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MONOGRAFIA_VERLAINE DA SILVA

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EMEDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS: UM OLHAR PEDAGÓGICO SOBRE O GRAFISMO
Verlaini da Silva
Colatina/2019
VERLAINI DA SILVA
EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS: UM OLHAR PEDAGÓGICO SOBRE O GRAFISMO
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, da Universidade Candido Mendes, sob orientação da Prof.ª Anderléia Maria Donateli.
Colatina/2019
EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS: UM OLHAR PEDAGÓGICO SOBRE O GRAFISMO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Universidade Candido Mendes – UCAM, para obtenção do título de Especialista em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
ORIENTADOR (A):
 ______________________________________________________
Anderléia Maria Donateli
Tutora do Curso de Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental
_________
Nota
Colatina, 06 de Março de 2019.
Agradeço a Deus pela rica oportunidade de vencer cada etapa sem perder a fé, com a certeza que alcançaria a vitória.
A minha família pelo amor, carinho e principalmente confiança em minha capacidade.
Aos amigos e colegas a compreensão pelas ausências. 
A todos que contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho. 
																																					
“Sempre que ensinamos alguma coisa a uma criança, impedimos que ela própria invente”. (Jean Piaget)
RESUMO
Esta monografia buscou mostrar os dois métodos utilizados no processo de aquisição da escrita e da leitura, apresentando suas propostas e destacando as suas principais características tendo como base diferentes concepções literárias, mas questionando as contribuições do grafismo ao desenvolvimento da criança e ao seu processo de aprendizagem, almejando apresentar um olhar pedagógico sobre o grafismo infantil buscando apresentar os seus significados no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança. O grafismo infantil é um tipo de arte na educação com origem na experiência do aluno e seu contato com a linguagem, assim, serve de motivação no ensino aprendizagem, aproveitado de forma prática e prazerosa, com uma linguagem simples e explicativa. Aproveitar o grafismo como ação educativa exige pensar e repensar o cotidiano da escola e da função social da mesma busca da democratização dos saberes nas etapas específicas do desenvolvimento infantil e da aprendizagem.
Palavras-chave: ANOS INÍCIAIS E EDUCAÇÃO INFANTIL, GRAFISMO. 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	7
1. PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM	10
1.1. DESENVOLVIMENTO INFANTIL	10
1.2. ALFABETIZAÇÃO	11
2. CARACTERÍSTICAS DA ALFABETIZAÇÃO NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO	14
3. PRÁTICAS PARA ALFABETIZAR	16
4. LETRAMENTO	17
5. LETRAMENTO X ALFABETIZAÇÃO	19
6. CONTEXTUALIZANDO O GRAFISMO	23
7. ETAPAS DO GRAFISMO	24
CONCLUSÃO	27
REFERÊNCIAS	28
INTRODUÇÃO
Estimulados ou não adultos, as crianças expressam os primeiros rabiscos em livros e folhas, uma espécie de possessão simbólica do universo adulto que ela estima e nesses rabiscos ou desenhos expressos prazer e o associa à satisfação de imprimir a sua marca. É uma maneira de expressar própria da criança, mas que possui vocabulário e sua sintaxe (PILLAR, 1996).
Mas, existe muito mais fundamento educacional no grafismo infantil. Inicialmente, as garatujas são reflexos do prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir e, ao longo do processo de desenvolvimento da criança, viram formas definidas com características de ordenação, referências a objetos naturais, imaginários ou outros desenhos (FUSARI, 1992). 
É comum, em muitas situações, a criança pegar um papel e lápis e iniciar uma série de desenhos. Num primeiro momento estes desenhos parecem simples rabiscos, riscos quase impossíveis de serem identificados. Um nada em uma folha branca. Nessa perspectiva, optou-se por desenvolver o tema: um olhar pedagógico sobre o grafismo. 
Ao desenhar ou rabiscar, a criança desenvolve etapas da garatuja até chegar ao desenho propriamente e de forma mais estruturada. Cada etapa tem um caráter representativo no desenvolvimento infantil e no processo de aprendizagem. Então, este estudo questiona: Quais as contribuições do grafismo ao desenvolvimento da criança e ao seu processo de aprendizagem?
O objetivo geral consiste em apresentar um olhar pedagógico sobre o grafismo infantil buscando apresentar os seus significados no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança.
No dia-a-dia da sala de aula e na relação com a criança, observa-se a sua livre iniciativa de desenhar, rabiscar. Partindo de riscos não identificados acabando expressando desenhos com formas e objetividade. Esses fatores justificam o desenvolvimento desata pesquisa, em função da sua importância e relevância para o processo de desenvolvimento do desenho infantil, levando em conta que o desenho significa uma forma de fala e registro que marcam o desenvolvimento infantil, pois a cada etapa há um significado, uma informação, uma mensagem.
Os procedimentos metodológicos que se aplicam a esta proposta têm como base as pesquisas descritas por Gil (2002). Assim, em relação aos objetivos definidos, trata-se de uma pesquisa descritiva e bibliográfica. Seu caráter descritivo apresenta as características de determinada população ou estabelecer relações entre variáveis, no caso alunos com deficiência visual.
Seu teor bibliográfico se caracteriza em função de buscar dados e informações sobre o grafismo e ter como material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é material acessível ao público em geral constituindo, assim, uma revisão teórica sobre o assunto. 
Abordaremos nesta monografia, no capítulo um, o processo de aprendizagem segundo Jean Piaget que classifica os estágios de desenvolvimento da criança em quatro fases: sensório motor (de 0 a 2 anos); pré-operatório (de 2 a 6 anos); operatório-concreto (de 7 a 11 anos) e operacional-formal.
O segundo capítulo aponta, a retrospectiva histórica do desenvolvimento da leitura e da escrita no contexto escolar, ate chegar no letramento.
No capitulo três perceberemos que no processo de alfabetização há muitos métodos que podem ser aplicados.
No quarto iremos em busca da definição de letramento, onde encontramos alguns conceitos que permitem entender melhor essa proposta de ensinar a ler e escrever.
No capítulo cinco veremos que o professor não precisa abrir mão do método de alfabetização, mas sim, tente a levar em consideração que alfabetização e letramento devem caminhar lado a lado. Indo em busca da definição de letramento, encontramos alguns conceitos que permitem entender melhor essa proposta de ensinar a ler e escrever.
No sexto capítulo iremos contextualizar a etapa do grafismo, pois a criança passa a ter noção de leitura/escrita antes mesmo de um professor colocar um lápis em sua mão e de lhe ensinar o desenho das letras. Partindo assim para a pesquisa sobre as contribuições do grafismo para desenvolvimento e aprendizagem da escrita da criança.
No sétimo capitulo então, iremos contextualizar as etapas do grafismo no processo de alfabetização ou letramento do aluno, é considerar as suas contribuições na aquisição da leitura e da escrita. 
1. PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
1.1. DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Para apresentar o esquema de desenvolvimento infantil, a base de abordagem são os estudos desenvolvidos pelo biólogo epsicólogo Jean Piaget que classifica seus estágios em quatro fases: sensório motor (de 0 a 2 anos); pré-operatório (de 2 a 6 anos); operatório-concreto (de 7 a 11 anos) e operacional-formal (a partir dos 12 anos).
No período sensório-motor (0-2 anos), segundo Piaget (1978), a criança conquista, através da percepção e dos movimentos, o universo que a cerca, pois as características de suas atividades intelectuais são de naturezasensorial e motora. 
No estágio pré-operacional (2-6 anos), Piaget (1978) destaca o registro do o aparecimento da linguagem, que acarreta modificações no aspecto intelectual, afetivo e social da criança. 
No estágio das operações concretas (7-12 anos), de acordo Piaget (1978) é o período da infância propriamente e sua principal característica, segundo Piaget (1978) é a criança realizar operações concretas, caracterizado no período anterior pelo egocentrismo intelectual e social, sendo superado pelo início da construção lógica, (capacidade da criança de estabelecer relações que permitam a coordenação de pontos de vista diferentes). 
No período operatório formal (após os 12 anos), já envolvendo a adolescência, de acordo com Piaget (1978), é a fase na qual o pensamento concreto passa para o pensamento forma, a criança se confunde seus interesses com os dos adultos, tem maior desejo por jogos eletrônicos (vídeo game, jogos de competição, tabuleiros e brincadeiras de aventura) e esportes coletivos e individuais, ginásticas e danças.
1.2. ALFABETIZAÇÃO
Alfabetização, segundo o conceito formulado por Soares (2004, p.20), “é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever”, sendo estes os fundamentos da educação, pois a criança ao longo do processo de aquisição do ato de ler e escrever constrói o raciocino lógico. Este processo ocorre por meios de níveis específicos.
Muitas referências ao longo da história da Alfabetização transformaram o processo e a proposta de ensinar o aluno o contato com a aprendizagem da escrita e da leitura nos anos iniciais. Uma das grandes contribuições em se tratando dessas referências possui sua base centrada nas Ciências Linguísticas e na Psicogênese da Língua Escrita, teoria de Emília Ferreiro e Ana Teberosky. 
Segundo Soares (2004, p.52), essas referências “não são independentes, mas inseparáveis, pois uma é a aquisição do sistema de escrita; a outra é a ‘utilização’ do sistema de escrita para interação social, ou seja, o desenvolvimento de habilidades de produzir textos”. Além disso, a alfabetização, segundo a autora, adquiriu com aspectos histórico e social, com nuances de múltiplas e diferentes dimensões.
Em seus estudos, Grossi (1990, p.11) quando analisa os níveis de aquisição daescrita definidos e identificados pelas pesquisadoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky apresentados na Psicogênese da Língua Escrita, enfatiza que a utilização de didáticas dos níveis Pré-silábico, silábico e alfabético no processo de alfabetização não consiste a representatividade de “trabalhos diferentes, já que deve ser operacionada simultaneamente e atender a heterogeneidade dos níveis dos alunos na sala de aula e a interferência de outros fatores na leitura e na escrita”.
Para alfabetizar, o educador pode optar entre os métodos de alfabetização levando em conta sua estratégia ou abordagem (global) ou a leitura (sintético ou analítico), pois cada método possui características predominantes conforme aponta Cesca (2003) no Quadro 1.
	Método 
	Características
	Estratégia ou abordagem adotada pelo professor
	Global: Há contextualização na forma de apresentação das frases, palavras, sílabas e letras.
Não global: Há descontextualização na apresentação das frases, palavras, sílabas e letras são apresentadas soltas; são descontextualizadas.
	Partindo da leitura
	Sintético: também denominado fonético ou fônico, pois partem da sonorização dos fonemas (letras) ou das unidades silábicas (unidades fonéticas). Pressupõe que para compreender a escrita é preciso sintetizar, juntar as unidades menores e, assim, estabelecer a relação entre a fala e sua representação escrita.
Analítico: palavras, frases ou textos. Considera que alfabetizar partindo da leitura possibilita à criança operação lógica no início de seu processo de alfabetização.
	Eclético
	Trilha o caminho do método sintético (som, sílabas, palavras e frase), relacionando os processos e possibilitando a liberdade de escolha para o processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita.
	Soletração
	Aprendizagem das letras e suas combinações: bê...a...bá;
	Silabação
	Famílias silábicas: pa...pe...pi...po...pu.
	Palavração:
	Aprendizagem da palavra e em seguida a separação de sílabas de modo aforar novas palavras.
	Sentenciação
	Aprendizagem a partir da frase, e seguida, a sua divisão em sílabas. 
	Texto
	O professor faz a leitura do texto, destaca uma frase, uma palavra até chegar á formação da sílaba ou da letra e assim formar novas palavras.
Quadro 1: Métodos de alfabetização 
Fonte: Cesca (2003)
No processo de alfabetização há muitos métodos que podem ser aplicados, mas Ferreiro (2003, p.56) destaca que essas metodologias de ensino devem considerar as práticas que se aplicam à escola e ao contexto social, haja vista que é por meio dos símbolos e da escrita o indivíduo estabelece a comunicação e constrói a sociedade letrada, pois conceber a alfabetização como meio de aquisição do conhecimento “é exercitar uma atividade intencional revelada da prática pedagógica e os métodos e técnicas utilizadas para alfabetizar proporcionam ao aluno a possibilidade de compreender as representações que surgem em seu cotidiano”. 
Por outro prisma, Cagliari (1998) destaca que a prática adotada pela escola no processo de alfabetização da criança recorre a formas herméticas que inibem a criatividade da criança atendendo, assim, as necessidades e expectativas do modelo dominante, ou seja, as conhecidas famílias de letras. Não se deve esquecer, no entanto, que mesmo com suas deficiências, a metodologia de ensino através de cartilha como, por exemplo, a de João de Deus influenciou as estratégias de alfabetização no Brasil. 
2. CARACTERÍSTICAS DA ALFABETIZAÇÃO NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO
Na sociedade brasileira, dentro do sistema educacional, segundo Lopes e Galvão (2001) a alfabetização ganhou, no período da colonização e a partir da Idade Moderna características bem específicas como mostra o Quadro 1.
	Período
	Características da educação
	Brasil Colônia
	- Competência dos padres jesuítas, visando a catequização, aprendizagem do português e da doutrina cristã. Com a expulsão dos padres jesuítas a educação primária é transferida para a escola com o objetivo de ensinar a técnica da leitura e da escrita.
	Idade Moderna
	Ocorre a institucionalização da escola. Alfabetizar passa a ser necessária para a sociedade. 
- Na República, ler e escrever através de métodos de alfabetização preocupa professores, pesquisadores e intelectuais de outras áreas de conhecimento em busca do melhor método de ensino.
- No final do século XIX, a discussão é em torno do método analítico ou global (palavras, orações e conto utilizando o método historiado, sentenciação e palavração) e do método sintético (letras, sílabas e palavras, adotando o método alfabético, silábico e fônico).
- A década de 1970 registra as maiores mudanças: a proposta de Paulo Freire em alfabetizar transferindo para o aluno a reflexão e a construção do saber real e global (ler e escrever); Ferreiro e Teberosky renovam a prática da alfabetização através de Psicogênese da Língua Escrita.
Quadro 1 - Características da alfabetização no Brasil
Fonte: Lopes e Galvão (2001)
A alfabetização na educação brasileira evolui até o letramento, um método que traz uma proposta para melhorar o processo de ensino-aprendizagem nos anos iniciais que segundo Soares (2002, p.21) “gera consequências na área social, cultural, políticas, econômicas e linguísticas seja para o grupo social ou para o indivíduo”. Para a autora, um pré-requisito do letramento é a alfabetização. Um fator que pode configurar a alfabetização como mero instrumento de produção da escrita e da leitura é concebê-la como prática social e política. 
Há diferença entre as duas propostas de alfabetização, como explica Soares (2002, p.23): “letramento é o uso das práticas sociais da leitura e da escrita; alfabetização é a aquisição da escrita e da leitura, são processosdistintos, mas podem e devem caminhar lado a lado, pois a questão é alfabetizar letrando [...]”.
Bom, sabe-se da necessidade e importância da alfabetização, assim como é de conhecimento geral que alfabetizar constitui um dos mais belos e interessantes desafios sociais, levando em consideração os problemas que afetam a educação, a falta de capacitação e de formação adequada e necessária do professor e, ainda, a gama de dificuldades de aprendizagem que afetam os alunos.
3. PRÁTICAS PARA ALFABETIZAR
Autores como Ferreiro (2003), Vygotsky, Lúria e Leontiev (1989), Freire (2001) em suas obras reforçam a importância da aprendizagem da escrita e da leitura em todos os aspectos da vida do cidadão, mas não uma aprendizagem qualquer, defendem o conteúdo e a formação da criança com capacidade crítica de estar, enfrentar e transformar a sociedade. Ler e escrever são fundamentais na vida do ser humano. 
Em seus estudos Freire (2001, p.136) já destacava a impossibilidade da leitura da palavra sem o reconhecimento de que ela “precede a leitura de mundo; [...] que o bicho gente, muito antes de desenhar e fazer a palavra escrita, falou, disse a palavra e muito tempo antes de escrever, leu o mundo dele, leu a realidade dele”.
Para Vygotsky (apud ANDALÓ, 2000, p.8) tendo a psicologia como base, “a criança passa a ter noção de leitura/escrita antes de mesmo de um professor colocar um lápis em sua mão e de lhe ensinar o desenho das letras”. Os pais podem incentivar tornando a leitura uma experiência agradável para seus filhos, criando um ambiente que propicie a leitura, não pressionando a criança a ler, mas mantendo uma atmosfera descontraída, informal e proveitosa.
4. LETRAMENTO
Em busca da definição de letramento, encontramos alguns conceitos que permitem entender melhor essa proposta de ensinar a ler e escrever. O dicionário Houaiss (2001, p.1474)[footnoteRef:1] ao conceituar o termo destaca três significados: “representação da linguagem falada por meio de sinais; escrita; alfabetização e práticas que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de materiais escritos”.Para apresentar a origem do termo letramento, encontramos nos trabalhos de Soares (2002, p.17) que se trata da versão portuguesa da palavra inglesa “literacy”, significa indivíduo capaz de ler e escrever, mas destaca “esse processo gera conseqüências na área social, cultural, políticas, econômicas e linguísticas seja para o grupo social ou para o indivíduo”. [1: Houaiss. Letramento. Disponível em www.educarede.org.br. Acesso em 18 jan.2012] 
Com essa Soares (2002) expressa seu entendimento de que um dos pré-requisitos do letramento é a alfabetização, ou seja, a aquisição do código da leitura e da escrita pelo sujeito, já que o primeiro se apropria e faz uso social da leitura e da escrita. O letramento, na verdade, tem relação com o estado ou a condição de quem sabe ler e escrever, indivíduos que se apossam plenamente de suas práticas sociais. 
Na análise de Scribner e Cole (apud KLEIMANN, 1995, p.21), as práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a qual o letramento era definido e os sujeitos eram classificados alfabetizado ou não alfabetizado, passam a ser, em função do letramento apenas um tipo de prática - de fato, dominante - que desenvolve alguns tipos de habilidades, mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita.
Letramento é o uso das práticas sociais da leitura e da escrita; alfabetização é a aquisição da escrita e da leitura, logo, de acordo com Soares (2002, p.23) “alfabetização e letramento são processos distintos, mas podem e devem caminhar lado a lado, pois a questão é alfabetizar letrando, ensinando a criança a ler e escrever através práticas sociais de leitura e escrita”
5. LETRAMENTO X ALFABETIZAÇÃO
Na sociedade moderna e globalizada, é importante saber como funciona o sistema de escrita, assim como as práticas sociais letradas. Entre o processo de alfabetização e letramento, as diferenças são significativas. De acordo com Tfouni (1995, p.20), “enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio históricos da aquisição de uma sociedade”.
O Brasil, isso não é novidade, no cenário da educação, ainda enfrenta sérios e graves problemas em relação ao analfabetismo, seja de crianças que deixaram a escola e/ou de outras que não tiveram a oportunidade de se apropriarem do saber da leitura e escrita.
Nesse aspecto, ou seja, alfabetizar letrando, no entendimento de Soares apud Ribeiro (2003, p.91), a alfabetização: 
[...] é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se Letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos.
A alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo ou grupo. Nas palavras de Ferreiro (1992), a escrita é importante na escola, porque é importante fora dela e não o contrário. 
Na concepção de Tfouni (1995), o letramento é uma consequência social e histórica da introdução da escrita em uma sociedade, considerando que as transformações sociais e discursivas ocorrem em uma sociedade quando ela se torna letrada.
A figura abaixo ilustra a integração das várias dimensões do aprender a ler e escrever no processo de alfabetizar letrando, como mostra a Figura 1.
Figura 1 – Processo de alfabetizar letrando
Fonte: Adaptado de Soares (1998)
Kleiman (1995, p.19), para estabelecer a diferença da prática escolar de ensino da língua escrita e a dimensão social das diversas formas de manifestação da escrita, com base nos estudos de Scribner e Cole, apresenta o seguinte conceito de letramento:
[...] conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos. As práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a qual o letramento era definido, e segundo a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabetizado ou não-alfabetizado, passam a ser, em função dessa definição, apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve alguns tipos de habilidades, mas não outros, e que determina uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita.
Na concepção de Soares (2002), o uso efetivo da escrita deve possibilitar que o aluno interprete, divirta-se, seduza, sistematize, confronte, induza, documente, informe, oriente-se, reivindique, e preserve a sua memória para que possa se integrar ao mundo. Isto é, uma condição não conquistada por aquele em função da falta de domínio sobre o código. 
Para Soares, passou-se a usar letramento a partir do momento em que o conceito de alfabetização tornou-se insatisfatório. Hoje saber ler e escrever não é suficiente, é importante e necessário saber fazer uso da leitura e da escrita.
Para Kleiman (1995, p.27), a aprendizagem da língua escrita:
[...] envolve um processo de aculturação – através, e na direção das práticas discursivas de grupos letrados, não sendo, portanto, apenas um processo marcado pelo conflito, como todo processo de aprendizagem, mas também um processo de perda e de luta social. (...) há uma dimensão de poder envolvida no processo de aculturação efetivado na escola: aprender – ou não – a ler e escrever não equivale a aprender uma técnica ou um conjunto de conhecimentos.
Complementando o pensamento de Soares, Leite (2001, p.25) afirma que em função disso: 
Talvez a diretriz pedagógica mais importante no trabalho (dos professores), tanto na pré-escola quanto no ensino médio, seja a utilização da escrita verdadeira (sic[footnoteRef:2]) nas diversas atividades pedagógicas, istoé, a utilização da escrita, em sala, correspondendo às formas pelas quais ela é utilizada verdadeiramente nas práticas sociais. Nesta perspectiva, assume-se que o ponto de partida e de chegada do processo de alfabetização escolar é o texto: trecho falado ou escrito, caracterizado pela unidade de sentido que se estabelece numa determinada situação discursiva. [2: O autor usa a expressão “escrita verdadeira” em oposição à “escrita escolar”, um modelo muitas vezes artificial, cujo reducionismo não faz justiça à multidimensionalidade da língua viva.] 
Na argumentação de Soares (2004), separar a alfabetização e o letramento consiste em um erro, pois considerando o quadro das atuais concepções psicológicas,  linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita,  a entrada da criança no mundo da escrita se dá simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita (alfabetização),  e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita (letramento). Considera que:
Não são processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de práticas de leitura e de escrita, isto é através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só se pode desenvolver no contexto do e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização (p.14).
A cultura da língua escrita diz respeito às ações, valores, procedimentos e instrumentos que constituem o mundo letrado e, como destaca Batista et. al. (2007, p.18) “esse processo possibilita aos alunos compreenderem os usos sociais da escrita e, pedagogicamente, pode gerar práticas e necessidades de leitura e de escrita que darão significado às aprendizagens escolares” e aos momentos de sistematização propostos em sala de aula. 
A prática de ler e de escrever foi discorrida por Paulo Freire com a ideia de que o ser humano possui níveis de conhecimento, antes de conhecer as letras. Para Freire apud Macedo, 1990, o ato de ler e escrever deve começar a partir de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra. Até mesmo historicamente, os seres humanos primeiro mudaram o mundo, depois revelaram o mundo e a seguir escreveram as palavras.
Noutro ponto de vista, levando-se em conta o modelo ideológico de letramento, Kleiman e Signorini (1995, p.71) afirma que “suas práticas são aspectos da cultura e das estruturas de poder numa sociedade”. Para o autor, no cenário brasileiro, o letramento é o conjunto de práticas sociais que concebe e utiliza a escrita como sistema simbólico e tecnologia, mas em contextos e com objetivos específicos.
Na sociedade letrada, a escrita atravessa a vida do indivíduo. De acordo com Tfouni (2004, p.20), “a alfabetização se preocupa com aquisição da escrita por um indivíduo e/ou grupo; o letramento focaliza os aspectos sócio históricos da aquisição de uma sociedade”. Pode haver mudança, caso o círculo de letrado seja diferenciado em função da classe social, pois se trata de uma consequência social e histórica oriunda da inserção da escrita na sociedade.
Nesse contexto, a aprendizagem da leitura e da escrita implica no conhecimento da das letras, do modo de decodificá-las e da possibilidade de usar esse conhecimento em benefício de formas de expressão e comunicação, possíveis, reconhecidas, necessárias e legítimas em um determinado contexto cultural.
6. CONTEXTUALIZANDO O GRAFISMO
Sobre livros ou folhas, os primeiros rabiscos realizados pelas crianças na maioria dos casos são estimulados por uma pessoa adulta. Os resultados é que são inesperados, pois expressam sentimentos e impressões infantis associadas ou não à família, ás relações sociais da criança, ao seu cotidiano escolar. 
Esse processo de rabiscar, a literatura denomina grafismo. Para Nunes (2007, p.36), as dificuldades de grafismo estão associadas à “má coordenação motora, rigidez dos dedos e problemas psicológicos, como por exemplo, instabilidade da criança e escrever com rigidez”. 
No início do processo de desenhar, os rabiscos recebem o nome de garatujas porque são reflexos do prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir se transformam em formas definidas que apresentam maior ordenação. Conforme explica Perondi (2001, p.179), independente da idade, “toda criança desenha e quando toma posse de algum instrumento que deixa marcas, para desenhar e em cada fase da infância, os desenhos são expressos em distintas formas [...]”.
Assim, ao longo de seu processo de desenvolvimento, a criança desenvolve as etapas (fases) grafismo que estão associadas ao seu estágio de evolução. Todo este processo ocorre através de fases específicas como aponta Moreira (1997).
7. ETAPAS DO GRAFISMO
- Garatujas: entre os dois e quatro anos de idade. De acordo com Moreira (1997, p.28), são “desenhos são descompromissados de representação de qualquer espécie, sendo que a cor aparece por acaso e não por necessidade, é a cor que estava próxima da criança enquanto desenhava”, como ilustra a figura abaixo. 
As garatujas podem ser desordenadas (os desenhos surgem pelo prazer do gesto, de produzir uma marca), ordenadas (relação dos gestos infantis ao traço no papel) e nomeadas, como mostram as figuras garatuja desordenada (à esquerda) e a ordenada (à direita).
- Pré-Esquemática ou do simbolismo: entre os quatro e sete anos, e segundo Moreira (1997, p.36), “a cor que era indiferenciada, se destaca de forma arbitrária, os desenhos são do gênero denominado diagrama, outros obtém espécies de sóis, aranhas, homem-girino, etc.”, como mostra a figura abaixo.
- Esquemática ou do Realismo Lógico: entre os sete e nove anos de idade. Segundo Perondi (2001), nessa fase a criança elabora esquemas para representar os objetos e os desenhos são feitos em conformidade com sua importância, o ser humano é retratado completamente, inclusive com roupas, conforme mostra a figura abaixo.
- Fase do realismo ou idade da turma: entre os nove e 11 anos de idade. Nesta fase, Perondi (20, p.185) destaca “os esquemas são deixados de lado, a figura humana apresenta detalhes em sua constituição, onde se procura caracterizar os sexos e a cor é percebida em suas variações”, como mostra a figura abaixo.
A criança, como destaca Moreira (1997) substitui a linha de base por linhas que simbolizam o horizonte, surgindo, assim a noção de sobreposição de planos e objetos.
- Fase pseudonaturalista ou fase da regressão: entre os 11 e 13 anos de idade. Para Perondi (2001, p.187), com maior capacidade crítica dos seus desenhos, finda “a atividade espontânea e começa a compreensão consciente do que se vê, na figura humana são enfatizadas as características sexuais, mais realismo nas roupas, mas com tendência para a representação caricatural”. 
Também nessa fase, enfatiza Moreira (1997, p.38), percebe-se a “tridimensionalidade do espaço, diminuição dos objetos de fundo, a cor é determinada por reações emocionais, reflexos das vivencias, temores ansiedades e expectativas, representada pela música, teatro, literatura etc.”.
- Período de decisão: entre os 13 aos 16 anos de idade. Segundo Perondi (2001, p.189), nesta fase não se observa mudanças acentuadas, mas nota-se que o “desejo sexual, a ambição e a energia estão à flor da pele, maior satisfação da figura humana e de todos os desenhos, sendo os decorativos, arquitetônicos e paisagísticos típicos dessa fase”, como mostra a figura abaixo.
Em todo este processo – desenvolvimento, grafismo – é importante destacar a relação do desenho com a arte, com o lúdico e com o científico (linhas, pontos e manchas). Assim, no processo de aprendizagem, o grafismo sob o olhar do professor se torna um meio de comunicação por expressar ideias.
CONCLUSÃO
Alfabetizado ou letramento, não importa o método, o importante é que a criança tenha acesso à educação e possa adquirira escrita e a leitura para ser, na sociedade, um cidadão crítico e capaz de interpretar o mundo a sua volta e transformar a sociedade. Espera-se que toda criança, independente da sua classe social e condição financeira certamente seja alfabetizada. Umas, através das instituições públicas de ensino. Outras, pela rede particular. Outras, ainda, apenas com o auxílio da família, mas que em determinado momento terá de ir à escola em busca de aprimorar e ampliar esse conhecimento. 
Então, aproveitar as etapas do grafismo no processo de alfabetização ou letramento do aluno, é considerar as suas contribuições na aquisição da leitura e da escrita. É preciso ter noção que aprendemos a ler e a escrever para atender as demandas do mundo em que vivemos, exercendo nosso papel de cidadão ativo, colaborador, crítico e respeitador. Portanto, o letramento e/ou alfabetização é a base fundamental para atuarmos como cidadãos que lê e entende o que é lido; que escreve e se faz ser entendido.
O olhar que o professor sobre o desenho da criança tem como base as concepções do aluno acerca do que desenha enquanto linguagem e ideias construídas a partir de sua própria história e experiência com a linguagem. Assim, esta monografia sobre grafismo infantil espera contribuir com professores e alunos para que, a partir dessas vivências possam compreender os elementos intelectuais (significado e contextualidade) e elementos formais (cores, linhas, intensidade e dinâmica) tão evidentes nos desenhos das crianças. Nessa perspectiva, este estudo espera contribuir com o meio acadêmico, educacional disponibilizando mais informações sobre o tema e deixando canais abertos para novos estudos.
REFERÊNCIAS
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