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Peça Constitucional

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MERITISSÍMO JUÍZO DA VARA DOS FEITOS ÀS RELAÇÕES DE CONSUMO, CÍVEIS E COMERCIAIS DA COMARCA DE TAUBATÉ-SP
MARIA ...,Estado civil..., Nacionalidade..., CPF..., RG..., endereço eletrônico..., residente e domiciliada à..., vem através do seu advogado infra-assinado propor a seguinte
AÇÃO INDENIZATÓRIA DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO LIMINAR
em face da ZUMBI TELEFONIA, pelos seguintes motivos de fato, fundamentos e razões de direito a seguir expostos.
I – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
Requer ao Douto Juízo que conceda a Autora os benefícios da Gratuidade da Justiça, conforme dispõe o artigo 98 e seguintes do Novo CPC, haja vista a inexistência de condições financeiras para suportar as custas e despesas processuais sem prejuízo do seu próprio sustento.
II – DOS FATOS
Tem-se que a querelante senhora Maria, compareceu a uma loja da empresa Zumbi telefonia, situada na comarca de Taubaté a fim de contratar os serviços de internet banda larga e televisão por assinatura. Após apresentação dos pacotes disponíveis, o vendedor informou que os serviços somente poderiam ser contratados, se de maneira conjunta a mesma adquirisse um aparelho celular pós-pago no valor de R$2.000,00 e uma linha telefônica fixa, ambos no valor mensal de R$200,00, com vigência mínima de 12 meses. Além disso Além disso, foi exigido que a sua filha, Ana, professora do ensino fundamental, que a acompanhava, assinasse o contrato em nome dela, pois foi dito que, em razão de sua idade avançada, haveria maior risco de morte durante o contrato, inclusive por ser grupo de risco da Covid-19, o que poderia trazer prejuízos à empresa. Assim, apesar de o serviço ser prestado em sua residência e Maria ser a responsável pelo pagamento, somente a sua filha pode constar como contratante. Tendo em vista a extrema necessidade da internet para que pudesse prestar seus serviços de tradutora, Maria aceitou as exigências da empresa. Após a formalização do contrato, a empresa Zumbi Telefonia informou haver o prazo de sete dias para instalação e que não poderia indicar uma data e um horário corretos, devendo a contratante aguardar em horário comercial a chegada de um funcionário credenciado. Somente após 11 dias, quatro a mais do que a data aprazada, os funcionários compareceram na residência de Maria. Após quebrarem duas paredes e estragarem o piso de sua sala, instalaram a internet e o telefone fixo, deixando de instalar a televisão a cabo por alegarem falta de estrutura. Contudo, foi informado a ela que tanto o atraso na instalação como esses prejuízos não seriam indenizados, em razão de haver no contrato uma cláusula retirando da empresa Zumbi Telefonia qualquer responsabilidade, e que isso havia sido devidamente assinado pela filha contratante, Ana. Dois meses após a contratação, o serviço de instalação ainda não foi concluído, mas as mensalidades dos serviços, no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), foram cobradas, bem como o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) pelo serviço de instalação, debitado de sua conta de forma equivocada, pois, no contrato, constava como sendo absolutamente gratuito. Maria e Ana procuraram o escritório de advocacia de Josué para tomarem as providências necessárias, uma vez que passaram por momentos difíceis, acarretando, inclusive, um quadro de depressão em Maria, em razão do tratamento preconceituoso conferido pela empresa a respeito de sua idade. Além dessa grave lesão à sua esfera íntima, Maria perdeu o prazo de entrega de dois trabalhos de tradução já contratados, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), devido à demora da instalação da internet em sua residência, assim como teve que despender o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) para consertar as paredes avariadas pelo funcionário instalador da empresa Zumbi Telefonia.
III- DO DIREITO
A parte Autora encontra espeque no Código de Defesa do Consumidor, ao qual incumbe a responsabilidade de regular as relações consumeristas, cabendo abarcar o vulnerável nas relações, ou seja, o consumidor, protegendo-o de práticas abusivas, bem como garantido os seus direitos. Nesta senda, é cristalino o que aduz o 6º do CDC:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...)
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
Ato contínuo, a conduta praticada pela Ré figura como demasiada afronta à proteção conferida a Requerente pela legislação em comento, que a confere o status de hipossuficiente nas relações consumeristas. Repise-se que não fora solicitado pela Autora o serviço de linha telefônica pós-pago, tampouco chegou ao seu conhecimento prévio orçamento do valor que foi indevidamente descontado na sua fatura, o que configura prática abusiva nos termos do artigo 39, inciso III em consonância com o artigo 40, ambos da Lei nº 8.078/90. In verbis:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
(...)
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;
Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio discriminando o valor da mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condições de pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços.
Ademais, ainda que não fora solicitado pela Autora o referido serviço, resta comprovado também mais uma conduta desarrazoada empregada pela Ré, que deveria ter se eximido quanto a efetivação da cobrança, vez que é cristalino o que assevera o parágrafo único do artigo em comento. Vejamos:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
(...)
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento.
Ora Vossa Excelência, é inolvidável que a conduta descabida da qual foi vítima a Requerente, extrapola o mero dissabor a partir do momento em que a Ré incorreu em ato ilícito, vez a conduta é antagônica, não somente aos princípios inerentes ao consumidor, como também ao que é vedado pela legislação atinente ao caso, conforme depreende-se do artigo 186 do Código Civil:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Impende memorar que, restará configurado o ato ilícito quando constatado a ação que resultou na lesão do direito de outrem, bem como o nexo de causalidade advindo de tal ato, que, in casu, decorreu da cobrança indevida fruto de um serviço que sequer fora contratado pela Requerente.
III.2 -REPETIÇÃO DO INDÉBITO
Cumpre aclarar que é conferido ao hipossuficiente nas relações consumeristas, o direito de repetição do indébito quando constatado a cobrança de valores que manifestamente sejam incabíveis. Diante disso, é cristalino o teor do parágrafo único artigo 42 elencado no Código de Defesa do Consumidor:
Art. 42.(...)
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
A responsabilidade objetiva, nessa situação é de rigor aplicação, visto que há determinação contida no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, observa-se:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Assim, para efeito do artigo acima transcrito, em tendo ocorrido dano consistente na cobrança indevida, não se discute culpa, tão somente fica o dever objetivo de indenizar, uma vez que, o Código do Consumidoradotou a responsabilidade objetiva do fornecedor.
APELAÇÃO. Ação de declaratória de inexistência de débito cumulada com indenizatória. Desconto indevido em conta corrente. Fraude. Sentença de parcial procedência. Recurso do autor objetivando a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais. Dano moral configurado diante dos descontos indevidos realizados na conta corrente do autor. Reforma parcial da sentença para julgar procedente o pedido de indenização por danos morais e condenar o réu a pagar ao autor a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a esse título, devendo ser corrigida monetariamente a contar da presente e acrescida de juros legais de mora a contar do desconto indevido, por se tratar de relação extracontratual. DOU PROVIMENTO AO RECURSO NA FORMA DO ARTIGO 557, § 1º-A, DO CPC.
(TJ-RJ - APL: 01823214420138190001 RIO DE JANEIRO CAPITAL 51 VARA CIVEL, Relator: SEBASTIAO RUGIER BOLELLI, Data de Julgamento: 06/08/2014, VIGÉSIMA TERCEIRA C MARA CÍVEL CONSUMIDOR, Data de Publicação: 12/08/2014)
B) DA RELAÇÃO DE CONSUMO E DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
Tratando-se de relações consumerista, há a possibilidade conferida pelo legislador da inversão do ônus da prova quando for verossímil a alegação ou quando haver a presença da hipossuficiência e, in casu, resta-se devidamente comprovado a presença cumulativamente dos requisitos, muito embora não seja necessário a presença de ambos, bastando um requisito para a devida configuração. Neste sentido, é o que aduz o artigo 6º, inciso VII da Lei nº 8078/90:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
Da análise do caso em tela, conclui-se que a Autora é a parte vulnerável da relação consumerista, sendo medida justa a reparação dos danos suportados pela Requerente, desse modo, pede-se a inversão do ônus da prova.
III.3 – DA REPARAÇÃO DAS PERDAS E DANOS
Uma vez que passaram por momentos difíceis, acarretando, inclusive, um quadro de depressão em Maria, em razão do tratamento preconceituoso conferido pela empresa a respeito de sua idade. Além dessa grave lesão à sua esfera íntima, Maria perdeu o prazo de entrega de dois trabalhos de tradução já contratados, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), devido à demora da instalação da internet em sua residência, assim como teve que despender o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) para consertar as paredes avariadas pelo funcionário instalador da empresa Zumbi Telefonia. 
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.
Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.
Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.
Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.
IV. DA TUTELA ANTECIPADA
Encontram-se presentes os requisitos para concessão da medida liminar.
O "Fumus boni juris", reside nos argumentos de fato e de direito apresentados na exordial e comprovados mediante documentação anexa, qual seja, a cobrança indevida.
Já o "Periculum in mora", também se encontra demonstrado tendo em vista que a Autora não pode suportar os prejuízos de aguardar uma decisão apenas ao final do processo. Destarte, resta-se preenchido os requisitos exarados pelo artigo 300 do CPC.
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Desta forma, requer a suspensão da cobrança, visto que figura como prática desarrazoada face a inexistência da solicitação do serviço, bem como para evitar que a Autora tenha o seu nome negativado indevidamente.
V. DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto até aqui apresentado, requer a Vossa Excelência que:
A) Que seja concedido o benefício da gratuidade judiciária com base no art. 98 do CPC, em razão da falta de condição do Requerente, não tendo meios de custear as despesas processuais sem prejuízo do sustento próprio;
B) A citação da empresa Zumbi para que apresente sua contestação no prazo de 15 dias úteis.
C) A concessão do pedido liminar para que seja instalado o serviço de televisão por assinatura na residência da autora Maria, sob pena de multa diária.
D) A anulação de pleno direito das cláusulas abusivas de não responsabilização da empresa ré, bem como a venda casada como exigência para realização do contrato.
E) A condenação da empresa ré ao pagamento de indenização de danos morais, em razão da discriminação de idade da autora Maria, a ser arbitrada por Vossa Excelência, em valor não inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).
F) A condenação da empresa ré ao pagamento de indenização de danos materiais no valor de R$ 1.000,00, além de R$ 2.000,00 a título de lucros cessantes.
G) A condenação da empresa ré à repetição do indébito de R$ 2.000,00 (2x R$1.000,00 pela taxa de instalação, que constava como gratuita no contrato), em razão da aplicação do parágrafo único do art. 42 do CDC.
H) A condenação da empresa ré à repetição do indébito de R$ 4.000,00 (2x R$ 2.000,00 pela compra casada de um telefone móvel pós-pago), bem como de R$ 800,00 (2x R$ 400,00), em razão das mensalidades cobradas indevidamente dos serviços de telefonia móvel e fixo, contratados de forma “casada” e nulos de pleno direito pelo CDC.
I) Que seja julgada procedente a presente ação, tornando definitiva a liminar concedida, condenando a ré ao pagamento de indenização pelos danos morais e patrimoniais causados, bem como outros a serem arbitrados por Vossa Excelência.
 J) A condenação ao pagamento de custas e honorários advocatícios.
Dá-se à causa o valor de R$ 29.800,00 para os efeitos jurídicos, fiscais e legais.
Termos em que,
Pede deferimento.
LOCAL/ DATA
JOSUÉ.
OAB/UF 000000

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