Buscar

RBAC-vol-49-2-2017-revista-completa

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 109 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 109 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 109 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Volume 49 - Nº 02 | Ano 2017
ISSN 2448-3877 
Brazilian Journal of Clinical Analyses
114 RBAC.2017;49(2):114
Editor-chefe/Editor-in-Chief
Paulo Murillo Neufeld (RJ)
Editores Eméritos/Honorary Editors
Mateus Mandu de Souza (RJ)
Editores Associados/Associate Editors
Mauren Isfer Anghebem Oliveira (PR)
Paulo Jaconi Saraiva (RS)
Publicação oficial da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas – SBAC
Official Publication of Brazilian Society of Clinical Analyses
Produção Editorial/Publisher
Trasso Comunicação Ltda
www.trasso.com.br
Bioquímica Clínica/Clinical Biochemistry
Álvaro Largura (PR), Marcelo Quintão Mendes (MG),
Geraldo Picheth (PR), Marileia Scartezini (PR), Aricio
Treitinger (SC), Paolo Mocarelli (ITA), Dulcineia Saes
Parra Abdalla (SP), Ary Henrique Filho (GO), Daniel
Mazziota (AR), Antenor Henrique Pinto Pedrazzi (SP),
Jane Maciel Almeida Baptista (MG), Marinez Oliveira
Sousa (MG), José Edson P. da Silva (RS), Rafael Noal
Maresco (RS)
Citologia Clínica/Clinical Citology
Rita Maria Amparo Bacelar Palhano (MA), Celso
Rubens Loques Mendonça (RJ), André Valpassos
Pacifici Guimarães (RJ), Carlos Eduardo de Queiroz
Lima (PE), Rita Gorete Amaral (GO), Alexandre
Sherlley Casimiro Onofre (SE), Silvia Helena Rabelo
Guimarães (GO)
Controle de Qualidade/Quality Control
José Abol Corrêa (RJ), Luís Fernando Barcelos
(RS), Mateus Mandu de Souza (RJ), Celso Rubens
Loques Mendonça (RJ), Gabriel de Souza Lima
Oliveira (SP)
Endocrinologia/Endocrinology
Carlos Alberto Camargo (SP), Ana Maria Menezes
(SP)
Toxicologia/Toxicology
Regina Helena Queiroz (SP), Maria da Graça Almeida
(RN)
Microbiologia Clínica/Clinical Microbiology
Antônio Márcio Lopes (MG), Raimundo Diogo Machado
(RJ), Estevão José Colnago (RJ), Amauri Braga Simo-
netti (RS), Cássia Maria Zoccoli (SC), Carmen Paz Oplusti
(SP), Raissa Mayer R. Catão (PB)
Imunologia Clínica/Clinical Immunology
Mateus Mandu de Souza (RJ), Paulo Jaconi Saraiva
(RS), Antônio Walter Ferreira (SP), Adelaide José
Vaz (SP), Silvia Fernandes R. da Silva (CE), Manuela
Berto Pucca (SP)
Parasitologia Clínica/Clinical Parasitology
Antônio Pedro Soares (MG), Geraldo Atilio de Carli
(RS), Jerolino Lopes Aquino (MT), Alverne Passos
Barbosa (GO), Mauren Isfer Anghebem Oliveira (PR)
Micologia Clínica/Clinical Micology
Paulo Murillo Neufeld (RJ), Maria José Gianini (SP),
Regina Célia Candido (SP), Rosane Rhan (MT)
Biologia Molecular/Molecular Biology
Mario Hiroyuki Hirata (SP), Rosário Dominguez
Crespo Hirata (SP), Marcelo Ávilla Mascarenhas
(RS), Kelly Melo (SP), Maria Elizabeth Menezes (SC)
Hematologia Clínica/Clinical Hematology
Jorge Fernando Teixeira Soares (RJ), Marcos Kneip
Fleury (RJ), Celso Spada (SC), Paulo César Naoum
(SP), Julio Cezar Merlin (PR), Paulo Henrique da
Silva (PR), Robson Ferreira Ferraz Santos (RJ),
José Edson Paz da Silva (RS)
Comitê Editorial/Editorial Board
Luiz Fernando Barcelos (RS)
Presidente/President
 Maria Elizabeth Menezes (SC)
Vice-Presidente/Vice-President
Lenira da Silva Costa (RN)
Secretário-Geral/General Secretary
Mauren Isfer Anghebem (PR)
Secretário/Secretary
Valpassos Pacifici Guimarães (RJ)
Tesoureiro/Treasurer
Marcos Kneip Fleury (RJ)
Tesoureiro Adjunto/Assistent Treasurer
Conselho Fiscal/Fiscal Board
Titulares/Holders
 Vanderlei Eustáquio Machado (MG)
Alverne Passos Barbosa (GO)
Jurandi David da Silva (PE)
Suplentes/Alternates
Nilson Lima Lopes (BA)
Tereza Neuma de Souza Brito (RN)
Paulo Roberto Hatschbach (PR)
DIRETORIA EXECUTIVA/EXECUTIVE BOARD
Rua Vicente Licínio, 99 - Tijuca
 Rio de Janeiro, RJ - Brasil
20270-902 – Fone: 21 2187-0800 – Fax: 21
2187-0805 E-mail: rbac@sbac.org.br
Afiliações/Affiliations
PNCQ – Programa Nacional de Controle de
Qualidade/National Program of Quality Control
Coordenador/Coordinator: Francisco Edison Pacifici
Guimarães (RJ)
SNA / DICQ – Sistema Nacional de Acreditação/
National System of Acreditation
Coordenador/Coordinator: André Valpassos Pacifici
Guimarães (RJ)
CEPAC – Centro de Ensino e Pesquisa em Análises
Clínicas
Post Graduation Center
Coordenadora/Coordinator: Maria Elizabeth Menezes
(SC)
CB-36 – ABNT
Superintendente/Superintendent: Humberto Marques
Tiburcio (MG)
CSM-20
Coordenador Técnico/Technical Coordinator
Luiz Fernando Barcelos (RS)
Entidades mantidas pela SBAC
Entities maintained by the SBAC
Coordenador Geral/General Coordinator
Jerolino Lopes Aquino (MT)
Comissão de Congressos/Congress Comission
Coordenador Geral de Congressos/
General Congress Coordinator: Irineu K. Grinberg (RS)
Assessoria Científica/Scientific Advice:
Jerolino Lopes Aquino (MT); Luiz Fernando Barcelos (RS),
Marcos Kneip Fleury (RJ)
Normas e Habilitação/Norms and Qualification
Coordenação/Coordination:
Celso Rubens Loques Mendonça (RJ)
Membros/Members: Elvira Maria Loureiro Colnago (RJ),
Mateus Mandu de Souza (RJ), Estevão José Colnago (RJ),
Luiz Fernando Barcelos (RS)
Ensino/Education
Paulo Murillo Neufeld (RJ), Celso Rubens Loques Mendon-
ça (RJ), Marcos Kneip Fleury (RJ), Mateus Mandu de Sou-
za (RJ)
Ética/Ethics
Henrique Tommasi Netto (ES), Francisco Einstein do
Nascimento (CE), Maria da Conceição L. Oliveira (SE)
Volume 49 - Nº 2 - 2017
Edição online - ISSN 2448-3877
Endereço para correspondência/Editorial Office
Comissões Institucionais/
Institutional Comissions
 RBAC. 2017;49(2):115-6 115
Testes rápidos: Uma grande solução ou urn grande risco?
Rapid Tests: a great solution or a great risk?
Barcelos LF
Sobre a Febre do Mayaro: uma emergente arbovirose
About Mayaro Fever: an emerging arbovirus
Neufeld PM
Aspectos fisiopatológicos da dislipidemia aterogênica e impactos na homeostasia
Pathophysiological aspects of atherogenic dyslipidemia and impact on homeostasis
Gondim TM, Moraes LEP, Fehlberg I, Brito VS
Leucemia Mieloide Crônica: aspectos clínicos, diagnóstico e principais alterações observadas no hemograma
Chronic Myeloid Leukemia: clinical aspects, diagnosis and main changes observed in complete blood count
Sossela FR, Zoppas BCA, Weber LP
Anemia Falciforme e abordagem laboratorial: uma breve revisão de literatura
Sickle Cell Disease and laboratory approach: a brief literature review
Almeida RA, Beretta ALRZ
O impacto da fase pré-analítica na qualidade dos esfregaços cervicovaginais
The impact of the pré-analytical phase on the cervical smears quality
Silva GPF, Cristovam PC, Vidotti DB
Resultados do eritrograma em crianças com anemias do município de Tupanciretã, RS, Brasil
Results of eritrogram in children with anemia in the municipality of Tupanciretã, RS, Brasil
Silva GB, Parisi MM
Investigação da ocorrência de infecção respiratória aguda causada pelo vírus sincicial respiratório (RSV) pela técnica da PCR
Occurrence investigation of acute respiratory infection caused by respiratory syncytial vírus (RSV) using the PCR technique
Pedrosa FC
Lesão de alto grau e carcinoma escamoso: um estudo de prevalências em pacientes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
na cidade de Anápolis, GO, Brasil
High-grade lesions and squamous cell carcinoma: a study of prevalence in patients attended by the unified heath systens (SUS)
in Anápolis municipality, GO, Brazil
Lemos ARM, Silva MS, Segati KD
Perfil de resultados de hemoculturas positivas e fatores associados
Results profile of positive blood cultures and associated factors
Ruschel DB, Rodrigues AD, Formolo F
Sumário/Contents
Volume 49/Volume 49 Número 2/Number 2
117
118
120
127
131
135
141
146
152
158
ARTIGO ORIGINAL/ORIGINAL ARTICLE
EDITORIAL/EDITORIAL
ARTIGO DE REVISÃO/REVIEW
ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO/UPDATE
CARTA DO PRESIDENTE/LETTER FROM THE PRESIDENTE
116RBAC. 2017;49(2):115-6
Volume 49/Volume 49 Número 2/Number 2
Sumário/Contents
Padronização da qualidade: alinhando melhorias contínuas nos laboratórios de análises clínicas
Quality standardization: aligning continuous improvements in the clinical analysis laboratories
Dias VS, Barquette FRS, Bello AR
Efeito do consumo de quitosana nos parâmetros lipídicos, glicêmicos e microbiota intestinal em ratos Wistar
Effect of chitosan consumption in lipidic parameters, glycemics and intestinal microflora in rats Wistar
Girotto C, Battiston FG, Vivan L, Fracasso M
Prevalência de soropositividade para toxoplasmose em gestantes atendidas em um laboratório de município do litoral do
estado do Paraná
Seropositivity prevalence of toxoplasmosis in pregnant women attended in a laboratory of the Paraná state coastal municipality
Muller EV, Torquetti JD
Análise da temperatura, do tempo e da relação sangue/anticoagulante no hemograma
Analysis of temperature, time and blood/anticoagulant ratio in the complete blood count
Seniv L, Simionatto M, Cruz BR, Borato DCK
Interdisciplinaridade como instrumento educativo em saúde: um estudo sobre o câncer de colo do útero
Interdisciplinarity as educational tool in health: a study of cervical cancer
Andrade VRM, Santos AV, Staudt KJ, Mallmann CW
Incidência de enteroparasitoses em pacientes atendidos por um hospital universitário da cidade de Goiânia, GO, Brasil
Incidence of enteroparasitosis in patients admitted to a universitary hospital in Goiania, GO, Brazil
Damaceno NS, Costa TL
Indicadores do monitoramento interno da qualidade dos exames citopatológicos do Laboratório Clínico da Pontifícia Universidade
Católica de Goiás (PUC-GO)
Internal quality monitoring indicators of citopathological exams of Clinical Laboratory of Goiás Pontifical Catholic University
(PUC-GO)
Paula AC, Souza BG, Prado TC, Ribeiro AA
Análise qualitativa e quantitativa da microbiota das mãos dos funcionários de um posto de saúde
Qualitative and quantitative analysis of the hands microbiota from the employees of a health center
Gauer D, Silva GK
Meningite eosinofílica: relato de caso
Eosinophilic meningitis: Case report
Cunha MCR, Salgado VP, Rezende D, Noronha T, Fock RA
INSTRUÇÕES AOS AUTORES / INSTRUCTIONS FOR AUTHORS
164
170
176
181
189
195
200
206
213
216
CARTA AO EDITOR/LETTER TO EDITOR
COMUNICAÇÃO BREVE/SHORT COMMUNICATION
RBAC. 2017;49(2):117 117
Carta do Presidente/Letter from the President
Testes rápidos: Uma grande solução ou um
grande risco?
Rapid tests: a great solution or a great risk?
A tecnologia dos testes rápidos tem recebido vultosos investimentos da indústria
de diagnóstico mundial, e por isso estão se multiplicando na diversidade de parâmetros
disponíveis e na melhoria da qualidade dos resultados. Mas ainda apresentam limita-
ções que devem ser consideradas quando são estabelecidas as estratégias de seu
uso. São testes que devem ser utilizados no conjunto de tecnologias disponíveis e que,
de forma racional, buscam o diagnóstico laboratorial definitivo.
Não estamos discutindo a qualidade dos testes rápidos, mas a forma com que
são ou podem ser usados. É extremamente perigoso, oneroso e inadequado utilizá-los
sem pessoal habilitado, sem controle da qualidade (a letra "C do teste não é controle da
qualidade), sem registros adequados, sem encaminhamento seguro e correto do paci-
ente para a complementação do diagnóstico laboratorial e sem a rastreabilidade dos
processos.
É muito preocupante que um procedimento laboratorial possa ser banalizado dan-
do a entender que se trata de um teste simples e que qualquer um pode realizá-lo. Exis-
tem os autotestes que são produzidos e embalados de forma individualizada com o
objetivo de serem manuseados por pessoas leigas e com objetivos bem definidos. Mas
o que estamos tratando são de testes rápidos, que são procedimentos laboratoriais e,
portanto, devem ser operados atendendo a todos os requisitos técnicos previstos nas
normas vigentes
Em nome do acesso mais facilitado não se pode desconsiderar a necessidade
de garantir a qualidade do procedimento e a segurança do paciente. Estes testes, sen-
do utilizados dentro de um processo de triagem e havendo o encaminhamento correto e
seguro do paciente para a busca do diagnóstico laboratorial mais conclusivo, tratar-se-
ia de uma estratégia ótima para a saúde pública. Porem, usados de forma isolada,
insegura e dispersiva, apenas será conveniente para os fabricantes e fornecedores.
Além disso, os recursos destinados à saúde, que ja são insuficientes, não podem ser
desperdiçados com políticas públicas que não possuem foco na otimização dos pro-
cessos.
Portanto, a execução dos testes rápidos convém que permaneça vinculada a um
laboratório clínico. Se realizados em outros locais, como farmácias e unidades de saú-
de, devem cumprir com os mesmos requisitos exigidos dos laboratórios. Não é aceitá-
vel que exames sejam feitos fora de um laboratório corn segurança inferior. A sociedade
tem o direito de receber a mesma qualidade de atendimento, seja qual for o local ou
pretexto para a realização do exame.
Com certeza, as Sociedades Científicas estão à disposição das autoridades go-
vernamentais para, juntos, construírem políticas públicas com qualidade e segurança,
permitindo que os recursos sejam aplicados de forma criteriosa, eficiente e eficaz.
Dr. Luiz Fernando Barcelos
Presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC)
Luiz Fernando Barcelos
118 RBAC. 2017;49(2):118-9
Editorial/Editorial
Sobre a Febre do Mayaro: uma emergente
arbovirose
About Mayaro Fever: an emerging arbovirus
Desde que foi descoberto, em 1954, em Trinidad y Tobago, que o vírus Mayaro
(MAYV), agente etiológico da febre do Mayaro, vem sendo identificado em várias
regiões de floresta tropical e áreas rurais de países localizados na América Central e
do Sul, como a Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Guiana,
Guiana Francesa, México, Panamá, Perú, Suriname e Venezuela.(1,2) Esse vírus, for-
mado por RNA de cadeia simples, o que lhe confere grande adaptabilidade para
hospedeiros e infecção, em decorrência de elevadas taxas de mutação, pertence à
família Togaviridae, gênero Alphavirus, que inclui também outras 29 espécies, entre
elas os agentes causais da encefalite equina do leste, encefalite equina venezuelana,
encefalite equina do oeste e a febre Chikungunya.(3,4)
O vírus Mayaro é um arbovírus (arthropod-borne virus), tendo em vista ser trans-
mitido por artrópodes hematófagos, que se mantém na natureza a partir de um ciclo
zoonótico ecoepidemiologicamente complexo, que inclui, com frequência, primatas
não humanos e mosquitos vetores da família Culicidae, em especial o gênero
Hemagogus, à semelhança do que ocorre com a febre amarela silvestre.(3,5) Resumi-
damente, ao fazer o repasto sanguíneo sobre um animal virêmico (aves, répteis e
mamíferos), o artrópode se contamina (período de incubação extrínseco) e se torna
capaz de transmitir, em novo repasto sanguíneo, o vírus a um animal saudável. Impor-
ta mencionar que, ao infectar o artrópode, o vírus se aloja em sua glandular salivar,
contaminando, por conseguinte, a saliva, que, no momento da ingestão de sangue, é
liberada na circulação vascular periférica do hospedeiro.(3,6) Uma transmissão verti-
cal parece ser também possível através de uma via transovariana, onde o artrópode
parental transmite o arbovírus à sua progênie.(7)
Os seres humanos que vivem ou ingressam em áreas rurais endêmicas podem
também ser infectados pelo vírus Mayaro, desenvolvendo uma condição clínica
inespecífica caracterizada por febre, calafrios, rash cutâneo, mialgia, dor retro-orbital,
fotofobia, enxaqueca, doresnas articulações, náuseas e diarreia.(3,8,9) As erupções na
pele acometem, principalmente, a região torácica, braços e pernas e, com menos
frequência, a face. A artralgia é um aspecto conspícuo e pode persistir por meses ou
anos.(1,3) Dores abdominais, faringite, congestão nasal, tosse, icterícia e manifesta-
ções hemorrágicas podem ser observadas. Leucopenia e plaquetopenia podem tam-
bém ocorrer.(3,8) A doença apresenta um período de incubação intrínseco de 3 a 11
dias, mas os sintomas, normalmente, estão presentes entre 5 a 7 dias.(1) O diagnós-
tico de febre de Mayaro com base em suas manifestações clínicas é difícil de ser
realizado, em decorrência de outros quadros clínicos similares produzidos por dife-
rentes agentes virais.(3) A sorologia é preferível, sendo mais efetiva quanto procedida
na fase aguda da doença. Na fase de convalescência, reações cruzadas com o vírus
Chikungunya têm sido descritas. A biologia molecular pode apresentar algumas limi-
tações quanto à detecção viral, em função do período em que o vírus está presente no
organismo.(3,8,9)
DOI: 10.21877/2448-3877.201700603
RBAC. 2017;49(2):118-9 119
Sobre a Febre do Mayaro: uma emergente arbovirose
Classicamente, o ciclo de transmissão do vírus Mayaro está associado a áreas
silvestres e a condições climáticas. No Brasil, a Febre do Mayaro está mais restrita à
região amazônica, que é a área de endemicidade da doença no país.(2,4,9) Mudanças
ambientais introduzidas pelos seres humanos, contudo, têm produzido alterações nas
características ecológicas das arboviroses. As ingerências sobre os ecossistemas
podem levar, de fato, ao aumento da prevalência dos artrópodes vetores, à criação
de novos reservatórios ou à adaptação a novos ou alternativos ciclos de manutenção
na natureza.(7) O crescimento populacional é um outro fator que tem contribuído para a
emergência ou re-emergência das arboviroses. O adensamento e a degradação das
áreas urbanas e periurbanas favorecem o contágio viral.(3,7) O deslocamento de pes-
soas infectadas em veículos com grande autonomia permitem ainda aos arbovírus
atravessarem longas distâncias, disseminando-se dentro e entre continentes, o que
confere um importante potencial para espalhamentos epidêmicos.(7,10,11) Igualmente,
o deslocamento geográfico dos arbovírus pode se dar pela movimentação do reser-
vatório animal ou do artrópode vetor. A migração dos arbovírus para áreas urbanas
oportuniza a transmissão do agente por outros artrópodes, notadamente aqueles
antropofílicos, levando a importantes alterações e riscos epidemiológicos e de saúde
pública.(9,10,11) Nesse sentido, a transmissão em áreas urbanas, num ciclo homem-
mosquito-homem, pode ocorrer fora dos focos enzoóticos pelo Aedes aegypti, Aedes
albopictus e Aedes scapularis e determinar, potencialmente, grandes epidemias, à
semelhança do que vem ocorrendo com a Dengue, Febre Amarela e Chikungunya,
nas principais cidades brasileiras.(1,2,3,11) Importa reiterar que todos esses fatos com-
binados colocam, claramente, o vírus Mayaro em um contexto de alerta sanitário, ten-
do em vista representarem um risco epidemiológico de iminente transmissão urbana
desse arbovírus.(3)
REFERÊNCIAS
1. Esposito DLA, Fonseca BALD. Will Mayaro virus be responsible for the next outbreak of an
arthropod-borne virus in Brazil? Braz J Infect Dis. 2017; pii: S1413-8670(17)30163-0. [Epub
ahead of print].
2. Auguste AJ, Liria J, Forrester NL, Giambalvo D, Moncada M, Long KC, et al. Evolutionary and
Ecological Characterization of Mayaro Virus Strains Isolated during an Outbreak, Venezuela,
2010. Emerg Infect Dis. 2015 Oct;21(10):1742-50.
3. Muñoz M, Navarro JC. Mayaro: a re-emerging Arbovirus in Venezuela and Latin America. Biomedica.
2012 Jun;32(2):286-302. [Article in Spanish]
4. Terzian AC, Auguste AJ, Vedovello D, Ferreira MU, da Silva-Nunes M, Sperança MA, et al.
Isolation and characterization of Mayaro virus from a human in Acre, Brazil. Am J Trop Med Hyg.
2015 Feb;92(2):401-4.
5. Lwande OW, Obanda V, Bucht G, Mosomtai G, Otieno V, Ahlm C, Evander M. Global emergence
of Alphaviruses that cause arthritis in humans. Infect Ecol Epidemiol. 2015 Dec 18;5:29853.
6. Serra OP, Cardoso BF, Ribeiro AL, Santos FA, Slhessarenko RD. Mayaro virus and dengue virus
1 and 4 natural infection in culicids from Cuiabá, state of Mato Grosso, Brazil. Mem Inst Oswaldo
Cruz. 2016 Jan;111(1):20-9.
7. Figueiredo LT. Emergent arboviruses in Brazil. Rev Soc Bras Med Trop. 2007 Mar-Apr;40(2):224-9.
8. Brunini S, França DDS, Silva JB, Silva LN, Silva FPA, Spadoni M, Rezza G. High Frequency of
Mayaro Virus IgM among Febrile Patients, Central Brazil. Emerg Infect Dis. 2017 Jun;23(6):1025-
1026.
9. Figueiredo ML, Figueiredo LT. Emerging alphaviruses in the Americas: Chikungunya and Mayaro.
Rev Soc Bras Med Trop. 2014 Nov-Dec;47(6):677-83.
10. Marcondes CB, Contigiani M, Gleiser RM. Emergent and Reemergent Arboviruses in South America
and the Caribbean: Why So Many and Why Now? J Med Entomol. 2017 May 1;54(3):509-32
11. Goulda E, Pettersson J, Higgse, S, Charrela R, Lamballerie X. Emerging arboviruses: Why
today? One Health. 2017;4:1-13.
Paulo Murillo Neufeld, PhD
Editor-Chefe da Revista Brasileira de Análises Clínicas (RBAC)
120 RBAC. 2017;49(2):120-6
Aspectos fisiopatológicos da dislipidemia aterogênica e
impactos na homeostasia
Pathophysiological aspects of atherogenic dyslipidemia and impact on homeostasis
Taiane de Macêdo Gondim1
Laise Eduarda Paixão de Moraes1
Italaney Fehlberg2
Vanessa da Silva Brito2
Artigo de Revisão/Review Article
Resumo
A dislipidemia aterogênica em sinergismo com a existência de transtornos metabólicos
como diabetes mellitus tipo 2, síndrome metabólica, hipertensão arterial sistêmica e obesi-
dade, e outros fatores como tabagismo, hábitos alimentares e estresse é reconhecida como
um quadro associado a doenças cardiovasculares. Embora o papel da alteração do perfil
lipídico neste processo esteja a certo ponto estabelecido, ilustrado por uma elevação das
concentrações de CT, triglicerídeos e LDL-C, e da diminuição da HDL-C, os mecanismos
pelos quais há a intervenção na hemostasia ainda não estão completamente elucidados,
limitando questões clínicas e terapêuticas. No presente trabalho foi realizada uma revisão
não sistemática acerca das possíveis alterações hemostáticas associadas à dislipidemia
aterogênica descritas atualmente na literatura, o que permitiu uma sumarização dos acha-
dos descritos até então.
Palavras-chave
Aterosclerose. Dislipidemias. Homeostasia. Lipoproteínas
1Especialista em Análises Clínicas pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – Salvador, BA, Brasil.
2Mestre em Imunologia Clínica pela Universidade Federal da Bahia – UFBA – Salvador, BA, Brasil.
3Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – Salvador, BA, Brasil.
Instituição: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – Salvador, BA, Brasil.
Artigo recebido em 23/01/2016
Artigo aprovado em 31/03/2016
DOI: 10.21877/2448-3877.201600462
INTRODUÇÃO
 As dislipidemias são causadas por alterações me-
tabólicas que ocorrem em resposta a distúrbios nas eta-
pas do metabolismo lipídico. Como resultado, o perfil
lipídico sérico sofrerá alterações e estas podem incluir
aumento do colesterol total (CT), do triglicérides (TG), do
colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) e
diminuição do colesterol da lipoproteína de alta densida-
de (HDL-c).(1) De acordo com a Diretriz Brasileira de Disli-
pidemias e Prevenção da Aterosclerose (2013), as dislipi-
demias podem ser classificadas em primárias quando exis-
tem bases genéticas, e em secundárias quando associa-
das a outras doenças, ao uso de medicamentos e/ou ao
estilo de vidado indivíduo. A dislipidemia primária pode
ainda ser classificada fenotipicamente de acordo com os
componentes lipídicos que se apresentam alterados, com-
preendendo quatro grupos bem definidos: (i) hipercoles-
terolemia isolada, (ii) hipertrigliceridemia isolada, (iii)
hiperlipidemia mista e (iv) diminuição isolada do HDL, com
associação ao aumento do LDL e/ou dos TG. Este último
perfil se destaca por ilustrar a condição da dislipidemia
aterogênica, a qual ainda é geralmente associada a tole-
rância à glicose prejudicada, resistência à insulina, exces-
so de peso e/ou gordura corporal, e comorbidades como
diabetes mellitus tipo 2 e hipertensão arterial sistêmica. A
união destes fatores exerce um efeito sinérgico para o de-
senvolvimento de doenças cardiovasculares.(2) Esta revi-
são tem como objetivo discutir possíveis associações en-
tre a fisiopatologia da dislipidemia aterogênica e altera-
ções na homeostasia.
LIPÍDEOS E LIPOPROTEÍNAS
Os lipídios são moléculas orgânicas insolúveis em
água resultantes da associação entre ácidos graxos, de
cadeias curtas, médias ou longas; e glicerol, estando dis-
tribuídos por todos os tecidos do organismo. Entre as prin-
cipais formas existentes podemos destacar os trigli-
cerídeos e fosfolipídios. Estas formas são as mais abun-
dantes no corpo humano e desempenham funções cruciais
para o metabolismo energético. O triglicerídeo é o lipídeo
 RBAC. 2017;49(2):120-6 121
mais comum na alimentação, empregado como fonte de
energia para o corpo, enquanto que os fosfolipídios atuam
como componente estrutural das membranas celulares.
Devido à sua natureza hidrofóbica, os lipídeos são incapa-
zes de circular livremente pelo sangue, sendo necessário
um meio de transporte que permita sua distribuição aos ór-
gãos e tecidos. Ácidos graxos de cadeias curta e média
podem circular pelo sangue quando ligados à albumina, uma
vez que são mais solúveis comparados aos ácidos graxos
de cadeia longa. Estes últimos carecem de conversão em
triglicerídeos para serem transportados pelas lipoproteínas.(1)
As lipoproteínas são moléculas solúveis organizadas de
modo a possibilitar o transporte de lipídios entre os tecidos
periféricos e a corrente sanguínea.(3) São formadas basica-
mente por um núcleo hidrofóbico, composto por triglicerídeos
e ésteres de colesterol, recobertas por uma membrana
anfipática formada por fosfolipídios, colesterol livre e
apolipoproteínas (ou apoproteínas), as quais serão discuti-
das em seguida.(1) Existem quatro classes de lipoproteínas
plasmáticas: (i) quilomícrons, (ii) lipoproteína de densidade
muito baixa (VLDL), (iii) lipoproteína de densidade baixa
(LDL) e (iv) lipoproteína de densidade alta (HDL).(1) Na Ta-
bela 1, é possível observar algumas das características bio-
químicas de cada lipoproteína.
Tabela 1 - Características bioquímicas das lipoproteínas
Lipoproteína Densidade Principal
Componente
Apolipoproteínas Diâmetro
Quilomícrons <0.95 kg/L Triglicerídeos apoB48, apoAI, apoC, apoE2,
apoE3 e apoE4
75-1.200 µM
VLDL 0.95-1.006 kg/L Triglicerídeos apoB100, apoC, apoE2, apoE3,
apoE4, apoAI e apoD
30-800 µM
LDL 1.019-1.063 kg/L Colesterol apoB100, apoAI, apoAIV e apoD 18-25 µM
HDL 1.063-1.210 kg/L Proteínas apoAI, apoAII, apoC, apoE2,
apoE3, apoE4 e apoD
5-122 µM
QUILOMÍCRONS
Os quilomícrons são as lipoproteínas de maior diâ-
metro e menor densidade. São responsáveis pelo trans-
porte dos triglicerídeos provenientes da alimentação. A
composição consiste em triglicerídeos, colesterol livre,
fosfol ipídios e uma pequena fração proteica. Os
quilomícrons são gerados por células intestinais e
secretados na linfa, através da qual alcançam a corrente
sanguínea. No sangue, sofrem ação da lipoproteína lipase
(LPL), enzima responsável pela degradação dos
triglicerídeos em ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos
podem ser oxidados no músculo ou armazenados no teci-
do adiposo, enquanto que os quilomícrons remanescen-
tes, menores e mais densos, são captados pelo fígado,
onde são metabolizados pela ação das enzimas
lisossomais dos hepatócitos.(1,3)
LIPOPROTEÍNA DE DENSIDADE MUITO BAIXA
(VLDL)
 As lipoproteínas de densidade muito baixa (do inglês,
Very Low Density Lipoprotein), são sintetizadas no fígado
por células parenquimatosas hepáticas e responsáveis pelo
transporte do triglicerídeo endógeno para os tecidos perifé-
ricos. Logo após a finalização do transporte, estas partícu-
las são hidrolisadas pela ação da LPL e produzem os re-
manescentes da VLDL, também conhecidos como lipopro-
teínas de densidade intermediária (IDL). As IDL possuem
dois destinos: podem ser captadas e reabsorvidas pelo fí-
gado, ou passar por mais estágios de hidrólise e formar
lipoproteínas de baixa densidade (LDL) pela ação da
triacilglicerol lipase hepática (HTGL).(1,3)
LIPOPROTEÍNA DE DENSIDADE BAIXA (LDL)
As lipoproteínas de baixa densidade (do inglês, Low
Density Lipoprotein) são geradas no estágio final da
metabolização das VLDL remanescentes, e representam o
principal carreador de colesterol do organismo. São capa-
zes de permanecer por períodos mais longos na corrente
sanguínea, sendo por fim captadas pelo fígado via
endocitose mediada por receptor, ou pelas células periféri-
cas. É importante destacar que, devido à sua densidade
baixa proporcionada pelo alto teor de colesterol, há o
favorecimento de sua entrada e alojamento na túnica íntima
dos vasos, local no qual sofrem oxidação e podem desen-
cadear o processo de aterogênese pela via scavenger, um
evento degenerativo do endotélio vascular.(1,3)
LIPOPROTEÍNA DE DENSIDADE ALTA (HDL)
As lipoproteínas de alta densidade (do inglês High
Density Lipoprotein) são sintetizadas no fígado e intestino
e responsáveis pelo transporte reverso do colesterol dos
tecidos periféricos para o fígado. As HDL nascentes são
construídas em parte pelo excesso de fosfolipídios oriun-
dos da hidrólise da VLDL, e pelo colesterol, que retira das
122 RBAC. 2017;49(2):120-6
Gondim TM, Moraes LEP, Fehlberg I, Brito VS
células através da ação de uma proteína de membrana que
controla de forma limitada a transferência do colesterol livre
para a HDL. Após adquirir o colesterol livre, ele é esterificado
pela ação da enzima lecitina colesterol acetiltransferase
(LCAT), que, por sua vez, será transferido para VLDL,
quilomícrons e seus remanescentes em troca de triglice-
rídeos. Este processo permite que o colesterol retorne à via
VLDL-IDL-LDL. Por fim, a HDL, agora rica em triglicerídeos,
se liga ao receptor scavenger da membrana dos hepató-
citos para transferir o colesterol ao fígado, o que reduz o
diâmetro da partícula de HDL e dá origem a uma nova par-
tícula de HDL, a qual participará do próximo ciclo de trans-
porte.(1,3)
APOLIPOPROTEÍNAS
As apolipoproteínas representam a fração proteica das
lipoproteínas. Elas se encontram em constante processo de
síntese e degradação e são peças fundamentais na regu-
lação do metabolismo lipídico. Exercem funções específi-
cas na regulação do metabolismo lipídico como cofatores
enzimáticos, ligantes para os receptores nas células e teci-
dos pelo organismo, ou através da manutenção estrutural
das partículas de lipoproteínas.(3) As apolipoproteínas são
divididas em classes (A, B, C, D e E) quanto à composição,
o que consequentemente determina função distinta para
cada uma das lipoproteínas.(1,3)
APOPROTEÍNA A (APOA)
A apoproteína A (apoA) se apresenta nas isoformas
apoA1, apoA2 e apoA4. A apoA1 está presente no sangue
principalmente como componente da HDL, nos quilomícrons,
e raramente no VLDL, LDL e seus remanescentes.(3) A apo1
é sintetizada no intestino, originalmente como componente
dos quilomícrons, e posteriormente transferida para as HDL
durante o processo de hidrólise, ou na síntese de novaspar-
tículas de HDL.4,5) Como protetor, a apo1 apresenta carac-
terísticas antiaterogênica e antioxidante, por ser cofator da
enzima LCAT,(3) componente chave para o transporte rever-
so do colesterol das células para as partículas de HDL e
para o fígado.(4) Em indivíduos dislipidêmicos e portadores
de diabetes mellitus do tipo 2 com microangiopatias, a apo1
impede a lipotoxicidade e formação da retinopatia através
do transporte reverso do colesterol na retina.(4,5) A apo2, sin-
tetizada no fígado, é a segunda proteína mais abundante na
HDL.(3) Funcionalmente, a apo2 modula diferentes etapas
do metabolismo da HDL, podendo gerar a inibição da ativi-
dade da LCAT e da proteína de transferência de colesterol
esterificado (CETP), e aumento da atividade lipase hepáti-
ca, o que contribui para o transporte reverso do colesterol.
Por outro lado, a apo2 pode inibir a absorção hepática do
colesterol presente na HDL, impactando negativamente no
transporte reverso do colesterol. Os efeitos da apo2 na
aterogênese, embora controversos, não se revelam muito
determinantes para o metabolismo lipídico.(1) A apo4, assim
como é apo1, é sintetizada quase que exclusivamente pelo
fígado e intestino e tem se mostrado um potente ativador da
LCAT.(3)
APOPROTEÍNA B (APOB)
Responsável pelo transporte do colesterol para as
células periféricas, a apolipoproteína B (apoB) está presen-
te nos quilomícrons e nas partículas de VLDL, VLDLs rema-
nescentes e LDL. Duas isoformas são relatadas: apoB48
apoB100. A apoB48 é encontrada nas partículas de quilo-
mícrons e remanescentes – de alto potencial aterogênico –
e a apoB100 é um componente obrigatório das VLDL, VLDL
remanescentes e LDL.(3,5) O metabolismo da apoB48 e da
apoB100 são completamente distintos. Enquanto a apoB48
nos quilomícrons é rapidamente metabolizada e absorvida
pelo fígado, a apoB100 é inicialmente secretada em partí-
culas da VLDL que, pela ação da lipase, é convertida em
IDL e posteriormente em LDL, a qual é metabolizada de for-
ma lenta.(3) A presença da apoB100 no LDL é essencial para
facilitar a entrada do colesterol nas células através da sua
ligação aos receptores celulares.(4) Esta ligação ao recep-
tor está intrinsicamente relacionada com o acúmulo do
colesterol nas artérias, fator desencadeante para o proces-
so aterogênico.(3,6)
APOPROTEÍNA C (APOC)
A apolipoproteína C (apoC) está presente na superfí-
cie dos quilomícrons, VLDL e HDL. Apresenta-se nas iso-
formas apoC1, apoC2, apoC3 e apoC4. Embora exibam
funcionalidades metabólicas distantes, todas as apoC com-
partilham a propriedade de redistribuir componentes entre
as lipoproteínas(3) através da ativação da LCAT.(6) A apoC1
inibe a captura de VLDL pelo fígado, além de auxiliar no
processo de esterificação do colesterol, o que possivelmente
confere à apoC1 uma participação na remodelação da
HDL.(3,6) A apoC2 ativa a lipase lipoproteica (LPL), respon-
sável pela hidrólise de partículas ricas em triglicerídeos,(3,6)
que, em contrapartida, é inibida pela apoC3, a qual modula
a absorção das partículas ricas em triglicerídeos pelos re-
ceptores hepáticos. A apoC4 está envolvida na regulação
da absorção dos lipídeos.(6)
APOLIPOPROTEÍNA D (APOD)
Presente nas lipoproteínas VLDL, LDL e, em maiores
quantidades, na HDL, a apoproteína D (apoD) é pouco rela-
tada devido à sua pequena expressividade. Embora a HDL
seja considerada uma molécula antiaterogênica, recente-
 RBAC. 2017;49(2):120-6 123
mente foi estabelecido que sua expressão aberrante tem
associação com alterações no metabolismo lipídico e na
deposição e acúmulo das placas de ateroma no processo
aterogênico. Ademais, estudos apontam um possível
envolvimento da apoD com a ativação da LCAT e em pro-
cessos que favorecem o amadurecimento da HDL.(7)
APOPROTEÍNA E (APOE)
Constituintes dos quilomícrons e remanescentes,
VLDL e HDL,(3) a apoproteína E (apoE), está empregada
na regulação dos níveis plasmáticos dos lipídeos, o que
impacta sumariamente antiaterogênese. Ela promove a
captação eficiente das lipoproteínas na circulação, desem-
penha papel no transporte reverso do colesterol, inibe a
agregação plaquetária e modula a função imune.(8) As
isoformas desta apoproteína são: apoE2, apoE3 e
apoE4.(3,9) A apoE3 é associada com a funcionalidade ideal
do metabolismo lipídico. Isto em grande parte devido à sua
conformação flexível, que permite uma melhor interação
com lipídeos de diferentes densidades e tamanhos,(10) en-
quanto que a apoE2 e apoE4 estão associadas à dislipi-
demia e risco acentuado para doenças cardiovasculares.(11)
É importante ressaltar que a apoE3 é crucial para o corre-
to funcionamento do metabolismo lipídico quando em ní-
veis ideais, determinado pela atuação na endocitose das
partículas remanescentes do metabolismo do quilomícron
e pela promoção da produção de VLDL pela estimulação
intracelular nos hepatócitos. Uma superexpressão ou
acúmulo da apoE3 estimula a produção de VLDL, aumen-
tando consequentemente as concentrações de trigli-
cerídeos desta partícula e os níveis de LDL circulante no
sangue.(10)
DISLIPIDEMIAS
Dislipidemia é o termo utilizado para designar os ní-
veis alterados – na maioria das vezes aumentados – de
lipídeos e/ou lipoproteínas por meio da alteração em algu-
ma ou algumas das fases do metabolismo lipídico. Os va-
lores de referência para o perfil lípidico são apresentados
na Tabela 2.
Etiologicamente as dislipidemias são classificadas
em (i) primárias, quando estão relacionadas a fatores ge-
néticos ou não tem causa aparente, e (ii) secundárias,
quando relacionadas a outras doenças, uso de medica-
mentos ou estilo de vida do paciente.(2) As dislipidemias
primárias podem ainda ser classificadas de acordo com
suas características genotípicas e fenotípicas. Relaciona-
do ao genótipo, estas podem obter a subclassificação em
monogênicas (uma mutação envolvida) e poligênicas (múl-
tiplas mutações envolvidas). A respeito do fenótipo,
subclassificadas (classificação laboratorial) ao utilizar os
marcadores bioquímicos Colesterol Total (CT), HDL-C,
LDL-C e Triglicérides (TG), e divididas em quatro perfis
distintos: (i) hipercolesterolemia isolada, (ii) hipertrigli-
ceridemia isolada, (iii) hiperlipidemia mista e (iv) diminui-
ção isolada dos níveis de HDL, com associação do au-
mento dos níveis de LDL e/ou dos níveis de TG.(2) As disli-
pidemias secundárias se apresentam associadas a algum
transtorno metabólico de base – diabetes mellitus tipo 2,(12)
hipertensão arterial sistêmica,(13,14) síndrome metabóli-
ca(15,16) e obesidade(17) – à terapia antirretroviral altamente
ativa (HAART) de pacientes HIV/AIDS(18) e a fatores
ambientais como tabagismo, hábitos alimentares e
estresse.(5,19) A compilação de fatores externos e internos
exerce um efeito sinergístico para o desenvolvimento de
doenças cardiovasculares, agravamento de distúrbios
metabólicos ou ainda iniciar o processo de formação de
placas de ateroma nos vasos sanguíneos, consequência
comum do quadro de dislipidemia aterogênica.(2) O perfil
fenotípico da dislipidemia aterogênica é bastante singular
e facilmente reconhecido, sendo ilustrado por uma eleva-
ção das concentrações de CT, em conjunto com aumento
dos níveis de triglicerídeos e LDL, e da diminuição dos
níveis de HDL.(17,20,21) A dislipidemia aterogênica muitas ve-
zes não tem um curso favorável devido ao seu diagnóstico
tardio e início assintomático.(2) Entende-se por aterogênico
todo processo capaz de produzir alterações degenerativas
nas paredes das artérias. O endotélio arterial em estado
saudável repele as células circulantes no sangue e é forte-
mente antitrombótico. Na aterogênese, uma agressão
endotelial permite o depósito de lipídeos na camada ínti-
ma do vaso, o que promove a formação de placas de
ateroma, acompanhadas por uma reação inflamatória local.
Tabela 2 - Valores de referência para avaliação do perfil lípidicode
acordo com a V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da
Aterosclerose, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2013)
Lípídeo Valores (mg/dL) Classificação
Colesterol Total (CT) < 200
200 - 239
≥ 400
Desejável
Limítrofe
Alto
LDL-C < 100
100 - 129
130 - 159
160 - 189
≥190
Ótimo
Desejável
Limítrofe
Alto
Muito alto
HDL-C > 60
< 40
Desejável
Baixo
Triglicerídeos (TG) < 150
150 - 200
200 - 499
≥ 00
Desejável
Limítrofe
Alto
Muito alto
Colesterol não-HDL < 130
130 - 159
160 - 189
≥190
Ótimo
Desejável
Alto
Muito alto
Aspectos fisiopatológicos da dislipidemia aterogênica e impactos na homeostasia
124 RBAC. 2017;49(2):120-6
Gondim TM, Moraes LEP, Fehlberg I, Brito VS
Em longo prazo, a presença destas placas de ateroma oca-
siona a oclusão completa da luz arterial, e como
consequência pode haver infarto agudo do miocárdio ou
um acidente vascular cerebral (AVC), dependendo do lo-
cal de acúmulo das placas.(1)
DISLIPIDEMIA ATEROGÊNICA
Em condições fisiológicas normais, o endotélio vas-
cular promove alterações funcionais adaptativas para a
manutenção da hemodinâmica, por meio da liberação de
substâncias com propriedades antiaterogênicas, sendo o
óxido nítrico (NO) a principal delas. O NO, em condições
ideais, limita o recrutamento vascular de leucócitos, impe-
dindo sua adesão à parede vascular e inibindo a agrega-
ção plaquetária, o que evita a formação de trombos. A per-
da da atividade biológica do NO é denominada disfunção
endotelial.(13)
Inicialmente, o dano é mais funcional do que estrutu-
ral. O endotélio perde sua habilidade de repelir as células
inflamatórias circulantes no sangue e passa a permitir a
sua adesão na parede vascular, o que o torna permeável
às lipoproteínas, culminando, a longo prazo, em dano es-
trutural.(3) O aumento da permeabilidade endotelial favore-
ce a entrada da LDL-C para a região íntima vascular, onde
não são capazes de serem absorvidas, o que favorece seu
acúmulo e oxidação.(19) O acúmulo de LDL, unido à prolife-
ração de células para a luz do vaso arterial, tem sido apon-
tado como um fator desencadeante para aterogênese, por
meio da promoção de reação inflamatória local exacerba-
da.(13,14,22) Unido a isto, o aumento dos níveis de LDL-C gera
um maior consumo de NO com liberação de radicais li-
vres, os quais, por sua vez, promovem a oxidação da LDL-
C acumulada, formando a LDL oxidada (LDLox), partícu-
las que possuem potencial aterogênico acentuado e ele-
vada citoxicidade. A citotoxidade da LDLox agrava a
disfunção endotelial, gerando a expressão de quimiocinas
pelas células lesionadas do endotélio, favorecendo o re-
crutamento de neutrófilos para o interior do vaso sanguí-
neo.(14,22) Paralelamente, a LDLox estimula também a mi-
gração de monócitos e sua diferenciação em macrófagos,
os quais endocitam as partículas oxidadas através dos
receptores scavengers e promovem a formação das célu-
las espumosas – componentes essenciais da placa
aterosclerótica.(13,14,22) A endocitose das LDLox exerce pa-
pel ambíguo na fisiopatologia da doença: enquanto possui
teor protetor por conta da remoção das partículas oxida-
das, o mesmo processo também induz a produção dos
mesmo radicais livres responsáveis por agravar a lesão
endotelial, consequentemente promovendo a expressão de
mais quimiocinas, as quais, por sua vez, irão recrutar no-
vos monócitos e estimular a projeção das células muscu-
lares lisas para a luz do vaso, estabelecendo o dano estru-
tural. Isto desencadeia um processo sistêmico que envol-
ve proteínas da coagulação e promove a evolução da le-
são aterosclerótica por meio do perpetuamento do proces-
so inflamatório.(14,22)
Na Figura 1 é possível visualizar a patogênese da
aterosclerose.
DISLIPIDEMIA ATEROGÊNICA NA HOMEOSTASIA
A cascata da coagulação é responsável pela manu-
tenção da fluidez sanguínea pela formação de coágulos
de fibrina em casos de lesão vascular. Entre as alterações
nas proteínas envolvidas no processo de coagulação são
descritas elevações séricas nos níveis do inibidor do
ativador do plasminogênio tipo 1 (PAI-1), o inibidor da
fibrinólise ativado pela trombina (TAFI) , do fator III (tissular)
e VII da coagulação.(24,25) A baixa concentração dos níveis
de HDL associada aos altos níveis de LDLox é ineficaz na
inibição do fator de agregação plaquetária. Somado a isto,
a hipertrigliceridemia característica da dislipidemia
aterogênica estimula os fatores III e VII da coagulação, res-
ponsáveis por iniciar a via extrínseca da cascata da coa-
gulação, o que favorece a formação de trombos no lúmen
dos vasos sanguíneos.(24) A presença da LDLox das pla-
cas de ateroma aumentam a expressão do fator III pelas
células do músculo liso do endotélio vascular, o qual atua
como importante promotor da migração e proliferação de
células do músculo liso para o lúmen do vaso sanguíneo e
da angiogênese.(23) Em paralelo à indução dos fatores III e
VII, o acúmulo de lipídeos eleva os níveis dos fatores da
coagulação PAI-1 e TAFI, promovendo a inibição do pro-
cesso fibrinolítico responsável por dissolver e retirar da cir-
culação coágulos que possam obstruir o fluxo sanguíneo.
Deste modo, tanto a fisiopatologia inerente à dislipidemia
Figura 1. Resumo do processo aterogênico: (1) o efluxo de macro-
moléculas LDL para a camada íntima vascular (2) gera o acúmulo e
oxidação destas, originando a formação das LDLox, agravando a
disfunção endotelial devido à sua citotoxicidade. (3) A LDLox estimula a
migração de monócitos e sua diferenciação em macrófagos, (4) os quais
fagocitam as LDLox através dos receptores scavengers. (5) Após
fagocitarem as LDLox, os macrófagos se transformam em células
espumosas que promovem, por meio de processo inflamatório, a proje-
ção das células musculares lisas para o lúmen vascular.
 RBAC. 2017;49(2):120-6 125
aterogênica quanto os seus reflexos nos mecanismos da
coagulação favorecem um ciclo infindável para a oclusão
da luz do vaso sanguíneo.(26)
CONCLUSÃO
O curso fisiopatológico da dislipidemia aterogênica
favorece a evolução da aterosclerose e contribui para o
estabelecimento de lesões degenerativas crônicas graves.
Muitos aspectos relacionados às alterações da
homeostasia na presença de hipercolesterolemia e/ou
síndrome metabólica são relatados em estudos, no entan-
to no que se refere especificamente à dislipidemia
aterogênica, evidencia-se a necessidade de mais pesqui-
sas, sobretudo epidemiológicas, para traçar o comporta-
mento fenotípico da doença em populações distintas. Adi-
cionalmente, estudos de casos que relatem o impacto po-
sitivo ocasionado pela avaliação clínica e prognóstico dos
indivíduos, com apresentações de algumas destas altera-
ções discorridas, poderia diminuir substancialmente as
chances do estabelecimento de comorbidades mais gra-
ves. Em um aspecto mais amplo, e contextualizando com
o Brasil, poderia ainda impactar nos gastos voltados para
a saúde pública.
Abstract
The atherogenic dyslipidemia in synergy with metabolic disorders such
as diabetes mellitus type 2, metabolic syndrome, hypertension and
obesity, added to other factors such as smoking, diet and stress is
associated with cardiovascular diseases. Although the impact of changes
in lipid metabolism in this process is established by a high concentrations
of CT, triglycerides and LDL-C, and decreased HDL-C, the effects of
these changes in the homeostasis have not been fully elucidated, the
effects of changes in the homeostasis have not been fully elucidated,
limiting clinical and therapeutic improvements. In the present work a
non-systematic review about the possible changes associated with
atherogenic dyslipidemia currently described in the literature, which
allowed a summarization of the findings described so far.In the present
study, a non-systematic review of possible changes in the homeostasis
associated with atherogenic dyslipidemia currently described in the
literature was made, which allowed a summarization of the mechanisms
described so far.
Keywords
Atherosclerosis; Dyslipidemias; Homeostasis; Lipoproteins.
REFERÊNCIAS
1. Baynes JW, Dominiczak MH. Bioquímica Médica. 3rd ed. Elsevier;
2011. 680 p.
2. SBC. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da
Aterosclerose. In: Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Sociedade
Brasileira de Cardiologia; 2013. p. 01-22.
3. Mahley RW, Innerarity TL, Rall SC, Weisgraber KH. Plasma
lipoproteins: apolipoprotein structure and function. J Lipid Res. 1984
Jun;25(12):1277-94.
4. Srinivasan SR, Berenson GS. Serum apolipoproteins A-I and B as
markers of coronary artery disease risk in early life: the Bogalusa
Heart Study. Clin Chem. 1995 Jan;41(1):159-64.
5. Lima LM, Carvalho MD, Sousa MO. Apo B/apo A-I ratio and
cardiovascular risk prediction..Arq Bras Cardiol. 2007 Jun;88(6):e187-
90. [Article in English, Portuguese].
6. Forti N, Diament J. Apolipoprotein B and A-I: cardiovascular risk
factor? Rev Assoc Med Bras (1992). 2007 May-Jun;53(3):276-82.
[Article in Portuguese].
7. Perdomo G, Henry Dong H. Apolipoprotein D in lipid metabolism and
its functional implication in atherosclerosis and aging. Aging (Albany
NY). 2009 Jan;1(1):17-27.
8. Davignon J, Cohn JS, Mabile L, Bernier L. Apolipoprotein E and
atherosclerosis: insight from animal and human studies. Clin Chim
Acta. 1999 Aug;286(1-2):115-43.
9. Phillips MC. Apolipoprotein E isoforms and lipoprotein metabolism.
IUBMB Life. 2014 Sep;66(9):616-23
10. Huang Y, Liu XQ, Rall SC, Taylor JM, Von Eckardstein A, Assmann
G, et al. Overexpression and accumulation of apolipoprotein E as a
cause of hypertriglyceridemia. J Biol Chem. 1998 Oct 9;273(41):
26388-93.
11. Davignon J, Bouthillier D, Nestruck AC, Sing CF. Apolipoprotein E
polymorphism and atherosclerosis: insight from a study in
octogenarians. Trans Am Clin Climatol Assoc. 1988;99:100-10.
12. Burns SF, Lee S, Bacha F, Tfayli H, Hannon TS, Arslanian SA. Pre-
diabetes in overweight youth and early atherogenic risk. Metabolism.
2014 Dec;63(12):1528-35.
13. Bahia L, Guilherme L, Aguiar K, Villela NR, Bottino D, Bouskela E.
Endotélio e aterosclerose. Rev da SOCERJ. 2004;17:26-32.
14. Corrêa-Camacho C. Aterosclerose, uma resposta inflamatória. Arq
Ciências da Saúde. 2007;14(1):41-8.
15. Lottenberg SA, Glezer A, Turatti LA. Metabolic syndrome:
identifying the risk factors. J Pediatr (Rio J). 2007 Nov;83(5 Suppl):
S204-8.
16. Faria ER, Faria FR, Franceschini Sdo C, Peluzio Mdo C, Sant Ana
LF, Novaes JF, et al. Insulin resistance and components of metabolic
syndrome, analysis by gender and stage of adolescence. Arq Bras
Endocrinol Metabol. 2014;58(6):610-8.
17. Pires A, Martins P, Pereira AM, Silva PV, Marinho J, Marques M, et
al. Insulin Resistance, Dyslipidemia and Cardiovascular Changes in
a Group of Obese Children.Arq Bras Endocrinol Metabol. 2014
Aug;58(6):610-8. [Article in Portuguese].
18. Nsagha DS, Assob JCN, Njunda AL, Tanue EA, Kibu OD, Ayima
CW, et al. Risk Factors of Cardiovascular Diseases in HIV/AIDS
Patients on HAART. Open AIDS J [Internet]. 2015 Oct 20;9(1):51-
9. Available from: http://benthamopen.com/ABSTRACT/TOAIDJ-
9-51.
19. Jorge PA. Endothelium, lipids and atherosclerosis. Arq Bras Cardiol.
1997 Feb;68(2):129-34. [Article in Portuguese].
20. Núñez-Cortés JM, Pedro-Botet Montoya J, Pintó Sala X. Riesgo
vascular residual: recomendaciones de la Iniciativa Española para
la Reducción del Riesgo Residual. Med Clin (Barc). 2010;135
(4):165-71.
21. Carr MC, Brunzell JD. Abdominal obesity and dyslipidemia in the
metabolic syndrome: importance of type 2 diabetes and familial
combined hyperlipidemia in coronary artery disease risk. J Clin
Endocrinol Metab. 2004 Jun;89(6):2601-7.
22. Nakajima K, Nakano T, Tanaka A. The oxidative modification
hypothesis of atherosclerosis: the comparison of atherogenic effects
on oxidized LDL and remnant lipoproteins in plasma. Clin Chim
Acta. 2006 May;367(1-2):36-47.
23. Brand A, Griffiths DJ, Herve C, Mallon E, Venables PJ. Human
retrovirus-5 in rheumatic disease. J Autoimmun [Internet]. 1999
Aug;13(1):149-54. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/10441180
24. Okopien B, Krysiak R, Herman ZS. Effects of short-term fenofibrate
treatment on circulating markers of inflammation and hemostasis
in patients with impaired glucose tolerance. J Clin Endocrinol Metab.
2006 May;91(5):1770-8.
Aspectos fisiopatológicos da dislipidemia aterogênica e impactos na homeostasia
126 RBAC. 2017;49(2):120-6
Correspondência
Taiane de Macêdo Gondim
Rua Airosa Galvão - 7/302 – Barra
40140180 – Salvador, BA
taigondim@hotmail.com
25. Ríos MS, Caro JF, Carraro R, Fuentes JAG. 22. Alterations in
Thrombosis and Fibrinolysis in the Metabolic Syndrome. In: The
Metabolic Syndrome at the Beginning of the XXI Century: A Genetic
and Molecular Approach. Elsevier; 2005. p. 479.
26. Lima LM, Carvalho MG, Sabino AP, Sousa MO. Lipoproteína A e
inibição da fibrinólise na doença arterial coronariana. Rev Bras
Hematol Hemoter. 2006;28(1):53-9.
Gondim TM, Moraes LEP, Fehlberg I, Brito VS
 RBAC. 2017;49(2):127-30 127
Leucemia Mieloide Crônica: aspectos clínicos, diagnóstico e
principais alterações observadas no hemograma
Chronic Myeloid Leukemia: clinical aspects, diagnosis and main changes observed in
complete blood count
Fernanda Roberta Sossela1
Barbara Catarina de Antoni Zoppas2
Liliana Portal Weber3
Artigo de Revisão/Review Article
Resumo
A Leucemia Mieloide Crônica (LMC) é uma neoplasia hematológica que corresponde de
15% a 20% de todas as leucemias. Na maioria dos casos, há expressão do cromossomo
Filadélfia e a produção de uma oncoproteína com atividade tirosina-quinase aumentada. O
curso clínico da doença é caracterizado por três fases: crônica, acelerada e crise blástica.
O diagnóstico é estabelecido por aspectos clínicos e hematológicos. Entre os principais
métodos diagnósticos pode-se citar o hemograma, o mielograma e as análises citogenéticas
e moleculares. Em meio às metodologias cada vez mais sensíveis e específicas, o
hemograma se constitui numa ferramenta de elevada importância como método de triagem
para novos casos, principalmente quando não há sintomatologia característica. Algumas
alterações típicas podem ser evidenciadas no hemograma, como o aumento significativo na
contagem de leucócitos, acompanhado do aumento de basófilos e do aparecimento de
células imaturas. O tratamento de primeira escolha indicado atualmente é o quimioterápico
mesilato de imatinibe, que vêm apresentando sucesso terapêutico, acarretando na diminui-
ção do número de casos de evolução da fase crônica para a fase acelerada. Neste artigo,
serão discutidos os principais aspectos clínicos da doença e métodos diagnósticos, com
enfoque nas alterações características encontradas no hemograma.
Palavras-chave
Cromossomo Filadélfia; Leucemia mieloide de fase crônica; Contagem de células
sanguíneas
1Farmacêutica Bioquímica – Setor de Hematologia, Hospital Geral. Fundação Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul, RS, Brasil.
2Professora de Parasitologia e Micologia da Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul, RS, Brasil.
3Professora de Imunologia e Hematologia da Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul, RS, Brasil.
Instituição: Universidade de Caxias do Sul. Caxias do Sul, RS, Brasil.
Artigo recebido em 23/10/2016
Artigo aprovado em 24/01/2017
DOI: 10.21877/2448-3877.201700543
INTRODUÇÃO
A Leucemia Mieloide Crônica (LMC) é uma neoplasia
hematológica, caracterizada como uma doença proliferativado sistema hematopoiético na qual ocorre expansão clonal
de uma célula-tronco pluripotente ou stem cell.(1-3) Esta célula
possui a capacidade de se diferenciar em células das linha-
gens mieloide, linfocítica, monocítica ou megacariocítica.(2)
A LMC corresponde a aproximadamente 15% a 20%
de todas as leucemias, com incidência de um a dois casos
em cada 100 mil indivíduos.(3-6) Apresenta maior frequência
em adultos, com faixa etária entre 40 e 60 anos, principal-
mente do sexo masculino. Entretanto, pode acometer indiví-
duos de todas as faixas etárias, com menos de 10% dos
casos de pacientes com até 20 anos.(3-8)
Em aproximadamente 90% a 95% dos casos, há ex-
pressão do cromossomo Filadélfia, produto de uma trans-
locação recíproca dos braços longos dos cromossomos 9
e 22, dando origem ao gene quimérico BCR-ABL.(1-3) Nes-
ta translocação, há a associação do gene c-ABL(Abelson
murine leukemia) no cromossomo 9 com uma porção do
gene BCR (breakpoint cluster region) do cromossomo 22,
t(9;22)(q34;q11), gerando a expressão e consequente tra-
dução de uma oncoproteína com atividade tirosina-quinase
aumentada, p210BCR-ABL, que é característica dos pa-
cientes com LMC.(1-4,6,8,9) A hiperatividade da p210BCR-
ABL é responsável pela oncogênese inicial da LMC, favo-
recendo a liberação de efetores de proliferação celular e
inibidores de apoptose da célula progenitora hematopoié-
tica.(3,6,9)
O principal fator de risco para o desenvolvimento da
LMC é a exposição à radioatividade, que também é fator de
risco para o surgimento de outros tipos de câncer.(8) A mai-
or incidência de LMC pode ser observada em pacientes
128 RBAC. 2017;49(2):127-30
Sossela FR, Zoppas BCA, Weber LP
submetidos à radioterapia, bem como sobreviventes das
regiões atingidas pelas bombas atômicas durante a Se-
gunda Guerra Mundial. No entanto, mesmo com essa pro-
vável relação entre LMC e radiação ionizante, na maioria
dos casos não há fator predisponente conhecido.(6)
O diagnóstico da LMC pode ser estabelecido por
meio de aspectos clínicos e hematológicos. Apesar do
surgimento de técnicas cada vez mais sensíveis e especí-
ficas na identificação citogenética e molecular do
cromossomo Filadélfia, do gene BCR-ABL e seus produ-
tos, a utilização do hemograma como exame de triagem
para novos casos torna-se essencial. Muitos pacientes não
apresentam sintomas específicos, dessa forma o
hemograma pode sinalizar alterações características da
LMC e auxiliar no diagnóstico clínico.
Este artigo constitui uma revisão que objetiva abor-
dar as principais características clínicas da LMC,
sintomatologia, formas de tratamento e diagnóstico, com
enfoque nas alterações observadas no hemograma, no in-
tuito de auxiliar os profissionais na sua utilização como
método de triagem e diagnóstico para a LMC.
CURSO CLÍNICO E SINTOMATOLOGIA
A maior parte dos pacientes apresenta uma fase crô-
nica, que dura geralmente de três a cinco anos em trata-
mento com fármacos convencionais, com aparecimento de
poucos sinais e sintomas; uma fase acelerada, com apa-
recimento de blastos no sangue periférico e/ou na medula
óssea; e uma fase aguda (crise ou transformação blástica),
com duração de três a seis meses.(7,8) Em alguns casos, a
doença pode evoluir da fase crônica diretamente para a
fase de crise blástica.(3) A evolução da fase crônica para
outros estágios da doença pode ser uma consequência
da instabilidade genética e evolução clonal, com anorma-
lidades cromossômicas adicionais provindas da prolifera-
ção celular induzida pelo gene BCR-ABL.(6)
O quadro clínico apresenta heterogeneidade de sin-
tomas em todas as fases da LMC.(3) Entre as manifesta-
ções clínicas na fase inicial da doença pode-se citar ane-
mia, artralgia, parestesia palmar, hepatoesplenomegalia,
além de sintomas de hipercatabolismo, como fadiga,
perda ponderal, sudorese noturna e febre.(3,6-8) A ocor-
rência de hemorragia e complicações trombóticas pode
ser observada em menos de 5% dos casos na fase crô-
nica.(6)
Os sinais clínicos relatados na fase de crise blástica
incluem palidez, aumento da hepatoesplenomegalia,
equimoses fáceis e refratariedade ao tratamento, até en-
tão eficaz na fase crônica.(7) Pode-se citar ainda a ocor-
rência de sangramentos, falência de múltiplos órgão e in-
fecções, com sobrevida de três a seis meses para paci-
entes sem tratamento.(6)
DIAGNÓSTICO
Geralmente, o diagnóstico torna-se evidente pelos
aspectos clínicos e hematológicos.(7) Podem ser utilizados
os seguintes métodos para o estabelecimento de diagnós-
tico de LMC: medição da esplenomegalia, realização de
hemograma completo, mielograma, biópsia de medula com
coloração pela prata (para avaliar a presença de fibrose),
cariótipo da medula óssea, PCR-qualitativo (para identifi-
cação do transcrito BCR-ABL) e PCR quantitativo. A partir
dos resultados obtidos, é possível definir a fase de evolu-
ção da doença.(4)
A maior parte dos pacientes já apresenta sintomas ao
diagnóstico, com a doença já estabelecida. No entanto, um
número cada vez maior de pacientes está sendo diagnosti-
cado em exames periódicos através do hemograma, es-
tando ainda assintomáticos.(7) Desse modo, o hemograma
apresenta-se como uma ferramenta importante para a iden-
tificação da LMC, e sua correta interpretação torna-se es-
sencial para o direcionamento do diagnóstico. Neste âmbi-
to, alguns aspectos principais devem ser observados e es-
tão representados na Tabela I.
Em estágios iniciais da doença, os primeiros aspec-
tos observados no sangue periférico são o aumento de
basófilos, trombocitose e um baixo escore de fosfatase al-
calina leucocitária (LAP), teste que vem perdendo a força
devido ao surgimento das análises citogenéticas e mole-
culares.(7,11) Após, ocorre o aumento do total de leucócitos,
de neutrófilos e começam a surgir células imaturas. Em al-
guns pacientes, há alterações cíclicas na contagem de
leucócitos em intervalos de 50 a 70 dias, com uma fase de
níveis leucêmicos e uma fase de níveis normais. Nas fases
iniciais, há necessidade de estabelecer diagnóstico dife-
rencial entre LMC, neutrofilia reacional e outros tipos de
leucemias mieloides.(7)
Com a evolução da doença, um dos principais critéri-
os de identificação da crise blástica é a contagem de
blastos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),
o número de blastos deve ser igual ou superior a 20%.(10)
Outra classificação bastante usada em estudos terapêuticos
para LMC, do grupo M.D. Anderson Cancer Center (MDACC),
propõe que a contagem de blastos deve ser igual ou supe-
rior a 30% ou, ainda, uma soma de blastos e promielócitos
igual ou superior a 30%.(12) Conforme o estudo de Cortes et
al.,(12) indivíduos com contagens de blastos de 20% a 29%
apresentam sobrevida e resposta citogenética melhores do
que pacientes com contagens acima de 30%, o que demons-
tra que o ponto de corte de blastos ainda permanece em
constante discussão.
Outra questão importante é a identificação da nature-
za da população blástica, que pode ser realizada por meio
da imunofenotipagem blástica. Na maioria dos casos, a
população é de l inhagem mieloide (podendo ser
 RBAC. 2017;49(2):127-30 129
mieloblástica ou mieloblástica/ megacarioblástica) ou mis-
ta (linfoblástica/mieloide).(7) Em aproximadamente 70% dos
casos, a transformação blástica é mieloide, podendo acon-
tecer em múltiplas linhagens ou predominar em uma delas:
mieloblástica, basofílica, eosinofílica, megacarioblástica,
monocítica ou eritroblástica. A transformação linfoide ocor-
re em 20% a 30% dos pacientes e a transformação
bifenotípica é mais raramente encontrada.(3,6)
No âmbito medular, o diagnóstico pode serrealizado
por meio do mielograma e biópsia de medula. A medula
óssea dos pacientes com LMC é hipercelular, em função da
hiperplasia mieloide, apresentando células em todas as fa-
ses de maturação, e a série eritroide encontra-se diminuí-
da. Pode ser observada ainda proliferação de megacarió-
citos, diferentes graus de fibrose reticulínica e vascula-
rização.(3,11)
Para confirmação diagnóstica e monitoração do tra-
tamento, são utilizadas as análises citogenéticas e mole-
culares.(2,7,11) Na maior parte dos casos de LMC, há presen-
ça do cromossomo Filadélfia.(7) A presença do cromossomo
ou de seu transcrito BCR-ABL determina o diagnóstico da
doença.(11) Na monitoração da resposta citogenética, podem-
se citar as técnicas de cariótipo medular e hibridização in
situ por fluorescência (FISH).(4,13) Através do cariótipo me-
dular pode-se quantificar o número de metáfases Ph+ e
detectar anomalias cromossômicas adicionais no momen-
to do diagnóstico e a cada seis meses, até a resposta
citogenética completa, e, após, a cada um a dois anos, para
a identificação de eventuais recaídas.(4) O método de FISH
é útil na demonstração de translocação 9-22 e detecção do
gene BCR-ABL, podendo contribuir na identificação de do-
ença residual mínima (DRM), mas não detecta as demais
anomalias cromossômicas e não possui valor prognóstico
estabelecido.(4,13)
A análise molecular com a utilização do método de
Transcricão Reversa e Reação em Cadeia da Polimerase
quantitativo, RT-qPCR (Reverse Transcription - quantitative
Polymerase Chain Reaction), apresenta alta correlação
com os resultados obtidos pela análise citogenética.(2) Por
meio deste método, é possível identificar o rearranjo BCR/
ABL e determinar o número de cópias de mRNA produzido
pela p210BCR/ABL, sendo muito útil na detecção de doença
residual após quimioterapia ou transplante de medula ós-
sea.(2,4,9) A monitoração de resposta molecular deve ser re-
alizada no intervalo de três a seis meses até a resposta
molecular completa e, depois, a cada seis meses.(4)
TRATAMENTO
No tratamento da LMC, pode ser utilizada a terapia ce-
lular por meio do transplante de células-tronco hemato-
poiéticas, ou o tratamento medicamentoso, com a utilização
de bussulfan, hidroxiureia, interferon alfa ou inibidores da
tirosina-quinase.(8,9) Atualmente, o mesilato de imatinibe,
inibidor da tirosina-quinase, é considerado tratamento de pri-
meira linha para estes pacientes.(4,8,9) O imatinibe age como
inibidor específico da proteína BCR-ABL, por meio da com-
petição pelo sítio de ligação de ATP da tirosina-quinase,
bloqueando a fosforilação de substratos relacionados com
a regulação do ciclo celular, reativando o mecanismo de
Leucemia Mieloide Crônica: aspectos clínicos, diagnóstico e principais alterações observadas no hemograma
130 RBAC. 2017;49(2):127-30
morte celular.(6,9) No entanto, pode haver o desenvolvimento
de resistência ao fármaco, através de mutações na região
do sítio catalítico da proteína no gene BCR-ABL, incapaci-
dade de manutenção de concentrações adequadas de
fármaco no interior da célula e/ou duplicação do cro-
mossomo Filadélfia.(8) Com o sucesso cada vez maior dos
inibidores da tirosina-quinase, o número de casos de evolu-
ção da fase crônica para a fase acelerada vem diminuindo
de forma expressiva.(3,9) Mesmo com o uso de imatinibe, a
sobrevida dos pacientes na fase acelerada pode ser esti-
mada em um a dois anos.(3)
O uso de mesilato de imatinibe geralmente é bem to-
lerado pelos pacientes, entretanto a principal preocupação
é o desenvolvimento, a longo prazo, de uma segunda
neoplasia, que pode ser observada também com o uso de
outros fármacos utilizados no tratamento da LMC.(8)
Atualmente, estão sendo utilizados no tratamento tam-
bém os inibidores da tirosina-quinase de segunda geração,
como o dasatinibe, o nilotinibe e o bosutinibe, que demons-
tram eficácia na maioria dos pacientes resistentes ou into-
lerantes ao imatinibe.(4,6)
Na avaliação do sucesso terapêutico, a resposta
hematológica completa é definida pelos seguintes critérios:
plaquetas ≤ 450 mil, leucócitos ≤ 10.000, com diferencial
normal, basófilos menor que 5% e ausência de espleno-
megalia.(6) O hemograma deve ser repetido a cada duas
semanas até que a resposta hematológica completa seja
obtida.(4)
A terapêutica curativa para pacientes com LMC é o
alotransplante de células progenitoras hematopoiéticas.
Entretanto, não é considerado como terapêutica de primei-
ra linha, sendo mais indicado para pacientes jovens e nos
casos em que ocorre resposta insatisfatória ou resistência
aos inibidores da tirosina-quinase.(4)
CONCLUSÃO
A LMC consiste numa neoplasia de sintomatologia
muito diversa e com casos assintomáticos frequentes, de
modo que a avaliação laboratorial do paciente torna-se es-
sencial. As técnicas utilizadas demonstram-se cada vez mais
avançadas, possibilitando análises citogenéticas e mole-
culares precisas, que permitem não somente a confirma-
ção do diagnóstico como também a monitoração da evolu-
ção da doença e da terapêutica. No entanto, o hemograma
ainda apresenta grande relevância por ser uma metodologia
de fácil acesso e, quando realizado por profissionais treina-
dos, pode auxiliar na identificação de novos casos e no
acompanhamento da LMC.
Quanto às formas de tratamento, o mesilato de ima-
tinibe continua sendo a terapia de primeira escolha. Nos
casos de resistência ao imatinibe, surgem como alternativa
os inibidores da tirosina-quinase de segunda geração.
Abstract
Chronic myeloid leukemia (CML) is an hematological tumor, corresponding
15 to 20% of all leukemias. In most cases, there expression of the
Philadelphia chromosome and production of an oncoprotein with enhanced
tyrosine-kinase activity. The clinical course of the disease is characterized
by three phases: chronic, accelerated and blast crisis. The diagnosis is
established by clinical and hematological aspects. Among the main
diagnostic methods, there is the complete blood count, the bone marrow
examination and cytogenetic and molecular analyzes. Amid the increasingly
sensitive and specific methodologies, the complete blood countis an
important tool as a screening method for new cases, especially when
there are no characteristic symptoms. Some typical changes can be
highlighted in the complete blood countis as a significant increase in
leukocyte count, accompanied by increase in basophil count and the
appearance of immature cells. The treatment of choice is currently the
quimioterapic imatinib mesylate, which have shown therapeutic success,
resulting in decrease in the number of cases of evolution of chronic phase
to accelerated phase. In this article, the main clinical aspects of the
disease and diagnostic methods will be discussed, focusing on
characteristic changes found in the blood count
Keywords
Philadelphia Chromosome; Leukemia, Myeloid, chronic-phase; Blood
cell count
REFERÊNCIAS
1. Andrade GV. Papel da p190BCR-ABL como parâmetro de recaída
na leucemia mieloide crônica. Rev Bras Hematol Hemoter. 2008;
30(4):297-302.
2. Barboza LP, Souza JM, Simões FV, Bragança IC, Abdelhay E. Aná-
lise dos transcritos da translocação t(9;22) em Leucemia Mieloide
Crônica. Rev Bras Hematol Hemoter. 2000;22(2):89-98.
3. Bortolheiro TC, Chiattone CS. Leucemia Mieloide Crônica: história natu-
ral e classificação. Rev Bras Hematol Hemoter. 2008;30 (supl. 1): 3-7.
4. Almeida A, Castro I, Coutinho J, Guerra L, Marques H, Pereira AM.
Recomendações para o diagnóstico, tratamento e monitorização
da Leucemia Mieloide Crónica. Acta Med Port. 2009;22:537-44.
5. Bergantini AP, Castro FA, Souza AM, Fett-Conte AC.Leucemia mielóide
crônica e o sistema Fas-FasL. Rev Bras Hematol Hemoter. 2005; 27
(2):120-25.
6. Bollmann PW, Giglio A. Leucemia mieloide crônica: passado, pre-
sente, futuro.Einstein. 2011;9(2):236-43.
7. Bain BJ. Células Sanguíneas: Um Guia Prático. 4ª ed. Porto Alegre:
Artmed; 2007. 488 p.
8. Castro MA, Castro MA, Peleja SB, Barbosa AP, Tavares AP, Roberti
MR. Ocorrência de Múltiplas Neoplasias em Paciente Portador de
Leucemia Mieloide Crônica: Relato de Caso. Revista Brasileira de
Cancerologia. 2012;58(2):251-55.
9. Grando AC, Wagner S. Avaliação laboratorial da doença residual
mínima na leucemia mielóide crônica por Real-Time PCR. J Bras
Patol Med Lab. 2008;44 (6):433-40.
10. Swerdlow SH, Campo E, Harris NL, Jaffe ES, Pileri SA, Stein H,
Thiele J, Vardiman JW. WHO Classification of Tumours of
Haematopoietic and Lymphoid Tissues. Lyon: IARC Press; 2008.
11. Xavier RM, Dora JM, Souza CFM, Barros E. Laboratório na prática
clínica: consulta rápida. Porto Alegre: Artmed, 2010.928 p.
12. Cortes JE, Talpaz M, O'brien S, Faderi S, Garcia-Manero G, Ferrajoli A.
Staging of chronic myeloid leukemia in theimatinib era. An evaluation of
the World Health Organization proposal. Cancer. 2006;106(6):1306-15.
13. Naoum PC. Avanços tecnológicos em hematologia laboratorial. Rev
Bras Hematol Hemoter. 2001;23(2):15-23.
Correspondência
Fernanda Roberta Sossela
Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130
 95070-560 – Caxias do Sul, RS
Sossela FR, Zoppas BCA, Weber LP
 RBAC. 2017;49(2):131-4 131
Anemia Falciforme e abordagem laboratorial: uma breve
revisão de literatura
Sickle Cell Disease and laboratory approach: a brief literature review
Renata Araujo de Almeida1
Ana Laura Remédio Zeni Beretta2
Artigo de Atualização/Update
Resumo
Anemia Falciforme é uma doença hemolítica de caráter autossômico recessivo presente em
indivíduos homozigóticos para a hemoglobina S, ocorrendo uma mutação na posição 6 da
extremidade N - terminal do cromossomo 11, substituindo o ácido glutâmico por valina. A
HbSS em condições de hipóxia se polimeriza no formato de foice. A anemia nos pacientes
ocorre pela diminuição de hemoglobina devido ao aumento de hemólise no baço. As hemácias
falciformes contribuem para os processos inflamatórios, vaso-oclusão, aumento de coagula-
ção, lesão tecidual. Os processos infecciosos são críticos em crianças menores de 6 anos
devido à autoesplenectomia e sua susceptibilidade a infecções. O objetivo do estudo foi
estabelecer os principais meios para o diagnóstico laboratorial da anemia falciforme, base-
ando-se na revisão bibliográfica em artigos científicos e banco de dados do Centro Latino-
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme/Lilacs). A triagem
laboratorial fornece subsídios para o norteamento clínico, desde exames simples, como o
hemograma com a contagem de reticulócitos, até exames mais sofisticados, como resis-
tência osmótica em solução de cloreto de sódio a 0,36%, eletroforese em pH alcalino em
acetato de celulose, pesquisa de corpos de Heinz e agregados de hemoglobina H, entre
outros. O estudo mostrou que a eletroforese de hemoglobina é o exame padrão-ouro para a
confirmação do diagnóstico.
Palavras-chave
Doença da Hemoglobina SC; Anemia Falciforme; Anemia Hemolítica; Diagnóstico
1Bacharel em Ciências Biológicas pela PUC-Campinas e pós-graduanda no curso de especialização de Análises Clínicas pela FHO Uniararas/
 Centro Universitário Hermínio Ometto (Uniararas). Araras, SP, Brasil.
2Profa. titular A5 em Microbiologia. Coordenadora de cursos de Especialização em Análises Clínicas, Controle e Prevenção de Infecção Relacionada à
 Assistência à Saúde e Farmácia Hospitalar Oncológica/Centro Universitário Hermínio Ometto (Uniararas). Araras,SP, Brasil.
Instituição: Universidade Hermínio Ometto (Uniararas). Araras, SP, Brasil.
Artigo recebido em 25/08/2016
Artigo aprovado em 17/02/2017
DOI: 10.21877/2448-3877.201700530
INTRODUÇÃO
A Anemia Falciforme (AF) é uma doença hemolítica
de caráter autossômico recessivo, presente em indivíduos
homozigóticos para Hemoglobina S (HbS). É originada por
uma mutação na posição 6 da extremidade N - terminal do
cromossomo 11, onde ocorre a substituição de um ácido
glutâmico pela valina. A HbS é responsável pela poli-
merização dos eritrócitos em condições de hipóxia, fazen-
do com que esses assumam o formato de foice. Esses
polímeros podem lesar a estrutura da membrana eritrocítica,
causando hemólise. A diminuição do número de eritrócitos
pela hemólise associada à alta destruição das hemácias
pelo baço leva ao quadro de anemia comum em pacientes
falciformes.(1,2)
A AF é a doença hereditária de maior prevalência no
país, afetando cerca de 0,1% a 0,3% da população negra,
sendo observada também em decorrência da alta taxa de
miscigenação em parcela cada vez mais significativa da
população caucasiana brasileira. Estimativas indicam que
5% a 6% da população carrega o gene da Hemoglobina S
(HbS) e que a incidência fica em torno de 700 - 1000 no-
vos casos por ano.(3)
A hemoglobina S (HbS) é obtida através da mutação
genética que ocorre na cadeia beta (β), posição seis da
globina onde há a substituição da base adenina no amino-
ácido ácido glutâmico pela base timina, formando assim o
aminoácido valina. Essa mutação altera a estrutura
molecular da membrana celular da hemácia (que é
bicôncava) em baixas concentrações de oxigênio circulante
no sangue, conferindo-lhe a forma de foice. Por esta ra-
zão, a hemoglobina modificada recebe o nome de
hemoglobina S (S deriva da palavra inglesa sickle, que
significa foice em português).(4)
132 RBAC. 2017;49(2):131-4
Almeida RA, Beretta ALRZ
Durante o evento de falcização a membrana da
hemácia em foice enrijece, aumentando o contato da su-
perfície celular com as moléculas de adesão circulantes
no sangue. Essa interação impede a circulação adequada
dessas hemácias na corrente sanguínea, fazendo com que
dificulte o transporte de oxigênio celular e tecidual, além
de contribuir para o processo de vaso-oclusão causado
pela aderência dessas células no endotélio vascular, oca-
sionando os processos inflamatórios e infecciosos.(5,6)
É importante que as pessoas estejam informadas so-
bre a existência da doença falciforme e consigam identificá-
la. Além da crescente difusão do aconselhamento genéti-
co, o governo federal empenhou-se também em políticas
nacionais educativas e, nos anos 90, na formação de um
grupo de trabalho para a elaboração do Programa Ane-
mia Falciforme.(7)
A pesquisa exploratória teve por objetivo estabele-
cer os principais meios usados para o diagnóstico
laboratorial da Anemia Falciforme por meio da pesquisa
em sites de coleção de artigos científicos como Medline,
Lilacs, Bireme, SciELO e Biblioteca Cochrane, a fim de
discorrer e discutir sucintamente sobre as características
da doença.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A Doença Falciforme (DF) apresenta alguns
genótipos, sendo que os mais conhecidos são: a
homozigose da Hemoglobina S (HbSS); e as heterozigoses
da Hemoglobina S, a HbAS, a HbS-beta-talassemia, as-
sociação da hemoglobina falciforme com a hemoglobina
que possui o gene que expressa a beta talassemia; e a
dupla heterozigose HbSC, associação entre a
Hemoglobina S e a hemoglobina C, e HbSD, associação
entre a Hemoglobina S e a Hemoglobina D.(8)
Os genótipos da Doença Falciforme determinam a
gravidade e a presença ou não de sintomas clínicos. A HbS-
beta-talassemia, a HbSC e HbSD são consideradas genó-
tipos de gravidade média, enquanto que os genótipos
HbAS, que é responsável pelo traço falciforme, e HbSS,
que caracteriza a Anemia Falciforme, possuem maior re-
levância clínica.(8,9)
No traço falciforme, o indivíduo apresenta
heterozigose para Hemoglobina S, sendo portador de um
gene de hemoglobina normal (HbA) e um gene com a mu-
tação falciforme (HbS), formando o genótipo HbAS. O
individuo HbAS é assintomático.(10)
A Anemia Falciforme (AF)

Continue navegando