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1º Bimestre - Unidade 1.1 Cultura e Produção Cultural Cultura e Sociedade Osvaldo Luís Meza Siqueira S618 Siqueira, Osvaldo Luís Meza. Cultura e sociedade [recurso eletrônico] / Osvaldo Luís Meza Siqueira. - Curitiba: UTP, 2013. 196p. ISBN 978-85-7968-042-7 ISBN 978-85-7968-043-4 - Disponível em: http://ead.utp.edu.br 1. Cultura. 2. Sociedade. 3. Cidadania. I. Siqueira, Osvaldo Luís Meza. II.Título. CDD – 301.02 Material de uso didático. Reitoria Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitoria de Planejamento e Avaliação Afonso Celso Rangel dos Santos Pró-Reitoria Administrativa Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitoria Acadêmica Carmen Luiza da Silva Divisão Acadêmica Marlei Gomes da Silva Malinoski Divisão Pedagógica Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder Divisão Tecnológica Flávio Taniguchi Haydée Silva Guibor Neilor Pereira Stockler Junior Projeto Gráfico Neilor Pereira Stockler Junior Editoração Eletrônica Haydée Silva Guibor Todos os direitos desta edição reservados à Universidade Tuiuti do Paraná. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida e transmitida sem prévia autorização. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos” Universidade Tuiuti do Paraná 3 NOTAS SOBRE O AUTOR Possui graduação em Licenciatura em História pela Universidade Tuiuti do Paraná (1999) e especialização em Metodologia do Ensino de História pela Faculdade Internacional de Curitiba (2001). Atualmente é professor da Universidade Tuiuti do Paraná, professor da Sociedade de Ensino Unificado, professor da Escola Social Madre Clélia e professor do Grupo Educacional UNINTER. Tem experiência na área de História, com ênfase em Metodologia do Ensino de História. 4 Citação Referencial Destaque Dica do Professor Explicação do Professor Material On-Line Para Reflexão ORIENTAÇÃO PARA LEITURA 5 APRESENTAÇÃO Educação a Distância Instrumentalizando e Otimizando a Extensão A educação a distância, EAD tem sido tema da agenda de inúmeras organizações (acadêmicas, sociais e políticas), em virtude do seu impacto em todas as dimensões do homem moderno. Bem mais do que meras discussões em relação à importância, aos desafios e a própria história do tema, iniciativas concretas e projetos com abrangência internacional, nacional, regional e local estão sendo executada. Desta forma a EAD deixa de ser apenas um tópico nas discussões para adquirir forma e consistência no cenário em foco em crescimento exponencial. O crescimento da EAD na extensão se faz mais forte graças ao e-learning, o qual conta com o apoio das redes de comunicação, em especial, a internet, que está a alavancar, a desenvolver e transformar o modelo educacional vigente a desafiar professores, técnicos e alunos a desempenharem novos papéis diante das necessidades de uma prática pedagógica, a qual se encontra em fase de descoberta e de estruturação. A operacionalização da EAD na extensão tem sido observada em todo o mundo em especial no Brasil, principalmente nos cursos de Extensão Universitária os quais são voltados, preferencialmente, para os acadêmicos de qualquer curso de graduação que queiram aprofundar os conhecimentos já adquiridos em sala de aula ou, que desejam ampliar seu foco de estudos, possibilitando assim, uma aproximação maior com o cenário profissional futuro, além de contribuir para aquisição de novos conhecimentos. A EAD na extensão pode ser usada pela Instituição para atender percentual exigido pelo currículo no tocante a questão Atividade Complementar. No referente à educação continuada ela visa capacitar pessoas e atender as exigências do mercado de massa crítica qualificada. Além destes aspectos positivos a EAD aplicada à extensão apresenta inúmeras vantagens, entre estas se nomina: o fomento da educação continuada, o novo conceito de sala de aula, de professor e de aluno, a perspectiva política e social desta modalidade educativa, uma vez que além de democratizar o 6 acesso ao mundo do ensino, capacita o trabalhador, permitindo- lhe que se mantenha ou adentre no mercado de trabalho. Destaca-se ainda, a flexibilidade da legislação no tocante à sua execução, vez que pode ser executada,sem o preconizado pelas Portarias e Decretos Regulatórios tais como o Decreto 5622, e a Portaria 2/2007, editada pelo Ministério da Educação, a qual segundo o próprio Secretário é muito restritiva no que concerne à criação dos polos e a exigência de avaliações presenciais. Estas vantagens talvez sejam responsáveis pela proliferação de cursos de extensão na modalidade de educação a distância, capacitando recursos humanos, investindo em novas tecnologias e pesquisas que, certamente, proporcionarão à comunidade uma participação ativa no processo, ocupando oportunidades de trabalho e adquirindo condições para formação continuada e aprendizado por toda vida. No entanto, é preciso destacar que, para que os cursos de extensão na modalidade EAD tenham o sucesso esperado, é necessário que a Instituição alie a vontade política à pedagógica, ou que implica que a Instituição assegure uma infraestrutura tecnológica, pedagógica e administrativa de qualidade; é necessário que haja um bom gestor deste sistema, com competência para assegurar que a integração do ensino com a pesquisa e com a extensão seja mediada pelas tecnologias de comunicação e de informação; é preciso que haja um Planejamento Estratégico que unifique os demais tipos de planejamento e garanta a participação de todos, bem como um fluxo comunicacional multidirecional de qualidade. A EAD deve oportunizar a reescrita da história institucional e a manutenção de sua memória, além de possibilitar o fomento do e-learning na instituição, o qual possibilitará por sua vez a abertura de novas parcerias com empresas e serviços regionais, nacionais e internacionais. Pelo exposto pode se constatar que a educação a distância representa indiscutivelmente um dos temas atuais da sociedade globalizada, sendo objeto de interesse da empresa, do Estado e alvo de incentivos materiais e financeiros para projetos inovadores, os quais por sua vez representam excelentes oportunidades de trabalho e aprendizado. Pró-Reitoria de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão 7 SUMÁRIO Unidade 1.1 CULTURA E PRODUÇÃO CULTURAL INTRODUÇÃO AO ESTUDO ........................................................ OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................ PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................... REFLEXÕES SOBRE O TEMA .................................................... CONCEITUAÇÃO DO TEMA ........................................................ Cultura e sua dinâmica ................................................................. O que matou realmente o último filho de Kripton? ........................ SISTEMATIZANDO ....................................................................... REFERÊNCIAS ............................................................................. 8 10 11 12 15 15 18 26 27 8 INTRODUÇÃO AO ESTUDO Acultura representa o aspecto fundamental de nossa vida em sociedade. Ela nos conecta com o grupo e a comunidade a que pertencemos e nos diz quem somos. Neste sentido, como podemos compreender a cultura brasileira e, de forma mais geral, a cultura mundial na contemporaneidade? Existe, nos dias de hoje, uma cultura hegemônica, isto é, dominante que nos permeia? A globalização é responsável por uma descaracterização das diferentes culturas do mundo? Influências culturais todos os povos recebem e exercem no decorrer de sua história, conforme o nível da natureza de suas relações. No caso do Brasil, desde o início isso se verificou através do branco europeu, invasor e colonizador, do índio, habitanteoriginal desta terra, depois do negro escravo e dos diversos grupos de imigrantes. Portanto, não há uma cultura genuinamente brasileira composta apenas de samba, carnaval, feijoada e caipirinha. Nossa cultura se moldou a partir de diferentes e variados elementos, dos quais também se compõem agora o norte-americano, pois cultura não é uma coisa imóvel, acabada e isenta de transformação e movimento. [...] Ser conscientes de nossos enraizamentos culturais, dos processos de hibridização e de negação e silenciamento de determinados pertencimentos culturais, sendo capazes de reconhecê-los, nomeá- los e trabalhá-los constitui um exercício fundamental. (CANDAU, V. M.) 9 Ruth Benedict escreveu que a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo, portanto, homens de culturas diferentes usam lentes diversas que lhes proporcionam também visões diversas de mundo, visões estas que podem ser iguais se um aprende a olhar com os olhos do outro. Segundo Cliford Geertz, “cultura é um sistema de símbolos e significados. Compreende categorias ou unidades e regras sobre relações e modos de comportamento”. Portanto, estudar uma cultura é estudar um código de símbolos partilhados pelos membros dessa cultura. O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura. (LARAIA, R. de B.) 10 OBJETIVOS DO ESTUDO Compreender a forma que compartilhamos, assimilamos e reinterpretamos a cultura. 11 PROBLEMATIZAÇÃO Como podemos compreender a cultura brasileira e a cultura mundial na contemporaneidade? Existe, nos dias de hoje, uma cultura hegemônica? A globalização é responsável por uma descaracterização das diferentes culturas do mundo? 12 REFLEXÕES SOBRE O TEMA Primeira Página do Planeta Diário: A morte do Superman Após derrotar o terrível monstro chamado Apocalypse, o corpo inerte do herói jaz sem vida sobre os escombros de uma Metrópolis parcialmente destruída. O que será de “nós” agora? O que será do “mundo”?... O que será da (Norte) América? Em 1993 a DC Comics, editora detentora dos direitos sobre o personagem criado por Jerry Siegel e Joe Shuster em 1938, produziu uma história em quadrinhos que obteve grande repercussão. Nesta história, o primeiro e mais famoso dos super- [...] Nos anos que virão, algumas testemunhas vão falar muito sobre este confronto insano. Outros irão lembrar da enorme cratera que resultou dos golpes. Mas a maioria irá se lembrar deste triste dia como o dia em que o homem mais nobre de todos os tempos finalmente tombou. Para aqueles que o amaram, aquela que o chamaria de marido [Lois Lane], aquele que foi seu amigo [Jimmy Olsen] ou aqueles que o chamaram de filho, este é o dia mais sombrio de suas vidas. Eles [seus pais] o criaram para ser um herói, para saber o valor do sacrifício. Para saber o valor da vida. [...} Para uma cidade viver, um homem deu tudo de si... e mais. Mas é tarde demais. Pois este é o dia em que o Superman morreu. (A morte do Superman, DC Comics, p.152-157) 13 heróis empreendeu sua mais violenta e definitiva aventura, da qual não escapou vivo. Seu funeral foi bonito e digno de um verdadeiro herói. Todos compareceram, inclusive o então Presidente Bill Clinton e a Primeira Dama. Nada mais justo após todos os anos de “serviços” prestados por ele à nação norte-americana. Jamais voltaríamos a voar com o Superman novamente. Jamais, como Peter Pan, ele voltaria a nos levar à Terra-do-Nunca. Uma notícia dramática e dolorosa para todo fã de “Histórias em Quadrinhos”, mas também bastante significativa. Por que aquele que foi o maior e mais poderoso super-herói da Terra teve que morrer?... A DC Comics chegou a garantir que não havia sido um golpe publicitário e que a morte do personagem havia sido decidida de forma definitiva. No entanto, a inesperada repercussão a fizera repensar sua decisão de encerrar com as revistas do personagem. Foi então, que outras edições se seguiram depois. Porém, estas estavam destinadas a ressuscitá-lo. Quatro Supermans se apresentaram a Metrópolis e ao mundo. Um jovem Superboy com cara de latino e jeito irreverente. Um ser cibernético, metade humano e metade máquina, resultado de uma modernidade insana. Outro afro-americano, voltado aos excluídos e segregados da sociedade. E, um último, sombrio, de aspecto cruel e contaminado pela violência das cidades. O grande mistério que se colocou então foi: qual seria o verdadeiro? Qual seria o escolhido pela DC Comics, para ser o “novo Superman”? Deveria ser aquele que melhor se identificasse com o público que ele deveria (re)conquistar. Apenas na última edição a verdade se revelou. Ao final, nenhum dos quatro foi o escolhido e, sim, um quinto que, resguardadas algumas características físicas básicas do original, se aproximou mais do homem comum, morador normal de qualquer cidade do mundo. Seu uniforme não exaltava mais as cores da bandeira dos Estados Unidos, mas era uma mescla de cores difusas e metálicas, sem nacionalidade aparente. E, como um ser de energia, ele viajava agora nos cabos de conduíte à velocidade da luz em ondas que interligam um mundo de realidade integrada e globalizante. Renascido e pronto para 14 o novo milênio, ele voltava a nos assediar para mais uma vez tentar nos seduzir, não com um interesse “norte-americanizante” como antes, mas com o mesmo interesse capitalista sob um novo uniforme, para mais tarde retornar a sua velha forma. Talvez, morrer tenha valido a pena, afinal?... 15 CONCEITUAÇÃO DO TEMA Cultura e sua dinâmica É certo que a comunicação de massa tende a padronizar e a homogeneizar os produtos e os públicos. As diferenciações culturais, políticas, comportamentais, ideológicas e éticas tendem a ser contornadas ou mesmo a desaparecer em favor da internacionalização, ou numa palavra mais atualizada, em favor da globalização. As relações culturais estão permeadas por questões de poder e hierarquização, levando esta internacionalização a significar necessariamente em uma de descaracterização da cultura do mais fraco em favor da do mais forte. O processo de aculturação ocorre a partir da recepção e assimilação até certo ponto involuntária dos elementos culturais de um grupo humano por parte de outro em detrimento dos componentes de sua própria cultura. De acordo com Gimeno Sacristán, a modernidade aborda a diversidade de duas formas básicas: através da assimilação de tudo que é diferente a padrões unitários e universalizantes ou segregando em categorias fora da normalidade de uma cultura dominante, fazendo com que a multiplicidade e heterogeneidade das culturas cedam espaço à homogeneização, papel, aparentemente, fundamental da comunicação de massa. 16 Muitos consideram o cinema hollywoodiano uma “fábrica de sonhos” de pura alienação, que afasta o espectador de sua realidade, oferecendo os carros magníficos, as luxuosas mansões e a vida glamorosa e de aventura de seus personagens, propondo o sonho e a fantasia contra as agruras do dia a dia. Um modelo do qual “aprendemos” a gostar, feito de narrativas rápidas e happy ends. Tendemos a considerar chatos ou sem atrativo, filmes europeus ou mesmo brasileiros que não tenham esse mesmo ritmo. Nessa linha do intertainment (entretenimento e diversão) caminha o cinema, mas também os quadrinhos, levando sua diversão mas também suas mensagens e os padrões de valores da sociedade que os produziu. E não poderia ser diferente, toda a obra, seja qual for, retrata aquele que a criou, suas concepções, suas crenças, as normas de sua instituição ou empresa e as noções de valores da sua sociedade e de seu país. Como toda a produção cultural, os quadrinhos estão impregnados pelo ar de seu tempo porque são obra de alguém que vive e sofre todas as influências de sua época e de seu meio. Seus personagens,mesmo que de forma ficcional, refletem os anseios, preocupações, valores, padrões e vivências de seus autores em seu tempo. O caráter coletivo das representações mentais decorre do fato de que elas são o resultado de estímulos transmitidos pelo ambiente cultural, ou seja, de condições históricas e sociais determinadas. (AZEVEDO, Cecília,In ABREU; SOIHET. Identidades compartilhadas: a identidade nacional em questão, p.43) o sujeito sempre fala de um lugar, de uma história, de uma cultura, de uma linguagem particular, cujo peso na construção de sua subjetividade e de sua identidade não pode ser negligenciado. (AZEVEDO, Cecília,In ABREU; SOIHET. Identidades compartilhadas: a identidade nacional em questão, p.50-51) 17 A centralidade atribuída à produção cultural e à comunicação de massa traz à tona as questões quanto à diversidade de culturas existentes hoje e de como lidar com essa realidade multicultural que se apresenta como um indicador do caráter plural das sociedades contemporâneas. Existem inúmeras e diversas culturas, que de modo algum podemos qualificar entre superiores ou inferiores. As diferenças culturais são frutos de fatores diversos que determinaram os meios necessários à sobrevivência e da relação com o meio. O respeito e o entendimento quanto a estas diferenças representa o ponto fundamental, não no sentido de levar a uma aceitação ou tolerância em relação a uma pretensa cultura dominante, mas sim com o objetivo de levar a um diálogo entre as culturas que relacione e integre, proporcionando o entendimento, a inter- relação e a assimilação. O fato de termos hoje uma maior consciência da influência da cultura norte-americana de forma hegemônica não nos livra absolutamente dela. Além do que, nos descartarmos de todos os elementos dessa cultura, mesmo que fosse possível, não teria sentido, já que fazem parte agora também do que chamamos de “nossa cultura”, depois que muitos deles nós já engolimos, digerimos e abrasileiramos “`a moda Sardinha” como proposto em 1922 no Manifesto Antropofágico por Mário de Andrade. Na verdade o que se estabelece é um diálogo entre as culturas, que pode em um primeiro momento ser dominado pelo mais forte, que acaba por se sobrepor. Mas a relação mesmo que hegemônica por um lado, permite a troca e assimilação mútua que hibridiza e molda a seu jeito os elementos, como componentes de uma cultura multifacetada. Ao abrasileirarmos a cultura norte- [...] nas sociedades em que vivemos os processos de hibridização cultural são intensos e mobilizadores da construção de identidades abertas, em construção permanente, o que supõe que as culturas não são ”puras”. (CANDAU,Vera Maria,In MOREIRA, CANDAU.(org). Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas, p.22) 18 americana, a cobrimos com nossas cores e tropicalismo, alterando a nosso gosto seu ritmo e tons, sua identidade e pertencimento, rejeitando àquilo que não nos interessava. O terrível destino do Superman já estava traçado. Como ele poderia ter resistido e sobrevivido a algo assim?... O que matou realmente o último filho de Kripton? Se morrer valeu a pena para reconquistar o mercado de quadrinhos, o que levou a que suas vendas decaíssem? Seria por que o modelo que ele cumpriu defender ao longo de tantos anos já não nos empolgava da mesma forma? Antes, ele jamais teria sucumbido a monstro algum, por mais apocalíptico que fosse. Os quadrinhos do Superman, assim como de outros personagens, juntamente com a Coca-Cola, a calça jeans, o cinema e a música, marcaram, a partir da década de 20, a divulgação do chamado american way of life, isto é, do “estilo de vida (norte)-americano” pelo mundo, norte-americanizando a cultura do século XX. Quando finalmente terminou a Primeira Guerra Mundial em 1918, a Europa, após quatro anos de conflito, ficou completamente arrasada. Para dar conta da guerra as potências europeias haviam mobilizado todos os seus recursos e indústrias para a fabricação de armamentos e, por fim, acabaram por perder a hegemonia econômica mundial, dando o espaço necessário para que os Estados Unidos se tornassem a nova potência mundial. Até então o domínio político, econômico e cultural do mundo estivera essencialmente em mãos europeias. Desde o século XIX, Inglaterra e França detinham os dois maiores impérios coloniais, ditando uma cultura de supremacia e superioridade europeias sobre o restante do mundo. O desenvolvimento da produção industrial e do avanço científico-tecnológico haviam levado a Inglaterra a ser vista como a oficina do mundo, enquanto a França, e em especial, Paris, firmara-se como o centro universal do bem-estar, do conforto e da cultura, com seus cafés-concertos, 19 balés, operetas, livrarias, teatros e boulevards. Porém, o final da Primeira Guerra trouxe uma nova realidade na qual os Estados Unidos despontaram como uma nova potência capitalista, passando a viver uma fase de grande prosperidade econômica, particularmente na década de 20. Nesse período, os norte- americanos foram tomados por uma grande euforia. Fabricavam e compravam quase tudo. Foram os chamados “anos felizes”, a partir dos quais o american way of life foi divulgado para o mundo, principalmente através do cinema, incentivando ao consumo de todo o tipo de produtos, automóveis e eletrodomésticos. Viver bem tornou-se então sinônimo de consumir sempre mais, toda e qualquer novidade da indústria. Mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial, Walt Disney veio até a América do Sul a pedido do governo norte-americano para auxiliar na chamada Política de Boa Vizinhança adotada pelos Estados Unidos em relação aos países da América Latina. Foi quando ele visitou o Brasil e providenciou a criação de Zé Carioca para ser amigo de Pato Donald numa das mais eficazes peças de propaganda “estadunidense”, o desenho animado Você já Foi à Bahia?, que seus estúdios produziram em 1945. Desde a criação, em 1940, do chamado “Birô” (Office of the Coordinator of Inter-American Affair), para coordenar as relações econômicas e culturais dos EUA com a América Latina, que cursos e colégios foram organizados e financiados pelos norte-americanos, com incentivo ao ensino da língua inglesa e ao estudo da América, com ênfase, à História dos Estados Unidos. Após a Segunda Guerra Mundial, a Europa perdeu definitivamente sua posição de liderança internacional. Seu lugar foi ocupado por Estados Unidos e União Soviética que se tornaram as grandes potências mundiais do pós-guerra. Os norte-americanos lideraram o bloco dos países capitalistas; e os soviéticos, o bloco dos países socialistas. Disputando áreas de influência em todo o mundo, Estados Unidos e União Soviética viveram um período de graves tensões, denominado Guerra Fria. Os países pobres do chamado então Terceiro Mundo foram os principais alvos dessa disputa. Iniciada 20 em 1946. a Guerra Fria caracterizou-se pela extrema rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética. O clima de rivalidade somado aos interesses das indústrias de armamentos levou as grandes potências à chamada corrida armamentista. Em 1949, formou-se uma aliança militar entre os países da Europa Ocidental, que pertenciam à área de influência dos Estados Unidos. Essa aliança ficou conhecida como Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Depois, em 1955, revidando a criação da OTAN, os países do bloco socialista da Europa Oriental firmaram uma aliança de ajuda militar mútua por meio do Pacto de Varsóvia. Em 1947, o presidente norte-americano Harry Truman proferiu um intransigente discurso contra o que chamou de ameaça comunista: “os povos livres do mundo olham para nós esperando apoio na manutenção de sua liberdade...”. Neste discurso Truman afirmou que os EUA assumiam o compromisso de defender o mundo dos soviéticos e decretou com esta atitude o fim da coexistência pacífica. A partir deste momento, os países do mundo tiveram que definir seu posicionamento, seao lado dos Estados Unidos ou contra ele na luta pela defesa do chamado mundo-livre, que, em verdade, significava a defesa dos interesses norte-americanos e de sua hegemonia. A partir de então, os capitais, o comércio e as empresas norte-americanas tornaram-se dominantes em todos os países da América Latina, demonstrando mais que em qualquer outra região do planeta que a Guerra Fria constituiu-se, na verdade, em um grande instrumento de controle dos Estados Unidos sobre os governos, povos e economias locais. O uso político do discurso anti-soviético visava sobretudo legitimar a ação contra qualquer atitude que atrapalhasse os interesses dos Estados Unidos nesses países. Em 1951, o senador norte-americano Joseph McCarthy iniciou um movimento de perseguição a supostos simpatizantes do comunismo nos Estados Unidos que ficou conhecido como macarthismo, que passou a investigar a vida pessoal principalmente de intelectuais e artistas suspeitos de atividades 21 consideradas “subversivas”, promovendo audiências públicas, nas quais essas pessoas eram obrigadas a depor. Entre alguns dos investigados estavam algumas figuras conhecidas, como o famoso cineasta Charles Chaplin. A partir de então toda a produção cultural estadunidense deste período, filmes, séries de TV, desenhos animados, quadrinhos, esteve engajada com a idealização da sociedade capitalista norte-americana, utilizando- se de mitos e imagens que manipulassem com a imaginação das populações. A “ameaça soviética” e a “defesa do mundo-livre” constituíram-se em mitos mobilizadores e legitimadores dos norte-americanos como os “grandes heróis” do ocidente contra os “vilões soviéticos”. Os anos que se seguiram, até a década de 80, portanto, foram anos de uma produção cultural norte-americana marcada pela Guerra Fria, com filmes como os de James Bond, com títulos significativos como Moscou contra 007 (From Russian with Love), Rocky IV e a luta contra um terrível boxeador soviético no ringue. De séries como Jornada nas Estrelas (Star Trek) em que os grandes inimigos vinham do lado oriental da galáxia,— nenhum astrônomo até hoje jamais ouviu falar em um lado “oriental” da galáxia — os chamados Klingons. Outras séries voltadas à temática de espionagem como Missão Impossível e Agentes da ANCLE, que valorizaram os “superagentes” norte-americanos e suas habilidades. Desenhos animados como Transformers e suas duas grandes potências robóticas alienígenas em disputa, os bondosos cybertrons, contra os maldosos decepticons. Nos quadrinhos também a questão Estados Unidos versus União Soviética se colocou. Os famosos X-Men tiveram seu mais terrível e cruel inimigo na figura de um mutante soviético superpoderoso chamado Ômega Red, o Homem de Ferro teve também seus maiores inimigos entre personagem orientais, como o soviético Homem de Titânio e o chinês Mandarin (a China tornou-se socialista em 1949 após uma revolução liderada por Mao Tsè- Tung). Superman também esteve fortemente engajado e voltado a enculcar em seu público os valores e os padrões norte- americanos. Mais do que qualquer outro personagem ele era o 22 super-herói que partia dos Estados Unidos para salvar o mundo. O homem perfeito, sem defeitos, escoteiro e paladino do bem, o ideal de homem norte-americano. Um deus entre os homens, um predestinado que levava as cores da bandeira estadunidense ao mundo. Os diversos campos da cultura não escaparam. Utilizando principalmente os meios de comunicação de massa, as mensagens difundidas pela indústria cultural conduziram a viver, pensar e consequentemente consumir toda a sorte de produtos “made in USA”. Surgida no Brasil em 1965, sob a proteção do governo militar, a TV Globo mostrou-se perfeita para atender aos interesses do capital norte-americano, tornando-se a mais poderosa rede de televisão brasileira. Com ela, veio a padronização de uma forma brasileira de “ser” sob os tons da cultura norte-americana. Já em 1933, Noel Rosa denunciava em um samba a influência que sofríamos principalmente dos filmes de Hollywood, que cada vez mais provocavam filas enormes nos cinemas, antevendo a exagerada presença de elementos norte-americanos em nosso cotidiano mais recente: nos supermercados, nas lojas de roupas e calçados, na programação das rádios e TV, revistas e videogames. Ao público infanto-juvenil, grande consumidor de TV, quadrinhos, brinquedos e videogames, foram destinados conteúdos e mensagens de profundo cunho “norte- americanizante”, como também denunciou Renato Russo através da letra inteligente de sua música “Geração Coca-Cola”: Quando nascemos fomos programados A receber o que vocês nos empurraram Com os enlatados dos USA, de 9 às 6 Desde pequenos nós comemos lixo Comercial e industrial Mas agora chegou nossa vez Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês Somos os filhos da revolução (Renato Russo 1985) Na América Latina, crise e mobilização popular começaram 23 a se avolumar, onde cinturões de miséria das grandes cidades eram engrossados pela explosão demográfica e pelo êxodo rural. A inflação, as desigualdades sociais, o analfabetismo e o baixo nível de vida e saúde criaram condições para a expansão de movimentos democráticos nacionais, que atritavam com as oligarquias (grupos dominantes) locais e com os interesses estrangeiros, principalmente norte-americanos. Em Cuba, Fidel Castro, em 1959, derrubou com uma revolução popular a ditadura de Fulgêncio Batista, tirando das mãos de grupos norte- americanos o domínio dos principais setores da economia do país. Profundamente insatisfeitos e pretendendo a qualquer custo derrubar o novo regime cubano, os Estados unidos promoveram várias ações contra a ilha, entre elas, a expulsão de Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos). Politicamente, os barbudos de Havana passaram a representar um desafio inaceitável, um mau exemplo para os outros países da América Latina sob sua influência que precisava ser neutralizado. Porém, os Estados Unidos jamais conseguiram derrubar Fidel Castro e seu regime socialista na América, mesmo depois da queda da União Soviética em 1991. E o “mau exemplo” vingou. Mais do que isso, movimentos internos identitários e de contraposição a intervenções norte-americanas começaram a se multiplicar entre os países latino-americanos. Movimentos impulsionados contra governos de elites que por décadas e décadas se mantiveram no poder despojando de qualquer cidadania a maior parte da população. A maioria destas elites e destes governos autoritários colocados em check eram apoiados pelos Estados Unidos em sua manutenção no poder. A latino-américa cada vez mais voltou-se para si mesma e para a construção de uma identidade própria, surgida de sua própria sociedade, realidade e cultura, afastando-se do modelo norte-americano. Clark Kent já não nos enganava mais ao colocar seus óculos, ríamos do ridículo de seu disfarce e zombávamos de seus poderes. A ingenuidade finalmente havia sucumbido, e com ela a invulnerabilidade do Superman. O Homem de Aço de forma alguma estava preparado para os novos tempos e para 24 o terrível monstro, que caído do espaço, lhe serviu de algoz e carrasco. O Superman retornou da morte, seguindo uma tendência inaugurada na década de 60 por Stan Lee da Marvel Comics, rival da DC. Com sua principal criação, o Homem-Aranha, Stan Lee trouxe a ideia de um herói humano que se identificava com seus leitores. Antes da era iniciada por ele, os super-heróis eram seres à semelhança de deuses, indestrutíveis e infalíveis, acima de qualquer ser humano comum e de suas fraquezas ou temores. O Homem-Aranha fugia a essa regra e foi uma revolução, pela primeira vez na história dos quadrinhos um personagem ganhava o coração dos leitores não apenas pelos feitos heroicos e poderes espetaculares, mas por também, e principalmente, amargar os mesmos problemas que as pessoas comuns vivem todos os dias. Filho típico da década de 60, o Homem-Aranharefletiu o movimento da contracultura de contestação político-cultural aos velhos valores e à Guerra do Vietnã em pleno período das disputas entre Estados Unidos e União soviética. Nos EUA, milhares de jovens recusavam-se a partir para o desconhecido em uma guerra que não era sua. Essa foi a fonte de inspiração do movimento hippie e seu lema: “Faça amor, não faça guerra”. Inconformados com a família, o governo, as injustiças sociais e a segregação racial, os jovens disseram não, e passaram a discutir abertamente temas como sexo e drogas. Possivelmente nenhuma forma de manifestação artista identificou-se mais com o jovem do que o rock’n’roll, como forma de expressar toda sua rebeldia e contestação à sociedade conservadora, opressora e bélica, que o cercava. Em termos de mercado, o filme do Homem-Aranha, de 2002, foi o amadurecimento de uma tendência que vinha se formando desde a década de 70, quando George Lucas transformou seu filme Guerra nas Estrelas num evento muito além do cinema. O filme foi um trampolim para a venda de brinquedos, biscoitos, cadernos, jogos, estratégia seguida principalmente pela Disney em seus lançamentos desde então. Com o mercado de games, 25 CDs e DVDs que se expandiu a partir do final da década de 90, grande parte dos filmes saídos de Hollywood seguiu o mesmo percurso. Poucos meses antes da estreia, o mercado é invadido por uma enxurrada de produtos ligados ao filme. Os recentes lançamentos e continuações como Senhor dos Anéis, Batman, Harry Potter e Vingadores, reeditam a fórmula de sucesso, alcançando só em bilheteria nos cinemas vários e vários milhões de dólares e milhares de produtos licenciados em todo o mundo. 26 A cultura norte-americana no Brasil, assim como em outros países do mundo, se tornou dominante durante o século XX. Sua linguagem e padrões se tornaram mundiais e foram assimilados por todos os povos que sofreram o processo massivo dos meios de comunicação. No entanto, todas as culturas exercem e sofrem influências mesmo que em diferentes níveis. Quando uma cultura se sobrepõe a outra, ela também sofre influências e se transforma, se molda, hibridiza, adquirindo um pouco da cultura sobre a qual se sobrepôs. Podemos então compreender que, como resultante desses processos, a cultura brasileira, diria o antropólogo Darcy Ribeiro, é como um caldeirão, onde estão misturados diferentes e variados ingredientes que já não podem ser distinguidos uns dos outros, mas que somados e tão somente somados, são eles que compõem e dão o tempero à cultura brasileira. SISTEMATIZANDO 27 REFERÊNCIAS BURKE, P. O que é história cultural? 2ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo, Fundação Editora da UNESP (FEU), 1999. CAMPBELL, J. O herói de mil faces. São Paulo: Editora Pensamento- Cultrix Ltda., 2000. CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 3.ed. São Paulo: Ed. USP, 2000. CARMO, Paulo Sérgio do. A ideologia do trabalho. São Paulo: Moderna, 1992. CHAUI, Marilena. Perspectivas antropológicas da mulher. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. HAMILTON, Edith. Mitologia. São Paulo: Martins Fontes, 1999. HOBSBAWN, Eric. A Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. HOBSBAWN, Eric. Sobre a história. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. HOBSBAWN, Eric. A Era dos impérios: 1875-1914. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009. JÚLIA, F.A. A invasão cultural norte-americana. 26ª edição. São Paulo: Editora Moderna, 1998. MARTINS, L. A. MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 1ª edição. São Paulo: Moderna, 1992. MOREIRA, A. F. CANDAU, V. M.(Orgs) Multiculturalismo: diferenças culturais e Práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2008. ORTIZ, R. Cultura Brasileira & Identidade Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 2003. 28 PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. SILVA, T. T. (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 3ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000 SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2006. SIMONSON, Louise. A morte do Superman. São Paulo: Abril Jovem, 1993 (edição especial). 1º Bimestre - Unidade 1.2 O Homem e a Vida em Sociedade Cultura e Sociedade Osvaldo Luís Meza Siqueira S618 Siqueira, Osvaldo Luís Meza. Cultura e sociedade [recurso eletrônico] / Osvaldo Luís Meza Siqueira. - Curitiba: UTP, 2013. 196p. ISBN 978-85-7968-042-7 ISBN 978-85-7968-043-4 - Disponível em: http://ead.utp.edu.br 1. Cultura. 2. Sociedade. 3. Cidadania. I. Siqueira, Osvaldo Luís Meza. II.Título. CDD – 301.02 Material de uso didático. Reitoria Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitoria de Planejamento e Avaliação Afonso Celso Rangel dos Santos Pró-Reitoria Administrativa Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitoria Acadêmica Carmen Luiza da Silva Divisão Acadêmica Marlei Gomes da Silva Malinoski Divisão Pedagógica Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder Divisão Tecnológica Flávio Taniguchi Haydée Silva Guibor Neilor Pereira Stockler Junior Projeto Gráfico Neilor Pereira Stockler Junior Editoração Eletrônica Haydée Silva Guibor Todos os direitos desta edição reservados à Universidade Tuiuti do Paraná. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida e transmitida sem prévia autorização. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos” Universidade Tuiuti do Paraná 3 NOTAS SOBRE O AUTOR Possui graduação em Licenciatura em História pela Universidade Tuiuti do Paraná (1999) e especialização em Metodologia do Ensino de História pela Faculdade Internacional de Curitiba (2001). Atualmente é professor da Universidade Tuiuti do Paraná, professor da Sociedade de Ensino Unificado, professor da Escola Social Madre Clélia e professor do Grupo Educacional UNINTER. Tem experiência na área de História, com ênfase em Metodologia do Ensino de História. 4 Citação Referencial Destaque Dica do Professor Explicação do Professor Material On-Line Para Reflexão ORIENTAÇÃO PARA LEITURA 5 APRESENTAÇÃO Educação a Distância Instrumentalizando e Otimizando a Extensão A educação a distância, EAD tem sido tema da agenda de inúmeras organizações (acadêmicas, sociais e políticas), em virtude do seu impacto em todas as dimensões do homem moderno. Bem mais do que meras discussões em relação à importância, aos desafios e a própria história do tema, iniciativas concretas e projetos com abrangência internacional, nacional, regional e local estão sendo executada. Desta forma a EAD deixa de ser apenas um tópico nas discussões para adquirir forma e consistência no cenário em foco em crescimento exponencial. O crescimento da EAD na extensão se faz mais forte graças ao e-learning, o qual conta com o apoio das redes de comunicação, em especial, a internet, que está a alavancar, a desenvolver e transformar o modelo educacional vigente a desafiar professores, técnicos e alunos a desempenharem novos papéis diante das necessidades de uma prática pedagógica, a qual se encontra em fase de descoberta e de estruturação. A operacionalização da EAD na extensão tem sido observada em todo o mundo em especial no Brasil, principalmente nos cursos de Extensão Universitária os quais são voltados, preferencialmente, para os acadêmicos de qualquer curso de graduação que queiram aprofundar os conhecimentos já adquiridos em sala de aula ou, que desejam ampliar seu foco de estudos, possibilitando assim, uma aproximação maior com o cenário profissional futuro, além de contribuir para aquisição de novos conhecimentos. A EAD na extensão pode ser usada pela Instituição para atender percentual exigido pelo currículo no tocante a questão Atividade Complementar.No referente à educação continuada ela visa capacitar pessoas e atender as exigências do mercado de massa crítica qualificada. Além destes aspectos positivos a EAD aplicada à extensão apresenta inúmeras vantagens, entre estas se nomina: o fomento da educação continuada, o novo conceito de sala de aula, de professor e de aluno, a perspectiva política e social desta modalidade educativa, uma vez que além de democratizar o 6 acesso ao mundo do ensino, capacita o trabalhador, permitindo- lhe que se mantenha ou adentre no mercado de trabalho. Destaca-se ainda, a flexibilidade da legislação no tocante à sua execução, vez que pode ser executada,sem o preconizado pelas Portarias e Decretos Regulatórios tais como o Decreto 5622, e a Portaria 2/2007, editada pelo Ministério da Educação, a qual segundo o próprio Secretário é muito restritiva no que concerne à criação dos polos e a exigência de avaliações presenciais. Estas vantagens talvez sejam responsáveis pela proliferação de cursos de extensão na modalidade de educação a distância, capacitando recursos humanos, investindo em novas tecnologias e pesquisas que, certamente, proporcionarão à comunidade uma participação ativa no processo, ocupando oportunidades de trabalho e adquirindo condições para formação continuada e aprendizado por toda vida. No entanto, é preciso destacar que, para que os cursos de extensão na modalidade EAD tenham o sucesso esperado, é necessário que a Instituição alie a vontade política à pedagógica, ou que implica que a Instituição assegure uma infraestrutura tecnológica, pedagógica e administrativa de qualidade; é necessário que haja um bom gestor deste sistema, com competência para assegurar que a integração do ensino com a pesquisa e com a extensão seja mediada pelas tecnologias de comunicação e de informação; é preciso que haja um Planejamento Estratégico que unifique os demais tipos de planejamento e garanta a participação de todos, bem como um fluxo comunicacional multidirecional de qualidade. A EAD deve oportunizar a reescrita da história institucional e a manutenção de sua memória, além de possibilitar o fomento do e-learning na instituição, o qual possibilitará por sua vez a abertura de novas parcerias com empresas e serviços regionais, nacionais e internacionais. Pelo exposto pode se constatar que a educação a distância representa indiscutivelmente um dos temas atuais da sociedade globalizada, sendo objeto de interesse da empresa, do Estado e alvo de incentivos materiais e financeiros para projetos inovadores, os quais por sua vez representam excelentes oportunidades de trabalho e aprendizado. Pró-Reitoria de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão 7 SUMÁRIO Unidade 1.2 O HOMEM E A VIDA EM SOCIEDADE INTRODUÇÃO AO ESTUDO ........................................................ OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................ PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................... CONCEITUAÇÃO DO TEMA ........................................................ Regras e normas para a vida em sociedade ................................ Sociedade e ideologia.................................................................... Nazismo e antissemitismo ............................................................ REFERÊNCIAS ............................................................................. 8 11 12 13 13 15 17 22 8 INTRODUÇÃO AO ESTUDO A História estuda o homem no tempo, ou ainda, a trajetória das sociedades humanas ao longo do tempo. Nesse sentido, o conhecimento histórico alarga a compreensão do homem sobre si mesmo e sobre sua sociedade enquanto ser que constrói sua trajetória no mundo. De acordo com Klaus Bergmann, a história tem por preocupação “possibilitar uma consciência histórica”, de tal maneira que forneça uma identificação do indivíduo com o coletivo e dele mesmo como agente dentro do processo histórico. Como disse o historiador da contemporaneidade, Eric Hobsbawn, “Não há povo sem história ou que possa ser compreendido sem ela.” Portanto, todo o ser humano produz história individualmente e em sociedade. Desde a pré-história e das chamadas comunidades primitivas o homem vive em agrupamentos e produz sua história em sociedade e a partir dela. Se nos dedicarmos a um olhar mais próximo e detalhado, veremos a história de cada indivíduo, mas se, no entanto, nos dedicarmos a um olhar mais distanciado e macro, veremos a história da comunidade, que é a história da sociedade como um todo. [...] Ao nos aproximarmos de certa dimensão da existência humana, podemos ver precisamente como cada indivíduo se desvincula dos demais; assumindo um ponto de vista mais distanciado, percebemos o indivíduo enquanto tal desaparecer e, em seu lugar, se nos revelar a imagem de uma “sociedade” com suas formar e cores próprias, imagem que surge com... 9 Os primeiros grupos humanos dependiam inteiramente da natureza, e tentando dominá-la desenvolveram instrumentos cada vez mais elaborados, de pedras, ossos, pedaços de madeira. Organizaram-se inicialmente em bandos para poderem sobreviver, pois o homem, comparado a outros seres vivos que habitam o planeta, é bastante frágil e indefeso, tornando o grupo a única forma possível de sobrevivência. Portanto, para o homem, desde o primeiro momento de sua história, viver em sociedade tornou-se uma necessidade fundamental. A princípio, nas comunidades pré-históricas, existia uma forma de apropriação coletiva dos bens necessários à sobrevivência, isto é, tudo era compartilhado entre todos. A divisão do trabalho se dava naturalmente entre o homem, a mulher, a criança e o velho, de acordo com as possibilidades físicas de cada um. A cooperação era indispensável para a sobrevivência do grupo e, portanto, do indivíduo. É importante ressaltar que denominamos de período Pré-Histórico porque se refere a um período anterior ao surgimento da escrita, e, portanto, anterior ao que chamamos convencionalmente de História, já que o homem ainda não registrava, através de uma escrita, dados, informações sobre seu mundo, cotidiano, costumes e vida. Mas, no entanto, ele não deixava de ter um cotidiano cercado de acontecimentos individuais e coletivos que permeavam sua vida, e que, portanto, lhe proporcionavam uma História. Foi a descoberta e o domínio da agricultura, chamada de revolução agrícola, que levou o homem a passar de caçador, pescador e coletor que vivia em bandos nômades a procura de alimentos, à condição de agricultor e pastor sedentário, produtor de sua própria sobrevivência. ... a possibilidade de ser conhecida com maior ou menor precisão, mas que de modo algum terá menos valor que a imagem na qual as partes se separam uma das outras, ou ainda da imagem na qual serve apenas como estudo preliminar das partes. (SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da sociologia, p.14) 10 Numa economia produtora, a vida sedentária e mais segura de uma aldeia, tornou possível o crescimento da população, o desenvolvimento de uma cultura mais elaborada e também o aumento da complexidade da vida em sociedade, das tarefas e das relações sociais. Com o passar do tempo estas aldeias, a partir do gradual aumento da complexidade da vida em sociedade, levaram ao surgimento de cidades, ao aparecimento do Estado (aqui caracterizado como a soma de um território, um povo e um poder político constituído) e das primeiras civilizações. Com um controle maior sobre a natureza foi possível produzir além do estritamente necessário à sobrevivência do grupo, levando ao surgimento do excedente de produção (sobra) e com ele à ideia de propriedade. O Estado seria então, o poder instituído que agiria como defensor da propriedade privada e de seus detentores, e também como árbitro entre as diferentes classes sociais que se formaram. A civilização representaria, então, o estágio de maior complexidadeda sociedade, em que já se tem uma cultura própria, um Estado constituído com seu corpo administrativo e força militar, diferentes grupos sociais e divisão social do trabalho, isto é, cada grupo produz de acordo com seu nível social, portanto, havendo acumulação de riqueza e exploração do trabalho de um grupo social sobre outro. Poderíamos interpretar, ironicamente, que ao nos tornarmos civilizados deixamos de ser cooperativos em nossa vida em sociedade para nos tornarmos exploradores. 11 OBJETIVOS DO ESTUDO Compreensão do homem sobre si mesmo e sobre sua sociedade enquanto ser que constrói sua trajetória no mundo. 12 PROBLEMATIZAÇÃO O poder cultural é uma forma reguladora da vida do homem em sociedade? 13 Regras e normas para a vida em sociedade É possível dizer que a sociedade humana surge porque o homem é um ser capaz de criar interdições, isto é, proibições, normas que definem o que pode e o que não pode ser feito, a fim de estabelecer regras que normatizem a vida em comum. Portanto, cada sociedade, para a vida em comum, isto é, em comunidade, estabelece seus valores morais de certo e errado, de bem e mal, de permitido e proibido. Estes chamados valores morais correspondem ao conjunto de regras e normas de conduta consideradas válidas para a vida em determinada sociedade. E estes valores resultam da experiência vivida pelo homem ao se relacionar com o mundo e com os outros homens, e que podem variar de acordo com o povo e com a época. Os valores são herdados da cultura, que de acordo com o que vimos na unidade 1.1, Ruth Benedict definiu como uma lente através da qual o homem vê o mundo, e que homens de culturas diferentes usam lentes diversas que lhes proporcionam também visões diversas de mundo. Portanto, a primeira compreensão que temos do mundo é fundada no solo da comunidade em que vivemos. Esses valores nos chegam através do que chamamos de senso comum (o conhecimento espontâneo ou conhecimento CONCEITUAÇÃO DO TEMA 14 vulgar) que representa a forma geral de agir e pensar, condicionado a partir de uma determinada interpretação de mundo e da visão que o homem tem de si próprio de acordo com as mais diversas culturas. Nesse sentido, podemos deduzir que o homem é o resultado do que a cultura faz com que ele seja, de forma a prepará-lo como indivíduo pertencente a uma determinada sociedade. Para tanto, a sociedade impõe controle sobre o comportamento de seus indivíduos. Esse controle pode ser estabelecido através de instrumentos de coerção formais estabelecidos a partir do poder político vigente, ou de maneira informal, pela própria sociedade e de seus membros sobre o indivíduo, através da família, do grupo social, dos amigos, da Igreja. Aqueles elementos que são transgressores, que não seguem às normas e regras estabelecidas são marginalizados, isto é, colocados à margem da sociedade. Para o filósofo francês Michel Foucault o poder está além e aquém do Estado. Não é uma coisa tão somente de leis constituídas. Sequer, é exclusividade de um grupo, na hierarquia institucional. Poder é exercício local de forças, sempre móveis e mutáveis, do interior das relações que se estabelecem, e não algo que acontece de cima para baixo tão somente, por ação de lei ou de regulamentação. Corresponde a uma tensão constante no dia a dia, e não por força de determinados “grupos de poder”. Para Foucault, política e poder estão intimamente relacionados. Política refere-se, portanto, a toda e qualquer relação de poder estabelecida na sociedade e no interior dos grupos sociais ao longo do cotidiano. Em 1977, em sua obra Vigiar e Punir, Foucault analisou as modalidades de controle da infração e do infrator no sistema penal. Voltou-se, em sua análise, à mudança que o sistema sofreu entre os períodos anteriores e a modernidade. Nos tempos anteriores a transgressão era considerada um desacato ao poder do rei, que através do chamado direito divino de governar, tornava lesar ao rei e lesar a Deus. A punição era exemplar, através do suplício, da dor, do esquartejamento, estripação, 15 da queima ou enforcamento em praça pública. A penalidade, o castigo tinha como alvo o corpo. As praças transformavam-se em verdadeiros palcos públicos, onde se desenrolava o espetáculo do suplício da “carne”. O sistema punitivo, seja em qual sociedade for, visa sempre a restauração da ordem. A forma como a restauração dessa ordem será feita, depende da estratégia do poder dominante em determinada época ou lugar. A partir deste olhar, Foucault percebeu a estratégia predominante de poder na modernidade que não se voltou mais a pena corpórea. Não se voltou mais a dor física. O alvo primordial nesse momento passa a ser o cerceamento da liberdade. O objetivo imediato tornou-se a reeducação do transgressor para que ele se livre da delinquência. Para tanto, a pena voltou-se ao tolhimento do tempo, do fazer, do lazer através da privação da liberdade. Melhor explicando, na modernidade, a ofensa não foi mais voltada ao rei e a sua soberania divina, mas ao corpo social que não exige mais a pena capital, e sim, uma resocialização do individuo ao mundo do trabalho, do capital e do respeito à propriedade. Sociedade e Ideologia Os grupos humanos precisam de regras para viver, como já vimos, mesmo que variem seu conteúdo conforme a época ou lugar, todas as comunidades têm a necessidade formal de regras morais. Portanto, ninguém nasce moral, mas torna-se moral para poder ser capaz de “con-viver”. A moral, então, surge do controle da vontade e do desejo imposto pela cultura de uma determinada sociedade. Certos atos, cujo cumprimento antes eram garantidos por força legal (leis), por constrangimento social (costumes) ou por imposição religiosa, passam a ser cumpridos por exclusiva obrigação moral. Uma visão de mundo com padrões morais e de comportamento próprios pode ser imposta a partir de uma ideologia. 16 A ideologia exerce uma função de cimento, tornando a sociedade em uma unidade que se estabelece a partir de crenças que se tornam comuns pela força das tradições ou da invenção de tradições que, conforme Eric Hobsbawn, são criadas, por exemplo, para justificar o fortalecimento ou instauração de um regime político. Foi nesse sentido que no século XX, durante as décadas de 30 e 40, foi disseminada na Alemanha a ideologia nazista. A crise do capitalismo ocorrida no início do século XX e que ficou conhecida como Crise de 29 e que abalou não somente aos Estados Unidos mas também ao mundo inteiro, após a Primeira Guerra, agravou os problemas enfrentados por diversos países da Europa e trouxe consequências desastrosas: desemprego, queda na produção, inflação e falências, que provocaram o aumento dos conflitos entre as classes sociais. Neste contexto, os governos democráticos mostraram-se impotentes perante a situação sócio-econômico que envolvia a maioria da população. Surgiram, então, ideologias políticas oportunistas, que criticavam as democracias e defendiam o fortalecimento do Poder Executivo como única solução para o caos que havia se instalado. As elites econômicas e as classes médias passaram a apoiar as novas ideologias, que defendiam a formação de governos fortes e autoritários (totalitários), capazes de restaurar a ordem e de conter as crescentes manifestações operárias de inspiração socialista. Essas Ideologias Totalitárias baseavam-se em um extremado nacionalismo, em que o Estado e os interesses [A ideologia é o conjunto de representações e ideias, bem como de normas de conduta por meio das quais o homem é levado a pensar, sentir e agir da maneira que convém à classe dominante. Essa consciência da realidade é uma falsa consciência, porque camufla a divisão existente dentro da sociedade, apresentando-a como una e harmônica, como se todos partilhassem dos mesmos objetivos e ideais. (ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires Temas de filosofia, p.58) 17 do Estadoestariam acima do cidadão, que então se tornaria submetido a uma forte censura e controle social operados através da força e de uso de violência sempre que conveniente. O Estado, a nação, passaria a caracterizar-se por uma grande centralização de poder, através de um profundo autoritarismo e da existência de um partido único. Ao final da Primeira Guerra Mundial, a Itália estava ao lado das nações vencedoras, mas nada havia lucrado com a vitória. Isso gerou uma enorme desilusão no país, agravada pela crise econômica que afetava a maioria das nações europeias. O desemprego, o atraso industrial e o aumento da dívida externa, completavam o quadro negativo que atingia o país, despertando na população italiana o desejo de mudança. Iniciou-se, então, uma fase de numerosas manifestações populares, greves e pilhagens no comércio, assustando a elite dominante, pois o governo não conseguia controlar a situação. Em meio a toda essa crise, surge Benito Mussolini, fundador do Partido Fascista Italiano, que pregava a necessidade de um governo ditatorial para eliminar os problemas sociais. Os fascistas criaram uma milícia armada conhecida como os camisas negras, que combatiam violentamente os adversários. Com essa prática, eles conseguiram conter as diversas manifestações operárias e ganharam o apoio da classe média e da elite econômica do país, finalmente apoderando-se do poder e do governo do país. A partir daí, Mussolini criou uma poderosa máquina de propaganda e empenhou-se na organização do ensino público, como meios de transmitir a doutrina fascista à sociedade. Os professores juravam fidelidade ao governo e os alunos vestiam- se com uniformes fascistas, em cerimônias especiais. Nazismo e Antissemitismo A princípio, nacionalismo poderia ser definido como um amor tão intenso pela pátria que leva ao ódio ao “outro” (o estrangeiro). A palavra “nacionalismo” apareceu pela primeira vez em fins do século XIX, para descrever grupos que brandiam 18 entusiasticamente a bandeira contra os estrangeiros e a favor de uma expansão agressiva de seus próprios Estados Foi nesta época que a canção “Deutschland Über Alles” (A Alemanha acima de todos os outros) tornou-se o hino nacional da Alemanha. A essência do nacionalismo que emergia era a apropriação do patriotismo pelo Estado. Os governos precisavam, agora, alcançar o cidadão e ligá-lo ao Estado para garantir uma eficaz obediência social. A “nação” deveria tornar-se a nova religião cívica do Estado. Para tanto, a escola deveria ensinar todas as crianças a serem bons cidadãos. O nacionalismo à medida que agregava alguns à nação identificada com o Estado, alienava outros, excluindo-os da nacionalidade oficial, como ocorreu com os povos das colônias na Ásia, África e Oceania por não pertencerem as raças europeias supostamente “superiores”. Nesse sentido, o final do século XIX e a primeira metade do século XX foi a era clássica da xenofobia, da aversão ao considerado estrangeiro, que, na Alemanha, levou ao antissemitismo, principalmente durante os anos da Grande Depressão, após 1929. O nacionalismo como ideologia consistiu em movimentos de governos voltados a sua legitimação e manutenção no poder, com programas que consistiam em resistir, excluir, derrotar, conquistar, submeter ou eliminar o “estrangeiro” e em anunciar um futuro glorioso para a nação, propondo ao povo todos os sacrifícios para alcançá-lo. À princípio, o termo fatherland (pátria) se referia a “terra natal”, simplesmente ao local ou a cidade em que a pessoa nascera e não a uma “comunidade” imaginária de centenas ou milhões de pessoas que supostamente estariam ligadas fraternalmente como filhos de um mesmo país, independente das diferenças sociais que os separassem. Como fator de unidade social, o patriotismo advindo do nacionalismo compensava a inferioridade social e igualava os cidadãos, atribuindo a culpa pelos males ao estrangeiro. Entre outros fatores, em fins do século XIX, a linguagem tornou-se um critério fundamental de identificação étnica e, portanto, de nacionalidade. 19 A crise tornou-se muito mais grave na Alemanha. Responsabilizados pela Primeira Guerra Mundial e penalizados com extremo vigor no chamado Tratado de Versalhes, os alemães tiveram que assumir a dívida da guerra e pagar indenização às potências vencedoras. A economia ficou arrasada, as taxas de desemprego eram altíssimas e a sociedade apresentava-se completamente desestruturada. Além disso, a derrota na guerra e as humilhações impostas pelo Tratado de Versalhes deixaram o orgulho nacional alemão extremamente abalado. Foi então que surgiu em Munique, em 1919 um grupo político com propostas totalitárias, nos moldes do fascismo italiano. O novo partido passou a se chamar Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais tarde transformado em Partido Nazista e liderado por Adolf Hitler. Assim como os “camisas negras” dos fascistas italianos, os nazistas também atuavam contra seus opositores com grupos denominados de tropas de assalto (SA) ou “camisas pardas”. Em 1923, os nazistas tentaram um golpe de Estado, que ficou conhecido como o Putsch de Munique ou Golpe da Cervejaria, esse levante foi abafado e Hitler foi preso. Na prisão, o líder nazista escreveu o livro Mein Kampf (Minha Luta), no qual estabeleceu os fundamentos básicos do nazismo: pregava a luta contra judeus e comunistas, responsabilizando-os pela miséria da Alemanha; defendia a superioridade da raça ariana, o nacionalismo, a necessidade de um governo totalitário e a expansão territorial, que levasse a Alemanha a conquistar o “espaço vital”, ou seja, o território necessário para seu desenvolvimento. Em 1933 o presidente Hindenburg indicou Adolf Hitler para primeiro ministro (chanceler). A partir daí, os nazistas criaram condições para que Hitler assumisse o poder no país. Então, em 1934, com a morte do presidente Hindenburg, ele tornou-se líder do governo alemão com o título de Führer, voltando-se à criação do Terceiro Reich (Império). A ditadura nazista passou a ser mantida e imposta à sociedade por um violento aparato policial formado pela antiga tropa de choque, a SA, por uma tropa de elite, a SS e pela polícia 20 secreta, a GESTAPO. Também consolidou-se utilizando para a disseminação de sua ideologia na sociedade alemã de intensa propaganda que era conduzida por Joseph Goebbels, Ministro da Educação e Propaganda. Tinha Goebbels como um de seus pensamentos favoritos “uma mentira dita cem vezes torna-se verdade“. Através da educação e da propaganda o nazismo construiu na sociedade alemã um amor extremado a nação, a seu líder, o führer, e, em contraposição, um ódio profundo ao povo judeu. Desde seus primeiros meses de poder, o nazismo iniciou sua ação de segregação e preconceito contra os judeus (antissemitismo). Já em 1933 decretou o boicote aos negócios e aos profissionais judeus, que passaram a ser vistos como causadores de decadência alemã e de todos os males sociais. Em setembro de 1935 foram decretadas as Leis de Nuremberg através das quais os judeus deixaram de ser considerados cidadãos alemães. Foram proibidos casamentos entre judeus e arianos. Todo alemão que tivesse um bisavô de origem judaica passou a ser considerado infectado e, portanto, não ariano. Os Judeus foram confinados em guetos, que eram antigos bairros já existentes nas cidades desde a Idade Média, com o objetivo de serem isolados e eliminados por fome pestes e epidemias. Os nazistas aproveitaram os judeus como mão-de-obra escrava nas indústrias principalmente de material militar. Leis obrigavam os judeus a levar em sua roupa um sinal (distintivo) de cor amarela, com uma estrela de seis pontas, com a inscrição “judeu”. Diante da aceleração das deportações para os campos de concentração e de extermínio houve revolta em muitos guetos, principalmente por parte dos jovens judeus que não concordavam com a acomodação de seus dirigentes. A mais notávelfoi a Revolta do Gueto de Varsóvia em abril de 1943. Especialmente na Polônia e na Alemanha foram criados campos de concentração para os quais eram enviados judeus de toda a Europa conquistada. Muitos morriam durante a viagem nos vagões dos trens, sem ventilação, sanitários, água e alimentos. 21 Os que chegavam aos campos eram selecionados. Aqueles que podiam trabalhar eram enviados para as equipes de trabalho forçado. Os considerados sem condições, na maioria velhos e crianças, eram enviados para o extermínio nas câmaras de gás e depois incinerados nos fornos crematórios. Aproximadamente 6 milhões de judeus foram mortos no que ficou conhecido como a Solução Final para o Problema Judaico. A ideologia é veiculada pela família, escola, empresa, religião, e pelos diferentes meios de comunicação. Por sua vez, o senso comum, por ser ingênuo e acrítico, torna-se permeado pelos valores da ideologia vigente que se caracteriza por buscar o consenso e a coesão da sociedade, escondendo as distorções, mascarando as desigualdades e ocultando as explorações e os preconceitos sob a camuflagem do natural. 22 REFERÊNCIAS BURKE, P. O que é história cultural? 2ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo, Fundação Editora da UNESP (FEU), 1999. CAMPBELL, J. O herói de mil faces. São Paulo: Editora Pensamento- Cultrix Ltda., 2000. CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 3.ed. São Paulo: Ed. USP, 2000. CARMO, Paulo Sérgio do. A ideologia do trabalho. São Paulo: Moderna, 1992. CHAUI, Marilena. Perspectivas antropológicas da mulher. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. HAMILTON, Edith. Mitologia. São Paulo: Martins Fontes, 1999. HOBSBAWN, Eric. A Era dos extremos: o breve século XX, 1914-1991. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. HOBSBAWN, Eric. Sobre a história. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. HOBSBAWN, Eric. A Era dos impérios: 1875-1914. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009. JÚLIA, F.A. A invasão cultural norte-americana. 26ª edição. São Paulo: Editora Moderna, 1998. MARTINS, L. A. MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 1ª edição. São Paulo: Moderna, 1992. MOREIRA, A. F. CANDAU, V. M.(Orgs) Multiculturalismo: diferenças culturais e Práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2008. ORTIZ, R. Cultura Brasileira & Identidade Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 2003. 23 PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. SILVA, T. T. (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 3ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000 SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2006. SIMONSON, Louise. A morte do Superman. São Paulo: Abril Jovem, 1993 (edição especial). 1º Bimestre - Unidade 1.3 A Identidade e a Relação com o Outro Cultura e Sociedade Osvaldo Luís Meza Siqueira S618 Siqueira, Osvaldo Luís Meza. Cultura e sociedade [recurso eletrônico] / Osvaldo Luís Meza Siqueira. - Curitiba: UTP, 2013. 196p. ISBN 978-85-7968-042-7 ISBN 978-85-7968-043-4 - Disponível em: http://ead.utp.edu.br 1. Cultura. 2. Sociedade. 3. Cidadania. I. Siqueira, Osvaldo Luís Meza. II.Título. CDD – 301.02 Material de uso didático. Reitoria Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitoria de Planejamento e Avaliação Afonso Celso Rangel dos Santos Pró-Reitoria Administrativa Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitoria Acadêmica Carmen Luiza da Silva Divisão Acadêmica Marlei Gomes da Silva Malinoski Divisão Pedagógica Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder Divisão Tecnológica Flávio Taniguchi Haydée Silva Guibor Neilor Pereira Stockler Junior Projeto Gráfico Neilor Pereira Stockler Junior Editoração Eletrônica Haydée Silva Guibor Todos os direitos desta edição reservados à Universidade Tuiuti do Paraná. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida e transmitida sem prévia autorização. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos” Universidade Tuiuti do Paraná 3 NOTAS SOBRE O AUTOR Possui graduação em Licenciatura em História pela Universidade Tuiuti do Paraná (1999) e especialização em Metodologia do Ensino de História pela Faculdade Internacional de Curitiba (2001). Atualmente é professor da Universidade Tuiuti do Paraná, professor da Sociedade de Ensino Unificado, professor da Escola Social Madre Clélia e professor do Grupo Educacional UNINTER. Tem experiência na área de História, com ênfase em Metodologia do Ensino de História. 4 Citação Referencial Destaque Dica do Professor Explicação do Professor Material On-Line Para Reflexão ORIENTAÇÃO PARA LEITURA 5 APRESENTAÇÃO Educação a Distância Instrumentalizando e Otimizando a Extensão A educação a distância, EAD tem sido tema da agenda de inúmeras organizações (acadêmicas, sociais e políticas), em virtude do seu impacto em todas as dimensões do homem moderno. Bem mais do que meras discussões em relação à importância, aos desafios e a própria história do tema, iniciativas concretas e projetos com abrangência internacional, nacional, regional e local estão sendo executada. Desta forma a EAD deixa de ser apenas um tópico nas discussões para adquirir forma e consistência no cenário em foco em crescimento exponencial. O crescimento da EAD na extensão se faz mais forte graças ao e-learning, o qual conta com o apoio das redes de comunicação, em especial, a internet, que está a alavancar, a desenvolver e transformar o modelo educacional vigente a desafiar professores, técnicos e alunos a desempenharem novos papéis diante das necessidades de uma prática pedagógica, a qual se encontra em fase de descoberta e de estruturação. A operacionalização da EAD na extensão tem sido observada em todo o mundo em especial no Brasil, principalmente nos cursos de Extensão Universitária os quais são voltados, preferencialmente, para os acadêmicos de qualquer curso de graduação que queiram aprofundar os conhecimentos já adquiridos em sala de aula ou, que desejam ampliar seu foco de estudos, possibilitando assim, uma aproximação maior com o cenário profissional futuro, além de contribuir para aquisição de novos conhecimentos. A EAD na extensão pode ser usada pela Instituição para atender percentual exigido pelo currículo no tocante a questão Atividade Complementar. No referente à educação continuada ela visa capacitar pessoas e atender as exigências do mercado de massa crítica qualificada. Além destes aspectos positivos a EAD aplicada à extensão apresenta inúmeras vantagens, entre estas se nomina: o fomento da educação continuada, o novo conceito de sala de aula, de professor e de aluno, a perspectiva política e social desta modalidade educativa, uma vez que além de democratizar o 6 acesso ao mundo do ensino, capacita o trabalhador, permitindo- lhe que se mantenha ou adentre no mercado de trabalho. Destaca-se ainda, a flexibilidade da legislação no tocante à sua execução, vez que pode ser executada,sem o preconizado pelas Portarias e Decretos Regulatórios tais como o Decreto 5622, e a Portaria 2/2007, editada pelo Ministério da Educação, a qual segundo o próprio Secretário é muito restritiva no que concerne à criação dos polos e a exigência de avaliações presenciais. Estas vantagens talvez sejam responsáveis pela proliferação de cursos de extensão na modalidade de educação a distância, capacitando recursos humanos, investindo em novas tecnologias e pesquisas que, certamente, proporcionarão à comunidade uma participação ativa no processo, ocupando oportunidades de trabalho e adquirindo condições para formação continuada e aprendizado por toda vida. No entanto, é preciso destacar que, para que os cursos de extensão na modalidade EAD tenhamo sucesso esperado, é necessário que a Instituição alie a vontade política à pedagógica, ou que implica que a Instituição assegure uma infraestrutura tecnológica, pedagógica e administrativa de qualidade; é necessário que haja um bom gestor deste sistema, com competência para assegurar que a integração do ensino com a pesquisa e com a extensão seja mediada pelas tecnologias de comunicação e de informação; é preciso que haja um Planejamento Estratégico que unifique os demais tipos de planejamento e garanta a participação de todos, bem como um fluxo comunicacional multidirecional de qualidade. A EAD deve oportunizar a reescrita da história institucional e a manutenção de sua memória, além de possibilitar o fomento do e-learning na instituição, o qual possibilitará por sua vez a abertura de novas parcerias com empresas e serviços regionais, nacionais e internacionais. Pelo exposto pode se constatar que a educação a distância representa indiscutivelmente um dos temas atuais da sociedade globalizada, sendo objeto de interesse da empresa, do Estado e alvo de incentivos materiais e financeiros para projetos inovadores, os quais por sua vez representam excelentes oportunidades de trabalho e aprendizado. Pró-Reitoria de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão 7 SUMÁRIO Unidade 1.3 A IDENTIDADE E A RELAÇÃO COM O OUTRO INTRODUÇÃO AO ESTUDO ........................................................ OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................ PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................... CONCEITUAÇÃO DO TEMA ........................................................ Construção da identidade ............................................................. Os imigrantes chegaram! .............................................................. Os inferiores e os maus ................................................................ O espaço urbano, lugar de diversas e plurais identidades ........... SISTEMATIZANDO ....................................................................... REFERÊNCIAS ............................................................................. 8 9 10 11 11 14 17 20 22 23 8 INTRODUÇÃO AO ESTUDO Construção da Identidade Nas duas unidades anteriores falamos sobre cultura e sobre sociedade, como sendo dois componentes fundamentais para o entendimento do homem e de sua vida no meio social. Como vimos, todo homem está inserido em uma sociedade que influencia sua formação e comportamento. Esta influência carrega os padrões éticos e morais que irão se estabelecer e perpetuar através do componente cultural. É a cultura que nos conecta com o grupo e a comunidade a que pertencemos, dizendo quem somos e forjando nossa identidade. 9 OBJETIVOS DO ESTUDO Compreender os elementos fundantes da nossa identidade. 10 PROBLEMATIZAÇÃO Mas como se processa a construção dessa identidade? Como construímos nossa noção de pertencimento a um ou outro grupo, nação, etnia ou gênero? 11 Construção da Identidade Como coloca Kathryn Woodward, a identidade é relacional. A identidade depende, para existir, de algo fora dela: de outra identidade, de uma identidade que ela não é, que difere, mas que fornece as condições para que ela exista. Portanto, a identidade se distingue por aquilo que ela não é. Sendo assim, marcada pela diferença, seja ela qual for, de cor, de religião, de nacionalidade, de sexualidade, ou qualquer outra forma de contraposição que marque o diverso, o oposto, o outro. O denominado princípio da alteridade. E quem é esse outro? Ele é o oposto, o diferente de mim. Aquele que não sou e que, portanto, serve de contrapondo para a construção de minha identidade. Segundo o filósofo búlgaro Tzvetan Todorov o que chamamos de eu só pode existir a partir do olhar sobre o outro. É a partir desta visão que o autor analisa os diversos olhares que foram construídos na conquista da América pelos portugueses e espanhóis. Segundo ele, cada outro é um sujeito que olha a partir do seu próprio eu. CONCEITUAÇÃO DO TEMA As identidades são fabricadas por meio da marcação da diferença. Essa marcação da diferença ocorre tanto por meio de sistemas simbólicos de representação quanto por meio de formas de exclusão social. A identidade, pois, não é o oposto da diferença: a identidade depende da diferença. (WOODWARD, Kathryn. In SILVA (org) Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais, p.39-40) 12 É da diferença, e da não aceitação dela, que se forjam as segregações, intolerâncias e preconceitos. Como vimos na unidade anterior, foi em fins do século XIX, que grupos que brandiam entusiasticamente suas bandeiras nacionais se voltaram contra os estrangeiros com um forte sentimento xenofóbico, isto é, de aversão. O nacionalismo, naquele momento da história, à medida que identificava e agregava alguns à nação, alienava outros, excluindo e segregando com fúria e ódio. No século XX, então, tal fúria e ódio forjados nas chamas do fervor nacionalista levariam ao holocausto antissemítico de 6 milhões de judeus nos campos de concentração e extermínio da Alemanha nazista. A identidade surge como uma resultante das semelhanças e diferenças entre os indivíduos e grupos humanos, mas também pode ser imposta de forma intencional por um pensamento que irá se sobrepor de maneira a forjar as representações de pertencimentos e afastamentos que serviram de base para a construção da imagem do eu (nós) e do outro, como, por exemplo, através de uma ideologia, como vimos na unidade anterior. Ao firmar-se a partir da diferença, a identidade estabelece as não similaridades que levarão a não aceitação daquele que será visto como o “outro”. As similaridades que determinam a ligação entre os indivíduos podem estar ligadas a diversos aspectos, como por exemplo, a um passado comum do qual preservam as mesmas memórias e representações, isto é, categorias de pensamento que expressam uma forma de interpretar e explicar a realidade. A nação, portanto, não passaria de uma construção recente de ideólogos empenhados em produzir instrumentos de legitimação e mobilização, através dos quais manipulariam emoções atávicas, medos e ressentimentos das massas, pelo apelo a um sentimento de diferença cultural, do qual decorreria o equívoco da identidade nacional. (AZEVEDO, Cecília. In ABREU, SOIHET (org) Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologias, p.44) 13 No entanto, esse passado pode ser construído ou reconstruído de forma a servir de fator legitimador e agregador no presente. Foi o que aconteceu com relação à ideologia nazista, que baseou-se em uma suposta ligação entre a Alemanha de Hitler e a glória do que foi o antigo Sacro Império Romano-Germânico do período medieval. Para a doutrina nazista, o governo de Hitler, significava o III Reich, isto é, o 3º império germânico (Alemão). O primeiro quando a Alemanha foi grande e poderosa no medievo com o Sacro Império Romano-Germânico; o segundo, durante o século XIX, quando o país se unificou e se tornou poderoso através do colonialismo imperialista característico da época; e finalmente o de Hitler, o terceiro, e que supostamente duraria mil anos, mas que mal chegou a uma década. Outro exemplo, inclusive contemporâneo ao anterior, foi Benito Mussolini, líder do regime fascista na Itália que insistia em ligar seu governo com os césares (imperadores) do Antigo Império Romano. A Itália comandada por ele deveria reconquistar sua glória antiga, porém, a Itália do século XX não era, e não poderia ser, a Roma do passado. Poderíamos ainda pensar em mais um exemplo, o do grande general francês Napoleão Bonaparte, conquistador e imperador, que tentou ligar sua imagem a do lendário rei franco Carlos Magno. A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito. É por
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