada. Esses estudos têm se dirigido a diferentes materiais semicondutores e téc- nicas de deposição desses em camadas finas com espessura de poucos mí- crons. Entre os materiais mais estudados estão o silício amorfo hidrogenado (a-Si: H), o disseleneto de cobre e índio (CIS) e o telúri e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 65 Uma célula de silício amorfo (fig. 25) difere das demais estruturas cristalinas por apresentar alto grau de desordem na estrutura dos átomos. A utilização de silício amorfo, para uso em fotocélulas, tem mostrado grandes vantagens tanto nas propriedades elétricas quanto no processo de fabricação. Por apresentar uma absorção da radiação solar na faixa do visível e podendo ser fabricado mediante deposição de diversos tipos de substratos, o silício amorfo vem se mostrando uma forte tecnologia para sistemas fotovoltaicos de baixo custo. Mesmo apresentando um custo reduzido na produção, esse elemento apresenta duas desvantagens: a primeira é a baixa eficiência de conversão comparada às células mono e policristalinas de silício; em segun- do, as células são afetadas por um processo de degradação, logo nos primei- ros meses de operação, reduzindo assim a eficiência ao longo da vida útil. Figura 25 - Célula de silício amorfo. Por outro lado, o silício amorfo apresenta vantagens que compensam as deficiências citadas anteriormente, são elas: • Processo de fabricação, relativamente, simples e barato; • Possibilidade de fabricação de células com grandes áreas; • Baixo consumo de energia na produção. O silício amorfo é responsável pelo maior volume de produtos nessa área, embora outros já estejam disponíveis. Não é claro, hoje, qual das tecnolo- gias em estudo terá maior sucesso no futuro. O que se pode dizer é que to- das têm potencialidade de gerar produtos de baixo custo se produzidos em grande escala. Por outro lado, todas têm ainda obstáculos a serem vencidos Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 66 antes que possam alcançar uma plena maturidade industrial e atingir o nível de confiança das células cristalinas. No quadro comparativo da fig. 26, são apresentados os tipos de células e suas eficiências. Figura 26 - Comparativo das células de silício. Existem outros tipos de células que, atualmente, não são comerciais, células dotadas de mais de uma junção PN e com tamanhos menores e mais eficien- tes, que ainda são alvo de pesquisas na área, porém no âmbito deste curso, ficaremos conhecendo apenas esses tipos que são, atualmente, os mais uti- lizados na área da conversão fotovoltaica. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 67 1.4. Ensaios de células solares Os ensaios de células solares têm o objetivo de se executar um teste elétrico para se obter a sua curva característica, na realidade, para se obter os quatro parâmetros elétricos que estudamos nos itens anteriores, ou seja, a corrente de curto circuito, a tensão de circuito aberto, a tensão e corrente do ponto de máxima potência. Com esses pontos, podemos aferir a eficiência da célula e efetuar compara- ções com os valores especificados pelo fabricante e a partir daí, concluir se a célula está em bom ou mau estado de funcionamento. Basicamente, para a execução desse ensaio, é necessário: – Uma célula ou módulo (um módulo é formado por várias células in- terligadas); – Um voltímetro, devidamente, calibrado, de preferência digital; – Um amperímetro, devidamente, calibrado, de preferência calibrado; – Um resistor variável; – Um solarímetro. O circuito elétrico a ser montado é mostrado abaixo. Figura 27 - Esquema para o ensaio elétrico. O procedimento do teste consiste em se anotar os valores de tensão e cor- rente lidos nos instrumentos, conforme se varia o valor da resistência variá- vel. 1. Com o circuito em aberto, anota-se o valor da tensão, que é a sua própria tensão. 2. Varia-se o resistor variável, se for um potenciômetro, a cada quarto de volta, anota-se o valor da tensão e corrente medidos. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 68 3. Repete-se o procedimento anterior até que se obtenha tensão zero, o va- lor medido da corrente, nesse caso, representa a corrente de curto circuito. Temos que observar alguns detalhes desse procedimento. Primeiramente, o procedimento deve ser efetuado com a radiação solar aproximadamente constante, ou seja, procurar um momento em que o sol não tenha possibilidade de ser encoberto por nuvens durante a realização do ensaio, situação de céu aberto seria a ideal, deve-se então verificar a leitura do solarímetroe se certificar que não houve uma variação acima de 5%. O ensaio deve ser feito nas condições o mais próximo possível das efetuadas pelo fabricante, ou seja, a radiação solar próximo de 1000 W/m², esse valor, geralmente, é atingido nas horas próximas do meio-dia. Uma segunda observação é em relação ao potenciômetro, durante a ligação, deve ser observada a relação entre o sentido de rotação do potenciômetro e a variação da tensão e corrente, para sabermos se estamos indo no sentido da maior tensão para a menor ou vice-versa. Outra opção de realização desse ensaio é utilizar equipamentos de aquisição de dados ligados a um computador, nesse caso, não é o objetivo dessa aula mostrar os diversos equipamentos e possibilidades de ligação para se efetu- ar o ensaio, a diferença entre se efetuar um ensaio com equipamentos de aquisição de dados e computadores e de se efetuar o ensaio como o descrito nesse livro é a comodidade da aquisição automática dos dados, a possibili- dade de se obter muitos pontos do gráfico e a precisão maior das medidas. Uma vez que o ensaio foi concluído, a elaboração do gráfico pode ficar a cargo de qualquer software de planilha eletrônica, é aconselhado que seja efetuado em um computador, pois podemos identificar, rapidamente, a for- ma do gráfico e o ponto de máxima potência, que no caso é a leitura de tensão e corrente na qual o produto entre as duas grandezas é o maior de todos. Uma vez com o gráfico elaborado, podemos identificar alguns problemas com a célula. O efeito da alta resistência em série da célula pode ser verificado na fig.28. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 69 Figura 28 - Efeito da resistência em série sobre a curva característica. Pode-se observar que o aumento da resistência em série provoca o desloca- mento do ponto de máxima potência para a esquerda da curva, o valor da corrente de curto-circuito se dentro de certa faixa de valores da resistência série, em relação à curva ideal, o aumento do valor da resistência em série causa um joelho de forma mais aberta na curva, a tensão de circuito aberto se mantém a mesma. As causas do aumento da resistência em série estão mais ligadas aos compo- nentes pelos quais a corrente de saída circula, como a rede de contatos, os contatos elétricos da célula, oxidação, etc. O efeito da baixa resistência paralelo pode ser verificado na fig. 29. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 70 Figura 29 - Efeito da resistência paralelo sobre a curva característica. Pode-se observar que a diminuição da resistência paralela provoca um rebai- xamento da curva característica, ou seja, diferentemente do caso anterior, a parte superior da curva fica inclinada e a tensão de circuito aberto diminui com a diminuição da resistência paralela. As causas da diminuição da resistência paralela são, geralmente, ligadas à parte mais interna da célula, aumento de fissuras internas na região próxima à junção PN e sujeira nas bordas da célula (não do módulo) que permitem a circulação de corrente entre os materiais tipo P e N. Resumo Estudamos nessa aula a célula solar fotovoltaica, como ela funciona, suas características elétricas e o ensaio elétrico que podemos efetuar para testar a célula, e verificar se a mesma está em boas condições ou não. Baseado nos temas estudados, podemos, nas próximas aulas, verificar de forma mais prática, as aplicações das células solares, pois conhecemos os limites práticos e os tipos disponíveis com as suas características principais. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 71 Na próxima aula, começaremos a estudar os componentes que fazem parte de uma instalação fotovoltaica. Até lá !!! Referências CRESESB, Energia Solar Princípios e aplicações, CEPEL, 2000. FERREIRA, Isabel, Determinação da curva característica de uma célula/módulo solar, 1999. FRAIDENRAICH, N. e LYRA, F. Energia Solar: fundamentos e tecnologia de conversão heliotérmica e fotovoltaica. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 1995. CRUZ, Tito A. L., 1º seminário de tese de doutorado, DEN-UFPE, 2008. Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 72 e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 73 Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 74 Aula 4 - Armazenamento de energia Objetivos Apresentar aos alunos as formas de armazenamento de energia utilizadas na área fotovoltaica. Apresentar aos alunos as características técnicas das baterias em- pregadas na área fotovoltaica. Assuntos – Função de armazenamento de energia – Terminologia – Tipos de baterias – Funcionamento e características construtivas – Características ideais para uso em sistemas fotovoltaicos Introdução Nas aulas anteriores, verificamos, basicamente, o funcionamento de uma célula solar fotovoltaica, suas características elétricas e como a conversão se processa. Uma das características mais comuns à maioria das fontes de energia re- novável é a inconstância da presença da fonte de energia. Como exemplo, podemos citar a variação da radiação solar, que está disponível apenas du- rante o dia, bem como das condições climáticas do local; no que se refere à energia eólica, a mesma depende de se ter ventos com certa regularidade, de sua direção e velocidade constante. Nos períodos em que não há produção de energia solar, por exemplo, de onde vem a energia que utilizamos à noite? A resposta a esta questão será vista nesta aula sobre o armazenamento de energia. e-Tec BrasilEnergia Solar Fotovoltaica 75 Vamos lá!! Na dúvida, não hesite, pergunte ao professor!!! Função de armazenamento de energia Conforme dito na introdução, algumas fontes de energia renovável, a exem- plo, solar, eólica, maré motriz, dependem dos fenômenos da natureza para poderem fornecer energia no que se refere a sua aplicação. Nos períodos em que essas fontes não podem operar, as cargas e os consumidores não podem, simplesmente, ficar sem energia e,quando de sua volta, voltarem a ser re-energizados. Para se solucionar este problema, utilizam-se formas de se armazenar a ener- gia coletada no período de produção para que seja consumida durante o período em que não haja produção de energia. Uma das formas de se armazenar a energia é utilizando-se baterias, existem outras formas que ainda estão sendo pesquisadas e desenvolvidas, como células de hidrogênio, armazenamento térmico, etc. Os sistemas fotovoltaicos, atualmente instalados e que estão em locais dis- tantes da rede de distribuição de energia, só podem contar com a energia armazenada nas baterias durante o dia; para assim ser utilizada durante a noite, para a iluminação, aparelhos domésticos, ou outras aplicações. Baterias são conhecidas por serem uma conveniente e eficiente forma de ar- mazenamento de energia. Quando uma bateria está conectada a um circuito elétrico, há fluxo de corrente devido a uma transformação eletroquímica no seu interior, ou seja, há produção de corrente contínua através da conversão de energia química em energia elétrica. A mais simples unidade de operação de uma bateria é chamada de “célula eletroquímica” ou, simplesmente “célula”. Uma bateria pode ser composta de apenas uma célula ou do arranjo elétrico de diversas. Baterias podem ser classificadas em recarregáveis e não-recarregáveis dependendo do tipo de célula de que são compostas. Existem dois tipos básicos de células: primárias e secundárias. As células pri- márias compõem as baterias que podem ser utilizadas apenas uma vez (não- recarregáveis). Quando as células primárias descarregam-se completamente, sua vida útil termina e elas são inutilizadas. As baterias não-recarregáveis Sistemas de Energia Renovávele-Tec Brasil 76 ou primárias são geralmente utilizadas como fontes de energia de baixa potência, em aplicações tais como: relógios de pulso, aparelhos de memória digital, calculadoras e muitos outros aparelhos portáteis. É possível encon- trar baterias compostas por células primárias que admitem recargas
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