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HOBSBAWM, Eric. A revolução cultural. In: Era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Cultura jovem 1- A partir das décadas de 1950/1960, a juventude torna-se um agente social independente. · Negação aos adultos; aceitação de líderes advindos do seu grupo de pares. Embora, é claro, existissem exceções, como na China, onde Mao mobilizou as forças da juventude. · A nova autonomia da juventude como uma camada social separada foi simbolizada pelo jeune premier, o herói cuja vida e juventude acabavam juntas. Mortes que tornavam-se simbólicas devido a juventude por eles representada como o estágio áureo do ser humano. a) Principais símbolos dessa geração: Budd Holly, Jonis Joplin, Brian Jones, Bob Marley, Jimi Hendrix, James Dean. · Rock, expressão cultural característica 2- Novidade da nova cultura juvenil · Juventude vista como o estágio final do pleno desenvolvimento humano. · A cultura juvenil tornou-se dominante nas “economias de mercado desenvolvidas. ” a) A juventude passa a representar uma massa concentrada de poder de compra; b) A partir de então, cada nova geração de adultos fora socializada como integrante de uma cultura juvenil autoconsciente, e trazia as mercas da experiência; c) A espantosa rapidez da mudança tecnológica dava à juventude uma vantagem mensurável sobre grupos etários mais conservadores, ou pelos menos inadaptáveis. · Popularização do blue jeans, primeiro, entre os jovens e depois entre os adultos · A pressão dos pares e a moda impunham uniformidade, dentro dos grupos de pares e subculturas, embora os jovens reivindicassem uma certa originalidade e diferenciação em relação as gerações mais velhas. · Internacionalismo da cultura jovem nas sociedades urbanas (Cultura jovem global) “Letras de rock em inglês muitas vezes nem eram traduzidas. Isso refletia a esmagadora hegemonia cultural dos EUA na cultura popular e nos estilos de vida, embora se deva notar que os próprios núcleos da cultura jovem ocidental eram o oposto do chauvinismo cultural, sobretudo em seus gostos musicais. Acolhiam estilos importados do Caribe, da América Latina e, a partir da década de 1980, cada vez mais na África” 3- Mudança no modus operandi da hegemonia cultural estadunidense · Entre as guerras, seu principal vetor fora a indústria cinematográfica americana, a única com distribuição global maciça. · Difusão após as décadas de 1950/1960 a) Através da amplificação de seus sinais via a intermediária cultural Grã-Bretanha; b) Através dos discos e depois fitas, cujo grande veículo de produção, então com antes e depois, era o velho rádio; c) Através da distribuição mundial de imagens; d) Através dos contatos internacionais do turismo juvenil; e) Através da rede mundial de universidades f) Através da força da moda na sociedade de consumo que agora chegava às massas, ampliada pela pressão dos grupos e de seus pares. 4- Revolução do comércio da música popular e nas indústrias da moda (“Boom adolescente”) · Aumento significativo do consumo jovem, principalmente entre as jovens britânicas bem pagas e oriundas das concentrações urbanas. Claro que este boom do consumo não fora restrito somente a Grã Bretanha. Difundiu-se, primeiramente, entre jovens de países desenvolvidos e expandiu-se para outras áreas. 5- Identidade jovem e o abismo de gerações “Eles não tinham lembranças de antes do dilúvio [...] eles não tinham como entender o que seus mais velhos haviam vivido ou sentido – mesmo quando estes se dispunham a falar do passado, pois a maioria dos alemães, japoneses e franceses se mostravam relutantes em fazê-lo. Como poderia um jovem indiano, para quem o Partido do Congresso era uma máquina governamental ou política, compreender alguém para quem esse partido fora a expressão de luta de uma nação para libertar-se? Como podiam os brilhantes jovens economistas indianos que inundaram os departamentos universitários do mundo entender seus próprios professores, para os quais o auge da ambição no período colonial era simplesmente tornar-se ‘tão bom quanto’ seus modelos metropolitanos? ” 6- Circularidade cultural: Jovens das classes alta e médias, no mundo anglo-saxônico, começaram a aceitar a música, as roupas e até a linguagem das classes baixas urbanas, ou o que tomavam por tais como seu modelo · O rock: Tornou-se o idioma universal dos jovens, e notadamente dos jovens brancos. No Brasil, temos, além do rock, a defesa do Samba por jovens cultos, como Tom Jobim e Chico Buarque. 7- Antinomia [contradição ou ceticismo] da nova cultura jovem expressa mais claramente nos momentos em que encontrou expressão intelectual · “O importante era sem dúvida não o que os revolucionários esperavam conseguir com suas ações, mas o que faziam e como se sentiam fazendo-o. Não se podia claramente separar fazer amor e fazer revolução. ” · Liberação social e liberação pessoal davam-se as mãos. Sexo e drogas passaram a representar formas óbvias de despedaçar as cadeias do Estado, dos pais e do poder dos vizinhos, da lei e das convenções sociais. Individualismo 1- A rejeição às convenções e proibições sociais tradicionais não se dava em nome de outro padrão de ordenação da sociedade, mas em nome da ilimitada autonomia do desejo humano · Paradoxo: Partilhavam crenças sobre as quais se erguia a sociedade de consumo. 2- Busca de desejos individuais · “Assumia-se tacitamente agora que o mundo consistia em vários bilhões de seres humanos definidos pela busca de desejo individual, incluindo desejos até então proibidos e mal vistos, mas agora permitidos não porque se houvessem tornado moralmente aceitáveis, mas porque tantos egos os tinham. ” 3- A revolução cultural e o triunfo do indivíduo sobre a sociedade · “A revolução cultural de fins do século XX pode assim ser mais bem entendida como o triunfo do indivíduo sobre a sociedade, ou melhor, o rompimento dos fios que antes ligavam os seres humanos em texturas sociais. ” (Pág. 328) 4- Texturas sociais em tensão, não em desintegração · Na maior parte do mundo, as velhas texturas e convenções sociais [...] estavam em desintegração. Isso era uma felicidade para a maior parte da humanidade, sobretudo os pobres, pois a rede de parentesco, comunidade e vizinhança era essencial para a sobrevivência econômica, e sobretudo para o sucesso num mundo em mudança. ” (Pág. 328) Discurso ideológico público do fin-de siécle ocidental 1- Declarações públicas sem pretensão a qualquer profundeza analítica, formulada em termos de crenças amplamente aceitas. · Temos como exemplo o discurso neoliberal que, tomando o lugar da teologia e difundindo-se via a hegemonia cultural estadunidense, teve em Margareth Thatcher sua principal expressão política. 1
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