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Trafico internacional de mulheres para fins de exploração sexual

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2
FACULDADE CATÓLICA IMACULADA CONCEIÇÃO
 
 
 
 
Bruno Leonardo Viana Seixas
 
 
 
 
 
 
TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RECIFE/2021
Às memórias de Maria Eliza Bezerra, a minha eterna “Vó Liza” e Deulina Nunes Viana De Oliveira de mulheres sábias e guerreiras que sempre enfrentaram, as adversidades da vida com paciência e um enorme sorriso no rosto, sempre me incentivando e me direcionando para o caminho da educação.
Aos meus pais, Maria da Conceição Viana Seixas e José Seixas Pereira Filho, por todo amor, paciência e compreensão dedicados a mim durante toda a minha vida e por nunca terem medido esforços para me proporcionar um ensino de qualidade durante todo o meu período escolar.
Ao meu irmão, André Robson Viana Seixas, por toda inspiração, incentivo, companheirismo e cumplicidade dos últimos 29 anos.
À minha tia Sonia Seixas e a minha prima Jordana Seixas por sempre me guiarem pelo caminho do conhecimento e do amor ao próximo, sempre oferecendo apoio nos momentos difíceis.
À minha avó, Terezinha de Jesus Viana e ao meu tio, Antônio Marcio de Santana por sempre me compreenderem e me aceitar.
À Elizene Nunes Viana e Leandro Heleno da Silva por todo incentivo dado durante todas as fases da minha vida, e que, apesar da distância, ainda se mantem presentes na minha vida.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, а Deus, que fez com que meus objetivos fossem alcançados, durante todos os meus anos de estudos.
Aos meus pais e irmão, que me incentivaram nos momentos difíceis e compreenderam a minha ausência enquanto eu me dedicava à realização deste trabalho.
À professora Débora Cerqueira, por ter sido minha orientadora e ter desempenhado tal função com dedicação e amizade.
A todos que participaram, direta ou indiretamente do desenvolvimento deste trabalho de pesquisa, enriquecendo o meu processo de aprendizado.
Aos meus colegas de curso, cоm quem convivi intensamente durante os últimos anos, pelo companheirismo e pela troca de experiências que me permitiram crescer não só como pessoa, mas também como formando.
Resumo
Este trabalho de conclusão tem por objetivo a análise do crime de tráfico internacional de mulheres para fins de exploração sexual. Analisando a forma que ocorre o tráfico, as principais rotas, os perfis dos agentes envolvidos e o quanto este mercado pode ser lucrativo para os aliciadores. O objetivo geral consiste na compreensão do crime e buscar o combate com apoio nas políticas nacionais e tratados internacionais, a fim de que seja coibido o aliciamento de mulheres. Os objetivos específicos têm como base a busca pela compreensão da dinâmica do tráfico internacional de mulheres na perspectiva da vítima e do aliciador de modo que possam ser entendidas as causas e as formas de aliciamento e a análise de convenção e legislações brasileira. A metodologia de pesquisa aplicada é a exploratória de forma que se obtenha a compreensão das causas que levam mulheres e adolescentes a serem traficadas, bem como compreender os motivos que levam os aliciadores a cometer o tráfico. Ademais, como base para este trabalho, será feita também uma revisão de literatura que se debruçará sobre a legislação vigente, relatórios e artigos científicos. Conclui-se que é de extrema necessidade uma maior divulgação e conscientização da sociedade das formas que ocorrem o aliciamento além do fortalecimento e cooperação internacional na repressão deste tipo de exploração e na localização de vítimas e criminosos, para que estes sejam julgados e condenados.
 
Palavras-chave: Tráfico de mulheres. Exploração sexual. Organizações internacionais. 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 4
1 TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES ................................................... 5
1.1 Perfil dos agentes ........................................................................................ 6
1.1.1 Perfil das vítimas.............................................................................7
1.1.2 Perfil dos aliciadores...................................................................... 8 
1.2 Formas e causas de aliciamento................................................................ 10
1.3 Rotas do tráfico: extensão nacional e internacional .................................. 15 
2 LEGISLAÇÕES E CONVENÇÃO INTERNACIONAL ....................................... 19
2.1 Convenção de Palermo ............................................................................. 19 
2.2 Legislação brasileira frente ao tráfico de pessoas ..................................... 21 
3 MEIOS DE COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL E IMPASSE NA CONCRETIZAÇÃO DAS MEDIDAS .................................................................. 24
3.1 Políticas de enfrentamento no Brasil .......................................................... 24
3.2 A importância da concretização de medidas de combate do tráfico de pessoas...................................................................................................... 27
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 30
REFERÊNCIAS.........................................................................................................32
INTRODUÇÃO
Atualmente o tráfico de mulheres para fins sexuais se caracteriza como um crime organizado, em que o produto do tráfico é a pessoa humana, possuindo desta forma altos rendimentos lucrativos aos aliciadores, sendo pauta de diversos acordos e protocolos internacionais. 
É um tema socialmente relevante e de caráter mundial, que afeta milhares de pessoas e retira delas os seus direitos de uma vida digna. É importante que se conheçam as estratégias eficazes de combate ao tráfico de mulheres, pois, é do interesse da sociedade que seja no mínimo reduzido o seu índice de ocorrência, a fim de que as vítimas, possam de fato possuir a garantia de seus Direitos Fundamentais. 
Para tanto, utilizaremos como referencial teórico deste trabalho, o renomado professor, doutrinador e advogado penalista Damásio Evangelista de Jesus, que traz diversos apontamentos de suma importância quando se trata de tráfico humano e violação à direitos e garantias fundamentais, bem como do estudo aprofundado de meios de combate por parte dos Estados-membros e o Brasil a nível internacional. 
O primeiro capítulo trata do perfil das vítimas e dos aliciadores no tráfico de mulheres para fins de exploração sexual como forma de mostrar as pessoas mais vulneráveis aos ofensores, relatando ainda as causas e as possíveis formas de aliciamento, seja ela por meio de rotas internacionais ou nacionais, com a finalidade de demonstrar as principais rotas do tráfico no Brasil e em vários países do mundo. 
O segundo capítulo deixa claro a importância do Protocolo de Palermo tanto para aqueles países que o aderiram, quanto para aqueles que ainda não o aderiram, uma vez que ele delimita aspectos importantes acerca do tráfico de pessoas, além de ter como principais premissas, a repressão, punição e prevenção do delito trazidos pela legislação brasileira a respeito do tráfico humano na Lei 13.344/16. 
O terceiro capítulo explana políticas de enfretamento ao tráfico de pessoas no Brasil, reiterando a garantia dos Direitos Fundamentais à vítima traficada, além de relatar as atuações de organizações internacionais, no combate ao tráfico humano em diversas nações.
1.TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS SEXUAIS 
 
Em meados do século XV já se configurava a migração forçada dos negros africanos para diversas partes do mundo, os quais eram escravizados para fins de obtenção econômica de seus traficantes. 
Nesse sentido, é notório afirmar que o tráfico internacional de pessoas não é uma problemática moderna do século XXI, sendo válido então que seja observado, qual o perfil das vítimas, dos aliciadores e quais as causas e consequências deste crimeque afeta em nível internacional.
Outro ponto a se destacar é o processo de globalização como um dos grandes marcos de desenvolvimento deste tipo de crime. Sobre este viés, JESUS (2003, p. 14), trata dessa relação da seguinte maneira:
O tráfico internacional de seres humanos está inserido no contexto da globalização, com a agilização das trocas comerciais planetárias, ao mesmo tempo em que se flexibiliza o controle de fronteiras. Juntamente com o movimento de mercadorias, há um incremento da migração global. São milhões de pessoas em constante movimentação, em busca de melhores de trabalho e de vida.
De forma simplória, tendo em vista a dedicação de capítulo para debate mais aprofundado, em nível de introdução, necessário o destaque ao atual conceito de tráfico humano previsto no Protocolo de Palermo das Nações Unidas: 
Artigo 3º, alínea “a”: Recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo-se à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coerção, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou a situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. 
Percebe-se que a maior finalidade do tráfico de pessoas é a exploração humana para obtenção de vantagens econômicas ilegais, pois a questão do lucro para aqueles que aliciam, não é nada mais nada menos do que uma soma em seu patrimônio financeiro, pouco lhe importando com as condições das pessoas presentes nos alojamentos insalubres. 
Essas vantagens são conseguidas através da coação à vítima, que muitas vezes se vê vulnerável perante sua condição social ou até mesmo crente de que pode realizar seus grandes sonhos pessoais e profissionais, mas quando menos esperam, acabam descobrindo que foram ludibriadas com falsas promessas, e é infelizmente a partir daí que começam a viver em condições vexatórias e insalubres, onde haverá a ausência da dignidade humana, liberdade e a consequente violação aos direitos humanos. 
Nesse interim, destacamos que a Organização das Nações Unidas sempre trata do assunto, trazendo comumente maiores percentuais ao tráfico de humano as mulheres como vítimas, de modo que estas são submetidas à exploração sexual após terem os seus passaportes e objetos pessoais confiscados e se encontrarem em um lugar pouco provável de fuga, para que só assim aquelas pessoas que pareciam proporcionar o sonho da vida de cada uma delas, gozarem das vantagens tão esperadas, por meio dos maus tratos físicos e psicológicos a estas mulheres privadas de suas escolhas e liberdade, seja ela de expressão ou locomoção. 
NUCCI (2015, p.101-102) traz a seguinte consideração: 
A verdade é que o que chamamos de tráfico de pessoas não passa de prostituição globalizada. A indústria do sexo explora o transporte de garotas e mulheres por todo o país, lançando-as à prostituição nos locais onde suas vítimas têm menores condições de resistir e onde há maior demanda para elas. De fato, como já explicitado, praticamente inexiste tráfico de pessoas para qualquer outro fim que não seja a prostituição. Por isso, na essência, o denominado tráfico é somente uma face da prostituição, que está tão globalizada quanto qualquer outra atividade econômica na atualidade. 
Isso nos remonta a ideia de que a prática do cometimento deste crime é algo que marca anos de combate, não sendo nada recente, porém corriqueiro e em nível de expansão acelerado, o que torna mais comum a ofensa aos direitos fundamentais como vida e liberdade, sobretudo o fundamento da dignidade da pessoa humana. 
1.1 Perfil dos agentes
		
		A esse ponto, trataremos do perfil dos agentes criminosos e as vítimas do tráfico humano, sando em primeiro passo atenção ao crime organizado por parte dos delinquentes e as vulnerabilidades das vítimas.
		Nesse sentido, podemos apresentar de imediato o conceito do crime organizado estritamente vinculada a uma falha estatal, ou seja, uma omissão do estado na promoção de meios capazes de aniquilar o cometimento de tal crime do seio social. 
Para GOMES (2009, p.03), seria uma das formas de afronta ao Estado Democrático de Direito e a todo o ideal das Convenções e tratados, bem como à Constituição Federal de 1988. Assim, o doutrinador adverte: 
Entre diversos e múltiplos conceitos jurídicos, econômicos e político-sociais, há um consenso. A existência do crime organizado é uma demonstração de um poder paralelo não legitimado pelo povo, que ocupa lacunas deixadas pelas deficiências do Estado Democrático de Direito e demonstra a falência do modelo estatal de repressão à macro-criminalidade. 
O mesmo, na mesma obra, destaca que esse tipo de atuação das organizações criminosas permite que vislumbremos a passividade do Estado e a apropriação dos integrantes da organização das funções que tem como titular o Estado. 
Nesse mesmo contexto, o que se verá acerca das vítimas é o aproveitamento da vulnerabilidade econômica, social, psicológica, de saúde e educacional para atrair e conseguir através de uma violência “mascarada” seus objetivos. 
1.1.1 Perfil das vítimas 
 
O perfil das vítimas do tráfico de pessoas tem sido significativo no que tange ao gênero feminino, pois, segundo pesquisas institucionais o número de mulheres é predominantemente maior que o de homens, sendo as mulheres mais velhas levadas para trabalhar em condições análogas à de escravo e as mais jovens direcionadas ao mercado de exploração sexual, sendo essa uma realidade notável no acompanhamento de jornais e entrevistas quando direcionada a este assunto. 
Infere-se que o percentual de mulheres que ficam vulneráveis a este tipo de crime torna-se relevante quando se leva em consideração não só suas características físicas, como também as sociais, psicológicas e financeiras, as quais servem de base para identificar com mais facilidade os aspectos mais comuns das vítimas.
Ainda em sua obra Tráfico Internacional de Mulheres, JESUS (2003, p. 74-75) passa a compor um estereótipo para as vítimas do crime em questão, destacando suas características e jornada enquanto mulher. Vejamos:
De fato, as primeiras ocorrências investigadas pela polícia, notórias pela brutalidade com que as mulheres foram tratadas no exterior, levavam a crer que as vítimas, em sua maioria, viajaram ludibriadas por agenciadores cuja oferta se baseava na promessa de trabalho em atividades consideradas regulares, como enfermeiras e babás. Lá chegando, tais mulheres eram obrigadas a se prostituir e viviam em condições lastimáveis, endividadas e sem possibilidade de retorno, uma vez que seus passaportes eram imediatamente confiscados. Atualmente, a sofisticação da atividade mostra uma situação diferente, porém não menos grave. De acordo com as informações que obtivemos nos processos em andamento e nas entrevistas com agentes oficiais, percebe-se que uma parcela representativa das mulheres que partem para o exterior tem consciência da atividade que vai exercer. É fato que as mulheres são submetidas a condições desumanas, mas o consenti- mento das vítimas gera uma situação delicada, em que o combate a esse delito torna-se mais difícil, não obstante as autoridades policiais terem a obrigação de investigar as redes de aliciamento, de transporte e de exploração, independentemente de anuência anterior por parte da vítima. 
É notório que quando os aliciadores buscam algumas mulheres para enganá-las, eles já têm as preferências do tipo de mulher que pode ser facilmente abordada e consequentemente iludida por falsas promessas de melhorar de vida, e por isso, eles vão em busca de determinados alvos, a fim de que possam oferecer o convite de uma boa oportunidade de emprego, qualidade de vida e a triste ilusão de encontrar um marido para formar uma família. 
Além de mulheres pobres e com baixa instrução escolar, também se percebe que há uma parcela de jovens universitárias ou que estão terminando o ensino médio que são muitas vezes de famílias classe média, e sonham emser modelos internacionais, estudar em boas universidades ou escolas de idiomas e quando chegam lá, acabam descobrindo o verdadeiro cenário da prostituição forçada, ficando assim como “modelos do sexo”. 
1.1.2 Perfil dos aliciadores 
 
 Há um perfil típico para as vítimas do tráfico humano, também haverá para os aliciadores, os quais, em sua grande maioria são representados por homens. 
 Neste contexto, de acordo com LÔBO (2006), conforme citado por RODRIGUES (2018, p.12) podemos compreender o aliciador da seguinte maneira: 
O aliciador é aquele que induz as vítimas a saírem de suas cidades, rumo a outras cidades mais desenvolvidas ou outros países, iludindo-as com promessas de ascender economicamente. Em geral, são homens, entre 30 e 41 anos, com bom grau de escolaridade, muitos são empresários, ou trabalham em casas de show, comércio, bares, agências de encontro ou de turismo e até em salões de beleza.
 Os homens dominam o “mercado de compra e venda da dignidade humana” das mulheres em estado de vulnerabilidade. Esses aliciadores usam os sonhos delas como uma arma poderosa de coação, para que assim possam influenciá-las de que a proposta deles é sem dúvidas a melhor que poderiam ter, além disso, ainda vem o bônus da tão sonha viagem à Europa. Porém, mal sabem elas, que por trás de toda essa ficção existe uma grande organização criminosa que opera para que tudo aconteça conforme planejado. 
O objetivo central destes criminosos é retirar a liberdade de expressão e locomoção, desde o primeiro contato com as vítimas, no chamado: ‟convite” a uma vida promissora e segura, até o momento de consumação do delito para que desta maneira elas sejam escravas da libido alheia. 
Além de homens aliciadores, também há mulheres, as quais podem ser aquelas que são vítimas do tráfico, mas que para pagarem suas dívidas, lhes impõe que esta deva exercer o papel de aliciadora, para enganar outras meninas, dizendo que já foi e que tudo é muito maravilhoso, e que essa é uma grande chance de realização do futuro. 
As aliciadoras, muitas vezes se utilizam da confiança que suas amigas e familiares depositam nela, para voltarem ao seu país e influenciar as pessoas mais próximas a ter uma vida melhor e mais digna, relatando assim toda a sua experiência, dizendo ser uma das melhores possíveis, para que só desta maneira quitem suas dívidas e fiquem libertas da escravidão sexual, mesmo que seja submetendo uma outra pessoa a passar pela mesma situação. Visto isso, subentende-se que elas ficam dispostas a qualquer coisa em troca da sua liberdade e dignidade humana. 
Existem mulheres que agenciam meninas, sem nunca terem passado por nenhuma situação tão degradante quanto essa, mas o fazem só para obter lucros. Ou seja, se não é para libertar a si própria, será para render altos lucros, por meio da escravidão alheia. 
Para o professor TORRES (2012; p.64) temos que:
os aliciadores escolhem suas vítimas utilizando critérios subjetivos como: a desinibição, algum dote artístico; e objetivos: cor da pele, porte físico, ou qualquer outro elemento que chame a atenção do aliciador no sentido de que possa gerar lucro; as vítimas são geralmente solteiras, justificando a facilidade que elas têm de se locomoverem para outras regiões e/ou países.
Desta feita, diante do exposto, torna-se claro que o perfil dos aliciadores também depende de algumas questões sociais, porém distintas questões trazidas pelas vítimas. 
1.2 Formas e causas para o aliciamento 
 
O tráfico de pessoas é um crime intrincado, que pode ocorrer de diversas maneiras, seja ele por meio da exploração sexual ou da remoção de órgãos, cada um com um modus operandi distinto. 
A finalidade do tráfico de mulheres para a exploração sexual é basicamente o enriquecimento ilícito do aliciador e toda sua organização criminosa, para que desta forma venha a adquirir vantagens indevidas por meio da violação a dignidade humana. 
 É importante analisar o depoimento de uma mulher que foi aliciada, pois ela relata detalhadamente, como ocorreu cada fase desse crime tão complexo. 
 Para melhor demonstrar tudo até então explanado, conveniente apresentar entrevista concedida ao Jornal Diário Catarinense em que uma vítima do tráfico de pessoas que participava de um evento denominado Redefinindo a Paz – Tráfico de Mulheres, onde a vítima conta o passo a passo da organização e todo o trajeto de sua vida enquanto traficada. Logo, temos: 
Diário Catarinense _ como surgiu a proposta de trabalho na Espanha? 
Mulher traficada _ eu tinha uma amiga que foi e voltou de lá. Sempre tinha aquela ilusão de comprar roupas caras e não decepcionar a família. Fui com a ideia de trabalhar como cabelereira, fiz até um curso aqui. Chegando lá, tinha sempre alguém que aliciava, eles diziam que era pra fazer faxina, chegava lá não tinha faxina nenhuma, todo mundo sabia e o valor era o triplo, mas o dinheiro nunca vinha pra gente. 
DC _ como foi que você se deu conta que estava sendo traficada? 
Mulher traficada _ foi um desespero. Chegava as três da tarde e não conseguia levantar da cama, o corpo doía e vinha o desânimo. Aí eles ofereciam cocaína, eu tinha que cheirar pra levantar da cama. 
DC _ foi assim que você se viciou? 
Mulher traficada _ Sim. As amigas usam, a gente fica envolvida e acaba achando que é melhor assim. O cliente também pagava mais se rolava droga. 
DC _ E o dinheiro? Você não recebia? 
Mulher traficada _ não chegava na nossa mão. Eles ficavam com o dinheiro e diziam que estavam mandando pra família. Depois descobri que era tudo mentira. Cobravam multa e a dívida nunca acabava. A gente também não podia falar italiano para não se comunicar com os clientes e não podia sair com o mesmo cliente mais de três vezes pra não criar um vínculo. 
DC _ E como o gerente da casa tratava vocês? 
Mulher traficada _ logo quando cheguei, "passei pela mão dele", todo mundo passava por ele. Depois ele batia e maltratava. Mas a carência era tanta que a gente acabava se apegando para ter uma segurança, ganhar a confiança deles. 
DC _ Quem eram "eles"? 
Mulher traficada _ Era um casal, ele era de lá e a mulher do Brasil, isso é comum para ter dupla cidadania e ter trânsito livre entre os países. DC _ qual o perfil destas meninas brasileiras? 
Mulher traficada _ A maioria é do Nordeste, tem 18 anos, são pobres e mulatas. 
DC _ você viu meninas que morreram ou adoeceram? 
Mulher traficada _ Sim, várias. Muitas adoeciam e eles jogavam na rua porque não tinha mais serventia. 
 DC _ quanto tempo você ficou lá? 
Mulher traficada _ fiquei oito anos, sem passaporte. Depois consegui a confiança deles, mas tinha vergonha de voltar para o Brasil. Fiquei lá para continuar tentando ganhar dinheiro. 
DC _ Como você estava quando voltou para Florianópolis? 
Mulher traficada _ voltei muito doente, com tuberculose, fiquei três meses internada no Nereu Ramos. Estava muito magra, sem cabelo porque eles cortaram em uma briga lá. 
DC _ E depois? 
Mulher traficada _ me recuperei e voltei. Fiquei entre a Espanha e Itália por mais quatro anos. Já conhecia o esquema, sabia como me virar. assim consegui dinheiro para comprar minha casa aqui. Pelo dinheiro que consegui juntar percebi o quanto eles ganham em cima da gente... é muito dinheiro. 
 
DC _ qual seu conselho para as meninas de hoje que recebem propostas de trabalho no exterior? 
Mulher traficada _ é preciso ficar muito atenta com as falsas promessas. Não existe emprego fácil fora do país. Eles oferecem propostas de trabalho como modelo ou então se a menina não é bonita, como camareira. A máfia do tráfico é muito poderosa, eles fazem muita tortura psicológica. Tem que prestar muita atenção, agências credenciadas e não se iludir com promessas. 
 
DC _ Sua família soube o que aconteceu com você? 
Mulher traficada _ Sim, mas tudo é muito vergonhoso e alguns só queriam saber do dinheiro. Hoje tenho meninas na minha casa que quem pagou a passagem foi o pai. É um tráfico também. No Brasil, pais vendem os filhos. DC _ você se arrependede alguma coisa? 
Mulher traficada _ de não denunciar, até hoje tenho medo deles. Nunca vou esquecer, fiz terapia, retomei minha vida, mas as lembranças sempre voltam.
As vítimas sofrem a ponto de serem forçadas não só ao trabalho sexual, como também ao uso de drogas para passar por situações degradantes e vexatórias, o que justifica que haja um combate incisivo a esse tipo de tráfico que é tão silencioso. 
Podem ser expostas todas as fases do tráfico de pessoas, no que diz respeito a opressão sexual, ou seja, os atos, os meios de execução e a finalidade da exploração, a fim de que se compreenda como se chega à consumação final do delito, como pode se extrair da íntegra da reportagem. São então extraídas: 
· Recrutamento – se configura quando os aliciadores buscam atrair as vítimas de forma chamativa para a proposta que fazem;
· Transporte – ocorre quando as vítimas estão sendo levadas de suas casas para o aeroporto.
· Transferência – ocorre quando se mudam do país de origem para o país destino da suposta exploração;
· Alojamento – é o local onde os aliciadores as deixam trancadas sem nenhum tipo de comunicação com o meio externo. 
Já os meios de execução são as ameaças, uso da força, coerção, fraude, engano, abuso de poder ou de vulnerabilidade, ou pagamentos ou benefícios em troca do controle da vida da vítima. 
Cada um deles pode ocorrer de maneira peculiar, como exemplo, o engano é empregado quando é necessário fazer o convencimento da pessoa por meio de mentiras, já a vulnerabilidade, é o estado em que a vítima se encontra, que mostra que ela pode ser facilmente influenciada por histórias fictícias. 
As principais causas do tráfico de pessoa, segundo a Organização Internacional do Trabalho: 
· A globalização;
· A pobreza;
· A ausência de oportunidades de trabalho; 
· Discriminação de gênero;
· Instabilidade política, econômica e civil em regiões de conflito; 
· Violência doméstica, 
· Imigração indocumentada, 
· Turismo sexual, 
· Corrupção dos funcionários;
· Deficiência legislativa.
Essas causas contribuem negativamente para o aumento considerável do número de mulheres traficadas, a fim de que se compreenda todo o contexto, não de modo individualizado, mas sim, levando em consideração que uma razão leva a outra e assim sucessivamente. 
Quando se trata de globalização, vem à tona questão da tecnologia, a qual trouxe inúmeros benefícios, mas também alguns malefícios, como aumento da desigualdade social e econômica, principalmente nos países subdesenvolvidos, o que possibilitou que uma grande massa de mão de obra sem emprego passasse a migrar para outros países em busca de melhores oportunidades para tentar melhorar de vida. 
O geógrafo SANTOS (2016, p. 19), trata justamente de uma ideia de globalização desordenada, sem limites fronteiriços de expansão, que sai atingindo em cada caso os mais propícios à cedência de garantias. Assim, temos: 
De fato, para a maior parte da humanidade a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumento e as classes médias perdem a qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades como a SIDA se instalam velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de qualidade é cada vez mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como o egoísmo, o cinismo, a corrupção. 
Existem muitas mulheres em condições econômicas precárias, e isso corrobora para que elas aceitem propostas de emprego que parecem ser produtivas e lucrativas quando comparadas com a situação de vida que possuem em seus países, fazendo com que aceitem em razão não só da própria escolha, mas sim, da necessidade, pois às vezes elas não têm nem uma família estruturada para lhe dar o devido apoio, seja ele emocional ou financeiro configurando assim, os motivos para que elas queiram se desvencilhar da triste realidade. 
Quando essas mulheres não recebem nenhuma proposta para sair da sua região e se vêm na necessidade de fazer algo para ganhar dinheiro, começam a se prostituir por livre opção, porém, sabe-se que elas ficam com seus próprios rendimentos sem precisar serem humilhadas e mal tratadas por aliciadores, o que de fato diferencia a prostituição da exploração sexual forçada. 
O processo migratório dessas vítimas do tráfico é feito com muita facilidade e destreza entre os meliantes da organização criminosa, afinal, são eles que custeiam todo o processo de documentação das vítimas. Destarte, é válido saber que muitos agentes públicos corruptos estão envolvidos nesse esquema ilícito, facilitando assim, todo esse tramite junto com os agenciadores. 
Ratifica-se a premissa de que as causas do tráfico não estão ligadas apenas as questões socioeconômicas da vítima, mais também, a facilidade de a organização criminosa ficar impune do crime, pelo fato de ter pessoas do próprio Estado agindo junto com eles ao invés de estar colaborando com o papel repressivo ao crime, fazendo intensificar a impunidade e o aumento da traficância. 
Algumas vítimas sofrem por discriminação de gênero, religião, por motivos de guerras e conflitos armados, em determinados países, e isso também faz com que elas queiram migrar em busca de uma vida digna. 
Conforme DODGE (2014, p.119): 
O certo é que as vítimas do tráfico de pessoas, em sua maioria, já são alvos de graves lesões e direitos fundamentais nos países de origem. Em razão de exclusão social, guerras e conflitos armados, entre outros fatores que motivam a migração, elas ficam em posição de vulnerabilidade que viabiliza a fácil atuação das redes criminosas. Geralmente, as pessoas que aceitam as propostas formuladas pelas redes de tráfico, sob a promessa de uma vida livre e melhor, normalmente têm o estado de vulnerabilidade agravado, muitas vezes por serem vítimas de intensa discriminação nos países de origem, que não oferecem condições dignas de vida. Esse é o quadro que pode ser pintado de um dos lados a rota do tráfico: direitos fundamentais comprometidos na origem, propiciando a atuação das redes criminosas.
Muitas dessas mulheres não desconfiam das propostas de emprego que lhes são feitas, pois a depender do perfil da vítima, por vezes ela não tem muita instrução para saber do que se trata o tráfico de pessoa. 
O que dá a entender mais uma vez, que uma das causas desse tráfico está fortemente ligada às questões socioeconômicas, mesmo sabendo que também há as exceções, que são as meninas em boas condições econômicas e com instrução e mesmo são se deixam iludir pela mesma promessa com proposito de realizar um sonho como todas as outras independente da classe social que pertença. 
Nota-se que os fenômenos sociológicos estão diretamente ligados com as causas do tráfico de mulheres, pois a todo momento percebe-se que há uma influência do caráter social, histórico, cultural, religioso, político e econômico, quando as vítimas tomam suas decisões e quando os aliciadores decidem agir perante o perfil de cada uma delas. 
1.3 Rotas do tráfico: extensão nacional e internacional 
 
Quando tratamos dos crimes, de um modo geral, cada um dos tipos penais passam a ter predominância em lugares, regiões, cidades e países específicos, independentemente de qual seja o seu “modus operandi”, passando a ser por vezes caracterizadores daquela localidade. 
No caso do delito de tráfico de pessoas, além dos critérios socioeconômicos também deve-se observar questões geográficas, afim de serem analisadas em um contexto nacional e internacional, de maneira que as rotas do tráfico sofrem variações e nem sempre são as mesmas, sempre mudando, a medida em que forem descobertas.
Nesse sentido, o Instituto de Migração e Direitos Humanos, no ano de 2019 apresentou dados através de estudos feitos pela Organização Mundial do Trabalho, em que é informado uma movimentação de cerca de 32 bilhões de dólares por ano,sendo que: “79% das vítimas são destinadas à prostituição, em seguida ao comércio de órgãos e à exploração de trabalho escravo em latifúndios, na pecuária, oficinas de costura e na construção civil”.
Acrescenta ainda o Instituto percentual que atinge as mulheres, crianças e homens. Vejamos: 
as mulheres têm sido a maior parte das vítimas — frequentemente destinadas à exploração sexual e o percentual de homens traficados para trabalho forçado aumentou. As crianças permanecem como o segundo grupo mais afetado pelo crime depois das mulheres, representando de 25% a 30% do total no período analisado.
As rotas do tráfico se instalam em pontos favoráveis para facilitar os respectivos meios de execução, sendo na maioria delas construídas perto de portos, aeroportos e rodovias com fins de promover uma mobilidade maior entre as cidades. 
Com relação aos roteiros nacionais que percorrem essas vítimas do tráfico, se caracteriza a saída dos interiores para as capitais. Já nas rotas internacionais a saída de mulheres geralmente é de países subdesenvolvidos para os desenvolvidos, em especial países europeus, com uma incidência alta na Espanha.
Em caráter de extensão nacional deve-se levar em consideração a questão social, pois quando se trata de alguns fluxos de entrada e saída em estados brasileiros, como prova disso, tem-se a região Norte e Nordeste, onde está localizado o maior percentual de vulnerabilidade de mulheres, devido ao baixo poder econômico. 
Um critério está amplamente correlacionado ao outro, seja ele geográfico, social ou econômico, pois ao final, o resultado do crime se dá em virtude das mesmas relevâncias. 
Segundo a sociedade civil ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), um dos relatos trazidos pelo presidente da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos, Hélio Bicudo descreve que: 
uma das regiões mais pobres do país são também aquelas que apresentam a maior concentração de rotas de tráfico de pessoas. A Região Norte mostra a maior concentração dessas rotas (76), seguida pelo Nordeste (69). A seguir, aparecem as regiões Sudeste (35), Centro-oeste (33) e Sul (28).
Algumas capitais do Nordeste, são as que mais recebem turistas na região e em virtude disso aumenta-se consideravelmente a inter-relação do tráfico com o turismo, já que alguns estrangeiros vêm no intuito não só do chamado nomeado “turismo sexual”, mas também da exploração sexual feminina e a consequente traficância. 
Conforme a Associação para a Prevenção e Reinserção da Mulher Prostituída (APRAMP) o Brasil é hoje o país com maior índice de mulheres traficadas para fins sexuais da América do Sul, deixando um alerta para toda a população. 
No que tange a extensão internacional, as vias de transporte mais usadas são os meios aéreos, seguidos pelos terrestres, e por último o hidroviário, se valendo os infratores das cidades estratégicas por seus aeroportos de grande circulação de pessoas o que torna mais viável para os aliciadores a conclusão de seus planos, impossibilitando um controle mais incisivo de embarques e desembarques. 
As rotas são traçadas de acordo com a facilidade de acesso, nesse sentido JESUS (2003, p. 32) cita alguns dados acerca das mulheres traficadas para exploração sexual ao redor do mundo: 
As pesquisas mostram que a maioria das mulheres asiáticas que se oferecem como trabalhadoras do sexo entrou no comércio sexual contra sua vontade. Há em torno de 4 mil a 5 mil mulheres provenientes da República Popular da China engajadas em prostituição em Los Angeles. Muitas delas foram traficadas. Há um grande número de mulheres provenientes da Coréia, Tailândia e outros países do Sudeste Asiático trabalhando em bedéis ou em casas de massagem de Los Angeles Em Bangladesh, nos últimos dez anos, foram reportados 3.397 casos de crianças traficadas, das quais 1.683 eram meninos com menos de dez anos de idade 
Infere-se que o maior fluxo de tráfico se caracteriza dos países mais pobres para os mais ricos. 
A título de exemplo é válido salientar que se for comparar o presente e o passado de um país subdesenvolvido como o Brasil, perceberemos claramente que houve uma inversão analógica, pois antigamente ele era um país receptor de pessoas para exploração, mas atualmente é um dos maiores exportadores de mulheres para fins de tráfico, e vem exportando principalmente para a Espanha. 
Sobre essa inversão de papéis no caráter importador e exportador do Brasil, ARRUDA (2011, p.68) elucida: 
Se no final do século XIX e início do século XX, a ocorrência de migração de mulheres e meninas eram provenientes da Europa para o Brasil, atualmente há uma inversão, pois o tráfico de mulheres para fins sexuais passou a se originar nos países periféricos tendo como destino os países ricos. Segundo a OIT, o Brasil provê os traficantes de mulheres que atuam em países como Espanha, Portugal, Holanda, Itália, Suíça, França e Alemanha, com a finalidade de exploração sexual e outras atividades. Ao chegarem ao local de destino são submetidas a uma série de violências, convertidas em objeto sexual, comercializado e apropriado para a satisfação sexual masculina. Nessas condições têm seus valores pessoais e as mínimas condições dignas de existência abruptamente suprimidas.
		Dessa maneira, a questão da traficância de pessoas passa a ser um dos grandes problemas que envolve os mais diversos direitos fundamentais, seja liberdade, vida, segurança e a garantia da dignidade da pessoa humana da sociedade brasileira, seja enquanto conhecido como exportador ou importador a nível mundial. 
2.LEGISLAÇÕES E CONVENÇÃO INTERNACIONAL 
	O tráfico de pessoas por ser um crime de grande repercussão mundial passou a ter grande destaque não somente na legislação brasileira, mas sobretudo em nível internacional. 
Em caráter internacional, podemos destacar o Decreto 5.015 de 12 de março de 2004, que trata da promulgação da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, sendo nomeada como Convenção de Palermo, sendo este um importante instrumento de caráter global e que foi aprovado pela Assembleia-Geral da ONU.
	Na legislação brasileira podemos destacar a Lei 13.344/2016 (BRASIL;2016), que cuidou da prevenção e repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e sobre medidas de atenção às vítimas, tratando de princípios, diretrizes e mecanismos de prevenção ao combate ao crime. 
	Para tanto, inclusive abrangendo o viés sob o ponto de vista constitucional, analisaremos os pontos importantes dessa legislação e convenção como forma de melhor compreender a evolução legislativa da temática. 
2.1 Análise a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional – Convenção de Palermo.
	A denominada Convenção de Palermo (2004) consiste em um instrumento de caráter universal que age contra a delinquência que ultrapassa fronteiras, agindo juntamente a outras convenções, como a exemplo a Convenção de Mérida e Convenção de Viena, tratando da corrupção e narcotráfico, respectivamente. 
	O que se tem atualmente no texto da Convenção é complementado pelos denominados Protocolos que são de adesão livre por parte dos Estados, citados por ARAS (2020; p.01), da seguinte maneira: 
a) Protocolo relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial, mulheres e crianças. 
b) Protocolo relativo ao combate ao tráfico de migrantes, por via terrestre, marítima e aérea. 
c) Protocolo contra a fabricação e o tráfico ilícito de armas de fogo, suas peças e componentes e munições. 
É de suma importância o Protocolo da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, pois a partir dele temos a definição do tráfico de pessoas como: 
o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de umapessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos.
CORRÊA DA SILVA (2011, p. 260) apresenta o entendimento de que: 
O Protocolo também trouxe grande contribuição ao traduzir os principais compromissos internacionais relativos à garantia dos direitos humanos violados pela prática do TP enquanto crime contra a dignidade humana e que reduz o ser humano a um mero objeto.
Para o professor e Procurador da República já citado oportunamente, ARAS (2020; p.02-03), a questão do tráfico de pessoas possui como uma característica marcante o fato de ser comandada por organizações criminosas, por vezes tendo relação até com outros crimes. Nesse sentido: 
É evidente que as organizações criminosas, cada vez mais poderosas, acabariam procurando ganhos de escala, para ampliação dos seus mercados consumidores de entorpecentes, de produtos contrabandeados, de armas e outros bens e serviços ilícitos. Do mesmo modo, tais grupos não deixariam de se valer dos sucessos da integração econômica mundial, decorrente das novas tecnologias e dos cada vez mais eficientes sistemas globais de telecomunicações e de transportes. Essa logística pensada para o mercado legítimo de produtos e serviços foi fundamental para a ampliação do poder de tais organizações.
		Acrescenta ainda a facilidade que a rede internacional de computadores passa a proporcionar no que tange as estratégias para se obter uma operação exitosa no que diz respeito especificamente ao tráfico de pessoas. Vejamos: 
A maior mobilidade de pessoas e de valores (ativos), propiciada pelo levantamento de barreiras alfandegárias, pela dispensa de vistos de entrada, pela ampliação da malha de transportes de passageiros e de cargas, pelo estabelecimento de uma rede internacional de computadores (a Internet) e pela criação de câmaras internacionais de compensação, como o sistema “Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication” (SWIFT), são vantagens que foram percebidas pelos grupos mafiosos transnacionais e logo incorporadas às suas estratégias operacionais.
		É possível colocar que o agir das organizações criminosas, seja em qual tipo de delito atue traz em sua sombra uma violência com o objetivo primordial do lucro, sendo a aplicação da violência mecanismo de garantir que a atividade ilegal esteja protegida. 
		Tratando ainda do crime em relação a Convenção, é possível perceber através dos seus protocolos a necessidade de uma atividade ilícita habitual, composta por um grupo de no mínimo 3 (três) indivíduos, com uma estruturação organizada e sobretudo com hierarquia entre os integrantes. 
Assim sendo, SANDRONI (2013; p. 10) estabelece algumas características que marcam essas organizações, sendo elas: 
Os elementos identificados, incluídos em algumas formas de organização seriam: a continuidade; o uso da intimidação e violência; a sua estrutura hierárquica, com divisão de trabalho; o objetivo visando o lucro; e por fim, a sua influência na sociedade, na mídia e nas estruturas políticas.
	Desta feita, sendo apresentados os Protocolos oriundos da presente Convenção e a importância que a mesma trouxe a legislação de todo o mundo quando se menciona características marcantes do crime organizado de forma genérica e de clara aplicação no tráfico de pessoas, passaremos a analisar a legislação brasileira. 
2.2 Legislação brasileira frente ao tráfico de pessoas - Lei 13.344/2016
		Sendo a problemática do tráfico de pessoas uma questão de carater mundial, o legislador brasileiro passou a apresentar interesse e coibir a sua prática por parte das organizações criminosas, editando a Lei 13.344/2016 que trata da prevenção e a repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas.
		A promulgação de tal lei acabou por revorgar o Estatuto do Estrangeiro, bem como alguns dispositivos do Código Penal e Código de Processo Penal, de modo a atualizar a repreensão as práticas que dia após dia se mostram mais sofisticadas.
		Logo em seu primeiro artigo a lei determina como âmbito de incidência, tendo como estabelecido a aplicação da norma aos fatos que ocorram no território nacional ou estrangeiro, assim como os que ocorrerem em âmbito internacional quando a vítima for brasileira. In verbis:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tráfico de pessoas cometido no território nacional contra vítima brasileira ou estrangeira e no exterior contra vítima brasileira.
Parágrafo único. O enfrentamento ao tráfico de pessoas compreende a prevenção e a repressão desse delito, bem como a atenção às suas vítimas.
		Essas disposições demonstram a interligação da nova lei com as disposições da Constituição Federal de 1988, de modo que nesse caso o entrangeiro passa a ter cada vez mais direito às tutelas ofertadas pelo Estado brasileiro, garantindo o direito de igualdade entre os povos nacionais e estrangeiros que se encontrem em território brasileiro.
		A respeito dessa legislação, a princípio destacamos sua relação principiológica de cunho extremamente constitucional, quando já em suas primeiras considerações demonstra a arcabouço principiológico que determinará a legislação, tratando de princípios basilares como dignidade da pessoa humana, universalidade e proteção, conforme visto no texto de lei: 
Art. 2º O enfrentamento ao tráfico de pessoas atenderá aos seguintes princípios:
I - respeito à dignidade da pessoa humana;
II - promoção e garantia da cidadania e dos direitos humanos;
III - universalidade, indivisibilidade e interdependência;
IV - não discriminação por motivo de gênero, orientação sexual, origem étnica ou social, procedência, nacionalidade, atuação profissional, raça, religião, faixa etária, situação migratória ou outro status ;
V - transversalidade das dimensões de gênero, orientação sexual, origem étnica ou social, procedência, raça e faixa etária nas políticas públicas;
VI - atenção integral às vítimas diretas e indiretas, independentemente de nacionalidade e de colaboração em investigações ou processos judiciais;
VII - proteção integral da criança e do adolescente.
	Dessa maneira, nítida foi a preocupação do poder legislativo em garantir que ideais constitucionais determinassem a legislação infraconstitucional. Para tanto, a dignidade da pessoa humana acaba por determinar o atingimento do mais valioso direito, que embora não seja marcado por superioridade, determina a vida em sociedade, como é o direito à vida. 
	Direitos humanos, universalidade, atenção às vítimas, proteção das crianças e adolescents, funcionam nesse caso como especificidades da garantia a dignidade da pessoa humana. E como forma de garantia, estratégias direcionadas por diretrizes devem ser estabelecidas, sendo este então um dos artigos da lei mencionada. In verbis: 
Art. 3º O enfrentamento ao tráfico de pessoas atenderá às seguintes diretrizes:
I - fortalecimento do pacto federativo, por meio da atuação conjunta e articulada das esferas de governo no âmbito das respectivas competências;
II - articulação com organizações governamentais e não governamentais nacionais e estrangeiras;
III - incentivo à participação da sociedade em instâncias de controle social e das entidades de classe ou profissionais na discussão das políticas sobre tráfico de pessoas;
IV - estruturação da rede de enfrentamento ao tráfico de pessoas, envolvendo todas as esferas de governo e organizações da sociedade civil;
V - fortalecimento da atuação em áreas ou regiões de maior incidência do delito, como as de fronteira, portos, aeroportos, rodovias e estações rodoviárias e ferroviárias;
VI - estímulo à cooperação internacional;
VII - incentivo à realização de estudos e pesquisas e ao seu compartilhamento;
VIII - preservação do sigilo dos procedimentos administrativos e judiciais, nos termos da lei;
IX - gestão integrada para coordenação da política e dos planos nacionais de enfrentamento ao tráfico depessoas.
ALBAN e MAGALHÃES (2017; p.108) mencionam a importância da lei frente a necessidade de se colocar como o centro da preocupação estatal a vítima. Para tanto, consideram como um avanço de caráter cientifico, visto que a partir de então o protagonismo da vítima determina as demais considerações do crime. 
Nesse sentido, expõem: 
Nota-se, com efeito, que a Lei n. 13.344/16 incorpora esse avanço científico, ao conceder à vítima um papel de protagonista, de pessoa de direito que deve ser ouvida e respeitada, que deve ser alvo de medidas minimizadoras de danos, assim como ter concedidas condições que reduzam os impactos da vitimização primária, é dizer, dos danos de primeiro grau já sofridos.
Desta feita, foi possível visualizar a necessidade de uma legislação mais adequada ao momento em que se vive, por se tratar de condutas infratoras que a cada dia se aperfeiçoam em seus aspectos tecnológicos e de estruturação, cabendo ao legislador brasileiro ampliar o arcabouço de prevenção, conforme poderá ser visto em capítulo posterior. 
Para tanto, passaremos a descrever mecanismos, políticas e criação de organizações que tenham como objetivo a erradicação do crime de tráfico de pessoas em caráter nacional e internacional, destacando a importância deles no enfrentamento dessa infração. 
3. MEIOS DE COMBATE AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS E IMPASSES NA CONCRETIZAÇÃO DAS MEDIDAS
	Assim como todos os crimes do nosso ordenamento jurídico, o tráfico de pessoas também possui políticas públicas de enfrentamento e dispositivo legal que almeja a repressão ao crime e a instituição de meios de combate. 
	Foi o que fez a legislação através da lei, ora já mencionada, ao elencar dispositivos de repressão e instituição de Dia de Enfrentamento ao Tráfico de pessoas como poderá se observar. 
	Não muito distante, embora não previsto em dispositivos legais, de fato temos outros mecanismos que são criados por Organizações, ministérios e pelo Poder Judiciário, balizando dessa forma uma maior atenção aos casos e seus meios de coerção. 
	Para tanto, passaremos a analisar políticas de enfrentamento através de ações sociais e políticas, qual a relevância da aplicação dessas políticas na garantia aos direitos fundamentais, e por fim trataremos dos grandes impasses que são empecilhos à concretização dos meios previstos. 
3.1 Políticas de enfrentamento no Brasil 
	Temos em nossa Constituição Federal importantes considerações acerca dos direitos sociais, tornando-os mais sensibilizados pelo seu processo de constitucionalização, bem como temos a possibilidade de ratificação de tratados internacionais que versem sobre direitos humanos em nível de emenda à Constituição, permitindo ao Estado uma maior atividade as demandas de caráter internacional, como é o caso do tráfico de pessoas. 
	É diante de tais inovações que os cidadãos passam a exigir do Estado uma maior atuação e investimentos em políticas públicas que garantam a melhor condição de vida, englobando segurança e liberdade. 
A legislação brasileira, através da já mencionada Lei 13.344/2016 também deu espaço a um artigo destinado aos meios de repressão ao tráfico de pessoas. Nesse sentido, passa a destacar: 
Art. 5º A repressão ao tráfico de pessoas dar-se-á por meio:
I - da cooperação entre órgãos do sistema de justiça e segurança, nacionais e estrangeiros;
II - da integração de políticas e ações de repressão aos crimes correlatos e da responsabilização dos seus autores;
III - da formação de equipes conjuntas de investigação.
		Os mecanismos de cooperação, integração e atividade em conjunto demonstra a necessidade de atuação de vários órgãos e entidades, sendo imprescindível uma boa comunicação para que a ação e operação sejam exitosas, exigindo-se inclusive a atuação não somente do sistema brasileiro, mas sobretudo internacional. 
		Depreende-se ainda do texto que estaríamos diante de um rol meramente exemplificativo, sendo permitidos inúmeros meios de repressão que se disseminam no texto legal. 
		De forma mais simplória, e não menos importante, a lei acabou por instituir a comemoração do Dia Nacional ao Enfrentamento por Tráfico de Drogas no dia 30 de julho, como forma de enaltecer a necessidade de atuação dos órgãos de combate e direcionar maiores olhares para um crime tão violador de direitos. 
		Temos então: 
Art. 14. É instituído o Dia Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, a ser comemorado, anualmente, em 30 de julho.
Art. 15. Serão adotadas campanhas nacionais de enfrentamento ao tráfico de pessoas, a serem divulgadas em veículos de comunicação, visando à conscientização da sociedade sobre todas as modalidades de tráfico de pessoas.
	
Como visto, trouxe ainda a lei no seu artigo 15 a exigência de campanhas a serem divulgadas com o objetivo de conscientizar a população e de modo mais detalhista estabelecendo as modalidades de tráfico de pessoas que existem. 
Outro relevante ponto trazido como meio de enfrentamento foi a inserção no Código Penal do artigo 149-A pela Lei 13.344/2016 que tipifica o crime, trazendo suas causas de aumento de pena e redução. In verbis: 
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.
§ 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa.”
		Destacamos então, que além desse arcabouço normativo de enfrentamento, temos importantes mecanismos que aparecem no dia a dia como instrumento de fortalecer campanhas e investigar caso, visto que comumente, conforme destaca LEAL (2006, p.183), temos que: 
as vítimas são muitas vezes forçadas, através de violência física, a dedicar-se a atos sexuais ourealizar trabalhos similares à escravidão. Essa força inclui o estupro eoutras formas de abusos sexuais, tortura, fome, prisão, ameaças, abusos psicológicos e coerção.
A exemplo temos o disque denúncia através do número 100, a procura por órgãos do poder judiciário e delegacias de polícia, propagandas publicitárias de conscientização, capacitações, comitês, bem como as determinadas pelo Conselho Nacional de Justiça (2002) em notícia disponibilizada em sua página oficial, ao qual presta as seguintes orientações:
· Duvidar sempre das propostas de empregos que sejam fáceis e lucrativas;
· Ter atenção ao contrato que lhe é apresentado e buscar informações sobre a contratante;
· Deixar sempre com familiares e amigos endereço, telefone e localização para onde está viajando;
· Orientar para que nunca deixe familiares sem comunicação e notícias e,
· Informar endereços importantes a quem está viajando, como o de consulados e Organizações.
Outro importante ponto é a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (2007, p.61), de modo que: 
com o Plano Nacional, pretende-se dar real concretude e efetividade às ações preventivas, repressivas ede atenção às vítimas que consubstanciam a Política Nacional, ao estabelecer propostas, prazos definidos e responsáveis pela execução de cada ação.
Dessa maneira, a Política acaba por definir quais ações devem ser implementadas pelo poder público em todas as áreas como forma de garantir que direitos humanos e fundamentaissejam resguardados em todos os pontos da vida em sociedade e que o crime acaba repercutindo pela criação de secretarias, ministérios e organizações, como: saúde, educação, liberdade, integridade física, psicológica e moral. 
3.2 A importância da concretização de medidas de combate do tráfico de pessoas
	Como visto, inúmeras são as medidas que fortalecem o combate ao tráfico de pessoas, seja no âmbito nacional ou internacional. Nesse sentido, clara também a importância de conexão entre os responsáveis a este combate, tendo o que podemos compreender como uma rede de fortalecimento. 
	Não bastam campanhas publicitárias, criação de organizações nacionais e internacionais, comitês, quando a repressão e agilização nos processos e investigações céleres e eficazes são pontos determinantes de concretização da justiça e combate a esse tipo de crime. 
	O que temos como imprescindível é a atenção que deve ser dada, visto que se trata de uma infração que perdura por anos sem grandes repercussões positivas no que tange a coercibilidade e prevenção. Para Ribeiro (2011, p. 3):
Tratados internacionais, leis e resoluções podem pode ser escritos e promulgados na tentativa de barrar este tipo de tráfico, no entanto, eliminar esta prática depende também da realização de um trabalho em rede, onde as Políticas Públicas estejam pautadas pela lógica do compromisso e da dignidade conferida à pessoa humana.
Nesse sentido, podemos afirmar que a existência de políticas sem que haja quem as execute com compromisso tornam meros cumprimentos formais de legislação. Trabalhar com uma rede determina a necessidade de comprometimento de todos que a compõem. 
O que acontece é que podemos compreender que o grande problema relativo a efetividade das políticas criadas pelo Estado não se trata de existir ou não, mas sobretudo a permanência dessas políticas que não se firmam, ou seja, não há permanência em campanhas e capacitação dos profissionais que compõem a rede de assistência e prevenção. 
.	Ressaltando a importância das redes de proteção às vítimas, a UNESCO (2009, p.215) a conceitua trazendo que: 
a rede não é a junção de entidades presentes no território; ela é a pulsação das respostas articuladas para enfrentamento das desigualdades sociais identificadas. É a constituição de uma estrutura orgânica, viva que articula o conjunto de respostas, com eficiência e eficácia, em torno dos problemas daquele território.
	
Assim, temos que uma devida institucionalização será o mecanismo que não permitirá o declínio das políticas, sendo a constância e cooperação requisitos essenciais à efetivação do direito à saúde, segurança, vida, liberdade, dentre tantos outros. 
Um elemento de grande repercussão negativa é a questão da desigualdade, em que pessoas de baixa renda são alvos mais fáceis das organizações, seja pela dificuldade financeira, seja pela pouca educação e conscientização de como de fato acontecem os passos estruturados pela organização criminosa. 
Diante disso, podemos vislumbrar que não se trata apenas diretamente dessa conscientização e trabalho constante, vez que os reflexos decorrem de problemas históricos e sem muita resolubilidade quando o que mais se busca é a garantia de uma vida digna. Assim não proporcionar educação, saúde, moradia e condições de habitabilidade são pontos que afrontam de fato a dignidade das pessoas, gerando consequências incalculáveis. 
Somente através do reposicionamento das ideias em manter as redes de proteção, bem como através da permanência das campanhas pode se atingir ao contexto local e internacional, fazendo com que sejam ainda vistos os problemas que secundariamente interferem e facilitam o cometimento desse tipo de delito. 
Nesse sentido, enquanto houver comodidade e crença de que somente atualizações legais sejam suficientes para garantir eficácia no combate e investigações não haverá êxito em todo o sistema de prevenção. Sendo assim, a cooperação e o compartilhamento se fazem necessários, bem como a promoção de ações socioeducativas. 
CONCLUSÃO
	A proteção da sociedade e a garantia de seu bem estar é atribuição do Estado através dos seus mais diversos modos de apresentação. Isso é o que ocorre quando a Constituição Federal traz em seu bojo o fundamento da dignidade da pessoa humana que pode ser considerado o que mais apresenta relação com o crime de tráfico de pessoas sob dois pontos de vista, em especial: seja por ser um fundamento a ser observado, seja porque sua violação decorre de condições que não garantem uma vida digna. 
	É visto também que o progresso da tecnologia, a globalização e desenvolvimento de atividades organizadas permitem uma maior dos agentes, agindo eles com maior facilidade em suas relações, aproveitando-se de todos os pontos de vulnerabilidade de suas vítimas e da omissão do Estado na efetividade das políticas públicas. 
	Desta feita, que do ponto de vista mais formal, o Brasil e o mundo têm um bom embasamento legal e estruturante, porém a falta de constância das ações torna frágeis os meios de banimento do crime e de forma negativa pondo em papel de destaque o Estado Democrático de Direito quando não há uma atuação geradora de grandes resultados. 
	Faz então necessário, cada vez mais, que todos os mecanismos de combate sejam observados e cumpridos fielmente, desde o cumprimento das existentes a criação de novas políticas, focando cada vez mais na figura da vítima, traçando um perfil prévio para criar empecilhos às Organizações de chegar a um determinado grupo que frente à vários fatores são mais vulneráveis. 
	Concluímos então que mecanismos de proteção são existentes, como tipificação, criação de redes de proteção, comitês e tantos outros, porém a grande problemática é a atuação. 
 Ou seja, temos meios, precisamos de efetividade no combate ao expansionismo das organizações criminosas, agindo nacional e internacionalmente uma vez que o crime organizado já assume uma característica global, sendo uma ameaça ao Sistema de segurança de inúmeros países. 
	Esse processo de expansão mundial pode ser, como vimos no decorrer do trabalho, aumentado em decorrência não somente do tráfico de pessoas, mas inclusive de drogas e armas, isso quando não presente mais de um objeto alvo em uma organização. 
	Assim, a existência de uma legislação adequada, o melhoramento das já existentes e o intuito de cooperação entre os países com o objetivo comum de coerção são as medidas mais formais de coibir essa prática, sendo as demais já citadas merecedoras de um papel de agilidade e atuação prática. 
	Daí então o destaque que se dá a existência da Convenção, uma vez que esta abre o caminho para uma padronização das normas a serem criadas em nível mundial, através da estimulação no combate de um crime que é uma ameaça constante a humanidade que não se limita as fronteiras de um Estado Nação. 
REFERÊNCIAS
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ARAS. Vladimir. A Convenção de Palermo contra o Crime Organizado. Disponível em: https://vladimiraras.blog/2020/05/16/a-convencao-de-palermo-contra-o-crime-organizado/ Acesso em 27 de março de 2021. 
ARRUDA, Maria Disselma Tôrres de. O Tráfico Internacional de Mulheres para Fins de Exploração Sexual: Evolução histórica, fluxos migratórios e o contexto atual no Brasil e em Goiás. Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2011, p.68. Disponível em: http://tede.biblioteca.ucg.br/tde_busca/ arquivo.php?codArquivo=1175. Acesso em: 03 Abr. 2021.
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