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DEFICIÊNCIA VISUAL BAIXA VISÃO E CEGUEIRA DEFICIÊNCIA VISUAL BAIXA VISÃO E CEGUEIRA DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES editorafamart@famart.edu.br TUTORIA ONLINE Segunda a Sexta de 09:30 às 17:30 Acesse a aba Tutoria EaD em seu portal do aluno SUMÁRIO Sumário SUMÁRIO ................................................................................................................. 3 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................... 5 UNIDADE 2 – O FUNCIONAMENTO DA VISÃO ..................................................... 7 UNIDADE 3 – A DEFICIÊNCIA VISUAL ................................................................... 9 3.1 Conceito e classificação ..................................................................... 10 3.2 Causas................................................................................................ 13 3.3 Sintomas ............................................................................................. 16 UNIDADE 4 – AVALIAÇÃO FUNCIONAL DA VISÃO ............................................. 17 4.1 Sua importância .................................................................................. 19 4.2 Instrumentos para avaliar ................................................................... 19 UNIDADE 5 – ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE (OM) ............................................. 23 5.1 Conceitos básicos para trabalhar com OM ......................................... 24 mobilidade ................................................................................................ 28 UNIDADE 6 – ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO ...................... 37 3.1 Conceito e definição ........................................................................... 39 3.2 As salas de recursos .......................................................................... 40 6.3 A sala de recurso para deficiência visual ............................................ 43 6.4 Atribuições do professor no AEE ........................................................ 44 6.5 A importância da revisão do PPP e do currículo escolar .................... 46 UNIDADE 7 – SISTEMA BRAILLE E CÓDIGO MATEMÁTICO UNIFICADO ........ 47 4 7.1 A teoria do sistema Braille – conceitos e definições ........................... 47 7.2 Braille aplicado à matemática – Código Matemático Unificado .......... 52 7.3 Soroban .............................................................................................. 53 UNIDADE 8 – RECURSOS DIDÁTICOS ................................................................ 56 8.1 Modelo, maquete, mapa ..................................................................... 58 8.2 Recursos tecnológicos – o mundo da informática .............................. 58 8.3 Livros .................................................................................................. 60 8.4 Outros recursos didáticos ................................................................... 60 8.5 Recursos ópticos e não-ópticos .......................................................... 62 REFERÊNCIAS BÁSICAS ...................................................................................... 65 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES .................................................................. 65 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO Um primeiro contato com uma pessoa cega, geralmente, é suficiente para que ela retenha na memória a sua voz, reconheça-lhe pelo toque ou talvez pelo seu perfume. Não que ela seja um ser extraordinário, mas por necessidade esses sentidos lhe são estimulados e favorecem sua interação com o meio. Em relação às pessoas com baixa visão, aquelas com visão reduzida e cuja deficiência é corrigível por lentes, cirurgias ou tratamento, inúmeras pesquisas comprovam que a estimulação da visão residual favorece o ganho de eficiência na utilização da visão preservada. A deficiência visual é uma situação irreversível de diminuição da resposta visual, em virtude de causas congênitas ou hereditárias, mesmo após tratamento clínico e/ou cirúrgico e uso de óculos convencionais. A deficiência visual inclui dois grupos: cegueira, visão subnormal (FIOCRUZ, 2009). A cegueira total é a completa falta de percepção visual de forma e luz. Em muitos casos clínicos observa-se que a cegueira pode ocorrer diante de algumas condições, tais como retardo mental, espectro autista, paralisia cerebral, surdez e epilepsia. Pois bem, para atingirmos o objetivo proposto neste curso que é levar conhecimentos teóricos e práticos para o atendimento educacional especializado – AEE – na deficiência visual (baixa visão e cegueira), percorreremos o seguinte caminho: noções básicas do funcionamento da visão; causas, sintomas, classificação das dificuldades visuais; avaliação funcional da visão; orientação e mobilidade; o AEE propriamente dito que envolve conceitos, definições, papel do educador e da escola nas salas de recursos; o sistema Braille e sua aplicação à matemática, bem como veremos também recursos didáticos aplicados à educação de pessoas com deficiência visual. Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. UNIDADE 2 – O FUNCIONAMENTO DA VISÃO A função do sistema visual é converter energia luminosa em atividade neural que tenha significado para nós. A visão é a nossa principal experiência sensorial. O cérebro humano é muito mais usado para a visão do que para qualquer outro sentido. É através da visão que adquirimos mais da metade dos conhecimentos a respeito do mundo que nos cerca. Estudos recentes revelam que enxergar não é uma habilidade inata, ou seja, quando nascemos ainda não sabemos enxergar: é preciso aprender, e uma das formas como isso acontece, inconscientemente, é quando chamamos a atenção do bebê, dizendo: “Olha a bola do Pedro” ou “Chama o gatinho” (HONORA; FRIZANCO, 2008). A luz é a energia eletromagnética que vemos. Essa energia vem tanto diretamente de algo que a produz (como uma lâmpada ou o sol), quanto indiretamente de uma fonte luminosa, após ser refletida por um ou mais objetos. Em qualquer um dos casos, a energia luminosa vem do mundo exterior, atravessa a pupila e entra no olho, onde atinge uma superfície sensível à luz denominada retina. Depois da estimulação dos receptores na retina, começamos o processo de criação de um mundo visual. O olho tem várias partes funcionalmente distintas, mostradas na ilustração abaixo. Dentre as partes do olho, encontramos a esclera (a parte branca que forma o globo ocular), a córnea (o revestimento externo e claro do olho), a íris (que abre e fecha para controlar a entrada de luz), o cristalino (que focaliza a luz) e a retina (onde a energia luminosa inicia a atividade neural). Quando a luz entra no olho,ao atravessar o orifício da íris denominado pupila, ela é levemente desviada pela córnea, depois mais um pouco pelo cristalino. A forma do cristalino se ajusta para desviar a luz a graus maiores ou menores, de modo que imagens de perto ou de longe possam ser focalizadas na retina. Em outras palavras: quando olhamos na direção de algum objeto, a imagem atravessa a córnea e chega à íris, que regula a quantidade de luz recebida por meio de uma abertura chamada pupila. Quanto maior a pupila, mais luz entra no olho. Passada a pupila, a imagem chega ao cristalino, e é focada sobre a retina. A lente do olho produz uma imagem invertida, e o cérebro a converte para a posição correta. Na retina, mais de cem milhões de células fotorreceptoras transformam as ondas luminosas em impulsos eletroquímicos, que são decodificados pelo cérebro. Inspirado no funcionamento do olho, o homem criou a máquina fotográfica. Portanto, em nossos olhos a córnea funciona como a lente da câmera, permitindo a entrada de luz no olho e a formação da imagem na retina. Localizada na parte interna do olho, a retina seria o filme fotográfico, onde a imagem se reproduz. A pupila funciona como o diafragma da máquina, controlando a quantidade de luz que entre no olho. Ou seja, em ambientes com muita luz a pupila se fecha e em locais escuros a pupila se dilata com o intuito de captar uma quantidade de luz suficiente para formar a imagem (CBO, 2010). Na retina, camada interna do olho, temos a mácula, que é o ponto central da visão, responsável pela melhor acuidade visual e pela nitidez das imagens. Quando as imagens não são apropriadamente focalizadas na retina, precisamos de lentes corretivas (óculos). É por meio da coordenação entre o sistema visual e o cérebro que percebemos e compreendemos o mundo que nos cerca. UNIDADE 3 – A DEFICIÊNCIA VISUAL É considerada pessoa com deficiência visual aquela que apresenta acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20° (tabela de Snellen, ilustrada abaixo1), ou ocorrência simultânea de ambas as situações. 1 A tabela de Snellen, também conhecida como optótico de Snellen ou escala optométrica de Snellen, é um diagrama utilizado para avaliar a acuidade visual de uma pessoa. A tabela recebe seu nome em homenagem ao oftalmologista holandês Herman Snellen, que a desenvolveu em 1862. Há dois tipos de versões principais: a tradicional, com letras, e a utilizada para pessoas analfabetas, que se constitui da letra "E" com variação de rotação como "ш", em que se pede à pessoa que indique para que lado a letra está. Pode ser feita também com figuras, usada principalmente para crianças, pois elas talvez não consigam diferenciar as letras, ou seja, ainda estão na fase de serem alfabetizadas. http://pt-br.infomedicarascunho.wikia.com/wiki/Arquivo:Tabela_de_snellen.jpg De acordo com o Dec. nº 5.296/04, a deficiência visual ocorre assim: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. Estima-se que 1,5% das pessoas apresentem deficiência visual. Isso representado em uma realidade escolar demonstra que a chance de termos um aluno com deficiência visual é muito grande. Dividiremos essa deficiência em dois grandes grupos devido às diferenças entre eles: baixa visão (também conhecida como visão subnormal) e cegueira. A estimativa, no Brasil, é que, entre os 1,7 milhões de pessoas que apresentam uma deficiência visual, 20% http://pt-br.infomedicarascunho.wikia.com/wiki/Arquivo:Tabela_de_snellen.jpg http://pt-br.infomedicarascunho.wikia.com/wiki/Arquivo:Tabela_de_snellen.jpg http://pt-br.infomedicarascunho.wikia.com/wiki/Arquivo:Tabela_de_snellen.jpg http://pt-br.infomedicarascunho.wikia.com/wiki/Arquivo:Tabela_de_snellen.jpg http://pt-br.infomedicarascunho.wikia.com/wiki/Arquivo:Tabela_de_snellen.jpg http://pt-br.infomedicarascunho.wikia.com/wiki/Arquivo:Tabela_de_snellen.jpg apresentam cegueira e 80%, baixa visão. Ou seja, calcula-se que, a cada 3 mil crianças, uma é cega e que, a cada 500 crianças, uma tem baixa visão (HONORA; FRIZANCO, 2008). Muitos dos problemas causadores da deficiência visual poderiam ser evitados com medidas eficientes de prevenção, como programas de saúde, aconselhamento genético, vacinação, acompanhamento pré-natal, saneamento básico, detecção e tratamento precoce das alterações visuais, triagem em creches, pré-escolas e escolas de educação básica. O indivíduo que nasce com o sentido da visão, perdendo-o mais tarde, guarda memórias visuais, consegue lembrar das imagens, luzes e cores que conheceu, e isso é muito útil para a sua readaptação. Quem nasce sem a capacidade da visão, por outro lado, apresenta uma forma diferente de representação dos objetos e das pessoas. A baixa visão é a alteração significativa da capacidade funcional da visão decorrente de fatores, como rebaixamento significativo da acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações para visão de cores e sensibilidade aos contrastes que interferem ou limitam o desempenho visual. Em nível educacional, o aluno com baixa visão é aquele que tem visão útil para propósitos da sala de aula, mas que precisará de auxílios ápticos (óculos, lupa, lentes, entre outros) e ampliações para ler e escrever. Uma definição bem simplificada da baixa visão é a incapacidade de enxergar com clareza suficiente para contar os dedos da mão a uma distância de 3 m à luz do dia. Entre os dois extremos da capacidade visual estão situadas patologias como miopia, estrabismo, astigmatismo, ambliopia, hipermetropia, que não constituem necessariamente uma deficiência visual, mas que, na infância, devem ser identificadas e tratadas o mais rapidamente possível, pois podem interferir no processo de desenvolvimento e na aprendizagem do aluno. Já um aluno com cegueira é um aluno que necessita do Sistema Braille para aprender a ler e escrever, além de outros recursos especiais. É importante que se aproveite ao máximo a capacidade de enxergar da criança com baixa visão perda de parte da visão pode acarretar grandes prejuízos, por ser a visão a fonte de muitas de nossas aprendizagens. 3.1 Conceito e classificação A cegueira é uma alteração grave ou total de uma ou mais das funções elementares da visão que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento em um campo mais ou menos abrangente. Pode ocorrer desde o nascimento (cegueira congênita), ou posteriormente (cegueira adventícia, usualmente conhecida como adquirida) em decorrência de causas orgânicas ou acidentais. Em alguns casos, a cegueira pode associar-se à perda da audição (surdocegueira) ou a outras deficiências. Muitas vezes, a perda da visão ocasiona a extirpação do globo ocular e a consequente necessidade de uso de próteses oculares em um dos olhos ou em ambos. Se a falta da visão afetar apenas um dos olhos (visão monocular), o outro assumirá as funções visuais sem causar transtornos significativos no que diz respeito ao uso satisfatório e eficiente da visão (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). Cegos – têm somente a percepção da luz ou que nãotêm nenhuma visão e precisam aprender através do método Braille e de meios de comunicação que não estejam relacionados com o uso da visão. Deverá, no entanto, ser incentivado a usar seu resíduo visual nas atividades de vida diária sempre que possível (FIOCRUZ, 2009). A definição de baixa visão (ambliopia, visão subnormal ou visão residual) é complexa devido à variedade e à intensidade de comprometimentos das funções visuais. Essas funções englobam desde a simples percepção de luz até a redução da acuidade e do campo visual que interferem ou limitam a execução de tarefas e o desempenho geral. Em muitos casos, observa-se o nistagmo, movimento rápido e involuntário dos olhos, que causa uma redução da acuidade visual e fadiga durante a leitura (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). É o que se verifica, por exemplo, no albinismo, falta de pigmentação congênita que afeta os olhos e limita a capacidade visual. Uma pessoa com baixa visão apresenta grande oscilação de sua condição visual de acordo com o seu estado emocional, as circunstâncias e a posição em que se encontra, dependendo das condições de iluminação natural ou artificial. Trata-se de uma situação angustiante para o indivíduo e para quem lida com ele, tal é a complexidade dos fatores e contingências que influenciam nessa condição sensorial. As medidas de quantificação das dificuldades visuais mostram-se insuficientes por si só e insatisfatórias. É, pois, muito importante estabelecer uma relação entre a mensuração e o uso prático da visão, uma vez que mais de 70% das crianças identificadas como legalmente cegas possuem alguma visão útil. A baixa visão traduz-se numa redução do rol de informações que o indivíduo recebe do ambiente, restringindo a grande quantidade de dados que este oferece e que são importantes para a construção do conhecimento sobre o mundo exterior. Em outras palavras, o indivíduo pode ter um conhecimento restrito do que o rodeia. É considerado portador de baixa visão aquele que apresenta desde a capacidade de perceber luminosidade até o grau em que a deficiência visual interfira ou limita seu desempenho. Sua aprendizagem se dará através dos meios visuais, mesmo que sejam necessários recursos especiais. Tanto a cegueira total quanto a visão subnormal pode afetar a pessoas em qualquer idade. Bebês podem nascer sem visão e outras pessoas podem tornar-se deficientes visuais em qualquer fase da vida (FIOCRUZ, 2009). Ela também ocorre independentemente de sexo, religião, crenças, grupo étnico, raça, ancestrais, educação, cultura, saúde, posição social, condições de residência ou qualquer outra condição específica. A deficiência visual interfere em habilidades e capacidades e afeta não somente a vida da pessoa que perdeu a visão, mas também dos membros da família, amigos, colegas, professores, empregadores e outros. O mais importante é criar o ambiente propício para a criança com deficiência visual conseguir alcançar um desenvolvimento compatível com o estágio de vida que se encontrar até que possa ter a capacidade de se tornar independente e ativa socialmente. Para tanto, é extremamente importante que pais, amigos, professores e profissionais de saúde formem uma “equipe humana”, onde cada um terá seu papel na estimulação precoce da criança, inserindo-a verdadeiramente na circunstância social em que se encontre (HADDAD, SEI, BRAGA, 2009). Enfim, a aprendizagem visual depende não apenas do olho, mas também da capacidade do cérebro de realizar as suas funções, de capturar, codificar, selecionar e organizar imagens fotografadas pelos olhos. Essas imagens são associadas com outras mensagens sensoriais e armazenadas na memória para serem lembradas mais tarde (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). A Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde é a última de uma série que se iniciou em 1893, como a “Classificação de Bertillon” ou “Lista Internacional de Causas de Morte”. Portanto, de acordo com a CID-10 temos a seguinte classificação para transtornos visuais e cegueira: H53 distúrbios visuais; H53.0 ambliopia por anopsia; H53.1 distúrbios visuais subjetivos excluí alucinações visuais (R44.1); H53.2 diplopia; H53.3 outros transtornos da visão binocular; H53.4 defeitos do campo visual; H53.5 deficiências da visão cromática excluí cegueira diurna (H53.1); H53.6 cegueira noturna exclui devida a deficiência de vitamina A (E50.5); H53.8 outros distúrbios visuais; H53.9 distúrbio visual não especificado; H54 cegueira e visão subnormal; H54.0 cegueira, ambos os olhos; H54.1 cegueira em um olho e visão subnormal em outro; H54.2 visão subnormal de ambos os olhos; H54.3 perda não qualificada da visão em ambos os olhos; H54.4 cegueira em um olho; H54.5 visão subnormal em um olho; H54.6 perda não qualificada da visão em um olho; H54.7 perda não especificada da visão. 3.2 Causas As causas da deficiência visual variam de acordo com o grau de desenvolvimento de um país, a situação econômica da população e as implicações no atendimento básico de saúde, as campanhas de vacinação, o saneamento básico, entre outros. Nos países mais desenvolvidos, a deficiência visual é causada por diabetes, degenerações maculares, tumores, traumatismos. Nos países em desenvolvimento (por exemplo, o Brasil), a deficiência visual é causada por toxoplasmose, rubéola congênita (contraída durante a gravidez), catarata, tracoma, retinites, infecções, tumores, diabetes, traumatismos provocados por acidentes domésticos, acidentes de trânsito, entre outros. As causas mais frequentes de cegueira e baixa visão são: • retinopatia da prematuridade – é causada pela imaturidade da retina, em decorrência de parto prematuro e de excesso de oxigênio na incubadora. Essa mesma prematuridade provoca também o desenvolvimento insuficiente da musculatura, que não amadurece completamente no útero, prejudicando a motricidade. O aluno que apresenta uma retinopatia da prematuridade apresenta uma visão muito semelhante à da ilustração (ao final do tópico). Na sala de aula, a iluminação deve ser intensa. O material didático deve ser ampliado e o contorno das figuras reforçado. Pranchas de leitura também podem facilitar a leitura para aproximar o material didático; • catarata congênita – pode ocorrer em decorrência da rubéola contraída pela mãe e passada para o feto, principalmente nos três primeiros meses de gestação. A pessoa com catarata tem muita dificuldade para focar e ver nitidamente a imagem. Se olharmos bem fixamente a ilustração ao final do tópico, poderemos ver mínimos vultos. É assim mesmo que um aluno com catarata congênita enxerga, quase nada. Na sala de aula, é recomendável boa iluminação e prancha de plano inclinado para facilitar a leitura do texto ampliado. Pode-se precisar de contornos mais fortes e reforçados por canetas grossas; • glaucoma congênito – pode ser hereditário ou causado por infecções. O aluno com glaucoma congênito pode enxergar da forma ilustrada, como se houvesse uma moldura; • albinismo – causa diminuição ou ausência de pigmentação na íris. A criança com albinismo apresenta pele e pelos muito claros devido à falta de melanina. Geralmente, as pessoas albinas apresentam fotofobia (reação forte à luz) e diminuição da acuidade visual. Na sala de aula, é interessante usarem lentes escuras, a iluminação deve ser indireta sobre o caderno e podem necessitar de ampliações de textos; • retinose pigmentar – caracteriza-se por uma degeneração progressiva da retina, comdificuldade para a visão noturna, discriminação de cores, e perda da visão periférica. Na sala de aula, é interessante haver boa iluminação, indireta e focalizada sobre o material de escrita e de leitura. O material adaptado deve ser pouco ampliado e com alto contraste. No caso de perda visual muito significativa, faz-se necessário o aprendizado de Braille; • atrofia no nervo óptico – causa diminuição da acuidade visual, menor sensibilidade ao contraste e alteração do campo visual. Na sala de aula, é interessante haver intensa iluminação e as figuras e as formas serem de contornos simples, sem muitos detalhes. Ilustração de como enxergam as pessoas com as causas acima descritas: Retinopatia da prematuridade Catarata congênita Glaucoma congênito Albinismo Retinose pigmentar Atrofia no nervo óptico Fonte: Honora e Frizanco (2008, p. 127-9). 3.3 Sintomas Como as chances de termos alunos em sala de aula com alguns dos indicativos de que sua visão está com um problema, é preciso ficar atento e observar se faz presente alguns dos itens abaixo: a) irritações crônicas nos olhos, indicadas por olhos lacrimejantes, pálpebras avermelhadas, inchadas ou com crostas; b) náuseas, visão dupla, embaçamento visual durante ou após a leitura; c) fricção dos olhos, franzimento da testa, contração do rosto ao olhar para objetos distantes; d) cautela excessiva no andar, correr com pouca frequência e tropeçar sem razão aparente; e) desatenção anormal a gráficos, mapas e lousa; f) inquietação, irritabilidade, nervosismo excessivo após trabalho visual prolongado; g) piscamento excessivo dos olhos, em especial durante a leitura; h) posicionamento do material didático de leitura muito perto, muito longe ou em posições incomuns para leitura; i) capacidade de ler apenas por curtos períodos de tempo; j) fechamento ou cobertura de um dos olhos, assim como pendência da cabeça para um dos lados, durante a leitura. É importante também sabermos que a maioria dos casos de problemas visuais são detectados por queixas escolares (HONORA; FRIZANCO, 2008). UNIDADE 4 – AVALIAÇÃO FUNCIONAL DA VISÃO A visão funcional nos dá informação sobre a forma como o indivíduo executa as suas atividades visuais no dia-a-dia (Colenbrander, 2003), ou seja, é uma propriedade do indivíduo que reflete na execução das atividades da vida diária. Estudos de Rossi et al (2011) referem que a visão funcional é o modo como cada indivíduo utiliza a visão para realizar suas atividades. Embora existam alguns testes para avaliação da visão funcional, esses variam quanto à metodologia e à idade de aplicação. No Brasil, os testes padronizados são o Método para Avaliação da Conduta Visual de Lactentes, utilizado para bebês com idade até 3 meses; e o Questionário da Função Visual Infantil, para crianças com até sete anos de idade. Este último, um questionário de qualidade de vida, apresenta diversas questões relacionadas à visão funcional. Portanto, os profissionais que trabalham com habilitação de crianças com deficiência visual têm poucos testes padronizados para avaliar a visão funcional, especialmente em idade pré-escolar. Na avaliação funcional da visão considera-se a acuidade visual, o campo visual e o uso eficiente do potencial da visão. A acuidade visual é a distância de um ponto ao outro em uma linha reta por meio da qual um objeto é visto. Pode ser obtida através da utilização de escalas a partir de um padrão de normalidade da visão. O campo visual é a amplitude e a abrangência do ângulo da visão em que os objetos são focalizados. A funcionalidade ou eficiência da visão é definida em termos da qualidade e do aproveitamento do potencial visual de acordo com as condições de estimulação e de ativação das funções visuais. Esta peculiaridade explica o fato de alguns alunos com um resíduo visual equivalente apresentarem uma notável discrepância no que se refere à desenvoltura e segurança na realização de tarefas, na mobilidade e percepção de estímulos ou obstáculos. Isto significa que a evidência de graves alterações orgânicas que reduzem significativamente a acuidade e o campo visual deve ser contextualizada, considerando-se a interferência de fatores emocionais, as condições ambientais e as contingências de vida do indivíduo. Comparativamente, podemos inferir que são funções visuais a acuidade visual, o campo visual, a sensibilidade ao contrates, a sensibilidade à luminância, a visão cromática, o controle óculo-motor e adaptação ao escuro. E a visão funcional foca a leitura, escrita, orientação, deslocamento, tarefas do cotidiano como cozinhar, trabalhos manuais, reconhecimento de pessoas e objetos. O campo visual periférico é importante em atividades como o deslocamento e a condução – segurança dos indivíduos. O campo visual central interfere principalmente com a visão dos pormenores, na leitura ou na identificação de uma cara, sendo de extrema importância na execução das tarefas da vida diária (LUECK, 2004). O campo visual atencional determina as alterações da atenção visual. É útil para determinar a forma que o indivíduo atua no desempenho de tarefas (ex. locomoção) (COSTA; OLIVEIRA; MOUGA, 2011). 4.1 Sua importância A avaliação funcional da visão revela dados quantitativos e qualitativos de observação sobre o nível da consciência visual, a recepção, assimilação, integração e elaboração dos estímulos visuais, bem como sobre o desempenho e o uso funcional do potencial da visão. Essa avaliação deve ser realizada sempre considerando o desenvolvimento global da criança, pois esse processo tem influência no uso da sua visão residual. A partir dessa avaliação podemos entender melhor como cada criança responde visualmente aos estímulos que são oferecidos e elaborar materiais adaptados e brinquedos especiais de forma a potencializar seu desenvolvimento. Essa avaliação é processual e deve ser realizada através de uma observação da criança em diferentes momentos, com propostas de diferentes atividades que sejam significativas para ela. A criança deve ser estimulada desde bem pequena a utilizar sua visão residual e os pais, professores e terapeutas devem oferecer recursos adequados às necessidades visuais de cada criança (BRIANT, 2012). 4.2 Instrumentos para avaliar Devido à dificuldade citada por Rossi et al (2011), foi criado um instrumento de Avaliação da Visão Funcional para crianças de dois a seis anos com baixa visão (AVIF-2 a 6 anos). Os itens do teste foram elaborados a partir da experiência dos autores com base na literatura disponível. Durante a pesquisa, foram verificados sete domínios da visão funcional (fixação visual, seguimento visual, campo visual de confrontação, coordenação olho-mão, visão de contraste no plano, deslocamento no ambiente e visão de cores). Para a aplicação do teste, foram padronizados diversos parâmetros, a fim de que o perfil obtido da visão funcional da criança possa ser correlacionado com outras situações de observação, testes de desenvolvimento infantil e dados informados pelos pais sobre o desempenho da criança nos seus ambientes rotineiros. Os materiais usados na AVIF-2 a 6 anos foram: dois pompons pretoe brancos, com 9 cm de diâmetro, confeccionados com fios de lã; um suspenso por um fio transparente e outro sem fio; dois pompons, com 6 cm de diâmetro, confeccionados com fios de lã, um preto e outro branco; figura da face; duas contas pretas, com 1 cm de diâmetro – uma lisa, pendurada por fio transparente e outra sextavada sem fio; uma bola colorida de tecido, com 12 cm de diâmetro; uma bola vermelha de plástico, com 6 cm de diâmetro; um carrinho de plástico de 13 cm X 6 cm; uma lanterna pediátrica; doze cubos de madeira de 2,5 cm X 2,5 cm (vermelhos, amarelos, azuis e verdes); cobertura branca de tecido no tamanho da mesa de avaliação; um anteparo branco de material emborrachado de 60 cm X 60 cm. A AVIF-2 a 6 anos pode ser aplicada tanto em crianças com baixa visão leve e moderada, quanto naquelas com baixa visão grave e profunda, com acuidade visual até 1,7 logMAR (20/600), o menor valor encontrado nas crianças avaliadas. Os dados preliminares do processo de validação apontam a adequação deste teste ao grupo do presente estudo, mas generalizações para crianças com outras características ainda não podem ser feitas (ROSSI et al, 2011). Em outra pesquisa realizada por Bruno (2005), também aplicado a um grupo de crianças que apresentava as características abaixo, foram aplicados outros testes, elencados na sequência: - baixa visão de origem sensorial (ocular) G.1; G2 baixa visão de origem cortical; - baixa visão comprovada por exame oftalmológico completo; - apresentação de acuidade visual significativamente diminuída (menor que 20/70); - perda visual adquirida no primeiro ano de vida; - erros de refração corrigidos; - frequência a centro de educação infantil. a) Testes Bust para avaliação da acuidade visual, Dra. Eva Lindstedt, Suécia, 1997 (aplicado pela pesquisadora). b) Teste para avaliação da sensibilidade aos contrastes, Dra. Léa Hyvarinen (aplicado pelo oftalmologista). c) Exame neurológico completo com PEV e ressonância magnética para o G.2. d) Campo visual por confrontação (aplicado pela pesquisadora). e) Observação da adaptação à iluminação (realizada pela pesquisadora). f) Roteiro de entrevista semiestruturada com pais, aluno e professores (elaborado e utilizado pela pesquisadora). g) Ludodiagnóstico (quatro cenas lúdicas do cotidiano) para observação das funções visuais e desenvolvimento (elaborado e aplicado pela pesquisadora). h) Protocolo de Avaliação Funcional de Habilidades Visuais e Necessidades Educacionais Especiais (elaborado e aplicado pela pesquisadora). i) Protocolo de Avaliação do Desenvolvimento e Necessidades Educacionais Especiais (elaborado e aplicado pela pesquisadora). j) Levantamento do nível de elaboração do grafismo e representação do desenho a partir dos estudos de Ferreiro e Teberosky. Para aprofundamento neste conteúdo, sugere-se a leitura dos seguintes artigos: BRUNO, Marilda Moraes Garcia. Avaliação educacional para alunos com baixa visão e múltipla deficiência na educação infantil: uma proposta de adaptação e elaboração de instrumentos. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411- -Int.pdf ROSSI, Luciana Drummond de Figueiredo et al. Avaliação da visão funcional para crianças com baixa visão de dois a seis anos de idade - estudo comparativo. Arq. Bras. Oftalmol. [online]. 2011, vol.74, n.4, pp. 262-266. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT15-3411--Int.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf http://www.scielo.br/pdf/abo/v74n4/v74n4a07.pdf UNIDADE 5 – ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE (OM) A orientação e a mobilidade estão presentes na vida de todos nós e quase não percebemos como isso acontece no nosso dia-a-dia. Uma pessoa com deficiência visual pode, quanto melhor for sua orientação e mobilidade, melhorar suas condições de autonomia e independência. A orientação é a capacidade de perceber o ambiente, saber ondeestamos. Para a pessoa com deficiência visual, ela significa o aprendizado do uso dos outros sentidos para obter informações do ambiente. A mobilidade é a capacidade de nos movimentarmos. Para a pessoa com deficiência visual, é o aprendizado para o controle dos movimentos de forma clara e organizada (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007). Relembremos que a primeira coisa que o professor deve procurar saber, ao receber um aluno com deficiência visual em sua sala de aula, é quando a deficiência visual aconteceu. Essa informação dá pistas do conhecimento de mundo que o aluno com baixa visão ou cegueira se apropriou. Saber se a perda de visão foi gradual ou súbita e a forma como ocorreu o problema também é de suma importância. Outros fatores importantes a considerar para entender melhor o aluno com deficiência visual que frequenta a sala de aula são associações (ou não) com outras deficiências, aspectos hereditários, aspectos ambientais e tratamentos recebidos. Descobrir como a família consegue lidar com essa criança, ou com a deficiência do filho, também é um aspecto de alta relevância. Por que estamos reforçando essa condição? Porque conhecendo o histórico do seu aluno, o meio de onde vem e suas expectativas, irá possibilitar melhor orientação e mobilidade para ajudá-lo a ter uma melhor qualidade de vida. 5.1 Conceitos básicos para trabalhar com OM Orientação é o processo de utilizar os sentidos remanescentes para estabelecer a própria posição e o relacionamento com outros objetos significativos no meio ambiente (WEISHALN, 1990 apud GARCIA, 2003). Essa habilidade de compreender o ambiente é conquistada pelos deficientes visuais desde seu nascimento e vai evoluindo no decorrer de sua vida. Por isso, professor, você deve saber da necessidade de nova orientação, por parte da criança, toda vez que houver mudanças no espaço. Tal orientação poderá durar instantes ou até semanas, dependendo da complexidade da situação. As crianças cegas, durante o processo de orientação, podem sentir dificuldades espaciais com relação aos quatro tipos de orientações a partir da consciência de sua localização. Os quatro tipos de orientações são: pontos fixos, quando está parado; pontos fixos, quando está em movimento; pontos em movimento, quando está parado; pontos em movimento, quando está em movimento (PATHAS, 1992 apud GARCIA, 2003). Você deve ensinar ao seu aluno com deficiência visual que o processo de orientação tem como princípio três questões básicas: Onde estou? Para onde quero ir? (Onde está o meu objetivo?) Como vou chegar ao local desejado? Mas, para o aluno elaborar essas questões, ele deverá passar pelo processo que envolve as seguintes fases: • percepção, captar as informações presentes no meio ambiente pelos canais sensoriais; • análise, organização dos dados percebidos em graus variados de confiança, familiaridade, sensações e outros; • seleção, escolha dos elementos mais importantes que satisfaçam as necessidades imediatas de orientação; • planejamento, plano de ação, como posso chegar ao meu objetivo, com base nas fases anteriores; Para, então, chegar à: • execução, a mobilidade propriamente dita, realizar o plano de ação através da prática (WEISHALN, 1990 apud GARCIA, 2003). Todo o processo se dá de forma dinâmica e, caso haja mudanças dos objetivos iniciais, há a possibilidade de alteração. Na orientação existem referenciais que facilitam a mobilidade da pessoa deficiente visual: pontos de referência, pistas, medição, pontos cardeais, autofamiliarização e “leitura de rotas”. WEISHALN (1990 apud GARCIA, 2003) define mobilidade como a habilidade de locomover-se com segurança, eficiência e conforto no meio ambiente, através da utilização dos sentidos remanescentes. Os sentidos remanescentes envolvem as percepções não visuais, como a audição, o tato (sistema háptico), o olfato, a cinestesia, a memória muscular, o sentido vestibular. Para a pessoa cega se movimentar de um ponto para outro é preciso não apenas “ler” ou seguir rotas, mas estar alerta, orientada em relação ao seu destino, construindo, mesmo involuntariamente, um mapa mental da mudança. A utilização de plantas táteis durante a orientação de seu aluno para a mobilidade é uma grande contribuição. A planta tátil pode ser confeccionada no alumínio, marcado por carretilha de costura, ou em cartolina, utilizando sucatas, materiais de diferentes texturas, cola plástica, fios colados e outros materiais que deem relevo. Mas nessa planta é importante marcar o ponto de referência (onde eu estou). Quando a criança está nas primeiras séries é importante que, além de utilizar tais materiais, você deve fazer com que ela trace o caminho para sua exploração e pedir que reconstrua o espaço. Dessa forma, irá transferir as relações espaciais simples da sala de aula para uma maquete construída progressivamente, à medida que for descobrindo novos ambientes. Nessa atividade você poderá avaliar o grau de sua compreensão. É de extrema importância que o aluno vivencie o espaço para compreendê- lo: caso a sala de aula seja quadrada, a base da maquete deve ter a mesma forma. No caso da sala de aula, o ponto mais importante é a porta, depois a mesa do professor, a carteira do aluno deficiente visual, as demais carteiras e as janelas. Uma condição ou conhecimento muito importante para trabalhar orientação e mobilidade que levará a pessoa com deficiência visual movimentar-se com segurança e eficiência diz respeito ao conhecimento corporal que envolve o esquema, o conceito e a imagem corporal, os planos do corpo e suas partes, a lateralidade e direcionalidade (DE MASI, 2003). Formar conceitos de espaço e objetos no espaço depende em grande parte do relacionamento do objeto com o observador. O indivíduo percebe objetos a partir de um ponto de vista egocêntrico, usando os termos acima, abaixo, em frente, lado esquerdo, direito o que depende do desenvolvimento da consciência corporal. Esta envolve a imagem corporal, o conceito e a concepção corporal – elementos essenciais e independentes para a percepção das relações espaciais. Imagem corporal – experiência subjetiva do próprio corpo que envolve sentimentos acerca de si mesmo: atraente, baixo, obeso, musculoso, proporcional, gracioso, etc., com base em fatores emocionais, interações e aspirações sociais e valores culturais. A autoimagem pode diferir consideravelmente da imagem real. O adolescente pode ter apenas uma pequena mancha, mas achar que todo o seu rosto está coberto com horrorosas espinhas que todos percebem. Conceito corporal – conhecimento do próprio corpo, adquirido por um processo de aprendizagem consciente, que inclui a habilidade de identificar partes do corpo: pernas, braços, joelhos, nariz, orelhas, cabelo, etc., sua localização e funções. Concepção do corpo – que é inconsciente e muda constantemente, também chamadas sensações proprioceptivas, serve para tomar conhecimento do corpo: posição dos músculos, relação das partes do corpo entre si e com a força de gravidade. O equilíbrio da pessoa depende da concepção corporal. Se estiver perturbada, haverá dificuldade em fazer movimentos coordenados como andar, sentar-se ou inclinar-se. Os conceitos corporais formam a base dos conceitos espaciais e direcionais, fatores centrais no processo de orientar-se e na mobilidade. A imagem corporal equivale ao conceito corporal. A criança deficientevisual deve identificar as partes do corpo e descrever suas funções: ouvidos para ouvir sons; fala para dizer coisas; mãos para agarrar, segurar e manipular; pernas para sustentar o corpo em pé e auxiliar para caminhar, correr, etc.; dentes para morder e mastigar alimentos; nariz para respirar e sentir odores. Superfícies do corpo – anterior ou frontal, posterior ou traseira, lateral, superior ou em cima, acima, inferior ou embaixo. Posição das partes do corpo – cabelo no topo da cabeça; joelho acima do pé; nariz no centro do rosto; antebraço entre o cotovelo e o punho; queixo abaixo da boca. É preciso movimentar e vivenciar as partes do corpo ou superfícies do corpo pelas articulações: dobrar o braço no cotovelo, erguer os dedos do pé, curvar o corpo lentamente para frente, andar para trás, colocar as mãos nos quadris (DE MASI, 2003). 5.2 Da colher à bengala, do prato à rua – técnicas aplicadas em orientação e mobilidade Segundo o Comitê de Competência do Departamento de Educação dos Estados Unidos, os professores que trabalham com crianças deficientes visuais necessitam conhecer as habilidades básicas de mobilidade; os conceitos e as técnicas que antecedem a aprendizagem do uso da bengala-longa. Somente após ter interiorizado os conceitos de Orientação e Mobilidade é que o aluno estará apto a aprender as técnicas com rapidez e eficiência (GARCIA, 2003). Apenas citaremos e falaremos rapidamente sobre algumas técnicas pois o assunto não se esgota facilmente. De todo modo vale conferir o Guia “Orientação e Mobilidade: conhecimentos básicos para a inclusão do deficiente visual” – MEC, 2003. Técnica do Guia Vidente – o professor ao guiar o aluno de um lado a outro na escola deverá pedir-lhe que descreva detalhes encontrados no ambiente: cruzamento de corredores, aberturas de espaços como saguão, portas, texturas dos pisos, inclinações, degraus e outros. Essas informações poderão servir ao professor como avaliação informal do aluno quanto aos conceitos e as percepções não visuais ou no caso dos alunos com baixa visão o quanto e como está enxergando, o que pode identificar e a que distância. É importante destacar que nesta técnica, o deficiente visual não deverá se deixar guiar passivamente, mas sim assumir uma atitude responsável por sua segurança física, devendo instruir seu guia para que este se constitua numa fonte segura de informação e proteção. O aluno deficiente visual deverá esforçar-se para interpretar corretamente os movimentos corporais e sinais emitidos pelo guia, isto acontecerá após um período de uso da técnica quando estará apto a captar todas as informações cinestesicamente, dispensando as informações orais. Entretanto, durante a caminhada, o guia vidente poderá descrever, relatar e informar pontos de referência que possam interessar, fornecer informações complementares e úteis sobre os serviços existentes, bem como obstáculos encontrados no percurso. Uma observação importante é que o deficiente visual em ambiente externo deverá caminhar do lado interno da calçada, protegendo-se de obstáculos que, quase sempre, são encontrados na parte externa da calçada, como postes, telefone, caixa de correio, lixeiras e outros. As técnicas de autoajuda – possibilitarão ao aluno com deficiência visual movimentar-se com independência, eficiência e segurança, em ambientes internos e familiares, em situações onde haja necessidade de utilizar seu corpo e seus movimentos para se orientar e se locomover. Para o uso dessas técnicas, os alunos necessitarão de conhecimento de seu corpo, de seus movimentos, da posição das partes do mesmo, e dominar conceitos relacionados a espaço, tempo, lateralidade e outros, envolvendo a interpretação cinestésica e a utilização integrada de todos os sentidos. Segundo FANJUL (1983 apud GARCIA, 2003), as técnicas de autoajuda deverão ser incluídas o mais precocemente possível, pois se constituirão nas bases da segurança e confiança na locomoção, tornando-se hábitos indispensáveis que evitarão que o aluno deficiente visual caminhe agitando os braços de forma incontrolada. Sem o uso de pontos de referência confiáveis, por não ter adquirido orientação e domínio do ambiente e conhecimento dos objetos que o rodeiam, estará exposto constantemente a acidentes, gerando uma relação de dependência com seus familiares ou pessoas de seu relacionamento, o que irá bloquear sua independência e levará a uma baixa na sua autoestima. Técnicas com o uso da bengala longa ou técnicas de Hoover – têm como objetivo habilitar a pessoa com deficiência visual para locomover-se com segurança, eficiência e independência em ambientes internos e externos, utilizando a bengala longa. Essa técnica foi organizada através de uma sequência progressiva de dificuldades, iniciando-se em ambientes internos e conhecidos, passando para uma fase residencial, de movimento e trânsito tranquilo, evoluindo para áreas comerciais e mais movimentadas. Em se tratando de estudantes, deverá ser iniciada pelos corredores, sala de aula, banheiros, refeitório e parte administrativa passando para o pátio e posteriormente para os arredores onde a escola está inserida. A bengala longa poderá ser utilizada desde a infância até a idade em que a pessoa tenha condições de se locomover sozinha. O uso da mesma é recomendável também para crianças pequenas dependendo de algumas condições relacionadas à idade, interesse, necessidade, maturidade, responsabilidade e domínio de competências e habilidades que favoreçam o processo evolutivo dos programas de Orientação e Mobilidade (GARCIA, 2003). O texto que segue, de autoria da Profª Drª Sônia Hoffmann e que dá título a este tópico, como justifica a própria autora, colocadas lado a lado, a colher e a bengala branca podem não apresentar, para muitas pessoas, uma relação sequencial e funcional entre si. No entanto, a criança que (con)vive com a cegueira será extremamente beneficiada, em diversos aspectos, com o manejo de ambos os objetos ou instrumentos. Entretanto, a disponibilização destes objetos para seu uso pela criança cega, na fase inicial da infância, é ainda questionada e prorrogada pela grande maioria das famílias, especialmente por quem exerce a função materna, dificultando o desenvolvimento de habilidades motoras e psicomotoras para a alimentação e a locomoção independentes. Assim, este artigo tem a proposta de estabelecer a correlação presente entre o uso da colher e da bengala no cotidiano da criança cega, a partir de condições motoras- perceptuais e funções intelectuais análogas, abordando-se a colher como instrumento de manejo prévio ao uso da bengala. A colher e a bengala como instrumentos de exploração do espaço Conforme Cutter (1992), uma colher e uma bengala branca são, para a criança cega, ferramentas manuais de ação para a realização de um trabalho que pode ser feito próximo ou distante do seu corpo com maior ou menor êxito, de acordo com a habilidade de manipulação manual desenvolvida pela criança. Desse modo, como sugere o autor, a colher pode ser considerada a precursora da bengala, pois ambas as ferramentas gerenciam o espaço: a colher, o espaço do prato; a bengala, o espaço do chão. Inicialmente centrada em si e gradativamente abrindo-se ao mundo, a criança cega observa e recolhe do seu ambiente informações que oportunizam a base de formação de um conjunto de habilidades motoras e psicossociais fundamental para sua construção, enquanto sujeito, e para o seu desenvolvimento, enquanto corpo. Para tal, serápreciso que aconteça a inclusão de instrumentos mediadores, os quais servirão a ela como extensão do membro superior, estruturando-se e organizandose mais rápida e praticamente o seu entendimento e conceituação do mundo e das relações existentes neste mundo que a envolve. Nesse sentido, a manipulação de uma colher pela criança cega, tanto para a realização de atividades funcionais deste objeto quanto para alguma outra atividade lúdica, à qual o objeto colher serve aos propósitos infantis, desencadeia o desenvolvimento de habilidades manuais as quais serão transferidas para o manuseio da bengala branca a partir da funcionalidade desejada. Sem a possibilidade de manusear a colher para sua alimentação independente, ela perde a oportunidade de vivenciar e construir seu conceito de ritmo, frequência e intervalo de tempo necessários no êxito da ação. Entre outros benefícios, ela também perde a oportunidade de constituir sua matriz de análise e de elaboração das concepções de profundidade, lateralidade e de volume. Essas aprendizagens são naturalmente aplicadas entre um objeto e outro. Com a manipulação e o manejo da colher e da bengala, a criança desenrola e evolui os conceitos e concepções para o campo do seu saber. Deste saber, desde que não seja impedida, acontece uma evolução para o campo da sua interação com o ambiente, transformando o saber e a interação, e todas as consequências deste saber e desta interação, como ferramentas e estratégias imprescindíveis ao alcance dos seus propósitos. Assim, por exemplo, seus conceitos de lateralidade e ritmo deslizam para o uso de um e de outro objeto, natural e circunstancialmente, com um ponto de intersecção na autonomia da ação e do produto desta ação: ou seja, na autonomia da alimentação ou da locomoção e no produto gerado por tais ações. Com a manipulação livre da colher, a criança cega desenrola sua competência motora de preensão e desenvolve habilidades de sustentação, equilíbrio, coordenação e orientação espacial, organizando os movimentos e (re)conhecendo as similaridades e alterações captadas pela percepção tátil quando uma ação é mediada por um instrumento. A frequência e a continuidade do uso da colher viabilizam o refinamento gradativo das competências e habilidades motoras e psicomotoras, estruturais ou funcionais. Segura e sustentada por um conhecimento internalizado e estruturado, a criança cega desliza este saber do uso bem sucedido da colher para uma utilização mais adequada e racional da bengala, uma vez que ela recolhe e decodifica com maior precisão e com menor necessidade de estímulos a informação do ambiente que sua bengala lhe oferece em função de já ter internalizado a dinâmica da percepção tátil-cinestésica por via indireta. A forma de preensão destes objetos toma, evidentemente, sua diferenciação desde o refinamento da motricidade da criança desenvolvida na dimensão ergonômica do objeto propriamente dito. Todavia, igualmente nas preensões palmar e digital, tanto da colher quanto da bengala, a criança cega exercita suas potencialidades rumo à autonomia e à independência não apenas motora, mas cognitiva e psicossocial porque o alimentar-se e o locomover-se por suas próprias habilidades produz, no mínimo, efeitos positivos sobre sua autoestima e interação social. O uso da colher e da bengala como estruturantes de relações psicocognitivas e psicossociais A estruturação de relações psicocognitivas e psicossociais a partir do uso da colher e da bengala encontra sustentação em Leonhardt (1962). Segundo essa autora, a edificação global da criança cega, inclusive o seu desenvolvimento motor, evolui sempre que houver a base de um bom desenvolvimento do ego, o qual, por sua vez, desenvolve- se sadiamente a partir de ótimas sensações de competência e eficácia. Nesse sentido, a criança cega precisa que suas necessidades fundamentais de segurança e autonomia progressiva sejam potencializadas e respeitadas pelo outro, ou seja, por aqueles que vivem e convivem com ela. Quando o outro social, responsável pela educação da criança cega, limita ou impede que ela manipule objetos ( a colher e a bengala, neste caso) não possibilitando a ela a experiência e a vivência continuada da ação, consideramos que ele não está restringindo somente sua possibilidade em desenvolver a habilidade de alimentar-se ou locomover-se com autonomia. Com sua superproteção, negação ou qualquer outro motivo emocional que sirva de barreira para este consentimento, está colocando também na trajetória da criança um sério entrave em sua construção como sujeito. A restrição no uso direto da colher pode transmitir à criança cega uma dupla mensagem: que ela não seja capaz de encontrar, pegar e transportar o alimento à boca; que ela não seja capaz de construir sua independência e autonomia, nos diversos aspectos da vida, iniciando pela alimentação. Relativamente a quem exerce a função do consentimento para o manuseio da colher, muitas leituras podem ser feitas sobre esta restrição. Entretanto, parece que a principal encontra-se no fato de muitas mães ou outros familiares não conseguirem olhar para a inabilidade da criança cega, como se inabilidades motoras fossem exclusivamente para estas crianças e não para todas as crianças com pouca idade. Estas dificuldades consensuais e de entendimento geram frustração, passividade e descrédito para ambos os lados. Crianças cegas habituam-se à espera, ao isolamento e à perda da criatividade, não se tornando curiosas e abandonando seu instinto de investigação e de análise da relação dos objetos com o ambiente. Tudo isso a conduz à inércia e ao desapego, pois, desde cedo, nela já foi inscrita a incapacidade e, consequentemente, não encontra estímulos para uma socialização sadia. Na mãe e demais familiares, esses sentimentos se potencializam porque eles passam a relacionar- se com a criança como um ser impedido, vitimizado e multidependente, tornando-se então sequestradores de oportunidades de crescimento e evolução da criança. O simples ato de alimentarem a criança cega por eles próprios, o que inicialmente era feito com prazer e satisfação, pode tornar-se com o tempo uma obrigação e um transtorno. A criança não fica indiferente a este comportamento e à decodificação de tal sentimento, reproduzindo- se nela e reforçando-se os sentimentos de baixa autoestima, confiança e iniciativa, ou seja, instala-se um ciclo cumulativo e nocivo de sentimentos destrutivos. Se para o manejo independente da colher muitos familiares têm dificuldade de aceitação, o que então esperar em termos da sua dificuldade em visualizar a criança cega manejando uma bengala? O manejo e o domínio no uso da bengala não proporcionam à criança cega tão- somente a diversificação e a qualificação das suas experiências locomotoras obtidas através do exercício das suas habilidades motoras e cognitivas. Esta ação provoca o autoconhecimento e a vivência da dicotomia confronto-resolução, possibilitando o desenvolvimento da confiança e da segurança em suas competências e (re)ações corporais e intelectuais, bem como a constatação das suas limitações ou possibilidades frente ao ambiente. Diante dessas capacidades e habilidades, a criança cega passa a vivenciar e experimentar com mais frequência sua circulação no ambiente e, com isto, a oportunidade do conhecimento real e não apenas discursivo dos objetos, o conhecimento de (re)ações afetivas provindas dela e das demais pessoas e a qualificação da sua socialização em função da ampliação dos seuscontatos sociais e culturais. Conclusão A oportunidade para o uso e manejo independentes da colher pela criança cega assume um papel de fundamental importância na aquisição de habilidades motoras manuais, uma vez que as sensações propioceptivas e cinestésicas da mão, seu tato e as formas de preensão permitem a esta criança estabelecer limites de espaço mediante a percepção do contorno, da textura, da consistência e do volume dos objetos, substâncias e demais composições. Essas competências, no momento do uso e manuseio da bengala, possibilitam à criança cega a transferência de conhecimentos e a facilitação no processo de decodificação das informações táteis obtidas por mediação deste instrumento, ampliando e agilizando os benefícios trazidos por uma locomoção independente e autônoma. Desse modo, uma fundamental relação entre colher e bengala toma forma e percebe-se nesta relação a constituição de um conjunto de aquisições de habilidades motoras, cognitivas, sociais e afetivas que autorizam a criança para a passagem da exploração do ambiente do prato para a exploração do ambiente da rua. UNIDADE 6 – ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO O atendimento educacional especializado é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, graus e etapas do percurso escolar e tem como objetivos, entre outros, identificar as necessidades e possibilidades do aluno com deficiência, elaborar planos de atendimento, visando ao acesso e à participação no processo de escolarização em escolas comuns, atender o aluno com deficiências no turno oposto àquele em que ele frequenta a sala comum, produzir e/ou indicar materiais e recursos didáticos que garantam a acessibilidade do aluno com deficiência aos conteúdos curriculares, acompanhar o uso desses recursos em sala de aula, verificando sua funcionalidade, sua aplicabilidade e a necessidade de eventuais ajustes, e orientar as famílias e professores quanto aos recursos utilizados pelo aluno (SARTORETTO; SARTORETTO, 2008). O atendimento educacional especializado disponibiliza programas de enriquecimento curricular no caso de altas habilidades, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização, ajudas técnicas e recursos de tecnologia assistiva, dentre outros. Ao longo de todo processo de escolarização, esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físico, cognitivo, emocional, psicomotor e social e a convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Nesse sentido, o atendimento educacional especializado deve estar presente em todas as etapas e modalidades da educação básica, e se destina a apoiar o desenvolvimento dos alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. De oferta obrigatória dos sistemas de ensino, deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na própria escola ou em centro especializado que realize esse serviço educacional. O atendimento educacional especializado é realizado mediante a atuação de profissionais com conhecimentos específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do sistema Braille, do Soroban, da orientação e mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos programas de enriquecimento curricular, da adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e não- ópticos, da tecnologia assistiva e outros. Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado e deve aprofundar o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. O atendimento educacional especializado destina-se normalmente aos alunos da escola que apresentam algum tipo de deficiência, mas pode estender-se também aos alunos de escolas próximas, nas quais esse tipo de serviço ainda não esteja organizado. Pode ser realizado individualmente ou em pequenos grupos, em horário diferente daquele em que frequentam a classe comum. O Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008, além da sua disposição sobre o apoio técnico e financeiro aos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ele tem como finalidade a ampliação da oferta do Atendimento Educacional Especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular. De acordo com o disposto neste documento, considera-se Atendimento Educacional Especializado – AEE – o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação do ensino regular. Neste sentido, são objetivos do atendimento educacional especializado: I – prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos referidos no artigo 1°; II – garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino III – fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e, regular; IV – assegurar condições para a continuidade de estudos e nos demais níveis de ensino. 3.1 Conceito e definição O Atendimento Educacional Especializado (AEE), segundo Mantoan (2004), refere-se ao serviço de apoio para melhor atender às especificidades dos alunos com deficiência, complementando a educação escolar e devendo estar disponível em todos os níveis de ensino. A autora diz que a Constituição admite ainda que o atendimento educacional especializado deve ser, preferencialmente, oferecido na rede regular de ensino, no entanto, também pode ser oferecido fora da rede regular, já que é um complemento e não um substitutivo do ensino ministrado na escola comum para todos os alunos. Ele deve ser oferecido em horários distintos das aulas das escolas comuns, com outros objetivos, metas e procedimentos educacionais. Suas ações são definidas conforme o tipo de deficiência que se propõe a atender. O AEE, é de acordo com o MEC e a Secretaria de Educação Especial, um serviço da Educação Especial que identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando as suas necessidades específicas. Fávero (2007, p.15 - 16) afirma que: [...] o simples fato de referir a pessoas com deficiência e seu direito à educação faz com que surja, de imediato, a noção de que é uma diferenciação mais que válida, necessária de tão acostumados que todosestão a identificar tais pessoas como titulares de um ensino especial. [...] este verdadeiro desafio, que coloca em xeque o costume de associar pessoas com deficiência a um ensino diferente apartado, porque as soluções que podem surgir disso, além de garantir as pessoas com deficiência o seu direito de igualdade, talvez seja uma contribuição para melhoria da qualidade de ensino em geral. Pode-se então compreender que de fato o AEE está garantido na legislação, contudo não há práticas de ensino específicas para inclusão, a não ser recursos que podem auxiliar os processos de ensino e de aprendizagem. O professor, de um modo geral, deve considerar as possibilidades de desenvolvimento de cada aluno e explorar sua capacidade de aprender. Os alunos com deficiências e condutas típicas, devido às suas particularidades, podem necessitar de estratégias, ações e recursos diferenciados para que o seu direito à educação seja assegurado. O conjunto desses serviços também é oferecido pelo Atendimento Educacional Especializado, que devem ser organizados institucionalmente em escolas públicas, mas podendo também atender alunos de escolas particulares, atendendo alunos da educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, para apoiar e complementar os serviços educacionais comuns de forma a favorecer o desenvolvimento desses alunos (BRASIL, 2007). Assim, o AEE complementa ou suplementa a formação do aluno com vistas à sua autonomia e independência na escola e fora dela. E sob o ponto de vista da legalidade, um dos pontos de discussão é garantir a aplicação da igualdade de acesso à educação formal, assim entramos num dilema que é saber [...] em qual hipótese “tratar igualmente o igual e desigualmente o desigual”, fórmula proposta ainda na Antiguidade, por Aristóteles. A utilização da fórmula aristotélica, pura e simplesmente, já demonstrou que, em certos casos, pode até configurar uma conduta discriminatória. Esta fórmula, em razão de sua sabedoria, jamais foi alterada, mas vem sendo constantemente aprimorada. A doutrina e jurisprudência existentes oferecem como solução o imperativo de tratamento igual para todos, admitindo-se os tratamentos diferenciados apenas como exceção e desde que eles tenham um fundamento razoável para sua adoção (FÁVERO, 2007, p.13). Portanto, o AEE é um recurso educacional que propõe estratégias de apoio e complementação colocados à disposição dos alunos com deficiências e condutas típicas, proporcionando diferentes alternativas de atendimento, de acordo com as necessidades educacionais especiais de cada aluno, podendo assim de fato garantir o direito à educação plena e de qualidade (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2010). O Atendimento Educacional Especializado na forma de apoio representa os atendimentos que favorecem o acesso ao currículo, podendo ser oferecidos dentro, como apoio ao professor relacionado a estratégias em sala de aula, ou fora da sala de aula no contraturno da escolarização, no caso para atendimento do aluno. Segundo Silva e Maciel (2005), o AEE na forma de complementação representa um trabalho pedagógico complementar necessário ao desenvolvimento de competências e habilidades próprias nos diferentes níveis de ensino, deve ser realizado no contraturno da escolarização do aluno e se efetiva por meio dos seguintes serviços: salas de recursos; oficinas pedagógicas de formação e capacitação profissional. Em linhas gerais, o objetivo do AEE, é o de oferecer o que não é próprio dos currículos da base nacional comum, possuindo outros objetivos, metas e procedimentos educacionais. Segundo Silva; Maciel (2005, p. 5), suas ações são definidas conforme o tipo de deficiência ou condutas típicas que se propõe a atender, bem como deve contemplar as necessidades educacionais especiais de cada aluno, as quais devem estar fundamentadas na avaliação pedagógica. De todo modo, o Atendimento Educacional Especializado não deve ser confundido com o reforço escolar nem como atendimento clínico, ou como substituto dos serviços educacionais comuns. Ressalta-se que a escolarização dos alunos com deficiências e condutas típicas deve ser um compromisso da escola e compete à classe comum, que deve responder às necessidades dos educandos com práticas que respeitem as diferenças (SILVA; MACIEL, 2005). No que se refere à formação do profissional para atuar na sala de recursos, o professor da sala de recursos deverá ter curso de graduação, pós-graduação e/ou formação continuada que o habilite para atuar em áreas da educação especial para o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos. Essa formação é específica para cada deficiência ou condutas típicas (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2010). Portanto, o AEE se valida, de acordo com Fávero (2007), por ser um tratamento diferenciado, que tem sede constitucional, e que não exclui as pessoas com deficiência dos demais princípios e garantias relativos à educação. Assim, o Atendimento Educacional Especializado será válido somente se de fato levar o direito à educação. 3.2 As salas de recursos Lócus privilegiado do atendimento educacional especializado, a sala de recursos multifuncionais torna palpáveis e concretos, em nível de escola, os objetivos da política nacional de educação especial, seja pelo conjunto de meios e recursos que nela são colocados à disposição do aluno com deficiências, seja, sobretudo, pelo fato de que é na escola comum que a sala de recursos multifuncionais deve funcionar (SARTORETTO; SARTORETTO, 2010). As salas de recursos são espaços da escola onde se realiza o atendimento educacional especializado de alunos com necessidades educacionais especiais, matriculados na escola comum. O atendimento em salas de recursos constitui um serviço educacional de natureza pedagógica, feito por professor especializado, num espaço dotado de materiais, equipamentos e recursos pedagógicos adequados às necessidades educacionais dos alunos da escola que apresentam dificuldades acentuadas em relação à aprendizagem, vinculadas a algum tipo de deficiência ou não. A sala de recursos multifuncionais é, portanto, um espaço da escola comum provido de materiais didáticos, pedagógicos e de tecnologia assistiva, onde trabalham profissionais com formação específica para o atendimento dos alunos com dificuldades educacionais especiais em razão de algum tipo de deficiência (auditiva, visual, motora, cognitiva, verbal), de transtornos globais de desenvolvimento ou de altas habilidades/superdotação. Chama-se sala de recursos multifuncionais, precisamente, porque nela se concentram materiais didáticos, equipamentos e profissionais aptos a atender, de forma flexível, aos diversos tipos de necessidades educacionais especiais (SARTORETTO; SARTORETTO, 2010). A sala de recursos é parte do Atendimento Educacional Especializado que propõe a complementação do atendimento educacional comum. As atividades nesta sala devem ocorrer em horário diferente ao turno do ensino regular, para alunos com quadros de deficiências (auditiva, visual, física, mental ou múltipla) ou de condutas típicas (síndromes e quadros psicológicos complexos, neurológicos ou psiquiátricos persistentes) matriculados em escolas comuns, em qualquer dos níveis de ensino, considerando-se que na sala deve haver equipamentos e recursos pedagógicos adequados às necessidades especiais. O agrupamento dos alunos deverá ocorrer por necessidades especiais semelhantes e mesma faixa etária. De acordo com Fávero (2007, p.17), elas garantem “[...] o direito a educação,
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