Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Modelos de Decisão 1ª edição 2017 Modelos de Decisão 135 8 Unidade 8 Gestão Estratégica – inovação e competitividade Para iniciar seus estudos Nesta unidade, abordaremos estratégias para o crescimento empresarial via internacionalização e parcerias estratégicas. Veremos a internaciona- lização como uma estratégia importante para o crescimento competitivo das empresas, enfatizando o cenário brasileiro. Trataremos das principais estratégias de crescimento e diversifi cação, focando nos aspectos de inovação processual nesses movimentos. Por fi m, trataremos de políticas governamentais para barrar ações, como trustes, bem como as principais alianças estratégicas que são focadas nessas ações. Objetivos de Aprendizagem • Possibilitar o conhecimento sobre a internacionalização de empresas, não apenas como estratégia para expansão de mer- cados, mas também como movimento estratégico e competitivo empresarial. • Apresentar as principais estratégias de crescimento e diversifi ca- ção, dentre elas: desenvolvimentos internos, outsourcing, fusões e aquisições, licenciamentos, joint ventures, participações acio- nárias, entre outras. • Estudar políticas governamentais de combate a estratégias noci- vas ao mercado e à justa concorrência, focando, especialmente, nas políticas antitruste. 136 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade 8.1. Internacionalização como Estratégia Competitiva A globalização tornou imperativo que as empresas ampliem seus olhares para horizontes que transcendem o território nacional. A internacionalização é frequentemente entendida como uma estratégia viável e importante no cenário empresarial. Não somente para expandir mercados, mas também para alcançar vantagens competiti- vas sustentáveis, conforme já apontaram autores como Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010). Nesse contexto, a estratégia de internacionalização diferencia-se e destaca-se frente às estratégias genéricas pre- vistas em Montgomery e Porter (1998), quais sejam: a) Liderança de Custo Total, na qual a empresa efetiva esforços para manter seus custos menores que os da concorrência; b) Diferenciação, na qual o empenho ocorre no forneci- mento de um produto que seja único e original aos clientes; c) Enfoque, em que o objetivo é selecionar um nicho de mercado específico para o fornecimento de produtos e/ou serviços, a preços baixos ou diferenciados. A estratégia de internacionalização destaca-se por algumas razões: • Envolve uma complexidade e um número de variáveis maior que simplesmente custo e diferenciação; envolve, por exemplo, mudança no ambiente geográfico, legal, político e cultural. • Pode haver mudanças ou adaptações no portfólio de produtos e serviços, assim como a empresa pode optar por oferecer aos clientes externos os produtos tradicionais da empresa. Apesar de parecer simples, essa decisão traz grande complexidade e trade-offs consideráveis para a empresa. • Há distintos modelos, mecanismos e graus de comprometimento na estratégia de internacionalização adotada, o que confere à empresa a responsabilidade de tomar uma decisão estratégica quanto ao seu curso de atuação. É com base nesses aspectos que a literatura de Administração costuma apontar três questões centrais, ante- riores à decisão de internacionalização: a) por que ocorre a internacionalização?; b) como se desenvolve esse processo?; c) de que países de origem a que países de destino ela se realiza? (Vieira et al., 2016). Responder à questão sobre “como se desenvolve o processo de internacionalização” é crucial para entender como ele amplia a competitividade empresarial. Para tanto, Vieira et al. (2016) observam que duas teorias são fundamentais para responder a essa questão: 1) o Ciclo de Vida do Produto (CVP) e 2) a Escola de Uppsala, com- plementada nos anos 1980 pela teoria das redes da Escola Nórdica. A teoria do Ciclo de Vida do Produto incorpora: Noções básicas da teoria do comércio internacional com uma perspectiva baseada no comporta- mento individual de cada empresa, considerando aspectos tais como inovação de produto, efei- tos das economias de escala e processo de internacionalização. (...) Os distintos graus de inovação de cada produto condicionam as decisões sobre a localização da produção, gerando impactos na internacionalização das empresas (Vieira et al, 2016, p.15). Por outro lado, a Escola de Uppsala, de natureza comportamental, baseia-se em alguns princípios, conforme apontado por Vieira et al. (2016): • falta de conhecimento (grande obstáculo para a internacionalização); • conhecimento é adquirido a partir da experiência (muito relevante no processo de internacionalização); • investimento de recursos para internacionalização ocorre de maneira gradual e continuada. 137 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade Sendo assim, Sales et al. (2015, p. 5) reconhecem que o Modelo de Uppsala contém dois principais processos: 1) “Processo sequencial de evolução gradativa: a empresa compromete-se com as negocia- ções com outros países de forma gradativa e evolutiva, por um padrão sequencial previamente determinado, em que, inicialmente, a empresa não exporta para esse mercado. Depois, passa a exportar por meio de representações comerciais independentes” 2) “Processo de evolução por distância psíquica: o processo de internacionalização deve-se iniciar pelos mercados que mais se assemelham em idioma, educação, cultura, política, formas de negociação e desenvolvimento industrial com o país de origem, e só depois se buscam outros mercados diferenciados” A partir dessas perspectivas é possível distinguir as cinco formas mais básicas que as empresas podem utilizar para se internacionalizar, dispostas na tabela a seguir: Tabela 8.1. Principais estratégias de internacionalização de empresas Estratégia Descrição Exportação Mais simples e mais utilizada. Os custos com transporte são altos, existem barreiras tarifárias impostas pelos países, a empresa pode concorrer com produtos de países fabricados com baixo custo. Possui o controle sobre suas atividades e produtos comercializados. Licenciamento Contrato entre empresas de países distintos para produzir o produto em seu próprio país, pagando royalties. Não possui controle da tecnologia, não financia os custos de abertura no exterior e não banca os riscos Franquias Utilizada para serviços. A empresa compra o direito de usar a marca de outra pagando um valor inicial e uma porcentagem nas vendas. Não possui custo em desenvolvimento e obedecem as regras impostas pela empresa detentora da marca Joint Ventures Duas ou mais empresas unem-se em determinado projeto para compartilhar os lucros e os riscos do negócio. Há uma troca de conhecimento e experiência. Subsidiárias próprias no exterior É a forma mais cara de internacionalização, pois ela arca com os custos totais e eventuais prejuízos. Reduz o risco de perder a tecnologia e possibilita o controle total sobre as atividades no exterior. Legenda: As cinco principais estratégias de internacionalização de empresas. Fonte: Adaptado de Andrade, Almeida e Freitas (2014, pp. 6-7). Por outro lado, Sales et al. (2015) apontam que, além da Escola (ou Modelo) de Uppsala, existem dois outros modelos de internacionalização de empresas: 1) a teoria eclética de internacionalização e 2) a teoria da compe- titividade das nações. A teoria eclética de internacionalização “procura explicar a decisão das organizações de se internacionalizar ou não, apontando características do país e da indústria e das estratégias das empresas” (Sales et al., 2015, p. 5). A partir daí, a teoria eclética propõe alguns mecanismos pelos quais a empresa pode se internacionalizar. Dentre eles, destacamos: 138 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade a. buscar maior capacidade produtiva e Market Share por fusões e aquisições; b. busca por recursos, como mão de obra, a menorescustos e novas tecnologias (mais adiante, abordare- mos a estratégia de Outsourcing, diretamente relacionada a esse aspecto); c. busca por mercados estratégicos para o atendimento dos mercados interno e externo; d. busca por economias de escala, eficiência e aproveitamento de vantagens políticas, legais ou econômicas do país de destino. Por outro lado, a teoria da competitividade das nações afirma que “uma nação depende diretamente da capa- cidade de seu setor empresarial em inovar e modernizar. As organizações adquirem vantagens contra a concor- rência global devido aos desafios e às pressões, beneficiam-se em ter fortes concorrentes domésticos, fornece- dores agressivos e clientes locais exigentes” (Sales et al., 2015, p. 6), em conformidade com Montgomery e Porter (1998). Alguns elementos importantes nessa análise são: a. condições de fatores: fatores de produção, infraestrutura e mão de obra; b. condições de demanda: natureza da demanda interna para os produtos da empresa e de seu setor de atuação; c. setores de apoio: presença de setores correlatos internacionalmente competitivos; d. estratégia, estrutura e rivalidade: aspectos legais e econômicos que influenciam na maneira como as organizações são criadas e gerenciadas, bem como as forças que regem a competição entre firmas. Com base nesses apontamentos, as estratégias de internacionalização emergem como alternativas importantes para o incremento da competitividade empresarial. A figura a seguir ilustra como essa estratégia pode ser cate- gorizada de acordo com o nível de interação com os países de destino. Figura 8.1. Estratégias de internacionalização e seus agrupamentos MENOR INTERAÇÃO MAIOR INTERAÇÃO Exportações Exportação Indireta Empreendimento Coorporativo Formal Acordos Contratuais; OEM Licenciamento Participação Acionária Fusões Aquisições Franchising Joint Venture Exportação Direta Exportações Diretas Regulares Alianças Estratégicas Investimento Externo Direto (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) Legenda: As estratégias estão organizadas partindo de uma lógica de menor interação com o país de destino (acima) para uma maior interação e comprometimento com ele (abaixo). Fonte: Vieira et al. (2016, p. 21). 139 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade Por fi m, destaca-se que essas estratégias de internacionalização possuem particularidades inerentes. O movi- mento estratégico da empresa associa-se a cada uma dessas decisões de forma bastante peculiar, de modo que o entendimento dos detalhes dessas estratégias auxilia no entendimento 1) de suas aplicações; e 2) de qual momento é mais adequado para cada uma delas. Sendo assim, a seção seguinte enfatiza detalhadamente sete das principais estratégias de diversifi cação e crescimento empresarial. A estratégia empresarial está associada não apenas a decisões premeditadas e previamente escolhidas. Segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010), as estratégias podem ser pre- tendidas, emergentes e deliberadas (as que realmente são implementadas). 8.2. Estratégias de Crescimento e Diversifi cação para Aumento da Competitividade Empresarial De acordo com Garcez (2006, p. 3) as estratégias de crescimento e diversifi cação têm algumas particularidades: As estratégias de crescimento podem ser classifi cadas em 2 âmbitos, quais sejam crescimento intensivo ou crescimento integrativo/conglomerativo. (...) O crescimento intensivo pode ser atra- vés de penetração de mercado, desenvolvimento de produto, desenvolvimento de mercado e diversifi cação, como descrito anteriormente. No crescimento integrativo, encontram-se as estra- tégias de integração para frente (também chamada para baixo ou down-stream à jusante), de integração para trás (integração para cima ou upstream ou à montante e a integração horizontal, embora sejam muitas vezes chamadas de integração vertical. A integração vertical para trás pode ser entendida como a situação na qual a empresa produz seus próprios insumos, e pode ser prati- cada através da aquisição ou participação acionária em fornecedores. Na integração para frente a empresa passa a transformar seus produtos intermediários ou distribuir seus produtos acabados. A estratégia de integração para frente pode ser praticada através da aquisição ou participação acionária em distribuidores e revendedores. Por fi m, a integração horizontal diz respeito à aquisi- ção ou participação acionária em concorrentes. Nesta seção, abordaremos sete estratégias de crescimento e diversifi cação para empresas, focadas ou em pro- cessos de internacionalização ou em parcerias estratégias. São elas: 1. estratégia de desenvolvimentos internos; 2. estratégia de fusões e aquisições; 3. estratégia de outsourcing; 4. estratégia de licenciamentos; 5. estratégia de internal ventures e joint ventures; 140 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade 6. estratégia de participação acionária; e 7. estratégia de private equity e venture capital. Essas sete modalidades estratégicas associam-se a dois elementos principais: o mercado e a tecnologia. Ou seja, importa se diminui ou aumenta o conhecimento de mercado dependendo do nível de familiaridade com a tec- nologia empregada na empresa. Sendo assim, a matriz de familiaridade é um instrumento essencial para analisar qual o melhor tipo de estratégia a ser adotada, conforme a Figura 8.2 que veremos a seguir. Além disso, é importante frisar o conceito de alianças estratégicas. De acordo com Klotzle (2002, p. 89), alianças estratégicas podem ser classificadas de duas maneiras: De um lado, existem tipos que envolvem participação acionária, como joint-ventures e compa- nhias conjuntas de pesquisa. De outro lado, há formas sem participação acionária, isto é, base- adas somente em contratos entre os parceiros. Nesse grupo encontram-se, entre outros, acor- dos de desenvolvimento conjunto de produtos, pactos de pesquisa conjunta, acordos mútuos de licenciamento e contratos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Figura 8.2. Matriz de Familiaridades Mercado Tecnologia Desenvolvimentos Internos Participações Acionárias Joint Ventures Internal Ventures, Licenciamentos, Aquisições Legenda: Possíveis escolhas de estratégia de crescimento de acordo com o domí- nio da tecnologia e o conhecimento de mercado. Fonte: Elaborada pelo autor (2017). 141 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade 8.2.1. Estratégia de Desenvolvimentos Internos A estratégia de desenvolvimentos internos foca em explorar elementos que a empresa já possui, mas que podem ser rearranjados para a formação de um novo negócio. De acordo com Garcez (2006, p. 4), podem haver três tipos de desenvolvimentos internos: (a) desenvolvimento interno básico, quando tanto as tecnologias como os mercados já estiverem presentes nos negócios atuais; (b) desenvolvimento interno de mercado, quando houver a presença de novo mercado no novo negócio; (c) desenvolvimento interno de produto, quando houver a presença de nova tecnologia ou novo produto no novo negócio. Tomemos o exemplo de uma empresa que produz sapatos de couro e está relativamente sedimentada no mer- cado, com um portfólio de clientes fiéis. Digamos que essa empresa decida começar a atuar na produção de cintos de couro. Essa é uma situação típica de desenvolvimento interno, já que, apesar de algumas variações nas tecnologias de produção, elas podem ser consideradas similares às tecnologias utilizadas na produção de sapatos. Além disso, a matéria prima (couro) é a mesma, levando à uma homogeneização dos fornecedores e, possivelmente, a um mercado relativamente similar ao mercado consumidor de sapatos de couro. 8.2.2 Estratégia de Fusões e Aquisições De acordo com Monteiro, Machado e Pereira (2010, pp. 3-4), as estratégias de fusões e aquisições são relativa- mente distintas. Veja, por exemplo, os conceitos, do pontode vista jurídico, de acordo com a Lei das Sociedades Anônimas, Lei n. 6404/76: A fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações. A aquisição é operação pela qual uma ou mais sociedades compram uma outra, sucedendo-a em todos os direitos e obrigações. (MONTEIRO; MACHADO; PEREIRA, 2010, pp. 3-4) Segundo Garcez (2006, pp. 4-5), essas estratégias “são indicadas em situações de média e média-alta familiari- dade, ou ainda alta familiaridade quando propiciar sinergia operacional”. Monteiro. Machado e Pereira (2010) acrescentam que as empresas se fundem com uma série de objetivos, dentre eles: O objetivo dominante é maximizar a riqueza dos proprietários, que será refletida no preço da ação da adquirente. Os motivos específicos, os quais incluem crescimento ou diversificação, sinergia, levantamento de fundos, aumento ou aprimoramento da capacidade administrativa ou da tec- nologia, considerações tributárias, aumento da liquidez do proprietário e defesas contra aquisi- ção de uma empresa por outra, devem ser procurados quando se acredita que sejam consistentes com a maximização da riqueza do proprietário (MONTEIRO; MACHADO; PEREIRA, 2010, p. 3). Há distintas classificações para as fusões. Fusões por incorporação de ativos são aquelas nas quais a união de empresas se dá pela “translação total” do patrimônio de uma organização para outra organização. Já as fusões por concentração de capital são a junção pela transferência de patrimônio das empresas fundidas. 142 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade Fusão por Concentração – mediante a constituição de uma nova sociedade, para a qual transferem-se os patrimônios das empresas fundidas (A + B = C). Fusão por Incorporação – quando um grupo transfere todo o patrimônio de uma ou mais sociedades para outro que se designa de empresa incorporante (A + B = A). As fusões e aquisições também podem ser classifi cadas em quatro tipos: verticais, horizontais, congêneres e conglomerativas. Esses tipos são explorados na tabela a seguir. Tabela 8.2. Tipos de fusões e aquisições Tipo Defi nição Possíveis objetivos Horizontal Fusões dentro de uma mesma indústria ou segmento, ou seja, no mesmo ramo de atividades • Obter economias de escala e escopo. • Elevar o Market Share. • Penetrar rapidamente em novas regiões. Vertical Fusões de empresas que estão à frente ou atrás da cadeia produtiva • Ampliar controle sobre as atividades. • Proteger o investimento principal. • Facilitar a distribuição dos produtos. • Assegurar matérias-primas (eventualmente, a custos mais baixos). Congênere Fusões de empresas com produtos ou serviços não similares, mas que apresentam algum tipo de sinergia. • Diminuir os custos de distribuição. • Diversifi car o risco. • Adquirir rapidamente o know-how do setor. • Entrar em novos mercados. Conglomerado Puro Fusões sem qualquer tipo de sinergia. • Diversifi car o risco. • Aproveitar as oportunidades de investimento. Legenda: Quatro tipos de fusões e aquisições comumente praticados no mundo empresarial. Fonte: Adaptado de BNDES (1999, p. 2). 143 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade 8.2.3 Estratégia de outsourcing O outsourcing é uma estratégia baseada na transferência de atividades necessárias ao negócio para fornecedo- res externos à empresa. Inclui tanto a subcontratação doméstica, também conhecida como terceirização, e a subcontratação offshore. Ou seja, o deslocamento de uma função de negócio para outros países, em busca de vantagens de custo (por exemplo, via mão de obra mais barata) ou especialização (em países que detêm expertise em determinado tipo de função). Alguns possíveis benefícios do outsourcing incluem: • economia de custos; • economia de tempo; • mão de obra tecnicamente mais adequada; • mão de obra mais experiente na realização de certas atividades; • foco na função central da empresa; • suporte de excelência. 8.2.4. Estratégia de licenciamentos Segundo Garcez (2006, p. 5), licenciamento é a “aquisição de direito e uso de tecnologia não proprietária”. Além disso: Apresenta como vantagens, o acesso a tecnologia comprovada e menor exposição financeira. Como desvantagens podem ser citados os aspectos da não formação de competências de desen- volvimento, risco envolvido com a ausência de desenvolvimento de tecnologia proprietária e geração de dependência com o licenciador. Esta estratégia é mais indicada quando se possui grau médio de familiaridade tecnológica, permitindo assim a operacionalização rápida e possí- veis ajustes e melhorias tecnológicas. Também se justifica nos casos em que a empresa possui a estratégia de seguidora tecnológica por não dispor de competências e recursos para rivalizar com a empresa líder e inovadora tecnológica (GARCEZ, 2006, p. 5) A estratégia de franquias é um dos tipos possíveis de licenciamentos. Nesse caso, o franqueador e o franqueado adquirem responsabilidades bem definidas. Em geral, o franqueador (dono da marca) possui direitos sobre a marca e processos de trabalho, bem como adquire um percentual das receitas do franqueado (dependendo do tipo de acordo de franqueamento). Por outro lado, o franqueado utiliza a marca e o know-how de uma empresa já consolidada no mercado, não incorrendo com esses custos, mas, em contrapartida, repassa uma parcela de seus rendimentos ao franqueador. 8.2.5. Estratégias de Internal Ventures e Joint Ventures De maneira geral, a internal venture é o desmembramento de novas empresas, ou Unidades Estratégicas de Negó- cios (UEN) a partir da empresa matriz. Segundo Garcez (2006, p. 5) “neste tipo de estratégia (internal venture), a empresa busca a atuação em novos negócios atuando em mercados distintos dos negócios vigentes, e com produtos substancialmente diferentes dos existentes no negócio base da empresa”. 144 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade Uma das grandes vantagens de uma internal venture é o uso de recursos existentes e o aproveitamento de empre- endedores internos. Já a estratégia de joint venture é aquela na qual duas empresas unem esforços para a criação de uma terceira, sem o esfacelamento das empresas anteriores. É indicada para redução de riscos de empreendimentos incertos e dispen- diosos. Por outro lado, pode ser utilizada para aproveitar as fortalezas das empresas que se engajam nessa iniciativa. Em geral, nas joint ventures as duas empresas lançam-se em um novo mercado. Nessa estratégia, “duas ou mais empresas se unem em determinado projeto para compartilhar os lucros e os riscos do negócio, há uma troca de conhecimento e experiência” segundo Andrade, Almeida e Freitas (2014, p. 7). Sendo assim, é comum que acon- teça a troca de experiência, tecnologia, expertise, dentre outras, para justificar, comercialmente, uma joint venture. Um caso de destaque de joint venture ocorreu em 2015, quando a Braskem (empresa petroquímica brasileira) e a Styrolution (empresa alemã que atua em áreas como química, automotiva e eletrônica) anunciaram que, em 2017, iniciariam a construção de uma fábrica focada na produção de especialidades estirênicas (polímeros). Nesse caso, a Braskem será responsável pela infraestrutura da cadeia de fornecimentos e pelo local de construção da planta, ao passo que a Styrolution se encarregará do licenciamento da tecnologia e de negócios preexistentes. 8.2.6 Estratégia de participações acionárias As participações acionárias referem-se ao aporte financeiro na compra de ações ou no investimento de recursos financeiros em etapas iniciais de um novo negócio. Em geral, são divididas em três modalidades: venture capital, private equity e aquisições educativas. As duas primeiras tipologias são ilustradas no quadro a seguir: Quadro 8.1 – Estratégias de Venture Capital e Private Equity Estratégia Estágio CaracterísticasVenture Capital Capital semente Pequeno aporte financeiro, feito em estágio pré- operacional, a fim de desenvolver uma ideia ou projeto. Start-up Aporte de capital para empresas em fase de estruturação. Primeiro estágio Estágio inicial de empresas já existentes no mercado, com produtos e serviços já comercializados. Private Equity Expansão Aporte de capital para expansão e crescimento da empresa. Estágio avançado Empresa atinge taxa de crescimento relativamente estável. Buyout É a aquisição do controle de uma empresa em nível de desenvolvimento avançado. Legenda: Estágios das estratégias de venture capital e private equity. Fonte: Elaborado pelo autor (2017). Ambas as estratégias, bem como a estratégia de aquisições educativas, serão avaliadas na sequência. 145 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade 8.2.7. Estratégias de private equity, venture capital e aquisições educativas Segundo Garcez (2006, p. 5), a característica básica do venture capital é a “participação acionária minoritária em empresa menor, em geral com grande potencial de retorno financeiro em longo prazo, sem apoio à gestão”. Ou seja, os investidores não dão nenhum tipo de suporte ao time de gestores, que em geral também são os funda- dores da empresa. Já o private equity baseia-se em investimentos em empresas já consolidadas. Segundo Garcez (2006, p. 5), essa modalidade baseia-se na “aquisição de participação acionária minoritária em empresa de médio-grande porte, em geral com bom potencial de retorno financeiro em médio prazo”. Vale a pena falar um pouco, também, sobre as aquisições educativas. Segundo Garcez (2006, p. 6), essas aquisições são: Aquisições de controle acionário em empresas menores de alta tecnologia com o propósito espe- cífico de apropriação de conhecimento. Assim, constitui-se de pequenas aquisições, que pos- suem como finalidade de se apropriar rapidamente da expertise em mercado que não se obtém instantaneamente no venture capital. Ideal quando usado para diversificação em negócios total- mente distintos. Possui algumas desvantagens, como o investimento inicial maior que venture capital, o que aumenta o risco; e a necessidade de se estabelecer política de Recursos Humanos que mantenha empregados-chave da empresa adquirida (retenção de talentos). Indicado para situações de baixa familiaridade Por fim, a figura a seguir resume algumas das vantagens e das desvantagens de todas essas modalidades estra- tégicas apresentadas. Figura 8.3: Vantagens e desvantagens das estratégias de crescimento e diversificação Legenda: Estratégias, maiores vantagens e maiores desvantagens. Fonte: Garcez (2006, p. 7). 146 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade Com o objetivo de concluir a unidade, apresentaremos algumas noções sobre políticas governamentais anti- truste na seção seguinte. 8.3. Políticas antitruste e manutenção da competência de mercado Entende-se por “política antitruste” a política governamental com a finalidade de tornar a concorrência de mer- cado justa para todos os empresários atuantes. De acordo com Fontanelli (2001, pp. 5-7), a política antitruste pode ter duas linhas de ação: Se existe a possibilidade de uma falha no processo concorrencial, com o mercado apresentando resultados inferiores àqueles possíveis e desejáveis do ponto de vista do bem-estar, a intervenção antitruste se dá sobre as condutas empresariais consideradas anticompetitivas, e sobre o controle das estruturas dos mercados. A segunda linha de ação (...) consiste no controle das estruturas de mercado na forma de integra- ção vertical, conglomeração ou concentração horizontal de mercado. Sendo assim, a política antitruste é uma política de defesa da concorrência. No Brasil, a política antitruste foi legalmente instituída em 1962, quando a Lei n. 4.137 instituiu o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Eco- nômica) com o objetivo de combater a formação de monopólios e abusos de poder econômico. Desde 1994, o CADE passou a ter autonomia para julgar infrações à ordem econômica. A figura a seguir ilustra os três principais elementos do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. Figura 8.4. Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência Ministério da Justiça (Secretaria De Direito Econômico - SDE) Ministério da Fazenda (Secretaria de Acompanha- mento Econômico - SEAE) CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) Tribunal de Concorrência Legenda: Tripé institucional de defesa da concorrência no Brasil. Fonte: Elaborada pelo autor (2017). 147 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade Sendo assim, o Brasil possui um arcabouço legal formalmente constituído para lidar com situações de defesa da concorrência. Um caso recentemente divulgado na mídia foi a não autorização por parte do CADE da operação de aquisição do Grupo Estácio pelo Grupo Kroton, os dois maiores grupos educacionais do Brasil. Dada a evidente problemática frente à concorrência com relação aos demais grupos educacionais, figurando uma clara situação de monopólio, o CADE julgou ilegal a operação de aquisição. Outro caso interessante é o do recente acordo de licenciamento entre Bayer e Monsanto, no qual a primeira empresa transfere à Monsanto a capacidade de utilizar a tecnologia Intacta RR2 PRO, utilizada para produzir um herbicida utilizado em lavouras de soja. Por esse licenciamento, a Monsanto passa a possuir informações comer- ciais sensíveis sobre a Bayer, o que fez com que o CADE impusesse algumas restrições contratuais à Monsanto, para evitar uso privilegiado de informações da outra empresa em benefício próprio. 148 Considerações fi nais Estudamos, nesta unidade, duas grandes vertentes de estratégias de ino- vação e competitividade nas empresas: as estratégias de internacionali- zação e as estratégias de crescimento e diversifi cação. Observamos que as estratégias de internacionalização são explicadas por três conjuntos de teorias: a do Ciclo de Vida do Produto, a da Escola de Uppsala e a da Teoria Eclética. Vimos que há, em geral, cinco etapas de internacionalização envolvendo uma gradação evolutiva de nível de comprometimento. São elas: exportação, licenciamentos, franquias, joint ventures e subsidiárias próprias do exterior. Analisamos, também, sete das principais estratégias de crescimento e diversifi cação, sendo elas: desenvolvimentos internos, outsourcing, fusões e aquisições, licenciamentos, joint ventures, participações acionárias (ven- ture capital, private equity e aquisições educativas. Por fi m, tratamos das políticas governamentais antitruste, especifi cando o caso do Brasil. Notamos que existe um aparato institucional, na forma de tripé, que fomenta a justa concorrência de mercado no país. Referências bibliográfi cas 149 ANDRADE, M.; ALMEIDA, P.; FREITAS, L. Internacionalização como estra- tégia competitiva para pequenas e médias empresas do Brasil: uma revisão de literatura. XI SEGeT – Simpósio de Excelencia em Gestão e Tecnologia, 2014. Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/ artigos14/35220354.pdf> Acesso em: 5 out. 2017. BNDES. Fusões e aquisições no setor de alimentos. Informe setorial, abr. 1999. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/ sites/default/bndes_pt/Galeria s/Arquivos/conhecimento/setorial/ gs1_15.pdf>. Acesso em: 7 out. 2017. GARCEZ, M. A Seleção das Estratégias de Crescimento e Diversifi - cação – Um Estudo de Casos na Indústria Petroquímica. 30º Encon- tro da ANPAD, set./2006. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/ enanpad/2006/dwn/enanpad2006-esoa-3196.pdf>. Acesso em: 5 out. 2017. KLOTZLE, M. Alianças Estratégicas: conceito e teoria. Revista de Admi- nistração Contemporânea, v. 6, n.1, p.85-104, 2002. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2010. MONTGOMERY, C.; PORTER, M. Estratégia:a busca da vantagem compe- titiva. Rio de Janeiro: Campus, 1998. MONTEIRO, G. B.; MACHADO, D. B.; PEREIRA, R. C. M. Estratégia de marcas em fusões e aquisições: o caso de uma operação do ramo de bebidas. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 2010. Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos06/851_Marcas%20Seget. pdf>. Acesso em: 7 out. 2017. 150 Modelos de Decisão | Unidade 8 - Gestão Estratégica – inovação e competitividade FONTANELLI, F. Políticas Antitruste no Brasil. 2001. 117f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Eco- nomia) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2001. SALES, G. et al. O processo de internacionalização de empresas brasileiras: análise da estratégia de uma empresa do sul de minas. XII SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 2015. Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos15/19722196.pdf>. Acesso em: 5 out. 2017. VIEIRA, G. et al. A relação com clientes no mercado externo como recurso estratégico e seu impacto no desem- penho de uma empresa brasileira do setor automotivo. Espacios, v.37, n.11, 5-25, 2016.
Compartilhar