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Resenha da obra Princípios De Economia

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Resenha da obra Princípios De Economia - Tratado Introdutório
Autor: Alfred Marshall
Por Natália Matos
Os Princípios de Economia de Alfred Marshall, escrita em no final do século XIX, é uma obra de grande valor para a esta ciência. Através dela o leitor consegue exprimir uma visão mais clara e ampla do que é a economia, que não se restringe a um estudo das riquezas, em seu aspecto mais pecuniário e capitalista. 
O autor defende inicialmente que a economia é um estudo da Humanidade nas atividades correntes da vida, examina a ação individual e social em seus aspectos mais estreitamente ligados à obtenção e ao uso dos elementos materiais do bem-estar, de modo que é por um lado um estudo da riqueza, e do outro uma parte do estudo do homem. Que a economia é um estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos assuntos ordinários da vida, e que diz respeito, sobretudo, aos motivos que afetam, de um modo mais intenso e constante, a conduta do homem na parte comercial de sua vida.
	Em uma reflexão sobre a pobreza, afirma que houve uma esperança de que tanto esta quanto a ignorância pudessem ser gradualmente extintas encontra de fato grande fundamento no seguro progresso das classes operárias durante o século XIX, com a diminuição de trabalhos exaustivos e degradantes com o advento da máquina a vapor, aumento dos salários e progresso da educação se tornando mais generalizada. Mas esta é uma questão que, por exemplo, não poderia ser inteiramente respondida pela ciência econômica, pois depende em parte das virtudes morais e políticas da natureza humana, e sobre estas matérias o economista não tem meios especiais de informação: ele deve fazer o que os outros fazem e conjeturar da melhor maneira possível. 
	O autor trata também da questão da concorrência, que em significado estrito parece ser a disputa entre duas pessoas orientadas especialmente para a venda ou a compra de alguma coisa. Esta espécie de disputa é, na ótica do autor mais intensa e mais largamente difundida do que costumava ser, como uma consequência da moderna vida industrial. Segundo Marshall, a ideia de concorrência acabou por adquirir um sentido pejorativo e veio a implicar certo egoísmo e indiferença pelo bem-estar dos outros. Entretanto, é importante ter em vista também o viés saudável desta para a própria economia, como forma de aquecer o mercado, influenciar a melhorar a qualidade dos bens e serviços ofertados, elevando o padrão do próprio empreendimento. 
	Fato é que para o autor, o termo “concorrência”, com todos os seus significados e ramificações, não seria adequado para designar as características especiais da vida industrial da época moderna. Para tal, seria preciso uma expressão que não implique quaisquer qualidades morais, boas ou más, mas que indique o fato indiscutível de que o comércio e a indústria modernos são caracterizados por maior confiança do indivíduo em si mesmo, mais previsão e mais reflexão e liberdade de escolha.
	Continuando sua reflexão sobre a economia, Marshall aduz que a economia enquanto parte do estudo do homem, está voltada principalmente aos motivos que afetam, de um modo mais intenso e constante, a conduta do homem na parte comercial de sua vida. Ratifica que o motivo mais constante para a atividade dos negócios é o desejo da remuneração, a recompensa material do trabalho. O que é completamente concebível em um contexto de sociedade capitalista na qual muitas vezes, por uma carência na assistência governamental em setores básicos, o nosso bem-estar é proporcional ao quanto se pode pagar por ele, no que concerne questões básicas como saúde, infraestrutura, alimentação. 
Neste contexto, os desejos, aspirações e outras manifestações da natureza humana aparecem como incentivos à ação. E assim, o economista, para Marshall, deve ocupar-se com os fins últimos do homem e levar em conta as diferenças que existem, do ponto de vista do valor real, entre satisfações que são igualmente poderosos incentivos à ação e que, por conseguinte, têm idênticas medidas econômicas, que são o ponto de partida da Economia. 
O autor em seu texto também suscita a importante noção de que o desejo de ganhar dinheiro não provém necessariamente de motivos de ordem inferior, mesmo quando o gastamos conosco. Em sendo assim, ele defende que o dinheiro não é senão um meio para atingirmos certos fins, nobres ou baixos, espirituais ou materiais, posição que corresponde essencialmente, mais uma vez, a realidade capitalista.
Neste sentido, Marshall sabiamente advoga que ainda que seja certo que o “dinheiro” ou “poder geral de compra” ou o “domínio sobre a riqueza material” seja o centro em torno do qual gira a ciência econômica, isso é verdade não porque o dinheiro ou a riqueza material sejam considerados por ela o fim principal do esforço dos homens, nem mesmo a principal matéria de estudo do economista, mas porque no mundo onde vivemos ele é o meio conveniente para a medida dos motivos humanos numa larga escala. Noção que se pode relacionar, inclusive, com a ideia de que a quantidade que se tem disponível de dinheiro determina, muitas vezes, nosso modo e qualidade de vida, conduz as escolhas, abdicações e até sacrifícios. 
Ademais, destaca a importância do economista se ocupar dos indivíduos sobretudo como membros do organismo social, se preocupar com a consecução coletiva de certos fins importantes, ampliar cada vez mais o campo da ação coletiva inspirada pelo bem público, de modo que cumpre salientar neste ponto a importância da economia para o desenvolvimento de um país ou de uma região. 
Em suma, o que Marshall defende neste ponto do texto é que os economistas estudam as ações dos indivíduos, mas do ponto de vista social antes que do da vida individual; e, por conseguinte, pouco se preocupam com as particularidades pessoais de temperamento e de caráter. Eles observam a conduta de toda uma classe de gente, seja numa perspectiva de nação ou região, num certo momento e num determinado lugar. Com a ajuda da estatística, por exemplo, os economistas determinam qual a quantia que os membros do grupo em observação estão, em média, dispostos a pagar como preço de uma certa coisa desejada, ou qual a soma que será necessário oferecer-lhes para levá-los a suportar um esforço ou uma abstinência penosa.
O livro trata também da ideia de leis econômicas, ratificando que não existem tendências econômicas que atuem tão firmemente e possam ser medidas com tanta exatidão como a lei da gravitação. Elas não tem como atingir um nível de precisão tão exato como leis matemáticas ou físicas, sobretudo pelas ações humanas serem tão variadas e incertas, de modo que o melhor enunciado de tendências possível de se fazer numa ciência da conduta humana tem de ser necessariamente inexato e falho. 
Neste diapasão, Leis Econômicas são enunciados referentes às tendências da ação do homem sob certas condições, chegando à ideia de ação econômica normal, que é aquela que se espera, sob um determinado contexto, de membros de um determinado grupo. Tratam de estudar os efeitos que serão produzidos por certas causas, não de um modo absoluto, mas sob a condição de que as outras coisas sejam iguais, e de que as causas possam produzir os seus efeitos sem perturbações, por isso não tem como serem tão exatas. Por tratar sobretudo da parte das ações humanas mais sujeitas a motivos mensuráveis, por conseguinte, se presta a raciocínios e análises sistemáticos.
Marshall defende que a Economia tem como objeto, primeiramente, adquirir conhecimento para seu próprio uso e, em segundo lugar, esclarecer os acontecimentos da vida prática. A sua tarefa especial é estudar e interpretar os fatos e descobrir quais são os efeitos de diferentes causas em sua ação isolada e combinada. O autor enumera algumas das principais questões que o economista estuda. Quais são as causas que, particularmente no mundo moderno, afetam o consumo e a produção, a distribuição e a troca de riquezas; a organização da indústria e do comércio; o mercado monetário; as relações entre empregadores e empregados?Como agem e reagem esses fenômenos uns sobre os outros? Dentro de que limites o preço de uma coisa é uma medida de sua desejabilidade? Que acréscimo de bem-estar deve, à primeira vista, resultar de um dado aumento de riqueza numa classe da sociedade?
A Economia é assim considerada o estudo dos aspectos e das condições econômicas da vida política, social e privada do homem, mas particularmente de sua vida social. Ela será importante e servirá de guia, muitas vezes, para pautar as táticas a seguir na política interna ou externa de um Estado, ter em vista tudo o que um homem de Estado é obrigado a ter em conta quando, entre as medidas que ele pode propor, decide quais as que o levarão mais próximo do fim que pretende atingir para o seu país. 
O autor em seu texto trata também de algumas noções fundamentais para a economia, como a ideia de riqueza, atrelada a muitas acepções distintas, mas fundada em um mesma noção base de que toda riqueza consiste em coisas desejáveis, isto é, em coisas que satisfazem as necessidades humanas, direta ou indiretamente, ainda que nem todas as coisas desejáveis sejam consideradas riqueza. 
A riqueza está atrelada a noção de bem, mas como este também possui muitas classes (materiais, imateriais, internos, externos, livres...) o autor faz um recorte e aduz que quando se fala da riqueza de um homem, simplesmente, devemos entendê-la como sendo o seu patrimônio em duas classes de bens. Os materiais sobre os quais ele tem (por lei ou costume) direitos de propriedade privada, e que são por conseguinte transferíveis e permutáveis. Também os bens imateriais que lhe pertencem, os que lhe são externos, e servem diretamente de meio para habilitá-lo a adquirir bens materiais, incluindo relações comerciais e profissionais, a organização do seu negócio, os direitos de tributos de trabalho etc.
Marshall perpassa também por uma noção de riqueza a do ponto de vista social, que envolvem os bens coletivos, em contraposição ao ponto de vista individual. Explora a pluralidade das correlações que se pode fazer com a noção de riqueza. A ideia de riqueza da nação que tem nas suas formas mais relevantes são as propriedades públicas materiais de todo o gênero, tais como estradas e canais, edifícios e parques, gasômetros e instalações hidráulicas. A ideia das descobertas científicas como riquezas cosmopolitas, propriedades de um mundo civilizado. Ratifica ainda que a noção de riqueza nacional deve incluir tanto o patrimônio individual quanto o patrimônio coletivo de seus membros. 
Ademais, o autor traz também uma noção interessante sobre o consumo, que poderia ser considerado uma produção negativa. Em suas palavras, “a mesma forma que a produção de coisas materiais nada mais é do que um novo arranjo da matéria, emprestando-lhes outras utilidades, o seu consumo das mesmas não é senão uma desagregação da matéria, que lhe diminui ou destrói as utilidades”. Já consumo produtivo, quando usado como termo técnico, é definido comumente como o uso da riqueza na produção de nova riqueza. Este termo deve ser utilizado com cautela pois pode levar a equívocos, uma vez o consumo é o fim da produção, conforme salienta o próprio autor. Em verdade o consumo produtivo fomenta a própria cadeia econômica de produção. 
Os Princípios de Economia é uma obra de grande valor para esta ciência, sobretudo pela sua importância no que diz respeito ao desenvolvimento das ideias econômicas, não é à toa que Alfred Marshall foi um dos mais influentes economistas do seu tempo.

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