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Vitória Alvarenga HERANÇA CITOPLASMÁTICA OU HERANÇA MATERNA DOS DISTÚRBIOS CAUSADOS NO GENOMA MITOCONDRIAL Este resumo segue o livro de Genética Médica, do Thompson e Thompson; os slides de aula da Profa. Dra. Gabriella Soares de Souza; e o livro Princípios de Bioquímica, do Lehninger. Introdução 1. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DAS MITOCÔNDRIAS - Apresentam genoma próprio (DNA mitocondrial) e, por isso, fazem replicação e síntese proteica independentemente do resto da célula. - Possuem um sistema duplo de membranas altamente especializado (uma membrana externa e uma interna) = CRIAÇÃO DE DOIS COMPARTIMENTOS, A MATRIZ INTERNA E O ESPAÇO INTERMEMBRANAS. - Produzem ATP por fosforilação oxidativa - Sinalizam o transporte de cálcio e apoptose 2. DNA MITOCONDRIAL - Possui 2 cadeias polinucleotídicas com distinta composição em bases azotadas: cadeia pesada e cadeia leve. • Cadeia pesada (H): rica em purinas (guanina e adenina) e tem maior peso molecular. • Cadeia leve (L): complementar à cadeia pesada, com menor peso molecular, rica em pirimidinas (citosina e timina). - Possui 2 regiões: região codificante e região não codificante. • Região codificante: maior extensão da molécula; codifica 37 genes, intervenientes na fosforilação oxidação oxidativa – 13 genes polipeptídios, 22 de RNAt e 2 RNAr. • Região não codificante ou região controlou ou D- loop: corresponde a, aproximadamente, 7% do genoma mitocondrial. É possível identificar a origem de replicação da cadeia pesada (OH), os promotores de transcrição de ambas as cadeias e os locais de ligação de fatores de transcrição. - Possui uma região de controle, composta por segmentos hipervariáveis (HV), que são altamente polimórficos, considerados a fração mais heterogênea da molécula. Nesses segmentos é possível observar a maior parte dos polimorfismos identificados. • HVI = entre as posições 16024 a 16365 • HVII = entre as posições 73 a 340. • HVIII = entre as posições 438 a 574 Nas regiões HVI e HVII, verifica-se a maior densidade de alterações polimórficas. Glicólise + Fosforilação Oxidativa 1. GLICÓLISE Na glicólise, o que ocorre é que uma molécula de glicose vais ser catalisada em piruvato, que é uma molécula com 3 átomos de carbono, conservando parte de sua energia livre em ATP e em NADH, enquanto a outra parte (a maior delas) permanece no piruvato (produto). Ela é a via central do catabolismo da glicose, com maior fluxo de carbono, sendo que a quebra glicolítica é a única fonte de energia metabólica em alguns tecidos, como nas hemácias, na medula renal, no cérebro e no esperma. - FASE PREPARATÓRIA: o ATP é doador de grupos fosforil, portanto, nessa fase, há consumo de 2 ATP e formação de 2 ADP - FASE DE PAGAMENTO: formação de 2 piruvato, 2 ATP, 2 NADH, 2 H+, 2 H2O. GLICOSE + 2NAD+ + 2ADP + 2Pi à 2 PIRUVATO + 2 NADH + 2H+ + 2ATP + 2H2O LEMBRE-SE: A glicólise é regulada pelo glucagon, insulina, adrenalina e pelas variações na expressão de genes de várias enzimas glicolítica. Ainda, a maior parte das enzimas da glicólise requer o íon magnésio para a sua atividade. 2. PRODUÇÃO DE ACETIL-COA Nos casos de um metabolismo aeróbico, os piruvatos logo são oxidados em acetil-CoA e CO2 pela ação do complexo piruvato-desidrogenase. 3. CICLO DE KREBS Ocorre na matriz mitocondrial Etapa 1 - Acetil-CoA doa seu grupo acetil para o oxaloacetato (4C), formando citrato (6C). Etapa 2 – Citrato se transforma em isocitrato pela ação da enzima aconitase. Etapa 3 – Isocitrato é desidrogenado, produzindo a- cetoglutarato e 1 CO2. Etapa 4 - a-cetoglutarato se transforma em succinil-CoA e em 1 CO2. Etapa 5 – succinil-CoA é convertido em succinato. Etapa 6, 7 e 8 – succinato é convertido em oxaloacetato. SALDO FINAL DO CICLO DE KREBS: 2 ATP, 2 FADH2, 6 NADH E 4CO2. 4. FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA Ocorre na membrana interna da mitocôndria. Ela começa na entrada de elétrons na cadeia carreadora de elétrons, chamada de cadeia respiratória. Vitória Alvarenga • NADH: carrega elétrons das reações catabólicas até seu ponto de entrada na cadeia respiratória. • FADH2: intermediário entre as reações, nas quais 2 elétrons são doadores e aquelas nas quais 1 elétron é cedido. A cadeia respiratória consiste em uma série de carreadores que agem sequencialmente, sendo a maioria deles proteínas integrais, com grupos capazes de aceitar e doar um ou dois elétrons. Assim, ela é formada por 4 complexos proteicos: • Complexo I: NADH-coenzima Q oxirredutase – em todos os diagramas de complexos respiratórios, a matriz mitocondrial se situa embaixo e o espaço intermembranas em cima. • Complexo II: succinato-ubiquinona oxirredutase • Complexo III: ubiquinona-citocromo-c oxirredutase • Complexo IV: citocromo-c oxidase COX à são 2 transportadores de elétrons móveis + coenzima Q10 (ubiquinona) + citocromo C • Complexo V: ATP sintase – é a enzima final na via da fosforilação oxidativa. Ela utiliza a energia armazenada num gradiente de prótons (ou seja, os prótons são armazenados aqui) existente através da membrana para realizar a síntese de ATP a partir de ADP e Pi. O fluxo de elétrons através da cadeia transportadora é um processo exergônico (libera muita energia), enquanto a síntese de ATP é endergônica (consome muita energia). Assim, a variação de energia livre associada à transferência de elétrons de um dos três complexos é a forca motriz para a síntese de ATP. Para cada NADH que oxida, ou seja, para cada par de elétrons transportado pelos complexos I, III e IV, há síntese de 3 ATP. Portanto, durante o processo, a energia é transferida da cadeia transportadora para a ATP sintase pelo movimento dos prótons H+ através da membrana interna, processo denominado de quimiosmose. • Note: a membrana interna da mitocôndria é impermeável aos prótons e, por isso, eles só podem voltar à matriz e desfazer o gradiente através de sítios específicos da membrana interna, que são os complexos I, III e IV. O movimento dos prótons no espaço intermembranas cria um gradiente eletroquímico, que, como dito anteriormente, é a força motriz, denominada de força motriz protônica (que ocorre graças à diferença de DDP). Esse gradiente eletroquímico tem dois componentes: uma diferença na concentração dos prótons, criando um gradiente de pH, e uma diferença no potencial elétrico, tendo o lado N uma carga NEGATIVA. A ATP sintase liberta esta energia armazena ao completar o circuito e permitir o fluxo de prótons ao longo do potencial eletroquímico, de volta ao lado N da membrana. Esta enzima atua como um motor elétrico ao utilizar a força motriz Vitória Alvarenga protônica para fornecer energia à rotação de parte da sua estrutura e acoplar este movimento à síntese de ATP. A quantidade de energia libertada pela fosforilação oxidativa é alta quando comparada à energia liberada na glicólise. Herança Materna dos Distúrbios Causados no Genoma Mitocondrial Mutações que ocorrem no genoma mitocondrial são heranças exclusivamente maternas, pois as mitocôndrias do paternas, em geral, são mortas. A mitocôndria possui 37 genes, com 13 subunidades de enzimas que fazem a fosforilação oxidativa, portanto, existem muitos genes que, caso sofram mutação, podem causar problemas no metabolismo energético, o que gera distúrbios graves. Ainda, as mutações que afetam os genes das enzimas envolvidas na fosforilação oxidativa causam efeitos deletérios em órgãos mais dependentes de energia, ou seja, SNC, MÚSCULO ESQUELÉTICO, MÚSCULO CARDÍACO, FÍGADO E RINS. Porém, é importante lembrar que, em cada mitocôndria, há milhares de cópias de DNAmt, portanto, mutações deletérias afetam ALGUMAS, mas não todas as cópias. Assim, quando os tecidos e o indivíduo são formados por DNA mutante + DNA selvagem (normal), chama-se de heteroplasmia. O fenótipo vai variar de acordo com a quantidade de DNA mutado em relação ao DNA selvagem, portanto, quanto maioré a hetereplasmia (maior a quantidade de DNA mutado), pior será o prognóstico e maior será a expressão da doença/o fenótipo. Para que a mitocôndria funcione perfeitamente, é necessário que haja uma interação adequada entre os genes nucleares e os genes mitocondriais. Consequentemente, uma disfunção de proteínas do RNA que estão localizadas normalmente na mitocôndria causa algum defeito no metabolismo energético. TODA DOENÇA MITOCONDRIAL LEVA À INTOLERÂNCIA AO EXERCÍCIO (FRAQUEZA NOS MÚSCULOS), O QUE É DE GRANDE IMPORTÂNCIA PARA A CLÍNICA. ÓRGÃO CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS SNC Convulsões, mioclonias, apneias, AVC e demência SNP Miopatias, neuropatia sensório-motora CORAÇÃO Cardiomiopatia hipertrófica e Bloqueios Cardíacos GASTROINTESTINAL Disfagia, diarreia, falência hepática ENDÓCRINO Baixa estatura, deficiência hormonal, DM, hipertireoidismo e hipotireoidismo RENAL Falência renal OLHOS Ptose palpebral, oftalmoplegia, diplopia, catarata e degeneração de retina OUVIDO Surdez CRANIOFACIAL Microcefalia, face arredondada, fronte ampla, pescoço curto MUSCULAR Fraqueza, dor muscular e intolerância ao exercício O fenótipo de um indivíduo com uma mutação mitocondrial é o resultado de uma combinação: tipo de mutação + carga mutacional + distribuição no tecido. 1. MERRF (EPILEPSIA MIOCLÔNICA ASSOCIADA ÀS FIBRAS VERMELHAS ROTAS) - Distúrbio multissistêmico. - Sintomas: mioclonias (contração breve, em onda, de um músculo), epilepsia generalizada, ataxia, fraqueza muscular e demência. • Sintomas adicionais: surdez neurossensorial, neuropatia periférica, demência, baixa estatura, intolerância ao exercício e atrofia óptica. - Adenina e guanina trocam de lugar no nucleotídeo 8344. - O limiar de vulnerabilidade de um tecido não varia entre indivíduos, mas a carga mutacional e a distribuição no tecido sim, de modo que exista uma diversidade clínica entre os pacientes com MEERF. - Indivíduos com poucos sintomas ou em parentes maternos assintomáticos, a mutação é indetectável em leucócitos, podendo ser descoberta em outros tecidos, como fibroblastos, cultura de pele, sedimento urinário, mucosa oral, folículo de cabelo ou musculoesquelético. 2. MELAS (MIOPATIA, ENCEFALOPATIA, ACIDOSE LÁTICA E EPISÓDIOS SEMELHANTES A AVC) - Problema no metabolismo aeróbio, de modo que o paciente dependa do metabolismo anaeróbio. - Sintomas: cefaleia ou episódios de vômitos periódicos, podendo, no início apresentar miopatia com fraqueza, fadiga fácil e intolerância ao exercício. Pode haver queixa visual devido à oftalmoplegia, podendo evoluir para cegueira devido à atrofia óptica e às dificuldades com visão noturna devido à retinopatia pigmentar. - Mutação mais comum: transição do A-G no nucleotídeo 3243 no gene mitocondrial MTTL1, que codifica o RNAt Leu (UUR). - As mutações estão presentes, em geral, em todos os tecidos e elas podem ser detectadas em leucócitos, mas, graças a heteroplasmia, pode haver uma distribuição de DNAmt mutado em vários tecidos. Vitória Alvarenga - Tratamento: administração de coenzima Q10, 50-100mg, 3x ao dia, e L-carnitina, 1000mg, 3x ao dia. Dicloroacetato reduz a lactacidemia do sangue, ativando o complexo desidrogenase piruvato. As convulsões respondem à terapia de anticonvulsivantes tradicional. 3. SÍNDROME DE LEIGH - Distúrbio neurodegenerativo progressivo - O início dos sintomas pode ocorrer no período neonatal, mas a maioria é entre 3-12 meses. - 10-20% dos pacientes apresentam mutação T8993G ou T8993C no gene MTATP6. - SINTOMAS: hipotonia, espasticidade, distonia, fraqueza muscular, hipo ou hiperreflexia e crises convulsivas. • A descompensação, que ocorre, em geral, com acidose láctica, durante uma doença intercorrente é associada com o retardo psicomotor. • O período de recuperação pode seguir para a descompensação inicial, porem, raramente volta ao estado de desenvolvimento que a criança apresentava antes da doença. - DIAGNÓSTICO: laboratorial a partir dos exames de neuroimagem – vê-se nível sérico de ácido láctico elevado, teste de genética molecular para mutações de DNAmt comuns e faz-se uma análise das enzimas de cadeia respiratórias em uma biópsia de musculo esquelético. 4. SÍNDROME DE PEARSON - Doença multissistêmica mitocondrial rara, em que há deleções de certos componentes da cadeia transportadora de elétrons, codificada por DNA mt, causando um defeito no metabolismo de energia oxidativa (fosforilação oxidativa defeituosa) - SINTOMAS: nemia sideroblástica refratária (hemácias em anel por produção insuficiente de hemoglobina), pancitopenia (diminuição global dos elementos do sangue), insuficiência pancreática exócrina e insuficiência hepática, renal e endócrina. 5. NARP (FRAQUEZA MUSCULAR NEUROGÊNICA, ATAXIA, RETINITE PIGMENTOSA) - No gene MTATP6, uma mutação T-G (T8993G) - Ocorre na infância - SINTOMAS: de início estão associados com doenças viróticas, mas nota-se dificuldades do aprendizado e demência, além de poder ocorrer crises convulsivas.
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