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Ano de publicação: 1953; Movimento literário: terceira geração moder- nista; o Embora Cecília Meireles seja, tradicio- nalmente, inserida ao Segundo Tempo Modernista, a retomada reflexiva do passado brasileiro e o experimentalismo (uso de várias formas métricas, mis- tura de gêneros e a quebra da noção épica) usado na obra nos permite asso- ciar o texto ao Terceiro Tempo Moder- nista, movimento de Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Gênero literário: épico-lírico (epopeia moderna). o Caracteriza-se, ao mesmo tempo, pela presença da reflexão e pelo conteúdo narrativo de caráter nacionalista apoi- ado em fatos históricos; o O lirismo é marcado pela exploração so- nora da língua e por movimentos rítmi- cos que conferem musicalidade aos versos; o Não há como não perceber a presença de traços neossimbolistas em sua pro- dução poética. As marcas dessa influên- cia fazem-se sentir na tendência in- trospectiva, intimista, e na musicalidade. A obra é composta por noventa e seis textos, divididos em cinco “Falas”, quatro “Cenários”, uma “Imaginária se- renata”, um “Retrato” e oitenta e cinco “Romances”. Os textos, no todo, caracterizam o local dos acontecimen- tos, seus antecedentes, o clima emocional em Vila Rica e a sequência dos episódios até as punições dos envolvidos no movimento contra a coroa. Os poemas a que Cecília Meireles denominou “Romances” são os que reconstroem a história de Ouro Preto e do movimento inconfidente e, por isso, tendem para o gênero épico-narrativo, embora também haja a presença do gênero lí- rico, encontrado nas reflexões, além do caráter dramático (presença da função emotiva), pre- sente no discurso direto das personagens; Os “Cenários” e “Falas” funcionam como uma li- gação entre os romances: as últimas proporcio- nando pausas reflexivas, questionamentos que manifestam a postura do eu-lírico diante dos fa- tos; quanto aos primeiros, apresentam os ambi- entes onde se passam os fatos referidos, pos- sibilitando entrever não apenas os lugares da antiga Vila Rica, mas também recriação da at- mosfera dos acontecimentos da época. No de- correr do livro, os ambientes e as atmosferas criadas nos cenários fundem-se com divagações de uma voz poética, que proporciona um diálogo entre passado e presente, entre real e imagi- nário. Os objetivos de Cecília não foram outros que não a emo- ção causada pela memória dos inconfidentes através da voz dos anônimos de todos os tempos. Dessa forma, ela Romanceiro da Inconfidência dá voz de autoridade aos desconhecidos e humildes para calar os poderosos e suas ações maléficas. A palavra romanceiro pode ser classificada como um substantivo coletivo para romances (composições de ca- ráter épico-lírico). Nesse caso, a palavra romance signi- fica uma composição de estrofação irregular, de exten- são indeterminada, em versos com rima toante. Pelo fato de serem quase sempre narrativos, “romance” passou mais tarde a designar uma obra literária em prosa, com grande variedade de personagens. Rima toante (ou assonante): há apenas a repeti- ção dos sons vocálicos. Exemplo: boca/moça; pá- lida/lágrima; plátano/cálamo. Época medieval: origem dos romanceiros; Momento dos fatos relatados: Inconfidência Mi- neira; Época da autora: sua viagem a Ouro Preto, na qual estuda os acontecimentos; Momento do leitor de hoje. A presença do negro no poema não é por acaso, mas ajuste de contas com aqueles que verdadeiramente tra- balharam para enriquecer o país, enquanto os ricos e poderosos apenas esperavam em suas casas confortá- veis pelo fruto do suor e lágrimas de seus escravos. Aos negros coube o papel principal em todo o processo de crescimento econômico da colônia, inclusive no ciclo do ouro nas Minas Gerais. Dar voz e importância aos negros é arrancar do anoni- mato personagens cuja referência é incomum na maio- ria das obras e isso é um atributo de modernidade que não pode ser menosprezado. A modernidade ceciliana não está presa ao plano apenas estético ou linguístico, mas também ao plano social e político. Cecília Meireles não só dá voz à mulher, mas também a empodera, revelando o lugar de destaque que lhe cabe por direito e mérito. Uma análise histórica da mulher na sociedade mineira do século XIX mostra que ela não se dedicava apenas à vida doméstica e do lar, porque se tratava de uma sociedade em construção com a febre do ouro e era necessária uma participação maior da mulher. Assim, muitas mulhe- res mineiras dedicavam-se ao artesanato, culinária, co- mércio, tecelagem ou alfaiataria, e enfrentaram o pre- conceito da maior parte da sociedade da época. Romanceiro da Inconfidência não dá apenas voz aos fan- tasmas que pareciam falar com a autora quando esteve em Ouro Preto, mas dá vida ao mártir ao transformá-lo em homem comum num cotidiano aparentemente corri- queiro e questionar o mito criado a partir de sua cora- gem e de seu ato heroico de assumir para si a liderança dos inconfidentes. Tiradentes é personagem histórico e mito criado a um só tempo. O mito foi criado para aten- der interesses muitas vezes obscuros nos corredores do poder, como sua elevação a herói nacional e patrono do exército pelos militares quando da Proclamação da República. Cecília Meireles dá corpo, vida e voz ao mártir execu- tado na forca ao criar para ele uma história de andan- ças sobre um burro e pregações em torno da liberdade e que se propagará através da fala da gente miúda do povo, de um ir contando ao outro pelos recantos entre Minas e o Rio de Janeiro. Sem dúvida, essa identidade humana é criação pessoal da artista que dá humanidade ao homem comum. Primeira parte: ilustram a época da denominada “Gênese de Ouro e Diamante”. São poemas que remetem a histórias ocorridas entre 1700 e 1775. Os dramas relatados neles são resultan- tes de uma “maldição do ouro”, que se configura negativamente para alguns, mas, para outros, é o início de uma libertação; Segunda parte: também precedida por indica- ções locativas, revela a marcha da conspiração, seu malogro e o pronuncio das desgraças que se há abater sobre os conluiados; Terceira parte: a morte de Cláudio Manuel da Costa e de Joaquim José da Silva Xavier, o Tira- dentes, constitui o cerne; Quarta parte: abre-se com um “Cenário” evoca- dor do ambiente em que viveu Gonzaga, se- guindo-se os passos do infortúnio que sobre o poeta se abateu; Quinta parte: representa um novo plano tempo- ral: curta, incisiva, trata de D. Maria I, a mesma que vinte anos antes lavrara as sentenças de morte e degredo, a contemplar com olhos de loucura a terra onde se desenrolou o drama de soldados, poetas e doutores. Fala Inicial: criativa reflexão sobre poder e a passagem do tempo. O narrador parece se en- contrar no Rio de Janeiro no local onde Tiraden- tes foi morto; Cenário: há uma descrição poética de Ouro Preto e, ao mesmo tempo, notamos uma con- densação temática de quase tudo que o livro irá tocar à frente; Romance I ou Da Revelação do Ouro: inicia o pro- cesso de descoberta de ouro do sertão de Mi- nas Gerais; Romance II ou Do Ouro Incansável: é iniciada a exploração do ouro e uma multidão de pessoas ocupa Ouro Preto. À medida que a cidade cresce, a ambição aumenta, cadeias vão subindo e algemas são feitas; Romance III ou Do Caçador Feliz: cena quase oní- rica acerca da descoberta do ouro, visto a abundância do mineral, por isso o título deste romance; Romance IV ou Da Donzela Assassinada: mani- festa-se a voz de uma moça cuja história ocor- reu em 1720: uma jovem rica e de família aris- tocrática foi assassinada pelo pai, que descon- fiou que ela estivesse envolvida com um rapaz de posição social inferior; Romance V ou Da Destruição de Ouro Podre: alusão à Revolta de Felipe dos Santos. Após um mês de rebelião, oConde Assumar dialogou com os revoltosos pedindo trégua para, em seguida, persegui-los e matar o líder do movimento, Fe- lipe dos Santos; Romance VI ou Da Transmutação dos Metais: há uma irônica alusão ao modelo de vida luxuoso dos nobres lusos e espanhóis, condição sustentada com o ouro do Brasil. Neste romance, há um episódio que em vez de mandar para Europa um caixão de ouro, foi enviado um caixão repleto de chumbo; Romance VII ou Do Negro nas Catas: o sofri- mento dos negros é representado neste ro- mance.; Romance VIII ou Do Chico-Rei: Francisco foi apri- sionado na África com sua tribo e enviado para Vila Rica. Na viagem, perdeu a mulher e os filhos, sobrevivendo apenas um. Resignado, o negro trabalhou, libertou o filho, a si próprio e toda sua tribo, até que formaram, em Vila Rica, um Estado, do qual Francisco era rei; Romance IX ou De Vira-E-Sai: a santa se torna protagonista: concede a força que anima os es- cravos e transforma, como em um milagre, toda a montanha em ouro; Romance X ou Da Donzelinha Pobre: assim como o romance que retrata uma moça assassinada pelo pai, aqui, neste encontramos uma donzela pobre que não pode se expressar, visto a sua condição social e pelo fato de ser mulher; Romance XI ou Do Punhal e da Flor: Ouvidor Ba- celar joga uma flor a uma moça em uma igreja do Tejuco (atual Diamantina), fato escandaloso e sacrílego que quase resultou na morte do Ouvi- dor pelo familiar da jovem, Felisberto; Romance XII ou De Nossa Senhora da Ajuda: embora esse romance esteja inserido na seção do ciclo do diamante, ele se refere à infância de Tiradentes. Vale destacar os episódios envoltos à vida da Chica da Silva são contemporâneos, isto em 1752, aos 6 anos de idade do mártir da inconfidência. No decorrer do poema são feitas previsões sobre o destino da criança, Joaquim José; Romance XIII ou Do Contratador Fernandes: con- tratador era uma pessoa autorizada pela coroa a explorar o diamante no interior de Minas Ge- rais. Neste caso, João Fernandes ocupou essa função entre 1753 a 1770, sendo considerado um dos homens mais ricos do Brasil. Ele se en- volveu com uma mulata, escrava alforriada no- meada de Francisca da Silva de Oliveira, a fami- gerada Chica da Silva. Nesse romance, encon- tramos a figura do Conde Valadares que a pe- dido do governador estava atrás de João Fer- nandes para informá-lo a respeito da perda do direito de explorar diamantes. Na história oficial, João Fernandes é preso por contrabando; Romance XIV ou Da Chica da Silva: Chica da Silva aparece poderosa, rica e ocupa o centro do es- paço e do tempo; Romance XV ou Das Cismas de Chica da Silva: a astúcia da mulher ao identificar a cobiça e as in- tenções maldosas do Conde de Valadares. Ela tenta persuadir o ingênuo marido, que não toma as precauções sugeridas por ela; Romance XVI ou Da Traição do Conde: atesta a razão de Chica ao desconfiar do Conde, que acaba por trair João Fernandes, fazendo-o re- tornar a Portugal; Romance XVII ou Das Lamentações no Tejuco: conta as lamentações do povo do Tejuco em re- lação à prisão de João Fernandes e ao destino de Chica da Silva. Há também uma declaração sobre a desgraça trazida pelo ouro; Romance XVIII ou Dos Velhos no Tejuco: narração acerca da decadência de Chica da Silva; Romance XIX ou Dos Maus Presságios: aqui se encerra a primeira parte do livro. Neste ro- mance, há uma conclusão acerca da gênese do ouro e do diamante (espécie de reflexão sobre o tempo) e um presságio sobre o que está por vir. Cenário: o eu-lírico destaca a névoa como índice de que a conspiração está sendo preparada e que os presságios não são bons; Fala à Antiga Vila Rica: o eu do texto dirige-se à cidade que foi cenário dos acontecimentos. Há uma voz lírica que dialoga com Vila Rica, questio- nando o fato de não agir contra as injustiças cometidas, porém, demonstra a força do des- tino trágico dos inconfidentes, como se este fosse uma sina a ser cumprida; Romance XX ou Do País da Arcádia: transpõe o ambiente pastoril da Arcádia, na lendária Grécia, servindo como contraponto ao ambiente de tris- teza que está por vir sobre Vila Rica; Romance XXI ou Das Ideias: pode-se destacar a força da descrição que transporta em si o dia a dia fervilhante de Vila Rica, seu espaço e socie- dade, seus negros e a escravidão, seus senho- res e a nobreza, seus padres e seus poetas. E “as ideias” verso que se repete fechando cada estrofe, remete à atmosfera de conspiração; Romance XXII ou Do Diamante Extraviado: A his- tória remonta a uma denúncia dos Autos da De- vassa, na qual um negro alto, corpulento e so- berbo teria vendido pedras de contrabando a dois moradores da cidade de Mariana; Romance XXIII ou Das Exéquias do Príncipe: re- trata o luto oficial proclamado na capitania em 20 de fevereiro de 1789 pela morte do her- deiro do trono de Portugal, D. José em 11 de se- tembro de 1788; Romance XXIV ou Da Bandeira da Inconfidência: observa-se um diálogo entre memória, história e poesia. Esse romance conta como eram os en- contros dos inconfidentes. A repetição dos ver- sos: “atrás de portas fechadas, / à luz de velas acesas” descreve e reforça a ambientação tensa em que a conspiração ocorria; Romance XXV ou Do Aviso Anônimo: fala de de- núncias de uma carta anônima, que alertava so- bre uma possível repressão por parte das auto- ridades portuguesas; Romance XVI ou Da Semana Santa de 1789: em um cenário que forma uma imagem sacra do espaço, duas vozes se alternam: a voz dos ter- cetos faz uma espécie de profecia. Pode-se re- conhecer os inconfidentes no vós que se apre- sentam nas quadras. Neste romance, fala-se do mistério da Eucaristia e, mais uma vez, a poetisa estabelece um paralelo entre o percurso de Ti- radentes e o de Cristo; Romance XVII ou Do Animoso Alferes: há o re- lato da última viagem de Tiradentes, partindo de Vila Rica ao Rio de Janeiro, em 1789, para ten- tar convencer o vice-Rei a lhe confiar as obras de canalização de água da cidade do Rio de Ja- neiro. Neste texto, o Alferes é exaltado, devido a suas atividades de curandeiro, além disso, res- saltam-se aspectos do seu caráter e sua abne- gação em prol do bem comum. Há menção do traidor Joaquim Silvério dos Reis, como negro demônio, que esteve a caminho do Rio, atrás de Tiradentes. A poetisa constrói uma imagem de Tiradentes cavalgando pelo céu, animado e entu- siasmado; Romance XVIII ou Da Denúncia de Joaquim Silvé- rio: a escritora faz uso de imagens bastante negativas para representar o caráter traidor e bajulado de Joaquim Silvério; Romance XIX ou das Velhas Piedosas: neste ro- mance, como no anterior, continua a ácida ca- racterização do traidor, Joaquim Silvério; Romance XXX ou Do Riso dos Tropeiros: visão dos tropeiros acerca da figura de Tiradentes que passou próximo a eles levando esperança de um país melhor; Romance XXXI ou De Mais Tropeiros: há várias referências aos ideais de liberdade pregados por Tirantes nessa parte (alusão à Independên- cia dos EUA), segundo a visão dos tropeiros; Romance XXXII ou Das Pilatas: visão de um ga- roto sobre as injustiças sociais do Brasil. Há um desejo de partir para o Rio de Janeiro como feito por Tiradentes; Romance XXXIII ou Do Cigano que viu Chegar o Alferes: referência à chegada de Tiradentes ao Rio de Janeiro. A cena desenvolve-se às portas da cidade e consiste em um cigano, que dirige seu discurso ao leitor para analisar o destino do herói; Romance XXXIV ou De Joaquim Silvério: este é equiparado a Judas, estereótipo de traidor, re- forçando a imagem sórdida esboçada nos ro- mances; Romance XXXV ou Do Suspiroso Alferes: Tira- dentes se encontra atolado em “águas podres”. O Alferes possui a ilusão de que seus amigos estão trabalhando,juntamente com ele, para al- cançar o ideal de liberdade; Romance XXXVI ou Das Sentinelas: conta a soli- dão de Tiradentes, na sua situação de vigiado permanente; Romance XXXVII ou De Maio de 1789: fala-se so- bre os principais momentos do fracasso da re- volta: no dia primeiro de maio, Tiradentes é per- seguido por Joaquim Silvério, na estrada do Rio; no dia nove de maio, o Alferes é caçado no Rio de Janeiro, após a denúncia de Joaquim Silvério; a prisão do Alferes, no dia dez de maio; e no fi- nal do mês, há o desfecho da conspiração; Romance XXXVIII ou Do Embuçado: relata a pre- sença de alguém, que portava uma mensagem a Tiradentes. Não se sabia sua identidade e, por isso, o poema é cercado de mistério; Romance XXXIX ou De Francisco Antônio: fala do destino de um dos inconfidentes, Francisco An- tônio de Oliveira Lopes, que foi preso e degre- dado; Romance XL ou Do Alferes Vitoriano: relata a prisão do alferes Vitoriano Veloso, que não con- segue levar uma carta de aviso a mando do Co- ronel Francisco Antônio; Romance XLI ou Dos Delatores: fala sobre os falsos testemunhos do processo que prende- ram os inconfidentes; Romance XLII ou Do Sapateiro Capanema: relata a prisão do sapateiro como conspirador; Romance XLIII ou Das Conversas Indignadas: conta-se da força decisiva de quem governa e reflete sobre o fato de que o mais fraco é sempre escolhido para receber o castigo por todos. Assim acontece com Tiradentes, que foi responsabilizado pelo crime de todos os compa- nheiros; Romance XLIV ou Da Testemunha Falsa: a voze- nunciadora relata as reflexões de uma testemu- nha falsa, que prefere mentir a respeito de ou- tras pessoas, condenando-as, a fim de se salvar e se inocentar; Romance XLV ou Do Padre Rolim: fala sobre o possível envolvimento desse padre com os cons- piradores e a possibilidade de uma crise com a Igreja; Romance XLVI ou Do Caixeiro Vicente: relata a traição de Vicente Vieira da Mota para com Ti- radentes, que prestou serviços para esse cai- xeiro; Romance XLVII ou Dos Sequestros: trata da or- dem aos meirinhos de sequestrar todos os bens de Tiradentes; Fala aos Pusilânimes: situa-se em meio a se- gunda parte da história, censurando os que não tiveram a ousadia de lutar pela liberdade e os condenando, pois foram esses traidores que fi- zeram com que a opressão vitimasse a todos. Romance XLVIII ou Do Jogo de Cartas: Nesta parte, há uma metáfora da história como sendo um jogo de cartas: os homens seriam as pró- prias figuras do baralho. A voz enunciadora fala que o destino dos protagonistas da revolução seria o exemplo de uma “lei universal”, em que os homens são apenas peças usadas por uma ordem superior; Romance XLIX ou De Cláudio Manuel da Costa: refere-se ao destino do poeta, que morreu mis- teriosamente; Romance L ou De Inácio Pamplona: relata o de- saparecimento de Inácio, no mesmo dia da morte de Cláudio Manuel da Costa; Romance LI ou Das Sentenças: retrata o julga- mento e a preparação das sentenças dos revol- tosos; Romance LII ou Do Carcereiro: traz o monólogo de um carcereiro que prevê a execução de Ti- radentes; Romance LIII ou Das Palavras Aéreas: a voz enunciadora exalta o poder e a força das pala- vras, que podem destruir e construir, simultane- amente o sonho e a vida de qualquer pessoa; Romance LIV ou Do Enxoval Interrompido: co- menta o noivado de Tomás Antônio Gonzaga e sua Marília, e a interrupção do sonho de se ca- sarem; Romance LV ou Do Preso Chamado Gonzaga: há a sugestão da angústia desse poeta na prisão; Romance LVI ou Da Arrematação dos Bens do Alferes: relata um leilão com os bens seques- trados de Tiradentes; Romance LVII ou Dos Vãos Embargos: menciona a recusa do embargo judicial em defesa de Tira- dentes; Romance LXIII ou Do Silêncio do Alferes: des- creve o que aconteceu com Tiradentes na úl- tima viagem que fez ao Rio de Janeiro e a sua morte; Romance LXIV ou De Uma Pedra Crisólita: é o úl- timo poema do “ciclo Tiradentes” e retrata uma informação dos Autos da Devassa: Tiradentes teria deixado uma pedra crisólita para ser polida em um lapidário no Rio de Janeiro, levando-a de volta sem polir. Cenário: em que o jardim de Gonzaga é apresen- tado como forma de mostrar a solidão e a tris- teza que ficou após sua prisão; Romance LXV ou Dos Maldizentes: sugestão da ida de Gonzaga para a África; Romance LXVI ou De Outros Maldizentes: alusão à ida de Gonzaga e à venda de alguns objetos do poeta.; Romance LXVII ou Da África do Setecentos: es- pécie de descrição da África, espaço do de- gredo; Romance LXVIII ou De Outro Maio Fatal: relata o sofrimento de Gonzaga ao ter que deixar Vila Rica e sua Marília; Romance LXIX ou Do Exílio de Moçambique: des- creve a viagem do poeta pelas terras de Mo- çambique; Romance LXX ou Do Lenço do Exílio: menciona a angústia de Marília ao bordar um lenço para o amado, enquanto espera sua volta; Romance LXXI ou De Juliana de Mascarenhas: relata o encontro de Juliana Mascarenhas, uma fazendeira, com Gonzaga em Moçambique; Imaginária Serenata: que sugere o sofrimento de Marília, e sua ilusão quanto ao reencontro com seu amado; Romance LXXII ou De Maio no Oriente: relata o casamento de Tomás Antônio Gonzaga e Juliana Mascarenhas; Romance LXXIII ou Da Inconformada Marília: há menção da desilusão e tristeza de Marília que não acredita que Tomás não se lembre mais dela; Romance LXXIV ou Da Rainha Prisioneira: há a reflexão sobre o fato de que a rainha D. Maria I, que mandara executar os inconfidentes, acaba se tornando prisioneira de sua loucura que é pior que qualquer masmorra, desterro ou morte de forca; Fala à Comarca do Rio das Mortes: como nas falas anteriores, também possui um tom de tristeza pelos relatos da tragédia, e da ruína nos campos e na cidade. Aqui o eu-lírico relata as mágoas de Bárbara Eliodora, cujo esposo, o poeta Alvarenga Peixoto, fora exilado para a África; Romance LXXV ou De Dona Bárbara Heliodora: referência ao sofrimento de Bárbara que era esposa de Alvarenga Peixoto; Romance LXXVI ou Do Ouro Fala: ligeiras descri- ções acerca da beleza de Bárbara Heliodora. Também há alusão ao sofrimento da esposa se- parada do marido; Romance LXXVII ou Da Música de Maria Ifigênia: sugestão da morte de Maria; Romance LXXVIII ou De Um Tal Alvarenga: refe- rência a vida de Alvarenga Peixoto, poeta e ad- vogado, que sonhou com a liberdade de Minas Gerais; Romance LXXIX ou Da Morte de Maria Ifigênia: alusão à morte de Maria Ifigênia após a queda do cavalo; Romance LXXX ou Do Enterro de Bárbara Helio- dora: neste é retratado a morte de Bárbara e, um pouco antes, momentos de demência metal, visto as perdas experienciadas em vida. Retrato de Marília em Antônio Dias: apresenta uma Marília envelhecida, diferente da Marília formosa dos poemas de Gonzaga, pois, sem a presença dele, ela prepara-se para a sepultura; Cenário: voz lírica descreve o estado de loucura em que se encontrava a Rainha, Dona Maria I, que assinou as sentenças de morte dos inconfi- dentes; Romance LXXXI ou dos Ilustres Assassinos: a voz enunciadora, em um tom evocativo, critica os responsáveis pela condenação dos inocentes, chamando-os de assassinos; Romance LXXXII ou Dos Passeios da Rainha Louca: D Maria I, a rainha louca, anda pela ci- dade, cheia de remorsos visto a condição dos in- confidentes, cercada de batedores; Romance LXXXIII ou Da Rainha Morta: romance marcado pelas homenagens à rainha morta; Romance LXXXIV ou Dos Cavalos da Inconfidên- cia: há uma comparação entre os cavalos que são descritos e os inconfidentes mineiros; Romance LXXXV ou Do Testamento de Marília: que evoca o testamento de Marília, dando a di- mensão datristeza de Marília por causa dos fa- tos passados; Fala aos Inconfidentes Mortos: essa parte fina- liza a obra, a partir de reflexões do eu-lírico, que afirma que tudo jazia em silêncio e reflete sobre o destino dos homens antigos que fizeram parte da conjuração, quando tudo se dissolve na força implacável do tempo, remetendo-nos à “Fala Inicial” que demonstra o quanto as ques- tões pontuais transcendem os fatos ocorridos, pois estes foram aniquilados pelo esquecimento.