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aula 7 - Os direitos germânicos - Molon

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Direitos Germânicos
A transição da Antiguidade 
para a Idade Média
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A situação no fim da Antiguidade
No século IV, com a morte de Teodósio (395), o Império Romano divide-se em dois: Império do Ocidente (Roma) e Império do Oriente (Constantinopla = Bizâncio = Istambul).
O Império Romano do Ocidente tem como limite setentrional os rios Reno e Danúbio. A leste do Reno e a norte do Danúbio encontram-se, nesta época, povos germânicos e eslavos.
Sob a pressão dos povos vindos da Ásia central, aqueles povos germânicos penetram na órbita do Império Romano a partir do século III; no século V, invadem o Império do Ocidente que desaparece (476, deposição de Rômulo Augusto por Odoacro); estabelecem-se aí reinos germânicos.
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Povos germânicos na Europa do século V
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A Alta Idade Média
O Império Bizantino mantém-se no Sudeste da Europa, embora assediado por eslavos no norte e por muçulmanos no sul; vai durar até o século XV, no seio do qual sobrevive o direito romano.
Na Península Ibérica e na Gália, penetram os muçulmanos, permanecendo naquela até o século XV, aplicando-se nestas regiões o direito muçulmano.
Nos reinos germânicos que vão se formar no território do antigo Império Romano do Ocidente, serão aplicados o direito romano às populações de origem romana, enquanto os invasores continuam a viver segundo o seu direito de origem germânica (visigótico, franco, lombardo etc). O amálgama entre os sistemas vai se fazer lentamente.
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A Alta Idade Média
Outros direitos germânicos permanecem fora da esfera de influência romana, nomeadamente os direitos dos Anglos e dos Saxões e os direitos dos povos escandinavos (vikings). O mesmo acontece com os direitos dos povos eslavos, mais a leste.
Do século VI ao século IX, o reino dos Francos estendeu-se progressivamente. Sob Carlos Magno, torna-se um império (800 d.C.), no qual os soberanos tentam unificar o direito. No entanto, não conseguem impedir o desmembramento do território e o fortalecimento do poder dos senhores locais. O regime político e social vai tornar-se feudal, sobretudo na França e na Alemanha e, em menor medida, na Itália e na Inglaterra.
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Os grandes sistemas jurídicos no ano 800
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Os Direitos Germânicos
Antes de migrarem para o sudoeste da Europa, os Germanos formavam um conjunto de etnias nômades, com sistema jurídico similar ao de outros povos nômades.
Desde o século II a.C., ocupavam vasto território na Europa ao norte do Danúbio e a leste do Reno.
O cerne de sua organização sociopolítica é o clã. Vivendo da agricultura e da pecuária, o clã agrupa, sob a autoridade do pai, os membros da família e outros auxiliares, talvez até escravos. A família é patrilinear e o poder do pai, responsável pela manutenção da ordem e da paz, parece ser ilimitado, visto que não tinha superiores.
As relações entre os clãs eram em geral reguladas pela faida, i.e., pela luta, pela guerra privada. Com o tempo, os clãs se agrupam formando tribos e etnias, chegando a ser governados por um chefe de tribo que se torna rei ou príncipe. 
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Características dos Direitos Germânicos em sua origem
Essencialmente consuetudinários, ou seja, o costume era a principal fonte de direito;
Não-escritos;
Não havia um direito germânico, mas vários, com normas variando de povo a povo;
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Os Direitos dos Reinos Germânicos
Cada reino germânico era povoado não apenas por Germanos, mas também por Romanos e por populações autóctones romanizadas (por exemplo, os gauleses na Gália) que sobreviveram às invasões. O direito privado romano permanecerá sendo o direito das populações romanizadas, enquanto que os Germanos manterão seus costumes ancestrais; aplica-se, pois, a pessoalidade do direito (em vez da territorialidade), com gradações, pelo menos durante alguns séculos. Este princípio também será aplicado no direito penal, mas não no direito público. 
O reino franco desempenha um papel cada vez mais importante entre os séculos V e IX, até que Carlos Magno constitui um império em 800, cuja unidade, mesmo que relativa, contribuirá para a formação de um direito mais ou menos uniforme na Europa continental de oeste. 
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O Princípio da Pessoalidade do Direito
A aplicação do princípio da pessoalidade do direito obrigará a determinar que direito é aplicável a cada indivíduo e de resolver os conflitos que podem surgir entre pessoas pertencentes a dois sistemas jurídicos diferentes. São exemplos a regra de aplicação da lei do réu, com diversas exceções, como a aplicação da lei do marido em matéria de casamento, a do proprietário em matéria de propriedade, a do defunto em matéria de sucessão. As regras que nascem nesta época estão na origem dos princípios que sobrevivem no direito internacional privado moderno.
A aplicação deste princípio assegurou a sobrevivência do Direito Romano no Ocidente, apesar do desaparecimento do Império Romano do Ocidente.
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Os Direitos dos Reinos Germânicos
Por esta razão, o direito romano continuou a evoluir, sobretudo no contato com as populações germânicas. Um direito romano “vulgar”, no qual dominavam os costumes locais próprios de cada região, suplanta assim progressivamente os textos clássicos do Direito Romano.
Alguns reis germânicos sentiram a necessidade de pôr compilações de direito romano à disposição de juízes, que ignoravam o direito das populações romanizadas. São exemplos disso o Édito de Teodorico (ostrogodo), a Lex romana Burgundionum (burgúndios), e a Lex romana Visigothorum (ou Breviário de Alarico, rei dos visigodos).
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Os Direitos dos Povos Germânicos
Além das compilações de direito romano, pouco a pouco (séculos V a IX) os direitos costumeiros dos povos germânicos vão sendo reduzidos a escrito sob a denominação de leges barbarorum (leis dos bárbaros): lex Salica, lex Ribuaria, lex Burgundionum, lex Frisionum etc.
Na verdade, não são códigos, nem leis propriamente ditas, mas registros escritos de certas regras jurídicas, com origem no costume, próprias deste ou daquele povo. São compilações incompletas para uso dos agentes da autoridade e membros dos tribunais, escritos provavelmente com a ajuda de “dizedores de direito” e por vezes aprovados pela autoridade.
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As Leges Barbarorum
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As Leges Barbarorum 
O conteúdo das “leis bárbaras” era muito variável. Em geral, continham muitas disposições de direito penal e algumas de direito civil e de processo.
Na matéria penal, chamam a atenção a existência de tabelas de composições: a compositio era a soma necessária para pagar o direito à vingança privada do lesado (faida). Se uma queixa penal era aceita, o tribunal fazia um inquérito baseado sobretudo em testemunhas. Em não as havendo, o acusado devia libertar-se da acusação por meio de um ordálio (água a ferver, ferro em brasa etc) ou aceitar o duelo judiciário.

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