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Resenha de África Negra - História e Civilização pp 163 a 205 de Elikia M'Bokolo

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M’BOKOLO, Elikia. África Negra: História e Civilizações. Salvador: EDUFBA; SP: Casa das Áfricas, 2008. Os Estados das Savanas Meridionais, pp. 163-205.. 
Em “Os Estados das Savanas Meridionais” do livro “África Negra: História e Civilizações” do pesquisador congolês Elikia M’Bokolo, formado em História na Escola Superior de Paris em 1917. O autor introduz a temática evidenciando quais eram os Estados que faziam parte dessa região e onde estavam localizados, mostra que os Estados das Savanas Meridionais são formados pelos Estados estabelecidos ao sul do Saara e no primeiro momento aponta para a falta de pesquisas sobre como foi o processo de surgimento desses Estados. 
De acordo com o autor, somente dois Estados conseguiram produzir um número significativo de fontes em relação a suas fundações diante das variadas unidades políticas que existia na região, foram eles: Império do mwene mutapa e o do reino do Kongo, M’Bokolo fixará sua atenção, nesse primeiro momento, ao Império do mwene mutapa. O pesquisador reconheceu que ainda é um mistério a questão da nomenclatura e que são as fontes e pesquisas arqueológicas as responsáveis por permitir um maior entendimento dos aspectos políticos, sociais e econômicos desse Império. 
Buscando fundamentar sua investigação utiliza-se dos textos portugueses como fonte, o autor expõe que um dos únicos tópicos que não cabe muito debate, refere-se à existência dessa região no século XIX e os artefatos arqueológicos, e que são esses documentos que possibilitaram conhecer um pouco mais sobre a dimensão e o local que estava estabelecido o Império Monomotapa. O autor vai expor que durante os séculos XVI e XVIII, os europeus passaram a elaborar uma narrativa sobre o reino, mas acabam misturando aspectos reais aos fantasiosos, buscando relacionar o que seria o Império naquele momento com o que teria sido o Reino do Preste João no século XV.
Foi através do estudo arqueológico que foi rompendo-se com essa visão fantástica, mas essa mudança argumentativa só foi possível a partir do final do século XIX com os interesses aflorados na região em detrimento das descobertas de pedras preciosas e do contexto colonial. Mas é preciso entender que mesmo com a descoberta das ruínas da Grande Zimbábue pelo geólogo Karl Mauch, os arqueólogos profissionais só apareceram no início do século XX, o autor então afirma que no começo a exploração ao redor das ruínas eram feitas pelos exploradores de pedra preciosas e que eles buscavam essas ruínas desrespeitando as etapas que eram feitas pelos arqueólogos. 
O autor vai trazer uma descrição do que englobava o Grande Zimbábue e como se estava estruturado os elementos que compunham esse ambiente e como as estruturas haviam sido construídas. Além disso, ele afirma que Grande Zimbábue não era o único perímetro com ruínas da região, a análise arqueológica feita por volta de 1930 trouxe diversas outras ruínas estabelecidas entre os vales do Zambeze e do Limpopo, mas que poucas foram liberadas para serem objetos de estudo. Nesses que foram permitidos, foram encontrados milhares de objetos, túmulos que datam em sua maioria do século XII e diversos artefatos de ouro e de outros metais preciosos. 
Mesmo diante dos documentos produzidos pelos portugueses, M’Bokolo reafirma as dificuldades de se estabelecer uma história precisa, pois durante muito tempo houve uma tentativa de deslegitimar a autoria africana dessas construções, propondo durante os séculos XVI ao XX uma argumentação pautada em um discurso ideológico que direcionava a edificação desses monumentos para outras direções, reconhece nessas alegações uma história colonial marcada pelo racismo. O historiador ainda aponta que os documentos analisados ainda auxiliam em manter parte desse discurso misterioso sobre as ruínas de Zimbabwe. 
Perante a justificativa ideológica estabelecida, os indivíduos buscaram associar as construções ao templo de Salomão ou a outras civilizações; respaldada pelos manuais escolares e guias turísticos essas afirmações tem destaque até os anos de 1980. Mas assim como expõe o M’Bokolo, até mesmo quando buscava-se fugir dos argumentos colocados anteriormente, ainda era feita uma análise que utilizava uma perspectiva ideológica violenta. 
O autor também apresenta os trabalhos daqueles que fugiam do discurso ideológico e atribuíam o pertencimento das ruínas e dos sistemas estabelecidos em Zimbábue aos africanos. Em face dessa legítima identificação, compreende-se também como a palavra Zimbábue estava ligada a língua shona, e como esse termo era auto representativo quando se conhecia o significado por trás da palavra, dzimba dza mabwe (casa de pedra) e dzimba woye (casa venerada). A partir dessas descobertas, o historiador afirma a necessidade de deixar de lado os aspectos mais problemáticos da arqueologia para se permitir debruçar no campo que permite reconhecer as estruturas das civilizações que ocupavam anteriormente aquela área. 
Buscando apresentar as evidências para elucidar seus argumentos, M’Bokolo mostra os tipos de cerâmicas encontrados nos sítios arqueológicos e suas semelhanças com as que datam da idade do ferro e com as de Shonas e reflete sobre a extensão de características culturais e econômicas que se assemelhavam entre as sociedades da África Austral, diante dessas similaridades alguns pontos devem ser destacados como a domesticação do gado, utilizado eles para subsistência, e a utilização de cerâmicas. 
No que se refere ao processo de formação e estruturação do estado é possível atestar sua existência em função dos testemunhos, mas ainda é difícil compreender quais os processos que ocorriam para conduzir até a necessidade de se formar um Estado. O autor vai argumentar sobre as dificuldades de se apresentarem provas concretas sobre esse tema, e por essa razão, surgiram são apresentadas várias justificativas para serem relacionadas a insurgência do Estado. A primeira linhagem de pensamento estará ligada ao campo religioso como ferramenta impulsionadora para criação de um sistema diferente; a outra linhagem vai se basear no comércio de longa distância e sua capacidade de gerar o desenvolvimento necessário para o estabelecimento de mudanças; a outra linhagem vai se apoiar nas dinâmicas internas para construir uma explicação global para que se propunha entender o contexto que fez surgir os Estados. 
M’Bokolo também mostra os aspectos sociais e políticos quando o Estado mwene mutapa já destacava seu poderio, apresenta a maneira que a sociedade estava organizada no espaço em diferentes camadas: a base seria composta pela aldeia e a reunião de várias casas com indivíduos que compartilhavam um antepassado em comum e a autoridade estava direcionada para um chefe, denominado mwenemusha, ou para o mais velho; na camada intermediária tinha se a corte do chefe chamada de muzinda que englobava estruturas de administração das províncias; a camada mais alta chamada de Zimbábue representava a residência secundária do rei ou daqueles que pagassem um tributo ao rei, viviam em relativa autonomia. 
Segundo o autor, a organização do espaço em camada buscava reafirmar como estava estruturada a administração do Estado e como se distribuía o poder, além de reconhecer o papel religioso atribuído à figura real. São muitas as informações passadas por M’Bokolo sobre cada indivíduo que fazia parte dessa sociedade, a função que cada um desempenhava e como foi o caminho até a edificação do Estado, entretanto, o autor também traz para o texto os questionamentos que são reconhecidos como fatores que podem ter possibilitado o declínio do reino mwene mutapa, como por exemplo: desmatamentos, crescimento demográfico acelerado ou tomada do poder por rebeldes. 
O capítulo “Os Estados das Savanas Meridionais” tem uma expressiva quantidade de informações, todos os pontos são abordados de uma forma que busque expressar o completo entendimento da temática abordada, entretanto, pela densidade do assunto torna-seum texto direcionado para aqueles que possuem algum interesse prévio pelo tema. É válido destacar que M’Bokolo reúne uma rica composição de fontes para corroborar os argumentos colocados, trazendo reflexões e novas visões sobre o que se é falado. 
O capítulo “O Reino do Kongo” do seu livro “África Negra: História e Civilizações'', diante de uma escrita bastante descritiva, M’Bokolo vai propor a construção de uma nova concepção para se enxergar o processo de fundação do Reino do Kongo, buscando romper com a narrativa da história contada pela visão colonial. 
O historiador irá buscar nas tradições orais a perspectiva local e linear para analisar o reino do Kongo em conjunto com os aspectos sociopolíticos que constituirão a base para formação desse reino. O autor apresenta muitas palavras e termos mais particulares, mas sempre explica o significado e a relação por trás de cada um. No contexto social antes da fundação do reino são expostos dois sistemas, um baseado nas relações de parentesco ou de filiação denominado “Dikanda” e outro baseado nas estruturas residenciais. 
M’Bokolo mostra também os aspectos econômicos ressaltando a importância e a dinamicidade das zonas e as relações de troca em função de um comércio ativo tanto no contexto local, como no regional. O historiador, diante do que foi mencionado, propõe um questionamento em relação de que foram o comércio desenvolvido e a relevância das zonas o mecanismo necessário para o surgimento do Estado. Traz também os aspectos religiosos, mas afirma a dificuldade de reconhecimento da autenticidade da história religiosa por causa do processo de colonização. 
A abordagem feita pelo autor no campo da religião vai mostrar como as crenças estavam divididas em duas partes opostas e na simbologia das cores branca e preta, na qual a primeira cor estava relacionada a morte e o mundo invisível, e a segunda estava associada aos vivos e o mundo “real”. Dessa visão de mundo surgiram três corpos de crenças: uma ligada aos mortos; outra relacionada a mbumba e à fertilidade; e uma última ligada aos espíritos demoníacos na relação do indivíduo e a sociedade e do homem com a natureza. 
Para M’Bokolo, essas diversidades na questão da fé poderiam representar as diferentes organizações políticas que foram construídas antes da formação do reino. Existia as Kanda que eram determinadas pelas relações de parentesco e a ligação com os antepassados, além disso, o autor afirma que essa estrutura estava inserida em um aspecto dinâmico, mas contido em fatores de permanências ou mudanças bruscas, essas transformações refletiram principalmente nas questões hierárquicas que não conseguia se manter totalmente solidificadas. Tinha-se também as chefeaduras de essência religiosa, que como a própria nomenclatura busca informar, associava-se o controle do território às forças espirituais. 
No caso das chefeaduras, os bitomi seriam os responsáveis por encarnar os poderes do mbumba, ficariam encarregados de manter a ordem na população e de garantir a fertilidade para os homens, os animais e as plantas. A simbologia dos bitomi estava associada ao fogo e ao ferro, por está razão, M’Bokolo afirma que os indivíduos que ocupavam essa posição eram ferreiros, conduzindo para o período que o Reino já estava estabelecido, ele aponta que o ferreiro ainda eram um ofício importante e que em alguns casos os reis Kongo ainda eram associados a esse trabalho. O autor vai informar que a concepção de bitomi não se estendia por toda parte, em alguns outros lugares havia a predominância de outras instituições. 
Outra organização política analisada pelo historiador são os chefados que buscavam sua legalidade nos antepassados e nos espíritos que ajudassem na manutenção da sua autoridade. Apesar da existência dessa organização, o autor aponta que não significava necessariamente a formação de um Estado. Para explicar a fundação do reino dois contextos foram analisados, o primeiro tinha relação com o mito da fundação e se apoiava em narrativas ricas, mas que para M’Bokolo não representavam a realidade em sua totalidade, pois se apoiavam em um texto ideológico que buscavam fundamentar a formação de um novo sistema político mesmo com indivíduos em desacordo com tal situação. 
A outra narrativa que será realizada partirá para um campo da história e analisará a partir da origem de Nimi a Lukeni, considerado fundador do reino. O autor irá reconhecer que é difícil estabelecer até onde vai o mito e onde parte a história, para ele, as fontes são tardias e raramente apontam para um único caminho, diante disso, precisa-se pensar a fundação como um processo complexo e de variáveis versões. 
A questão governamental no início do reino foi bem administrada, pois os governantes conseguiram se estabelecer em um local estratégico e de grande importância para o estabelecimento de um comércio com regiões periféricas, entretanto, o historiador reconhece a existência de conflitos nessas áreas e o pedido de ajuda do rei do Kongo aos portugueses recém chegados. É difícil estabelecer pelas fontes quantos e quais povos estão sujeitos ao Kongo, de acordo com M’Bokolo, mas através da análise desses documentos fica evidente que a estrutura política existente conduziu para o desenvolvimento da relação dessas províncias com o Reino Kongo. 
Para Elikia M’Bokolo, o Estado Kongo estrutura suas bases em tradições antigas, mas também em aspectos que visem a construção de um sistema radicalmente novo. Economicamente falando, o Estado estava estabelecido em uma condição diversificada, mas prevalecia o rudimentar sistema agrícola e o artesanato dinâmico. Algumas fontes apresentadas são importantes para reconhecer como era a composição da população deste reino, o autor apresenta os indícios levantados por Bernardo da Gallo no século XVII e expõe para existência de dois povos, um considerado imigrante e outros que já eram pertencentes ao país. 
No que diz respeito a permanências e mudanças, a análise feita por John Thornton é um importante mecanismo para se compreender o sistema econômico; no caso de continuidades são apontadas a economia aldeã e de modificações são retratadas a economia urbana que se utilizava da mão de obra servil. Nesse mesmo aspecto, M’Bokolo apresenta as questões referentes à realeza e reconhece que eles tentaram administrar as tradições em conjunto com as inovações, ao menos até o momento da cristianização do reino. 
Elikia M’Bokolo organizou esse capítulo apresentando todas as informações necessárias para compreensão do leitor, o texto não requer conhecimentos prévios para seu entendimento, é importante ressaltar que os termos destacados são bem explicados. Apesar de ser um texto com muitas informações, a explicação é colocada de forma bastante compreensível pelo autor e as citações e mapas usados ajudam no enriquecimento do capítulo.

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